Kikou Shoujo wa Kizutsukanai:Volume1

From Baka-Tsuki
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Ilustrações[edit]



Prólogo - O Marionetista do Extremo Oriente[edit]

“Yaya é fofa, Yaya é superfofa, Yaya é a mais fofa no mundo.”

A garota estava apertando suas mãos juntas, murmurando suavemente como se ela estivesse em profunda oração.

A gentil luz solar caía, com o rítmico som de vapor sibilando no fundo. O trem havia partido de Londres, e agora estava em direção a Liverpool. Em um dos vagões de passageiros da segunda classe, uma cena estava se desdobrando entre um excêntrico par.

Os dois eram Orientais, um jovem e uma garota.

Suas excentricidades não se estendiam a apenas suas aparências. Inexplicavelmente, a garota estava inclinada sobre o assento oposto a ela, como se tentando cobrir o jovem com seu corpo, enquanto sussurrava estranhas palavras para ele.

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“Yaya é tão fofa, eu amo Yaya, Yaya é tão encantadora, Yaya é minha esposa-”

Abruptamente, o sussurro parou.

Com um olho aberto, o jovem estava disparando um olhar afiado na direção dela.

“… Você está acordado, Raishin?”

“O que você está fazendo tão perto da minha orelha?”

“Yaya estava recitando um encanto para fazer Raishin se apaixonar por mim.”

“Era realmente algo tão fofo e inocente? Porque parecia, com certeza, como se você estivesse tentando me corromper de alguma forma, sabia?”

Ignorando completamente sua réplica, a garota calmamente apontou para fora da janela.

“Veja, Raishin. Nós já estamos dentro da Cidade Maquinaria.”

“Ahh, já era hora de nós chegarmos. Viajando metade de um dia de Londres não é brincadeira. Minha bunda está dolorida de todo este tempo sentado.”

“Isto significa que a maior escola em toda a Europa Ocidental deverá aparecer à vista logo.”

Sorrindo feliz, a garota pressionou-se contra o jovem.

“Esta escola abriga seus alunos em dormitórios, certo?”

“É.”

“Então quando a noite chegar, será apenas nós dois para nós mesmos, certo?”

“Eu acho que sim…”

“Eu estou ansiosa por muitas noites sem dormir então <3”

“Na realidade, eu dormirei. Se você tentar qualquer coisa engraçada, chutarei a para fora do quarto.”

“…-?!”

“Qual é a desse olhar de traição no seu rosto? Eu vou falar de novo, nós não estamos aqui em umas férias.”

O olhar da garota nevoou-se, coração quebrado escrito sobre todas as suas tremulantes pupilas negras.

“… Esta cidade é, apesar de tudo, onde a Festa Noturna do Sábio começará.”

A expressão no olhar da garota imediatamente cerrou-se.

“Magos competindo uns contra os outros por supremacia, o vencedor decidido através de uma série de banquetes banhados em sangue de batalhas…”

“É. Eu contarei com você, então, Yaya.”

“É claro. Se for pelo Raishin, eu estarei disposta a ir através de qualquer coisa; através do fogo, para o seu futon[1]-”

“Não esgueire-se para o meu futon.”

“Ah, isto que eles chamam de um interesse em, ao ar livre, fud…”

“O que foi isso? Algo tão vulgar assim acabou de sair deste olhar tão inocente?”

“Se for o que Raishin desejar, então Yaya irá servi-lo com todo o seu coração. Mesmo que seja nos arbustos, ou mesmo se for na frente de todos.”

“Mesmo que eu queira muito agradecê-la por sua devoção, eu não posso porque você entendeu algo completamente errado. Eu não desejo ESTE tipo de serviço, preferencialmente, o que eu estou esperando de você é algo completamente diferente.”

Nesse sentido, os dois continuaram em seus gracejos lúdicos conforme o cenário da cidade moderna passou por eles do lado de fora da janela.

Construções de concreto alinhavam a rua principal, enquanto T-Fordes[2] importados da América rolavam ao longo das estradas pavimentadas. As esquinas da rua estavam bagunçadas com tendas vendendo café, dirigidas por bonecos mecânicos. Os corpos dos bonecos eram feitos de lata, e seus rígidos, desajeitados movimentos eram de alguma forma divertidos de se ver.

Cidade Maquinaria de Liverpool.

O ponto base de onde a vasta quantidade de algodão produzida pela cidade de Manchester é exportado ao resto do mundo. O Império Britânico orgulhosamente ostentava essa como uma das, se não a melhor, cidade portuária no mundo. Entretanto recentemente, têm se tornado também a próxima cidade de acadêmicos, depois de Cambridge.

Finalmente, o trem chegou à estação, a qual tem uma bela doma de ferro como seu ponto de destaque de seu design moderno.

E então passou através, sem o menor sinal de desacelerar.

“Por que não parou?” “Supostamente esta era para ser a estação final!”

Os passageiros estavam inquietos, dúvidas e dessatisfações alinhavam suas vozes.

O condutor do trem irrompeu pela porta, uma expressão lúgubre no seu rosto.

“Todos, por favor, por favor acalmem-se e escutem-me com atenção.”

Tendo dito isso contudo, ficou óbvio que ele próprio estava qualquer coisa exceto calmo.

Em uma voz tremulante, ele continuou.

“Os freios não estão funcionando!”

Houve um silêncio tão quieto que você poderia ouvir uma gota de água.

E então imediatamente, o vagão inteiro decaiu em um frenesi em pânico.

“Todos acalmem-se! Irá ficar tudo bem, o trem irá eventualmente parar por si próprio!”

Entretanto, a voz do condutor não registrou-se com ninguém. Ela foi perdida no meio dos gritos e bramidos dos passageiros.

Em primeiro lugar, o trem não parece remotamente perto de desacelerar absolutamente.

Isto era provavelmente porque estava em uma ladeira.

Era física simples. Qualquer coisa em uma ladeira nunca chegaria a uma parada natural.

Como uma profecia de uma catástrofe a vir, o trem literalmente começou a tremer. Neste momento-

“Todos, retornem aos seus assentos!”

Todos os passageiros simultaneamente viraram para olhar ao orador.

A voz pertencia a pessoa que estava a pouco brincando com a garota, o jovem Oriental.

Ele era de um físico pequeno e havia uma figura magra. Seus olhos eram afiados como os de uma águia.

A jovem garota parada próxima a ele estava vestida em um quimono. O quimono era curto, e o rodopiar da roupa permitia a alguém capturar um ocasional vislumbre de suas coxas. Seus ombros nus mostravam sua lustrosa pele, a qual era branca como a neve.

Seu rosto não havia nenhuma parte excedente, então a um primeiro olhar ela parecia singela e simples, mas na realidade, suas excedentes características bem estruturadas eram como um delicado trabalho de arte pertencente a um museu. Seu cabelo no comprimento da cintura com um brilho que parecia que estava perpetuamente molhado.

Sua pele era macia e suave como um pêssego branco. Ela era menor que o jovem por uma cabeça, fazendo-a parecer como uma boneca literalmente.

Eles não eram pessoas ordinárias. Esmagados por suas presenças, os passageiros quietamente retornaram para seus assentos.

“Condutor, por favor informe o resto dos vagões também. Aqueles que não desejam morrer deverão segurarem-se firmemente em seus assentos.”

Isso não era um pedido, isso era uma ordem. O condutor deu o menor dos acenos, antes de apressar-se para o próximo vagão.

O jovem assistiu-o desaparecer, antes de fazer seu caminho através do vagão. Enquanto ele fazia, seus olhos vieram a pousar em um banco próximo a ele.

Uma jovem garota estava abraçando sua irmã menor, a última enrolada em uma bola. Havia medo refletido em seus olhos. Sua pequena moldura lembrava um pequeno esquilo assustado.

O jovem cintilou um atrapalhado sorriso a ela, antes de colocar sua mão em sua cabeça.

“Não se preocupe. Eu cuidarei de tudo.”

O jovem tirou seu casaco, e agilmente saiu através de uma janela, abrindo seu caminho para o topo do vagão. A garota vestida em um quimono em breve seguiu atrás dele.

Movendo-se com a forma de acrobatas, o par rapidamente correu até a frente do trem.

“Raishin, veja isto!”

“Isto é… uma curva bastante acentuada.”

A linha correndo cidade abaixo têm uma curva particularmente áspera. Se o trem estivesse para montá-la, ele certamente descarrilharia!

“Nós devemos pará-lo antes que ele alcance a curva. Neste caso… Yaya, Shinkan Shijuuhachishou (Floresta silenciosa, 48 perfurações).”

“Entendi!”

Usando o nariz do trem como um apoio, a garota chutou-se, propulsionando-se adiante. O recuo foi tremendo, causando o trem a desacelerar acentuadamente.

A garota acelerou-se pelo ar como uma bala, pousando a uma distância considerável em frente ao trem. Entretanto, o trem não havia parado. O trem estava rapidamente carregando-se diretamente em direção a ela, prestes a atropelá-la!

As pessoas na rua abaixo notaram a cena anormal se desenrolando e começaram a gritar.

O jovem entretanto, permaneceu destemido. Segurando-se contra o bico do motor da locomotiva, ele preparou algum tipo de ataque.

Ao fazer isto, a garota abriu suas palmas em direção a ele. Em um lampejo, (algo semelhante a) uma chama azul esbranquiçada jorrou, formando algo parecido com uma corrente que ligava a garota e o jovem juntos.

A garota estava agora diretamente em frente ao trem. Algumas centenas de toneladas de trem estavam agora caindo sobre ela-

E então, uma colisão.

Foi um ataque tão forte que a frente do trem fora prejudicada. A inércia dos vagões atrás do carro frontal carregou-os para frente, causando-os a colidirem-se uns com os outros em sucessão. Alguns dos vagões foram até forçados para cima. A garota dirigiu seu geta[3] firmemente ao chão, quebrando a gravata da ferrovia e causando-a a se alojar profundamente na terra. Uma grande quantidade de balastro de trem voou ao ar, e a própria garota foi empurrada cinquenta ou mais metros para trás.

Entretanto, a garota estava ilesa.

Demonstrando a extrema robustez de seu corpo, ela havia parado completamente o morto trem desgovernado em seus trilhos. E quanto ao resto das carruagens, havia algumas as quais haviam sido inclinadas em diferentes direções, algumas haviam tido seus eixos quebrados, outras haviam descarrilhado… embora, tendo dito tudo isso, nenhum dos vagões virou completamente. Enquanto é impossível dizer que a taxa de feridos seria zero, ao menos o número de casualidades fora minimizada.

Depois de confirmar que o trem havia chegado a uma parada completa, o jovem pulou aos trilhos.

“Bem feito Yaya. Certo como o inferno que você não segurou-se nada, não é?”

A garota estava encantada do elogio. Ela colocou sua cabeça na expectativa, inquieta enquanto esperava-o para acariciá-la. Contudo, o jovem abruptamente virou-se.

E assim, ele começou a caminhar de volta. Não tendo escolha, a garota correu atrás dele.

Quando eles retornaram ao vagão deles, uma cena de massacre colocou-se diante deles. Bagagens estavam espalhadas por todo o lugar, e os gemidos e suspiros dos feridos podia ser ouvido. Todavia, não havia casualidades sérias. Dando-os um rápido, olhar antipático, ele começou a procurar por sua própria mala.

“-Desculpe-me!”

Assim que ele encontrou sua mala, uma voz chamou-o por detrás.

Eram as irmãs de antes. A irmã mais velha estava olhando para o jovem com uma expressão tímida no rosto. A irmã mais jovem aproximou-se timidamente do jovem com um leve sorriso no rosto, segurando seu casaco.

O jovem pegou-o, e virou-se à irmã mais velha, perguntou-a curtamente.

“Você está machucada?”

“Não. Hum, Você é… um mago?”

“Não. Eu sou um Marionetista.”

“Então, essa garota aqui, ela é um autômato…?”

Seus olhos cerrando-se, ela olhou a garota próxima a ela (um pouco enervada) Seu choque era compreensível. Sangue corria debaixo da pele da garota, o qual havia um leve tom de vermelho em si. Ela havia uma batida cardíaca, e ela havia uma respiração também. Não importa o quanto você a olhasse, ela era totalmente humana.

Este alto nível de detalhe em um autômato, enquanto não era desconhecido neste local conhecido como Cidade Maquinaria, era algo que dificilmente podia ser chamado de uma visão comum. Para a maioria dos moradores aqui, os autômatos que eles estavam familiares eram basicamente construções de lata barata os quais haviam cilindros e engrenagens expostas.

A forma autômato feminina, muito próxima do que uma garota real seria, deu um gentil sorriso.

“Sim, Yaya é a ‘boneca pessoal’ do Raishin. -Até na cama”

Esta última parte foi um comentário desnecessário.

Os passageiros começaram a cochichar entre si. A irmã mais velha começou a corar profundamente enquanto olhava para eles.

“Nãããããããão seu pervertido!”

Whoosh, passou sua palma aberta cortando o ar, conforme ela tapeou o jovem na bochecha.

Abraçando sua irmã menor, ela correu o mais rápido que podia.

“Yaya…”

“Sim, Raishin?”

“Justo agora, tem este sentimento negro turbilhoando no meu coração. Eu me pergunto o que ele é?”

“… Luxúria?”

“Droga Yaya! Por que você tem que sempre dizer coisas que provocam mal entendidos nas outras pessoas!”

“Mas…! Essa garota estava olhando para o Raishin com um olhar lascivo em seus olhos…!”

“Você é a única a qual olha para os outros da maneira errada!”

Depois de ser repreendida, a garota apertou a bainha de seu quimono e olhou para seus pés desanimada.

Suas finas sobrancelhas apontaram para baixo, enquanto lágrimas começaram a formarem-se nos cantos de seus olhos.

Sua triste figura era doloroso de se olhar. O jovem deixou escapar um suspiro.

“Esqueça. Vamos. Se a polícia chegar aqui será um aborrecimento ter de lidar com eles.”

“… Ok!”

Atirando sua mala por cima do ombro, ele começou a caminhar. O trote do geta[4] ecoou conforme a garota seguia-o de perto atrás dele.

Saindo do vagão, os passageiros apenas podiam olhar estupefatos conforme eles desapareciam na multidão de pessoas na cidade.

Civilização Maquinaria apenas havia começado a florescer no início do 20º século. Junto com o remarcável desenvolvimento na ciência e tecnologia, a humanidade possibilitou estabelecer uma magia avançada como um sistema.

Machinart. Uma inovação a qual havia virado completamente o mundo da magia de ponta cabeça.

Envolvia rodar um circuito mágico através de um autômato, e ter um marionetista controlando-o. Essa combinação permitia a moldagem de magia que era mais rápida, mais detalhada, e mais forte que métodos tradicionais.

Com o advento dessa técnica, magos tornaram-se capazes de comprimir círculos de magia complexos e longos encantamentos em autômatos, efetivamente tornando-se capazes de lançar magias instantaneamente.

Ao mesmo tempo entretanto, esta técnica estava tornando-se explorada para uso militar. A vitória em Trafalgar[5], tanto como o triunfo em Waterloo[6]. Todas essas não teriam sido possíveis se não fosse pela existência do orgulho do exército Britânico, a Divisão de Machinart.

É claro, isso não é apenas restringido à Inglaterra. Nesta era, países estocaram autômatos em uma frente de armas escalonadas, conforme também continuavam a desenvolver novos marionetistas talentosos para controlá-los. Os poderes principais do mundo estavam em um estado frenesiado tentando sobrepujar um ao outro.

Seria apenas uma questão de tempo então, antes que o campo de educação torne-se algo de importância nacional.

Algumas horas após o incidente com o trem, no coração da cidade de Liverpool.

Um curioso casal parou diante de um portão maciço.

Um jovem Oriental e uma garota autômato. Era o par que havia parado o trem desgovernado antes.

“A Academia Real de Machinart, Walpurgis.”

O jovem leu as palavras gravadas na placa, com um sorriso cínico no rosto.

“Famoso por ser o maior instituto de educação dentro do reino da magia. Parece mais com um forte, não, talvez uma prisão se encaixe melhor.”

O cenário que ele estava descrevendo expandiu-se diante de seus olhos conforme ele caminhava adentro.

Elevando-se sobre a frente tinha uma larga, majestosa sala de aula que levava o Palácio de Buckingham[7] à mente quando se olhava para ele. Suas muralhas de tijolos eram facilmente 50 metros de altura, e seu portão forjado em pedra havia pequenos buracos para olhos posicionados nele. Os buracos não pareciam terem sido feitos para repelir a entrada de inimigos, eles pareciam mais que eram feitos para disparar em estudantes fugitivos. Como prova adicional, o porteiro não estava monitorando a atividade da cidade, mas no lugar, mantendo um olho nas premissas.

Mesmo a mais conservadora das pessoas tinha de admitir que a coisa toda era bastante impiedosa. A escola era assustadora como uma base militar.

Entretanto, despreocupada com tudo, a garota autômato apontou em direção aos dormitórios.

“Olhe para cá Raishin. Este é o nosso novo ninho de amor. <3”

Ela estava de bom humor.

Em contraste, o jovem estava anormalmente silencioso. Notando isto, ela sacudiu sua cabeça para ele.

“O que há de errado, Raishin? Você parece depressivo.”

“Uma vez que passemos através deste portão, você sabe que você não poderá retornar para o mundo por um bom tempo, certo?”

Testando sua determinação, o jovem olhou diretamente nos olhos da garota.

“Estas são as leis do país. Todos os autômatos pertencentes aos estudantes da Academia não podem pisar na cidade até a graduação.”

Suas mãos em seu peito, a garota falou sem hesitação, como se ela estivesse recitando uma promessa.

“O único lugar que Yaya deseja de estar é onde Raishin estiver. Não importa se for no campo de batalha, ou em uma prisão, isto nunca mudará.”

“Você pensa tão altamente de mim. Eu estou meramente usando você como uma ferramenta para vingança.”

“Não seja tão duro consigo Raishin. Yaya é meramente uma boneca criada pela Shouko, do dia em que eu nasci eu não era mais nada que uma mera ferramenta. E então uma vez que esta ferramenta foi dada um propósito, ela começou a viver pela primeira vez em sua vida.”

Seu gentil sorriso era belo como o desabrochar de uma flor.

“Eu estarei sempre do seu lado Raishin. Mesmo quando você estiver em seu futon.”

“Eu terei que recusar isso. Contudo, mantenha esta forte convicção sua.”

O jovem relaxou sua expressão, e transpôs adiante com passos firmes.

Nesse dia, o solitário jovem, junto com sua autômato incomparável, passaram através dos portões na academia.

Com isso, o que o esperava era esse banquete de conflito-

Referências e Notas de tradução[edit]

  1. Colchão ao estilo japonês. Wikipédia
  2. Modelo de carro antigo da Ford. Wikipédia
  3. Sandálias japonesas de madeira. Wikipédia
  4. Sandálias japonesas de madeira.
  5. Uma batalha naval que ocorreu entre a França e Espanha contra o Reino Unido, em 21 de outubro de 1805. Mais informações na Wikipédia
  6. Um confronto militar ocorrido a 18 de Junho de 1815 perto de Waterloo, na atual Bélgica (então parte integrante do Reino Unido dos Países Baixos). Mais informações na Wikipédia
  7. O Palácio de Buckingham é a residência oficial e principal local de trabalho do Monarca do Reino Unido em Londres. Localizado na Cidade de Westminster, o palácio é frequentemente o centro de ocasiões de estado e hospitalidade real. Ele já foi o foco do povo britânico em tempos de alegria nacional. Mais informações na Wikipédia

Capítulo 1 - Aquele Que Caça Dragões[edit]

(1)

Uma estrada única pavimentada corria através dos solos da academia em uma direção norte-sul.

Essa estrada era conhecida como a rua principal. Era a artéria da academia a qual conectava as várias salas de aula e auditórios, os oito prédios de dormitório, como também o salão de jantar, juntos. Durante o intervalo do almoço, estudantes amontoavam-se acima e abaixo dela.

Era uma clara e ensolarada segunda-feira. Como esperado, as ruas estavam lotadas com estudantes durante o intervalo do almoço de hoje também.

Bastante abruptamente, o alvoroço subdividiu-se.

Uma onda de medo nervoso percorreu através da multidão, os estudantes virando-se um após o outro para olhar para a fonte.

Atrás deles, uma garota solitária estava aproximando-se, seu belo cabelo dourado flutuando atrás dela.

Ela tinha feições graciosas, e seu corpo era bem-proporcionado. Ela era uma garota tão bonita que você quase podia enxergar o ar envolta dela brilhar, mas ela tinha um olhar azedo em seu rosto, o qual arruinava sua beleza élfica. Uma aura hostil estava emanando dela, como se ela fosse alguma espécie de besta feroz.

Um pequeno dragão, não maior que um gato, repousava no topo do chapéu que ela estava usando.

Não podia ser chamado de outra coisa que não um dragão. Sua cabeça lembrava um cruzamento entre um lagarto e um crocodilo, mas a expressão em sua face era mais nobre e refinada. Haviam dois chifres crescendo em sua testa, e a estrutura de seu corpo lembrava o de um felino. Haviam quatro asas através de suas costas, então em vez de dizer que lembravam as asas de um pássaro seria melhor dizer que elas eram similares às de uma borboleta. Seu corpo inteiro era coberto em escamas cor de aço.

“É como Moisés dividindo o Mar Vermelho.”

O dragão no chapéu dela falou. Havia uma surpreendente voz baixa para o seu tamanho.

Como o dragão havia dito, um caminho em frente da garota estava abrindo-se, o mar de pessoas em frente a ela rapidamente dividiu-se ordenadamente em dois.

“Todos estão com medo de você.”

“Hmph. Isto é o que usualmente acontece.”

“O que você chama de usual, é justamente o problema aqui. Mesmo que a verdadeira identidade de Cannibal Candy seja você, o nível de medo que as pessoas terão de você não será maior que o nível que você está agora mesmo.”

Neste momento, um estudante caiu na frente dela, aparentemente tendo tropeçado sobre alguma coisa.

Notando a garota, ele começou a tremer violentamente.

“Aaa, ah desculpe-me! Não me mate, por favor!”

“… Suma.”

“Simmmmmmm!”

Ele apressadamente mexeu-se para longe. Seu rosto fugindo era muito parecido com alguém que tenha corrido em direção a um urso. A garota fez beicinho.

“Você está certo, parece um pouco irracional. Como pode as pessoas estarem tão assustadas comigo?”

“Porque você é tão assustadora. Você é a garota a qual, mal tendo pisado o pé na academia, enviou cinco seniores para o hospital.”

“Eu estava apenas punindo-os por sua insolência. Eles podiam tentar me convidar para entrar no clube deles ou qualquer coisa, mas desde que eles eram um pouco melosos demais para o meu gosto, eu senti que meu corpo estava em perigo, e então…”

“Então há aquela vez quando você empurrou sua colega de quarto da janela.”

“Isso foi força maior. Aquela garota tentou esgueirar-se para o banheiro, então por isso ter me irritado— Digo, para proteger os segredos de uma donzela, eu tive de fazer isso.”

“Você chamaria a destruição da sala do laboratório de anatomia porque você não queria tocar um sapo, força maior também? O professor chorou sobre a perca de tantos espécimes valiosos, você sabe.”

“…”

“E sobre aquela vez na qual você entrou em pânico por causa de uma vespa, e acabou colocando fogo no jardim inteiro?”

“Quieto, Sigmund. Se você não calar-se agora, eu trocarei sua galinha por grão-de-bico.”

“Eu não sou um pássaro, Charl. Grão de bico sozinho não sustentará meu corpo.”

A garota loira— Charl não fez esforço para esconder sua irritação conforme ela caminhava à frente com passos largos.

Entretanto, o dragão não desistiu, e continuou adiante.

“Que tal fazer alguns amigos? Eu imagino que a reação das pessoas à sua volta mudará também.”

“Todos aqui na academia são um inimigo. Todos eles são obstáculos no caminho do trono de Sábio. Eu não tenho intenção de tornar-me familiar com nenhum deles.”

