Toaru Majutsu no Index ~Brazilian Portuguese~:Volume1 Capitulo1

From Baka-Tsuki
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Capítulo 1: O Mago Aterrissa na Torre — FAIR,_Occasionally_GIRL.[edit]

Parte 1[edit]

"Se você é um Aquariano, nascido entre 20 de Janeiro e 18 de Fevereiro, você terá muita sorte no amor, ganhará muito dinheiro e terá sucesso nos negócios! Não importa o quão improváveis sejam as circunstâncias, apenas coisas boas virão para você. Vá jogar na loteria! Mas não importa o quão popular você seja não tente sair com três ou quatro garotas ao mesmo tempo. ♪"

"...Olha, eu sabia que ia ser algo desse tipo, mas ainda assim..."

Era 20 de Julho, o primeiro dia das férias de verão.

Kamijou Touma estava sem palavras. Seu dormitório na Cidade Acadêmica havia sido transformado numa sauna por causa de um ar-condicionado quebrado. Aparentemente, um raio havia caído durante a noite e danificado oitenta por cento dos seus aparelhos elétricos. Isso também significava que os conteúdos dentro de sua geladeira haviam sido estragados. Quando ele tentou comer o copo de yakisoba que ele matinha guardado para emergências, ele derramou o macarrão na pia. Sem outras opções, ele decidiu comer fora, mas pisou em seu cartão bancário e o quebrou enquanto procurava por sua carteira. Quando ele rastejou pateticamente de volta à cama para chorar até dormir, ele foi acordado pelo toque de seu telefone. Era sua professora lhe entregando uma mensagem carinhosa: "Bom dia, Kamijou-chan, você é um idiota, então precisa de aulas de reforço. ♪"

Ele sempre sentiu que horóscopos exibidos na TV como previsões do tempo tendiam a ser apenas isso, previsões, mas ele foi incapaz de rir disso quando ela se mostrou tão diferente da realidade.

"...Eu entendo. Mas não consigo engolir sem falar em voz alta."

O horóscopo sempre estava errado e Kamijou nunca teve boa sorte. Assim era a vida diária para Kamijou Touma. Ele havia pensado que a maneira extraordinária em que a sorte havia o abandonado era algo de família, mas seu pai havia conseguido um quarto lugar (cerca de 100.000 ienes[1]) na loteria e sua mãe havia conseguido bebidas gratuitas em máquinas de vendas diversas vezes. Era o suficiente para fazê-lo se perguntar se eles tinham alguma relação sanguínea. Mas como ele não tinha uma queda por uma irmã mais nova, nem era o próximo na linha de sucessão para a realeza, nada de bom viria ao descobrir que ele era adotado.

Em suma, Kamijou Touma não vivenciava nada além de azar.

Ao ponto em que isso poderia ser facilmente chamado de uma piada recorrente.

Mas ele não tinha intenção de desistir por causa disso.

Kamijou não contava com a sorte. Em outras palavras, ele tinha muita determinação.

"...Certo. Os problemas imediatos são o meu cartão e a geladeira."

Kamijou coçou sua cabeça e olhou ao redor de seu quarto. Enquanto ele ainda tivesse sua caderneta bancária, ele conseguiria outro cartão facilmente. O problema real era a geladeira... ou melhor, o café da manhã. Eles chamavam de aulas de reforço, mas ele tinha certeza que seria forçado a tomar pílulas de Matusalina e pó de Elbrase[2] para o desenvolvimento de habilidades. Fazer isso com o estômago vazio não era uma boa ideia.

Trocando de roupa e colocando seu uniforme de verão, Kamijou considerou parar numa loja de conveniências no caminho para a escola. Fazendo jus a sua posição de estudante idiota, Kamijou havia ficado acordado a noite inteira enquanto as férias de verão se aproximavam então uma dor incômoda passava pela sua mente privada de sono. Entretanto, ele se forçou a pensar positivamente.

(Compensar quatro meses de aulas perdidas em uma única semana é um bom negócio.)

Seu humor se recuperou ao ponto em que ele repentinamente murmurou, "O clima tá legal. Talvez eu deva arejar o meu futon."

Kamijou abriu a porta de tela para a varanda. Ele esperava que o futon estivesse agradável e fofinho quando ele voltasse de suas aulas de reforço.

Mas naquela varanda do sétimo andar, a parede do prédio vizinho estava há menos de dois metros de distância.

"O céu é tão azul, e ainda assim o meu futuro é um breu. ♪"

Seu ânimo decaiu bruscamente. Se forçar a dizer isso de maneira alegra apenas teve o efeito oposto.

Não ter outra pessoa para agir como o escada[3] apenas o atormentou com um sentimento de solidão enquanto ele usava ambas as mãos para pegar seu futon em sua cama.

(Se o resto falhar, pelo menos eu vou deixar isso aqui suave e macio.)

Assim que ele pensou isso, ele sentiu algo macio ser esmagado pelo seu pé. Ele olhou para baixo e viu um pão de yakisoba ainda embrulhado. Ele estava na geladeira arruinada previamente mencionada, então certamente ele havia estragado.

"... Eu só espero que não comece a chover de repente essa tarde."

Expressando uma má premonição que ele teve, Kamijou saiu pela porta de tela aberta para a varanda...

...e viu um futon branco já pendurado lá.

"?"

Ele podia morar num dormitório estudantil, mas o formato era de um kitnet, então Kamijou vivia sozinho. Desse jeito, não havia ninguém além de Kamijou Touma que fosse capaz de pendurar um futon no corrimão da varanda de seu quarto.

Quando ele olhou mais de perto, não era um futon pendurado.

Era uma garota vestindo roupas brancas.

"Hã!?"

O futon verdadeiro caiu de suas mãos.

Era um mistério. Na verdade, era algo sem sentido. Como se ela tivesse caído de exaustão numa vara de metal, a garota estava com sua cintura pressionada contra o parapeito da varanda e seu corpo estava dobrado de um jeito que seus braços e pernas estavam pendurados para baixo.

Ela tinha... cerca de quatorze ou quinze anos de idade. Ela parecia ser um ano ou dois mais nova que Kamijou. Ela devia ser uma estrangeira por que sua pele era de um branco imaculado, e seu cabelo era branco... não, prateado. Seu cabelo era um tanto longo, então ele cobria completamente seu rosto. Kamijou chutou que ele devia alcançar sua cintura se ela estivesse de pé.

E suas roupas...

"Nossa, é uma irmã... Uma irmã freira, não uma irmã irmã."

O termo para o que ela vestia era hábito? Era o tipo de roupa que você esperava ver em uma freira na igreja. Suas roupas pareciam um longo vestido que chegava até os tornozelos, e ela usava um capuz separado em sua cabeça, um tanto diferente de um chapéu. Entretanto, embora os hábitos normais das freiras fossem pretos, o dela era branco puro. Ele era feito de seda? Aliás, em todos os pontos importantes da roupa, bordados feitos de linhas douradas haviam sido costurados. Kamijou não podia acreditar no quanto a impressão dada pelo mesmo desenho de roupa podia mudar apenas alterando as cores. O que ele viu lembrou-lhe de uma xícara de porcelana.

As pontas dos dedos adoráveis da garota tremeram.

Sua cabeça levantou-se lentamente de sua posição pendurada. Seu cabelo prateado semelhante a seda partiu-se suavemente para os lados como uma cortina e o rosto da garota apareceu no meio do cabelo realmente longo.

(Ei, ei...!)

O rosto da garota era relativamente bonito. Sua pele branca e seus olhos verdes eram uma nova experiência para alguém que não tinha contato com o exterior como Kamijou e ela parecia, de certa forma, com uma boneca para ele.

Entretanto, não foi isso que deixou Kamijou tão envergonhado.

Ela era uma estrangeira e o professor de inglês de Kamijou Touma havia sugerido que ele adotasse uma política vitalícia de evitar estrangeiros. Se alguém de um país estranho começasse a falar com ele, ele possivelmente acabaria comprando um edredom seu perceber.

"Eu..."

Os lábios fofos, mas levemente secos, da garota se moveram lentamente.

Kamijou deu um passo ou dois para trás sem perceber. Com um som amassado, ele pisou no pão de yakisoba mais uma vez.

"Eu tô com fome.”

"..........................................................................."

Por um instante, Kamijou pensou ser tão estúpido que sua mente tinha substituído automaticamente a língua estrangeira que ele ouviu com japonês. Como crianças estúpidas do fundamental que colocavam letras ridículas em músicas estrangeiras que elas não conheciam a letra real.

"Eu tô com fome."

"..."

"Eu tô com fome."

"......"

"Quantas vezes eu vou ter que te dizer que eu tô com fome?"

A garota de cabelo prateado pareceu ter ficado um pouco irritada com a maneira que Kamijou apenas ficou parado no mesmo lugar.

(Não. Isso é prova o suficiente. Isso não pode ser outra coisa além de japonês.)

"Ah, hmm..." ele disse enquanto encarava a garota pendurada no parapeito da varanda. "O que? Você tá querendo me dizer que desmaiou de cansaço ou algo do tipo?"

"Você também poderia dizer que eu caí e tô prestes a morrer."

"..."

A garota podia falar japonês muito bem.

"Seria ótimo se você pudesse me alimentar o suficiente pra eu ficar cheia."

Kamijou olhou para o pão de yakisoba amassado e possivelmente estragado ainda em sua embalagem debaixo de seu pé.

Ele não tinha ideia do que estava acontecendo, mas ele sabia que era melhor não se envolver. Na esperança de mandar a garota para um lugar distante, ele ergueu o pão de yakisoba amassado para sua boca. Ele tinha certeza que ela iria sair correndo quando sentisse o fedor azedo, então ele fez algo semelhante a oferecer chazuke à um convidado que você queira fora de sua casa em Quioto[4].

"Obrigada. Hora de comer."

Sua boca o engoliu, com embalagem e tudo. E a mão de Kamijou foi junto.

Mais uma vez, o dia de Kamijou começou com azar e um grito.

Parte 2[edit]

"Eu acho que eu preciso começar com uma introdução."

"Na verdade, eu iria preferir se você começasse explicando por que você tava pendurada lá fora."

"Meu nome é Index."

"Esse nome é claramente falso! Como assim Index!? Você é um índice ou algo do tipo!?"

"Como você pode ver, eu sou da Igreja. Isso é importante. Ah, mas não sou do Vaticano. Eu sou da Igreja Anglicana[5]."

"Eu não sei o que isso significa, e você vai ficar ignorando minhas perguntas!?"

"Hmm, Index não é o suficiente? Bom, meu nome mágico é Dedicatus545."

"Alô, alô? Com que tipo de alienígena eu tô falando?"

Kamijou não entendeu então ele enfiou um dedo em sua orelha, e Index mordiscou a unha de seu polegar. Esse era um hábito dela?

Kamijou perguntou-se por que eles estavam sentados educadamente de frente um para o outro como em um omiai[6].

Index v01 031.jpg

Se ele não saísse logo, ele iria se atrasar para suas aulas de reforço, mas ele não poderia deixar essa pessoa estranha em seu quarto. Pra piorar as coisas, a garota misteriosa de cabelo prateado se chamando de Index parecia ter gostado o suficiente do quarto que ela parecia disposta a se deitar preguiçosamente no chão.

Teria o azar de Kamijou atraído ela? Ele esperava que esse não fosse o caso.

"De qualquer forma, seria ótimo se você pudesse me alimentar o suficiente para eu ficar cheia."

"Por que eu faria isso!? Eu não quero aumentar seus parâmetros. Eu preferiria morrer do que ativar uma flag estranha e acabar preso na rota da Index!!"[7]

"Hm... isso é uma gíria? Sinto muito, mas eu não faço ideia do que você tá falando."

Como esperando de uma estrangeira, ela não entendia a cultura otaku do Japão.

"Mas se eu sair agora, eu vou desmaiar depois de dar três passos."

"...Não vem com essa de desmaio de novo."

"E eu vou reunir minha força restante para deixar uma última mensagem antes de morrer. Vai ser uma imagem sua."

"O qu—?"

"E se, por acaso, alguém me salvar, eu vou dizer que eu fui aprisionada neste quarto e atormentada ao ponto de desmaiar. ...Eu vou dizer pra eles que você forçou seus gostos de cosplay em mim."

"Não ouse dizer isso! E você conhece uma coisa ou duas sobre a cultura otaku, né!?"

"?"

Ela inclinou sua cabeça para o lado como um gato se olhando pela primeira vez num espelho.

Ele se arrependeu de deixá-la irritá-lo. Ele sentiu como se só ele tivesse sido terrivelmente maculado.

(Ok, vamos nessa!)

Kamijou se encaminhou de forma barulhenta até a cozinha. Apenas restava lixo estragado em sua geladeira, então dar isso para ela não machucaria sua carteira. Ele decidiu que tudo ficaria bem desde que a comida fosse aquecida. Ele colocou tudo restante na frigideira e fez algo semelhante a vegetais salteados.

(Pensando nisso, de onde veio essa garota?)

Claro, haviam estrangeiros na Cidade Acadêmica. Entretanto, ela não tinha o "cheiro" característico de um habitante da cidade. Mas também era estranho que pessoas de fora entrassem na cidade.

A Cidade Acadêmica era tratada como uma cidade feita de centenas de escolas, mas seria mais correto pensar nela como um internato do tamanho de uma cidade. Ela era grande o suficiente para cobrir um terço de Tóquio, mas ela era cercada por uma muralha como a Grande Muralha da China. Ela não era tão estrita como uma prisão, mas ainda assim não era o tipo de lugar que você podia simplesmente entrar e sair.

...Ou pelo menos era assim que parecia ser. Na realidade, três satélites lançados para experimentos de uma faculdade técnica estavam constantemente monitorando a cidade. Cada pessoa que entrava ou saía da cidade era completamente escaneada e se alguma pessoa suspeita que não estivesse no banco de dados no portão fosse detectada, membros da Anti-Skill ou da Judgement de todas as escolas iriam intervir imediatamente.

(Mas aquela garota elétrica invocou aquela nuvem de raios ontem. Isso pode ter escondido ela dos satélites.)

"Então, por que você tava pendurada para secar na minha varanda?" Kamijou perguntou à garota enquanto colocava molho de soja no prato semelhante a vegetais salteados que ele estava fazendo com intenções puramente maliciosas.

"Eu não tava pendurada pra secar."

"Então o que você tava fazendo? Foi pega pelo vento e veio parar aqui em cima ou algo do tipo?"

"...Algo do tipo."

Kamijou havia dito aquilo como uma piada e parou de mover a frigideira para encarar a garota.

"Eu caí. Eu estava tentando de pular de um telhado para o outro."

(Telhado?)

Kamijou olhou para o teto.

Dormitórios estudantis baratos estavam alinhados naquela área. Mais do mesmo tipo de prédios de oito andares estavam enfileirados e uma olhada para a varanda mostrava que existia um vão de dois metros entre os prédios. Era verdade que um pulo com impulso poderia te levar de um telhado para o outro, mas...

"Mas são oito andares? Um passo errado e você cai direto pro inferno."

"É, e você nem consegue uma sepultura se você cometer suicídio," disse Index enigmaticamente. "Mas eu não tinha escolha. Não tinha outra maneira de escapar."

"Escapar?"

Kamijou franziu a testa para aquela palavra sinistra.

"Sim," disse Index como uma criança. "Eu estava sendo perseguida."

"..."

A mão de Kamijou que estava balançando a frigideira quente parou de se mover mais uma vez.

"Eu pulei corretamente, mas aí fui baleada nas costas no meio do ar." A garota que se chamava de Index parecia estar sorrindo. "Desculpa, parece que eu acabei caindo na sua varanda."

