Bakemonogatari: Volume 1 - Caracol Mayoi 004

From Baka-Tsuki
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004[edit]

Acho que já é quase hora de falar sobre as férias de primavera.

Durante as férias de primavera, eu fui atacado por um vampiro.

Eu digo atacado, mas na verdade eu enfiei minha cabeça aonde ela não devia. Na verdade, eu meio que literalmente coloquei minha cabeça pra fora, revelando meu pescoço para aquelas presas afiadas. A qualquer custo, nesta era onde a ciência é vista como toda poderosa, e as pessoas acham que nenhuma escuridão pode não ser iluminada por ela, eu, Araragi Koyomi, fui atacado por uma vampira no subúrbio do interior do Japão.

Eu fui atacado por um lindo demônio.

A beleza dela era de gelar o sangue.

Meu sangue foi sugado do meu corpo, e eu me tornei um vampiro.

Parece uma piada, mas não foi nada engraçado.

Eu ganhei um corpo que queimaria no sol, detestava cruzes, era vulnerável a alho, e derreteria em água benta. Em troca, ganhei habilidades físicas tremendas. O que me aguardava depois disso era uma realidade infernal. Eu fui salvo desse inferno por um homem de meia idade que aconteceu de estar passando por ali, Oshino Meme. Oshino Meme era um caso perdido de adulto que saía de viagem em viagem sem uma residência permanente. Ele brilhantemente expulsou os vampiros e lidou com todo o resto também.

Como resultado, voltei a ser humano.

Eu reganhei uma pequena fração das habilidades físicas (isto é, um pouco da recuperação veloz intensificada e um metabolismo intensificado) e uma vez me dava melhor com o sol, cruzes, alho e água benta.

Sério, não foi muito.

Não foi nada que valesse a pena terminar com um “e eu vivi feliz pra sempre”.

Isso já tinha sido resolvido, então não tinha muito do que se falar. O único real problema prolongado era ter meu sangue sugado uma vez por mês e receber visão super-humana e coisas assim depois. Contudo, todos esses eram apenas meus próprios problemas pessoas, e eu mal tinha gastado o resto da minha vida os enfrentando.

No meu caso, eu era sortudo.

Para mim, durou apenas pela duração das férias de primavera.

O inferno durou apenas quase duas semanas.

Era diferente para Senjougahara.

Para Senjougahara Hitagi, quando ela se encontrou com esse caranguejo, ela teve de lidar com a inconveniência para com seu corpo por mais de dois anos.

A maior parte de sua liberdade havia sido tirada por essa inconveniência.

Eu tive de imaginar sobre como era viver nesse inferno por mais de dois anos.

Tido isso, pode não ter sido tão surpreendente que ela admiravelmente sentiu mais do que uma obrigação para comigo do que era adequado para o pouco que eu tinha feito. A inconveniência física era uma coisa, mas ter a inconveniência emocional removida deve ter sido mais importante para ela do que qualquer coisa.

Emocional.

Mental.

Sim, esses tipos de problemas te deixam sem ninguém para discuti-los e ninguém te entende. Pode ser que eles tenham te acorrentado mais pesadamente e criado cunhas entre você e os outros muito mais profundamente do que problemas físicos.

Por agora, posso ter me recuperado, mas eu continuei a temer a luz solar da manhã vinda através da abertura entre as cortinas. Nesse caso, ela pode ter efeitos prolongados similares.

Eu conhecia mais outra pessoa que tinha sido salva pelo Oshino como Senjougahara e eu, a representante de classe Hanekawa Tsubasa. Contudo, para ela, tinha sido ainda mais curto do que foi pra mim, durando apenas alguns dias, e ela perdeu suas memórias daquele tempo. De uma maneira, ela tinha sido a mais sortuda de todos nós. Contudo, de quase toda maneira, Hanekawa nem tinha sido salva.

“Ficava por aqui.”

“Hah?”

“A casa na qual eu costumava morar ficava por aqui.”

“A casa...?”

Eu olhei na direção em que Senjougahara estava apontando, mas tudo que vi foi...

“... Isso é uma rua.”

“De fato é.”