“Este tipo de atitude fará com que você continue sozinha. Você nunca conseguirá um namorado neste ritmo. Você está bem com ser impopular para o resto de sua vida?”

“Quem você está chamando de impopular? Não há meio de que todos os homens no mundo possam resistir a uma garota tão fofa como eu. Mesmo agora eles aproximam-se de mim aos montes. Muito parecido com moscas comuns fervilhando sobre uma flor de raflésia[1].”

“Enquanto uma flor de raflésia é um perfeito nome para você—O que significa alguém a qual as pessoas seguram seus narizes e fogem—Eu tenho sérias dúvidas sobre garotos reunindo-se a você. Fazendo o que você sentir vontade, não há meios de uma macaca teimosa como você poderia jamais— Oh, eu corrijo. Parece que você atraiu uma mosca no final das contas. Embora pareça que ele já tem alguém de marcação junto com ele.”

Levantando um membro dianteiro, o dragão apontou adiante. Charl olhou, e parando bem no meio do caminho aberto havia um estranho par.

Um deles era um jovem. Ele estava vestindo o que parecia com um arreio de produção militar sobre seu uniforme, o qual estava com forma desgastada. O arreio parecia agir como um substituto para um coldre, estando embalado completamente com ferramentas mágicas como pedras mágicas e amuletos, assim como também uma faca e uma tocha.

Ele tinha um brilho afiado em seu olho, e a forma de seu corpo era afiado e angular.

A outra era uma garota. Ela não estava vestindo um uniforme da escola. No lugar, ela estava vestindo um vestuário esplêndido, provavelmente um quimono. Ela tinha visto um antes em uma dessas estranhas pinturas, chamada de ukiyo-e[2] ou alguma coisa assim.

Ela era menor e tinha um rosto pequeno, como se ela fosse uma boneca— não, Charl tinha noventa e nove por cento de certeza que ela era uma autômato.

Em qualquer caso, ambos tinham rostos os quais ela nunca havia visto antes.

Enquanto seu olho estava transformado pelo artesanato intricado da autômato, o jovem havia audaciosamente falado.

“Lady Charlotte Belew, eu presumo.”

Ele falou suas linhas como se ele estivesse atuando em uma peça, e havia um sorriso arrogante em seu rosto. Para rotulá-lo como bonito abertamente… seria difícil, mas da sua aparência geral, não havia como negar que ele tinha um charme oriental nele.

“Segundanista na academia; um membro dos Rounds, os quais abrangem as treze pessoas top na Festa Noturna. As casas de apostas de Londres tem você como três para uma de ganhá-la, o que significa que você é uma das candidatas liderando para o trono de Sábio.”

Ele recitou sem problemas o perfil de Charl.

“Código de registro Tyrant Rex. Eu acho que você realmente é como um temível dragão.”

Ele terminou com um tom de voz zombeteiro. Entretanto o aspecto em seus olhos era afiado em contraste, olhando para a mão de Charl— ou mais precisamente, seu olhar estava fixado em sua luva. Feita de seda, ela brilhava sob a luz; as palavras [Tyrant Rex] estavam costuradas na luva branco-pérola com fios de ouro. Essa luva era especial, somente a participantes na Festa Noturna foram emitidas uma.

Exatamente quem é esse garoto rude, mal-educado?

Charl franziu petulantemente, olhando para o jovem.

“Já que você sabe esse tanto, o que exatamente você está planejando? O que você quer comigo?”

“Entregue-me sua qualificação de entrada.”

Ela ficou estupefata pela sua afirmação. Por um breve momento, ela não pôde compreender o que ele havia acabado de dizer.

“… Você está me desafiando para uma batalha?”

“Não. Considere isto mais como uma notificação prévia.”

Charl suspirou profundamente.

“Você é um idiota? Ou talvez— você deve realmente desejar morrer.”

Ela irradiava uma aura mortal, fria como gelo.

Instigando medo nas pessoas circundantes, os estudantes apressadamente recuaram da cena.

Assim, bastante abruptamente, a pausa para o almoço no campus se transformou em um campo de batalha.


(2)

Dois dias antes.

Estava anoitecendo, e no escuro corredor do auditório central, Raishin estava tremendo todo.

“Dentre mil duzentas e trinta e seis pessoas, eu coloquei-me em mil duzentas e trinta e cinco…?”

Dentro de seu punho cerrado, estava seu tão falado resultado de teste.

Ao entrar na academia, ele havia apressado-se para fazer um teste especial para avaliar sua habilidade acadêmica. A resposta do examinador para ele havia sido fria desde o meio do teste, mas vendo sua habilidade reduzida para simples números tornava difícil de suportar.

“Por favor, não sinta-se tão para baixo.”

Yaya estava consolando-o com um gentil sorriso em seu rosto.

“Yaya sabe tudo sobre o treinamento infernal que Raishin atravessou. Deixando de lado exames escritos e orais, não há nenhuma maneira de Raishin perder em uma batalha real. Não estou certa?”

Contudo, Raishin tornou-se todo o mais deprimido, pendurando sua cabeça ainda mais. “… Desculpe, Yaya.”

“Por que você está se desculpando?”

“Aqui está você, uma autômato classe top da marca Karyuusai, facilmente vale tanto quanto um navio de guerra. E ainda para as notas do seu manipulador serem tal falha, eu sou tão patético—”

“Não diga isso! Tudo que Yaya precisa é estar junto com Raishin…”

“Como eu posso mostrar meu rosto para Shouko!?”

Houve um som estranho conforme Yaya enrijeceu repentinamente.

“… Huh, Yaya? O que há com essa expressão perturbada no seu rosto— esp, segure-se, pelo menos diga-me por quê!”

“Shouko, Shouko, Shouko… é sempre nada além de Shouko…!”

Yaya estava metade em lágrimas enquanto ela estrangulava Raishin pelo seu pescoço.

“Pelo menos agora você sabe seu lugar, garoto samurai.”

Subitamente, uma voz cortou do lado. Uma Yaya surpresa liberou seu aperto em Raishin, causando-o uma queda.

Tossindo violentamente, Raishin olhou para cima para ver uma bonita mulher alta em pé na frente dele.

Seu cabelo ruivo estava preso, e inteligência podia ser vista dentro de seus olhos azuis.

Ela estava vestindo o uniforme da equipe educacional, e um par de óculos tinha sido pendurado em seu peito.

Sua beleza fria era familiar para ele. Ela havia sido a gestora do teste encarregada de Raishin.

“Eu sou a professora Kimberly, encarregada de Físicas Maquinarias. Infelizmente para nós dois, você foi atribuído a mim.”

“Onde estão minhas maneiras? Prazer em conhecê-la. Eu estou em seus cuidados então, professora Kimberly.”

Raishin fez seu cumprimento rapidamente. Yaya afobadamente curvou-se em cumprimento também.

Kimberly continuou sem sequer dar um sorriso.

“Eu congratulo-o em fazer sua longa jornada todo o caminho de um vilarejo de remanso no Extremo Oriente, mas suas notas são a severa realidade. Se você deseja graduar-se, eu sugiro a obtenção desses créditos, mesmo se eles matarem você. Eu especialmente recomendo minhas palestras. Você pode obter 6 créditos em um ano normal. É claro, isso assumindo que um Oriental como você possa mesmo entender minhas palestras em primeiro lugar.”

“Isto não é um pouco racista?”

“Eu sou uma filantropa. Brancos, Negros, Indianos, Judeus— todos eles me aborrecem igualmente. A única medida de um homem está em seu conhecimento. Eu odeio idiotas, e isso é tudo o que se há.”

“Eu acho difícil de acreditar que você possa realmente chamar-se uma filantropa com uma cara séria.”

“Você ficará no dormitório tartaruga. Esse é o lugar onde todos os estudantes os quais não podem acompanhar suas classes vão, o pior dos piores. Desvie graviticamente quando estiver livre, e assegure um quarto para você. — Isto é tudo que eu queria dizer.”

“Espere um minuto, professora Kimberly. Possa ser que seja um pouco rápido, mas há algo que eu gostaria de consultá-la sobre.”

“Dispare.”

“Como faço para entrar na Festa Noturna?”

Kimberly já estava se afastando, mas à sua pergunta ela inconscientemente parou. “Não há meios que você não saiba isso, certo? Os únicos que se qualificam para entrar na Festa Noturna são aqueles com as melhores notas, e mesmo dentre eles, somente os top cem qualificam-se. Como está agora, você está no extremo oposto do espectro; então é inútil até mesmo falar disto.”

“Some que a Festa Noturna está prestes a começar, então há somente um round de testes de entrada faltando— Suponho que é realmente desesperador então?”

Raishin deu uma risada autodepreciativa conforme ele zombava-se.

Kimberly deu um sobre olhar em sua direção.

“… A Festa Noturna não é uma espécie de elegante dança de salão. É um lugar onde Artes maquinarias confrontam-se, até haver apenas uma pessoa restando em pé. Se você ir para lá com uma atitude mal pensada sua vida será facilmente perdida.”

“Então tudo que eu tenho que fazer é ser o último em pé, certo?”

Kimberly olhou surpresa. Seus olhos estreitaram-se em fendas, ela olhou para Raishin da cabeça aos pés como se estivesse avaliando seu valor.

“Por que você está tão fixado na Festa Noturna? Não é graduar-se daqui, e obter o prestígio que esta academia confere que irá colocá-lo à frente dos outros na vida mais que suficiente?”

“Eu fiz a minha mente há muito tempo. Desde então minha meta era tornar-se o Sábio.”

“O que você deseja? Riquezas? Fama? Conhecimento? Poder?”

“Essa questão não tem sentido. Se você tornar-se o Sábio, você obterá todos os anteriores.”

“Isso é verdade. Sendo o Sábio significa que você não está limitado pela Carta Internacional em Artes Mágicas e o código de éticas que todos os magos devem seguir— em resumo, ‘nada está fora dos limites’. Você pode ler livros proibidos, usar artes proibidas, ou mesmo realizar pesquisa em imortalidade ou modificação genética. Você receberá uma recepção em par com a de um general em qualquer exército militar de qualquer pais no mundo.”

“Heh, essa foi uma conversa bastante animada.”

“… Seu objetivo não é riquezas. Não parece que você está atrás de fama tampouco. Você não parece esperto o bastante para buscar conhecimento e sabedoria. Portanto, o que então, você está atrás?”

Raishin não respondeu. Ele apenas olhou de volta para Kimberly, seus olhos nunca vacilando nem por um segundo.

O silêncio tornou-se insuportável. Passado algum tempo,

“… Deixe-me dizê-lo o consenso geral. A única finalidade da Festa Noturna é selecionar o marionetista principal de sua geração. Verdadeiramente, nós vivemos em tal mundo minuciosamente meritocrático. Portanto, no evento improvável que alguém que possui uma qualificação de entrada tenha de, digamos, ser derrotado em batalha Maquinaria contra alguém o qual não tenha um—”

Como se ela estivesse insinuando algum tipo de segredo, Kimberly continuou em uma voz baixa.

“Eu imagino que há uma necessidade do comitê executivo da Festa Noturna mudar os meios de selecionar seus participantes, não achas?”

“… Obrigado por sua instrução.”

“Trabalhe duro. Estou ansiosa para ver resultados esplêndidos, senhor Penúltimo.” Traços de um sorriso deixado em seu rosto, Kimberly virou-se e desapareceu corredor abaixo.

“… De alguma maneira, eu acho que ela é um pouco assustadora.”

Yaya reservadamente ofereceu sua impressão da professora.

“É. Mas eu não acho que ela seja uma má pessoa.”

Embora ela tenha chamado o Raishin um idiota, ela não havia atirado nele completamente sem ouvi-lo falar. Concernente à entrada para a Festa Noturna, ela podia simplesmente tê-lo dito que absolutamente não havia meios de entrar; não havia necessidade de discutir hipóteses com ele.

“Ao contrário, eu penso que ela pode ser uma boa mulher.”

“Raishin… então você realmente prefere mulheres mais velhas…!”

Ignorando a Yaya soluçando, ele refletiu sobre as palavras de Kimberly em sua mente.

Ele era Penúltimo. Para atingir o lugar dentre os top cem, ele precisaria ultrapassar mais de mil pessoas, o creme da colheita o qual havia sido coletado por todo o mundo—ou ele precisaria eliminá-los. (Isto provavelmente não é algo que vale se vangloriar sobre, mas meu conhecimento é rudemente no mesmo nível de um novato, em termos de ambos marionetas e artes mágicas.)

A possibilidade dele usar suas notas para juntar-se à disputa era zero.

Neste caso.

Preocupando-se com Raishin, que havia afundado em silêncio, Yaya trouxe seu rosto mais próximo de Raishin.

“Devemos discutir isso com Shouko?”

“Não recorrerei aos militares para aconselhamento. Há uma única opção para nós de qualquer jeito.”

Raishin riu tortamente. Mesmo para ele, era uma forma bastante divertida de fazer as coisas.

“Nós teremos de tomar parte na Festa Noturna. Este é o caminho mais rápido para matálo.”

“Mas como— Você pensou em algo?”

“Professora Kimberly disse. Se desejo uma qualificação de entrada, devo tornar-me como Momotarou[3].” “Você vai trocar bolinhos de milheto (Kibi dango[4]) com alguém?”

Ele balançou sua cabeça. Franzindo seus lábios firmemente, Raishin anunciou seu plano.

“Vou assaltar um bando de demônios.”


(3)

“Ei, você têm de ver isto! Um estudante estrangeiro desafiou a T-Rex para uma luta!”

“Quê!? De onde ele é? Que tipo de idiotas eles criam lá?”

“Japão. Ele é um idiota do Japão.”

“Japão? Ela é a princesa do estilo Izanagi?”

“Não, ele é um cara novo que recém chegou aqui dois dias atrás.”

“O que um cara novo está fazendo com a T-Rex? Ela está procurando por uma briga?”

“Não, parece que quem começou-a foi o cara novo. Aparentemente ele quer sua qualificação de entrada.”

“E de todas as pessoas para desafiar, ele escolheu a T-Rex… ele é suicida ou algo assim?”

“Eu não penso assim. Olhe para ele, ele parece confiante.”

“Ele é assim tão forte? Que posição ele está?”

Naturalmente, a atenção dos estudantes tornou-se focada nele.

Raishin estava sentindo-se inquieto por dentro, mas ele usava um olhar descontraído em seu rosto, ignorando os olhares que outros estavam dando a ele, os quais eram uma mistura de estranheza, desprezo e até infelicidade.

“Eles sempre aumentam em número onde quer que a primavera role à volta.”

Charl cuspiu estas palavras conforme o dragão empoleirou-se em seu braço.

“Isso é, o número de idiotas os quais não sabem seus lugares.”

“Eu posso ser um idiota, mas ao menos eu sei o meu lugar.”

“Ó, realmente? Onde você pensa que ele é então?”

“Eu estou no 1235º lugar.”

Risadas romperam-se por toda a volta dele. Uma aparentemente envergonhada Yaya olhou aos ofensores, mas o rosto de Raishin ainda estava descontraído, não respondendo às risadas.

Por outro lado, Charl ficou estupefata. Com sua boca boquiaberta,

“Estou chocada. Você é um verdadeiro idiota. O idiota dos idiotas. Um idiota que ergue-se acima de todos os outros idiotas. Sua idiotice brilha como um farol. Você disse que você está colocado em 1235º? Como você espera vencer-me com uma nota como essa…”

Ela parou.

A expressão de Raishin ainda estava calma como sempre em frente ao escárnio dela.

“Vá em frente e ria. Bastante honestamente, minhas habilidades de marionetista são de terceira classe no melhor. Se você comparar-me com a gentalha circulando-nos, tenho certeza que você irá descobrir que eu possuo menos conhecimento e menos talento. Entretanto, há uma coisa que separa-me à parte deles.”

“… E isso é?”

“Eu não desisti antes de começar.”

As risadas morreram.

Charl olhou em volta, e todos estavam evitando seus olhos com um sabor azedo em suas bocas.

Ele estava certo— A maioria deles não podia participar na Festa Noturna.

E ainda, tudo que eles fizeram foi assistir silenciosamente.

Isso é, todos estes perdedores que admitiram derrota antes de uma batalha.

“… Hmph, eu ao menos elogiarei sua admirável determinação. Ou talvez, você apenas é muito lento na captação?”

“Você deve estar brincando. Eu sou muito delicado quando é para coletar sentimentos.”

“Você realmente é lento então. Um estúpido. Eu aposto que você é lento e do tipo facilmente cansável.”

“Você ao menos entende o significado do que você acabou de falar?! Uma dama da sua idade não deveria falar algo tão imprudente!”

“Isso é verdade! Se há alguma coisa, é que Raishin é um rápido finalizador!”

“Você fique quieta! Como infernos você pode ao menos saber algo como isso de qualquer jeito!?”

Raishin apressadamente silenciou Yaya. Entretanto já era muito tarde, conforme Charl havia conspicuamente interposto suas sobrancelhas juntas em uma carranca.

“Não somente você é um idiota, mas você é um pervertido que tolamente brinca com sua boneca? Você é o pior tipo de depravado, sua aberração indecente!”

A frieza em seus olhos beiravam no zero absoluto conforme ela lançava-lhe um olhar de desgosto. Era como se ela estivesse olhando para uma barata.

Raishin sentiu uma imensa depressão chegando. Tudo que ele queria fazer era enrolar-se no canto de um quarto escuro e abraçar seus joelhos. Infelizmente, ele não estava em qualquer posição para fazer isto no momento.

“Eu não facilito para pervertidos. Vamos esmagá-lo com toda nossa força, Sigmund.”

“Combinado.”

Nesse instante, o dragão (o qual parecia se chamar Sigmund) deixou sair um rugido.

Embora sua figura era de uma pequena criatura, começou a transformar-se diante dos olhos de Raishin. Uma névoa negra— como algum tipo de trevas pertencentes ao seu verdadeiro corpo— começou a cobrir Sigmund; membros, garras e asas começaram a formarem-se dela.

Finalmente a névoa dissipou-se, revelando a forma de um gigantesco dragão.

Um dragão gigantesco que era três metros em altura e oito metros em comprimento.

Não havia simplesmente crescido em tamanho. Conforme ele cresceu, sua força também cresceu em proporção. Era como assistir um dragão bebê amadurecer em um adulto de pleno direito.

(Sua massa cresceu também…?)

Raishin olhou em admiração. Ele havia visto autômatos que podiam transformarem-se antes, mas essa era a primeira vez que ele havia visto um autômato que podia crescer em tamanho. Ele perguntou-se onde a massa extra era normalmente armazenada quando o dragão estava em sua forma regular. Talvez isto resuma-se a algum tipo de circuito mágico rodando dentro dele? Muitos pensamentos correram através da cabeça de Raishin.

Um raio de luz podia ser visto oscilando dentro da mandíbula do dragão, muito parecido com uma língua.

Sigmund rugiu, e a própria atmosfera tremeu, causando rajadas violentas de vento soprarem. Charl estava ainda para ativar um circuito mágico, e ainda assim o próprio corpo de Sigmund já demonstrava uma tremenda quantidade de poder.

Esta era uma força esmagadora. Seus instintos lhe diziam que este era um forte oponente.

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Contudo, isso era algo que ele já sabia. Raishin sorriu levemente, focando sua energia mágica.

“Tudo bem, vamos mostrar-lhes o que nós temos também, Yaya. Suimei Nijuuyon—”

“Raishin!”

Mesmo sem seu aviso, ele já havia percebido. Em um instante, ele jogou-se fora do caminho, esquivando-se para um lado. Yaya pulou na direção oposta, desviando do objeto chegando.

Uma grande bola de ferro passou através do ponto onde justamente ambos estavam parados momentos antes.

Era por volta de um metro de diâmetro. Espigões afiados cobriam sua superfície inteira, dando-a uma forma muito viciosa.

A bola de ferro continuou em sua trajetória, carregando-se diretamente em direção à Charl e Sigmund.

Obviamente, ambos eles não ficariam parados ali e quietamente receber o ataque.

Sigmund usou sua asa para golpear a bola para longe… entretanto, o ataque desta pessoa misteriosa não parou aqui.

Da multidão circundante, algumas sombras tracejaram área adentro juntas.

Um boneco blindado que parecia com um cavaleiro, uma garota descalça, e uma besta de seis patas— pareceu que todos eram autômatos.

O boneco blindado avançou, enquanto os outros dois saltaram da direita e da esquerda, tentando fechar qualquer saída. Contudo, seu alvo não era Raishin— era Sigmund!

“Sigmund!”

Charl emitiu uma ordem. Mesmo que ela não tivesse instruído-o em o que fazer, Sigmund pareceu compreender seus pensamentos inteiramente. Carregando Charl em suas costas, ele voou alto em direção ao ar.

O boneco blindado mal havia começado seu avanço antes de ser esbofeteado longe pelos membros dianteiros de Sigmund.

Com uma varrida de sua cauda, os dois corpos aproximando-se dele pelos lados foram enviados voando também. Com estes simples movimentos, todos os três autômatos estavam nocauteados para a contagem, o ocasional contorcimento vindo de seus corpos sem vida.

(Ela é boa… O título dos Rounds não é apenas para se mostrar.)

Basicamente, um autômato sob controle move-se de acordo com a vontade do marionetista. Entretanto, um autômato não é somente um boneco de madeira. Eles são autônomos, o que significa que eles tem sua própria vontade também. Se o marionetista não sincronizar com seu autômato devidamente, então os movimentos do autômato serão entorpecidos, e a energia mágica excessiva será desnecessariamente gasta pelo marionetista.

Nesse ponto, Charl e Sigmund estavam em perfeita harmonia um com o outro. Se os dois não fossem intimamente familiares um com o outro, não haveria forma de Sigmund poder se mover deste jeito.

Porém— Era muito cedo para dizer que o perigo havia passado.

A visão cinética excepcional de Raishin permitia-o capturar seus movimentos.

Dentro da multidão, haviam alguns deles os quais tinham intenções hostis, e estavam movendo-se secretamente enquanto ocultos dentro dos estudantes.

Ele podia sentir nove, dez presenças… ou até mais. Mesmo se metade deles fossem meramente marionetistas, essa ainda assim era uma força formidável. Também, isso significava que eles podiam ter a vantagem devido a seus números superiores. Pouco tempo depois, eles fizeram seus movimentos.

Duas figuras parecidas com monstros voaram. Elas eram uma ondina[5] e uma harpia[6], autômatos cujo modelos eram baseados em criaturas míticas de lendas. Os marionetistas por trás deles haviam claramente projetado seus interesses e sentidos em seus autômatos com esses modelos.

O primeiro a atacar foi o autômato tipo ondina com o corpo semitransparente, que lançou um jato de água de alta pressão em forma de lança diretamente para Sigmund.

Sigmund facilmente esquivou-se, mas conforme ele o fez, um espírito de neve— Jack Frost[7]— abordou do lado e desencadeou um ataque. Sigmund mal conseguiu se esquivar da arte mágica do gelo frio que foi mirado nele. Embora ele emergiu ileso, a explosão gélida congelou a água do ataque da ondina, causando o chão a ser congelado também.

Acima disso, um ataque veio de cima também. O autômato tipo harpia instigou um vendaval feroz. Incapaz de desviar disto, Sigmund perdeu sua flutuabilidade no ar, e colidiu-se com o chão congelado.

Aparecendo logo ali estava um novo adversário. Um gigante com aparência condizente com a de um golem[8] propulsionou-se.

Suas pernas não podem ganhar tração no chão escorregadio, então Sigmund não pode se esquivar. O golem agarrou-se em suas asas, roubando-o de movimento.

Os estudantes circundantes começaram a murmurar entre si mesmos. Talvez a hora finalmente tenha chegado para a lendária T-Rex?

Um horrível som pôde ser ouvido conforme as asas de Sigmund começaram a ranger sob a pressão. Se as coisas permanecerem assim, ele podia ficar em perigo. Contudo, Sigmund era incapaz de sacudir o golem para longe. Ainda no topo de suas costas, Charl estalou sua língua, e nesse momento, a grande bola de ferro voou através do ar com uma lufada.

