Bakemonogatari: Volume 1 - Caracol Mayoi 005

From Baka-Tsuki
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005[edit]

“A vaca perdida”, disse Oshino Meme num gemido baixo e irritado que fez parecer como se ele tivesse sido forçadamente acordado no meio de mil anos sendo pacificamente selado. Ele não tinha pressão baixa, mas parecia que tinha dificuldade em acordar. A diferença de sua sociabilidade normal era impressionante. “Isso seria a vaca perdida.”

“Vaca? Não, não uma vaca. Ela disse caracol.”

“Se você escrever com o kanji, tem vaca nele. Oh, Araragi-kun, você estava escrevendo caracol em katakana? Você deve ter um QI baixo. Ela leva o kanji para espiral (渦) e muda o radical de água na esquerda para o radical de inseto. Apenas adicione o kanji para vaca (牛) e no final você vai ter caracol (蝸牛).”

“Espiral... para caracol, hm?”

“Por si só, é pronunciado ka ou ke, mas realmente não é usado muito fora da palavra caracol. Um caracol tem mesmo uma espiral, afinal. É também similar ao kanji para calamidade (禍)... e talvez isso seja um pouco mais simbólico. Existem inúmeros monstros que levam as pessoas à perdição, mas quando o assunto é obstruir o caminho de alguém... bem, certamente você conhece o nurikabe, Araragi-kun. Se é desse tipo e é um caracol, então deve ser a vaca perdida. Nesse caso, o nome à essência dele, não à sua forma, então uma vaca e um caracol são essencialmente os mesmos. Quanto à forma dele, a arte dele com uma forma humana permanece. Araragi-kun, na maior parte do tempo com monstros, a pessoa que veio com o nome e a pessoa que veio com a arte são pessoas diferentes. Geralmente, o nome vem primeiro. Eu digo o nome, mas realmente não é nada mais do que uma ideia. Bem, é meio como nas ilustrações para uma light novel. Antes que a forma visual de um personagem seja feita, existe a ideia geral sobre um personagem. Geralmente é dito que o nome representa o corpo, mas o corpo ao qual é referido aí não é o corpo físico ou a aparência exterior. Refere-se à essência do que isso seja... Awwn.”

Ele realmente soava cansado.

Contudo, isso eliminou um bocado da superficialidade da personalidade dele, então o fez mais fácil de falar com. Falar com o Oshino podia ser realmente cansativo.

O caracol.

Um pulmonata terrestre com uma casca em espiral de clado Stylommatophora.

Lesmas eram muito mais comuns de se deparar com, mas esse era um tipo que tinha retrocedido de ter uma casca.

Se você polvilhasse sal neles, eles derreteriam.

Depois de partirmos, Senjougahara Hitagi, Hachikuji Mayoi e eu tentamos e continuamos por mais cinco vezes. Tentamos de tudo, de atalhos que levaram diretamente a lá para desvios excessivamente longos e que saíam do caminho, mas cada um deles acabou sendo um esforço magnificamente desperdiçado. Nós sabíamos com certeza que estávamos perto de nossa destinação, mas simplesmente éramos incapazes de alcançá-la. No final, tentamos até mesmo ir de porta em porta, parando em cada e toda casa, mas até mesmo isso foi improdutivo.

Como um verdadeiro último recurso, Senjougahara usou alguma função especial do celular dela (eu realmente não entendi) que era um sistema de navegação que usava GPS ou algo assim.

Contudo, o celular dela perdeu sinal logo antes que ela pudesse baixar os dados.

Foi nesse ponto que eu finalmente, relutantemente e tarde demais verdadeiramente entendi o que estava havendo. Ela não tinha dito nada, mas parecia que Senjougahara tinha pressentido isso muito mais antes, e Hachikuji provavelmente entendeu a situação muito mais profundamente do que nós dois.

Para mim, foi um demônio.

Para Hanekawa, foi um gato.