Ela deu um sorriso puro na direção de Kamijou Touma sem mesmo um sinal de autodepreciação ou sarcasmo.

"Você foi baleada...?"

"Sim? Ah, você não precisa se preocupar com um ferimento. Essa roupa também funciona como uma barreira defensiva."

O que ela queria dizer com "barreira defensiva"? Era à prova de balas?

A garota deu uma voltinha como estivesse mostrando suas roupas novas e ela certamente não parecia ferida. Kamijou teve de se perguntar se ela realmente havia sido baleada. A ideia de que ela estava delirando ou inventando essa história parecia ser mais realista.

Mas...

Havia o fato de que ela realmente estava pendurada em sua varanda no sétimo andar.

Se, hipoteticamente, tudo que ela disse era verdade...

Quem havia atirado nela?

Kamijou pensou.

Ele pensou sobre o quão determinada uma pessoa precisaria estar para pular pelos telhados de prédios de oito andares. Ele também considerou o quão sortuda ela era por ter caído na sua varanda no sétimo andar. E ele pensou sobre o significado oculto do fato de que ela havia desmaiado.

Ela disse que estava sendo perseguida.

Ele pensou sobre o significado do sorriso no rosto de Index quando ela disse isso.

Kamijou não sabia em que circunstâncias Index se encontrava e ele não havia entendido as poucas coisas que ela havia dito. Possivelmente, ele apenas entenderia metade das coisas se Index explicasse tudo do inicio ao fim e ele possivelmente não teria noção de como começar a entender a outra metade.

Mesmo assim, uma verdade permanecia.

Com um aperto em seu peito, ele entendeu o fato de que ela havia caído em sua varanda no sétimo andar quando um passo em falso poderia tê-la mandado diretamente ao asfalto.

"Comida."

A cabeça de Index surgiu por trás de Kamijou. Apesar de falar japonês, ela não devia estar acostumada a usar hashis, pois ela estava segurando eles como uma colher enquanto encarava excitadamente a frigideira.

Seus olhos eram como os de um gatinho que havia sido resgatado de uma caixa de papelão em um dia chuvoso.

"..................................................................Ah."

Kamijou colocou a comida que não era nada além de lixo na frigideira para fazer algo como vegetais salteados (venenosos).

Por alguma razão, o Kamijou Anjo dentro dele (que normalmente estava acompanhado do Kamijou Demônio) estava se contorcendo terrivelmente ao ver a garota faminta.

"Ahh! J-já sei! Se você realmente está faminta, que tal a gente ir pra um restaurante ao invés de comer essa refeição horrível feita por um cara com as sobras!? A gente pode até pedir por telefone!"

"Eu não posso esperar tanto."

"... Ah...kh!"

"E ela não é horrível. Você fez essa comida pra mim sem cobrar nada por ela. Ela tem que ser boa."

Pela primeira vez, ela deu um sorriso brilhante digno de uma freira.

O estômago de Kamijou sentiu como se ele estivesse sendo espremido como um esfregão. Index o ignorou, usando os hashis em seu punho para colher os conteúdos da panela para sua boca.

Nhac nhac.

"Viu? Tá bom."

"...Ah, tá?"

Nhoc nhoc.

"Foi legal você ter colocado um sabor azedinho pra me ajudar a recuperar as forças."

"Geh! Tá azedo!?"

Chomp chomp.

"É, mas tudo bem. Obrigada. Você é parece um irmão mais velho ou algo do tipo."

Ela apresentou um largo sorriso. Ela estava comendo com um coração tão puro que um caroço de feijão estava em sua bochecha.

"...Gh...Uuwhaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhh!"

Na velocidade do som, Kamijou agarrou a panela. Index parecia incrivelmente descontente, mas Kamijou jurou em seu coração que ele seria o único a ir para o inferno.

"Você também tá com fome?"

"...Hã?"

"Se não estiver, eu gostaria que você me deixasse comer o resto."

Quando Kamijou viu Index olhando para ele com olhos levemente irritados enquanto mastigava na ponta de seus palitos, Kamijou recebeu uma revelação divina.

Deus estava lhe dizendo para assumir a responsabilidade e comer tudo sozinho.

Isso não tinha nada haver com azar, isso foi algo que ele mesmo provocou.

Parte 3[edit]

Kamijou Touma encheu a boca com o lixo aquecido e sorriu.

"Mhh," murmurou a garota se chamando de Index com reclamação em seu rosto enquanto ela mordiscava um biscoito. A maneira que ela segurava o pequeno biscoito com ambas as mãos fez com que ela parecesse um pouco com um esquilo.

"Ok, você disse que estava sendo caçada. Caçada por quem?"

Tendo retornado do Nirvana, Kamijou mais uma vez perguntou sobre o maior problema na história da garota.

Ele não ia seguir uma garota que ele havia acabado de conhecer há menos de trinta minutos até as profundezas do inferno. Entretanto, era provável que já fosse tarde demais para nada acontecer com ele.

(Acabou que eu vou ter que fazer teatrinho,) Kamijou pensou, usando seu termo pessoal pra fingir ser legal.

Ele sabia que isso não ia levar a lugar algum, mas ele ainda queria se confortar dizendo que "pelo menos ele tentou".

"Ah..." ela começou com a garganta levemente seca. "Quem era...? Talvez tenha sido a Rosacruz ou a S∴M∴ conhecida também como Stella Matutina. Eu acho que era um grupo desses, mas eu ainda não sei qual. ...Eles não são do tipo que se anunciam por aí."

"Eles?" Kamijou perguntou fracamente.

Aparentemente, ela estava sendo caçada por um grupo ou uma organização.

"Sim," Index respondeu de uma maneira surpreendentemente calma. "Uma sociedade mágica."

..............................................................................

"Ahn? Mágica? Ah... Que!? Isso é loucura!!"

"Ah? M-meu japonês saiu errado? Eu quis dizer mágica. Uma Cabalá Mágica."[8]

"..." Ouvir em inglês não ajudou muito. "O que? Você tá falando de algum culto perigoso que diz que aqueles que não acreditam no líder do culto vai receber uma punição divina e aí eles te dão LSD pra fazer lavagem cerebral? Isso é ruim em mais de uma maneira."

"...Você tá tirando sarro da minha cara?"

"...Foi mal mas não dá, eu simplesmente não consigo aceitar que mágica seja real. Eu posso conhecer todos os tipos de poderes sobrenaturais como Pirocinese e Clarividência, mas eu não consigo aceitar a existência de magia."

"...?"

Index parecia confusa.

Ela possivelmente esperava que um crente na ciência iria negar qualquer coisa sobrenatural existisse nesse mundo.

Entretanto, a mão direita de Kamijou carregava um poder sobrenatural.

Ele se chamava Imagine Breaker e ele podia negar até mesmo os sistemas de deuses que eram vistos em mitos em um único golpe, contanto que fosse um poder que excedesse as regras naturais do mundo.

"Habilidades especiais são bem comuns aqui. O seu cérebro pode ser 'desenvolvido' com a injeção de drogas nas suas veias, com estímulos de eletrodos fixados no seu pescoço e ao ouvir ritmos tocados através de fones de ouvido. Tudo pode ser explicado com a ciência, então é natural aceitar isso, né?"

"...Eu não entendi."

"É normal! É completamente normal e é perfeitamente normal. Dizer três vezes é o suficiente!?"

"...Mas e mágica? Mágica é normal..."

Index murmurou como se alguém tivesse insultado seu gato de estimação.

"Hmm... Olha o janken, por exemplo... Pera, janken é conhecido no mundo todo?"

"...Eu acho que isso se chama pedra-papel-tesoura no lugar de onde eu venho, mas eu sei o que é isso."

"Ok, se você jogar janken dez vezes seguidas e perder todas as vezes, teria algum motivo por trás disso?"

"...Mh."

"Não teria, né? Mas é da natureza humana achar que tem," disse Kamijou de forma desinteressada. "Você iria pensar que não tem como você continuar perdendo desse jeito. Você assumiria que tem alguma regra por trás disso que você não consegue ver. E assim que você começa a pensar desse jeito, o que acontece quando você começa a adicionar coisas como horóscopos?"

"...Algo do tipo: 'se você é de Câncer, então você está com azar e não deveria tentar entrar em competições'?"

"Isso. Essa é a verdadeira identidade do oculto. Sorte é só a gente sonhando sobre essas regras invisíveis. Enquanto a realidade é algo patético como coincidência, nossos corações inventam algum tipo de inevitabilidade grandiosa. Assim é o oculto."

Por um momento, Index franziu o cenho como um gato incomodado, mas então ela disse, "Então você não negou magia sem pensar."

"Isso. E é por que eu pensei nisso seriamente que eu posso ver que essas historinhas pra boi dormir são pura balela. Eu não posso acreditar em magos de um livrinho infantil. Se a gente pudesse reviver os mortos com o custo de de um pouco de PM[9], ninguém estaria desenvolvendo esses poderes científicos. Eu simplesmente não consigo acreditar no oculto que não tem conexão com a realidade da ciência."

Ele sentiu que as pessoas apenas viam as habilidades como estranhas e misteriosas por que elas eram idiotas.

O fato de que aqueles poderes podiam ser explicados cientificamente era senso comum naquela cidade.

"...Mas mágica existe," Index disse fazendo beicinho.

Provavelmente, isso era como um pilar apoiando seu coração. Semelhante ao Imagine Breaker de Kamijou.

"Que seja, por que eles estão te caçando?"

"Mágica existe."

"..."

"Mágica existe!"

Ela parecia decidida em querer que ele aceitasse isso.

"E-então, o que é mágica? Você pode soltar fogo das suas mãos sem passar pelo Curriculum? Se for isso, eu gostaria de ver. Assim eu acreditaria em você."

"Eu não tenho poderes mágicos, então eu não posso usar magia."

"..."

Kamijou sentiu que ele tinha se deparado com um daqueles usuários de habilidade que diziam não poder dobrar uma colher com seus poderes por que a câmera presente estava sendo distrativa.

Ao mesmo tempo, um sentimento um tanto quanto complexo preencheu seu coração.

Ele estava insistindo que o oculto não existia e que mágica era algo ridículo, mas ele não sabia nada sobre o Imagine Breaker que morava em sua mão direita. Como ele funcionava e o que estava acontecendo que ele não podia ver? A Cidade Acadêmica era o ápice do desenvolvimento de habilidades do mundo, mas até mesmo o System Scan[10] não podia analisar seu poder, então ele havia sido marcado como um Level 0.

Ele era um poder que ele possuía desde o nascimento, não um que ele havia obtido através do Curriculum.

Ele estava insistindo que o oculto não existia e ainda assim, ele era parte do oculto que ignorava as regras.

Mas ainda assim, ele não ia aceitar a lógica ridícula de que mágica podia existir só por que havia coisas estranhas no mundo.

"...Mágica existe."

Kamijou suspirou.

"Ok. Vamos supor que mágica existe."

"Supor?"

"Se isso existe," Kamijou continuou a falar, ignorando a garota. "Por que eles estão atrás de você? Tem alguma coisa haver com o jeito que você está vestida?"

Kamijou estava se referindo ao hábito extravagante que Index estava vestindo, feito de seda branca e bordados de linhas douradas. Em outras palavras... "Isso tem haver com a igreja?"

"...É por que eu sou o Index.[11]"

"Hein?"

"Eles possivelmente estão atrás dos 103.000 grimórios que eu carrego."

..............................................................................

"...De novo, eu não entendi nada."

"Por que você parece perder toda motivação sempre que eu explico algo? Você é uma pessoa volúvel?"

"Hm, bora revisar. Eu não tenho certeza o que são esses grimórios que você mencionou, mas eu imagino que seja como um livro. Algo como um dicionário?"

"É. O Livro de Eibon, a Chave Menor, Cultos Indescritíveis, Cultos de Carniçais, e o Livro dos Mortos[12] são bons exemplos. O Necronomicon é tão famoso que tem vários tipos de imitações e falsificações, então ele não é muito confiável."[13].

"Eu não me importo muito com o conteúdo."

Ele queria adicionar, "por que, no fim das contas, é tudo baboseira inventada", mas ele se conteve.

Ao invés disso, ele perguntou, "E aí? Cadê esses 100.000 livros?"

Ele se recusou a recuar nesse ponto. Cento e três mil livros eram o suficiente para encher uma biblioteca inteira.

"Você quer dizer que tem a chave pra o lugar onde eles estão guardados?"

"Não." Index balançou a cabeça. "Eu tenho cada um dos 103.000 grimórios comigo."

"Hein?" Kamijou franziu o cenho. "Pessoas burras não conseguem ver eles ou algo do gênero?"

"Mesmo que você não fosse estúpido, você não poderia ver eles. Qual seria o ponto se você pudesse vê-los sempre que quisesse?"

As palavras de Index eram tão removidas da realidade que Kamijou sentiu que ele era o alvo de uma piada. Ele olhou ao redor, mas não podia ver nenhum livro velho e empoeirado que poderia ser um grimório. Tudo que ele viu espalhado no chão eram revistas de jogos, mangás e o dever de casa do verão que ele havia jogado num canto.

"Que...?"

Até agora ele havia se forçado a escutar aquela história, mas agora ele não conseguia aguentar ela.

Ele começou a se perguntar se ela estava meramente imaginando que estava sendo perseguida por alguém. Se ela havia saltado do telhado do oitavo andar, calculado errado e caído na sua varanda por causa de um delírio, ela não era alguém que ele queria envolvimento.

"Acreditar em habilidades mas não acreditar em mágica não faz sentido" Index disse fazendo beicinho. "Essas habilidades são tão boas assim? Não tá certo caçoar das pessoas só por que você tem algum tipo de poder especial."

...

"É..." Kamijou deu um pequeno suspiro. "É, você tem razão. É errado achar que você é melhor que os outros só por que você consegue fazer uns truquezinhos."

O olhar de Kamijou caiu para sua mão direita.

Fogo e raios não sairiam dali. Ela não iria criar nenhum raio de luz ou explosões, e nenhuma marca estranha iria aparecer em seu pulso.

Entretanto, sua mão direita ainda podia negar todos os tipos de poderes sobrenaturais. Não importava se o poder fosse bom ou mal ou até mesmo os sistemas de deuses vistos em mitos.

"Olha, pra as pessoas que vivem nessa cidade, o poder que eles têm é como uma parte de suas personalidades, então você provavelmente deveria ser um pouco compreensiva sobre isso. Na verdade, eu também sou um desses usuários de habilidades."

"É mesmo, idiota? Hmpf. Vocês poderiam simplesmente dobrar colheres com suas mãos ao invés de sair por aí bagunçando os cérebros das pessoas."

"..."

"Hmpf, hmpf. O que tem demais num cara que rejeitou seu lado natural pra se pintar artificialmente? Hmpf."

"...Você não se importaria se eu calasse a sua boca e esse seu orgulho ridículo, né?"

"E-eu não me rendo a terrorismo. Hmpf," Index disse como se fosse um gato incomodado. "D-de qualquer forma, você disse que é um usuário de habilidade, mas o que você faz?"

"Erh... Bem, quando você coloca desse jeito..."

Kamijou não tinha certeza do que dizer.

Ele não tinha que explicar seu Imagine Breaker para as pessoas com frequência. Aliás, já que ele só reagia a poderes sobrenaturais, ele não podia ser explicado sem o conhecimento do sobrenatural ou de habilidades.

"É essa minha mão direita, saca? Ah, e no meu caso não foi através de drogas; Eu tenho isso desde o meu nascimento."

"Entendi."

"Se eu tocar nele com a minha mão direita, qualquer tipo de poder sobrenatural vai ser negado. Isso vale pra bolas de fogo no nível de bombas atômicas, canhões eletromagnéticos táticos ou até mesmo os sistemas de Deus."