Transbordando com tremenda força destrutiva atrás dela, a bola de ferro—

—não colidiu com Sigmund.

“… O que você está jogando, em?”

Charl perguntou com uma voz fria.

Raishin ignorou a questão vinda detrás dele, e falou com sua parceira ao lado dele.

“Vamos lá, Yaya.”

“Se Raishin assim o desejar, eu irei até os fins da Terra por ele.”

Yaya empaticamente respondeu, enquanto arremessava de lado a bola de ferro que ela havia pegado.


(4)

Charl estava completamente perplexa conforme ela olhou para as costas da pessoa em sua frente.

A pessoa era o garoto mal-educado o qual havia desafiado-a para uma luta.

Para um lado estava sua autômato a qual estava parada em cima do golem, aquela que tinha pego a bola de ferro.

Demorou-lhe alguns segundos para compreender que os dois haviam lhe protegido.

E depois que ela notou, ela ficou extremamente furiosa.

“… Afaste-se.”

“Eu teria, mesmo que você não tivesse me dito para fazer. Afinal, tenho que me livrar deste lote de qualquer jeito.”

“Pare de retesar-se ao redor. O que exatamente estás—”

“O que você está fazendo?”

Alguém cortou, finalizando a sentença no lugar da Charl.

Uma pessoa insolente caminhou arrogantemente para fora do meio da multidão.

Próximo a ele estava um autômato tipo fêmea. Entretanto a expressão em sua face não lembrava um humano, e tinha juntas esféricas. Seria melhor dizer que era parecida com uma boneca em aparência.

A boneca estava segurando uma haste de ferro. Apontando a ponta em direção à bola de ferro, uma linha de luz estendida adiante. Uma corrente retrátil de energia mágica— parecia que isso era alguma forma de estrela-d'alva[9].

(Então essa bola de ferro era a cabeça de uma estrela-d'alva…)

Charl não deixou sua guarda baixa, e continuou a olhar a cena de batalha.

Porque o campo de batalha tinha expandido-se para acomodar as novas chegadas, os estudantes os quais estavam observando recuaram. Parados na rua alargada estavam 5 autômatos: Ondina, Jack Frost, Harpia, Golem, e a usuária de estrela-d'alva. — Na verdade, esses não eram todos eles.

Com um turbilhão, as três unidades que foram derrotadas ergueram-se.

Eles foram restaurados. Conforme ela olhou em volta pela causa de seus renascimentos, ela localizou um autômato de manto branco a distância, balançando um cajado. O que significa que ele possuía uma arte mágica restauradora.

Com isso, o inimigo numerou nove no total. Arte mágica restauradora, arte mágica ofensiva, alguém para defesa, alguém para realizar assaltos rápidos, um atacante de longa distância; essa formação era exatamente como uma unidade militar.

Enquanto continuava a agonizante competição de força com o golem, Sigmund murmurou sem emoção.

“Eu acho que você É popular, Charl. Estes marionetistas por ali não são nadas além de homens.”

“… Essa é a hora e lugar para isto?”

O jovem insolente e sua gangue estavam claramente alvejando Sigmund. Ela tentou se lembrar se havia algum tipo de rancor contra ela… e porquê havia, Charl preparou-se para uma batalha árdua.

Enquanto isso, o jovem insolente estava continuando sua conversa com o garoto rude.

“Responda-me, estudante transferido. Por que você está interferindo conosco?”

“Esta coisa aqui é minha presa. Não tolerarei alguém arrebatando-a para longe de mim.”

Ele acabou de se referir a mim como essa coisa!? Eu sou uma presa!? Que insolência!

“… Neste caso, nós iremos lhe dar as qualificações de entrada da Lady Belew para você.

Em troca, você não consideraria trabalhar ao nosso lado? Tendo companheiros provará ser vantajoso para você na Festa Noturna.”

“Eu recuso.”

O garoto rude rapidamente recusou a proposta. Ele nem ao menos parou para considerar os termos da oferta sendo proposta a ele.

“… Por que? Não é como se houvesse qualquer desvantagem para você.”

“Eu não gosto da ideia de depender de dez homens.”

Ele levantou sua mão em direção a garota vestida de quimono. Em resposta para a energia mágica que ele transmitiu, a garota chutou o golem longe. O largo corpo parecia que facilmente passava três toneladas em peso, mas ela mandou-o voando tão fácil quanto ela teria chutado uma bola de borracha.

Ooooh, passou a galeria.

Capaz de se mover livremente mais uma vez, Sigmund propagou suas largas asas, como se ele estivesse tentando avaliar o atual estado de seu corpo.

“Eu vou reuni-los juntos em um lugar aqui. Eles não estão acostumados a serem arrebanhados jun—”

Ele não pôde finalizar sua sentença. O rugido de uma explosão subjugou o que ele disse, e ele foi envolvido por uma larga rajada de fogo em um clarão. Uma bola de fogo acertou o garoto rude por detrás.

“Te peguei! Ha! Bem feito por deixar sua guarda baixa!”

Houve então um grito de prazer. Afobadamente virando-se em volta, havia uma solitária estudante no meio da galeria fazendo uma pequena jiga de triunfo. Ao lado dela estava uma autômato bruxa. — Um grupo de emboscada, por assim dizer.

O fogo desvaneceu-se. O que deveria ser os restos carbonizados de um jovem aparecendo de dentro da fumaça… tornou-se em duas pessoas ali em pé completamente ilesas.

A garota havia coberto seu mestre. Menção especial devia ir para sua remarcável resiliência. Outro senão seu quimono estar levemente chamuscado, sua pele mostrou-se sem nenhum traço de estar queimada ao todo!

Sem ao menos virar-se para olhar na direção do grupo de emboscada, o jovem simplesmente disse “Vá.” A garota vestida em quimono estourou-se adiante em um piscar de um olho, aproximando-se da bruxa.

Aparecendo diretamente embaixo dela, ela plantou um feroz chute na mandíbula da bruxa.

A bruxa foi lançada mais alto que o prédio da escola, estilhaçando-se à parte no meio do ar.

Que energia explosiva! Então novamente, ela foi capaz de mandar o largo golem voando.

“O que tem com esse cara…” “Pode ser que realmente ele seja… forte?” “Ele é somente o 1235º lugar, certo!?”

A galeria estava alvoraçada. O distúrbio na galeria propagou-se até a facção da pessoa insolente, causando-os a ficarem incomodados.

“O autômato desse cara é um modelo classe top! Ao invés disso esmague o marionetista!”

O mestre da portadora da estrela-d'alva gritou. Pareceu que ele era o líder da gangue. O pessoal insolente seguiu esse comando, e todos começaram a saltar em direção à carne e sangue humano do marionetista.

O cavaleiro blindado estocou sua lança, e o golem balançou seu enorme punho de ferro.

“Woah”

O jovem rude levemente saltou para longe, esquivando e pousando ordenadamente no chão.

“Não é mirar no marionetista contra as regras da Festa Noturna?”

Mesmo que ele tenha dito isso, fora inútil. A gangue insolente não desistiu em seus ataques.

“Bem, se isso é o que eles vão fazer, então supostamente é melhor eu fazer algo da minha parte também— Kouen Juuniketsu! (Luz flamejante, 12 vínculos)”

“Roger!”

Recebendo o comando, os movimentos da garota mudaram. Com a força de um fogo ardente, ela violentamente chutou o golem, causando-o a colidir-se com o cavaleiro blindado como uma bala, então ela disparou no meio do inimigo.

A cena que desdobrou-se diante de seus olhos era uma que estava além da imaginação mais selvagem de Charl.

Indo contra a sabedoria tradicional de Machinart e bom senso, isso era um estilo de luta inconvencional.

O jovem rude seguiu de perto atrás da garota. Pegando uma peça da autômato quebrada que a garota esmagou mais cedo, ele jogou-a, a garota realizando uma finta para que o oponente pudesse ser acertado pelo garoto rude.

Com o inimigo desequilibrado, isso causou aberturas na guarda adversária, permitindo a garota dar um chute devastador. O poder nas pernas da garota facilmente esmagaram o corpo do autômato, espalhando fragmentos em todo o lugar.

Esses movimentos eram simplesmente o par movendo-se em formação.

Ela desafiou o bom senso, mas a mesma não ia contra ele. Como uma tática de batalha ela era, com certeza, consistente em termos de rendimento, e extremamente racional.

Charl estalou sua língua. Um marionetista de terceira classe? Ele estava mentindo! Enquanto ele próprio movia-se, os movimentos de sua boneca não foram embotados nem um pouco.

Para controlar uma marionete tão bem, uma forte força— energia mágica era necessária.

Então no mínimo, ele havia submetido-se a uma considerável quantidade de treinamento.

(Então os Orientais tem este tipo de estilo de batalha também…?)

Enquanto Charl olhava em admiração a batalha em curso, Sigmund sussurrou em sua orelha.

“Charl.”

“… Entendi.”

Graças ao jovem rude dançando envolta deles, a atenção da gangue tinha sido atraída para ele.

Charl começou a reunir energia mágica, permitindo-a fluir para os circuitos mágicos de Sigmund.

Poder começou a se reunir, e ela esperou. Até todos os inimigos estarem alinhados em uma linha,

“Luster Cannon!”

Uma torrente de luz feroz disparou-se adiante da mandíbula de Sigmund.

Lembrou um sopro de fogo dos dragões lendários. Uma luz tão brilhante que queimava as retinas. Junto com a violenta explosão de luz, as moléculas na atmosfera foram aniquiladas, causando um forte efeito de vácuo.

O raio de luz estendeu-se por vinte metros, antes de rapidamente decair-se, perdendo seu efeito. Entretanto, isso foi suficiente. Os autômatos da gangue foram pegos na explosão, alguns sendo atingidos no braço, alguns na perna, e alguns tiveram metade de seus corpos atingidos.

As partes afligidas derreteram como doce, a seção cruzada das partes restantes emitindo um curioso lustro suave.

A batalha havia sido decidida. E eles haviam perdido.

O jovem rude também podia ver que eles foram derrotados, com todos os dez corpos fora de comissão. Tudo que a gangue insolente podia fazer era recuperar suas marionetes e afastarem-se apressadamente em um pânico.

Os estudantes circundantes estavam em uma perda por palavras, parados onde eles estavam estupefatos.

“Quão assustador. Os rumores eram verdadeiros; você realmente possui este tipo de poder ridiculamente forte.”

O jovem rude falou em tom de brincadeira. Ele também tinha um sorriso muito familiar em seu rosto.

Que pessoa irritante. Se ao menos ele também houvesse sido pego no Luster Cannon.

“Não faça o erro absurdo de pensar que eu precisei de ajuda.”

“Sim, bem, você não me toca exatamente como o tipo que precisa ser salva.”

“O resultado ainda seria o mesmo se um pervertido como você estivesse ou não aqui. Isso vai para sua boneca aí também.”

Por um momento, Charl silenciosamente olhou para o par. Então seu humor mudou ligeiramente, e em um tom mais moderado ela falou.

“… Hmph. Em qualquer caso, diga-me seu nome.”

O garoto rude soltou um riso abafado, então introduziu-se.

“Eu sou um marionetista do Japão. Akabane Raishin.”

“Similarmente, Yaya.”

“… Não, não há nada similar sobre nós.”

“Neste caso, Eu sou Yaya, sua esposa.”

“Isso também não és! Eu não entrei você no registro de família ou qualquer coisa assim, ok!?”

Charl riu desdenhosamente para o garoto perturbado— seu nome parecia ser Raishin.

“Rye? Sheen? Esse é um nome estranho.”

“Não é como se eu gostasse dele também! Além disso, eu quero que você saiba que em meu país ele é escrito com os caracteres para ‘trovão’ e ‘verdade’!”

“Isso não importa. Vamos apenas acabar com isto, vendo como eu vou esmagá-lo em uma fração de segundo.”

Ela estendeu sua mão em direção à Sigmund, mantendo o elo de energia mágica entre eles.

Raishin não moveu-se. Ele apenas manteu-se olhando atentamente em suas direções.

Seu olhar não estava focado nela entretanto, ele estava olhando para Sigmund.

E então.

“… Vamos parar.”

Ele virou-se para longe abruptamente. Os estudantes começaram a murmurar entre si, eles estando tão surpresos quanto Charl estava.

“Eu perdi o interesse. Nós vamos continuar de onde paramos hoje alguma outra hora.”

Era um motivo egoísta. Uma Charl indignada tremeu com raiva.

“Você está brincando…? Foi você quem me desafiou, e agora você está apenas fugindo…”

Não permitindo que ela acabasse, alguma coisa brilhou em sua mão esquerda. Ele pegou alguma coisa redonda do arreio em volta de sua cintura, e agora ele atirou-a no chão.

Uma pequena explosão deu lugar para um grande volume de fumaça despejando-se.

A fumaça branca cobriu completamente a área. Pareceu que era uma bomba de fumaça, um produto do Japão, a terra dos ninjas.

Com um bater de suas asas, Sigmund limpou a fumaça para longe. Embora nessa altura, o par já havia colocado uma quantidade considerável de distância entre eles. Facilmente pulando sobre a multidão de pessoas, eles correram para longe.

A única coisa que podia ser concluído era que ela havia completamente e minuciosamente deixado eles escaparem.

“… Mas que banana.”

“Eu me pergunto, esse é realmente o caso?”

Emitindo uma luz ofuscante, Sigmund reverteu de volta em sua forma menor.

“O que você quer dizer?”

Sigmund baixou sua voz até o ponto no qual as pessoas ao redor não podiam ouvi-lo, e respondeu Charl.

“Eu acho que ele notou meu machucado.”

Ele moveu uma asa para mostrar a ela.

“— Lhe dói?”

“Eu só preciso de dois a três dias para recuperar-me.”

Um machucado significa que ele não poderia voar tão bem como ele gostaria. Se ele assumisse sua forma gigante, então isso seria um fardo ainda maior.

Charl não havia notado isso, e ainda assim o jovem havia?

Neste caso, ele cortou somente agora porque ele tinha sentido que Charl estaria em uma desvantagem…?

“… Então ele realmente é um banana. Somente uma galinha ingênua não teria a determinação de atacar um ponto fraco do inimigo.”

“A Festa Noturna é uma luta sem piedade pela existência. Um lugar onde a pessoa a qual eliminar todos os outros obstáculos no caminho obterá tudo. Um pervertido covardemente idiota como ele será o primeiro a ser esmagado.”

“Eu devo dizer, você parece incomumente interessada nele.”

“Por que você diria que eu estou interessa nele?”

“Se você realmente não estiver interessada, por que você perguntou seu nome?”

“Bem, isso é—”

Ela parou. Agora que ele havia mencionado, isso realmente era estranho. Isso era algo difícil de explicar.

No fim, Charl irritada terminou sua sentença.

“Oh, fique quieto. Ou senão eu rebaixarei seu frango da hora do almoço para milho.”

Endireitando seus ombros, ela partiu em direção ao refeitório.

Os estudantes circundantes fizeram caminho para ela. Assim, com um monte de questões não respondidas, e uma pequena sensação de mal-estar sobrando, a agitada pausa para o almoço chegara a um fim.


(5)

Essa noite, dentro de um dos quartos no dormitório tartaruga.

Raishin atirou-se e virou-se em sua cama, incapaz de dormir.

“… Parece que eu não estou acostumado a isto.”

O cenário do almoço havia sido queimado em seu crânio. Partes dispersas por todo o lugar, juntamente com autômatos quebrados. O sentimento que ele tinha no ponto de suas destruições, e a resposta lerda a ele.

Raishin sacudiu sua cabeça, espantando para longe a náusea reunindo-se.

“Você disse alguma coisa?”

Enquanto suspendendo a lavanderia, Yaya virou-se com um sorriso em seu rosto.

“— Não. Apenas pensando que esse quarto está tão desgastado, se você chutar a parede o lugar inteiro desmoronará.”

Ele apontou para o teto rachado e sujo.

O ar mofado encheu seus pulmões, e olhando para as paredes cobertas de fuligem fizeram-no depressivo. Embora Yaya tivesse lavado os lençóis impecavelmente, a cama rangia ruidosamente, tornando difícil para ele dormir profundamente.

Ele pensou que ficaria acostumado a isso em três dias, mas esse não era o caso.

De fato, ele notou que quanto mais ele ficasse parado ali, mais a sua insatisfação cresceria.

“Bem, eu acho que ele é espaçoso… e é melhor que apenas ter uma cama.”

Enquanto resmungando para si mesmo, Raishin atirou-se e virou-se em sua cama.

O tamanho do quarto era de 12 jou[10] (19,83 m²), e vinha com uma mesa de estudo e armário. Como era originalmente concebido para dois estudantes, ainda havia outra cama na extremidade oposta.

“É isso mesmo, Raishin. Punição divina vem para aqueles os quais não fazem nada além de resmungar.”

Yaya sorriu feliz.

Mesmo que eles estivessem sozinhos juntos, Yaya estava incomumente mais feliz que o normal.

“… Você está contente que nós não temos um colega de quarto, não é?”

“Sim <3”

Quer isso seja chamado de obstinação ou tenacidade, Yaya estava propensa à agitação estranha. Mesmo que ele tivesse um colega de quarto, quem sabe que truque diabólico ela sacaria para eliminar esse dito colega de quarto?

“De qualquer jeito, o que nós faremos amanhã? Você desafiará alguém novamente?”

“Eu pensarei sobre isso amanhã. Por agora é hora de dormir.”

“Entendo. Boa noite, Raishin.”

“É… espere-espere-espere!”

Ele empurrou para fora a coisa rastejando em sua cama.

“Sua cama é logo ali!”

“Mas Yaya ficou machucada na batalha hoje. E eu acho que eu fiquei um pouco queimada também.”

“O que isso tem a ver com qualquer coisa!?”

“Você não sabia? Nós autômatos funcionamos com a energia mágica de um marionetista.

Quando nós estamos danificados, o mais próximo que nós estivermos do marionetista, mais rápido nós iremos recuperar-nos.”

“… Agora que você mencionou isso, eu acho que esse é o caso…”

O descontentamento de Raishin estava plenamente visível em seu rosto.

Yaya sentou no pé da cama dele, olhando-o com olhos de cachorrinho.

Olhando para ela, ela não tinha machucados externos. Embora, ele não tinha pistas sobre seu sistema interno. Porque ela própria havia dito que estava machucada, ele se questionou se isso era verdade.

Se ela estivesse, então era responsabilidade de Raishin. Essa batalha havia acontecido somente por seu egoísmo.

“… Eu acho que não pode ser remediado então. Se esse é o caso, então eu acho que nós podemos dormir juntos.”

“Ok. <3”

“Entretanto, você não poderá fazer nada estranho.”

“Eu não farei. Eu não farei nada estranho.”

“Eu acho que eu expressei-me errado. Não toque em mim.”

“… Tch.”

“Você justo agora estalou sua língua? Por que você estalou sua língua?”

“Se um autômato tiver em contato direto com seu marionetista, ele irá se recuperar muito, muito mais rápido.”

“Essa é uma mentira! Saia daqui! Eu acho que eu dormirei sozinho apesar de tudo!”

Yaya, a qual estava esperando por uma abertura, e Raishin, o qual estava mantendo sua linha de defesa até a morte. Fogos de artifício desencadearam-se entre eles conforme um equilíbrio inquieto era alcançado.

Assim, Raishin teve uma noite sem dormir.


(6)

A clara luz lunar iluminou o campus à noite.

Era uma da manhã. Todos os estudantes respeitáveis, decentes já estavam dormindo profundamente.

Estava tão quieto que você podia pensar que todos haviam sido extintos, mas então uma sombra oculta começou a se mover.

Nos arredores do jardim, em um bosque de árvores oculto de quaisquer olhares possíveis, um par de olhos brilhou na escuridão.

A silhueta era vaga e indistinta. Ela estava rastejando de quatro, devorando alguma coisa desordenadamente.

A coisa que a sombra estava devorando tinha braços, pernas e uma cabeça.

Seus olhos estavam abertos. Seus estalados olhos fora do globo ocular contavam a história de seus momentos finais, a agonia da morte a qual foi submetido. Uma grande bola de ferro tinha sido emaranhada em suas pernas esmagadas, e a substância similar a sangue estava jorrando da área. Rosto virado para cima no chão, o tronco havia sido canibalizado, fazendo-o parecer-se com um corpo.

Porém, esse não era um corpo humano.

Sob sua pele rompida, incontáveis cabos e cilindros metálicos podiam ser vistos.

Ele era um autômato. A sombra estava comendo um autômato.

Rasgando o corpo, ela arrancou o circuito interno. Parecia como um demônio comedor de homens conforme devorava em silêncio o corpo com grande prazer, chupando o excesso de óleo.

A sombra continuou seu jantar muito depois da lua se pôr, somente terminando uma vez que o céu oriental havia começado a ficar branco.

Referências e Notas de tradução[edit]

  1. Uma flor parasita que emite um forte cheiro para atrair insetos para polinização e reprodução. Wikipédia
  2. Popularmente conhecidas como estampas japonesas, ela é um gênero de xilogravura. Wikipédia
  3. Um herói do folclore japonês. Wikipédia
  4. Bolinhos de milho japoneses. Wikipédia
  5. Ser mitológico elemental da água, similar a uma sereia. Wikipédia
  6. Ser da mitologia grega, com corpo de mulher e asas. Wikipédia
  7. Figura lendária pertencente ao norte da Europa, a personificação do frio. Wikipédia
  8. Familiar artificial mítico, trazido a vida através de magia para defender seu invocador. Wikipédia
  9. Arma medieval com hastes de ferro. Wikipédia
  10. Uma unidade de medida tradicional japonesa. Wikipédia

Capítulo 2 – Um Encontro Fugaz[edit]

(1)

Embora ele sabia que era apenas um sonho, Raishin encontrou-se mais uma vez no mesmo.

“Nadeshiko!”

A fumaça negra entrou em seus olhos. Seus pulmões pareciam como se estivessem em chamas. Seus instintos estavam falando que ele não deveria estar ali nem por um segundo a mais. Um medo mais profundo que qualquer coisa que ele já sentiu o assaltou, gritando a ele para ele sair de lá.

Contudo, Raishin correu adiante, rompendo através das chamas. Ele foi mais fundo no interior.

“Nadeshiko, onde está você!?”

Chutando abaixo as portas corrediças, ele procurou por sua irmã menor. Ele gritou por ela, até o ponto em que sua garganta parecia que ia rasgar-se a si mesma à parte.

Se houve alguma vez algo como uma premonição de destruição, Raishin estava sentindoa agora.

Por favor, deixe-me fazer isto a tempo, ele pensou. Conforme ele corria, ele manteve-se pensando. Sobre como ele devia se apressar. E também— não importa o quão rápido ele se apressava, já era provavelmente tarde de mais.

Com um estalo alto como trovão, uma viga suspensa desabou. Nesse momento,

“Irmão…”

Ele podia ouvir uma voz fraca.

“Nadeshiko! Você está aqui!?”

Ele freou abruptamente. Mudando de direção no meio do corredor, ele escancarou a tela conduzindo para uma sala maior.

O que esperava Raishin dentro era—


(2)

“Pense sobre circuitos mágicos como uma substituição para rituais, ou como um certo tipo de motor. Do mesmo jeito que o vapor energiza uma roda dentada ou uma engrenagem, o fluxo de energia mágica permite o nascimento de artes mágicas. Obviamente, comparado a simples girar de uma roda, artes mágicas permitem resultados mais complexos—”

Uma voz cruelmente brusca e eficiente estava acompanhada pelo monótono raspar de giz em um quadro-negro.

A sala de aula era em forma similar a um antigo teatro. Estudantes sentavam-se em cadeiras organizadas ordenadamente, as cadeiras tornando-se mais altas conforme elas iam mais ao fundo. Raishin estava em algum lugar no meio, e ele estava atualmente na palestra de Kimberly.

Esta era a primeira vez que ele estava atendendo uma palestra, mas para falar a verdade, ele estava sentindo-se sonolento.

Abafando um bocejo, ele olhou sem rumo pela sala de aula.

