Gekkou:Volume 1 No Café

From Baka-Tsuki
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No Café[edit]

Capitulo 4[edit]

Subitamente, Tsukimori veio até a minha mesa, com um sorriso terno como os raios de sol que brilham através das folhas das árvores, e, com uma voz suave como uma gentil brisa de verão, disse:

— Então, vamos sair, Nonomiya-kun?

O tempo parou na sala de aula barulhenta. Pelo menos na minha mente sim. Todo mundo parou o que estava fazendo e olhou para nós. Usami foi a primeira a se recuperar.

— Hein...? Youko-san? Você vai sair com o Nonomiya? Por quê? Hã?

Sua perplexidade fazia com que ela parecesse com um daqueles cucos que pulam de hora em hora em relógios.

— Eu queria ir ao café onde o Nonomiya-kun trabalha, já que ouvi dizer que lá é muito confortável. Como você sabe, eu estava muito ocupada antes, então estou meio cansada e estava pensando em relaxar um pouco e desfrutar de uma xícara de café. Bom, foi por isso que eu procurei o Nonomiya-kun!

Tsukimori obviamente falava considerando que estávamos sendo observados pelos nossos colegas de sala.

— Isso é verdade, Nonomiya?

Já era de se esperar que eu fosse o próximo alvo das perguntas.

— É sim.

Assim, de alguma forma eu consegui não revelar meu descontentamento.

— Talvez eu devesse ir com vocês...

Eu quase desmaiei após ouvir seu sussurro. Tsukimori sozinha já era problema suficiente; eu não poderia lidar com elas duas ao mesmo tempo.

— Você não precisa ir no treino?

Usami estava no clube de vôlei. Ela era superdotada com uma força nos seus braços que não correspondia a seu pequeno corpo: suas cortadas faziam os garotos parecerem uns velhos. Lembro-me muito bem de como fiquei aliviado de estarmos no mesmo time após presenciar sua cortada durante a Educação Física.

— E-Eu faltarei!

— Não faça isso. Não foi você mesma que disse que só agora estava à beira de se tornar uma titular? Seria tolice faltar às atividades do clube nesta fase tão importante. Usami comprimiu seus lábios em uma linha e resmungou com um olhar carrancudo.

— Nós iremos juntos em outra oportunidade, Chizuru. Hoje, eu memorizarei onde é o café por você, ok?

Tsukimori reprovou-a gentilmente, como uma carinhosa irmã, de tal forma que Usami obedientemente fez que sim com a cabeça. Um problema resolvido. Agora eu tinha de me livrar do restante.

— É realmente só você que virá, certo? Se o bando inteiro vier também, eu terei de recusar, pois isso apenas causaria problemas ao café.

Esse era o trato. Mostrei a Tsukimori que apenas daria meu consentimento se ela cumprisse essa condição.

— Não se preocupe, nossos colegas de classe são muito gentis, nunca causariam problema algum — assegurou-me com o sorriso de uma dama. — Até amanhã, pessoal.

Ela graciosamente acenou para seus colegas de turma.

Eles certamente queriam aproveitar esta chance. Os rapazes, Kamogawa incluso, e as garotas que admiravam a Tsukimori exibiam claramente sua decepção com isso. Mas nenhum deles jamais pensaria em trair a confiança da angelical Youko Tsukimori.

Mas, igualmente, eu não era capaz de fazer nada contra a situação que ela criara. Eu não tinha escolha além de contrariadamente acompanhá-la.

Tsukimori caminhava a passo leves em direção ao portão da frente.

— O que você está tentando fazer? — perguntei-lhe sem esconder meu mau humor.

Tsukimori se virou, fazendo seu longo cabelo flutuar.

— Estou muito curiosa a respeito do café onde você trabalha — disse ela, sem esconder seu bom humor.

— Me responda! Você deve saber que eu detesto ficar por fora.

— Foi por isso que eu tentei prevenir um tumulto, não foi?

— Não muda o fato de que atraímos atenção.

— Mas que sorte, hein?