Para Senjougahara, foi um caranguejo.

E para Hachikuji, parecia ser um caracol.

Isso significava que eu não podia simplesmente desistir disso tudo. Se fosse um caso normal de uma criança perdida que nós não fôssemos capazes de resolver sozinhos, poderíamos termos a levado a um posto policial das proximidades e nos sentirmos bem sobre como fomos de ajuda. Contudo, aquele lado das coisas estava envolvido...

Senjougahara também era contrária à ideia de simplesmente levarmos Hachikuji a um posto policial.

Senjougahara esteve imersa naquele lado das coisas por anos.

Se ela se sentia assim, não tinha erro.

Contudo, também significava que aquele era um problema que Senjougahara e eu não podíamos lidar com sozinhos. Nenhum de nós dois tínhamos poderes especiais a essa extensão ou qualquer coisa assim. Tudo que nós fomos capazes de fazer foi saber que isso era um problema daquele lado das coisas.

É dito que conhecimento é poder.

Contudo, meramente saber nos deixou absurdamente impotentes.

Foi uma solução rápida e suja e nós não particularmente gostávamos de tomá-la, mas no fim de nossa discussão, decidimos consultar o Oshino.

Oshino Meme.

Ele tinha me... não, nos salvado.

Contudo, ele era certamente o tipo de pessoa que você iria querer evitar ficar por perto o tanto quanto possível se ele não tivesse te salvado. Ele tinha mais de trinta anos de idade, ainda assim, nenhuma residência permanece, e esteve dormindo num cursinho velho e abandonado desde que veio a esta cidade há mais de um mês. Isso por si só seria o suficiente para fazer alguém recuar.

—Por hora, tenho um interesse nesta cidade.

Foi isso que ele disse.

Assim, ele era um verdadeiro andarilho que podia facilmente desaparecer a qualquer momento. Contudo, tínhamos o encontrado na segunda passada por causa do problema da Senjougahara e na terça para resolvermos as coisas depois. E também me encontrei com o Oshino logo no dia anterior, então ele certamente ainda estava naquela construção abandonada.

Isso deixou o problema de como contatá-lo.

Ele não tinha telefone.

Isso significava que a única opção era ir lá falar com ele diretamente.

Senjougahara tinha acabado de encontrar Oshino na semana anterior e ela realmente mal o conhecia, então eu era o candidato natural para ir, mas a própria Senjougahara se voluntariou.

“Você me emprestaria sua mountain bike?”

“Claro, mas você sabe aonde ir? Eu poderia desenhar um mapa, se preferir.”

“Araragi-kun, você não vai me fazer ficar feliz se preocupando comigo se presume que tenho uma memória tão pobre quanto a sua. Na realidade, isso vai me chatear.”

“... Entendo.”

As palavras delas me chateavam.

Elas realmente me chateavam.

“Para ser honesta, eu quis andar nessa mountain bike desde que a vi no estacionamento.”

“Então você estava sendo honesta quando disse que ela era a melhor... Eu tinha presumido que era o contrário porque você não é a pessoa mais honesta que existe.”

“E também” disse Senjougahara, sussurrando no meu ouvido. “Não me deixe sozinho com essa criança.”

“......”

“Não saberia o que fazer.”

Bem, acho que isso não é muito surpreendente.

E aposto que a Hachikuji não gostaria muito disso também.

Entreguei a chave da mountain bike para Senjougahara. Senjougahara tinha me dito anteriormente que ela não possuía uma bicicleta, então conceder minha preciosa bicicleta a ela pode ter sido, na verdade, um pouco perigoso, mas tive a sensação de que uma bicicleta ficaria bem com ela.

Então acabei ficando esperando Senjougahara me contatar.

Eu tinha retornado ao banco do parque de pronúncia desconhecida.

Hachikuji Mayoi sentou-se ao meu lado.

Ela se sentou longe o suficiente para que outra pessoa pudesse se sentar entre nós.