Os estudantes tinham expressões sérias em seus rostos, e autômatos estavam misturados com o corpo estudantil. Embora, os únicos autômatos que ele podia ver eram aqueles que eram bonecos com aparência semelhante à humana ou pequenos animais.

Aqueles com corpos grandes tinham de esperar fora da sala de aula em um espaço especialmente construído.

Próximo a Raishin, Yaya estava diligentemente copiando anotações. Desde que Raishin não podia ler nem escrever Inglês, Yaya copiou o que estava sendo escrito no quadronegro em seu lugar.

De repente ele estava ciente de um par de olhos azuis que estava olhando em sua direção.

Era a Charl. Três linhas na frente dele, sentada à sua direita, ela estava furtivamente roubando um olhar em sua direção.

Uma vez que seus olhos encontraram-se, Charl apressadamente virou-se para a frente.

Escondendo seu rosto por trás de um livro de ensino, vários segundos passaram-se.

Desta vez ela apenas moveu seus olhos conforme olhou para trás. Seus olhos encontraram-se novamente, mas desta vez eles enfastiavam intenção de matar, seu olhar espinhoso atravessava através dele.

(O que exatamente é que ela quer agora…)

Enquanto Raishin estava ponderando sobre se deveria retornar seu olhar— Algo duro acertou-o entre os olhos.

“Raishin! Você está bem, Raishin!?”

Yaya estava afobada. Arruinada com dor, Raishin esfregou sua testa.

Era um fragmento branco que tinha sensação de pulverulento— Pó de giz.

Cautelosamente levantando sua cabeça, ele viu Kimberly olhando diretamente a ele. Por trás de seus óculos um brilho gelado preenchia seus olhos.

Parecia que ela havia arremessado o giz. Que controle assustador.

“Você tem alguma coragem ignorando minha palestra, Penúltimo. Por causa de quem você acha que eu emburreci a palestra e tenho que ensinar desta forma tediosa?” “Novos estudantes como eu, e estudantes que tem resultados ruins?” “Errado. É para o novo estudante que tem resultados ruins.”

“Peço desculpas por isso, professora Kimberly. É que eu não tenho obtido sono o suficiente.”

“Entendo. E suponho que você irá me dizer que você tem tido sonhos ruins também?”

“É como se você visse diretamente através de mim.”

“Você tem coragem. Bem, vou deixá-lo de fora desta vez, mas em troca, responda essa pergunta. Qual é o circuito mágico mais popularizado atualmente?”

“Bem, isso é—”

Ele pensou que era uma questão simples, mas ele não podia responder prontamente.

Raishin inclinou sua cabeça.

“Calor… Não. Cinético[1]… Esse também não é. Geração… fótica[2]?”

Kimberly deixou escapar um longo, suspiro profundo, como se ela estivesse desafiando sua própria capacidade pulmonar.

“Diga-o, Charlotte.”

Charl foi pega de surpresa pela mudança repentina no alvo,

“… Coração de Eve.”

“Correto.”

Houve um burburinho entre os estudantes.

“Deméritos para esses idiotas que acabaram de abrir suas bocas.

Pedaço fresco de giz na mão, Kimberly escreveu a palavra ‘Vital’ em letras grandes no quadro-negro.

“Exatamente como Charlotte disse, é o circuito mágico que dá vida para todos os autômatos— O Coração de Eve é embutido dentro deles. Este circuito é a razão do porquê autômatos tem movimentos autônomos.”

Ela continuou em um tom prosaico.

“Dois tipos diferentes de arte mágica não podem residir no mesmo corpo— essa é a base fundamental de física maquinaria, a Teoria da Dissonância de Atividade Mágica. Embora, há uma exceção para essa teoria.”

Em outras palavras, esse é o circuito Coração de Eve. Quase todos os autômatos vem equipados com um circuito mágico diferente, em adição ao Coração de Eve.

“Você pode dizer que a história de Machinart somente começou após esse circuito ser descoberto. Quer você queira chamá-lo de fonte, origem, início, ou o ponto de partida, até este dia ainda é uma caixa-preta muito inexplicável. Reproduzir o circuito em si é relativamente fácil em vez de desenvolvê-lo além. Diz-se ser praticamente impossível.”

Porque o circuito foi popularizado a esse ponto, cada oficina tem, pelo menos, um mestre versado em reproduzi-lo. Porque essa ‘Vida’ era fácil de gerar, os próprios autômatos foram ubíquos também.

“O Coração de Eve é um circuito extremamente flexível. Não apenas pode conferir inteligência para marionetes, nas mãos de um marionetista habilidoso ambas funções de respirar e transpirar podem ser reproduzidas, bem como digestão de comida. Embora o quão úteis essas funções serão em batalha, eu não posso dizer.”

Os lábios de Kimberly se distorceram em um sorriso cínico.

“Se você quisesse uma razão para imitar um humano, então essa seria em situações onde seu autômato tem de misturar-se entre humanos— Infiltração ou coleta de informações. Tendo dito isso contudo, todos os marionetistas gostam de ter seus bonecos sendo pseudo-humano, em termos de ambas aparência externa e funções internas.

Quero dizer, realmente, que bando de fanáticos. Não está certo, Penúltimo?”

Enquanto dizia isso, o olhar de Kimberly estava focado não em Raishin mas Yaya, a qual estava sentada próxima a ele. Envergonhada, Yaya desejou que houvesse ali um buraco no chão para ela esconder-se, mas desde que não havia ela apenas podia pendurar sua cabeça levemente.

“Eu não sei o que você está tentando insinuar dizendo isso, mas…”

Batendo seus cotovelos na mesa, Raishin falou em uma voz ameaçadora.

“Essa aqui é a maior autômato do mundo.”

Seus olhos negros tornando-se úmidos, Yaya olhou para Raishin, subjugada com emoção.

“Raishin…!”

“Porque ela foi criada por Shouko.”

Uma veia estalou.

“… Yaya, o que está errado? O que há com esse olhar demoníaco em seu rosto— esespere um minuto, acalme-se!”

“De novo com Shouko… Sempre Shouko isso e Shouko aquilo…”

Yaya estava soluçando enquanto estrangulava Raishin, violentamente sacudindo-o para frente e para trás.

Os estudantes em volta foram incapazes de segurarem suas risadas.

“Entendo. Então minha aula é tão chata, é isso?”

Kimberly tinha uma expressão gelada em seu rosto conforme ela apontava para fora da janela.

“Então para evitar o tédio, vá limpar o grande salão. — Saia agora!”


(3)

O sino soou, significando o começo da pausa para o almoço.

“Maldita seja… Por sua causa nós tivemos que realizar trabalho manual sem necessidade.”

Raishin estava resmungando enquanto usava um esfregão para limpar. Embora ele estivesse resmungando, ele estava obedientemente limpando o grande corredor, uma ação a qual podia ser atribuída ambas, a integridade ou uma recusa a desistir uma vez que ele tenha começado algo.

Yaya ainda estava soluçando. Parecia que ela ainda estava afetada pelo comentário sarcástico anterior.

“Isso é choro o suficiente. O sarcasmo da professora Kimberly foi esse tanto de choque para você?”

“Uu… Raishin é um idiota.”

“Isso foi inesperado. Bem, não é como se eu pudesse discordar com essa afirmação.”

Arrumando o equipamento de limpeza, eles deixaram o grande corredor— ou melhor, ele fez assim, mas Yaya obstinadamente permaneceu dentro imóvel, em vez disso continuando a fungar.

Raishin estava no fim de seu juízo. Ele suspirou alto.

Agarrando na mão de Yaya,

“Vamos, anime-se. Vamos embora pegar algo para comer.”

“O-ok… <3”

Raishin conduzia agora uma animada Yaya pela mão, e dessa vez eles saíram do grande corredor.

Fora do grande corredor, estudantes já estavam lotando a rua principal.

Um grande volume de estudantes derramaram-se para fora das várias construções e salas de aula.

A maioria deles dirigiam-se para o centro da rua principal, onde o refeitório estava localizado. A visão de tantas pessoas dirigindo-se a um único local fez Raishin pensar que eles estavam dirigindo-se a uma demonstração ou começando uma insurreição.

Indo junto com o fluxo, Raishin e Yaya moveram-se com a multidão. Recebendo olhares das pessoas circundantes, após caminhar um pouco eles viram um prédio com uma vista moderna, um lado do qual foi completamente feito de vidro.

“Então esse é o falado aço de concreto armado, hein? Parece muito diferente do salão de jantar no dormitório.”

Entrando, a diferença tornou-se ainda mais distinta.

Primeiramente, o teto era alto. Mesas brancas com design moderno estavam alinhadas em fileiras dentro de um brilhante e espaçoso cenário, fazendo-o parecer muito higiênico e limpo.

Como Raishin havia saído de uma palestra pela primeira vez hoje, ia sem dizer que esta era sua primeira vez no refeitório também.

Enquanto estava ali como um idiota, um cheiro delicioso soprava e ele virou-se em sua direção.

Projetando-se da parede, diretamente fora da cozinha, enormes quantidades de comida estavam alinhadas em uma fila. Grandes pratos e talheres de metal estavam empilhados próximos a um sortimento de pratos de carne, pratos de peixe, saladas e uma seleção de pães.

Os estudantes tinham se enfileirado em uma linha, carregando seus pratos maciços com a comida.

Esse era um sistema diferente que do dormitório. No salão de jantar do dormitório, você escolhe um item do menu, e então come o que quer que você receba.

“Veja, Yaya. Todo mundo está simplesmente servindo a si mesmos para a comida.”

“Nós podemos simplesmente pegar o que nós quisermos, então?”

“Parece-se com isto. Eu realmente não peguei como isto funciona, mas quando em Roma…”

Fome e uma falta de sono estavam enevoando seu julgamento. Não pensando mais profundamente sobre a situação, Raishin uniu-se a cauda da linha. Mesmo aqui ele era o centro da atenção, mas isso era uma ocorrência regular por agora e então ele ignorou-a.

Agarrando uma bandeja, ele colocou um prato em cima dela e começou a servir a si próprio para a comida.

Conforme ele avançou, o cume da fila veio à visão, e Raishin finalmente percebeu seu erro.

Havia uma caixa registradora no fim da fila!

Agilmente operando a registradora, uma dama estava recebendo bocados de papéis dos estudantes.

“Eu tenho que pagar!?”

Raishin estava mortificado. Ele não estava esperando dinheiro a mudar de mãos. Então novamente, isto deveria ter sido óbvio. Mesmo as despesas de comida no dormitório estava sob uma conta separada da taxa básica de hospedagem.

Obtendo um mau pressentimento em seu estômago, Raishin virou-se em volta e esticou sua mão.

“Yaya, entregue-me minha carteira.”

“Ela está no armário do dormitório.”

“… Então você não tem nada?”

“Não.”

“… O que nós faremos agora?”

Enquanto a troca ocorria, a linha avançava firmemente adiante. Para ir contra o fluxo de tráfico agora seria estranho, para não mencionar retornar a comida de volta para onde ela veio. Para fazer assim violaria etiqueta comum, algo que mesmo um estrangeiro como Raishin sabia.

“… Você acha que eles deixar-me-iam colocá-la em minha conta?”

“Não há tal coisa como uma conta aqui. Você realmente, verdadeiiiirameeeente é o maior cabeça dura de sempre.”

Uma voz extremamente espinhosa voou sobre de trás dele.

Virando-se em volta, ele viu um rosto familiar de uma garota em pé dois estudantes atrás dele.

Deslumbrante cabelo dourado, olhos azuis, e sua marca registrada, companheiro dragão.

“Charl—”

“Não dirija-se a mim com esta familiaridade. Você deve se dirigir a mim como Senhorita Belew.”

Teria ela estado sempre tão próxima? Raishin perguntou-se. Hoje parecia que seu olhar estava mais feroz que o usual, entretanto parecia como se ela não estivesse refletindo adagas para Raishin, ao invés disto, a garota parada atrás dele.

Os dois garotos ensanduichados entre eles ficaram pálidos, e ofereceram-se para deixar Charlotte mover-se adiante na linha. Charl deu um curto “Obrigado.”, e caminhou adiante em direção à Raishin.

Remexendo através de seu bolso, ela pegou três notas de uma libra—

E entregou-as para Raishin.

Esta foi uma ação inesperada. Raishin foi pego de surpresa, mas para recusar a oferta seria grosseiro da parte dele. Educadamente baixando sua conduta, ele agradecido aceitou o dinheiro.

“Desculpe pelo transtorno.”

“Diga ‘muito obrigado’ corretamente.”

Após pagar por ambas porções sua e da Yaya, ele saiu da fila. Esperando depois dele ter pago na registradora, Charl seguiu-o e sem dizer nada empurrou um caderno em seu rosto.

Ele era um caderno excessivamente elegante, e havia algo escrito nele.

Porque ele havia sido rabiscado rapidamente, ele não podia lê-lo. Raishin virou-se para Yaya por ajuda, e ela leu-o alto em uma voz pequena,

“Eu pagarei Charlotte Belew quatro libras.”

“Isso é um vale. Se você valoriza sua vida, você irá assiná-lo.”

“Você está tentando me assaltar? E por que há interesse aqui?”

“É claro que há interesse. Não há necessidade para mim de alimentar um pervertido como você de graça depois de tudo.”

“Não me chame de pervertido. E tudo bem, eu a pagarei de volta quatro libras.”

Enquanto Raishin esforçava-se para assinar seu nome com alfabeto que ele não estava acostumado com,

“Como você está sentindo-se, Sigmund?”

Um pouco surpreendido, o pequeno dragão descansando no topo do chapéu de Charl levantou sua cabeça.

“Eu estou bem. Foi apenas um leve arranhão.”

“Isso é bom de ouvir. Lá vai você, Charl.”

Ele retornou o caderno de anotações. “O que é esse horrível rabisco?” foi Charl, mas ela parecia satisfeita o suficiente que Raishin havia o assinado, e moveu-se para longe deles.

“Espere. Já que você já está aqui, vamos comer juntos.”

“Qu—”

Ambas Yaya e Charl exclamaram. Deve ter sido um grande choque, para o prato na bandeja de Yaya começar a chacoalhar, e Charl quase deixou cair seu macarrão e galinha.

A boca de Charl abria e fechava silenciosamente, como um peixe-dourado.

Então as fendas de seus olhos foram levantadas em indignação.

“Eu recuso. Por que eu quereria comer com um pervertido como você?”

“Não seja assim. Nós não somos camaradas em armas que lutaram lado a lado um com o outro?”

“Não seja ridículo. Isso foi porque você egoistamente— falando nisso, em primeiro lugar você foi o insolente pervertido que desafiou-me para batalha. Por que eu deveria alguma vez comer com um homem como você… Ah, eu entendi. Colocando em termos simples, você deve ser um idiota. Um idiota com um desejo de morrer. Uma pesarosa, deplorável desculpa de um homem.”

Ela estava sendo muito brusca. Charl continuou seu assalto verbal com Raishin incapaz de dizer uma palavra de recanto.

Entretanto, ele não desistiu. Ele seguiu atrás de Charl com um olhar indiferente em seu rosto, recebendo o fato que ela não tentou escapar como um bom sinal, e sentou-se em um lugar oposto a ela.

Charl olhou para ele pasma, mas ela não disse uma coisa, reincidindo em uma carranca silenciosa. Agarrando seu garfo, ela esfaqueou viciosamente a sua massa de tomate.

Era óbvio que ela havia sido jogada fora de seu ritmo. Raishin foi deixado perguntando-se como lidar com esta situação embaraçosa.

Sigmund viu nada disso como sua preocupação, e começou a mastigar a sua galinha com gosto.

Yaya havia entrado em um silêncio negro. Ela nem mesmo tocou seu sanduíche, ao invés disto radiando uma presença perturbadora. Contudo Raishin apenas ignorou-a e começou a conversar com Charl.

“Por que você entrou em silêncio? Seu estômago dói ou algo assim?”

“…Eu estou realmente atônita. Sua imprudência não conhece limites? Mesmos seus nervos são idiotas como você. Também, eu estou mantendo-me quieta porque eu estou entediada. Como um homem, não deveria ser você aquele criando conversas que despertem meu interesse?”

“Oh? Então você está dizendo que você deseja ser excitada?”

“Quê… Grr…. Sigmund! Destrua este idiota neste instante!”

“Acalme-se Charl. Deixe-me terminar minha galinha primeiro.”

“Fique quieto, ou começando a partir de amanhã eu irei alimentá-lo nada além de comida de cachorro. Agora apresse-se e—”

Meia sentença, ela notou uma mudança em Raishin.

Seus olhos estavam fixados em algo no lado oposto da parede de vidro, como se ele estivesse tentando devorá-lo com seus olhos.

“… Ei. Acabou de acontecer alguma coisa?”

Entretanto, Raishin não respondeu.—Ele não tinha a compostura para responder.

Charl amuou em um huff,

“Me ignorar? Você está vindo apenas para me ignorar? Quem você pensa que é, você colega rude!”

“Isso é…!”

Ele não podia tirar os olhos. Os globos oculares de Raishin seguiram atrás dessa figura.

Ele tinha uma máscara prateada, e estava envolto em uma capa preta. Ele atingiu uma figura galante, mas, ao mesmo tempo, havia um ar de compostura conforme ele caminhou.

Por um breve momento, uma visão horrível passou diante de seus olhos.


(4)

Raishin rompeu a porta com força suficiente para derrubá-la.

Entrando no corredor de recepção da propriedade, que foi quando ele viu. Se ele tivesse que colocar em palavras, então seria melhor descrito como inferno.

Mesmo no meio do mar de fogo, era óbvio. O sufocante fedor de sangue.

A assustadora quantidade de sangue em toda parte.

Empilhados em montes, o número incontável de corpos.

O maior número destes eram os restos de autômatos. Esmagados, quebrados, e espalhados em toda parte, suas estruturas haviam sido retorcidas e suas engrenagens quebradas estavam espalhadas à volta. Unidos com os grandes buracos na parede e o piso de tatame rasgado, eles contam a história da feroz batalha que havia ocorrido aqui.

E por fim, havia ali uma sombra parada no meio dos corpos.

Era como se fosse um fantasma, ou um demônio.

Ela chutou um corpo que estava aos seus pés.

“Velho…!”

A coroa de sua cabeça havia sido partida e sua fisionomia havia mudado, mas não havia erro nisto, ele era o líder do clã Akabane.

Cercando seu pai estavam os corpos de seus outros parentes. Seus tios, tias e seus primos. Todos carregavam o nome de Akabane, e todos mestres marionetistas em seus próprios direitos.

Sua cabeça parecia como se estivesse queimando conforme ele pensava. O que é isto?

Eu estou tendo um pesadelo?

Não parece real.

Embora, o calor e o cheiro assaltaram-no, dizendo-o para encarar a realidade.

Lentamente, ele virou-se para encarar a coisa na frente dele que ele estava intencionalmente deixando fora de sua visão.

Ele queria acreditar que isto era algo que ele havia visto errado, ou um medo induziu a alucinação.

Mas essa coisa ainda estava ali.

No lado oposto da sombra, algo que podia ser chamado de altar havia sido erguido, e algo havia sido colocado para descansar ali, e lá jazia silenciosamente.

O primeiro pensamento que veio à mente era muda[3].

Se você cortar um corpo verticalmente e esvaziar os interiores, então isto seria o que iria parecer-se como, certo?

O que estava no altar era um corpo que havia tido seus interiores removidos.

Você não podia chamá-lo apenas de pele porque ele ainda havia abundância de carne anexada—

E estava muito vazio para ser chamado de cadáver, fazendo-o ser decididamente uma existência deformada.

Das roupas e o tamanho do corpo, como também da pele e membros, ele sabia muito bem de quem este cadáver era.

Esta era.

“Nadeshiko…!”

O que estava na frente dele era algo que uma vez foi sua irmã.

Incapaz de suportar isso, um grito de angústia e desespero irrompeu da garganta de Raishin.

Em resposta, o irmão mais velho silenciosamente menosprezou o mais novo com nada além de um olhar gelado de aço.


(5)

Raishin perguntou-se se ele havia sido notado ou não.

O estudante masculino com a máscara de prata cruzou a rua sem muito ao menos sequer um olhar em sua direção.

Havia duas pessoas— ou melhor, dois corpos seguindo-o.

Adornadas com babados e renda, elas estavam vestidas com belos vestidos. Os vestidos haviam uma estética excêntrica a eles. Em voga com as tendências do final do século dezenove, seus aromas eram esses de morte e decadência. Ambas as garotas eram belas de tirar o fôlego, mas também claramente não mundanas.

Olhando entre o cenário externo e o olhar duro de Raishin, Charl falou em uma voz surpreendida.

“Esse é o Magnus, não é? Quê, você irá alvejá-lo desta vez?”

“Yaya.”

“Sim.”

Raishin e Yaya levantaram-se. Charl também ergueu-se em seus pés com um arranque.

“Espere… Você está falando sério!? Espere um segundo!”

Ela agarrou-se no braço de Raishin— e intimidou-se.

Os olhos de Raishin haviam um brilho brutal neles. Charl rapidamente retirou sua mão, mas invocou coragem suficiente para emiti-lo um aviso.

“Eu não direi nada ruim. Apenas desista dele agora. Ele é alguém que você definitivamente não pode vencer contra.”

“Definitivamente?”

“Sim. Ele é cabeça e ombros acima de todos os outros em termos de técnicas e energia mágica. Suas pontuações combinadas são as maiores de qualquer geração, e desde que ele começou nesta academia ele foi saudado como um gênio. Uma força de um só homem o qual usa seis autômatos simultaneamente. Neste ponto no tempo, ele é considerado a pessoa mais próxima do Sábio— ei, Raishin!”

Ele não ficou para ouvir o fim. Raishin já havia começado a ir embora.

“Lamentavelmente, eu sou um idiota cabeça dura. Eu tenho que tentar por mim mesmo antes que eu entenda.”

Com pés rápidos, ele deixou a mesa.

Estourando do refeitório, ele chamou para as costas do sobretudo preto.

“Espere, sua aberração mascarada. Ou devo chamá-lo Magnus?”

O estudante masculino— Magnus parou.

As duas autômatos fêmea entraram na frente dele como uma medida protetiva.

Ao ver uma delas, uma donzela com cabelo rosa, o rosto de Raishin involuntariamente contorceu-se em uma careta. Uma dor abrasadora atingiu seu peito tão intensamente que ele pensou que fumaça estava saindo para fora, e ele não podia mais manter sua compostura calma.

Essa semelhança da boneca era excessivamente também.

“Yo. Tendo suas bonecas esperando em cima de você conforme você faz uma caminhada? Como sempre, você tem os piores passatempos de sempre.”

“… Quem é você?”

“Não quebre meu coração agora. Eu voei todo este caminho do outro lado do mundo apenas para encontrar você.”

Embora seu tom de voz fosse leve, Raishin estava agudamente ciente que seu núcleo estava queimando-se.

Se você odiar alguém você gerará ira a eles. Entretanto, mesmo embora Raishin estivesse mantendo sua raiva sob controle, ira estava vazando para fora dele calmamente e quietamente.

Mesmo se ele mantivesse sua voz baixa e matado suas emoções, ira continuava a derramar-se para fora de seu corpo. Estudantes caminhando nas ruas chegaram a uma pausa e estudantes comendo no refeitório pararam para olhar em sua direção, onde parecia que um massacre estivesse prestes a tomar lugar.

Magnus olhou para Raishin intensamente, antes de finalmente falar em uma voz calma.

“Parece que você confundiu-me com outra pessoa.”

“Se isso é o que você pensa, então assim seja. Porém, eu apenas tenho algo que eu quero dar para você—”

Enquanto falava, Raishin levantou seu braço, e nessa fração de segundo,

Algo aconteceu, mas Raishin não podia compreender o que havia ocorrido.

Como se um buquê de flores houvesse sido empurrado em direção a ele, seus pulmões haviam sido enchidos com uma doce fragrância floral.