— E de quem é a culpa...? — Seu comportamento intrépido me irritava. — Afinal, quem te contou que eu trabalho em um café?

— Ouvi alguns rumores!

— Não minta.

Era de conhecimento comum que eu tinha um bico em algum lugar, mas nunca contei a ninguém da escola que eu trabalhava em um café.

— O que você quer?

— O que você pensa que eu sou, Nonomiya-kun? Não é nada estranho desejar saber mais sobre a pessoa que se ama, é? Pode chamar de sentimentos puros de uma dama apaixonada.

— Você se julga uma dama de pensamentos puros? Ridículo. Deixe-me contar uma coisa: você está longe de ser inocente — zombei.

— Sabe, parecer madura pode ser um verdadeiro incômodo às vezes. Ainda sou nada mais que uma garota de dezessete anos. Além disso, recentemente perdi meu pai, então, acho que você deveria ser um pouco mais gentil comigo, Nonomiya-kun — replicou Tsukimori

fazendo um biquinho. Fiquei surpreso em ver que ela também podia fazer essas expressões infantis. Mas não iria mais longe que isso. É claro que eu sentia muito por ela, mas, no fim, isso não era da minha conta.

— Até amanhã.

Acelerei meu passo e me distanciei da Tsukimori.

— Onde você está indo? Esse aí é o portão dos fundos.

— Diferente de você, eu venho de bicicleta e não de trem. Se conseguir acompanhar minha velocidade, talvez eu te ajude guiando-a até o café, que tal?

Fui bem frio. Eu não queria me dar ao trabalho de ajustar-me aos outros. E me importaria muito menos com alguém que tentasse entrar no meu território sem minha autorização.

— Tudo bem, pode ser. Espero que minhas costas não fiquem muito doloridas, mas, bem, eu sempre quis fazer isso.

Contudo, Tsukimori era muito menos indefesa do que eu esperava. Antes que percebesse, ela estava andando ao meu lado.

— No que você está pensando?

— Eu sempre quis fazer isso ao menos uma vez! Andar de bicicleta à dois.

— Quem disse que eu vou levar você?

— Não se preocupe. Não devo ser muito pesada.

— A questão não é essa. Eu estava irritado. Como ela não mostrava qualquer inibição, decidi falar o que queria sem me reprimir também. À deux: Do francês: “a dois”.

— Admito que deveria ser mais delicado com você, já que perdeu seu pai há pouco tempo. Contudo, eu não sinto como se tivesse de dançar conforme sua música; ao menos, não como os outros. Nem todos serão atenciosos com você, lembre-se bem disso. Agora que conheço a sua verdadeira natureza, ainda posso sentir um pouco de simpatia mas, certamente, não lhe serei favorável — censurei-a.

— Mmm! É desse jeito que o meu Nonomiya-kun deve ser. —Tsukimori balançou a cabeça fortemente, fazendo uma cara de satisfação. — Amo essa atitude desinibida.

Minhas palavras tiveram o efeito oposto. Enquanto tentava afastá-la, acidentalmente eu a atraía ainda mais. Vendo-me perder a fala, ela mostrou seu ocasional “sorriso de irmã mais velha”.

— Você não poderia me dar uma chance? Percebo agora que a minha confissão de ontem foi muito precipitada! Assim como você não sabe como realmente sou, eu também ainda não o conheço direito. Acho que é necessário a nós dois aprofundarmos nosso conhecimento mútuo. Ainda não é tarde demais para tomar uma decisão após nos conhecermos melhor, certo?

Sua opinião era bem razoável. Mas olhando para trás, para o que acontecera até aquele ponto, eu não conseguia acreditar cegamente em suas palavras. Olhei diretamente nos olhos da Tsukimori. No que ela estava pensando? Ela não evitou meu olhar nem um pouco. Em seus grandes olhos castanhos eu podia ver claramente meu próprio reflexo. No fim, fui eu quem me rendi. Eu libertei ela do meu olhar e montei na minha bicicleta.

— Suba. — Obrigada!