Era uma maravilhosa rua. Pela cor do asfalto, foi claramente pavimentada recentemente. O que significava que...

“Então a terra foi desenvolvida?”

“Na verdade, é conhecido como rezoneamento.”

“Você soube?”

“Não.”

“Então você deveria parecer um pouco mais surpresa.”

“Eu não mostro minhas emoções no rosto.”

Bastante verdade, a expressão dela não tinha mudado nem um pouco.

Contudo, a maneira como Senjougahara ficou de pé fitando o lugar poderia ser interpretado como ela se sentindo desamparada por ter perdido aquela destinação.

“Tudo realmente mudou completamente. É difícil acreditar que tudo isso ocorreu em menos de um ano.”

“......”

“Que entediante.”

Após tudo isso, foi isso que ela disse.

E ela realmente parecia entediada.

Aquilo tinha sido um dos maiores motivos para que ela tenha decidido chegar em suas novas roupas naquela área e agora ela tinha terminado.

Ela se virou.

Ainda se escondendo atrás de minhas pernas, Hachikuji Mayoi espiou Senjougahara. Em sua cautela, ela permaneceu calada. Apesar de ser uma criança — ou talvez por ser uma criança — ela deve ter instintivamente visto Senjougahara como uma ameaça maior do que eu. Por um tempo, ela esteve evitando Senjougahara ao me usar como barreira. Era óbvio que o humano vivente que eu era estava sendo usado como barreira, e também era óbvio que ela estava evitando Senjougahara, então eu me senti realmente esquisito como o terceiro partido. Contudo, Senjougahara não demonstrou sinal de que se engajaria com Hachikuji (quando ela dizia “por aqui” ou “nessa rua”, era sempre apenas para mim), então elas estavam quites.

Ainda era difícil suportar isso sendo aquele pego entre as duas, no entanto.

Estranhamente, pelo jeito que Senjougahara estava agindo, parecia que ela diria “eu realmente não sei” em vez de “eu as odeio” ou “não gosto delas” se eu tivesse a perguntando sobre como ela se sente sobre crianças.

“A casa tinha sido vendida, então eu não esperava que ela estivesse exatamente a mesma, mas eu certamente não esperava que ela fosse uma rua agora. Isso me deixa um pouco melancólica.”

“É, acho que deixaria.”

Não tive escolha senão concordar.

Eu podia certamente imaginar como seria.

No caminho daqui desde o parque, as velhas ruas e as novas ruas tinham todas sido misturadas juntas. E também, o mapa guia e o mapa residencial na placa no parque tinham parecido completamente diferentes da realidade. Era o suficiente para de alguma forma desgastar minha motivação, e eu não tinha nenhum verdadeiro afeto àquela área.

Não que tivesse algo a ser feito sobre isso.

A arquitetura da cidade mudaria assim como as pessoas mudariam.

Senjougahara soltou um longo suspiro e disse, “Isso foi inútil e gastou um bocado de tempo. Vamos, Araragi-kun.”

“Hm? Você tá pronta pra ir?”

“Estou.”

“Oh, okay. Vamos, Hachikuji.”

Hachikuji acenou sem palavras.

Ela pode ter pensado que falar alguma coisa poderia revelar sua localização para Senjougahara. Senjougahara começou a andar à frente.

Hachikuji e eu seguimos.

“Que tal soltar minhas pernas, Hachikuji? É difícil andar assim. Sinceramente, pare de se pendurar em mim como a Dakko-chan. Você vai me fazer tropeçar.”

“......”

“Apenas diga alguma coisa de uma vez.”

À minha coerção, Hachikuji disse, “Araragi-san, eu não estou me pendurando na sua perna gigante porque quero.”

Então eu forçadamente a empurrei de minha perna.

E enquanto fiz isso, um efeito sonoro legal de algo rasgando... não foi feito, na verdade.

“Como ousa! Vou reclamar à PTA!”

“Hehh. A PTA, você diz?”

“A PTA é uma organização incrível! Um cidadão pequeno e sem influência como você não teria chance! Eles podem acabar com você só com um dedo!”

“Só um dedo, huh? Que assustador. De qualquer jeito, Hachikuji, você sabe o que significa PTA?”

