Deusa Rouka ~Brazilian Portuguese~

From Baka-Tsuki
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O motivo pelo qual eu decidi expurgar a Deusa do Pântano[1], como vocês todos podem ter adivinhado, foi que ela estava interferindo nos meus empreendimentos comerciais saudáveis e seguros. Que Deus desprezível, destruindo todo o trabalho sincero e fiel que eu estive humildemente fazendo em boa consciência durante os anos como um membro produtivo da sociedade sem nem pensar. Então eu não tive escolha senão proativamente se empenhar em algumas medidas defensivas contra a Deusa do Pântano para proteger os meus direitos. Claro que essa sinceridade e fé eram colocados no dinheiro, e os direitos que eu estava protegendo eram os meus direitos de enganar. E claro que nada disso foi feito em minha boa consciência inexistente. Embora nada disso mude o fato de que declarar tal em minha boa consciência está perfeitamente dentre os meus direitos sinceros e fieis.

Mas, não, mesmo que esse não fosse o caso, mesmo que uma das mentiras na teia de mentiras que eram os amuletos que estive espalhando com toda a minha força, minha tempestade de rumores, uma vez que eles tivessem completamente desaparecido, eu teria de começar novamente, não tendo nem ganhado, nem perdido nada.

"Não se preocupe com isso", "Só deixa pra lá", "Finja que não sabe de nada disso", "O que será, será", "Esqueça-se disso", "Não é como se você fosse morrer ou algo assim"

A Deusa do Pântano tinha usado essas palavras para deixar os meus amuletos inúteis, então eu tinha algo a dizer de volta para ela.

"Eaí, Kaiki-san."

A Deusa do Pântano disse enquanto me acolhia. Surpreendentemente, embora você mal pudesse dizer que ela estava muito séria quanto a isso, a pessoa reverenciada como uma deusa e que se banhava na adoração de todos os estudantes do fundamental na área era uma criança de cabelos castanhos descoloridos vestindo moletom. Seus cabelos descoloridos pareciam mais uma maneira de atormentar o seu corpo do que uma decisão de moda consciente sobre sua aparência.[2]

"? Como você sabe o meu nome? Não me lembro de conhecer nenhuma criança tão podre quanto você."

"Hahaha, veja bem, eu estive tendo vários papos com as crianças que estiveram sendo envolvidas com você, Kaiki Deishuu-san. 'Kai' como uma pilha de conchas, 'ki' como uma árvore morta. Deishuu como 'dorobune', um barco preso na lama. Eu sempre pensei que eles estivessem apenas exagerando quando diziam que você era como se o mau azar tivesse criado um par de braços e pernas. Parece bem verídico pra mim." a Deusa do Pântano disse com um pequeno riso, então pegou um pacote de chicletes do bolso de seu moletom. Então, ainda com aquele sorriso frívolo em seu rosto, mas com um tom de voz afiado, ela disse, não recuando nem um passo.

"Você deve ser um adulto horrível, enganando crianças desse jeito."

"O que nós estamos fazendo é praticamente o mesmo. Embora, diferente de mim, você possa dizer que está enganando pessoas, mas que apenas um idiota caíria nos seus truques."

"Só tô atirando coisas contra a parede e vendo o que gruda, ainda tô passando as dobras, sabe? Eu não cresci enganando as pessoas ou sendo enganada eu mesma, então ainda sou uma iniciante. Eu sei que você é um pro e tudo mais, então me dá um descanso se eu não sou exatamente uma vigarista mestre ainda. Sinto muito se minha pequena brincadeira de criança tá ficando no caminho do seu esquema enganoso. Eu realmente sinto."

Eu nunca ouvi palavras menos sinceras. E isso está vindo de alguém sem um cisco de consciência. Por um capricho, ou talvez porque eu estivesse ficando um pouco irritado, decidi elogiar essa criança um pouco.

"Não seja tão humilde, na verdade você não é ruim. Você até mesmo conseguiu limpar todos os rumores que estive espalhando por aí. Eu aprendi uma coisa ou duas que posso usar no futuro."

Eu tinha dito isso por um capricho para fazê-la pensar que eu estava realmente a elogiando, mas essa pode não ser uma má ideia realmente. O repertório de um vigarista somente cresce incorporando novas ideias jovens. Mas acho que as ideias de uma criança do primário ainda seriam jovens demais.

"Não tô no primário. Na verdade, eu me graduei do ensino fundamental faz pouco tempo."

"É mesmo, todas as crianças como você parecem o mesmo quando se é da minha idade."

"Muitas pessoas me dizem que é difícil se aproximar de mim porque eu ajo como uma adulta."