Ouvi sua voz cheia de alegria. Depois de ela subir na garupa, parti. Ela era leve, assim como tinha dito.

— Prometa-me que não fará mais nada que possa chamar atenção para mim como fez hoje.

— Esforçarei-me para tal.

— Não, não diga que só vai se esforçar, me prometa.

— Nonomiya-kun, o vento é tão agradável. Andar de bicicleta juntos é ainda melhor do que eu imaginara.

Observei nosso reflexo em um espelho de rua. Tsukimori estava segurando sua saia com a mão direita, me envolvendo com seu braço esquerdo, e sorrindo ofuscantemente enquanto contemplava a vista da cidade pela qual passávamos. Completamente incapaz de continuar reclamando com a garota que confiara seu corpo a mim, apenas respondi:

— Sorte sua.

Continuei a impulsionar a bicicleta enquanto canalizava todo o meu descontentamento e desgosto reprimidos em pedalar. Talvez por inveja ou ciúmes, senti os intensos olhares dos outros estudantes que iam para casa. Ficou claro de quem era a culpa, já que nunca sentira isso enquanto andava de bicicleta sozinho.

Eu estava passeando de bicicleta com Youko Tsukimori na garupa.

Esse era um daqueles doces momentos dignos de serem chamados de “lembranças da adolescência”. Eu, no meio desse período da vida, provavelmente deveria me orgulhar de tal evento pelo qual qualquer um me invejaria. . Para falar a verdade, eu estava orgulhoso o suficiente ao ponto de sentir uma sensação de superioridade, acreditando que não havia mais ninguém que pudesse ter algo tão nobre como ela em sua garupa.

Bem, isso durou apenas pelo pouco tempo em que esqueci a sua personalidade problemática e a receita de assassinato.

Durantes as próximas horas eu claramente seria transformado em seu brinquedo, então, precisava estar emocionalmente preparado. Eu tinha aceitado o pedido de Tsukimori. A razão era simples: eu estava interessado nela.

Além disso, chame de característica minha ou apenas de uma preferência: eu adorava aquelas conversas emocionantes com ela.

Vesti meu uniforme de garçom na sala dos funcionários, pus as apertadas calças pretas, abotoei a minha camisa branca e o colete preto que ia por cima, enfiei o par de sapatos de couro e por último coloquei o longo avental ao redor dos quadris. Depois de conferir minha aparência no espelho, só para ter certeza, fui em direção da cozinha. No momento em que entrei na cozinha, meu nariz foi excitado pela pelo cheiroso aroma dos grãos de café, um cheiro que eu adorava.

A razão pela qual eu havia escolhido trabalhar no café de estilo britânico, Victoria era, de fato, porque o melhor café da vizinhança era servido aqui. Ao me avistarem, meus colegas me cumprimentaram.

— Senhor Kujirai? — Dirigi-me às largas costas do homem que triturava café em um moinho de mão. O robusto destinatário de óculos virou-se em minha direção com um sorriso caloroso. Continuei: — Eu estou encarregado de servir as mesas hoje, mas posso trocar com alguém da cozinha?

— Qual é o problema?

— É uma coisa pessoal, estou receoso, para falar a verdade, um dos meus colegas veio aqui hoje.

— Hã? Por que você quer mudar seu posto, então?

— Bem, eu não serei capaz de ficar na companhia do meu colega. Além do mais, não é um pouco constrangedor ser observado enquanto trabalha? Como se eu fosse deixar ela me observar! Sabia que minha resistência era infantil, mas essa era minha última chance depois de ter falhado miseravelmente em impedi-la Houve alguém além do gerente que reagiu intensamente às minhas palavras.

— Ei, Nonomiya! É um cara ou uma garota? — perguntou a mulher que estava vestida como uma confeiteira e que colocava algumas frutas em um parfait logo ao meu lado.

— Se for um cara eu troco com você. Se ele for do meu tipo, é claro!

Todo o pessoal fez uma careta, como se tivesse tomado um remédio amargo, quando perceberam que o mau hábito da Mirai-san havia reaparecido.