“Eh? Um...”

Como eu tinha suspeitado, ela não sabia, então ficou em silêncio de novo.

Não que eu soubesse.

Pelo menos consegui evitar que isso se desenvolvesse em uma discussão irritante.

“PTA significa Parent Teacher Association[1],” respondeu Senjougahara de adiante de nós. “Também significa o termo médico angioplastia transluminal percutânea, mas eu duvido que essa seja a resposta que você queria, Araragi-kun, então Parent Teacher Association deve ser a resposta correta.”

“Hehh. Eu tinha a vaga ideia de que era uma reunião de pais, mas não sabia que incluía professores também. Você sabe mesmo das coisas, Senjougahara.”

“Não, você meramente tem uma severa falta de conhecimento e é incompetente, Araragi-kun.”

“Não vou reclamar sobre a parte de que me falta conhecimento porque isso veio do que eu estava falando, mas incompetente foi apenas desnecessário.”

“Foi? Então eu vou mudar para patético.”

Ela sequer se virou.

Ela deve estar realmente de mal humor.

Uma pessoa normal poderia estar se perguntando o que estava diferente sobre isso em relação ao seu abuso usual, mas depois de todo o abuso que ela tinha me colocado, eu podia instintivamente dizer a diferença. Simplesmente não havia limite para suas palavras. Se ela estivesse de bom humor, Senjougahara teria me mostrado muito, muito mais abuso.

Hmm...

Eu me pergunto que problema é.

Foi ter descoberto que a casa dela é uma rua agora, ou sou eu?

Ambos pareciam prováveis.

Qualquer que fosse, mesmo que você ignorasse meu abuso infantil e tudo mais, nossa conversa foi encurtada pelo problema da Hachikuji. Mesmo que isso tivesse sido um fluxo natural de eventos, era natural para Senjougahara não estar com paz em seu coração.

Nesse caso, tenho que levar essa Hachikuji Mayoi pra destinação dela tão rápido quanto possível e então fazer Senjougahara voltar a ficar de bom humor. Posso levá-la pra almoçar, e ir fazer compras com ela. Se ainda tiver tempo após isso, podemos ir pra algum outro lugar nos divertir. É, acho que isso funciona. Graças às minhas irmãs, não posso simplesmente ir pra casa, então posso passar o dia atendendo a Senjougahara. Com sorte, tenho um monte de dinheiro comigo, então-... Espera, por que estou intencionado a fazer essas coisas pra ela?!

Eu me surpreendi.

“A propósito, Hachikuji.”

“O que é, Araragi-san?”

“Sobre essa nota.”

Eu puxei a nota do meu bolso.

Eu ainda não tinha a retornado a Hachikuji.

“O que tem nesse endereço?”

E por que você está indo para lá, eu quis perguntar.

Como aquele que estava a guiando, eu queria saber. Especialmente já que ela era uma garota do fundamental que estava por si só.

“Hah. Não vou contar. Vou fazer uso do meu direito de me manter calada.”

“......”

Ela realmente era uma menininha impertinente.

Quem foi que disse que crianças eram puras e inocentes?

“Se você não me contar, não vou te levar pra lá.”

“Eu nunca te pedi isso. Eu posso ir sozinha.”

“Mas achei que você estivesse perdida?”

“O que tem isso?”

“Hachikuji, para referência futura, não tem nada de errado em perguntar o caminho aos outros.”

“Talvez para gente como você, que não tem confidência. Você pode contar com os outros o quanto quiser, mas eu não preciso fazer isso. Para mim, esse tipo de coisa é mais difícil do que usar uma máquina de vendas do cotidiano!”

“Hehh... Então a vendem a um preço definido?” foi minha resposta estranha.

Bem, do ponto de vista da Hachikuji, eu provavelmente estava me intrometendo. Quando eu estava no fundamental, eu acreditava que podia fazer qualquer coisa sozinho. Acreditei que não precisava da ajuda de ninguém pra qualquer coisa e que eu nunca precisaria de alguém para me resgatar.

E ainda assim, é claro que não tinha como eu poder fazer realmente tudo.