A sensação macia de babado fez cócegas em seu nariz, e sua visão foi bloqueada. Suas mãos e pés estavam em contato com a pele macia de uma garota. Por fim, numerosas lâminas estavam sendo mantidas em sua garganta.

Exatamente como um buquê de flor, Raishin estava envolvido em um mar de cor que eram cabelo, olhos e vestidos.

Havia alguém parado atrás dele, e alguém em frente a ele. Também havia alguém em seus ombros. Ele não sabia de onde elas haviam aparecido, mas agora várias espadas, lanças, e adagas estavam pressionadas contra sua pele.

Um total de seis autômatos haviam lançado-se em Raishin ao mesmo tempo.

De onde elas haviam aparecido? E quando elas haviam aparecido?

Até este momento, ele não havia sentido a presença das outras quatro unidades.

“Raishin!”

Yaya moveu-se para ajudá-lo, mas a lâmina contra sua garganta cavou mais fundo em resposta. Com isto, Yaya não pôde fazer nada, ou a cabeça de Raishin rolaria antes mesmo que ela pudesse agir.

“… Vocês damas são tão apressadas.”

Com um sorriso irônico, Raishin lentamente alcançou os arreios em volta de sua cintura.

“Não seja tão precipitado. Desde que nós apenas nos tornamos conhecidos um do outro,

eu apenas queria oferecer este símbolo para você como um presente.”

Abrindo uma bolsa, ele removeu um pequeno frasco de dentro.

Havia algum tipo de pó preto dentro. Considerando a situação que ele estava, não seria um exagero imaginar que seria algum tipo de explosivo.

“… Retirem-se.”

Ao comando de Magnus, as bonecas retiraram suas armas.

A donzela de cabelo rosa obteve o frasco da mão de Raishin e depositou-o na de Magnus.

“Eu agradeço-o por este presente.”

Com somente essas palavras, Magnus e seu Esquadrão retiraram-se da cena.

“Raishin…! Você está machucado em qualquer lugar, Raishin….!?”

Chorando enquanto atropelava-se, Yaya agarrou-se a ele.

“Desculpe-me, desculpe-me…! Você trouxe Yaya junto, e ainda…!”

“… Eu finalmente entendi, Yaya.”

“Eh…?”

“O único jeito que eu posso chegar perto dele é em uma luta justa…”

Ele estava coberto em suor frio. Agora que acabou, seus joelhos estavam tremendo.

Seus instintos e seu próprio espírito em si estavam assustados.

Charl não estava mentindo mais cedo. O jeito que ele está no momento—

Ele definitivamente não seria capaz de vencer.

Qualquer ataque surpresa seria inútil. Ataques pessoais apenas encurtariam sua expectativa de vida. Se ele quisesse derrotar Magnus, fazê-lo sob os limites definidos no local pelas regras da Festa Noturna seria o mais sensato.

Mesmo assim, ele ainda não podia ver nenhuma forma de vitória mesmo por esse caminho. A realidade era que se eles enfrentassem-se em batalha, duraria apenas um segundo.

Raishin vinha treinando-se de modo que ele lutaria ao seu máximo durante a batalha. Ele estava utilizando o potencial da Yaya em 120%.

Ele compilou incontáveis técnicas astutas de batalha, todas projetadas para despistar o inimigo.

Com todas estas, havia sequer uma chance de dez por cento que ele poderia alcançar seu objetivo?

(Será que irei eu alcançar o nível dele…!?)

A diferença em suas forças era esmagadora. A diferença era tão grande quanto mergulhar de um penhasco.

Ele sentiu o chão abaixo de seus pés virar em polpa, e seu corpo parecia como se estivesse afundando na terra.

Tendo sido forçado a compreender a diferença em poder, ele sentiu sua força de vontade drenando-se. Mas nesse momento—

Clap, clap, clap. Alguém estava abertamente aplaudindo-o.

“Os rumores são verdadeiros sobre você. Mal quatro dias em sua inscrição, e você já está arreganhando seus dentes no Marechal.”

Virando-se em volta, ele viu um solitário estudante masculino o qual havia um sorriso amigável em seu rosto.

Com liso, cabelo bonito, ele era um rapaz muito atraente. Se você pestanejar, ele quase parecia como uma garota bonita. Sua voz havia uma distinta e qualidade clara a ela, soando como um excepcional instrumento de cordas.

Saudando Raishin com um sorriso cativante,

“Prazer em fazer-me seu conhecido, Senhor Akabane. Se estiver tudo bem com você, você não dar-me-ia um momento do seu tempo?”


(6)

Dentre os marionetistas, haviam aqueles os quais alvejavam tornarem-se artesões de marionetes.

Usar e criar não eram a mesma coisa. Originalmente eram considerados dois conjuntos de habilidades completamente separados… entretanto, ia sem dizer que havia um considerável número de aspectos que sobrepunham-se uns com os outros.

Com isso em mente, a academia introduziu o curso de Vocações Técnicas de Máquina, como também preparou instalações dedicadas para aqueles os quais desejavam tornarem-se artesões de marionetes.

O lugar que Magnus estava dirigindo-se agora era o prédio de Vocações Técnicas de Máquina.

Com as donzelas seguindo atrás dele em sucessão, ele ramificou-se da rua principal em uma estrada menor. Conforme ele aproximou-se do prédio da escola, justamente em frente a um bosque de árvores, ele parou inesperadamente.

Era a jovem professora do departamento de Físicas Maquinarias, Kimberly. Embora bem aparentada, era sua aspereza que destacava-se em vez de sua beleza. Ela não estava usando seus óculos, os quais ela normalmente teria se ela estivesse dando uma palestra.

Reagindo à sua presença, as marionetes de Magnus alteraram suas posturas subitamente.

Contudo, Kimberly não pagou-lhes a mínima porção de atenção, e começou a conversar casualmente com ele em um leve tom.

“Como você achou o Penúltimo?”

“… O que você quer dizer por isso?”

“Ele não é um colega interessante? O que você acha que foram suas primeiras palavras quando ele recebeu os resultados de seu teste? Eu acredito que elas foram ‘o que devo fazer para entrar na Festa Noturna?’, se você puder acreditar nisso.”

“A Festa Noturna—”

“Não é risível?”

“… Não. Se houverem quaisquer transtornos, então estes serão pela mão dele.”

“Oh? Alguém de seu padrão tem essa opinião tão alta desse cara?”

Magnus não respondeu. Ele pode imaginar as intenções de Kimberly, e isso o incomodava.

“Bem, vamos deixar isso assim. — O que é isso?”

Desdobrando seus braços cruzados, ela apontou para a mão de Magnus.

Era o pequeno frasco preenchido com pó que ele havia recebido de Raishin justamente mais cedo.

“Sem análise adequada de sua composição eu não posso dizer. Entretanto se eu fosse aventurar um palpite, eu diria que é provavelmente cinza.”

“Cinza?”

Ela tinha um olhar surpreso em seu rosto. Depois de um momento, ela percebeu onde ela estava parada— próxima do prédio de Vocações Técnicas de Maquina— e sorriu.

“Entendo. Enquanto você é um excelente marionetista, você também é um artesão de marionete. E um muito habilidoso nisso também. Para um artesão do seu nível, não seria um problema para pegar a cinza— a qual é um material de alta qualidade para artes mágicas— e usá-la para criar uma marionete.”

Magnus não respondeu. Porém, Kimberly tomou seu silêncio como um sinal de afirmação. “Embora, é realmente estranho. Por que Penúltimo passaria algo como isso para você de todas as pessoas?”

“… Ele estava lançando a luva. Um símbolo para marcar um confronto.”

Ele murmurou de repente. Kimberly levantou suas sobrancelhas em perplexidade.

“Em um certo clã Oriental, jogar a cinza de uma pessoa morta significa vingança pelo falecido.”

“… Ele tem algum tipo de rancor contra você?”

Como esperado, Magnus não respondeu.

“Se não há mais nada, peço licença por mim agora.”

“A propósito, Magnus.”

Magnus passou por ela, mas Kimberly cortou-o com sua interjeição.

“Você ouviu sobre esse rumor? Eu não tenho certeza quem o começou, mas há rumor de que cada uma e todas suas bonecas são uma Bandoll.”

Mais uma vez, Magnus parou em suas trilhas. Kimberly continuou,

“Eu estou falando sobre máquinas vivas. Usando uma pele humana e sangue como partes. Não cinza ou restos, mas transformando partes de um humano vivo em material. Essas partes teriam afinidade vastamente superior com energia mágica quando comparadas a restos ou um memento… Mas, obviamente, essa é uma violação do código de éticas que todos os magos devem seguir.”

Suas palavras estavam disfarçadas como fofoca casual, mas o corpo dela inteiro estava radiando um tipo de tensão aparente a intenção assassina.

As bonecas de Magnus tinham captado-a nela, e encararam Kimberly com hostilidade.

Kimberly tinha um sorriso cruel em seu rosto, como se houvesse sido esculpido com uma faca.

“Posso pedi-lo para esclarecer isso para mim?”

“… Isso é uma interrogação?”

“Risque-a para curiosidade pessoal.”

Magnus pareceu pensar por um momento—

“De acordo com as orientações para a Festa Noturna, não há regra que declare que você não pode usar uma Bandoll.”

Foi tudo que ele disse.

Os olhos de Kimberly afiaram-se, como uma espada que havia sido amolada com um rebolo.

“… Posso tomar isso como sua resposta?”

“Se você desejar, professora Kimberly.”

Sem uma despedida apropriada, ele saiu. Seus passos eram esses de uma pessoa cheia de autoconfiança, estável e segura.

Comparadas a ele, mesmo suas bonecas eram mais como humanas. Como se elas estivessem alertando Kimberly, elas repetidamente olharam sobre seus ombros conforme elas seguiram atrás de Magnus.

Conforme elas caminharam para longe em uma linha, Kimberly soltou um grande suspiro, seguido por um sorriso torto.

“Realmente, que camarada temível você é. Para ser capaz de criar Bandolls nessa idade tão jovem… Se os Maestros nas oficinas pegarem palavra disso, eles definitivamente ficarão depressivos.”

Olhando para as costas do garoto desaparecendo no prédio de Vocações Técnicas de Máquina, Kimberly murmurou.

“Também, Magnus. Quem exatamente você transformou em material?”

Obviamente, não havia ninguém à volta para responder essa pergunta.


(7)

Dê um momento do seu tempo, ou assim o atraente rapaz disse.

Ao primeiro olhar, Raishin não podia sentir nenhuma intenção ruim vindo dele. Ele estava sorrindo, e a figura de seu autômato não estava em lugar algum para ser encontrada.

Raishin olhou para seu braço esquerdo. Ali havia uma braçadeira atada em dourado que brilhava, a qual capturou seu olhar.

As letras ‘Censor[4]’ haviam sido bordadas com um manuscrito de caligrafia refinada. Em outras palavras, ele era parte do comitê disciplinar.

Também, ele estava portando uma luva branca com linhas de ouro bordadas.

Em resumo, essa pessoa era alguém a qual também estava qualificada para participar na próxima Festa Noturna.

Um membro do comitê disciplinar com excelentes notas. Raishin não podia pensar em uma razão para duvidar dele.

“Melhor que ficar aqui e falar, porquê nós não nos dirigimos para dentro? Ao menos que eu esteja enganado, você está no meio do almoço, correto?”

O atraente rapaz apontou para o refeitório com um sorriso em seu rosto. Ele estava tentando fazer Raishin relaxar— ou para colocar isso de outra forma, seu sorriso estava tentando-o a deixar sua guarda baixa. Sua malícia de livre conduta podia provar-se ser um veneno na forma de gentileza. Raishin permaneceu cauteloso, mas desde que ele não tinha um motivo para rejeitá-lo, ele seguiu-o de volta para o refeitório. Yaya seguiu rapidamente atrás dele.

Entrando no refeitório, os estudantes começaram a zumbir. Em particular, o número de olhares femininos direcionados para ele era excepcionalmente grande. Ele estava acostumado a ser observado, mas esta era sua primeira vez sendo observado positivamente.

“Felix!”

De volta a sua mesa, a cabeça de Charl levantou-se. Embora seu rosto não estivesse particularmente sujo, ela apressadamente esfregou um guardanapo de papel em sua boca.

O atraente rapaz alegremente sorriu para ela,

“Ei olá, Charl. Posso me juntar a você?”

“N-n-não, obviamente você n-não pode!”

“Isso é tão frio. E quão cruel de você. Todo este tempo eu estive pedindo e você não pôde me dar tanto como um ‘sim’, mas aqui eu encontro você sentando com ele tão prontamente.”

“I-isso é porque ele fez como ele queria— você tem qualquer assunto comigo?”

“Eu gostaria que você saísse em um encontro comigo.”

“Eu r-r-rejeito. Eu f-f-fortemente recuso. P-p-por que eu de qualquer maneira?”

“Apenas brincando, é claro— não realmente, mas hoje eu estou aqui por uma razão diferente.”

Seu liso cabelo dourado tremulou conforme ele virou-se para encarar Raishin.

“Eu tenho algo para discutir com você, Raishin Akabane.”

Charl e Yaya endureceram-se em choque. Então elas lentamente olharam sobre Raishin timidamente. Da expressão em seus rostos era visível que elas haviam saltado para alguma conclusão estranha.

Raishin permaneceu silencioso em seu assento, colocando um pouco de porco frio em sua boca.

Ele tinha ficado frio, mas não havia ficado duro ainda. Aproveitando o sabor dos sucos da carne misturada com o molho, ele mastigou e engoliu. Depois de tomar o seu tempo a fazê-lo,

“Se você estiver me pedindo para um encontro, você tem certeza que é bom o suficiente?”

“Vamos lá, não diga isso. Eu asseguro você que eu sou o tipo que não irá entediá-lo.”

“Eu estou surpreso. O que pode um membro dos Rounds, como também um pilar vital da autonomia da academia— Líder do comitê disciplinar Felix Kingsfort possivelmente desejaria de mim, alguém que é o Penúltimo?”

“Eu sou o que deveria estar surpreso, já que você sabe tanto sobre a minha existência.

Você está planejando me alvejar depois da Charl?”

A atmosfera tornou-se tensa.

Felix estava sorrindo como de costume, e sua voz não tinha traço de hostilidade, mas a tensão foi transmitida através do refeitório, causando a comoção causada pelos estudantes cessar em um instante.

Depois de um tempo o primeiro a quebrar a tensão foi Felix.

“Você não trabalharia comigo?”

Com uma expressão despreocupada, ele abruptamente posou a pergunta para Raishin.

“Hm, melhor que dizer trabalhar comigo, considere isto um pedido. Não como um indivíduo, mas como o líder do comitê disciplinar.”

“Eu recuso.”

Felix riu.

“Entendo. Então você é do tipo que faz decisões rápidas, Raishin. Contudo, você ao menos não tomaria algum tempo para pensar sobre isto? Ao menos deixe-me explicar a situação.”

“Isso não será necessário. Eu não desejo ganhar nenhum parceiro a mais do que eu já tenho.”

“Nem mesmo se nós estivermos a oferecer para você—”

Irritantemente, ele deliberadamente tomou seu tempo para acabar sua sentença.

“—Uma qualificação de entrada para a Festa Noturna?”

O garfo de Raishin parou de mover-se.

Uma qualificação de entrada para a Festa Noturna. Algo que Raishin tinha de obter a todo o custo.

Conforme seus olhares encontraram-se, um silêncio sufocante caiu.

Era esse o convite de um demônio, ou talvez alguma outra coisa…?

Referências e Notas de tradução[edit]

  1. Geração de energia através do movimento de objetos. Wikipédia
  2. Geração de energia em ambientes aquáticos através da luz solar. Wikipédia
  3. Biologicamente falando, é o processo de troca periódica de partes do corpo de algum animal. Wikipédia
  4. Um cargo político da Roma antiga responsável entre muitas coisas, também pela fiscalização da conduta moral dos cidadãos. Wikipédia

Capítulo 3 – Um Convite Ao Caos[edit]

(1)

Uma vez que a palestra da tarde havia terminado, Raishin e Yaya saíram da sala de aula.

Com Sigmund descansando em cima da cabeça dela, Charl assistiu-os através de uma janela na sala.

O sol estava se pondo, e os jardins exteriores estavam tornando-se escuros.

Conforme o crepúsculo desceu, Raishin encontrou-se com Felix, e os dois atravessaram através do jardim da frente.

A figura de Felix de costas lentamente desapareceu na distância. Charl sentiu um leve calor através de seu corpo, e seu peito doía ao mesmo tempo. Observá-los saírem provocou uma sensação insuportável.

“Você está interessada?”

Sigmund fez uma pergunta afiada.

“N-n-n-não, eu não estou. Não diga essas coisas i-i-idiotas.”

“Você não precisa esconder isso. Ele realmente é um cara interessante.”

“E-e-ele não é interessante em tudo. Eu vou alimentar você com ervilhas verdes de agora em diante.”

“Eu não estou referindo-me à Felix. Eu estou falando sobre Raishin.”

“Eh—”

Enquanto corava, Charl ponderou sobre as palavras de Sigmund.

“… Jura? Ele não é apenas um insolente pervertido comum?”

“Lembre-se. No refeitório, ele perguntou-me como eu estava sentindo-me.”

“O que tem sobre isso?”

“Isso significa que ele tratou-me como um indivíduo distinto.”

“—“

“Poderia ser por causa do autômato que ele próprio possui, mas ele não trata outros autômatos como uma marionete literal. Normalmente, ele não deveria ter se dirigido a mim, mas deveria ter perguntado para você ‘como está a condição de sua marionete?’.”

Agora que ele mencionou isso, isso foi certamente estranho.

“Durante a palestra de física maquinaria, sua autômato estrangulou seu pescoço, correto?”

“Você quer dizer durante a briga de amantes deles?”

“Ele estava sendo estrangulado. Os outros estudantes estavam rindo dele. Isso é provavelmente porque eles pensaram que ele não podia controlar completamente sua própria autômato.”

Charl de repente percebeu.

Sigmund estava certo. Esse cenário não era possível, e ela sabia disso. Mesmo se ele fosse um pouco áspero em torno das bordas, ele ainda era um excelente marionetista— transbordando com poderosa energia mágica.

Se ele sentisse que quisesse, ele poderia ter facilmente parado Yaya a qualquer momento.

“Isto é o que eu penso— Ele é o tipo de pessoa um pouco sentimental.”

Sigmund deu uma risadinha enquanto falava.

Ele estava zombando de Raishin, mas estava claro que ele havia uma boa impressão dele. Era possível que Sigmund tivesse interessado-se em Raishin ele mesmo.

“Você não acha que vocês dois se dão muito bem?”

“… Não há jeito disso ser possível com esse pervertido. Mais, eu sou uma realista. Eu não misturo-me com idiotas sentimentais.”

“Você é uma realista?”

“… Você está rindo?”

“Não. Entretanto, deixe-me colocar uma pergunta para você.”

A voz de Sigmund tornou-se severa.

“Ele já ajudou você duas vezes. Primeiro quando ele ajudou você durante a luta, segundo quando ele deixou você ir embora. Se você for enfrentá-lo em batalha, você terá a determinação para derrotá-lo?”

Houve um breve silêncio.

Finalmente, após deliberar sobre uma questão tão séria, ela levantou sua cabeça firmemente.

“Eu sou Charlotte Belew, da nobre casa de Belew, para a qual a rainha em pessoa concedeu o brasão de armas de unicórnio e conferiu os terrenos do norte.”

Havia orgulho em sua poderosa declaração.

“Eu eliminarei todos aqueles que ficarem no meu caminho, não importa quem eles sejam.”

“… Não importa quem eles sejam?”

“Isso mesmo. Não importa quem eles sejam.”

Ela apertou seu punho firmemente.

“Mesmo que eu tenha que manchar minhas mãos com sangue, há um sonho que eu preciso realizar a todos os custos.”

Uma vez mais, ela lançou um olhar para fora da janela.

O anoitecer tinha caído, e a figura de Felix já havia desaparecido.


(2)

Raishin foi levado para um espaço reservado para o uso exclusivo do comitê disciplinar.

Ela era uma área localizada no segundo andar do auditório central. Ali haviam três salas no total, o escritório do líder do comitê, uma área de descanso, e uma sala de reunião.

Embora um simples encontro de estudantes voluntários, o comitê disciplinar era uma existência importante cobrada com defender as morais públicas da academia— portanto eles eram tratados favoravelmente de acordo.

Abrindo a porta para o escritório, Felix conduziu-os para dentro.

“Tenha um assento no sofá. Eu prepararei para nós um pouco de chá.”

“Ah, por favor deixe Yaya cuidar disso.”

Felix virou-se em direção a Raishin, para confirmar se essa era realmente sua intenção.

“Se ela disse que ela irá fazê-lo então deixe-a. Eu posso assegurá-lo que ela é bastante habilidosa.”

“Certo então, por favor.”

Entregando o conjunto de chá, ele instruiu Yaya de onde obter água quente. Tendo sido elogiada por Raishin, Yaya estava em alto-astrais, e ela entusiasticamente saiu da sala.

Felix sentou-se em frente a Raishin, um sorriso em seu rosto.

“Primeiramente, permita-me as boas vindas para você. Posso assumir que você está aqui porque você está interessado na minha proposta?”

“Sim. Se você está oferecendo uma qualificação de entrada, então eu não posso permitirme ignorar sua proposta.”

“Então em outras palavras, minha estratégia foi um sucesso.”

Ele riu jocosamente. Raishin estava começando a ficar cansado de ver o sorriso sem maldade em seu rosto bonito.

(As verdadeiras intenções deste cara são difíceis de ler…)

Enquanto pensava que ele era um indivíduo difícil para lidar com, Raishin levou a conversa junto.

“Então, a qualificação de entrada de quem você está me dando? Eu não suponho que seja a sua?”

“Se nós resolvermos com sucesso o problema à mão, minha qualificação de entrada é apenas um pequeno preço para pagar—”

Um sorriso deslumbrante radiou de seu rosto o qual fez parecer como se houvessem estrelas no fundo fornecendo luz.

Quase imediatamente depois, as luzes no fundo desapareceram conforme ele encolheu seus ombros.

“É algo que eu não posso dizer. Eu tenho algum apego em obter o Trono do Sábio.”

“Ouvindo isso é um alívio. Pelo menos eu sei que você está sendo honesto sobre isso.”

“Sua qualificação de entrada será patrocinada pelo comitê executivo da Festa Noturna. Tão logo quanto o comitê disciplinar concordar com isso, nós podemos enviar uma referência para o comitê executivo endorsando sua participação. Embora bastante francamente, mesmo sem nosso endorsamento— se você tomar conta desse incidente, você tornara-se alguém tão grande que o comitê executivo não será capaz de ignorar sua presença.”

Seu discurso era mais como uma predição. Era seu pedido algo tão incômodo? Isso estava tornando-se mais suspeito, mas, por outro lado, ele estava ficando mais interessado, e então ele perguntou.

“O que eu terei que fazer?”

“Nós queremos você para derrotar um marionetista.”

Esta era uma resposta anticlimática. Ou melhor, mais que sentir-se desapontado, ele se perguntou se Felix estava sendo sério.

Derrotar um marionetista— algo como isto era uma determinação, mesmo que isso não fosse lhe dito ele estava ligado a fazer algo como isso de qualquer jeito. Estava o comitê disciplinar designando especificamente um alvo? Embora, com considerações para a permissibilidade de tal ação…

Enquanto ele estava profundamente em reflexão, Yaya voltou com o chá.

Suspeitosamente olhando os dois os quais estavam profundamente em reflexão, Yaya colocou os copos na mesa.

Felix pegou um copo e elegantemente o trouxe para seus lábios. Raishin perguntou impacientemente,

“Quem é que eu tenho que fazê-lo?”

“Cannibal Candy.”

Não importa o quanto ele tentou refrescar sua memória, ele não pôde lembrar desse código de registro entre os participantes da Festa Noturna.

Felix rodopiou sua xícara de chá, e alegremente falou.

“Sua autômato é deveras habilidosa. O chá ainda mantém seu sabor aromático.”

“Cannibal— quem é esse?”