Ela podia correr a qualquer momento se quisesse.

Na verdade, a posição dela fazia parecer que ela estava prestes a fazê-lo.

Eu tinha explicado a ela os problemas que Senjougahara e eu tínhamos aguentado assim como as contínuas circunstâncias relatadas a eles, mas pareceu que isso apenas a fez aumentar sua guarda ainda mais. Eu tinha esperava baixar a guarda dela um pouco, mas minha tentativa falha tinha apenas piorado as coisas. Eu não tinha opção senão começar de volta da estaca zero.

Afinal, confiança era algo incrivelmente importante.

Sigh...

Acho que eu deveria tentar falar com ela.

Uma coisa que tinha me chamado a atenção antes.

“Acho que ouvi você mencionar a sua mãe antes. O que você quis dizer com isso? Pensei que a Tsunade-san fosse uma parente sua?”

“......”

Nenhuma resposta.

Aparentemente, ela estava fazendo uso de seu direito de permanecer calada mais uma vez.

Duvidei que o mesmo método funcionaria, e esse método tinha sido apenas divertido porque foi uma piada. Se eu continuasse a usá-lo, começaria a parecer — até mesmo para mim — que eu estava sério quanto a ele.

E então...

“Hachikuji-chan, vou te comprar um sorvete, então poderia chegar um pouco mais perto?”

“Claro que sim!”

Hachikuji imediatamente escorregou para mais perto de mim.

... Aparentemente, se eu cumpro ou não minhas promessas é algo que não importa.

Na verdade, eu não tinha nem mesmo dado a ela um único yen, então ela era alguém bem fácil de manipular.

“De qualquer forma, sobre o que eu tava dizendo antes...”

“O que era mesmo?”

“Sua mãe.”

“......”

E o direito de se manter calada voltou.

Eu continuei falando, de todo jeito.

“Você tava mentindo quando disse que era a casa de um parente?”

“... Isso não foi uma mentira,” disse Hachikuji num tom de voz impertinente. “Minha mãe é um dos meus parentes.”

“Bem, acho que isso é verdade, mas...”

Isso não é apenas dividir as coisas?

E por que uma garota iria sair num domingo com uma mochila, seguindo para a casa de sua mãe?

“E também,” disse Hachikuji no mesmo tom impertinente. “Mesmo que eu tenha a chamado de minha mãe, infelizmente ela não é mais minha mãe.”

“Oh...”

Divórcio.

Morando só com o pai.

Eu tinha ouvido uma história parecia bem recentemente.

Era a história da família de Senjougahara.

“Tsunade era meu sobrenome até meu terceiro ano. Quando fui levada pelo meu pai, meu sobrenome mudou pra Hachikuji.”

“Hm? Espera um pouco.”

As coisas começaram a ficar um pouco complicadas, então tentei organizar as informações na minha cabeça.

Hachikuji está no quinto ano, o sobrenome dela era Tsunade até o terceiro ano (deve ser por isso que ela ficou com tanta raiva quando falei sobre esse nome), e o sobrenome dela mudou pra Hachikuji quando ela foi levada pelo pai dela... Oh, entendi. Quando os pais dela se casaram, o pai deve ter pegado o sobrenome da mãe dela. O nome de casado não tem que vir do cara. Então quando eles se divorciaram e a mãe dela, Tsunade-san, deixou a casa e se mudou pra cá... Na verdade, foi provavelmente pra casa dos pais dela.

E então a Hachikuji agendou neste domingo, no dia das mães, para visitar sua mãe.

Aquele nome era o precioso nome que a mãe dela e o pai dela tinham a dado.

“Ahh, e eu estava agindo todo superior te dizendo pra ficar em casa com seus pais...”

Eu podia entender porque ela não queria ouvir isso de mim.

“Não, isso não é porque hoje é o dia das mães. Eu sempre quero ir pra casa da minha mãe se tenho a chance.”

“... Entendo.”