“Entendido, jovem senhorita. Por favor, você poderia me contar o que tem nesse endereço?”

“Suas palavras não têm nenhuma sinceridade por trás delas.”

Ela era bem teimosa.

Ambas as minhas irmãs do fundamental certamente cairiam nisso, mas Hachikuji tinha um rosto de aparência inteligente, então decidi que ela não seria lidada tão facilmente como com alguma criança burra.

Francamente, os problemas pelos quais eu passo.

“... Okay.”

Tive uma brilhante ideia.

Puxei minha carteira do meu bolso de trás.

Eu tinha um monte de dinheiro comigo.

“Jovem senhorita, gostaria de um dinheiro?”

“Yahoo! Vou te contar qualquer coisa!”

Que criança burra.

Digo, isso é realmente estúpido.

Tive a sensação de que em nenhuma vez nenhuma criança tinha sido raptada usando desse método, mas Hachikuji parecia ter as características de ser a primeira.

“Alguém chamado Tsunade-san mora lá.”

“Tsunade? Isso é um sobrenome?”

“É um excelente sobrenome!” gritou de volta Hachikuji, que pareceu ter levado isso como uma ofensa.

Entendo que não seria legal ter o nome de um conhecido seu referido dessa maneira, mas não seria nada para se ficar bravo sobre. Isso a fez parecer emocionalmente instável.

“Hmm, então como você conhece essa pessoa?”

“Tsunade-san é uma parente minha.”

“Uma parente, hein?”

Concluí que ela devia estar usando aquele domingo para ir à casa de um parente. Eu não sabia se ela tinha pais que a deixavam fazer qualquer coisa ou se ela tinha escapado sozinha, mas parecia que a aventura de fim de semana daquela garota do fundamental tinha falhado.

“A Tsunade-san é uma prima com quem você se dá bem? Olhando pela sua mochila, acho que você chegou a termos justos. Sinceramente, você deveria ter feito isso durante a Golden Week, em vez disso. Ou tem alguma razão para que isso tenha sido hoje?”

“Algo do tipo.”

“Você deveria ao menos passar o dia das mães com seus pais.”

Isso era algo que eu realmente não deveria estar dizendo.

—Onii-chan, é porque você é assim.

O que tem de errado em ser assim?

“Não quero ouvir isso de você, Araragi-san.”

“Do que você sabe?!”

“Posso só dizer.”

“......”

Parecia que ela não tinha nenhuma razão de verdade. Ela apenas psicologicamente não gostava de me ter a lecionando.

Que cruel.

“E o que você estava fazendo, Araragi-san? Não acho que qualquer pessoa decente ficaria terminantemente sentada num banco de um parque num domingo de manhã.”

“Eu realmente não estava fazendo nada. Estava só-...”

Eu quase disse, “matando o tempo”, mas me parei no último segundo.

Isso mesmo. Um cara que diz que está matando o tempo quando perguntando sobre o que está fazendo é um inútil. Essa foi por pouco.

“Eu estava só passeando.”

“Oh, passeando? Que legal.”

Ela me elogiou.

Eu esperei por algumas palavras horríveis a se seguir em breve, mas nenhuma veio.

Entendo. Então a Hachikuji é capaz de me elogiar...

“Foi só com a minha bicicleta, no entanto.”

“Entendo. Bem, uma bicicleta é o padrão para um passeio. É um pouco decepcionante, no entanto. Você não tem licença, Araragi-san?”

“Infelizmente, as regras da minha escola me proíbem de ter uma licença. Mas uma bicicleta realmente é mais perigosa, então eu preferiria um carro.”

“Entendo. Mas então seria um fouring, não?”

“......”

Uau, isso que é um erro engraçado. Ela acha que touring é falado como “two”-ring[2]. Eu devo corrigi-la ou deixar isso pra lá? Não tenho certeza de qual opção é a mais gentil.

A propósito, a Senjougahara não respondeu a isso enquanto caminhava à frente.

Eu me perguntei se ela simplesmente era incapaz de ouvir uma conversa de tão baixa inteligência.