“Você sabe, nesta academia, há pessoas que desaparecem a cada ano.”

Não parecia como se ele estivesse fugindo da pergunta. Raishin silenciosamente esperou por ele para continuar.

“A maioria sai por sua própria vontade. O currículo da academia não é exatamente uma moleza, e pessoas que não podem manter-se com as lições são destinadas a eventualmente cair à beira do caminho. Além do mais, as taxas de mensalidades aqui não são baratas. Existem inúmeros motivos para desejar sair.”

“Eu não entendi. Se eles querem sair, então eles apenas precisam enviar um aviso de desistência—”

Até a metade, sua boca fechou. Mesmo Raishin sabia o motivo de não enviar um aviso. “Exatamente, devido a circunstâncias extenuantes há aqueles os quais não podem enviar um aviso de desistência.”

Como a instituição premier do mundo mágico, a academia era excessivamente difícil de entrar. Aqueles que tinham os cérebros e recursos para entrar por sua própria conta estavam bem, mas aqueles que não podiam tinham que depender de um financiador para colocá-los dentro.

Exércitos de diferentes países, vários conglomerados, organizações religiosas e sindicatos providenciam o capital financeiro necessário.

Abandonando a escola no meio do caminho era equivalente a uma traição nos olhos dos financiadores.

Não apenas eles teriam que repagar o empréstimo, eles teriam também que pagar compensação como também uma taxa de penalidade por quebra de contrato—

O pior cenário possível era que suas vidas seriam confiscadas.

“Esses desse grupo que dão o fora não tem escolha senão passar à clandestinidade. Alguns também mancham suas mãos com crime e mágica herege. Estudantes da academia estão em grande demanda— e obviamente, essa demanda não para apenas em lugares onde o sol brilha. Bastante morbidamente, estudantes da academia ainda mantém seus valores mesmo se eles estiverem mortos.”

“… Soa razoável.”

O próprio Raishin fez parte de um clã que empreendeu trabalho sujo similar.

“Entretanto, por volta dessa vez as coisas são levemente diferentes.”

O tom de sua voz mudou. Felix continuou em uma maneira inusualmente séria.

“Desde o último Outubro, o qual foi o começo do termo escolar, haviam vinte e seis pessoas desaparecidas—esses números são um pico claro. Embora isso não fosse tudo. Nós também tivemos vinte casos onde nós descobrimos autômatos os quais foram destruídos.”

“Destruídos?”

“Sim. Se esse fosse um simples caso de fugir, não haveria tido necessidade de destruir seus próprios autômatos.”

Um autômato era um tesouro do marionetista. Não apenas ele era a ferramenta do ofício, se não houvesse mais necessidade dele por mais tempo eles podiam vendê-lo.

Não havia motivo para destruí-lo.

Se esse era o caso, então—

“Alguém os estava atacando—”

“Há uma alta chance desse ser o caso.”

“Espere um minuto… você está deixando-o escapar com isso até agora?”

“Obviamente, nós não estivemos parados em volta e fazendo nada. Estes poucos meses, nós alistamos a ajuda da segurança do campus e aumentamos o número de patrulhas. É claro, nós estivemos caçando por ele por nós mesmos também.”

“E os resultados?”

“Absolutamente nada. Nós obtivemos declarações de testemunhas oculares, mas haviam muitas partes exageradas, e tornou-se uma espécie de lenda urbana dentre a cidade. É como a segunda vinda de Jack o Estripador. Embora para ser exato, o que a academia chama de Cannibal Candy tem uma ânsia distinta por autômato.”

“Ânsia… você diz?”

O corpo de Yaya enrijeceu visivelmente. Para uma autômato fêmea, a ideia de ser capturada e comida tinha uma certa nuança para ela que a fazia arrepiante.

Felix abaixou seu copo, e falou com seu sorriso normal de volta em seu rosto.

“Agora então, estou certo que você entende o que eu estou tentando dizer. Cannibal Candy é uma ameaça séria para a academia— ele é alguém que nós temos que derrotar não importa o que. Um oponente o qual elevará o seu perfil se você derrotar.”

“Por que você está pedindo para mim fazê-lo?”

“Há dois motivos. Primeiramente, não tem como você ser Cannibal Candy.”

“O que te faz tão certo?”

“Todos os estudantes e professores são possíveis suspeitos. Até eu. Mas você é diferente. Você mal esteve nesta academia por alguns dias.”

“… E o segundo motivo?”

“Você é forte o suficiente.”

Era uma declaração sem nenhuma adulação por trás dela. Ele a falou com real sinceridade.

“A força do inimigo é equivalente a um membro dos Rounds. Enviar alguém ordinário para caçá-lo apenas resultará no predador tornando-se a presa.”

“Por que eu devo tomar suas palavras ao valor nominal? Eu sou Penúltimo apesar de tudo.”

“Você gosta de vender-se barato, não é?”

Felix riu ironicamente.

“Mesmo com a desvantagem numérica, você foi capaz de despachar vários alunos em bando. Você sabe disto? Os estudantes que você abateu estão todos aproximando-se dos lugares top cem. Nós os chamamos de os Esquenta Banco. Suas forças reais não são algo para se desprezar.”

“Mas a diferença entre os Rounds e esse monte é como a distância entre o céu e terra. Eu estou alvejando para o Trono do Sábio— vencer contra eles não tem sentido. Além disso, ”

Os lábios de Raishin contorceram-se conforme ele falou sarcasticamente.

“O que você realmente está tentando dizer é ‘eu irei lhe dar uma qualificação de entrada então pare de andar por aí criando mais distúrbios’, não é?”

“Correto.”

Felix nem sequer pestanejou.

“Ao menos que você destrua propriedade da escola, ou machuque um espectador, nós não podemos tomar ação contra batalhas pessoais de estudantes— apesar de ter dito isso, da perspectiva de alguém a quem tem uma obrigação de proteger as morais públicas, eu não posso silenciosamente recuar e assistir conforme você testa seu poder em outras pessoas.”

“Então você está jogando isca para domesticar o animal selvagem.”

“Eu prefiro chamar de troca justa. Isso não o prejudicará em nenhuma forma afinal.”

Desta vez, foi a vez de Raishin de rir ironicamente.

A fim de reinar em seu comportamento destrutivo, eles escolheram enviá-lo para enfrentar Cannibal Candy. Se Raishin vencer, então as coisas acabarão bem. E se ele perder, então não haverão perdas para as morais públicas. No fim, Felix era o único vencedor.

“Até este ponto, você tem quaisquer perguntas?”

“A Festa Noturna tem um centésimo de participantes. Se eu estiver para ganhar uma qualificação de entrada—”

“Obviamente, alguém terá que ser chutado. Contudo.”

Felix ainda havia um sorriso em seu rosto, mas ele falou como se ele estivesse casualmente descartando alguém.

“Nos duzentos anos que a Festa Noturna foi realizada, nunca houve uma instância onde o 99º ou o 100º assento tornou-se o Sábio. Mesmo que você force alguém fora, não afetaria esse monte de pessoas.”

Ele era mais— não, exatamente tão cabeça fria quanto Raishin pensou.

Por causa disso, Raishin sentiu que ele podia confiar nele.

Inesperadamente, jogando conforme não seria uma má ideia… justamente quando ele pensou isso,

“Felix!”

Sem ao menos uma batida, alguém explodiu-se adentro do escritório.

Com cabelo no comprimento do ombro que oscilava dinamicamente, ela era uma garota de olhar inteligente com óculos. Ela tinha um ar aristocrático, e parecia como se ela houvesse tido uma excelente educação. Embora comparada com Charl ou Felix, não havia negação que ela parecia um pouco mais simples que eles. Ela havia uma braçadeira com as palavras Censor, e uma luva branca que significava participação na Festa Noturna.

Nesse instante, os cinco sentidos de Raishin gritaram que havia algo estranho sobre ela.

… Contudo, antes que ele pudesse até mesmo confirmar que seus sentidos estavam formigando, o estranho sentimento desapareceu.

Percebendo que ali havia um visitante, a garota chegou a uma parada em surpresa. Seus movimentos rígidos fizeram-na parecer como uma boneca.

“Deixe-me introduzir você, Raishin. Essa é Liz. Ela é basicamente minha confiável cão de guarda.”

Reganhando seus sensos, a garota limpou sua garganta.

“Perdoe minha grosseria anterior. Eu sou a assistente do presidente, Lisette Norden.”

“Akabane Raishin.”

Felix continuou em um tom provocante,

“Não é como você estar neste tal alvoroço, Liz. Por acaso Cannibal Candy apareceu ou alguma coisa?”

“Sim.”

Respondendo a sua piada com uma cara séria, ela conseguiu tirar o sorriso de Felix.

Continuando no mesmo tom sério, ela começou a dar seu relatório em uma maneira eficiente.

“Uma marionete ‘devorada’ foi descoberta no bosque de árvores atrás do prédio de Vocações Técnicas. Ele parece ter sido atacado noite passada.”

Felix suspirou, e resignadamente virou-se em direção a Raishin.

“Fale sobre uma hora ruim… ou melhor, talvez eu devo dizer que esse é um sincronismo perfeito?”

Encolhendo seus ombros, ele esbofeteou suas coxas e levantou-se.

“Vamos lá, Raishin. Hora de ir olhar a alguns restos.”


(3)

A primeira pessoa a notar a figura foi Yaya.

Eles estavam caminhando ao longo de um pequeno caminho que levava ao prédio de vocações técnicas. Enquanto caminhava em silêncio, Yaya de repente reagiu a algo, e como uma gata em alerta elevado ela olhou à frente deles desconfiadamente.

Dentro do escuro bosque de árvores, uma multidão de estudantes haviam começado a juntarem-se. Um pouco a frente deles, uma garota com um dragão no topo de sua cabeça estava parada com uma expressão amuada em seu rosto.

“Yo, Charl e Sigmund.”

Raishin saudou-os com uma voz amigável. … Entretanto, os olhares reservados que ela lançou em sua direção passaram através dele, fixando-se na figura de Felix que estava atrás.

“Então, você também está aqui, Charl.”

“Havia uma comoção acontecendo, então…”

Charl respondeu enquanto olhava para baixo.

Não apenas ignore-me, pensou Raishin. Mas ele não era infantil o suficiente para verbalizar o pensamento.

Felix era seu eu usual, um sorriso amigável surgindo em seu rosto.

“Cheia de curiosidade ardente, como sempre. Ou eu devo dizer que você tem ouvidos afiados?”

“N-não é como se isso fosse algo incomum. Cannibal Candy ataca pessoas indiscriminadamente— mesmo alguém como eu está em risco. Não é algo que eu possa descartar como problema de outra pessoa.”

“Haha, eu acho que você está certa. Peço desculpas se eu a ofendi.”

Felix passou por Charl, e entrou no bosque de árvores com Liz a tiracolo. Saudando os membros do comitê disciplinar em vigia, ele entrou no bosque.

Charl pareceu ficar desanimada depois que Felix saiu. Pareceu como se ela estivesse arrependendo-se que eles houvessem feito parte em uma nota ácida.

Vendo sua atitude, mesmo alguém tão desinteressado em amor como Raishin podia falar instintivamente.

“Você gosta dele, não é?”

“Qu— Eu— Você—”

Ela ficou tão vermelha que era quase lamentável.

Ah, ela está corando.

Então até mesmo ela pode fazer esse tipo de expressão, pensou Raishin conforme ele indulgia-se nessa linha de raciocínio.

Charl agarrou-o pelo pescoço e chiou raivosamente em sua orelha, como se ela estivesse prestes a mordê-la.

“Não fale sobre isto tão casualmente! Isto não é algo como essa emoção vulgar!”

“Não há nada vulgar sobre isso. Cair de pernas para o ar por alguém é um fenômeno natural.”

“Eu disse para você ficar quieto! Ou você quer que eu abra um novo buraco no seu peito!”

“Por aqui, Raishin.”

Felix acenou para ele do lado oposto da multidão. Charl apressadamente retirou suas mãos, cobrindo suas ações com um sorriso insincero. Raishin decidiu não comentar, e caminhou em direção a Felix com Yaya a tiracolo, a qual o humor havia ficado um bocado melhor.

Um pouco mais no bosque, uma corda havia sido pendurada cruzada com as palavras ‘Fique Fora’ nela. Os membros do comitê disciplinar haviam juntado-se em frente, mantendo guarda para prevenir observadores curiosos de perturbar a cena.

Isso é quase como um caso de assassinato, pensou Raishin para si mesmo conforme ele pisava sob a corda. Esse pensamento não era inteiramente errado, porque o que estava colocado em frente a ele era—

Um corpo morto, para todas as intenções e propósitos.

Charl deixou escapar um pequeno gemido. Raishin franziu reflexivamente.

A metade superiora do corpo havia sido separada da inferiora.

A cavidade abdominal podia ser vista de uma metade do corpo. Por causa de vários mecanismos internos terem sido construídos e alojados dentro, era como olhar para as entranhas de um humano. Olhando para as várias engrenagens e cabos saindo para fora do corpo era mais perturbador do que se ele houvesse sido um humano real.

A metade inferiora de seu rosto havia sido esmagada, retendo nada de sua forma original.

Algo semelhante a sangue havia sido espalhado em volta do corpo, fazendo parecer como se alguma criatura houvesse se banqueteado nele.

O detalhe mais conspícuo que capturava o olho entretanto, era a curiosa ferida.

Um círculo polido havia sido esculpido no lugar onde o coração deveria ter estado.

A cicatriz era impossivelmente suave e vítrea, como se ela fosse doce que houvesse sido dissolvido através de lambida.

(Entendo, então essa é de onde a parte Candy do nome vem…)

Cannibal pelo consumo de outros, e Candy por causa da cicatriz. Combinando as duas palavras, era o jeito perfeito de expressar seus traços peculiares em uma única frase.

Raishin trouxe seu punho até seu queixo, profundamente em reflexão.

Ele havia visto uma cicatriz similar antes em um lugar diferente.

(Não pode ser, mas…)

Brevemente lançando um olhar sobre Yaya, ele viu que ela estava olhando para baixo para o corpo, seu rosto levemente pálido. — Parecia que ela estava um pouco assustada.

Raishin virou seu olhar de volta para Felix, buscando uma confirmação para o que ele havia notado.

“O circuito mágico desapareceu, não é?”

“Esse é seu M.O[1]. Até agora, todas suas vítimas tiveram seu coração— uma certa parte de seu circuito mágico removido sem falha.”

“Deixe-me imaginar, quando você diz removido você quer dizer que eles todos foram comidos, certo?”

“Nós ainda não sabemos se esse é o caso. Ninguém efetivamente pegou-o no ato de comer na cena.”

Um ego[2] de um autômato nasce do Coração de Eve. Enquanto o Coração de Eve estiver intacto, o autômato pode ser reconstruído. Para não mencionar que há também autômatos de autorreparação. Se você olhar para isso de outro jeito, então isso significa que mesmo se o próprio Coração de Eve fosse a única coisa destruída, isso era efetivamente uma sentença de morte para o autômato.

“… De quem é essa marionete? O que aconteceu ao marionetista?”

Aquele que respondeu não foi Felix, mas Lisette.

“Nós ainda estamos no processo de identificar o proprietário. Contudo, baseado no que nós sabemos da situação até agora eu acredito que esse autômato é um usuário de estrela-d'alva— aquele o qual você lutou e derrotou ontem.

Ela estava provavelmente certa. O pé quebrado do autômato fora esmagado por uma aparente familiar bola de ferro.

Embora— não era isso um pouco estranho?

“Ei, Charl. O que você acha—”

Seus lábios estavam franzidos, seus ombros estavam tremendo, e ela estava olhando para o nada.

“O que está errado com você?”

Sem respondê-lo ela virou-se em seu salto, como se ela estivesse prestes a ir a algum lugar.

Ela estava agindo estranho. Raishin agarrou em seu braço, para tentar pará-la.

“Ei. Espere.”

“Deixe-me. Solte-me neste instante!”

“Você está planejando algo estranho, não é? Veja, agir imprudentemente agora levará você a lugar nenhum.”

“Sigmund!”

Houve uma transmissão de energia mágica. O pequeno dragão arreganhou suas presas e mordeu a mão de Raishin.

“Owwwwwwwww!”

Yaya arrancou-se sobre ele em pânico, mantendo a mão dele agarrada firmemente.

“Mostre-me a ferida Raishin! Eu acho que está sangrando!”

“Você apenas quer lambê-la! Vá ficar por ali!”

Enquanto os dois continuaram sua rotina pastelão, Charl havia desaparecido.

“… Ela se foi.”

“Ela é tão impulsiva quanto ela parece. Sendo forçada a mostrar restrição irrita-a.”

Felix intervenho.

“Similarmente, meu sangue está fervendo sobre isso também.”

Embora ele estivesse sorrindo como ele sempre estava— seus olhos tinham uma luz acerada a eles.

“Você não emprestara-me seu poder, Raishin?”

Ele olhou para Raishin. Seus olhos estavam geralmente meio fechados, mas agora eles estavam largamente abertos. Raishin percebeu pela primeira vez que os olhos de Felix eram azul pálido.

“Eu não acho que minha força é tão poderosa que eu possa emprestá-la para outros…”

Raishin pareceu perturbado, então ele deu uma risada autodepreciativa.

“Mas dada minhas circunstâncias, eu preciso dessa qualificação de entrada.”

“Isso significa…?”

“Deixe-me pensar sobre isso por um instante.”

“É claro. Se nós estivermos para trabalhar juntos eu preferirei que você faça-o de sua própria volição.”

Era parecido como uma previsão confiante. Bastante possível, Felix houvesse estado manobrando por trás das costas de Raishin e estivesse segurando informação ou entendesse algo que ele não.

“Nós o chamaremos um dia aqui então. Eu tenho outros assuntos para cuidar.”

Com um ‘Eu estou ansioso por sua resposta favorável’, Felix retornou à cena do crime. A academia era autônoma por um largo grau, mas ela ainda era sujeita a autoridade da polícia. Porém, contanto que o crime não fosse tão sério como assassinato, a polícia da cidade não interferiria. Em lugar disso, o comitê disciplinar arcou com o fardo de policiar a academia.

Mesmo que ele estivesse ali para perturbá-los agora, nada útil viria disto. Ao invés disso, Raishin decidiu voltar para o dormitório.

Com Yaya atrás dele, ele fez seu caminho para fora da multidão de espectadores.

Deixando o bosque, ele começou a caminhar de volta ao longo do pequeno caminho, quando de repente,

“Espere um minuto, Raishin Akabane.”

Alguém chamou-o por detrás. Não era Felix, mas ao invés, sua assistente Lisette.

Rigidamente trazendo seu rosto perto do dele, ela sussurrou em sua orelha.

“Eu tenho algo que eu desejo falar com você sobre.”

“É algo confidencial?”

“Sim. Não é algo que eu possa discutir abertamente.”

“Tem algo a ver com relações íntimas com gêneros opostos?”

“Por favor fale dormindo apenas quando você morrer. — Ah, eu cometi um engano. O que eu estava tentando dizer era—Por favor morra.”

“Onde exatamente está o engano nisso?”

“Raishin…! Você fica excitado de ser insultado…!?”

“E agora você está cometendo enganos em vários níveis fundamentais, Yaya.”

Raishin olhou para Lisette com um olho crítico.

Observando sua figura esbelta e rosto inteligente, ele finalmente falou.

“Yaya, volte primeiro.”

“—Não! Yaya irá junto também!”

“Não se preocupe, apenas volte para o dormitório. Não será bom se nós não pudermos ter uma rápida discussão, certo?”

Seu tom implicava que havia algo que ele queria que ela fizesse. Captando-o nele, Yaya a contragosto assentiu.

“… Entendo.”

Os olhos de Yaya perderam sua luz. Em uma voz monótona, ela prosseguiu falando.

“Volta tão cedo quanto você puder… Antes que o dormitório vire em escombro…”

“Eu a estou proibindo de fazê-lo, ok? Não transforme-o em escombro ou ruínas, compreendeu?”

Depois de assistir ela se arrastar para longe, Raishin virou-se para encarar Lisette.

“Tudo bem então, vamos ouvi-lo. Esse grande segredo seu.”

Balançando sua cabeça em consentimento, Lisette tomou a liderança e começou a caminhar à frente dele.


(4)

Pelo momento que Raishin voltou para o dormitório, uma hora havia passado.

“Estou de volta. Está o quarto ainda inteiro, Yaya?”

Cautelosamente entrando no quarto, Yaya veio voando para ele em lágrimas.

De repente agachando-se, ela firmemente agarrou-se à cintura de Raishin.

Sem dar-lhe nenhuma palavra no assunto, ela começou a abrir suas calças. Raishin acertou-a na cabeça, trazendo sua imprudência para um fim.

“O que houve com você de todo de repente? Algum erro desconhecido ocorreu ou algo assim?”

Implacável, Yaya continuou com seus olhos negros azeviche úmidos com lágrimas.

“Por favor remova suas calças, Raishin! Nós podemos falar depois disso!”

“Você é alguma espécie de ladroa de estrada!? E mesmo ladroas de estrada dizem menos coisas censuráveis, sabia!?”

“Só há um jeito de saber se essa megera fez alguma coisa. Eu tenho que confirmar pelo cheiro!”

“Como o inferno que você irá! O quão mal distorcida é sua visão dos outros!?”

Raishin forçadamente arrancou Yaya, a qual esteve teimosamente agarrando-se a ele, para longe.

Yaya rompeu em lágrimas, mas Raishin não estava no clima para acompanhar, e então ignorou-a.

“Então, você foi capaz de conseguir discutir as coisas com Shouko?”

“Uu, Uu… Komurasaki enviou um recado de volta.”

“Isso foi rápido. E?”

Yaya fungou, secando seus olhos e falando hesitantemente.

“Os superiores dos militares forneceram uma ordem de ‘vá’ para o plano…”

Para ser honesto, isso era inesperado. Raishin caiu em silêncio.

“Raishin… você não está satisfeito com isto?”

“Eu sou o cão dos militares. Se eles me dizem para fazê-lo, então eu tenho que fazê-lo… contudo,”

Ele olhou para Yaya por confirmação.

“Nós realmente podemos confiar nele?”

“Você está falando sobre Felix?”

“A coisa toda é suspeita. Ele disse que eu serei recompensado com uma qualificação de entrada— eles ao menos tem esse tipo de autoridade?”

“Bem, de acordo com o que Komurasaki disse…”

Yaya olhou para o alto para o teto, tentando lembrar-se do que havia sido lhe dito.

“A respeito da família Kingsfort, eles tem laços estreitos com o Departamento de Inteligência Britânica, e são um dos membros influentes da Casa de Senhores. O líder da família é Ser Walter. Depois que a rainha antecessora faleceu ele tornou-se um dos líderes do Grande Império Britânico o qual detém grande poder— Mesmo na academia esse tipo de influência não pode ser ignorada.”

Entendo, eles investigaram tão longe nesse curto período de tempo. Como esperado dos militares. Naturalmente, eles haviam fornecido a ordem ‘vá’ depois de cuidadosa consideração.

Além disso, era exatamente como o próprio Felix havia dito. Mesmo sem o suporte do comitê disciplinar, se ele derrotasse Cannibal Candy elevaria seu perfil em um único golpe. O que significaria que o comitê executivo da Festa Noturna não seria capaz de ignorá-lo.

Um grande corpo de estudantes havia juntado-se à cena do incidente mais cedo também.

Apenas disso, era um interesse claro que estava construindo-se no incidente. Felix não estava mentindo.

Então em resumo— o problema agora era como ele abordaria sobre derrotá-lo.

Ou melhor, o assunto mais urgente era se ele atualmente podia encontrar Cannibal Candy em primeiro lugar.

Se ele quisesse os detalhes mais finos ele teria que perguntar a Felix por eles, mas se Cannibal Candy fosse alguém que era facilmente localizável, então os membros do comitê disciplinar (e talvez a segurança do campus) teriam no exterminado a um longo tempo.

(Parece que eu terei que começar por rastreá-lo… será que ao menos eu posso fazê-lo em tempo antes do início da Festa Noturna?)