"Ah?"

"Por que você tá com uma cara de quem viu uma pedra milagrosa que trás boa sorte em uma revista?"

"Mas você nem mesmo sabe o nome de Deus e ainda assim acabou de dizer que poderia negar Seus milagres." Em surpresa, Index cutucou o ouvido com o dedo mindinho e deu uma risada de escárnio.

"...Kh. I-isso é irritante. Eu odeio quando uma garota mágica falsa que diz que mágica existe mas não consegue provar fica rindo de mim."

Esse murmúrio da alma de Kamijou Touma pareceu ter incomodado Index.

"E-eu não sou falsa! Mágica realmente existe!"

"Então me mostra alguma coisa, garota fantasiada! Você não vai acreditar no meu Imagine Breaker até eu destruir sua magia com a minha mão direita de qualquer jeito. Cai dentro, sua lunática!"

"Tá, aí vou eu!" Index jogou as mãos pra cima de maneira agitada. "Aqui! Essas roupas! Elas são a barreira defensiva de maior qualidade conhecida como Igreja Ambulante!"

Index abriu os braços para mostrar o hábito de freira branco como uma xícara de porcelana.

"Igreja Ambulante? Que? Você não tá fazendo sentido algum! Não é muito legal da sua parte ficar usando esses termos técnicos incompreensíveis como Index e barreira defensiva, sabia? Explicar as coisas significa contar as coisas a alguém que não entende elas de um jeito simples o suficiente para as pessoas entenderem. Você não entende isso!?"

"Qu-? Como você ousa dizer isso quando você nem tá tentando entender!?" Index balançou seus braços com raiva. "Tá, só acredita vendo, né? Pega uma faca lá na cozinha e me apunhala na barriga!!"

"Te apunhalar!? Isso vai acabar nos jornais com a chamada 'isso tudo começou com uma discussão trivial' ou algo do tipo?"

"Ah, você não acredita em mim." Os ombros de Index subiram e desceram enquanto ela respirava pesadamente. "Essa roupa tem o mínimo de componentes necessários para formar uma igreja, para que sejam uma igreja em forma de roupas. A forma como o pano é tecido, a forma como os fios são são costurados, a forma como os bordados a enfeitam... É tudo calculado. Uma faca não vai nem arranhá-la."

"É, tá bom. Que tipo de idiota iria concordar em te esfaquear? Ele teria que ser um tipo sem precedentes de criminoso juvenil."

"Você vai parar de zombar de mim? Isso é uma cópia exata do Sudário de Turim, o pano que cobriu o santo que foi perfurado pela Lança de Longinus,[14] então sua força é da classe papal. Eu acho que você diria que isso é como um abrigo nuclear. Ele desvia ou absorve qualquer ataque, seja ele físico ou mágico. Eu te disse que eu caí na sua varanda depois de ser baleada, não foi? Eu teria um buraco gigante em mim se não fosse pela Igreja Ambulante. Você entende agora?"

(Cala a boca, idiota.)

O medidor de apreciação de Kamijou em relação a Index caiu rapidamente e ele encarou suas roupas brancas com desprezo.

"...Hmm. Então se isso realmente é um poder sobrenatural, então ela seria despedaçada se eu a tocasse com minha mão direita?"

"Sim, mas só se o seu poder for real. Heh heh heh."

"Perfeito!!" gritou Kamijou enquanto ele agarrava o ombro de Index.

Como se ele tivesse agarrado uma nuvem, ele sentiu um sensação estranha como se o impacto estivesse sendo absorvido por uma esponja macia.

"Espera... Hein?"

Kamijou esfriou a cabeça e pensou.

E se tudo que Index estivesse dizendo fosse verdade (mesmo que isso fosse improvável) e essa Igreja Ambulante fosse costurada com poderes sobrenaturais?

Negar o poder sobrenatural iria desfazer a roupa?

"Hãããããããããããhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!?"

Kamijou gritou instintivamente por causa da premonição repentina que ele teve sobre ele estar prestes a subir alguns degraus na escadaria para a vida adulta. Mas...

...

...

...?

"Ahhhhhhh? ...Huh?"

Nada aconteceu. Nada mesmo.

(Ah, qual é? Não faz eu me preocupar desse jeito.)

Kamijou simplesmente não podia aguentar.

"Viu? O que foi aquilo tudo sobre o seu Imagine Breaker mesmo? Nada aconteceu. Heh heh."

Index colocou as mãos nos quadris e estufou seu peito pequeno com orgulho.

Mas no instante seguinte, suas roupas se despedaçaram como os laços de um presente.

Index v01 051.jpg

Todos os fios que costuravam seu hábito de freira se desfizeram de maneira fluida, transformando tudo em meros pedaços de pano.

O capuz devia ser um item isolado por que ele permaneceu intacto. Ter apenas a cabeça coberta parecia ter tornado tudo mais doloroso.

A garota congelou, ainda com as mãos nos quadris e seu pequeno peito estufado com orgulho.

Resumindo, ela estava completamente nua.

Parte 4[edit]

Aparentemente, a garota se chamando de Index tinha o costume de morder as pessoas quando ela estava irritada.

"Ai... Eu tô todo mordido. Você é algum tipo de mosquito?"

"..."

Ele não teve resposta.

Index estava nua e enrolada em um lençol. Ela estava estava sentada com as pernas dobradas para os lados enquanto (inutilmente) tentava consertar sua roupa arruinada, prendendo pinos de segurança nos pedaços do hábito de freira.

O efeito sonoro "dooon" parecia preencher o lugar.

E não era porque de um usuário de Stand[15] havia atacado.

"...Hm, princesa? Talvez seja pretensioso da minha parte, mas eu tenho uma camisa e calças que você pode vestir."

"..."

Ela o encarou com violência em seus olhos.

"...Hm, princesa?"

(Que tipo de personagem ela tá interpretando?)

"...Que foi?" ela respondeu quando ele a chamou de novo.

"A culpa é toda minha."

A única resposta que ele recebeu foi o seu relógio sendo arremessado em sua direção.

"Ih!" Kamijou gritou enquanto seu travesseiro também voava em sua direção.

Pra tornar as coisas ainda mais ridículas, seu videogame e um pequeno rádio também foram arremessados.

"Como você pode falar normalmente comigo depois de ter feito algo como aquilo!?"

"Ahh, não! Foi um evento chocante pra mim também. Mas assim é a juventude!"

"Você tá zombando de mim... Uuuuuuuuhhhhhh!!"

"Ok... Desculpa, desculpa! Não morde esse DVD alugado como se ele fosse feito de pano, sua idiota!"

Kamijou Touma se ajoelhou no chão, colocou suas mãos em sua frente e curvou-se, encostando a testa nas costas das mãos, como se isso fosse um tipo de piada.

Lá no fundo, Kamijou sentiu como se seu coração estivesse sendo esmagado pelas mãos de alguém por ter visto uma garota sem roupas pela primeira vez.

Entretanto, Kamijou Touma não era o tipo de pessoa que mostrava suas emoções em seu rosto.

...Ou pelo menos foi o que ele pensou, mas ele ficaria bem surpreso com o que ele veria se olhasse num espelho.

"Terminei."

Soprando pelo nariz de forma triunfante, Index mostrou o branco hábito de freira que, de alguma forma, havia retomado sua forma original depois daquele infernal trabalho no estilo "faça você mesmo".

Dezenas de pinos de segurança brilharam ao longo do hábito.

"...............................................................(suor)"

"Hm... Você vai vestir isso?"

"...............................................................(silêncio)"

"Você vai vestir essa dama de ferro?"[16]

"...............................................................(lágrimas)"

"Em japonês, a gente chama isso de virgem de ferro."[17]

"...Uuuuuuhhhhhh!!"

"Tá bom, tá bom!" Kamijou pediu desculpas dando uma cabeçada no chão com toda a sua força.

Enquanto isso, Index o encarava como uma criança intimidada e estava prestes a mastigar o cabo de força da televisão. Ela era algum tipo de gato malcriado?

"Eu vou vestir isso! Eu sou uma freira!!"

Kamijou não tinha certeza se isso fazia algum sentido, mas Index começou a se trocar por baixo do cobertor enrolado, a fazendo parecer uma lagarta num casulo. Sua cabeça era a única coisa visível para Kamijou, e o rosto da garota estava tão vermelho quanto uma bomba.

"Ahh, isso me lembra de quando a gente tem que se trocar pra as aulas na piscina da escola."

"...Por que você tá olhando pra mim? Pelo menos olha pro outro lado."

"E faz diferença? Comparado com o que aconteceu antes, ver você se trocando não é tão excitante assim."

".................................................................."

Index parou de se mover repentinamente, mas quando Kamijou não pareceu notar, ela desistiu e continuou a se trocar dentro do cobertor. Ela estava tão focada no que estava acontecendo lá dentro que ela não notou que seu capuz caiu de sua cabeça.

A atmosfera constrangedora de um elevador silencioso tomou o quarto.

A mente de Kamijou começou a fugir da realidade, mas então o termo "aulas de reforço" flutuou em sua mente.

"Ah! É mesmo! Eu tenho aulas de reforço!" Kamijou olhou as horas em seu celular. "Hm... Eu tenho que ir pra a escola, então o que você vai fazer? Se você vai ficar por aqui, eu posso te dar uma chave."

A opção de simplesmente expulsar ela do seu apartamento havia desaparecido de sua mente.

Já que a Igreja Ambulante do hábito de freira da Index havia reagido ao Imagine Breaker, ela claramente tinha alguma conexão com o sobrenatural. Isso significava que nem tudo que ela havia dito para ele era mentira.

Era possível que ela realmente tivesse caído do telhado porque estava sendo perseguida por magos.

Era possível que ela realmente continuaria participando de um jogo mortal de pega-pega.

Era possível que feiticeiros de um livro infantil, ou algo insano desse jeito, realmente estavam correndo soltos pela cidade da ciência onde teorias sobre usuários de habilidade existiam.

E mesmo que essas coisas não fossem verdade, ele não queria simplesmente abandonar Index.

"...Tá certo. Eu vou embora."

Entretanto, Index levantou-se e fez um anúncio dramático. Ela então passou pelo lado de Kamijou como um fantasma. Ela não pareceu ter notado que seu capuz havia caído. Mas se Kamijou tentasse pegá-lo, ele provavelmente seria rasgado em pedaços.

"E-ei..."

"Hm? Não, não é que eu não queria ficar." Index se virou. "Se eu ficar, eles possivelmente virão atrás de mim. Você não quer que esse quarto exploda, quer?"

Aquela resposta entregue de forma suave deixou Kamijou sem fala.

Enquanto Index saia pela porta da frente lentamente, Kamijou correu desajeitadamente atrás dela. Ele queria fazer algo, então ele olhou em sua carteira e descobriu que ele apenas tinha 320 ienes[18] sobrando. Ele correu atrás de Index para dar o pouco que ele tinha, mas seu dedo mindinho do pé bateu na quina da porta na velocidade do som enquanto ele tentava sair do apartamento.

"Bh...yah! Gyaahhh!!"

Enquanto Kamijou segurava seu pé e gritava de maneira esquisita, Index se virou em choque. Enquanto Kamijou se contorcia de dor, seu celular caiu de seu bolso. No exato momento em que ele percebeu isso, a tela de LCD do aparelho atingiu o chão e ele ouviu o crack de um golpe fatal.

"Uuuuhhhh! Q-que azar."

"Eu diria que isso foi falta de cuidado, não azar," Index disse com um leve sorriso. "Mas se esse Imagine Breaker é real, isso pode acabar sendo inevitável."

"...Como assim?"

"Isso é relacionado ao mundo da magia, então eu duvido que você acredite em mim," Index disse com uma risadinha. "Mas se a proteção divina de Deus e o fio vermelho do destino[19] realmente existem, sua mão direita não negaria todas essas coisas também?" Index sacudiu seu hábito de freira coberto de pinos de segurança e adicionou, "Afinal, o poder dessa Igreja Ambulante era uma benção de Deus."

"Espera. O que a gente chama de sorte e azar são apenas uma questão de probabilidade e estatísticas. Isso que você tá falando é completamente—!"

No segundo em que ele disse isso, o dedo de Kamijou tocou a maçaneta da porta e ele tomou um choque de estática elétrica.

"Que—!?" ele gritou enquanto seu corpo contraiu-se por reflexo.

O jeito incomum em que seus músculos se moveram resultaram em uma cãibra em sua panturrilha direita.

"~ ~!!"

A agonia o deixou incapacitado por aproximadamente seiscentos segundos.

".................................Hm, irmã?"

"Sim?"

".................................Explica, por favor."

"Não tem muito pra ser explicado," disse Index como se isso fosse óbvio. "Se o que você diz sobre sua mão direita é verdade, então simplesmente ter ela é o suficiente para negar continuamente o poder da sorte."

".................................Isso quer dizer o que eu acho que isso quer dizer?"

"Simplesmente por estar presa ao seu corpo, sua mão direita está te causando azar todos os dias♪"

"Gyaaaaaaaaahhhhhhhhh!! M-mas que azaaaaaaaaaaaaaaaar!!"

Kamijou não acreditava no oculto, mas as coisas eram diferentes quando se tratava do seu azar. Independente do seu esforço, tudo que Kamijou tentava fazer dava errado, ao ponto dele sentir que o próprio universo estava jogando contra ele.

Enquanto isso, uma freira de branco olhava para ele com o sorriso da Virgem Maria.

Em seus olhos estava o que as pessoas chamavam de "olhar convidativo".

"O azar de verdade não seria ter nascido com esse poder?♪"

A freira sorridente trouxe lágrimas aos olhos de Kamijou e ele finalmente percebeu que a conversa havia se desviado do tema principal.

"E-ei, deixa isso pra lá! Você tem algum lugar pra ir depois daqui? Eu não sei qual é a sua situação, mas você pode se esconder aqui se esses magos ou o que quer que eles sejam estiverem por perto."

"Se eu ficar aqui, os inimigos virão."

"Como você pode ter certeza? Se você ficar no meu quarto e não chamar atenção, eles não devem te achar."

"Não é verdade." Index puxou a roupa em seu peito. "Essa Igreja Ambulante funciona usando poder mágico. Parece que a igreja chama isso de 'poder divino', mas é a mesma coisa. Resumindo, o inimigo parece estar procurando pelo poder mágico da Igreja Ambulante."

"Então por que você tá usando isso se essa roupa é um tipo de rastreador?"

"Eu te disse que o poder defensivo dela é da classe papal, lembra? ...Mas a sua mão direita rasgou ela toda."

"..."

"Mas você rasgou ela inteirinha."

"Eu pedi desculpas, então não me olha com essa cara de choro! ...Mas o Imagine Breaker destruiu essa Igreja Ambulante, né? Essa função de rastreador não deveria ter sido destruída junto?"

"Mesmo que tenha sido, eles vão saber que a Igreja Ambulante foi destruída. Como eu disse antes, seu poder defensivo é da classe papal. Resumindo, é tipo uma fortaleza. Se eu fosse o inimigo, eu apareceria quando essa fortaleza fosse destruída, seja lá qual for a razão."

"Espera um segundo. Isso aí é mais um motivo pra eu não te deixar ir. Eu ainda não acredito no oculto, mas se alguém está atrás de você, eu não posso permitir que você vá."

Index olhou para ele fixamente.

Daquele jeito, ela verdadeiramente parecia uma garota completamente normal.

"...Então você me seguiria até as profundezas do inferno?"

Ela sorriu.

Era um sorriso tão triste que Kamijou ficou sem palavras por um instante.

Index havia usado palavras gentis para implicitamente dizer: "Não venha atrás de mim."

"Não se preocupe. Eu não estou só. Se eu puder chegar até a igreja, eles vão me acolher."