“Mas nunca consigo chegar lá.”

“......”

Os pais dela se divorciaram e a mãe dela tinha saído de caso.

Ela não podia mais ver a mãe dela.

Ela queria ver a mãe dela.

E então Hachikuji tinha tentando visitar sua mãe.

Ela tinha colocado essa mochila nas costas e...

E tinha...

“Então você o encontrou.”

“Encontrou? Não sei o que você quer dizer.”

“Hmm.”

Não importa quantas vezes ela tivesse tentado visitar a mãe dela depois disso, ela nunca tinha conseguido chegar a casa dela sequer uma vez.

Simplesmente ouvir que ela tinha tentado inúmeras vezes e falhado em todas pode tê-la feito soar estúpida, mas senti que era maravilhoso como ela não tinha desistido mesmo depois disso tudo.

Contudo...

“......”

Não era realmente certo comparar, mas o problema dela parecia bem mais seguro que os problemas que a Hanekawa, Senjougahara ou eu tivemos de lidar. Ela não tinha nenhum problema físico ou mental. Em vez disso, ela tinha apenas o problema do fenômeno de não ser capaz de fazer algo que ela poderia ser capaz de fazer. O problema não era algo de dentro dela.

O problema era externo.

A vida dela não estava em perigo.

Ela podia ver sua vida cotidiana sem nenhuma real dificuldade.

Mesmo que isso fosse verdade, eu decidi que — não importa o que — não falaria sobre o problema dela como se eu soubesse do que estava falando. Não importava o que tinha acontecido comigo durante as férias de primavera, eu não tinha direito de dizer esse tipo de coisa para Hachikuji.

E então eu tentei não dizer nada desnecessário.

“Você com certeza aguentou bastante,” foi tudo que eu disse.

Isso foi o que eu real e verdadeiramente pensei.

Na verdade, eu queria acariciar a cabeça dela.

E então eu tentei.

“Grr!”

Acabei tendo minha mão mordida.

“Oww! Por que diabos você fez isso, sua pirralha?!”

“Grrrrrr!”

“Ai! Ai ai ai!”

Isso não era uma piada, uma mordida de brincadeira para esconder o embaraço dela. Ela realmente estava mordendo tão forte quanto podia. Eu podia sentir os dentes de Hachikuji atravessando minha pele e minha carne. Sem nem mesmo olhar, eu podia dizer que sangue estava jorrando. Realmente não era nada para se brincar.

Por que ela tá fazendo isso?! Espera, não me diga que eu preenchi os requerimentos para este evento sem nem mesmo perceber isso!

Isso significa que a batalha começou?!

Peguei minha outra mão e a fechei num punho apertado. Era como se eu estivesse tentando esmagar o ar. E então dirigi esse punho para o plexo solar de Hachikuji. O plexo solar era uma das áreas vitais do corpo humano das quais nada se poderia fazer sobre. Enquanto os dentes dela permaneceram profundamente cravados na minha mão apesar do golpe, Hachikuji era algo a ser reconhecido, mas por um instante, a força da mordida dela diminuiu. Usei essa abertura para utilizar a força ridícula do meu braço. Hachikuji estava cavando na minha carne, mas isso deixou o resto dela sem guarda. E felizmente, Hachikuji estava se levantando um pouco do banco.

Peguei a mão com a qual eu tinha a socado, abri o punho dela e a segurei para cima com ela. No processo, senti algo surpreendentemente cheio para uma menina do quinto ano, mas eu não era um lolicon, então isso teve um efeito mínimo em mim que você poderia dizer que não foi nada. Usei esse momento para girar ela completamente de cabeça para baixo. Como ela ainda estava mordendo minha mão, a área ao redor do pescoço dela foi completamente virada, mas isso não era problema. Contanto que ela estivesse mordendo minha mão, qualquer ataque próximo da cabeça dela tinha o perigo de voltar para mim para me morder... literalmente. Por conta de tê-la virado, o corpo da Hachikuji foi exibido diante de mim como uma pilha de telhas a serem quebradas com um golpe de karate, e era esse o meu objetivo. Mais especificamente, meu alvo era o plexo solar dela que eu já tinha socado uma vez.