Perdido em um mar de pensamento, ele foi trazido de volta para a realidade pelo som lembrando o bater de uma asa.

Uma sombra parada parecida com um pássaro pousou na janela, e começou a bater no vidro.

Restringindo Yaya, a qual havia entrado em alerta elevado, Raishin riu conforme ele deu as boas vindas a seu visitante.

“Yo, Sigmund. Charl o enviou aqui em uma incumbência?”

“Não, eu vim aqui de minha própria vontade. Eu queria me desculpar por mais cedo.”

Os olhos de Sigmund caíram na mão de Raishin, na qual as marcas de dentes ainda eram vividamente presentes.

“Não se preocupe sobre isso. Em primeiro lugar eu fui aquele quem tramou derrotar vocês dois de qualquer jeito— espere, se você está aqui para se desculpar, onde está Charl?”

Naquele momento, Charl havia soltado energia mágica. Sigmund não teve a intenção de mordê-lo; foi através da intenção de Charl que ele o fez.

Sigmund baixou sua pequena cabeça, suspirou desculpando-se.

“Não pense mal dela. Normalmente, ela não é o tipo de garota a qual usaria força em mim.”

“Ela estava provavelmente emocionada. Sob essas circunstâncias, mesmo então um gato ou um cachorro teriam mordido se tocados.”

“Uma gata? Essa é uma perfeita descrição dela.”

Ele não sabia como ler a expressão de um dragão, mas ele podia jurar que Sigmund sorriu ironicamente.

“Charl é…”

Este era um assunto difícil de falar sobre. Eventualmente, Sigmund decidiu-se,

“Ela tem algumas circunstâncias únicas por trás dela. Ocasionalmente, ela fica supersensível. Inclinada a cometer enganos. E ela nunca é honesta. Contudo, no seu fundo ela é amável e gentil, tem um interesse em artesanatos e é uma garota inofensiva.”

Raishin duvidou de seus ouvidos. Artesanatos? Artesanatos significa… tricô e costura, certo?

Wow. Absolutamente não combinava com ela.

“Por que você está me falando isso?”

“Eu mesmo imagino-me o por quê. Penso que eu apenas queria dizer para você, isso é tudo.”

—O que era que isso deveria significar?

“Eu tomarei minha partida agora. Vejo você por aí, Raishin.”

Sigmund chutou-se para fora do peitoril. Seus movimentos leves e fáceis faziam-no parecer não diferente de um pássaro. Quando ele estava em sua forma de dragão pequeno, parecia que ele era capaz de voar por sua própria conta sem usar nenhuma energia mágica.

Observando sua sombra desaparecer ao longe, Raishin pensou de volta a sua discussão com Lisette.

“Eu sinto-me um pouco desconfortável de falá-lo sobre isso, mas—”

Mais cedo, dentro de uma sala de aula deserta, Lisette começou a falar hesitantemente.

“—por favor tenha cuidado de Charlotte.”

“— Por quê?”

“Seu código de registro é Tyrant Rex. Os estudantes a chamam de T-Rex— você sabe o motivo do por quê?”

“Nope.”

“Originalmente, esse nome não era usado em referência a ela; esse era o alias de seu autômato.”

“Sigmund?”

“Esse autômato é uma bandoll.”

Como esperado, Raishin caiu em silêncio sobre a revelação.

Bandoll. Ouvindo essa palavra sempre despertava memórias desagradáveis dentro de Raishin.

“Há uma lenda passada de geração para geração na família Belew. O primeiro lorde da casa Belew subiu uma perigosa montanha onde ele derrotou e domesticou um dragão furioso, Sigmund, fazendo-o seu servo. Pelo seu sucesso ele foi nomeado um visconde, e desde então ele e seus descendentes têm trabalhado junto com Sigmund.”

“Uma perigosa montanha, huh… Isso é meio típico.”

“De acordo com as lendas, ele come pessoas, queimava cidades, fez cada obra maligna no livro. Mesmo agora, ele precisa consumir carne periodicamente para manter seu corpo.”

“Ele come galinha.”

Raishin disse em uma voz baixa que mal podia ser ouvida. Ele já estava perdendo o interesse na conversa.

Em resumo, tudo que ela disse era apenas fofoca maliciosa. Maus rumores circundando Charl e Sigmund.

“Bandolls são uma existência amaldiçoada; em termos de suas características como também as situações absurdas que elas criam.”

“Esse parece ser o caso.”

“Coisas como beber sangue fresco, comer carne humana, serem capazes apenas de operar durante o meio da noite— ou divertir-se com massacres.”

“Essa é uma maneira de falar bem rotunda. O que exatamente você está tentando dizer?”

“Você ainda não entendeu? Seu cérebro está infestado de larvas?”

“Você está tentando dizer que você me odeia, não é? Você me odeia no mesmo nível que você odeia uma lagarta peluda?”

“Nós chegamos a conclusão que Cannibal Candy pode ser uma Bandoll.”

Ele imaginou se essa era realmente a verdade.

Por algum motivo ou outro Raishin estava em um humor infeliz conforme ele desviou seus olhos para longe do rosto de Lisette.

“Você tem quaisquer perguntas até o momento?”

“É, eu—”

Um violento ar frio estalou-o para fora de seu devaneio.

Virando-se em volta, ele notou Yaya olhando-o com olhos mais escuros que um eclipse solar.

“Raishin… Você está pensando sobre essa megera, não é…”

“… Por que a sua intuição apenas é boa para coisas inúteis…”

“Bem então, o que você fará amanhã?”

“Começar a busca. Agora que a situação chegou a este ponto, é hora para eu começar a caçar Cannibal Candy.”

Rindo, Raishin balançou sua cabeça conforme ele corrigiu-se.

“É hora de nós começarmos a caçar Cannibal Candy. Isso é bom, não é?”

“Sim!”

Uma Yaya energética levantou sua mãos em suporte.

Depois disso, ela estreitou seus olhos suspeitosamente,

“Não pode ser… você está visando para essa megera…!?”

“Ela realmente é alguém a quem não sabe como relaxar.”

“… Você tem que remover suas calças afinal!”

Cuidadosamente mantendo a distância entre eles, os dois terminaram em um impasse como se eles fossem uma cobra e um mangusto[3] enfrentando-se.

Parecia que esta noite também seria outra noite sem dormir.


(5)

Era nove da noite. Dentro do escritório do presidente do comitê disciplinar, Felix tinha espalhado diversos documentos através da mesa, e estava escrevendo alguma coisa com um rosto incomumente sério.

Alguém bateu à porta duas vezes.

“Entre.”

A pessoa que entrou era Lisette. Felix sorriu para ela,

“Agradeço por todo o seu trabalho duro, Liz. Você tem algum assunto comigo?”

“Raishin Akabane contatou-nos para nos informar que ele oficialmente aceitou nosso pedido.”

“Isso é bom. Neste caso, entregue isto para ele amanhã.”

Ele passou para ela o documento que ele havia justamente acabado de escrever.

“O que é isso?”

“Isto é um contrato. Um assunto dessa importância tem de ser manuseado adequadamente e cuidadosamente.”

Os olhos de Lisette arregalaram-se em surpresa. Percorrendo através do documento passado para ela, ela viu que os conteúdos eram o mesmo que ela havia discutido mais cedo com ele. Se ele derrota-se Cannibal Candy, então o comitê disciplinar apoiaria seu impulso por um lugar na Festa Noturna.

“Você já sabia que ele aceitaria?”

“Ele não teve escolha senão aceitar. No mínimo, eu planejei de modo que ele desejaria aceitar o pedido.”

Felix respondeu, seu rosto mostrando que não era estranho para Raishin ter aceitado.

“Além disto, desde que era ele, eu tive fé que ele ia o aceitar. Nós somos verdadeiramente sortudos que ele veio até nós desta vez— É quase como se fosse providência celestial.”

“Você sabia sobre ele antecipadamente?”

“Não, essa foi a primeira vez que nós alguma vez nos encontramos. Embora, eu tinha algum conhecimento de fundo.”

Virando-se em volta em sua cadeira, ele olhou para fora da janela.

“Você sabe algo interessante, Liz? O dia que ele se transferiu para essa academia, houve um acidente envolvendo a ferrovia na cidade.”

“Acidente? Ah— você está se referindo ao descarrilhamento, não é?”

“Esse foi um pequeno, artigo descartável. Porque houve apenas vinte pessoas com machucados menores, não havia nada para escrever sobre.”

Ele estava falando de uma maneira indireta. Mas mesmo assim, Lisette já podia imaginar o que ele diria.

“Podia ser que ele estivesse nesse trem…?”

“Sim. Ele estava abordo dele. Era possível que ele fosse o alvo principal do descarrilhamento também.”

Riscá-la como simples coincidência seria muito bom para ser verdade. De fato, era mais que sorte que ele estivesse a bordo.

“Porém, esse não é o problema. O que você acha que ele fez durante o acidente?”

“… O que ele fez?”

“Ele parou o trem desgovernado. Com seu autômato.”

“—”

“Para aqueles prestes a tomar parte na Festa Noturna, seus autômatos são seus primeiros e únicos tesouros. Sinceramente, o cenário ideal é não deixar eles sofrerem nem mesmo um único arranhão.”

Um trem era essencialmente um pedaço enorme de matéria. Se um autômato fosse atropelado por um, ele seria esmagado em pedaços.

“Contudo, ele era diferente. Desafiando o risco de seu autômato ser destruído, ele parou o trem desgovernado— salvando a vida de muitos passageiros. Ele fez assim mesmo embora ele pudesse ter justamente escolhido fugir sozinho com seu autômato.”

O rosto sorridente de Felix tornou-se gentil por um segundo.

“Eu pensei para mim mesmo, se for ele, então ele emprestar-me-ia sua força.”

Por um momento, um olhar complicado apareceu no rosto de Lisette, mas Felix não o havia notado.

Deixando sua cadeira, ele caminhou próximo à janela, olhando até a escuridão da noite.

“Nós derrotaremos Cannibal Candy sem falha. Antes que a Festa Noturna comece, nós exterminaremos ele desta academia, não importa que tipo de táticas dissimuladas nós teremos que usar.”

Ele olhou sobre o véu de trevas que havia descido sobre o mundo lá fora.

Hoje à noite, essa terrível besta viria divertir-se uma vez mais.


(6)

Na manhã seguinte, Raishin estava fungando na cama quando ele foi despertado pelo som de porcelana quebrando.

“… Yaya? O que você está fazendo de manhã cedo…”

Lentamente levantando-se, ele moveu-se no sentido da direção do som.

Yaya estava parada na entrada do quarto. Ela havia um copo de vidro em sua mão, e peças de um jarro de água estavam espalhados aos pés dela.

Parada em frente à Yaya estava uma garota com um dragão no topo de sua cabeça.

Raishin esfregou seus olhos reflexivamente. Entretanto, não parecia como se isso fosse um sonho ou uma ilusão.

“… O que você está fazendo aqui? Esse é um dormitório de garotos, você sabe?”

“Eu sei. Não me interrompa desnecessariamente.”

“Certo. Então o que você quer?”

Charl engoliu em seco, e começou a agir suspeitosamente.

Ela olhou para sua direita, então esquerda, e então direita novamente.

Tomando profundas respirações para armar a si mesma, ela finalmente conseguiu cuspila.

“Você vai…”

“Eu vou?”

“Você vai… sair em um encontro comigo?”

Neste momento, Yaya esmagou o copo que ela estava segurando em sua mão.

Referências e Notas de tradução[edit]

  1. Modus Operandi é uma expressão em latim que significa "modo de operação". Wikipédia
  2. Ego significa a individualidade de um ser na psicanálise. Wikipédia
  3. Um animal mamífero carnivoro. Wikipédia

Capítulo 4 – Um Jantar Fictício[edit]

(1)

“Você vai… sair em um encontro comigo?”

Foi o que Charl havia dito. Com bochechas coradas e um olhar altivo.

Pensando que ele ouviu erradamente— desejando que ele houvesse ouvido errado—

Raishin confirmou seu pedido.

“—Huh?”

Embora fosse uma tentativa de esconder seu rubor, Charl falou indignadamente,

“Sua cabeça é tão ruim quanto seu rosto? Eu pedi para você sair em um encontro comigo.”

Tendo recebido um ataque verbal considerável, Raishin sentiu-se atordoado.

Tentando compreender o que ela havia acabado de dizer era como tentar pegar um olmo escorregadio[1].

“Depois da aula hoje, limpe sua agenda. Entendeu isso?”

A primeira a reagir foi Yaya. Enquanto tornava-se pálida e começava a tremer toda,

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“E… E… Enquanto ele aprecia o fato que você veio todo esse caminho para convidá-lo, Raishin já tem planos depois da aula. Ele não tem tempo para sair com você.”

“Está tudo bem. Eu farei espaço na minha agenda.”

Yaya afundou os fragmentos do copo quebrado na mão dela em pedaços ainda menores.

“P-pois bem, eu devo ir. Verei você mais tarde na sala de aula.”

Com a inocência e embaraço de duas pessoas as quais recém começaram a se encontrar, ela apressadamente saiu.

Assistindo sua figura embaraçada retirar-se, Raishin soltou um bocejo.

“O que há com ela? Dando-me arrepios logo cedo pela manhã—”

Um violento calafrio de repente passou através dele.

Por um breve momento ele teve a alucinação que o ceifeiro estava prestes a separar sua cabeça de seu corpo com sua foice. Timidamente virando-se em volta, ele viu o cabelo de Yaya levantar-se no ar, contorcendo-se como se ela fosse medusa[2].

“E-espere um minuto… acalme-se, ok? Apenas tome uma respirada profunda e conte até o maior número primordial que você puder pensar sobre… por favor?”

Um segundo depois, um gemido de agonia ecoou através do dormitório tartaruga.

“… Você realmente é um homem violento. Seu cérebro é infestado com lombrigas?”

Sendo estrangulado, justamente antes de sua visão tornar-se escura, a consciência de Raishin foi sacudida de volta com o som de uma voz familiar insultando-o.

Talvez ela tenha voltado aos seus sentidos, ou o surgimento de alguém a surpreendeu, mas Yaya soltou a traqueia de Raishin.

Oxigênio investindo nos seus pulmões famintos, Raishin virou-se para encarar a dona da voz.

Parada ali estava uma estudante fêmea portando lentes— Lisette. Acompanhando-a estava uma bela recepcionista. Diferente de Charl a qual havia audaciosamente entrado, Lisette havia obtido permissão para visitar o dormitório masculino.

Sem nem muito ao menos algo como um sorriso, Lisette entregou-lhe um grande envelope com uma atitude profissional.

“… O que é isso?”

“Não é óbvio se você pensar a respeito? Ou seu cérebro foi completamente comido por lombrigas?”

“Por que você é tão fixada com lombrigas?”

Lisette lançou-lhe um olhar de desdenho, antes de reverter novamente para sua maneira profissional.

“O contrato entre você e o comitê disciplinar— também, todo o material que nós temos sobre Cannibal Candy.”


(2)

Já passava das três e meia. Era um pouco antes das aulas estarem agendadas para terminar.

Embora ele ainda houvesse uma aula faltando, ele havia saltado para fora da aula pela insistência de Charl.

Vendo-o coberto em hematomas frescos que ele havia obtido aparentemente de lugar nenhum, Charl olhou para ele desconfiada.

“Por que você está todo batido? Você teve uma briga com um leão ou algo assim?”

“Não se preocupe sobre isso. É apenas Diana[3] sendo ciumenta.”

“Esse homem incompreensível.”

Você é a incompreensível, ele pensou. Graças ao capricho de Charl, Yaya estava claramente em um mau humor. Mesmo agora suas pupilas estavam anormalmente largas, e tão negras como um lago sem fundo.

“Bem, tanto faz. Venha comigo.”

Charl liderou o caminho, caminhando para fora da sala de aula. Como usual, Sigmund estava cavalgando no topo de seu chapéu. Balançando sua cauda esquerda e direita, o fez parecer estranhamente adorável.

Depois de sair, Charl continuou caminhando sem parar por uma pausa. Deixando a rua principal, eles procuraram atrás do prédio de vocações técnicas, dentro do bosque, e dentro do quintal.

Não importa onde eles procuravam, a única constante era caminhar mais. Mesmo quando eles escolhiam caminhos sem sinais de qualquer pessoa atravessá-los, eles acharam nada.

Tudo muito rápido, duas horas improdutivas passaram.

Luzes da rua nas proximidades haviam sido acendidas, e o sol se pondo havia desaparecido atrás dos muros.

Com Yaya soltando intenção assassina, a situação estava tornando-se perturbadora.

Charl parecia como se ela não estivesse para desistir ainda. Chegando a um caminho deserto onde os restos de um autômato haviam sido descobertos noite passada, ela deulhe uma ordem que exalava de falso orgulho por trás dela.

“Raishin, caminhe de volta e adiante ao longo deste caminho dez— não, vinte vezes.”

“… Este é algum tipo de encanto?”

“Não seja absurdo. É óbvio que você está para ser uma isca.”

Sua resposta era como ele esperava. Farto, Raishin deixou escapar um suspiro.

“Mesmo se Cannibal Candy aparecer, estará ok desde que eu o derrotarei. Então apenas relaxe e deixe-se ser atacado. Agora vá!”

“Eu recuso. Além disso, Cannibal Candy somente sai no meio da noite.”

“— De onde você ouviu isso?”

A fonte era o comitê disciplinar. Yaya havia traduzido os documentos que Lisette havia passado para ele, e isso era como Raishin havia chegado em possessão desse pedaço particular de informação.

De acordo com os documentos, Cannibal Candy era ativo somente da meia-noite até o amanhecer.

Ainda mais, ele jamais havia atacado autômatos dois dias em sucessão antes.

Em outras palavras, o que quer que Charl estava planejando fazer era praticamente inútil.

“Isso é apenas o que as pessoas normais acreditam. É por causa deste jeito tendencioso de pensar que o comitê disciplinar e a segurança não foi capaz de produzir resultados. Não é necessariamente verdade que ele não começaria a atacar em dias sucessivos, ou não apareceria a essa hora.”

“… Essa é outra forma de vê-lo, eu acho.”

Raishin arranhou sua cabeça, profundamente perturbado. Charl estava extremamente animada sobre isso. Neste ritmo, ela o forçaria a procurar com ela até a próxima manhã.

Parecia que ele não seria capaz de fazê-la desistir. Elaborando um plano, ele decidiu abordar o problema de um ângulo diferente.

“A propósito, você não disse que nós estávamos a sair em um encontro?”

Charl olhou para ele inexpressivamente,

“Nós não estamos nele justamente agora?”

“Não seja estúpida. Não tem como algo como isso ser considerado um encontro.”

“E-estúpida? Você me chamou de estúpida? Quando você aponta dedos para alguém, quatro deles apontam de volta para você!”

“Eu entendi. Colocando simplificadamente, você não tem amigos, não é?”

“Que— Eu— Você—”

“Você mau se fez minha conhecida, e ainda assim você não tem ninguém mais que você possa chamar para ajudá-la que você teve que pedir para mim.”

Ele bateu a unha em sua cabeça. Ainda que levemente, lágrimas formaram-se nos olhos de Charl.

“Não aja tão presunçoso. Eu não preciso tomar sua atitude de sabe tudo, seu pervertido!”

“Vamos em um encontro— enganando-me em gastar tempo e energia com essas palavras doces, forçando-me a caminhar esta grande distância, eu quase cruzei o rio Sanzu[4], e delatando-me como um pervertido. Você realmente é um pedaço de trabalho para uma lady.”

“Eu apenas estou tentando ajudá-lo. É o meu jeito de demonstrar agradecimento, acusarme de outras coisas é desnecessário.”

“Huh, então você sabe sobre eu aceitar Felix em sua oferta?”

Ela caiu em silêncio. Pareceu que ela sabia. Ela havia provavelmente sobre escutado-a de algum lugar ou outro.

Se esse era o caso, então—

Raishin roubou um olhar para Yaya. Para ser honesto, ele estava relutante em fazer o que ele estava prestes a…

“Isso é o suficiente de brincar de detetive. É hora de começar o encontro apropriado.”

Charl endureceu-se ao ouvir as palavras de Raishin. Yaya congelou também.

“Não fale esse disparate tão livremente. Eu sou uma pessoa ocupada, e eu não tenho o tempo para brincar por aí com você.”

“Não foi você quem disse ‘Vamos em um encontro.’? Ou é a casa Belew uma família que renega em suas palavras?”

Ele acertou-a onde machuca. Os ombros de Charl tremeram com desgosto.

“C… certo. Vamos para algum lugar então.”

“Bom. Nesse caso, vamos para a cidade.”

“A cidade— você quer dizer fora da academia…?”

“Obviamente. Desde que o sol já se pôs, não há nada para fazer dentro da academia.”

Um olhar apavorado penetrou em seus olhos. De repente tornando-se bastante hesitante, ela olhou para baixo a seus pés.

“Mas se nós formos na cidade, então Sigmund…”

“Sua idiota. Já que nós estamos indo em um encontro, nossos autômatos não nos acompanharão.”

“Uu… Sigmund, diga algo!”

“Hm. Eu não sou tão inconsiderado.”

Espalhando suas quatro asas, ele voou do chapéu de Charl.

“Essa é uma boa chance. Divirta-se.”

“Seu traidor!”

Parecia como se ele houvesse recebido o consentimento do guardião dela. Raishin forçadamente agarrou firme a mão de Charl, puxando-a junto conforme eles caminharam para fora da academia.


(3)

O rosto de Yaya virou uma sombra fantasmagórica de branco conforme ela viu os dois partirem com suas mãos entrelaçadas.

A árvore que ela estava inclinando-se soltou um estalo. No próximo momento, ela havia esmagado a árvore como se ela fosse feita de tofu[5], partindo-a em dois.

Cambaleando como uma zumbi, ela fez seu caminho em direção ao portão.

“Espere, Yaya.”

Mordendo-a em seu cabelo preto, Sigmund puxou-a de volta.

“Solte. Solte-me!”

“Você esqueceu? Autômatos da academia não podem aventurarem-se para a cidade.”

Ele balançou sua cabeça na direção dos portões similares aos de uma prisão.

“Veja. A segurança do campus já está começando a mirar em você.”

Como ele disse, haviam coisas reluzindo dentro das portas de olho.

Era a fria luz de aço. Era óbvio que eles já haviam preparado suas visões nela.

“Eu ouvi que a segurança do campus aqui tem alguns graduados em sua folha de pagamento. Então não somente você teria de competir com rifles, você também estaria contra marionetistas. Eu posso garantir que terminará sendo destruída.”

“Mas…”

“Pense cuidadosamente. Se você estimular uma confusão aqui, apenas causará problemas para seu mestre.”

Era um golpe mais efetivo que uma bala real.

Yaya encolheu-se, então afundou ao chão.

Com ambas as mãos cobrindo seus olhos, ela começou a prantear.

“Não chore. Por que você não tem um pouco mais de fé em seu mestre?”

“Uu… Fé…?”

“Eu vivi por próximo de 150 anos agora. Eu observei muitos homens nesse tempo, e eu posso dizer para você que não há sinal de luxúria em seus olhos. Ele não está indo atrás de Charl.”

“… Verdade?”

“Embora, homens desta idade são usualmente bastante promíscuos— esse é um fato da vida.”

Yaya começou a chorar novamente. Estranhamente, suas lágrimas pareciam cristalizar em um piscar de um olho, caindo na terra com um tinido.

“Oh garoto… o jeito que você está agindo significa que esse assunto está em um nível completamente diferente de simples fidelidade para você, huh?”

Sigmund estava estupefato. Pousando em frente dela, ele começou a falar como se ele estivesse ensinando uma novata.

“Nós somos diferente de humanos. Mesmo que você pareça o mesmo, tenha as mesmas funções, tenha a menor diferença a eles como possível— não muda o fato que você jamais será humana.”

“Yaya… já sabe disso…”

“Autômatos rodam em uma energia mágica supridas a eles de seus controladores. Você pode dizer que a relação entre eles é como uma mãe e filho. É extremamente natural para um autômato afeiçoar-se a seus donos… mas eu acho que você está levando isso muito longe. Por que você é tão persistente quando é sobre ele?”