"...Hmm. E onde é que tá essa igreja?"

"Em Londres."

"Isso é longe demais! Como é que você vai chegar até lá!?"

"Hm? Ah, não se preocupe. Eu acho que tem algumas filiais no Japão," Index respondeu enquanto seu hábito de freira que parecia o resultado do trabalho de uma esposa injustiçada balançou com o vento.

"Uma igreja, hm? Deve ter uma aqui na cidade."

Para Kamijou, o termo "igreja" invocava o imaginário de um grande salão para casamentos, mas os exemplos no Japão eram um tanto patéticos. Pra começo de conversa, a cultura tinha pouco haver com o Cristianismo e um país com terremotos frequentes tinha poucos prédios históricos. As igrejas que Kamijou tinha visto pelas janelas de trens eram pequenas construções pré-fabricadas com uma cruz no telhado. Ele tinha a sensação de que ele estava errado em pensar que aquelas eram igrejas propriamente ditas.

"Ah, mas não pode ser qualquer igreja. Tem que ser uma na vertente britânica que eu faço parte."

"???"

"Hm, tem vários tipos diferentes de Cristianismo," Index disse com um sorriso amargo. "Primeiro, tem a distinção entre os estilos antigos no Catolicismo e os estilos novos no Protestantismo. E aí, enquanto eu pertenço a um estilo Católico, tem vários tipos deles também. Por exemplo, tem a Igreja Católica Romana[20] centralizada no Vaticano, a Igreja Ortodoxa Russa[21] sediada na Rússia, e a Igreja Anglicana com o núcleo na Catedral de São Jorge em Londres.

"...E o que acontece se você acidentalmente ir pra a igreja errada?"

"Eles me rejeitariam," Index disse com o mesmo sorriso amargo. "A Igreja Ortodoxa Russa e a Igreja Anglicana existem primariamente dentro de seus respectivos países, então igrejas Anglicanas são raras no Japão."

"..."

As coisas não pareciam estar indo numa boa direção.

Era possível que Index havia tentado ir de igreja em igreja antes de cair de fome? Como ela havia se sentido enquanto fugia e fugia enquanto era rejeitada em cada igreja em que ela buscava abrigo?

"Não se preocupe, eu só tenho que continuar correndo até encontrar uma igreja na vertente britânica."

"..."

Por um instante, Kamijou pensou no poder em sua mão direita.

"Ei! ...Se você tiver qualquer problema, você pode voltar pra cá."

Era tudo que ele podia dizer.

Ele tinha o poder de matar até mesmo Deus, e ainda assim isso era tudo que ele podia dizer.

"Tá. Eu volto se eu senti fome."

Seu sorriso brilhante era tão perfeito que Kamijou não pode dizer nada em resposta.

E então, um robô de limpeza passou por eles, tendo que sair de sua rota para não bater em Index.

"Hyah!?"

Aquele sorriso perfeito foi desfeito em um instante. Index pulou como se ela tivesse uma cãibra em sua perna e tropeçou para trás. Com o som de uma pancada terrível, sua cabeça bateu na parede atrás dela.

"~ ~ ~ ~! E-esse treco esquisito apareceu do nada!"

Os olhos de Index estavam marejados, mas ela esqueceu completamente de colocar as mãos no machucado, preocupando-se apenas com a coisa em sua frente.

"Não fica apontando e chamando isso de esquisito. É só um robô de limpeza."

Kamijou deu um suspiro.

Seu tamanho e formato eram semelhantes ao de um tambor de óleo. Ele tinha três pequenos pneus no fundo e um esfregão circular que girava ao seu redor similar àqueles limpadores de estrada. Ele tinha câmeras para poder evitar as pessoas e outros obstáculos, então eles eram um tanto odiados pelas garotas vestindo mini-saias.

"...Entendi. Eu tinha ouvido falar que o Japão era o líder em desenvolvimento tecnológico, mas eu não sabia que vocês tinham feito Agathions mecanizados."[22]

"Oi?" Kamijou estava um pouco assustado com o quão impressionada Index parecia. "Essa é a Cidade Acadêmica. Você pode encontrar essas coisas em todos os lugares da cidade."

"Cidade Acadêmica?"

"Sim. É uma cidade que foi feita depois de comprarem toda a área ocidental de Tóquio onde o desenvolvimento tinha desacelerado. O nome vem do fato de que tem dezenas de universidades e centenas de escolas nela." Kamijou suspirou. "Oitenta por cento dos moradores são estudantes, então todos os prédios de apartamentos que você encontrar são dormitórios estudantis."

Ele omitiu o fato de que a cidade tinha uma face oculta onde habilidades e corpos sobrenaturais eram desenvolvidos juntamente aos estudos.

"É por isso que a cidade é um pouco estranha. A cidade tá cheia de experimentos de universidades como o descarte automatizado de resíduos de cozinha, as turbinas eólicas que funcionam bem o suficiente para serem práticas e os robôs de limpeza como esse aqui. Graças a tudo isso, o nosso nível de cultura tá cerca de vinte anos à frente de qualquer outro lugar do mundo."

"Hm." Index cuidadosamente examinou o robô de limpeza. "Então todos os prédios aqui são parte da Cidade Acadêmica?"

"É, eu acho que seria melhor você sair dessa cidade se você estiver procurando por uma igreja Anglicana. Todas as igrejas daqui provavelmente são instituições de ensino para Teologia ou Psicologia Jungiana."

"Hm."

Index acenou e finalmente levou uma mão à nuca, onde ela havia batido na parede.

"Hyah!? Q-que? Meu capuz sumiu!?"

"Ah, você só percebeu agora? Ele caiu mais cedo."

"Hyah?"

Com "mais cedo", Kamijou queria dizer "quando você estava se trocando", mas Index pareceu ter interpretado isso como "quando você tropeçou por causa do susto com o robô de limpeza". Ela começou a procurar no chão ao seu redor e um sinal de interrogação surgiu em cima de sua cabeça.

"Ah, já sei! Aquele Agathion elétrico!"

Ainda confundindo as coisas, ela correu atrás do robô de limpeza e desapareceu na curva do corredor.

"...Ah, o que é que tá acontecendo?"

Kamijou olhou para a porta do seu quarto onde o capuz de Index estava e então para o corredor. Index havia sumido de vista. Não havia ocorrido nenhuma despedida, seja ela triste ou de outro tipo.

(Desse jeito, eu sinto que ela vai sobreviver mesmo que o mundo seja destruído.)

Ele não tinha nenhuma prova disso, mas, de qualquer forma, esse foi o pensamento que lhe ocorreu.

Parte 5 (Aguardando Revisão)[edit]

"Certo, eu fiz um folheto para vocês. Vocês devem segui-lo nas aulas suplementares."

Mesmo após ter passado muito tempo naquela classe, Kamijou ainda não acreditava.

A professora da Classe 7 do primeiro ano, Tsukuyomi Komoe, era uma professora ridícula que era tão baixinha que apenas a cabeça dela podia ser vista quando ela ficava atrás de sua mesa.

Aquela garotinha era um dos sete mistérios da escola: com 1,35m de altura, havia uma lenda dizendo que não foi permitida a entrada dela em uma montanha-russa por segurança.

"Eu não vou pedir para vocês pararem de conversar, mas eu preciso que vocês escutem o que eu digo. Eu me esforcei bastante fazendo um questionário, se vocês não se saírem bem, serão punidos com a lição de Adivinhação."

"Sensei, você não joga poker vendado nessa lição?! Isso é parte do Curriculum para Clarividência! Eu ouvi falar que você não pode ir embora até vencer 10 vezes seguidas, apesar de não conseguir ver suas próprias cartas. Nós não ficaríamos aqui até amanhã de manhã jogando?!" protestou Kamijou.

"Ah, mas Kamijou-chan, você não tem créditos de desenvolvimento o suficiente. Fará a lição de Adivinhação de qualquer jeito."

"Uh," Kamijou perdeu as palavras quando encarou o sorriso de vendedor da professora.

"...Hm. Entendo. A Komoe-chan acha você tão fofo que ela não consegue se conter, Kami-yan." disse o representante de classe Aogami Pierce, que estava sentado ao lado de Kamijou.

"...Você não sente a malícia vindo das costas daquela professora enquanto ela alegremente se estica toda para conseguir escrever na lousa?"

"O quê? Qual o problema em ser repreendido por uma professora tão fofa por falhar em um questionário? Ser fisicamente abusado por uma criancinha como essa te garante altos pontos de experiência, Kami-yan."

"Eu sabia que você era um lolicon, mas você é um masoquista também?! Você não tem salvação!!"

"Haha! Não é que eu goste de lolis! É que eu 'também' gosto de lolis!"

Kamijou quase gritou "Você é onívoro?!", mas foi interrompido.

"Vocês dois aí! Se disserem mais uma palavra, irão participar do Ovo de Colombo."

O Ovo de Colombo se tratava em manter um ovo de pé em uma mesa sem nenhum apoio. Os espers especializados em psicocinese conseguiam realizar a tarefa após se concentrarem ao ponto de suas veias do cérebro quase explodirem. Era um desafio extremamente difícil pois o ovo iria quebrar se a psicocinese fosse forte demais. Se você não pudesse completá-lo, iria ficar preso na escola até o sol nascer.

Kamijou e Aogami Pierce olharam para Tsukuromi Komoe sem respirar.

"Tudo bem?"

O sorriso dela era assustador.

Embora Komoe-sensei amasse ser chamada de "fofa", ela ficaria incrivelmente irritada se fosse chamada de "pequena".

Entretanto, ela não se importava em ser desprezada pelos outros estudantes. Isso era algo quase inevitável na Academy City. A cidade era uma verdadeira Terra do Nunca onde mais de 80% da população eram estudantes. A oposição aos professores era dura. E mais importante, a "força" de um estudante era baseada em suas habilidades acadêmicas e seu poder.

Os professores eram aqueles que "desenvolviam" os estudantes, mas os professores em si não possuíam poderes. Alguns, como os professores de Educação Física e orientadores pareciam ser de exércitos estrangeiros, pois conseguiam treinar monstros de Level 3 com seus próprios punhos. Mas seria cruel esperar isso de uma professora de Química igual a Komoe.

"...Ei, Kami-yan."

"O que foi?"

"Você ficaria excitado se fosse repreendido pela Komoe-sensei?"

"Eu não sou você! E cala essa boca, idiota! Se nós formos obrigados a fazer aquela parada do ovo sendo que nós não temos psicocinese, vamos ficar as férias de verão inteiras aqui! Então cala essa boca cheia de dialeto de Kansai falso!"

"Falso... N-N-Não é falso! Eu sou realmente de Osaka!"

"Fica quieto. Eu sei que você vem de uma região cultivadora de arroz. Eu estou de mau humor, não me irrite."

"E-Eu não sou não! A-Ahhh! Eu amo takoyaki."

"Pare de tentar fingir! Não me diga que você irá começar a trazer takoyaki para o lanche só por causa disso?"

"Do que você está falando? Nem todas as pessoas de Osaka comem apenas takoyaki, certo?"

"..."

"Certo? Acho que sim... não, espera... é, eu acho. O que foi, Kami-yan?"

"Sua máscara está caindo, sr. Kansai Falso." disse Kamijou antes de suspirar e olhar para fora da janela.

Ele sentiu que deveria estar ao lado de Index ao invés de estar nessa aula suplementar sem sentido algum.

A Walking Church que ela vestia reagiu à mão direita de Kamijou. Mas isso não significava que ele tinha que acreditar. Provavelmente a maioria das coisas que Index disse eram mentiras. E mesmo se não fossem, ela deve ter confundido algum fenômeno natural com o oculto.

Mesmo assim...

Eu acho que o peixe que foge sempre parece ser grande, ele ponderou.

Kamijou suspirou novemente. Se a alternativa era ficar preso em uma sala de aula sem ar-condicionado, entrar em um mundo de mágica, fantasia e espadas era melhor. E de brinde ainda haveria uma heroína bonitinha.

"..."

Kamijou lembrou do capuz que Index havia esquecido em seu quarto.

Ele não conseguiu devolvê-lo para ela. Mas ele não achava que era incapaz de devolvê-lo. Mesmo se Index tivesse desaparecido, ele provavelmente iria encontrá-la se ele seriamente procurasse por ela. E mesmo se ele não fizesse isso, ele ainda poderia sair pela cidade procurando por ela com o capuz na mão esquerda.

Quando ele pensou sobre isso, percebeu que ele queria algum tipo de conexão. Ele havia sentido que ela iria voltar para pegá-lo um dia.

Pois aquela garota branca havia mostrado a ele um sorriso tão perfeito...

Ele sentiu que ela iria desaparecer como uma ilusão se ele não deixasse alguma conexão com ela.

Ele estava com medo.

...Ah, então é isso, ele concluiu.

Após pensar bastante poeticamente, Kamijou finalmente percebeu algo. Ele não odiava a garota que caiu na sua varanda. Ele gostava dela o suficiente para que a ideia de nunca mais a vê-la o deixasse com uma pontada de arrependimento.

"...Ah, droga."

Ele estalou sua língua. Ele não queria deixá-la partir.

Pensando bem, o que eram esses 103,000 grimórios que ela mencionou?

Index havia dito que o grupo, uma associação mágica (algo como uma corporação), estava atrás dela porque queria esses 103,000 grimórios. E aparentemente, Index fugiu com esses 103,000 grimórios em sua posse.

Não era uma chave ou um mapa para onde estes livros estão armazenados.

Quando Kamijou perguntou onde estes livros estavam, ela simplesmente disse, "Bem aqui." Mas Kamijou percebeu que não havia nenhum livro com ela. Mesmo se houvesse, o quarto de Kamijou não era grande o suficiente para conter 100,000 livros.

"...O que está acontecendo?"

Kamijou inclinou a cabeça para o lado, confuso. A Walking Church de Index reagiu ao Imagine Breaker, portanto suas palavras não eram um completo delírio. Mas...

"Sensei? Kamijou-kun está olhando as saias esvoaçantes das garotas do time de tênis pela janela!"

O dialeto de Kansai forçado de Aogami Pierce revirou o foco de Kamijou para a sala de aula.

"..."

Komoe-sensei ficou em silêncio.

Ela deve estar em choque por "aquele" Kamijou Touma-kun não estar prestando atenção na lição. Ela parecia uma garota de 12 anos de idade que descobriu a verdade sobre o Papai Noel.

Logo que esse pensamento chegou a sua mente, Kamijou Touma foi o alvo de olhares hostis de seus colegas de classe que desejavam proteger os direitos humanos daquela criança.


Embora sejam aulas suplementares, eles ficaram presos lá até o horário em que todos os estudantes deveriam sair da escola.

"...Que azar." Kamijou resmungou olhando as turbinas eólicas que brilhavam ao pôr do sol.

Qualquer tipo de vida noturna era proibida, então o último ônibus e trem na Academy City partiam logo após os estudantes saírem das escolas.

Kamijou perdeu o último ônibus. Ele estava caminhando no distrito comercial que não parecia terminar nunca. Um robô de segurança passou por ele enquanto isso. Também era uma lata grande com rodas e funcionava como uma câmera de segurança ambulante. Eles originalmente eram versões melhoradas de cães robóticos, mas crianças iriam começar a persegui-los se continuassem naquela forma. Por essa simples razão, os robôs da cidade tinham o formato de tambor.

"Ah, aí você está, seu imbecil! Espera... espera! Você! Eu estou falando com você! Pare!!"

Kamijou estava olhando para o robô de segurança. Ele estava se lembrando de como Index correu atrás do robô de limpeza, e finalmente percebeu que uma voz estava chamando por ele.

Ele se virou para ver o que estava acontecendo.