“Khaahhh!”

Funcionou perfeitamente.

Os dentes de Hachikuji finalmente se soltaram de minha mão.

Ao mesmo tempo, ela tossiu algo parecido com suco gástrico.

E então ela perdeu a consciência.

“Heh... Na verdade, isso não foi engraçado.”

Balancei minha mão mordida para aliviá-la.

“Depois da primeira vez, esse tipo de vitória é tão vazio...”

Lá estava um garoto do colegial que tinha socado uma menina pré-escolar duas vezes na parte mais central dos pontos vitais do corpo humano, a nocauteando até deixá-la inconsciente, e que tinha começado a se colocar ares de niilismo.

Como antes, esse garoto era eu.

.....

Golpear, agarrar e lançar era uma coisa, mas abertamente socar uma garota estava fora de questão.

Araragi Koyomi tinha feito algo mais do que suficiente para ser considerado o pior homem do mundo sem precisar nem mesmo de Senjougahara para se prostrar nua diante dele.

“Ahh... Mas é porque ela me mordeu de repente.”

Olhei para o machucado da mordida.

Gehh... Uau, dá pra ver o osso... Não sabia que um humano podia fazer tanto dano com uma mordida...

Contudo, mesmo que eu pudesse sentir a dor, um machucado daquele nível curaria logo mesmo que eu apenas ficasse de pé ali.

Enquanto o machucado se fechava rápido o suficiente para se ver, parecia-se com um vídeo sendo acelerado ou rebobinado. Isso me lembrou do quanto eu era uma existência diferente do normal. Ser lembrado disso me deixou num humor escuro e amargo.

Sinceramente, você é patético.

Você acha que é o pior homem do mundo? Não me faça rir.

Você realmente acha que ainda se qualifica como um humano?

“Que olhar assustador no seu rosto, Araragi-kun,” disse uma voz súbita.

Por um momento, pensei que fosse Senjougahara, mas não poderia ter sido. Senjougahara nunca falaria com uma voz tão animada.

De pé diante de mim estava a representante de classe.

Era Hanekawa Tsubasa.

Era domingo e, mesmo assim, ela estava vestindo o uniforme escolar. Apesar de que eu imagino que isso fosse normal para ela. Uma estudante excelente como ela gosta de estar vestida assim. Com o mesmo estilo de cabelo e os óculos de sempre, a única diferença de quando ela estava na escola era a sacola que ela estava segurando.

“H-Hanekawa.”

“Você parece surpreso em me ver. Bem, acho que isso é bom. Heh heh heh.”

Hanekawa me mostrou um excelente sorriso.

Era um sorriso muito despreocupado.

Na verdade, era o mesmo que Hachikuji tinha feito antes...

“O que você está fazendo aqui?”

“U-um, o que você tá fazendo aqui?”

Eu era incapaz de esconder minha agitação.

Tive de me perguntar o quanto ela tinha visto.

Se essa massa de diligência, esse exemplo vivo de conduta apropriada, esse pilar de inocência que era Hanekawa Tsubasa tivesse me visto agindo violentamente para com uma menina pré-escolar, isso seria muito, muito ruim, de uma maneira completamente diferente de se Senjougahara tivesse visto.

Eu não queria ser expulso depois de conseguir fazer todo o caminho até o terceiro ano.

“Por que você precisa me perguntar? Eu vivo por aqui. Se algum de nós estar aqui é algo estranho, então é você, Araragi-kun. Você está nesta área por alguma razão em particular?”

“Um...”

Oh, certo.

Senjougahara e Hanekawa foram para a mesma escola no fundamental.