"Acho que isso significa somente que elas não gostam de você. Eu conheço alguém bem assim."

"Hmm... Alguém assim, é? Tanto faz."

A Deusa do Pântano tirou cinco pedaços de chiclete do pacote com o qual ela tinha estado brincando de uma vez e os jogou para dentro de sua boca. Crianças de hoje em dia, sem maneiras, mas eu acho que mascar chiclete é a maneira dela de se aquecer.

"Quer um?"

"Eu não gosto de doces. Eu sou um adulto. Um crescido. A única coisa que os adultos querem é dinheiro, ou promessas. Vou ficar bem se você me prometer que não ficará mais no meio dos meus negócios."

"Claro. Entendi. Não vou mais ficar no seu caminho."

Na superfície ela me prometeu logo de vez. Mas como um profissional em contar mentiras, eu nunca vi uma mentira mais óbvia. Era mais como se ela tivesse apenas vindo me pedir para manter o status quo entre nós seguindo no futuro.

O que mais seria?

Do meu ponto de vista, o "aconselhamento de vida" bobo da Deusa do Pântano está começando a ser um problema real para o meu negócio. Mas do ponto de vista dela, as pequenas e amáveis enganações que estive espalhando por aí como a praga é o único motivo pelo qual ela ainda consegue fazer sua coleção de desgraças por aí.

Nossos objetivos são completamente diferentes.

Como dizem, o médico só está no negócio porque as pessoas adoecem. Embora a única maneira em que a Deusa do Pântano pode tratar seus pacientes é com o efeito placebo.

"Infelizmente, parece que a negociação quebrou. Minha única opção agora é lhe esmagar tão impiedosamente que você nunca será capaz de fazer negócios aqui novamente."

"Você não é muito maduro pra um adulto, não é."

Ela não recuou nem uma polegada da minha ameaça. Imagino que isso seja o que eles querem dizer com "torce, mas nunca quebra". Ou talvez ela pense que eu não esteja sério. Se é assim, isso estaria correto. Sério, até mesmo eu não faço ideia de quando estou sendo sério. Talvez eu nunca esteja.

"Não precisa ser tão direto, Kaiki Deishuu-san. Quer dar uma tentativa ao meu 'aconselhamento de vida'? Veja como é jogar todos os seus problemas no meu pântano profundo."

"Jogar os meus problemas no seu pântano profundo? Você está tentando agir como um fantasma ou algo assim?"

"'Cai fora do meu pântano!', acho que isso é mais parecido com um monstro do pântano[3]. Deishuu, como um barco preso na lama... lama e pântano. Pântano lamacento, pântano lamacento."

A Deusa do Pântano riu das suas próprias piadas incompreensíveis. Ela realmente parecia ainda estar no ensino primário quando ria. Ela disse que já se graduou do ensino fundamental? Agora que penso nisso, parece que ela poderia estar no ensino médio... Na verdade, não, não parece. Não tenho nenhum motivo para dar a ela o benefício da dúvida, mas mesmo com isso ela parece estar, no máximo, no ensino fundamental. Imagino que a aparência não conte para muito.

"Não importa o que você jogue, não posso te dar de volta um machado de ouro ou de prata ou algo assim[4]. Não sou cortada por ser uma deusa. Tudo que sou é uma Deusa do Pântano."

"Você está se oferecendo a tomar minha desgraça, então?"

A Deusa do Pântano escuta os contos das pessoas de suas desgraças, então quietamente os leva embora. Ela não aceita nenhuma compensação em retorno, com o qual eu não concordo particularmente, mas para resumir, a desgraça em si é o que ela leva como sua compensação. Ou assim diz a história.

"Interessante."

Eu disse, porque eu não estava nem um pouco interessado.

"Tudo bem, então me escute. Na verdade, no momento eu tenho algo na minha cabeça que está realmente me dando problemas. Isso me deixa acordado a noite inteira e está me fazendo ficar miserável. Então, há apenas pouco tempo, eu estive me encontrando com essa garota do ensino médio, mas ela descobriu que eu só estava nessa pelo dinheiro, e eu estive fugindo desde então. Estou enlouquecendo ao olhar por cima do meu ombro o dia inteiro pensando que ela virá me esfaquear ou algo assim, e é por isso que comecei a fazer todas essas coisas ruins que nunca quis fazer. Isso me deixa meus nervos no limite, sabe. O que você acha que eu devo fazer?"

Eu tinha acabado de pensar nessa história na hora e percebi que situação irrealista era a de pedir conselho sobre ela. Mas a Deusa do Pântano não prestou nenhuma atenção a minha mentira dolorosamente óbvia.