Index v01 071.jpg

Ela era uma garota que estava na escola secundária, com cabelos castanhos à altura dos ombros que brilhavam como uma chama vermelha ao pôr do sol, mas sua face estava ainda mais vermelha. Ela vestia uma saia cinza plissada, uma blusa de manga curta e um suéter de verão. De repente, ele percebeu quem ela era.

"Ah, é você de novo, Biri Biri."

"Não me chame de Biri Biri! Eu tenho um nome! É Misaka Mikoto! Por que você não aprende ele?! Você me chama de Biri Biri desde que nós nos vimos pela primeira vez!"

Desde que nós nos vimos pela primeira vez...? Kamijou tentou relembrar. Ah, sim!

Quando eles se encontraram pela primeira vez, ela estava cercada por delinquentes como no outro dia. Ele tinha pensado que eles estavam atrás da carteira dela e firmemente bancou o Urashima Tarou.

Mas, por algum motivo, a garota foi quem ficou irritada, dizendo, "Cala a boca! Não se intrometa na luta dos outros! Biri Biri!" Kamijou bloqueou as faíscas dela com sua mão direita e ela respondeu com, "Hã? Por que não funcionou? E que tal isso? Hã?" Uma coisa levou a outra, e assim a relação atual deles se concretizou.

"...Hã? O quê? Eu não estou triste, então por que estou chorando, mãe?"

"Por que você está com um olhar tão distante?"

Kamijou estava exausto das aulas suplementares e decidiu não pensar muito em como lidar com a Biri Biri.

"A garota perplexa olhando para Kamijou é a garota Railgun de ontem. Ela está tão frustrada por perder uma luta que voltou até Kamijou para pedir revanche."

"Para quem você está explicando isso?"

"Ela tem muita determinação e odeia perder, mas na verdade é uma pessoa solitária e está encarregada de cuidar do animal de estimação da classe."

"Não adicione coisas estranhas ao cenário!!"

A garota, Misaka Mikoto, agitou seus braços e toda a atenção foi chamada para ela. Não era tão surpreendente, o uniforme de verão que ela vestia era o uniforme da Escola Secundária Towiwadai, uma das 5 escolas mais prestigiadas na Academy City. Por algum motivo, as garotas explosivas e refinadas da Tokiwadai pareciam se destacar mesmo em uma estação de trem na hora do rush.

"O que você quer, Biri Biri? E por que você está usando seu uniforme durante as férias de verão? Você precisa de aulas suplementares?"

"Ah... Cala a boca."

"Você ficou preocupada com o coelho de estimação da classe?"

"Eu já te disse para parar com isso! Hoje eu vou fazer você se contorcer como pernas de sapo com eletrodos ligados! Prepare-se!"

"Eu acho que não."

"Por que não?!"

"Porque eu não sou responsável pelo animal de estimação da minha classe."

"Você... Chega de zombar de mim!"

A garota pisou forte no chão.

Nesse exato momento, um ruído violento veio dos celulares das pessoas passando por ali. A transmissão a cabo do distrito comercial foi cortada e um barulho horrível saiu do robô de segurança.

O som crepitante de eletricidade estática saiu do cabelo da garota. Aquela Level 5, que disparava Railguns com seu poder, sorriu como uma besta.

"Hmph. Que tal isso? Será que mudou essa sua mente covarde? ...Mgh!"

Para tentar cobrir sua boca, a mão de Kamijou Touma cobriu totalmente o rosto dela. "C-Cala a boca." ele sussurou. "Por favor, fica quieta! Os celulares de todas as pessoas aqui foram fritos e elas não parecem felizes! Se descobrirem que a gente fez isso, eles irão nos fazer pagar, e eu não tenho ideia de quanto isso vai custar!"

Devido ao seu encontro recente com a freira de cabelo prateado, Kamijou rezou com todas suas forças para o Deus cujo Kamijou só pensava sobre no Natal.

Suas preces devem ter sido ouvidas, pois ninguém se aproximou de Kamijou e Mikoto.

Graças a Deus, ele disse, diminuindo sua apreensão.

Kamijou soltou um suspiro de alívio... enquanto continuava a sufocar Mikoto.

"Mensagem. Erro Nº 100231-YF. Ondas eletromagnéticas ofensivas detectadas. Defeito no sistema detectado. Por se tratar de um possível terrorismo cibernético, evite usar aparelhos eletrônicos."

Imagine Breaker e Railgun hesitantemente se viraram.

Um segundo depois, o robô de segurança disparou um alarme altíssimo.


Naturalmente, eles fugiram.

Ambos entraram em um beco, chutaram um balde de plástico sujo, e assustaram um gato negro enquanto continuavam a correr.

Pensando bem, eu não fiz nada de errado, ele pensou. Por que eu estou correndo com ela?

Mesmo pensando assim, ele continuou correndo. Apesar de tudo, ele ouviu falar que esses robôs de segurança custam 1.2 milhões de ienes cada (aprox. R$30,000).

"Uhhh, que azar. Por que eu sempre sou pego em coisas relacionadas a ela?"

"O que você quer dizer com isso?! E o meu nome é Misaka Mikoto!"

Eles finalmente pararam de correr em um beco longe do local do evento anterior. Um dos prédios alinhados deve ter sido demolido pois havia uma área retangular aberta ali. Parecia um bom lugar para jogar basquete.

"Cale-se, Biri Biri! Você destruiu todos os meus eletrônicos com aquele ataque ontem! O que você quer após isso ter acontecido?!"

"Foi sua culpa por ter me irritado!"

"Eu não entendo por que você ficou tão brava! Eu não encostei um dedo em você!"

Após isso, Mikoto atacou Kamijou com seu arsenal completo, mas Kamijou negou tudo com sua mão direita. Desta vez, os ataques dela não terminaram com uma Railgun. Suas investidas variaram, reunindo areia de ferro para criar uma espada de ferro parecida com um chicote, enviando ondas eletromagnéticas poderosas para danificar orgãos internos ou até mesmo atrair um relâmpago do céu para atacar.

Mas nada disso foi páreo para Kamijou Touma.

Desde que houvesse uma origem sobrenatural, Kamijou Touma poderia negar.

"Você continua atacando e se cansando! Não use seus poderes tanto para depois me culpar por você não ter energia o suficiente para continuar, Biri Biri!"

"...!" Mikoto começou a ranger seus dentes. "Isso não contou. Não contou! Você não me atacou, então é um empate!!"

...

"...Tá. Você venceu. Te socar não vai consertar meu ar-condicionado."

"Ahh...! Espera! Leve isso a sério!!" Mikoto gritou enquanto agitava seu braço.

Kamijou suspirou.

"Você quer mesmo que eu leve isso a sério?"

"Ah..." Mikoto congelou.

Kamijou abriu e fechou seu punho. Misaka Mikoto começou a soar frio com essa simples ação. Ela congelou, não conseguiu nem mesmo dar um passo para trás.

Mikoto não sabia o que o poder de Kamijou era. Então, para ela, Kamijou era um terror desconhecido que selava todas as cartas da sua manga sem nem mesmo ofegar.

Não era surpreendente. Kamijou Touma resistiu os ataques de Misaka Mikoto por duas horas seguidas sem sofrer um arranhão. Era natural para ela se perguntar se ele estava levando a sério.

Kamijou suspirou e desviou seu olhar.

Mikoto finalmente deu alguns passos para trás.

"...O que seria isso se não azar?" Kamijou ficou chocado ao ver o quão assustada ela estava. "Primeiro os eletrônicos do meu quarto foram dizimados, depois uma garota afirmando ser uma maga apareceu, e agora essa esper Biri Biri."

"Maga...? O quê?"

"..." Kamijou pensou por um momento. "É... É isso o que eu queria saber."

Normalmente, Mikoto gritaria, "Você tá brincando comigo?! Seu cérebro é tão estranho quanto esse poder?!" e então iria "Biri Birizar". Mas naquele dia, ela só poderia pular de susto.

O que era toda essa coisa de magia? Kamijou se perguntou.

Kamijou se lembrou do que aconteceu naquela manhã. A freira branca realmente usou aquela palavra, mas agora que ele pensou novamente, aquele termo era realmente removido da realidade.

Eu me pergunto por que eu não senti isso quando Index estava por perto, ele considerou.

Havia algo misterioso que fez magia se tornar algo mais acreditável?

"...O que eu estou pensando?" murmurou Kamijou enquanto ignorava completamente Misaka Mikoto que estava tremendo como um cachorrinho.

Ele cortou seus laços com Index e o mundo em que ela vivia. O mundo era bem grande e era improvável encontrá-la em uma coincidência. Pensar sobre magos não tinha sentido.

Apesar disso, ele não conseguia tirar aquilo da sua mente.

Ele ainda tinha o capuz que ela havia esquecido de manhã.

Essa conexão continuava irritando seu cérebro

Nem mesmo Kamijou sabia por que ele estava pensando nisso.

Afinal, ele possuía o poder para matar até mesmo Deus.

Parte 6[edit]

Não dava para comprar um gyuudon grande com apenas 320 ienes, na Academy City.

"... ... ...Tamanho regular, hm?"

As garotas que alegremente comiam um bento do tamanho de uma light novel não iriam entender, mas um garoto cansado e em fase de crescimento considerava o tamanho regular apenas um lanchinho.

Após se despedir da garota Biri Biri, Kamijou foi a um restaurante de gyuudon para comer seu "lanchinho". Com apenas 30 ienes sobrando, ele chegou ao seu dormitório após o pôr do sol.

O lugar parecia deserto.

Era o primeiro dia das férias de verão e a maioria das pessoas saíram para se divertir. A construção parecia um típico edifício de apartamentos. Fileiras de portas se estendiam ao longo dos corredores. Por ser um dormitório masculino, não havia nenhuma proteção no corrimão para proteger as garotas de eventuais espiadelas por baixo de suas saias.

As portas dianteiras e as sacadas ao fundo eram construídas nas partes laterais da construção.

A entrada para o prédio possuía auto-travamento, mas a distância entre este e os prédios vizinhos era de apenas dois metros. Qualquer um poderia invadir o dormitório pulando de um prédio para outro, como Index havia feito naquela manhã.

Kamijou entrou, passou pela despensa (também conhecida como "quarto do administrador do dormitório") e pegou o elevador. O elevador era desagradável, sujo e estreito. Parecia um daqueles pequenos elevadores de carga utilizados nas construções. O botão com a letra "R", indicando acesso ao terraço estava bloqueado com uma pequena placa de metal para que os Romeus e Julietas não passassem a noite lá.

Com o soar de um "ding", o elevador parou no sétimo andar.

Kamijou forçou a porta que lentamente abria com um som metálico e entrou no corredor. Ele estava no sétimo andar, mas não havia vento. Por isso, o clima parecia mais quente e abafado do que de costume.

"Hm?"

Kamijou finalmente percebeu algo. Na frente da porta de seu quarto, estavam três robôs de limpeza. Era algo raro ver três deles juntos. Ele tinha certeza de que apenas cinco estavam designados para aquele dormitório.

Pela maneira que estavam se movendo para frente e para trás, eles pareciam estar limpando uma tremenda sujeira. Por alguma razão desconhecida, Kamijou sentiu o cheiro do azar retornar.

Os robôs conseguiam arrancar até mesmo chiclete grudado no chão. Era difícil imaginar algum tipo de sujeira que daria problemas a três deles.

Kamijou estremeceu ao pensar que talvez seu vizinho Tsuchimikado Motoharu tenha se embebedado tentando agir como um delinquente para perder sua virgindade e acabou vomitando em absurdas quantidades, utilizando a porta de Kamijou como poste telefônico.

"O que aconteceu...?"

As pessoas possuem uma tendência desgraçada de querer ver coisas horríveis.

Após dar alguns passos para frente, ele finalmente viu.

A garota misteriosa chamada Index havia desmaiado de fome.

"... ... ...Ah!"

Ela não estava inteiramente visível por causa dos robôs, mas alguém vestindo um hábito de freira coberto por alfinetes estava desmaiada.

Embora os três robôs constantemente batiam nela, Index não estava se movendo. Parecia que ela estava sendo bicada por corvos.

Os robôs foram feitos para desviar das pessoas e outros obstáculos. Por que as máquinas falharam em confirmá-la como "humana"?

"...Que azar."

Se Kamijou Touma tivesse visto seu rosto no espelho, ele se surpreenderia ao ver um sorriso. No fundo, ele estava preocupado. Ele não acreditava nos magos, mas era possível que alguma seita estivesse perseguindo a garota.

Ele estava feliz por vê-la em seu estado habitual: faminta.

Na verdade, ele estava feliz por simplesmente vê-la novamente.

Kamijou então se lembrou do que ela havia esquecido: o capuz branco que estava em seu quarto. Ele achou estranho, mas Kamijou via aquele capuz como um amuleto.

"Ei! O que você está fazendo aqui?"

Ele a chamou e foi até ela.

Por que a simples ação de ir até ela me faz sentir como um estudante do ensino fundamental que não consegue dormir a noite anterior a uma viagem escolar? Por que a cada passo que dou eu me sinto como se estivesse indo a uma loja para comprar o lançamento de um RPG aguardado? Era o que ele pensava naquele momento.

Index ainda não o notou.

Kamijou Touma forçou um sorriso ao ver como Index se adequava naquela situação.

E então, ele notou que Index estava caída em uma poça de sangue.

"...Ah...?"

A primeira coisa que ele sentiu foi confusão, não surpresa.

Ele não conseguiu ver isso antes porque os robôs estavam na frente. Index tinha um corte horizontal na parte inferior das suas costas. A ferida foi causada por uma espada, mas era muito reta. Parecia que alguém havia usado uma régua e um estilete para feri-la. A ponta de seu cabelo prateado, que caía à altura da cintura, foi cortada e estava no chão, encharcado com o líquido vermelho.

Por um instante, Kamijou não havia compreendido que aquilo era sangue humano.

A diferença na realidade entre o momento anterior e o momento após deixou a mente de Kamijou um completo caos. Ketchup...? Será que Index estava com tanta fome que tomou ketchup antes de desmaiar? Com essa imagem agradável e errada da situação, Kamijou quase sorriu.

Ele quase sorriu, mas não o fez.

Não haveria como ele fazer isso.

Os três robôs de limpeza continuavam a se movimentar, criando um ruído metálico. Eles estavam limpando a mancha no chão. Eles estavam limpando a substância vermelha espalhada no chão. Eles estavam limpando a substância vermelha que emanava do corpo de Index. Eles estavam sugando o sangue de Index.

"Parem... Parem! Merda!!"

Enfim, os olhos de Kamijou voltaram à realidade. Ele tentou retirar dali os robôs que estavam próximos a Index. Ele falhou, pois os robôs eram pesados justamente para previnir roubos. Além disso, os robôs de limpeza possuíam uma força considerável.

Na realidade, os robôs de limpeza estavam apenas limpando o sangue no chão. Não haviam tocado na ferida de Index. Mesmo assim, Kamijou os viu como insetos em volta de uma ferida podre.

Ele tinha dificuldades em tentar movimentar um desses robôs pesados, imagine três. Enquanto ele tentava afastar um, os outros dois continuavam limpando o sangue.

Ele tinha o poder para matar até mesmo Deus.

Mas era incapaz de tirar esses brinquedos do caminho.

Index estava em silêncio.

Seus lábios pálidos estavam imóveis, ele não tinha certeza se ela estava respirando.

"Merda! Merda!!" Kamijou gritou, confuso. "O que aconteceu? Que porra aconteceu?! Droga! Quem foi o desgraçado que te fez isso?!"

"Hm? Nós, os magos."

Uma voz surgiu. Ela não pertencia a Index.

Kamijou virou-se freneticamente. Um homem estava parado ali. Ele pareceu ter chegado lá pelas escadas de emergência, próximas ao elevador.