O nome completo dela era Mirai Samejima. Mirai-san era a integrante mais velha do pessoal do Victoria, e até mesmo o gerente tirava seu chapéu para ela.

Segundo ela, ainda estava na universidade, mas olhando como se portava mais importante que o gerente em alguns dias (entenda-se por “todos os dias”), me passava a impressão de ser mais velha que isso.

— Desculpe te desapontar, Mirai-san. É uma garota!

— Hum. Bem, o fato de que você trouxe uma garota para cá me deixou muito interessada.

Mirai-san

Com movimentos habilidosos Mirai-san rapidamente finalizou o parfait e, depois, jogando um pedaço de chocolate na sua boca, foi até o balcão de onde poderia ter uma vista das mesas.

— Quem é ela? Vamos lá, conte!

Ela, por sobre o balcão, espiou a loja enquanto rolava o pedaço de chocolate em sua boca. O resto do pessoal também não perdeu a chance e escaneou o café por trás dela.

Eu esperava que alguém os repreendesse pela conduta bisbilhoteira, mas até mesmo aquele em posição de fazer isso, o gerente, estava espiando com o rosto cintilando de curiosidade. Desistindo, confessei:

— É ela.

E apontei para Tsukimori que havia pegado um assento próximo à janela e estava sentada como uma indescritível dama bem-educada.

Uma onda de ânimo surgiu no pessoal. A reação positiva dos rapazes era tão grosseira que eu me sentiria como um idiota se tivesse dito que esperava isso deles.

— Maldição! Que linda! Boa demais para você, Nonomiya, isso é certeza!

Mirai-san estava aparentemente irritada com alguma coisa e desferiu seu punho de ferro na boca do meu estômago.

— Alguém sabe por que eu mereço ser socado? Minha questão trêmula encontrou apenas olhares de desprezo.

— Você sempre age como se não se importasse com amor nem nada, mas fica agindo escondido, hein, seu arrassa corações!

Aparentemente, Mirai-san acha que eu e Tsukimori somos namorados.

— Mirai-chan e seu novo namorado não têm se entendido muito bem ultimamente, sabe... — sussurrou o gerente em meu ouvido.

— Então é apenas uma questão de tempo até eles se separarem, suponho.

— Provavelmente. — Ele acenou depois de ter recuado de novo.

Mirai-san poderia ser considerada bonita se ficasse calada. De fato, ela muitas vezes era abordada pelo sexo oposto. Contudo, infelizmente, sua aparência era arruinada por sua personalidade inflexível, que também era o motivo de seus relacionamentos nunca durarem muito. Pelo menos eu não conheci nenhum que tivesse durado.

— Hmm?! Saruwatari?! Se apaixonando por todas ou o quê?!

—N-Não estou! Não estou apaixonado nem nada do tipo!

—É melhor que continue assim!

O sacrificado de hoje era o Saruwatari-san. O chute certeiro de Mirai-san atingiu-o bem nas nádegas.

Todas as vezes em que ela não estava se dando bem com seu namorado ou quando rompia com um, seu humor despencava em queda livre.

E nós do Victoria apenas chamávamos essa Mirai-san mal-humorada de "a fera". Infelizmente, no entanto, não havia nenhum herói disfarçado no nosso café. Logo que a besta ficava furiosa, não havia jeito senão sobreviver à tempestade.

— Senhor Kujirai, eu estou indo servir as mesas.

— C-Certo, boa sorte.

A discrição é a melhor característica do heroísmo, afinal.

Da cozinha ressoavam os gritos do pobre homem que se tornara a vítima da besta.

Nosso café não era muito grande: tinha oito mesas e seis cadeiras de balcão. O quadro de pessoal era composto por 5 pessoas, duas atendiam a clientela enquanto os outros trabalhavam na cozinha. Mas eu gostava muito daquela atmosfera tranquila e confortável.