Já que tinha sido uma escola pública, elas deviam estar no mesmo distrito escolar. Nesse caso, o território antigo de Senjougahara estar dentre a área de atividade da Hanekawa não era surpreendente. Já que elas foram para pré-escolas diferentes, elas não deviam viver na exata mesma área, no entanto.

“Não, não realmente. Tô aqui só pra... sabe... matar tempo ou...”

Opa.

Acabei de dizer que estava matando tempo.

“Ah ha. Entendo. Matando tempo. Que bacana. Não ter nada para fazer é algo maravilhoso. É tão libertador, não é? Acho que eu estava matando tempo também.”

“......”

Ela realmente era um ser diferente de Senjougahara em todo aspecto.

Elas eram ambas inteligentes, mas acho que essa é a diferença entre a primeira classe e a primeira.

“Você sabe o quão difícil é para eu ficar em casa, certo, Araragi-kun? Já que a biblioteca não fica aberta, domingos são os meus dias de caminhada. Faz bem para minha saúde.”

“Eu diria que você tá se preocupando demais.”

Hanekawa Tsubasa.

A garota com asas de formato estranho[1].

Na escola, ela era uma massa de diligência, um exemplo vivo de conduta apropriada, um pilar de inocência, a representante de classe entre as representates de classe, e impecável, mas ela tinha alguma discórdia em sua vida familiar.

Alguma discórdia e uma distorção.

Por conta disso, ela tinha sido possuída por um gato.

Ela tinha sido possuída através de uma pequena brecha em seu coração.

Esse pode ter sido um bom exemplo do fato de que ninguém podia ser verdadeiramente perfeito, mas quando esse problema tinha sido resolvido e ela tinha sido liberta do gato, suas memórias tinham sido perdidas. E então a discórdia e a distorção não tinham sido lidadas com.

A discórdia e distorção permaneceram.

“A biblioteca não ser aberta nos domingos parece exibir o quão não civilizada a área em que moramos é. Ah há. Eu realmente não gosto disso nem um pouco.”

“Eu nem mesmo sei onde a biblioteca fica.”

“Ah, vamos. Não diga coisas assim. Faz parecer que você já desistiu. Ainda há tempo até os exames de admissão, então você consegue.”

“Hanekawa, às vezes encorajamento sem base pode ser ainda mais doloroso do que abuso direto.”

“Mas você consegue fazer matemática, certo, Araragi-kun? Se você pode fazer matemática, não tem como você não fazer as outras matérias.”

“Matemática é fácil porque você não tem que memorizar nada.”

“Você com certeza não é cooperativo. Bem, que seja. Vou apenas te deixar com um ‘vamos lá’ por isso. A propósito, Araragi-kun, essa é a sua irmãzinha?”

Hanekawa apontou para Hachikuji, que estava deitada no chão próximo ao banco.

“Minhas irmãzinhas não são tão pequenas assim.”

“Oh.”

“Elas estão no fundamental.”

“Hmm.”

“Umm, ela tá perdida. O nome dela é Hachikuji Mayoi.”

“Mayoi?”

“É pronunciado com o primeiro kanji de verdade e o segundo kanji de crepúsculo. E o sobrenome dela é...”

“Eu sei como isso deve ser pronunciado. Você geralmente ouve o termo Hachikuji na área de Kansai. Esse é um nome que soa muito histórico e pomposo. Pensando nisso, acho que o templo em Shinonome Monogatari foi nomeado... não, espera. O kanji é diferente.”

“... Você sabe de tudo, né?”

“Eu não sei de tudo. Só sei do que sei.”

“Oh, entendo...”

“Hachikuji Mayoi, hm? Esses dois nomes combinam bastante mesmo. Oh? Acho que ela acordou.”

Olhei para Hachikuji e a vi piscando os olhos. Depois de hesitante olhar ao redor como se estivesse checando seus arredores, Hachikuji se sentou.