Ele era branco, tinha dois metros de altura, mas sua face dava a impressão de que ele era mais jovem que Kamijou.

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Ele tinha... 14 ou 15 anos de idade. Parecia ser estrangeiro, suas roupas... eram iguais aos hábitos dos padres. Mas julgando pela sua aparência, ele não tinha nada a ver com um padre.

Kamijou sentia o odor horrível de seu perfume doce mesmo estando a 15 metros de distância dele. Seu cabelo loiro na altura do ombro era tingido de vermelho, anéis prateados brilhavam em todos os seus dedos, brincos estavam pendurados em suas orelhas, a ponta de seu celular podia ser vista em seu bolso, um cigarro aceso movia-se em sua boca, e, para completar, ele tinha uma tatuagem de código de barras embaixo de seu olho direito.

No corredor, a atmosfera em torno daquele homem era estranha.

Era como se a área estivesse sendo controlada por forças diferentes das que Kamijou estava acostumado. Esse estranho sentimento se espalhou pela área como tentáculos gelados.

O que Kamijou sentia não era medo ou raiva...

...Mas sim confusão e mal-estar. Era uma solidão desesperadora, semelhante a ter sua carteira roubada em um país estrangeiro. Esses tentáculos gelados entraram em seu corpo e congelaram seu coração. Foi quando Kamijou percebeu algo.

Um mago.

Este é um mundo diferente, onde coisas estranhas como magos existem.

Ele podia dizer isso à primeira vista.

Ele ainda não acreditava em magos...

Mas, ele podia dizer que esse sujeito era residente de um lugar que estava além do mundo em que ele vivia.

"Hm? Hm... hm... hm. Ela pegou ela de jeito." O mago olhou em volta e balançou o cigarro no canto de sua boca enquanto falava. "Eu sabia que Kanzaki havia cortado ela, mas isto é... Eu achei que não havia nada para me preocupar pois não havia nenhum rastro de sangue..."

O mago observou os robôs de limpeza que estavam atrás de Kamijou Touma.

Provavelmente, Index foi "cortada" em outro lugar e conseguiu chegar lá com vida antes de desmaiar. Ela certamente havia deixado um rastro de sangue, mas os robôs de limpeza apagaram qualquer marca.

"Mas... por quê?"

"Hã? Você quer dizer por que ela voltou para cá? Quem sabe? Talvez ela tenha esquecido algo. Pensando bem, ela estava com seu capuz quando eu atirei nela ontem. Será que ela perdeu em algum lugar por aqui?"

O mago usou a palavra "voltou".

Em outras palavras, ele estava seguindo as ações de Index o dia inteiro. E ele sabia que ela havia perdido o capuz de sua Walking Church.

Index havia falado algo sobre os magos estarem rastreando o poder mágico na sua Walking Church.

Isso significa que os magos estavam seguindo Index detectando o poder sobrenatural na sua Walking Church. Eles saberiam que a Walking Church foi destruída quando o "sinal" cortasse. Index havia mencionado isso também.

Index sabia que ficaria vulnerável.

Ela sabia, mas pareceu ter contado com os poderes defensivos da Walking Church.

Mas por que ela voltou? Por que ela precisiva recuperar uma parte da Walking Church que foi destruída e era inútil? A mão direita de Kamijou havia inutilizado inteiramente a Walking Church, não havia sentido em recuperar o capuz.

"...Então, você vai me seguir até as profundezas do inferno?"

De repente, ele entendeu.

Ele nunca tocou no capuz da Walking Church que estava em seu quarto. Em outras palavras, o capuz ainda possuía poder mágico. Ela deve ter pensado que os magos poderiam rastreá-lo até o quarto de Kamijou.

E então, Index encarou o perigo e decidiu "voltar".

"...Sua idiota."

Não havia necessidade de fazer isso. Foi a falta de jeito de Kamijou que havia destruído sua Walking Church, foi ele que percebeu que ela havia esquecido seu capuz no seu quarto e deixou por assim mesmo. E mais importante, Index não tinha o dever, obrigação, ou direito de proteger Kamijou.

Mesmo assim, ela voltou.

Kamijou Touma era um completo estranho que ela conheceu a muito pouco tempo.

Mesmo assim, ela arriscou sua vida para impedir que ele se envolvesse em uma luta entre magos.

"Sua idiota!!"

O estado imóvel de Index o irritou por alguma razão.

Antes, Index havia dito que a causa do azar de Kamijou era sua mão direita.

Aparentemente, sua mão direita estava subconscientemente negando os poderes sobrenaturais como a proteção divina de Deus e a linha vermelha do destino.

Se Kamijou não houvesse tocado e destruído sua Walking Church, não haveria motivo para ela retornar.

Não. Essas desculpas não importam, ele considerou.

Sua mão direita e a destruição da Walking Church não eram a razão para ela sentir que deveria voltar.

Se Kamijou não tivesse desejado por uma conexão... Se ele tivesse devolvido o capuz dela naquela hora.

"Hm? Hm... hm... hm? Vamos, não me olhe assim." O cigarro no canto da boca do mago se movia enquanto ele falava. "Não fui eu que fiz isso e eu duvido que Kanzaki tenha feito isso de propósito. A Walking Church deveria ser uma defesa absoluta, ela não deveria ter sido ferida. Honestamente, o que aconteceu para aquilo ter sido destruído? A menos que o Dragão de São Jorge tenha atacado, eu não vejo como uma barreira de um nível tão alto poderia ser quebrada."

Ele falou para si mesmo esta última parte e seu sorriso desapareceu quando ele o fez.

Porém, durou apenas um instante. O cigarro no canto de sua boca se contorceu novamente, como se repentinamente ele tivesse se lembrado de como sorrir.

"Por quê?" Kamijou perguntou mesmo não esperando uma resposta. "Por quê? Eu não acredito em magia de contos de fadas e eu não entendo os magos ou seja lá o que vocês são. Mas não há vilões e mocinhos entre vocês? Não há magos que protegem as pessoas?"

Ele sabia muito bem que não tinha o direito de ser moralista.

Quando Index foi embora, Kamijou Touma a deixou ir e voltou para sua vida normal.

Mas ele não conseguiu suprimir estas palavras na sua garganta.

"Você encurralou essa garota, a perseguiu por todos os lugares, e depois a machucou desse jeito. Você consegue mesmo dizer que você é justo com essa realidade na sua frente?!"

"Como eu disse antes, Kanzaki fez isso, não eu." O mago pausou por um segundo. As palavras de Kamijou não o atingiram em nada. "E não importa se ela está ferida ou não, nós temos que recuperá-la."

"Recuperá-la?"

Kamijou não entendeu o que o mago quis dizer.

"Hm? Ah, entendo. Você conhecia a palavra 'mago', então pensei que você entendia a situação. Acho que ela estava com medo de te envolver nisso." O mago exalou fumaça de cigarro. "Sim, nós precisamos recuperá-la. Tecnicamente, não é ela que nós precisamos recuperar, e sim os 103,000 grimórios que ela possui."

...Esses 103,000 grimórios de novo.

"Sim, sim. Esse país não é muito religioso, então acho que você não entende," disse o mago em um tom entediado apesar de estar sorrindo. "A Index Librorum Prohibitorum é uma lista criada pela igreja de todos os livros malígnos que sujam sua alma apenas por lê-los. Mesmo se você anunciasse a existência desses livros perigosos, as pessoas, sem saberem, ainda poderiam comprá-los se não souberem os títulos dos livros. Portanto, ela se tornou algo como a prova severa de 103,000 livros deste tipo. Mas cuidado, ler um dos livros que ela possui tornaria alguém de uma nação irreligiosa como esta em um vegetal."

Desconsiderando as palavras dele, Index não possuía um único livro. As linhas do corpo dela eram bem visíveis naquele hábito e seria óbvio se ela estivesse escondendo algum livro dentro de suas roupas. Não é nem mesmo necessário mencionar que seria impossível para uma pessoa carregar 100,000 livros por aí.

"N-Não seja ridículo! Onde exatamente estão esses livros?!"

"Ah, eles estão bem ali, na memória dela," o mago complementou como se fosse algo óbvio. "Você sabe o que é memória fotográfica perfeita? É a habilidade de memorizar tudo o que você vê em um instante e nunca esquecer um detalhe, frase ou letra. É como ser um escaneador humano." O mago sorriu, desinteressado. "Não está relacionado com o nosso oculto ou sua ficção científica. É uma condição natural. Ela esteve no Museu Britânico, no Museu do Louvre, na biblioteca do Vaticano, nas ruinas de Pataliputra, no Castelo de Compiègne, no Monastério do Monte Saint-Michel, e em qualquer outro lugar que continha grimórios que não poderiam ser retirados de onde estavam selados. Ela os roubou com seus olhos."

Ele não conseguia.

Ele não conseguia acreditar na existência desse grimórios ou que ela tem uma memória perfeita.

Entretanto, o que importava não era se isso era verdade ou mentira, mas o fato de que alguém acreditava que isso era verdade, resultando em um ferimento de corte nas costas de uma garota.

"Bem, ela não tem capacidade para refinar poder mágico, portanto, ela é inofensiva." O cigarro no canto da boca do mago se moveu. "Mas eu acho que a igreja deve ter suas preocupações. Bom, isso não tem nada a ver com um reles mago como eu. De qualquer maneira, esses 103,000 grimórios são bem poderosos, então eu estou aqui para proteger ela antes que alguém que possa usá-los a leve."

"Proteger... ela?"

Kamijou estava perplexo. O que aquele homem acabou de dizer diante de uma cena tão sangrenta?

"Exatamente. Proteger ela. Não importa o quão sensível ou gentil ela seja, ela é suscetível à drogas e tortura. Apenas pensar em entregar uma garota para pessoas que fariam tudo para ler um grimório faz doer o meu coração, sabe?"

"..."

O corpo de Kamijou tremeu.

Não era puramente raiva, o braço de Kamijou arrepiou completamente. O homem em sua frente via-se como o único que tem a razão. Ele vivia ignorando seus próprios erros. O corpo de Kamijou encheu-se de calafrios, como se estivesse sendo mergulhado em uma banheira cheia de lesmas.

O termo "seita religiosa" surgiu.

A ideia de magos caçando pessoas baseando-se em crenças infundadas o deixou irado.

"Quem você pensa que é?!"

Ele sentiu sua mão direita esquentar, como se estivesse respondendo à sua raiva.

Seus dois pés que estavam plantados no chão começaram a se movimentar antes mesmo de seu cérebro pensar em fazer isso. Seu corpo espesso, de carne e sangue, foi em direção ao mago como uma bala. Ele cerrou seu punho direito com tanta força que parecia que seus dedos seriam esmagados.

Sua mão direita não ajudaria contra um delinquente, não ajudaria a aumentar suas notas nas provas, e não ajudaria a torná-lo popular com as garotas.

Mas ela poderia ser bem útil hoje. Afinal, ele poderia usá-la para espancar o imbecil na frente dele.

"Meu nome é Stiyl Magnus, mas acho que neste momento devo me apresentar como Fortis931."

O mago estava completamente imóvel, exceto pelo cigarro que se movimentava no canto de sua boca.

Após murmurar algo, ele falou para Kamijou como se estivesse apresentando o gato negro de estimação de que ele tinha tanto orgulho.

"Esse é o meu nome mágico. Não conhece? Parece que nós magos não podemos usar nossos nomes reais. É uma tradição bem antiga, então eu não sei o porquê disto."

Havia uma distância de 15 metros entre eles.

Em três passos, Kamijou bateu metade desta distância.

"Fortis... Eu acho que significa 'o forte' em japonês. Bem, isso não importa. Para nós magos, não é apenas um aviso que iremos usar magia, mas sim..."

Apesar de Kamijou ter avançado mais dois passos em sua direção, o sorriso do mago não se desfez. Era como se ele estivesse certo de que Kamijou não era um oponente à altura.

"...um aviso de que sangue será derramado, eu acho."

O mago chamado Stiyl Magnus jogou o cigarro de sua boca para o lado.

O cigarro aceso voou horizontalmente, sobre o corrimão de metal, e acertou na parede do prédio vizinho.

Uma linha laranja seguiu o caminho percorrido pelo cigarro e faíscas surgiram quando a mesma atingiu a parede.

"Kenaz (Chamas)."

No momento em que Stiyl sussurou, a linha laranja explodiu.

Uma espada de chamas surgiu em uma linha reta, como se alguém tivesse colocado fogo em uma mangueira de incêndio cheia de gasolina. A tinta da parede mudou de cor como uma pintura sendo chamuscada por um isqueiro.

Kamijou sentiu que seus olhos estavam sendo queimados apenas por ver tudo isso. Ele instintivamente parou e elevou suas mãos para cobrir sua face.

Parecia que seus pés haviam sido cravados no chão. Uma questão entrou em sua mente.

O Imagine Breaker poderia negar qualquer tipo de poder sobrenatural em um segundo. Nem mesmo a Railgun da Biri Biri Level 5, que poderia destruir um abrigo nuclear facilmente, era uma exceção.

Mas...

Kamijou ainda não havia visto poderes sobrenaturais cuja natureza não era psíquica.

Ou seja, ele ainda não havia testado.

Ele ainda não havia testado seu poder em magia.

Sua mão direita iria funcionar contra um poder desconhecido?

"Purisaz Naupiz Gebo (Um presente de dor para o gigante)."

Apesar de suas mãos estarem cobrindo seu rosto, Kamijou conseguia ver o mago sorrindo.

Sorridente, Stiyl Magnus movimentou a espada de fogo horizontalmente em direção a Kamijou Touma.

No momento em que o tocou, ela perdeu sua forma e o fogo explodiu em todas as direções como um vulcão em erupção.

As ondas de calor, as luzes, o ruído explosivo e a fumaça negra irromperam em todas as direções.

"Talvez eu tenha exagerado."

Stiyl coçou sua cabeça. Parecia que aquele local havia sido bombardeado. Só para ter certeza, ele olhou em volta para ver se alguém estava saindo para ver o que estava acontecendo. Era o primeiro dia das férias de verão, então a maioria dos residentes do dormitório daquele garoto saíram. Mas seria ruim se algum inútil sem amigos estivesse dentro de um dos quartos.

Havia muito fogo e fumaça na sua frente, ele não conseguia ver nada.

Mas ele não precisava verificar o estado de Kamijou. Aquele golpe criou chamas infernais de 3000 graus Celsius. Em temperaturas acima de 2000 graus, o corpo humano iria derretar antes mesmo de queimar. Isso significa que o corpo do garoto derreteu como uma escultura de açucar. Era provável que ele estivesse espalhado na parede do dormitório como um chiclete mastigado.

Stiyl suspirou refletindo na precisão de seus atos para irritar o garoto e fazer com que ele se afastasse de Index. As coisas complicariam se ele usasse Index como escudo ou se ela fosse atingida pela explosão.

Mas ele não podia recuperar Index agora.

Stiyl suspirou novamente. A parede de chamas o bloqueava, impedindo-o ir até onde Index estava. Se houvesse uma escada de emergência no outro lado do corredor, ele conseguiria. Mas haveria o risco de Index ser pega pelas chamas se ele fizesse isso.

Stiyl, aborrecido, balançou sua cabeça e falou olhando para a fumaça como se ele pudesse ver através dela.

"Obrigado. Excelente trabalho. Mas no seu nível, você não conseguiria vencer nem se lutasse comigo mil vezes."

"Você tem certeza de que eu não posso vencer não importa o quanto eu tente?"

Por um instante, o mago congelou ao ouvir a voz que vinha das chamas infernais.

Com um rugido, a parede de fogo e fumaça girou em torno de si e se desintegrou.

Era como se um tornado aparecesse no centro das chamas.