O astral daquele café de estilo britânico era mantido pelas antigas mesas e cadeiras devidamente escolhidas. As variadas decorações de bom gosto aparentemente haviam sido selecionadas pela esposa britânica do gerente. A propósito, o nome do café fora tirado do primeiro nome dela.

Como o Victoria era localizado no primeiro piso de um edifício de vários andares próximo à estação e tinha um interior que agradava às mulheres, vinham aqui, comparativamente falando, muitas jovens, como secretárias e colegiais.

Quando fui pegar seu pedido, Tsukimori me examinou da cabeça aos pés.

— Seu uniforme de garçon é muito elegante.

"Garçom" deveria ser o termo correto para se referir a este cargo considerando que o café era projetado no estilo Britânico, mas a versão em frânces, "garçon", aparentemente era mais comum aqui pelo Japão.

Já que julgara isso muito trivial para corrigi-la, apenas a agradeci casualmente com um sorriso.

— Obrigado —, e adicionei: — O café combina com você.

Tsukimori sorriu de volta e respondeu:

— Obrigada.

Eu estava sendo honesto. Uma bela garota em um café sempre faz um bom cenário.

— Os funcionários são bem animados, não são? Ela olhou para a cozinha.

— Dava pra ouvir o barulho daqui? Isso com certeza é um problema para uma cafeteria ou restaurante.

Coloquei um copo de água e uma toalha úmida sobre a mesa.

— Mas parece divertido.

— Não estou tão certo quanto a isto. Alguns começam até mesmo a chorar de vez em quando. De qualquer forma, eu confio no nosso estabelecimento. E nenhum dos nossos pratos deixa a desejar.

— Entendo. Então eu vou querer uma xícara desse café gostoso. E, por favor, adicione um confeitado que você recomende ao pedido.

— Então, que tal nossa mistura da casa mais uma torta de maçã feita a mão do dono? Já que Tsukimori concordara, me inclinei respeitosamente e disse:

— Certamente. Eu repassei o pedido para o pessoal da coinha.

— Você certamente é um cara hostil. Mirai-san fazia caretas em vez de comida.

— Você acha? Na verdade eu estou tentando ser o mais amável possível quando atendo os clientes.

— E quando isso acontece? Para mim, não tem diferença nenhuma. Sério, o que a faz gostar de um cara como você?

Sua sobrancelha levantou-se enquanto ela ceticamente checava Tsukimori.

— Esqueci de mencionar, mas ela não é minha namorada.

— Ela não é?

— Não. Apenas uma colega.

— Então me diga o que o que essa bela e pura colega quer de você.

— Não de mim, do café. Aparentemente ela é fã de cafés. Uma vez que não existiria mérito nenhum em contar-lhe a verdade, eu apenas inventei algo.

— Só por isso? Que chato.

— Como sempre, você é tão egocêntrica que quase chega a ser animador. Eu tinha plena certeza de que você ficaria irritada mesmo se ela fosse minha namorada.

— É animador porque sou honesta! Para começo de conversa, eu acho que deve ter algo de errado com aqueles que ficam contentes pela felicidade dos outros. Eles, ou são hipócritas, ou então devem estar planejando alguma coisa.

— Uma opinião adorável carregada de preconceito, devo dizer. No entanto, eu não era tão indiferente quanto aparentava. Sendo sincero, na minha mente eu até que concordava com ela. Seria por causa da minha personalidade distorcida?

Senti-me inclinado a perguntar a ela o que era “certo” na sua opinião e que era “errado” do ponto de vista de qualquer outra pessoa a respeito de um determinado assunto.

— Mirai-san, posso a perguntar uma coisa?

— Pois sim? O que é?

— O que você pensa de uma pessoa que não lamenta sua própria desgraça?

— Soa estranho para mim — respondeu rápida e ríspida, como um tiro. — A desgraça é chamada assim porque faz você ficar triste, não é? Se você não fica triste, então não pode chamar isso de desgraça.

— Entendo.

Dessa vez realmente mostrei como estava de acordo com palavras. Lancei um olhar de soslaio para Tsukimori.