Incidentalmente, isso foi quando eu vi o sorriso despreocupado de Hachikuji Mayoi pela primeira vez. Foi bem charmoso e pareceu abrir meu coração. A maneira típica de descrever esse tipo de sorriso era a de dizer que era como uma flor do verão desabrochando, mas era também o tipo de sorriso que a maioria das pessoas parava de fazer depois de ficar muito mais velha que ela.

“Ufa. Oh, Deus.”

Essa foi por pouco. Se eu fosse um lolicon[3], teria me apaixonado por ela ali mesmo. Estou realmente grato por não ser um lolicon.

“As ruas daqui são uma bagunça emaranhada. Que tipo de estrutura é essa? Como você achou que podia navegar por tudo isso sozinha?”

“Esta não é minha primeira vez fazendo isso.”

“Oh, entendo. Mas então por que você está perdida?”

“... Porque faz um tempo,” disse Hachikuji, parecendo envergonhada.

É, o que você acha que pode fazer e o que você pode fazer são duas coisas diferentes. O que você acha não é nada mais do que pensamentos. Isso é verdade para estudantes do fundamental, do médio e pessoas de todas as outras idades.

“A propósito, Arararagi-san.”

“Você adicionou um ‘ra’ extra!”

“Desculpa, mordi minha língua.”

“Não morda sua língua de maneira tão desagradável...”

“Não dá para evitar. Todo mundo fala coisas erradas às vezes. Ou você fala tudo perfeitamente desde o momento em que nasceu, Araragi-san?”

“Não posso dizer que sim, mas sei que não falo o nome das pessoas errado.”

“Então diga Basu Gasu Bakuhatsu rápido três vezes.”[4]

“Isso não é o nome de alguém.”

“É sim. Conheço três pessoas chamadas assim, então deve ser um nome bem comum.”

Ela estava cheia de confidência.

Eu estava chocado com o quão óbvias eram as mentiras de uma criança.

“Basu gasu bakuhatsu, basu gasu bakuhatsu, basu gasu bakuhatsu.”

Eu acabei dizendo isso.

“Que animal devora sonhos?” perguntou Hachikuji assim que eu tinha terminado.

Quando isso virou um quis de dez vezes?[5]

“... A anta?”[6]

“Não. Errado,” disse Hachikuji com uma expressão triunfante. “O animal que devora sonhos é...” Ela colocou um sorriso destemido. “... o homem.”

“Isso não é hora pra ser inteligente!”

Eu gritei mais alto do que queria porque eu subconscientemente realmente achei que foi inteligente.

De qualquer forma, a área residencial estava muito quieta.

Enquanto caminhávamos juntos, não passamos por mais ninguém. A área parecia ser uma daquelas em que as pessoas que tinham de sair, saíam pela manhã, e aqueles que não tinham, ficavam em casa o dia todo. Bem, a área em que eu vivia era bem assim. A principal diferença era que as casas eram muito mais largas. Devia ser uma área habitada pela maior parte por pessoas ricas. Eu me recordei que o pai da Senjougahara era um figurão numa companhia de investimento estrangeiro, então supus que aquele era o tipo de gente que vivia ali.

Investimentos estrangeiros, hm?

Não era um termo que realmente parecia combinar com uma área do interior do país.

“Ei, Araragi-kun,” disse Senjougahara, falando pela primeira vez em algum tempo. “Pode me dizer o endereço de novo?”

“Hm? Claro. Estamos perto?”

“Talvez, pode ser...” ela disse vagamente.

Não entendendo o que ela queria dizer, li a nota mais uma vez.

Senjougahara acenou e disse, “Parece que o ultrapassamos.”

“Eh? Ultrapassamos?”

“Parece que sim,” disse ela calmamente. “Se você deseja me culpa, faça como quiser.”

“Um, não vou te culpar por algo assim.”

Por que ela fica tão séria assim?

Ela era tão honrável que parecia mais que ela não sabia quando desistir.

“Entendo.”

Com um rosto composto que não mostrava impaciência, Senjougahara se virou para encarar o caminho do qual ela tinha acabado de vir. Para evitá-la, Hachikuji fez o exato movimento oposto para me manter no meio delas.