Kamijou Touma estava ali.

O corrimão de metal havia derretido, a tinta do chão e das paredes havia descascado, as lâmpadas fluorescentes haviam derretido e estavam escorrendo, mas aquele garoto estava completamente ileso no meio destas chamas sobrenaturais e calor desesperador.

"Honestamente, por que eu estava com medo?" perguntou Kamijou com desinteresse. "Esta é a mesma mão direita que destruiu a Walking Church da Index."

Na realidade, Kamijou não sabia nada sobre magia.

Ele não sabia como funcionava e provavelmente entenderia a metade se explicassem para ele desde o começo.

Mas havia uma coisa que até um idiota como ele entenderia: aquilo era apenas um poder sobrenatural.

As chamas escarlates não foram completamente extintas.

"Fora do meu caminho."

Com esta frase, Kamijou tocou as chamas mágicas de 3000 graus com sua mão direita e o resto do fogo desapareceu.

Era como se as velas de um bolo de aniversário fossem assopradas.

Kamijou Touma observou o mago parado na sua frente.

O mago estava perturbado com esta série de eventos inesperados, como um ser humano normal.

De fato, ele era um ser humano normal.

Se você atingisse um soco, ele sentiria dor, e se você o cortasse com uma faca qualquer, ele iria sangrar.

Ele era um mero ser humano.

As pernas de Kamijou não tremiam mais de medo.

Seus braços e pernas começaram a se mover normalmente.

Ele se movimentou!

"O quê?"

Enquanto isso, Stiyl deu um passo para trás, chocado com o fenômeno incompreensível diante dele.

O ataque o atingiu, o dano nas redondezas confirma isso. Isso significa que aquele garoto era poderoso o suficiente para aguentar um golpe certeiro de 3000 graus Celsius? Impossível. Se esse fosse o caso, ele não seria humano.

Kamijou não prestou atenção na confusão de Stiyl.

Ele cerrou seu punho direito e avançou em direção ao mago.

"Tch!!"

Stiyl movimentou sua mão horizontalmente. Uma espada de fogo surgiu e atingiu Kamijou.

Chamas e fumaça voaram.

Mas após ambos cederem, Kamijou Touma continuava lá, parado.

"...Será que ele... está usando magia?" Stiyl murmurou, mas imediatamente rejeitou essa ideia.

Não haveria nenhuma chance de ter algum mago naquele país que considerava o Natal um dia para marcar encontros e fazer sexo.

Além disso, se Index, que não possui poderes mágicos, unisse suas forças com um mago, ela não teria motivos para fugir. As memórias de Index eram perigosas assim.

Ter sob controle os 103,000 grimórios é mais perigoso do que possuir uma bomba nuclear.

Todos os seres vivos eventualmente morrem, uma maçã que está em cima sempre cairá para baixo, e um mais um é dois. Estes grimórios poderiam facilmente modificar a natureza e as regras imutáveis do mundo, destruí-las, reescrevê-las, e criar novas. Você poderia fazer com que um mais um seja três, fazer uma maçã cair para cima, e fazer todas as criaturas mortas eventualmente ressuscitarem. Um mago capaz de fazer tudo isso é classificado como Deus Mágico.

Um mago que dominou a magia completamente, rivalizando Deus.

Deus Mágico.

Mas Stiyl não sentia nenhum poder mágico no garoto.

Ele poderia dizer se alguém é um mago ou não com apenas um olhar. O garoto não tinha o 'cheiro' de alguém que pertencia ao mesmo mundo que ele.

Então, por quê?

"!!"

Para camuflar a tremência de seu corpo, Stiyl criou outra espada de fogo e atacou Kamijou. Desta vez, ela nem mesmo explodiu.

A espada quebrou como vidro e as chamas desapareceram no ar.

Ele destruiu uma espada de fogo de 3000 graus com uma mão direita que não possui poderes mágicos de qualquer natureza.

"...Ah."

De repente, algo surgiu na mente de Stiyl Magnus.

A Walking Church de Index era de altíssimo nível, seu poder mágico defensivo equiparava-se à Catedral de Londres inteira. Era absolutamente impossível destruí-la, a menos que o lendário dragão de São Jorge aparecesse novamente.

Mas a Walking Church de Index foi claramente destruída. Kanzaki nunca teria conseguido feri-la se ela estivesse intacta.

Quem fez isso? E como?

"... ... ..."

Kamijou Touma havia caminhado até Stiyl.

Se ele desse mais um passo, estaria perto o suficiente para atingir o mago com um soco.

"M T W O T F F T O (Um dos cinco elementos que constitui o mundo). I I G O I I O F (A grande chama inicial)."

Stiyl começou a suar desagradavelmente pelo corpo inteiro. Isso porque a criatura na frente dele tinha a forma humana. Ele sentia que o garoto era formado por um poder estranho, e não por carne e sangue.

"I I B O L A I I A O E (É a luz da bênção que cria a vida e a luz do julgamento que pune o mal). I I M H A I I B O D (Contém a graça pura e calma, e o infortúnio congelante que esmaga as trevas). I I N F I I M S (Seu nome é fogo e a espada é o seu exercício). I C R M M B G P (Manifesta-te e torna-te o poder que come em minha carne)!"

Partes do hábito de padre de Stiyl rasgaram e os botões de sua roupa se soltaram.

Com um rugido de chamas sugando o oxigênio, uma gigantesca quantidade de fogo saiu de suas roupas.

Não eram chamas comuns.

Havia algo negro parecido com óleo no meio das chamas. Tinha a forma humana.

Seu nome era Innocentius, que significava, "Eu certamente irei te matar."

O gigante deus de fogo abriu seus braços e voou na direção de Kamijou como uma bala.

"Fora do meu caminho."

Kamijou tapeou aquelas chamas que possuíam a forma humana como se estivesse retirando teia de aranha de seu rosto.

Kamijou acabou com a carta na manga de Stiyl. Como se ele tivesse explodido um balão d'água com um prego, as chamas com óleo com forma humana simbolizando o grande deus do fogo perderam sua forma e se espalharam pela área.

"...?"

Kamijou Touma não tinha motivos para não dar seu último passo em direção a Stiyl.

Mas Stiyl estava sorrindo apesar de ter sua carta na manga destruída. Esta expressão era o suficiente para ele hesitar antes de dar este último passo.

O som de um líquido viscoso se movendo podia ser ouvido.

"Mas o... quê?!"

Kamijou, surpreso, deu um passo para trás. As chamas e aquela matéria negra que haviam se espalhado reuniram-se no ar, ganhando novamente a forma humana.

Se Kamijou tivesse avançado aquele último passo, ele seria atingido pelas chamas.

Kamijou ficou confuso. Se sua mão direita pudesse fazer o que ele sempre afirmava, ele poderia negar até mesmo os poderes divinos descritos nos mitos. Se aquilo fosse um poder sobrenatural, ele deveria ter sido capaz de negá-lo com um toque. Mesmo assim...

A coisa negra no meio das chamas parecida com óleo mudou de forma. Agora, parecia estar segurando uma espada em ambas as mãos.

Não... não era uma espada, mas sim uma cruz gigante, com mais de dois metros de comprimento.

Aquela coisa flamejante elevou a cruz com ambas as mãos e golpeou Kamijou como se a cruz fosse um machado.

"...!!"

Kamijou imediatamente moveu sua mão direita para cima para receber o golpe. Apesar de sua mão direita, Kamijou era um simples estudante. Ele não possuía as habilidades de luta necessárias para desviar daquele ataque.

A cruz e a mão direita dele se chocaram.

Desta vez, o gigante nem mesmo desapareceu. Como se ele estivesse apertando um pedaço grande de borracha, Kamijou sentiu que iria perder se continuasse assim. Seu oponente usava ambas as mãos, enquanto ele poderia usar apenas sua mão direita. A cruz ardente se aproximava do rosto de Kamijou milímetro por milímetro.

Apesar de estar confuso, Kamijou percebeu uma coisa: aquele monte de chamas que se chamava Innocentius estava reagindo ao seu Imagine Breaker, mas estava revivendo logo após ser dissipado. Provavelmente, o tempo entre a destruição e a ressureição das chamas era menor do que um décimo de segundo.

Sua mão direita havia sido selada.

Se ele perdesse, seria transformado em cinzas pelo Innocentius em um instante.

"Runas."

Kamijou Touma ouviu algo.

Devido ao perigo que encarava, ele não podia olhar para trás, mas ele certamente ouviu a voz de alguém.

"São vinte e quatro carácteres usados para indicar mistérios e segredos que foram usados como linguagem mágica pelas tribos Germânicas no século II. Fazem parte das raízes do inglês antigo."

Era a voz de Index, mas Kamijou não conseguia acreditar.

"O quê?"

Ela está gravemente ferida, como pode estar falando tão tranquilamente? Ele pensou.

"Atacar o Innocentius não terá efeito algum. A menos que as gravuras das runas sejam eliminadas, ele irá continuar revivendo."

Kamijou Touma apoiou seu pulso direito com sua mão esquerda para evitar que a cruz avance ainda mais.

Kamijou timidamente olhou para trás;

A garota estava mesmo deitada ali, mas Kamijou não considerava aquilo Index. Faltava emoção em seus olhos.

Quanto mais ela falava, mais sangue fluía de sua ferida nas costas.

Ela parecia um sistema feito para explicar coisas relacionadas à magia.

"Você é... a Index, não é?"

"Sim. Eu sou a biblioteca de grimórios pertencente a Necessarius, a paróquia número 0 da Igreja Anglicana. Meu nome completo é Index Librorum Prohibitorum, mas pode ser abreviado para Index."

Kamijou quase esqueceu do gigante que estava tentando matá-lo ao ouvir Index. Ele ficou com calafrios ao ouvi-la.

"Após me introduzir, voltarei a explicar sobre as runas. Basicamente, é como o reflexo da lua em um lago. Não importa quantas vezes você atingir a superfície do lago com uma espada, você não irá atingir a lua. Se você quiser atingir o reflexo da lua no lago, deverá golpear a lua no céu noturno."

Após ouvir esta explicação, Kamijou finalmente se lembrou do inimigo que está na sua frente.

Isso significa que o que estava diante dele não era a forma verdadeira do poder sobrenatural? Era algo como uma fotografia e sua figura? Iria continuar a reviver a não ser que ele destruísse o poder sobrenatural que estava criando o gigante de fogo?

Mesmo assim, Kamijou não acreditava completamente no que Index estava dizendo.

Não importa o que estava acontecendo em volta dele, magia não existia e não havia como contrariar isso.

Mas Innocentius estava bloqueando sua mão direita, impedindo seus movimentos. Não haveria como ele testar a sugestão dela. Além disso, seria complicado pedir ajuda para ela, já que Index estava sangrando bastante.

"Cinzas para cinzas..."

Kamijou olhou para Stiyl. Uma espada de fogo havia se formado na mão direita dele.

"...Pó para pó..."

Outra. Uma espada de fogo branco-azulada surgiu em sua mão esquerda.

"...Crucifixo Sangrento Suscetível!"

Com estas palavras cheias de poder, ele movimentou as duas espadas de fogo horizontalmente para cortar através do gigante de fogo como um par de tesouras. Com sua mão direita selada pelo Innocentius,

Kamijou não conseguiria bloquear outro ataque.

Merda... eu preciso fugir!! Ele desesperadamente pensou.

Mas antes que Kamijou Touma pudesse gritar, as duas espadas atingiram o gigante de fogo, criando uma enorme explosão.

Parte 7[edit]

Quando as chamas e a fumaça cederam, a área inteira parecia um inferno.

O corrimão de metal estava deformado pelo calor e até os azulejos no chão haviam derretido. A tinta nas paredes havia descascado, tornando visível o concreto.

O garoto não podia ser visto.

Mas Stiyl ouviu os passos de alguém correndo.

"...Innocentius," ele sussurou e as chamas se reuniram novamente para seguir o ruído.

Stiyl estava perplexo. Logo antes da explosão, no instante em que Stiyl havia atingido o gigante de fogo com as duas espadas, Kamijou afastou sua mão direita e pulou o corrimão do corredor.

Na queda, Kamijou se segurou no corrimão do andar debaixo e conseguiu sair pelo corredor. Ele não tinha nenhuma corda de segurança ou algo do tipo. Conseguiu fazê-lo apenas com coragem.

"Mas..."

Stiyl sorriu gentilmente. Agora Kamijou sabia a fraqueza das runas graças ao conhecimento dos 103,000 grimórios de Index. Como ela havia dito, a magia que Stiyl havia usado seria destruída apenas se as gravuras das runas fossem eliminadas. Qualquer magia, não importa o quão forte, seria negada se suas runas fossem destruídas.

"E daí?" Stiyl não estava nada preocupado. "Você não pode fazer isso. Eliminar completamente as runas gravadas nesse dormitório é algo impossível para você."


"Eu...! Eu realmente...! Eu realmente achei que iria morrer!!"

Após pular do 7º andar, o coração de Kamijou batia forte em seu peito.

Ele olhou para trás enquanto corria pelo corredor. De alguma forma, ele duvidava das palavras de Index. Ele estava tentando fugir da próxima investida de Innocentius.

"Droga! O que tá acontecendo?!"

Kamijou não conseguiu se conter e gritou ao notar a situação em que ele estava.

Ele não precisava se perguntar onde as runas estavam. Na verdade, ele já havia as encontrado. Elas estavam gravadas no chão, nas portas, e no extintor de incêndio. Pedaços de papel do tamanho de cartões telefônicos estavam espalhados por todas as partes.

De acordo com o conselho de Index, ele tinha pensado que essas runas eram como "antenas" enviando um sinal mágico para um receptor. Mas como ele iria destruir cada uma das dezenas de milhares de antenas?

Com o som de fogo sugando o oxigênio, a chama com formato humano desceu até o andar onde Kamijou estava.

"Merda!!"

Destruir as runas seria impossível se ele fosse pego pelo Innocentius novamente. Kamijou imediatamente correu para a escada de emergência. Conforme corria, ele podia ver pedaços de papel espalhados em todos os lugares.

Foram claramente feitos com uma copiadora.

Kamijou quase gritou “Como uma cópia ridícula dessas pode funciona assim?!” mas ele então se lembrou que os cartões de tarô que geralmente vinham de brinde dos mangás shoujo também poderiam ser usados para adivinhação e até mesmo a Bíblia era produzida em massa.

O oculto não é justo, ele pensou.

Ele achou que iria chorar. Dezenas de milhares dessas “gravuras de runas” estavam espalhadas por todo o dormitório. Haveria como ele encontrar cada uma delas? Além disso, Stiyl poderia simplesmente gravar mais runas.

Como se tivesse feito isso para impedi-lo de raciocinar, Innocentius surge de cima, para continuar a perseguir Kamijou.

“Merda!”

Kamijou desistiu de continuar a descer as escadas e entrou no corredor. Quando o gigante de fogo chegou naquele andar, chamas se espalharam pela área, e ele disparou em direção ao corredor.

O corredor era reto, e Innocentius era mais rápido. Kamijou não conseguiria escapar se a situação permanecesse assim.

“...!”

Kamijou olhou para a entrada das escadas de emergência. De acordo com a placa, ele estava no 2º andar. Com um rugido, Innocentius jogou-se na direção de Kamijou para reprimir sua mão direita.

“Ah!!”

Ao invés de usar sua mão direita ou continuar a correr, Kamijou pulou do segundo andar.

Após ter pulado, ele percebeu que o chão onde iria cair era de asfalto e algumas bicicletas estavam estacionadas ali.

“Ahhhhhhh!!”

Por pouco, ele conseguiu aterrissar no espaço entre duas bicicletas, mas ainda havia caído no duro asfalto. Ele tentou dobrar seus joelhos para absorver melhor o impacto da queda, mas ouviu um estalo nada agradável vindo do seu tornozelo.