Cansada de esperar ou simplesmente interessada na decoração do café, ela olhava a loja ao seu redor. Aparentemente, o conjunto de gatos de cerâmica branca e vidro escuro estava ao seu gosto. Ela se levantou e foi examinar mais de perto.

Quem no café iria supor que ela era na verdade uma desafortunada garota que perdera seu pai recentemente? Acredito que ninguém.

Ninguém jamais conseguiria vê-la emocionalmente instável. Ela sempre parecia calma e madura.

Não sei se ela propositadamente controlava seus sentimentos ou se simplesmente não era do tipo de pessoa que os mostrava, mas, para mim, ela não parecia triste de forma alguma.

É claro que não era impensável que ela simplesmente não queria preocupar as pessoas ao seu redor e estava desesperadamente escondendo sua tristeza. Ou talvez que isso fosse uma reação normal para uma garota que passa por esse tipo de choque. Afinal de contas, o finado não retornaria, e ficar de luto para sempre não pode ser chamado de saudável.

Mas esses eram apenas fragmentos de teoria. É realmente possível alguém lidar com seus sentimentos em tão pouco tempo? Especialmente com a tristeza?

Eu relembrei das palavras da Mirai-san. De fato. Isso parecia suspeito.

A sobremesa foi capaz de satisfazer os gostos de Tsukimori.

— Delicioso — elogiou enquanto finalizava alegremente seu café e sua torta de maçã sem deixar nenhuma sobra.

Fui até sua mesa para limpar.

— Tudo estava ao seu gosto? Minha pergunta fez Tsukimori lançar-me um olhar descontente.

— Está me dizendo para ir embora?

— Vejo que você entende rápido.

— Eu realmente gostei deste café. Ela sorriu como se fosse começar a cantarolar a qualquer momento.

— Ah, obrigado por dizer isso. Mas não esqueça de que há vários cafés diferentes pelo mundo. Você deveria experimentá-los também.

— Eu realmente gostei deste café — repetiu Tsukimori exatamente com o mesmo sorriso e com as mesmas palavras.

— Vejo que às vezes você não entende tão rápido — repeti maioria de minhas palavras também.

Tsukimori levantou-se de repente e avançou em direção ao interior da loja, aparentemente na direção da cozinha. Quando eu, por curiosidade, a segui, ela estava naturalmente cumprimentando o pessoal e sorrindo como uma flor desabrochando.

— Prazer em conhecê-los.

Estava na cara que sua rosada saudação aturdiu o pessoal. Aparentemente todos estavam um pouco excitados com relação a ela. Bem, exceto a Mirai-san, que permanecia indiferente.

— Eu sou Youko Tsukimori, uma colega de classe do Nonomiya-kun. — Ela se apresentou com boas maneiras.

— Ah, sim, o Nonomiya-kun nos contou — respondeu o gerente respeitosamente, mesmo sendo bem mais velho que ela.

— Tenho que dizer que este pequeno café é adorável.

— Muito obrigado!

O gerente corou de leve, comovido pelo seu sorriso radiante.

— Eu tenho tanta inveja de vocês...

O pessoal olhou para ela surpreso. Uma garota, a quem parecia não existir nada que pudesse invejar, estava com inveja deles.

— Pois vocês têm o privilégio de trabalhar em um café maravilhoso como esse.

Youko Tsukimori parecia simplesmente deslumbrante, radiante naquele entardecer. Talvez fosse apenas por causa da luz de fundo do pôr do sol, mas naquele exato momento todos estavam fascinados por sua aura excepcional.

— Eu não consigo nem ao menos imaginar quão prazeroso deve ser trabalhar num lugar tão formidável.

Sendo a pessoa naquela sala que tinha mais resistência a ela, sorri ironicamente para aquela atitude de estrela. Além disso passou também pela minha cabeça que ela foi longe demais com aquele exagero exorbitante.

Contudo, as próximas palavras do gerente apagaram o sorriso dos meus lábios:

— Hum, Tsukimori-san, você estava querendo dizer que...

— Sim?