“Por que você tem tanto medo da Senjougahara? Ela não te fez nada. Na verdade, por mais que seja difícil de dizer à primeira vista, é ela quem está te guiando, não eu.”

Eu estava simplesmente a seguindo.

Eu realmente não estava em posição de dizer nada importante sobre mim.

Mesmo que ela desgostasse da Senjougahara por conta de alguma intuição de criança, ela estava indo longe demais. Nem mesmo a Senjougahara era feita de aço. Mesmo ela poderia ser magoada se a Hachikuji continuasse a evitá-la assim. E mesmo que eu deixasse de lado minha preocupação com a Senjougahara, a atitude da Hachikuji quanto a ela estava errada de um ponto de vista moral.

“Estou sem o que dizer em resposta a isso,” disse Hachikuji com modéstia e desânimo surpreendentes.

Ela então abaixou sua voz para um sussurro e disse, “Mas você não pode sentir, Araragi-san?”

“Sentir o quê?”

“A feroz animosidade emanando dela.”

“......”

Parecia ser algo mais do que intuição.

A pior parte é que eu não podia dizer que ela estava errada.

“Ela parece me odiar. Posso sentir ela fortemente me dizendo para desaparecer porque estou no caminho.”

“Duvido que ela realmente esteja pensando isso, mas... Hmm.”

Aqui vai.

Eu estava com medo, mas decidi perguntar.

A resposta era óbvia para mim, mas ainda parecia que eu tinha de perguntar.

“Ei, Senjougahara.”

“O quê?”

Como sempre, ela não se virou.

Podia ser eu em que ela estava pensando estar no caminho e queria que desaparecesse.

Nós dois pensávamos um no outro como amigos, então era estranho como nós simplesmente não conseguíamos nos dar bem.

“Você... odeia crianças?”

“Sim. Eu absolutamente as desprezo. Eu queria que cada uma delas morresse.”

Ela não mostrou restrição.

Hachikuji soltou um pequeno choro aterrorizado e se encolheu atrás de mim.

“Eu não tenho ideia de como abordá-las. Um tempo atrás — acho que foi no fundamental — esbarrei em uma criança por volta dos sete anos de idade enquanto fazia compras em uma loja de departamentos.”

“Oh, você fez a criança chorar?”

“Não, não foi isso. Foi o que eu disse para a criança de sete anos de idade. Eu disse, ‘Você está bem? Está machucado? Sinto muito mesmo’.”

“......”

“Eu não tive ideia do que falar a uma criança, então perdi a calma. Isso me levou a dar uma resposta tão horrível. Foi um choque tão grande que, desde então, eu me esforço para desviar meu ódio para essas coisas conhecidas como crianças, sendo elas humanas ou não.”

Era algo como um surto de raiva.

Eu entendi o raciocínio dela, mas não podia entender como ela se sentia.

“A propósito, Araragi-kun.”

“O quê?”

“Parece que ultrapassamos de novo.”

“Hahh?”

Ultrapassamos o quê...? Oh, o endereço.

Eh...? Sério? Duas vezes?

Numa área não familiar, não era incomum o endereço não combinar bem com a estrutura de verdade das coisas, mas essa era a área em que Senjougahara tinha vivido até recentemente.

“Se você é capaz de me culpar por isso, então o faça o quanto quiser.”

“Não vou te culpar por algo assim-... espera. Senjougahara, a sua fala não mudou um pouco desde antes?”

“Oh, mudou? Não percebi.”

“O que está acontecendo? Ou, bem. Você mencionou rezoneamento antes, não foi? Pensando nisso, se a sua casa agora é uma rua, não é tão surpreendente que as coisas tenham mudado tanto do que você se lembra.”

“Não, não é isso.” Senjougahara verificou a sua volta. “O número de ruas aumentou, casas antigas desapareceram, e novas foram construídas, mas nenhuma das antigas ruas sumiu completamente. Eu não deveria estar me perdendo assim.”

“Hmm?”

Mas o fato era, na verdade, que ela estava ficando perdida. Era possível que ela simplesmente não queria admitir seu próprio erro descuidado. Ela podia ser bem obstinada à sua própria maneira.