"Não se preocupe com isso."

Disse ela.

"Só deixa pra lá, finja que não sabe de nada disso, o que será, será, esqueça-se disso, não é como se você fosse morrer ou algo assim. Sacou?"

"... Tenho certeza de que é isso que você diz a todo mundo, mas ela realmente me disse que iria me matar, sabe?"

Eu esperava colocar alguma pressão na Deusa do Pântano com um pedido grave, algo que uma criança não poderia contornar com algumas palavras espertas. E então eu contei mentira após mentira.

"Mesmo que eu me esqueça disso, ela nunca me deixará escapar pelo resto da vida dela."

"Não mesmo, na verdade você não é tão importante pra ela. Você tá certo de que ela pode realmente querer te matar agora, mas eventualmente algum cara legal vai chegar e curar todas as feridas que você deu a ela."

"..."

"Ela nem tá tão magoada quanto você pensa. Você logo será uma memória no passado. Então não se preocupe com isso."

Ela não tinha nenhuma prova para nada que estava falando. Tudo que ela estava fazendo era seguindo seu plano usual, eu podia dizer. Ela era certamente uma iniciante inexperiente e não exatamente muito eloquente em seu discurso, mas ela ainda estava realizando uma boa enganação. Eu estava apenas a elogiando antes, mas essa criança provavelmente poderia enganar a maioria dos adultos também.

Mas não eu, obviamente.

Eu duvido que realmente exista algum "cara legal" por aí que faria um bom par com ela, e "ela" sequer existe, em primeiro lugar. Ela não existe.

Dito isso, tendo visto as técnicas dela, eu não poderia somenter sair sem mostrar a ela nada em troca. Eu posso amar o dinheiro, mas eu não gosto de ficar em dívida.

"Deusa do Pântano. Já que nós estamos ambos aqui, por que eu não lhe mostro uma das minhas técnicas."

"Não, obrigada, eu tô bem. Não tô interessada em nenhum amuleto."

"Vamos lá, não precisa ser de imediato ou algo parecido. Estou pensando que nós podemos ter um longo caminho com o outro no futuro."

"Fico contente que pense assim, vamos nos desejar que fiquemos bem. Então, o que você vai fazer?"

"Relaxe, não é nada perigoso. Eu só estava pensando em apresentar uma cliente a você que eu acho que você seria capaz de ajudar alguma vez não tão distante de agora. Eu acho que você tem muito potencial, isso é tudo."

"Uma cliente? Você quer armar um acordo de troca comigo ou algo assim?"

Eu não disse nada em resposta à pergunta da Deusa do Pântano.

No lugar de uma resposta, eu disse:

"É realmente algo que eu deveria tá fazendo, mas eu fico cansada das coisas rápido e não tô realmente fora pra coleção. Então eu te deixo fazer o trabalho, eu confio você a ele."

"Deusa do Pântano, um dia todas as desgraças que estiveram depositadas no fundo de você irão se empilhar e aparecer na superfície. E você se encontrará com uma amiga da qual você se esqueceu sobre. É essa a lição que você deveria estar aprendendo por me encontrar. Então quando essa hora chegar,"

Tenha certeza de não perdê-la.

O Deus Pântano tinha uma aparência suspeitosa em seu rosto. Ela provavelmente estava se preparando para não ser enganada, mas na realidade isso era completamente inútil.

Ela já tinha se enganado a pensar que sua vida não era cheia de desgraça.

Tomando as desgraças de outras pessoas.

Eu não tive que fazer nada para enganá-la.

Sem mencionar que eu não tenho nenhum dever de abrir os olhos dela. Mas porque um dia eu terei que tomar esse dever.

Deusa do Pântano.

Deixe-me lhe dar um demônio.

Notas do Tradutor[edit]

  1. Nesta história, Kaiki se refere à Numachi como "Deusa do Pântano (Numagami-sama)" porque "Numa", de "Numachi", significa "Pântano".
  2. Descolorir o cabelo costumava ser, e ainda é, um estilo de cabelo do tipo jovem e rebelde no Japão.
  3. Ela está fingindo ser o 泥田坊 (dorotabou), um monstro de um folclore antigo que apareceria noite após noite saindo de um arrozal (que são muito lamacentos no fundo) e gritando "Me devolva o meu campo!". O nome dele significa literalmente "Garoto do Campo Lamacento".
  4. Ela está se referindo a uma das fábulas de Aesop chamada de O Lenhador Honesto, onde um homem derruba seu machado num rio e o deus Hermes puxa um machado de ouro e então um machado de prata do rio e pergunta ao homem qual deles é o seu para testar sua honestidade.


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