— Você gostaria de trabalhar aqui?

— Senhor Kujirai...

Eu não podia ficar calado. Eu precisava preveni-lo de cometer um grande erro. Fausto, você está barganhando com Mefistófeles!2

Porém, alguém segurou meu ombro e me puxou de volta. O cheiro de chocolate pairava no ar.

— Apenas assista — disse Mirai-san com um sorriso maligno. Aqui estava outro demônio.

Você está barganhando com Méfistófeles: Referência à obra literária “A Trágica História do Doutor Fausto”, onde Fausto barganha com um demônio para obter poder e conhecimento.

— Err, na verdade, nós temos uma vaga no momento. E já que você é colega do Nonomiya-kun, não temos que nos preocupar com sua procedência. Então, se você quiser, será um prazer admiti-la, Tsukimori-san.

Os outros funcionários também acenaram com suas cabeças em sinal de acordo. Foi exatamente como hipnóse em grupo. Eles provavelmente foram mesmerizados pelo demônio e perderam suas mentes.

— Eu estou realmente muito feliz pela sua oferta, mas... Eu seria de alguma serventia? Para falar a verdade, e nunca trabalhei em lugar nenhum antes — respondeu hesitante Tsukimori depois de vacilar um tempinho.

— Não, não, não se preocupe! Todo o mundo tem que começar em algum lugar. Além disso, eu estou confiante de que você, alguém com uma educação extraordinária, é perfeita para esse tipo de negócio!

É claro que a sua aceitação entre os clientes seria fora de série! Eles conseguiriam ver apenas seu lado superficial, afinal de contas.

— Eu, com muito prazer, aceitarei sua oferta, já que tem tanta confiança assim em mim —respondeu Tsukimori com um sorriso brilhante.

Todos a cumprimentaram calorosamente sorrindo também. Fui o único que fez uma cara azeda ao mesmo tempo que me sentia terrivelmente excluído do grupinho de boas vindas.

Pois eu sabia melhor do que ninguém.

Sabia que havia uma personalidade ousada e determinada escondida por trás de sua aparência, que mostrava apenas uma bela garota com seu excelente caráter, e que, desse modo, era amada por todos.

Para piorar as coisas, a brilhante Tsukimori estava bem ciente de sua própria atratividade. E só agora eu compreendera que ela também sabia como usar isso corretamente.

— Por que os homens são tão fracos se tratando de garotas bonitas? —sussurrou Mirai-san ao meu ouvido depois de me puxar pelo ombro, com o balcão entre nós.

— Boa pergunta. Afinal de contas, os caras desse café também são todos uns “fracos” contra você — respondi casualmente.

— Quando é você que elogia, parece que tem algo errado. Mas não é uma coisa ruim, deixe-me afagar sua cabeça como recompensa.

A mão da Mirai-san aproximou-se da minha cabeça, mas recusei melancolicamente.

— Não estou com humor para isso. Por favor, não me constranja ainda mais.

— Não precisa ser tão fechado! Se quiser, posso até lhe dar um pedaço de chocolate, quer?

— Está tudo bem para você? Você não é contra a contratação da Tsukimori?

— Você queria que eu me opusesse, não é?

— Bem, apenas sua oposição seria capaz de acabar com esse clima de acolhida.

— Não há por que se incomodar. Não existem razões para me opor.

— Por quê? Eu estava surpreso de que Mirai-san permitiria tal farsa.

— Porque é divertido pra cacete ver você protestar abertamente quando normalmente age de maneira tão fria!

Mirai-san gargalhou.

— Está ciente de quão cruel sua personalidade é?

— Você é pior que eu, certo? Se minha intuição não me falha, Tsukimori não é do tipo de mulher que um cara fraco como você conseguiria lidar.

— Isso não me aborrece. Não estou planejando fazer nada com ela.

— Você pensa assim, mas e quanto a ela?

Mirai-san apertou seus olhos e examinou profundamente meu rosto a uma curta distância.

— Para sua informação, não adianta me socar.