“O quê?” perguntou Senjougahara. “Pela sua expressão, parece que você tem algum tipo de reclamação. Araragi-kun, se você tem algo a dizer, então seja homem e diga. Se quiser, vou ficar nua e me prostrar diante de você aqui e agora.”

“Você está tentando fazer todo mundo pensar que sou o pior homem do mundo?”

Como eu poderia deixá-la fazer isso numa área residencial como aquela?

Além disso, esse não era o tipo de coisa que me interessava.

“Se isso mostrar ao mundo que Araragi Koyomi é o pior homem do mundo, então prostração nua é um preço barato a ser pago.”

“O que é barato é o seu orgulho.”

Eu não podia descobrir se ela tinha orgulho demais ou de menos.

“Mas vou manter minhas meias.”

“Mesmo que você termine isso com uma piada tosca, eu não tenho nenhum fetiche estranho assim.”

“Quando eu disse meias, quis dizer meias arrastão.”

“Indo mais longe em direção à loucura não vai ajudar.”

Na verdade, mesmo que meus gostos não jazem aí, eu não me importaria em vê-la em meias arrastão. Ela nem precisa ficar nua, dessa maneira. Hm, se ela estivesse vestindo meias arrastão assim...

“Eu posso dizer pelo seu rosto que você está tendo pensamentos indecentes, Araragi-kun.”

“Claro que não. Uma pessoa que se empenha em manter os princípios da pureza assim como eu pareceria ser dono de uma personalidade tão vulgar? Estou realmente chocado que você pensaria isso, Senjougahara.”

“Oh? Se tem qualquer base ou não, eu sempre tento dizer coisas assim a você, Araragi-kun. O fato que dessa vez você simplesmente negou isso sem qualquer tipo de resposta parece suspeito.”

“Uuh...”

“Bem, se prostração nua não é o suficiente pra você, suponho que você deve estar intencionado a usar um marcador permanente para escrever palavras lascivas em cada centímetro da minha carne.”

“Meus pensamentos não foram tão longe!”

“Então quão longe eles foram?”

“Mais importantemente, umm, Hachikuji.”

Eu forçadamente mudei de assunto.

Eu tinha aprendido a como fazer isso assistindo a Senjougahara.

“Sinto muito, mas parece que isso vai levar mais do que eu esperava. Mas se você reconhece essa área...”

“Não reconheço.”

O tom da Hachikuji foi surpreendentemente calmo. Na verdade, era um tom mecânico e sem emoção que era como se ela estivesse recitando uma fórmula que ela memorizara.

“É provavelmente impossível.”

“Eh? Provavelmente?”

“Se provavelmente não é suficiente pra você, então é definitivamente impossível.”

“......”

Não era que provavelmente não fosse suficiente para mim.

Nem que definitivamente fosse suficiente.

Mesmo assim, eu estava incapaz de dizer qualquer coisa.

Era esse tom de voz.

“Não importa quantas vezes eu tente, eu nunca vou chegar lá.”

Hachikuji...

“Eu nunca vou chegar lá.”

Hachikuji se repetiu.

“Eu nunca vou chegar à casa da minha mãe.”

Ela era como um disco arranhado.

Ela era como um disco intocado.

“Afinal, é isso o que acontece com o caracol perdido.”


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  1. Do inglês, "Associação de Pais e Mestres".
  2. "Touring" é uma palavra inglesa que significa algo como "passear", foi a que o Araragi usou para descrever o que estava fazendo. Mas a Hachikuji confundiu sua pronúncia com "two-ring", aludindo o "two" (em inglês, "dois") ao número de rodas de um veículo.
  3. Lolicon é uma abreviatura de "lolita complex" (complexo de lolita em inglês) e é usada no Japão para aludir a pessoas que se sentem atraídas por garotas menores de idade.
  4. Significa "Explosão do Ônibus de Gás".
  5. Um jogo japonês em que se pede a alguém para dizer uma palavra repetidamente, então se faz uma pergunta simples a ela, cuja resposta é similar à palavra repetida, causando confusão.
  6. Se pronuncia "baku" em japonês, que alude à palavra "bakuhatsu".