“Olá, Mayoi-chan. Eu sou amiga desse rapaz. Meu nome é Hanekawa Tsubasa.”

O tom de voz dela veio direto de Taisou no Onii-san.

Ou no caso dela, acho que seria Taisou no Onee-chan.[2]

Hanekawa era provavelmente do tipo que não teria problemas em falar com gatos ou cachorros de maneira infantil.

Em resposta, Hachikuji disse, “Por favor, não fale comigo. Eu te odeio.”

Ela diz isso pra todo mundo?

“Oh? Eu fiz algo para fazer você me odiar? Você não deveria dizer isso para as pessoas quando acaba de conhecê-las, Mayoi-chan. Uri uri.”

Contudo, Hanekawa não demonstrou sinais de ser afetada pelas palavras de Hachikuji.

Ela também facilmente conseguiu fazer o que eu não tinha conseguido: acariciar a cabeça de Hachikuji Mayoi.

“Hanekawa, você gosta de crianças?”

“Hm? Você não gosta?”

“Não, não sou eu que não gosto.”

“Hmm. Bem, sim, eu gosto de crianças. Quando penso como quando eu costumava ser assim, me dá um sentimento caloroso por dentro. Uri uri.”

Hanekawa continuou a acariciar a cabeça de Hachikuji.

Hachikuji tentou resistir.

Mas foi inútil.

“U-uuhhh...”

“Você é tão fofa, Mayoi-chan. Ahh! Eu apenas quero te comer. Suas bochechas são tão fofinhas e suaves. Kyahh!! Oh, mas...”

O tom dela subitamente mudou.

Agora era o tom que ela ocasionalmente tornava para mim na escola.

“Você não deveria morder a mão das pessoas assim. Nesse caso, ele ficou bem, mas uma pessoa normal ficaria seriamente machucada! Meh!”

Ela a golpeou. Com seu punho. Como se não fosse nada.

“U-uuhh?”

A rápida transição de gentileza para ser golpeada deixou Hachikuji tremendamente confusa e Hanekawa usou essa oportunidade para forçadamente se virar para me olhar.

“Okay! Agora você pede desculpas.”

“M-me desculpa, Araragi-san.”

Ela se desculpou.

Aquela pirralha impertinente cujo somente o tom de voz era educado se desculpou.

Foi um choque.

Espera, isso significa que Hanekawa esteve assistindo por um tempo antes de se aproximar... Entendo. Pensando normalmente, quando você é mordido a ponto de sua carne ser arrancada, a autodefesa é justificada. E pensando nisso, foi ela que me atacou primeiro com a luta de mais cedo também...

Enquanto Hanekawa não era tão flexível assim, ela ainda não era tão agarrada às regras.

Ela era apenas justa.

Pela maneira que ela tinha lidado com isso, Hanekawa parecia acostumada a lidar com crianças. Eu tinha bastante certeza de que ela era filha única, então ela fez isso excelentemente, de fato.

Incidentalmente, eu já tinha percebido que Hanekawa me tratava como uma criança na escola, mas não vamos pensar nisso demais.

“E Araragi-kun, o que você fez também foi errado!”

Ela usou o exato mesmo tom em mim.

Ela parecia intencionada a me forçar em pensar sobre como ela tinha me tratado.

Contudo, ela realmente percebeu o que tinha feito e limpou sua garganta antes de começar de novo.

“Bem, de todo jeito, isso foi errado.”

“Você quer dizer... socá-la?”

“Não, quero dizer que você precisa repreendê-la apropriadamente.”

“Oh...”

“Claro, você também não deveria ter a socado, mas se você vai bater em uma criança — ou em qualquer um, nesse sentido — precisa dizer a eles o que eles fizeram para merecer isso.”

“......”

“É isso que significa expor o que diz.”

“Sempre que converso com você, aprendo algo.”

Ela realmente tinha uma maneira de drenar o veneno para fora de uma situação.

Ela provou que existem pessoas boas no mundo.