— Certo, certo. Estou ansiosa pelos próximos dias.

Sem se importar com minha forte recusa, Mirai-san acenou com a mão e voltou para a cozinha.

Parecia que era só uma questão de tempo até ela inteirar-se sobre nossa relação... Seria intuição feminina?

Disse a mim mesmo que deveria me certificar de que Tsukimori não diria coisas desnecessárias a Mirai-san.

— Eu trabalho aqui agora.

A garota em questão, Tsukimori, aproximou-se alegremente de mim a despeito de todas as dores de cabeça que ela estava me causando.

— Ainda não é tarde. Não quer reconsiderar? Minha resposta foi fria, mas meu coração estava ainda mais frio.

— Obrigada por se preocupar comigo, mas já que o gerente foi tão gentil a ponto de me oferecer um cargo, eu darei o meu melhor!

Ela graciosamente cerrou seu punho, repleta de confiança.

— Não estou preocupado. Estou incomodado.

— Estou ansiosa para trabalhar com você, colega. O sorriso de Tsukimori não se desfizera uma vez sequer.

Mirai-san havia mencionado que eu não era alguém capaz de lidar com ela. Eu me encontrava bem em curso de experimentar o quão correta ela estava. Na manhã seguinte na sala de aula.

Subitamente Tsukimori veio até a minha mesa, com um sorriso terno como os raios de sol que brilham através das folhas das árvores, e, com uma voz suave como uma gentil brisa de verão, disse a Usami:

— Eu estou empregada no café para o qual o Nonomiya-kun trabalha.

O tempo parou na sala de aula barulhenta. Ao menos Usami parou, como um relógio cuja bateria acabou.

— Hein? Youko-san? Você trabalha junto com o Nonomiya? Por quê? Hã?

Sua perplexidade fazia com que ela parecesse com um daqueles cucos que pulam de hora em hora naqueles relógios. Era como um déjà-vu de ontem.

— O gerente da loja me pediu para ajudá-los, pois estavam com pouco pessoal. Eu fiquei um pouco apreensiva. Bem, eu nunca trabalhei em lugar algum antes. Mas o gerente assegurou-me de que eu ficaria bem — explicou Tsukimori com muita naturalidade.

— Confesse! Foi você quem fez ele dizer isso.

Fui eu quem, naturalmente, cuspi aquelas palavras em um volume que ninguém conseguiria ouvir.

— Talvez eu devesse me juntar a vocês...

— Não ignore seu clube. Você deve fazer seu melhor e se tornar uma titular. — Eu era capaz de prever o rumo que essa conversa iria tomar, então pus logo um fim nela.

— Por que você não passa por lá nesse final de semana, Chizuru? Talvez eu não seja capaz de lhe fazer companhia, já que ainda há muitas coisas que tenho de aprender, mas ainda há o Nonomiya-kun. Certo, Nonomiya-kun?

Olhei furiosamente para seu rosto sorridente por um milésimo de segundo. Ela inclinou sua cabeça de leve, perguntando “Hm?” e mantendo seu inquebrável sorriso.

— Sim, você é sempre bem-vinda ao nosso café, Usami.

Jurei a mim mesmo que reclamaria com Tsukimori depois.

— Está bem! Eu irei! Eu definitivamente irei!

Usami alegrou-se imensamente, com seus olhos brilhando. Sua atitude sincera fez boa parte do meu mau humor sumir.

Mas ainda havia um sério problema. Jugando pelos olhares dos meus colegas, era óbvio que eles invadiriam o café nesse fim de semana. E desta vez parecia que seria bem difícil impedi-los.

—Escute pessoal! O Nonomiya irá nos dar algumas explicações!

Kamogawa veio bater no meu ombro com um sorriso repugnantemente gentil. Atrás dele estava de pé um grupo de rapazes com o mesmo sorriso repugnante no rosto. Eram os rapazes da aliança e eles clamavam justiça daquele que roubara o seu propósito. Aquilo era doentio.

— Eu certamente reclamarei com a Tsukimori — jurei determinadamente.