Ele ouviu o rugido de chamas absorvendo o oxigênio acima.

“?!”

Kamijou imediatamente rolou no chão, correu, tropeçou em algumas bicicletas...

Mas... nada aconteceu.

“?!”

Kamijou olhou para cima com um olhar confuso.

Innocentius ainda estava rugindo no segundo andar, olhando fixamente para Kamijou. Era como se houvesse uma barreira invisível impedindo-o de seguir Kamijou.

Aparentemente, as runas foram apenas colocadas no dormitório. Kamijou conseguiu escapar das chamas de Stiyl saindo do prédio.

Agora que ele sabia um pouco mais sobre o “sistema invisível” da magia, ele viu que não estava lutando contra um oponente ridículo que poderia fazer tudo apenas lendo um feitiço, como em um RPG. Ao contrário, parece que a magia também possui regras estabelecidas. Não era diferente dos poderes psíquicos dos espers, dos quais Kamijou conhecia bem.

Ele suspirou.

Após escapar de qualquer ameaça imediata, o corpo de Kamijou perdeu sua força. Ele se sentou no chão. Ele não estava com medo, mas seu corpo foi agredido com uma sensação de exaustão forte. Ele começou a se perguntar se poderia escapar de todo o perigo apenas correndo.

“Já sei. A polícia.” Kamijou murmurou.

Por que ele não havia pensado nisso antes?

A polícia da Academy City era como uma “unidade anti-esper”. Kamijou poderia simplesmente alertá-los ao invés de arriscar sua própria vida.

Kamijou verificou os bolsos de sua calça, mas seu celular havia sido quebrado naquela manhã.

Kamijou então procurou por um telefone público na estrada.

Ele não estava querendo fugir.

Ele não estava querendo fugir.

“...Então, você vai me seguir até as profundezas do inferno?”

Estas palavras apunhalaram seu peito.

Ele não estava fazendo nada de errado. Ele não estava fazendo nada de errado, mas...

Naquela mesma situação, Index havia escolhido voltar por Kamijou Touma. Kamijou não seguiria uma estranha que ele conheceu a muito pouco tempo até as profundezas do inferno.

“Droga. É isso. Se eu não quero te seguir até as profundezas do inferno,” Kamijou sorriu. “Eu só preciso tirar você de lá.”

Ele pensou que já estava na hora de entender isso.

Ele não sabia como a magia funcionava direito, mas ele não precisava entender os detalhes do que ele não conseguia ver. Ele poderia, por exemplo, enviar um e-mail sem conhecer o diagrama de circuitos do seu celular.

“Agora que eu entendi isso, não é tão complicado assim.”

Ele sabia o que tinha que fazer, ele só precisava tentar.

Mesmo se ele falhasse, era melhor do que não ter feito nada.

Um pedaço do corrimão de metal derretido caiu. Kamijou rolou para o lado, desviando.

Ele ainda tinha que fazer algo em relação a Innocentius antes de poder salvar Index. O verdadeiro problema eram as dezenas de milhares de runas. Ele conseguiria destruir tantos pedaços de papel gravados naquele prédio?

“O alarme de incêndio não ativou mesmo com tudo isso acontecendo?”

Havia sido apenas um comentário sem importância alguma, mas Kamijou congelou após dizer estas palavras. O alarme de incêndio?


O alarme de incêndio ativou.

“?!”

Em meio a essa tempestade de ruído ensurdecedor que soava tão alto quanto um bombardeio, Stiyl olhou para o teto.

No mesmo instante, os sprinklers do teto soltaram água criando uma chuva artificial no dormitório. As coisas complicariam se os bombeiros chegassem ao local, então Stiyl havia anteriormente ordenado Innocentius para que evitasse a detecção do sistema de emergência. Isso significa que Kamijou Touma havia acionado o alarme de incêndio.

Será que ele achou que os sprinklers iriam conseguir apagar as chamas de Innocentius?

“...”

Essa ideia era ridícula. Mas o mago achou que as veias da sua cabela iriam explodir quando pensou na possibilidade de ter ficado encharcado por um motivo tão besta.

Stiyl olhou para o alarme de incêndio na parede.

Por estarem nas férias de verão, a maioria dos estudantes saíram para se divertir, mas a situação poderia complicar se os bombeiros chegassem.

“Hm...”

Stiyl olhou em volta e decidiu levar Index logo. Seu objetivo era simplesmente recuperá-la, não havia motivos para matar Kamijou. Devido ao tempo que iria levar para os bombeiros chegarem ao local, ele poderia deixar Innocentius lá e o garoto iria ganhar um belo abraço caloroso que iria o transformar em cinzas.

Não me diga que o alarme desligou o elevador? Stiyl pensou com irritação.

Ele tinha ouvido falar que os elevadores eram feitos para parar durante situações de emergência. Pensar nisso deixou Stiyl um pouco deprimido. Ele estava no 7º, descer pelas escadas carregando uma pessoa inconsciente iria ser cansativo.

Mas ele ficou aliviado ao ouvir o barulho de “ding” vindo do elevador atrás dele.

Espera... Quem era? Quem estava no elevador?

Era a primeira noite das férias de verão e ele tinha certeza de que quase todos os estudantes haviam deixado seus quartos. Ele próprio havia confirmado isso. Então quem estava dentro do elevador?

Ele ouviu as portas do elevador fazerem um som metálico ao abrirem. O som de passos no chão molhado pelos sprinklers ecoou no corredor.

Ele lentamente se virou.

Ele não tinha ideia por que seu corpo estava tremendo.

Kamijou Touma estava ali.

O quê? O que aconteceu com o Innocentius? Stiyl questionou.

Pensamentos se reuniram caoticamente na cabeça de Stiyl. Innocentius era como o míssil de um avião de guerra disparado em um alvo travado. Não havia como escapar.

Não importa o quanto você corresse ou se escondesse, ele iria usar suas chamas de 3000 graus para derreter seus obstáculos, não importam quais sejam, e continuaria sua caça. Era ridícula a ideia de que alguém poderia escapar dele correndo por aí dentro de um prédio.

Mesmo assim, ele estava ali.

Ele estava ali, imperturbável, imparável, inatacável.

“Essas runas devem ser gravadas nas paredes e no chão, certo?” disse Kamijou enquanto a chuva artificial caía. “Sério, você é incrível. Para ser honesto, não haveria como eu vencer se você tivesse encravado os símbolos com uma faca.”

Kamijou levantou seu braço direito.

Ele apontou para o teto... para os sprinklers.

“Não pode ser! Essas chamas de 3000 graus não podem ser apagadas por isso!”

“Não seja estúpido. Não estou falando das chamas. Estou falando dessas coisas que você colocou nas casas de todo mundo.”

Stiyl então se lembrou das dezenas de milhares de papéis que ele havia gravado no dormitório.

Papel tinha fraqueza à água. Até uma criancinha sabia disso.

Ao espalhar água por todo o dormitório, não importava se havia dezenas de milhares de runas. Ele não precisava correr pelo prédio, arrancando runa por runa. Tudo o que ele precisava fazer era pressionar um botão e danificar todos os pedaços de papel.

O mago voltou a sorrir.

“Innocentius!”

No momento em que ele gritou, a porta do elevador derreteu e o gigante de fogo surgiu no corredor.

As gotas de água imediatamente evaporavam ao tocar o corpo de chamas do gigante. Com o som do vapor subindo, parecia que ele estava respirando.

“Hahahahahahahahaha!! Impressionante! Você tem o senso de batalha de um gênio! Mas ainda falta experiência. Papel de impressão não é a mesma coisa que papel higiênico. Molhá-lo um pouco não irá dissolvê-lo completamente!” O mago abriu seus braços enquanto sua boca explodia em gargalhadas. Ele gritou, “Mate-o!”

Innocentius atacou como se seu braço fosse um martelo.

“Fora do meu caminho.”

Kamijou Touma apenas disse esta frase. Ele nem mesmo se virou.

Sua mão direita tapeou o gigante de fogo e Innocentius explodiu em todas as direções com um ruído comicamente patético.

“O quê?!”

O coração de Stiyl Magnus parou por um instante após este choque.

Após ser dissipado, Innocentius não reviveu. Seu núcleo negro, parecido com óleo de combustível foi espalhado por todos os cantos. Seus restos ainda se contorciam debilmente.

“Im... possível... Como... Como?! Minhas runas não foram destruídas ainda!”

“E a tinta?” Pareceu ter levado uma eternidade para a voz de Kamijou Touma chegar aos ouvidos de Stiyl. “Apesar do papel não ter sido destruído, a água fez a tinta sair.” Kamijou disse em um tom calmo. “Mas parece que a água não acabou com todas as runas.”

Os restos de Innocentius que ainda estavam se contorcendo separadamente desapareciam aos poucos. Innocentius perdia o resto de seu poder lentamente, conforme a água apagava a tinta nos papéis.

Os pedaços do corpo de Innocentius espalhados desapareceram um por um até o último se dissolver completamente.

“Innocentius... Innocentius!”

Era como se Stiyl estivesse gritando no telefone o nome de uma pessoa que já havia desligado na sua cara.

“Agora que aquilo se foi...”

Uma frase foi o suficiente para paralisar o corpo do mago.

Kamijou deu um passo em direção a Stiyl Magnus.

“Inno... centius...” O mago disse novamente, mas não houve resposta.

Kamijou deu outro passo em direção a Stiyl Magnus.

“Innocentius... Innocentius. Innocentius!” O mago gritou. Mas nada pareceu ter mudado.

Kamijou Touma finalmente começou a correr em direção a Stiyl Magnus.

“C-Cinzas para cinzas, pó para pó, Crucifixo Sangrento Suscetível!” Mas as espadas de fogo não apareceram. Muito menos o gigante de fogo.

A distância entre Kamijou Touma e Stiyl Magnus diminuía cada vez mais.

Ele fechou seu punho.

Ele fechou sua mão direita completamente normal. Ele fechou sua mão direita que era inútil em coisas que não eram relacionadas ao sobrenatural. Ele fechou sua mão direita que não derrotaria um único delinquente, que não iria aumentar suas notas nas provas, e que não iria torná-lo popular com as garotas.

Mas ela podia ser bem útil hoje.

Afinal, ele podia usá-la para espancar o imbecil na frente dele.

O punho de Kamijou afundou o rosto do mago.

O corpo de Stiyl Magnus girou algumas vezes e sua nuca colidiu com o corrimão de metal.

Notas de tradução[edit]

  1. R$2.712,80 em Abril de 2004.
  2. O katakana usado para Matusalina (メトセリン, Metoserin) compartilha semelhanças com o katakana usado para o personagem bíblico Matusalém (メトシェラ, Metoshera). O "Elbr" em Elbrase (エルブラゼ, Eruburaze) possivelmente também possui alguma associação mitológica.
  3. Na comédia, "escada" é um personagem que completa a piada para outro personagem, geralmente sendo mais sério e posturado. Pense no Dedé em "Os Trapalhões", considerado o maior "escada" do humor Brasileiro.
  4. Quando um nativo de Quioto pergunta se um convidado quer comer chazuke, ele pode estar querendo dizer que a pessoa já passou tempo demais lá e está sendo convidada a se retirar educadamente.
  5. O termo usado é イギリス清教 (Igirisu Seikyō, lit. Igreja Puritana Britânica). Essa tradução vai usar os nomes reais das igrejas pois elas eventualmente são escritas desse jeito em inglês em ilustrações futuras, portanto, Igreja Puritana Inglesa = Igreja Anglicana.
  6. Omiai é um costume japonês onde um homem e uma mulher são apresentados um para o outro para considerarem a possibilidade de um casamento. Geralmente o encontro é feito pelos pais dos envolvidos, que tomam um papel semelhante ao dos casamenteiros na cultura ocidental.
  7. "Flag" e "rota" são termos comumente usados em visual novels. Pense em Fate/stay night: se você escolher os diálogos corretos, pontos serão atribuídos a "flags", e com pontos o suficiente, uma "flag" é ativada, travando a história numa "rota" específica.
  8. Enquanto "sociedade mágica" foi escrito em japonês, "Cabalá Mágica" foi escrita em inglês.
  9. Em role-playing games, PM é a sigla para "Pontos de Magia".
  10. Em japonês, 身体検査 (Shintai Kensa, Exame Físico) é exibido com a pronuncia estrangeira システムスキャン (Shisutemu Sukyan), então manteremos o termo estrangeiro "System Scan".
  11. Diferente do nome da personagem, que é escrito como インデックス (Indekkusu, Index), aqui インデックス é apenas a pronúncia estrangeira de 禁書目録 (Kinsho Mokuroku, Índice de Livros Proibidos), possivelmente indicando que a personagem Index e o Índice são a mesma coisa, então manteremos o termo estrangeiro "Index".
  12. Originalmente, "The Book of Eibon", "Lemegeton", "Unaussprechlichen Kulten", "Cultes de Goules", e "rw nw prt m hrw" ou "ru nu peret em heru"
  13. Dos livros mencionados, O Livro de Eibon, Cultos Indescritíveis, Cultos de Carniçais e o Necronomicon são todos partes da literatura arcana nos Mitos de Cthulhu de H.P. Lovecraft. A "Lemegeton" se refere à "Lemegeton Clavicula Salomonis", ou "A Chave Menor de Salomão", um grimório de autoria anônima que foi baseado no "Testamento de Salomão" da mitologia judaico-cristã. Finalmente, o "Livro dos Mortos" é um antigo texto funerário egípcio que também pode ser traduzido como "Livro do Surgimento do Dia".
  14. Em japonês, 神様殺しの槍 (Kami-sama Goroshi no Yari, Lança Assassina de Deus) é exibida com a leitura alternativa de ロンギヌスの槍 (Ronginusu no Yari), então manteremos a leitura alternativa "Lança de Longinus".
  15. Uma referência ao mangá JoJo no Kimyō na Bōken (As Aventuras Bizarras de JoJo) de Araki Hirohiko.
  16. A dama de ferro é o nome de um instrumento de tortura e execução medieval que consiste em um armário de ferro ou madeira com uma única porta e um interior coberto de espinhos e objetos cortantes, alto o suficiente para abrigar um ser humano.
  17. Em japonês, 鉄の処女 (Tetsu no Shojo, lit. Virgem de Ferro).
  18. R$8,68 em Abril de 2004.
  19. Originalmente em Chinês, 姻緣紅線 (Yīnyuán hóngxiàn, lit. Fio Vermelho do Destino), a lenda diz que Yuè Lǎo, um Deus do Amor e do Casamento, toma a forma de um fio vermelho invisível e amarra os calcanhares de duas pessoas. As duas pessoas conectadas pelo fio vermelho estão destinadas a ser amantes, independente do lugar, era ou circunstâncias em que elas se encontram, pois esse cordão mágico pode se esticar ou se enrolar, mas ele nunca se quebra. Na crença popular japonesa, o 運命の赤い糸 (Unmei no Akai-ito, lit. Fio Vermelho do Destino) está amarrado no polegar do homem e no mindinho da mulher, ambos na mão direita.
  20. Como com a Igreja Anglicana/Puritana Inglesa, o termo usado é ローマ正教 (Rōma Seikyō, lit. Igreja Ortodoxa Romana) mas iremos manter o nome real da igreja.
  21. Assim como as outras Igrejas, apesar do termo usado ser ロシア成教 (Roshia Seikyō, lit. Igreja de Realização Russa), iremos com o nome real da igreja.
  22. Um Agathion é um espírito familiar que aparece apenas no meio-dia na forma de um humano ou um animal, ou até mesmo dentro de um talismã, de uma garrafa ou de um anel mágico.


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