Somente isso me fazia sentir que eu tinha sido salvo.

“Então você disse que ela estava perdida? Aonde ela quer ir? Fica perto? Se fica, você provavelmente pode mostrá-la o caminho.”

“Umm, Senjougahara foi pedir ajuda a alguém, então...”

Mesmo que ela tivesse uma conexão com esse lado das coisas, Hanekawa não tinha memórias disso. Ela sabia, mas tinha esquecido. Senti que seria melhor não mexer nessas memórias feito uma sarna.

Eu apreciava a oferta dela, mas...

“Parece que levou um bocado de tempo, mas ela deve estar voltando logo.”

“Huh? Senjougahara-san? Araragi-kun, você estava com a Senjougahara-san? Hmm? Senjougahara-san esteve ausente da escola recentemente, mas... Hmm? Oh, pensando nisso, você estava perguntando sobre ela um dia desses... Hmm?”

Ah.

Ela tá suspeitando de algo.

Os poderes de mal entendimento da Hanekawa estavam prestes a explodir.

“Ahh! Entendo! Então é isso!”

“Não, tenho quase certeza de que você tá tendo a ideia errada...”

Eu sei que era errado para um idiota como eu negar uma resposta dada por um gênio como ela, mas...

“Seus poderes de desilusão ultrapassam até mesmo os daquelas garotas que gostam de yaoi.”

“Yaoi? O que é isso?”

Hanekawa inclinou sua cabeça para o lado em confusão.

A estudante genial não conhecia isso.

“É uma abreviação de ‘YAma nashi Ochi nashi Imi shinchou’[3].”

“Isso parece inventado. Tudo bem, eu vou pesquisar sobre isso sozinha.”

“Você com certeza é diligente.”

......

E se isso levar Hanekawa a se desviar para o caminho errado?

Será culpa minha.

“Já que pareço estar interrompendo, estarei indo. Diga olá para a Senjougahara-san por mim. Além disso, hoje é domingo então não vou dizer muito, mas tenham certeza de se restringirem um pouco. Além disso, temos um quiz de história, então não se esqueça de estudar. Além disso, as preparações maiores para o festival cultural estão prestes a começar, então se esforce. Além disso...”

Após isso, Hanekawa adicionou mais nove “além disso”.

Ela pode ter sido a maior usuária de “além disso” após Natsume Souseki[4].

“Oh, Hanekawa. Posso te perguntar uma coisa? Você conhece uma Tsunade-san que mora por aqui, em algum lugar?”

“Uma Tsunade-san? Hmm... bem...”

Ela parecia estar buscando na memória dela. Esperei que isso significasse que ela poderia saber, mas...

“Não, não conheço,” disse ela.

“Então há coisas que você não sabe.”

“Eu não disse a você? Só sei do que sei. Para toda coisa além disso, não sou de nenhuma ajuda.”

“Entendo.”

Era verdade que ela não tinha sabido o que yaoi significava também.

Parecia que as coisas não seriam resolvidas tão facilmente.

“Sinto muito, fui incapaz de ir ao encontro de suas expectativas.”

“Não se preocupe com isso.”

“Então eu vou indo. Bye bye.”

E então Hanekawa Tsubasa deixou o parque.

Eu me pergunto se ela teria sabido como pronunciar o nome do parque.

Talvez eu devesse ter feito disso a minha pergunta.

E então meu celular começou a tocar.

Um número de onze dígitos foi exibido na tela.

“......”

Domingo, 14 de Maio, 14:25:30.

Esse foi o instante em que eu obtive o número do celular de Senjougahara.


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  1. "Tsubasa" significa "asas" em japonês.
  2. "Onii-chan" = "irmão mais velho", "onee-chan" = "irmã mais velha".
  3. Significa "sem clímax, sem resolução, sem significado profundo".
  4. Um autor que escreveu um livro chamado "Sorekara", que é a palavra que a Hanekawa ficou repetindo.