“Isso é… bem… i-isso é a-algo que eu não posso dizer.”

Remexendo em constrangimento, ela começou a desenhar círculos no chão. Essa ação era extremamente parecida com a de um humano.

“Tem algo a ver com o seu objetivo?”

“Isso é…”

“Quem é ele exatamente? Por que ele é tão fixado com a Festa Noturna?”

“Bem…”

“Atacar-nos não era sua verdadeira intenção. Mas se ele estava disposto a ir tão longe, isso significa que há de haver um motivo de porquê ele é tão obcecado com a Festa Noturna. O que é isso? Não me parece ser que ele é motivado por ambição ou interesse próprio.”

“Eu não posso entrar em detalhes, mas…”

Ela hesitou por um segundo. Então ela murmurou solenemente.

“Raishin está fora por vingança.”

“… Hm. A qualquer custo, ambos nós estamos atualmente sem nossos mestres.”

Batendo suas asas, Sigmund pousou no topo da cabeça de Yaya.

“Isso significa que nós temos que vigiar por Cannibal Candy, ou senão—”

“Eh—”

Conforma as trevas da noite em volta deles de repente cresceu mais profundamente, os olhos de Sigmund iluminaram-se como os de um gato.


(4)

“Como esperado da Cidade Maquinaria. Mesmo a essa hora, lojas ainda estão abertas para negócios.”

Caminhando ao longo das ruas iluminadas, Raishin falou alegremente.

O sol já havia se posto, mas as ruas ainda estavam movimentas com vida. As ruas ainda estavam cheias com tráfico humano, e armazéns e restaurantes ainda estavam amontoados com clientes. Havia lojas de calçados, lojas de vestuário, joalherias, armazéns que vendiam partes mecânicas e itens usados em artes mágicas, como também lojas que manuseavam autômatos.

“Ei, vocês dois estudantes! Aproximem-se!” “Eu darei a vocês um desconto!”

Eles foram assaltados em ambos os lados pelas vozes dos comerciantes. Raishin riu,

“Wow, eles também são amigáveis para Orientais.”

“Isso é somente porque você está vestindo o uniforme da academia.”

Charl, a qual havia estado em um mau humor desde que ele a puxou, deu-o uma ferroada refutação.

“Estudantes de intercâmbio são ricos. Eles são VIPs aos olhos dos comerciantes.”

“Eu não odeio isso exatamente. Pelo menos, é uma explicação mais acreditável que compaixão ou caridade.”

“Hmph… Essa é uma perspectiva bastante acirrada.”

“Eu sou um realista, você sabe.”

De repente, Charl abaixou sua cabeça e furtivamente escondeu-se atrás dele.

Caminhando em direção a eles estava um homem de face avermelhada.

Enquanto ele parecia um pouco embriagado, não era como se ele estivesse bêbado fora de seu juízo.

“… O que está errado?”

“N-não foi nada.”

Embora tendo dito isto, era visível que ela estava qualquer coisa exceto calma.

Abruptamente, um punhado de crianças riu atrás deles, e Charl saltou ao som.

Raishin parou, comparando Charl com a pressa e agitação da cidade.

“… Haaaa.”

“O-o que esse haaaa deveria significar? Não pareça tão presunçoso.”

“Em resumo, você está se sentindo indefesa desde que Sigmund não está em volta.”

Ele acertou a marca de novo. Charl de repente silenciou-se.

“Isso é normal para marionetistas. Mas não se preocupe. Você já viu o quão forte eu sou, certo?”

“… Isso é o porquê de eu estar preocupada. Não há garantia que você não tentará fazer uma cantada em mim mais tarde quando você estiver me levando de volta.”

“Você realmente não confia em mim completamente, confia? … Bem, eu acho que eu colho o que eu semeio.”

Com uma risada retorcida, ele começou a caminhar de novo. Charl apressadamente perseguiu atrás dele. Se qualquer coisa, ela lembrou-lhe de um cãozinho que não gostava de ser deixado para trás, e ele riu ao pensamento.

“Não apenas vá deste jeito. Onde você está planejando ir de qualquer jeito?”

“Eu estava pensando em caminhar ao longo dos canais. Yaya estava fazendo um rebuliço sobre como o cenário noturno era supostamente muito bonito.”

“… Hmph, isso é tão cliché. Se esse é o melhor que você pode pensar, vamos apenas voltar. Eu estou começando a ficar com fome.”

“Tudo bem. Se esse é o caso, vamos agarrar uma mordida.”

“Então nós estamos voltando aos dormitórios?”

“Não seja tão cobertor molhado. Vamos achar um lugar com uma boa atmosfera e comer lá.”

“S-sem chance!”

Era uma forte recusa, mas quase imediatamente ela fechou sua boca, murmurando alguma coisa.

“Esse mês… eu pareço estar em um estado de aflição econômica… isso é, eu estou tendo dificuldades financeiras…”

“Se você está preocupada sobre dinheiro, está tudo bem. Eu trouxe minha carteira hoje, então eu posso tratá-la.”

“Eh—<3”

Os olhos de Charl brilharam.

Um instante depois, ela havia se pressionado, virando sua cabeça para longe com um “hmph!”

“Eu recuso aceitar caridade de um pervertido como você.”

Contudo— seu estômago traiu o que ela estava dizendo, afirmando a sua opinião ao roncar alto.

Charl ficou visivelmente vermelha, e começou a bater em Raishin.

“Bufão insolente~!”

“… Eh, eu? Como isso é minha falta?”

“Para eu estar envergonhada deste jeito… Imperdoável….!”

Finalmente, com uma insinuação de desespero e algumas lágrimas em seus olhos, Charl declarou altamente.

“Certo. Eu entendi. Eu terei você me tratando completamente e cuidadosamente.”

Vinte minutos depois, os dois estavam em um restaurante ao longo do canal.

Eles estavam sentados no balcão do segundo andar.

A luz refletida do canal podia ser vista claramente. O interior do prédio era um design moderno combinando armações de aço e tijolo, dando-o uma boa impressão sem ser muito pretensioso.

Para aperitivos, eles haviam presunto marinado[6] não polimerizado. Enquanto Charl mastigava em sua comida, ela olhou para as mãos de Raishin como se ela estivesse vendo algo curioso.

“Eu ouvi dizer que os Japoneses tem terríveis maneiras à mesa— surpreendentemente, você é bastante normal.”

“Para sua informação, usar pauzinhos é muito mais difícil que usar um garfo.”

“Vocês bebem sua sopa trazendo a tigela até seus lábios e bebericando? Isso é tão barulhento.”

“Não há nada errado com chupar a sopa de missô[7], é apenas uma cultura diferente. Não fale mal dos costumes de outro país.”

Com alguns gracejos leves, mas nada particularmente malicioso, o jantar continuou.

Em seguida, uma sopa clara com um forte cheiro foi trazida até eles. Raishin achou o sabor muito forte para seu gosto, mas Charl pareceu gostar dela, indo alegremente “Aqui aqui, isso não é para qualquer um.”

Enquanto esperavam pelo jantar de carne, seus olhos se encontraram.

Ela estava olhando para ele como se ela quisesse dizer alguma coisa.

“O que foi?”

“Nada.”

“Você deveria ser mais honesta. Por favor sinta-se livre para falar o que pensas, minha lady.”

Ele jocosamente usou linguagem polida. Ele pensou que isso iria finalmente fazê-la falar… embora esse não foi o caso. Charl hesitantemente abriu sua boca,

“… Por que você me pediu para sair?”

“Você foi quem me pediu para sair.”

“Não. Eu não estou falando sobre isso… é sobre ontem, durante o almoço.”

Ela desviou seus olhos. A ponta de seu nariz ficou fracamente rosa, algo que ele pensou que era surpreendentemente fofo.

Enquanto um pouco surpreso com a pergunta, Raishin conseguiu responder.

“Porque, você pergunta— eu suponho que eu estava apenas indo com o fluxo.”

“Indo com o fluxo? Que resposta tola.”

Contrária a ficar descontente com sua resposta, Charl deu uma pequena risada, não insatisfeita como ele pensou que ela ficaria.

“Você realmente é uma pessoa imprudente. Não apenas você me desafiou, a T-Rex, para uma luta, você atualmente teve as bolas para então pedir-me para almoçar comigo. Você realmente é um idiota além da salvação.”

“Eu agradeço-a por suas palavras de elogio.”

“Eu tenho uma pergunta para esse idiota.”

“Pergunte, minha lady.”

“Por que você alvejou minha qualificação de entrada?”

Nesse momento, o garçom trouxe-lhes sua refeição. Era vitela; apenas de olhar para ela eles podiam sentir a suavidade. Ela havia sido grelhada até uma cor linda, e sozinho, o molho perfumado aguçou-lhes seus apetites.

Depois que o garçom havia colocado seus pratos na mesa, Charl esperou por ele para sair antes de continuar.

“Tem um centésimo de participantes na Festa Noturna. Deveriam haver oponentes mais fáceis para você alvejar.”

“… Se fosse alguém que eu pudesse derrotar facilmente, não haveria sentido.”

“Para fazer o comitê executivo da Festa Noturna tomar conhecimento de você?”

“Não… Bem, eu acho que era isso também, mas esse não era o motivo.”

Com a faca na mão, ele procurou pelas palavras certas. Ele não era bom em explicar coisas.

Justamente como Charl havia dito, em ordem para apelar ao comitê executivo, derrotar um forte oponente haveria um efeito maior.

Mesmo que ele vencesse sua luta, não haveria garantia que ele podia obter uma qualificação de entrada deste jeito. Derrotar incontáveis Esquenta Bancos para entrar na Festa Noturna… se ele houvesse feito deste jeito, ele teria falhado.

Contudo, o motivo de Raishin procurar por um inimigo mais forte não era apenas por causa disso.

“Eu pensei para mim mesmo, eu derrotarei alguém e ascenderei os rankings para tomar seu lugar. Para mim alcançar do nada e obter uma qualificação de entrada através de força bruta parecia algo errado. Então eu senti como se eu tivesse que tomar algum tipo de risco, ou seria injusto… Bem, eu quero dizer, de qualquer jeito ainda seria injusto.”

Raishin esforçou-se para se expressar propriamente—no fim, ele desistiu.

“Desculpe. Eu acho que eu mesmo também não entendo realmente porque eu o fiz. De qualquer jeito, isso é delicioso.”

“… Eu pensei que você fosse alguém a quem era difícil de ler, alguém a quem os pensamentos eu não podia imaginar.”

Seus olhos semiabertos, Charl falou em um tom estupefata.

“Mas parece que você nem ao menos estava pensando. Seus pensamentos apenas estavam batendo ao vento como uma peça de lavanderia. Não havia como eu ser capaz de ler uma pessoa como essa.”

“Isso está quase certo. Isso é tudo que você deseja perguntar?”

“Mais uma pergunta. O que há com seu estilo de luta? É minha primeira vez vendo alguém lutar junto com sua marionete.”

“Ah… Isso é algo como um truque astuto.”

“Astuto?”

“Originalmente, eu fui criado em uma casa de guerra. Meu clã é… era habilidoso em lutar como um grupo.”

O garfo de Charl de repente parou. Algo havia capturado sua atenção.

“Controlar uma unidade militar— essa era a característica marcante do clã de marionetistas Akabane.”

Nesse momento, o olhar no rosto de Charl mudou. Ela havia percebido algo.

Na academia, havia uma pessoa a qual era habilidosa em grupo de guerra. O marionetista mais forte, o qual manejava seis autômatos tipo fêmea simultaneamente.

Contudo, Charl não disse nada. Trazendo um pedaço de vitela para sua boca, ela silenciosamente esperou-o para continuar.

Apreciando sua consideração, Raishin continuou.

“Bem, eles também haviam alguém tão sem talento como eu internamente. Apenas controlando Yaya sozinha já é um grande fardo para mim. Portanto, no lugar de uma marionete eu substituo meu próprio corpo no lugar. Felizmente, eu tenho algum conhecimento de artes marciais. Então no lugar de magia apressadamente preparada, eu confio nos meus punhos para lutar.”

“Apressadamente preparada…? Então, diga-me, Com o que se parecem os feitiços Orientais?”

“Nós não usamos feitiços ou invocações. Suimei, Shinkan, Kouen, Tenken— para colocar isso francamente, o Fuurinkazan[8]. Conceitos rudimentares de batalha em forma de palavra. No caso do meu clã, você pode pensar nele como um… código. Através do uso deles eu posso ajustar a natureza da energia mágica, a saída, e o tipo de arte mágica e a formação que eu estou transmitindo para Yaya.”

“Você verbaliza seus comandos? Isso soa como algo que somente um principiante faria.”

“Eu SOU um principiante. Eu apenas estudei seriamente marionetismo por dois anos.”

O queixo de Charl caiu.

“Estou chocada. Nesse caso, por que você quer ser o Sábio? Se você nem ao menos é um especialista em marionetismo, porque você voaria sobre todo o caminho do Oriente? Por que você deseja o trono do Sábio—”

Raishin levantou seu dedo para pará-la.

“Eu tenho vários motivos para querê-lo. Agora, eu acho que é minha vez de perguntar algumas questões.”

Ele evitou sua pergunta. Charl havia um olhar evidente de desagrado em seu rosto, mas recusá-lo não seria justo, ou então ela pensou, então ela relutantemente acenou.

“Qual é a sua relação com Felix? Onde você o encontrou pela primeira vez?”

“Você está interessado nele? Não me diga, você realmente é um hom—”

“O que você acabou de dizer? Por que você está me olhando deste jeito?”

“… Ele me chamou de longe.”

Charl corou levemente, e seus olhos caíram.

“Por que eu estava fazendo inimigo sem ao menos saber disso… não, isso está bem, certo? Eu estou mais confortável em estar sozinha, e eu não estou planejando em ficar amigável com futuros inimigos. Porém—”

Seus olhos safira enevoaram-se.

“Agir sozinha tem seus pontos bons e pontos ruins. Há um monte de gente as quais ficariam estranhamente conceituadas uma vez que elas fiquem sabendo que seu oponente era apenas um sozinho. Danificar meu armário, ou esconder minha bolsa… realmente, eles tinham muito tempo livre em suas mãos. Também, eles tinham a temeridade para fazer coisas que pessoas normais não fariam.”

Ela falou em um tom perturbada. Depois disso, sua expressão mudou em um sorriso gentil.

“Felix era um membro do comitê disciplinar, então ele cuidaria de mim.”

“Entendo. Então isso foi quando você começou a gostar dele.”

“Eu não. Pare de falar tal disparate ou queimarei você vivo!”

“Você na realidade iria ter preferido que fosse ele e não a mim neste encontro aqui agora, não é?”

“Qu—Eu—Você—”

“Ele convidou-a antes. Por que você o recusou? Tudo teria saído como você desejava.”

“… Eu não posso.”

Sua raiva desapareceu. Rapidamente perdendo seu espírito, Charl deflacionada olhou para longe.

Seu olhar caindo na escuridão do canal, ela falou em uma voz oca.

“Felix tem um tipo diferente de popularidade que você tem. Um monte de estudantes fêmeas são loucas por ele. Se boato se espalhar que eu fui em um encontro com ele…”

“Você teria desnecessariamente aumentado a quantidade de inimigos que você tem, huh.”

Ela caiu em silêncio. Não querendo pressionar o assunto ainda mais,

“Vamos mudar os tópicos. Por que você deseja se tornar a Sábia?”

“… Isso não tem nada a ver com você.”

“Não tem. Mas eu estou interessado mesmo assim.”

Charl pensou sobre isso por um momento, antes de meio suspirar sua resposta.

“Eu tenho um… sonho que eu preciso realizar.”

“Um sonho?”

Ela não respondeu. Embora seus lábios, os quais estavam pressionados firmemente juntos, estavam transbordando com uma triste determinação. Não era por fama ou status social, mas sua determinação era mais brilhante que qualquer fogo.

Deveria ser algo de grande importância para Charl. Ela provavelmente não confiava nele o suficiente para compartilhar com ele e ele sabia disso. Raishin sabia que este era o fim dessa conversa particular.

“Parece que você tem sua própria parcela justa de problemas.”

“Hmph. Eu posso dizer o mesmo sobre você.”

Charl respondeu curtamente— então ela riu ligeiramente.

Talvez ela tenha achado estranho, ou ela tenha se divertido, mas ela estava rindo.

Quando ela ria assim, Raishin não a via como uma criança violenta problemática, ou uma arrogante lady aristocrática, mas como uma perfeita garota normal.

Depois de tratá-la para três bolas de sorvete, Raishin levantou-se.

“Vamos. Antes de nós voltarmos aos dormitórios, tem algo que eu preciso comprar.”

Deixando o restaurante, eles caminharam através da cidade no passo de Charl.

Namorando as vitrines em volta da cidade, eles gastaram um longo tempo dentro de uma loja de sapato, antes de dirigirem-se de volta para a estrada que levar ia-os de volta para a academia uma vez que era quase hora de recolher.

“Obrigado por me ajudar a decidir. Eu não tinha pista quando é sobre roupas para mulher.”

Batendo levemente seu pacote da loja de sapato, ele deu a Charl uma pequena risada.

“Hmph. Eu não esperava que você tivesse tanta consideração por outros. Isso é bastante surpreendente considerando que eu pensei que você fosse um insensível, egoísta, rude e pervertido bárbaro estrangeiro.”

Isso era excessivamente longo. Contudo, ele achou que ele não podia discordar dela (salvo pela parte do pervertido), então ele não replicou.

“Ou talvez o motivo do porquê você está agitando-se sobre ela a esse ponto é por que essa garota é assustadora?”

“Hm… Eu não estou certo se assustadora é a palavra correta para isso… perigosa também seria apropriado…”

“Esse homem patético. Para ser controlado por sua autômato corre oposto à relações convencionais, você não acha?”

Embora ela estivesse insultando-o, não havia rancor real em suas palavras. Charl riu de um modo relaxado.

Eventualmente, conforme os portões da academia vieram a visão, ela disse algo inesperado.

“Sobre nossa conversa mais cedo. Quando você me deu seus motivos para me alvejar.”

“Ah… Eu pensei que eu havia lhe dito que eu próprio não me entendi.”

“Eu entendi.”

Ouvindo-a dizer algo tão inesperado, Raishin virou-se para encará-la sem pensar.

“Mesmo que seja apenas um pouquinho, mas eu acho que eu entendo. O sentimento de querer ser punido… Isso é porque eu cometi um pecado antes.”

Ele estava prestes a perguntá-la o que ela queria dizer com isso— mas então ele notou algo estranho acontecendo adiante.

“O que está errado?”

Era passado das nove. Normalmente, a essa hora a academia deveria estar pacificamente quieta.

Porém, havia algum tipo de comoção acontecendo dentro dos portões.

“O que é isso? Ei, espere um minuto— Raishin!?”

Charl estava gritando atrás dele. Contudo, ele não parou. Tão rápido quanto uma ventania, Raishin arrancou-se pelo caminho, correu em direção a academia a toda velocidade.


(5)

Justamente como ele havia pensado, havia uma grande comoção acontecendo dentro dos terrenos da academia.

Mesmo embora já fosse tão tarde, os estudantes haviam juntado-se, e estavam acotovelando-se uns aos outros para obter uma melhor visão.

Na frente da multidão, uma corda com as palavras ‘Fique Fora‘ havia sido pendurada, e Raishin podia ver figuras dos membros do comitê disciplinar ocupadamente em volta, iluminados pelas lanternas.

Espiando a figura de Felix no meio da atividade, Raishin pulou a corda.

Reconhecendo Raishin, Felix sorriu para ele.

“Yo, você chegou aqui mais rápido que eu esperava.”

“Salve o sarcasmo. Qual a situação?”

“Outro autômato foi executado. Você deseja vê-lo?”

Ele acenou. Felix sinalizou outro membro na cena para assumir, e ele guiou Raishin dentro do jardim.

Por um breve momento o pior cenário possível piscou através da mente de Raishin.

Não podia ser… Não havia jeito que poderia ser…

Ele apressou seu passo. Suprimindo sua urgência em quebrar-se em uma arrancada, Raishin seguiu Felix.

Vendo através de seus pensamentos, Felix falou.

“Seu autômato não está com você nesta noite?”

“Eu fui para a cidade. Eu posso perguntá-lo o mesmo—”

De repente, uma dúvida penetrou em sua mente.

“De qualquer jeito, onde está o seu autômato? Agora que você mencionou-o, eu nunca o vi antes.”

“Obviamente, eu deixei o meu no Armário. Eu sou um membro dos rounds, você sabe— com a Festa Noturna próxima, se eu estiver para trazê-lo para cá e para lá quer queira quer não eu estarei abrindo-me para ataques de desordeiros como você.”

Era verdade. Charl havia sido atacada por um grupo de dez. Para evitar este tipo de problema, alguns participantes haviam escolhido a fácil e rápida solução de não trazer seus autômatos para fora com eles.

“Entendo. Então em vez de usar seu próprio, você estava planejando de usar o meu ao invés.”

“Não diga isto deste jeito rancoroso. Bem, eu não posso culpá-lo se você deseja pensar desse jeito. Para mim, você é—”

“Raishin!”

Alguém cortou de detrás, deixando as palavras de Felix penduradas no ar.

Uma Charl sem fôlego carregou-se até eles.

“Felix—”

“Yo, Charl. Você saiu para a cidade com ele?”

Ele era perspicaz. Mesmo embora ele não estivesse a repreendendo, Charl ainda estremeceu.

“Espere, não tenha a ideia errada, eu estava apenas—”

“Agora então, Raishin. A vítima está por aqui.”

Felix friamente a cortou, apontando em direção a sombra de um matagal.

Cercado por um número de membros do comitê disciplinar, um autômato meio destruído estava horizontalmente abaixado no terreno.

Desta vez, o corpo estava inteiro. O autômato era um modelo fêmea. Uma cicatriz indicando que o coração havia sido arrancado fora estava presente. Focando uma luz na ferida, a área havia sido parcialmente derretida, mas diferente de todos os casos até agora, havia retido sua forma consideravelmente.

A pele do autômato era negro azeviche— podia ser concluído que essa era claramente nada parecida com a da Yaya.

Olhando para a cabeça do autômato estranhamente causou uma memória a mexer-se.

Diretamente oposto a ele, havia ali um estudante chorando enquanto agarrava-se nos restos. Parecia como se ele estivesse lamentando sua morte. Olhando para seu rosto, Raishin finalmente lembrou.

Ele pertenceu ao grupo o qual havia atacado Charl ontem; o estudante o qual estava controlando a autômato Ondina. Ele imaginou se isto significava que essa era a Ondina. A condição do corpo era bastante diferente de como ele lembrava-se da última vez, e isso o desconcertou-o por um segundo.

Deveria ser mais óbvio para ele, mas a translucência do corpo era o resultado de uma arte mágica convertendo o corpo em um estado líquido. Por padrão ele era uma construção mais robusta, como esperado.

Charl brevemente olhou para baixo para o estudante, estupefata.

Então com seus olhos queimando com um fogo feroz, ela girou em volta em seu salto.

“Espere, Charl.”

Com suas costas ainda viradas, Felix parou-a em um tom inesperadamente forte.

“Eu acho que seria melhor se você parasse de envolver-se com Cannibal Candy daqui em diante.”

“Mas—!”

“Deixe Cannibal Candy para o comitê disciplinar. Também—”

Felix virou-se para encarar Charl.

Ele não tinha seu sorriso usual em seu rosto, mas suas sobrancelhas estavam franzidas com tristeza.

“Eu entendo seus sentimentos. É lamentável, mas eu elegantemente me afastarei.”

“Eh—”

“Você escolheu Raishin em vez de mim— isso é o que você decidiu, estou certo?”

Charl endureceu-se em choque.

“Não, você entendeu tudo erra—…”

“… Ainda há trabalho para ser feito aqui. Desculpe-me, mas eu poderia pedir para você sair? Também— Eu não acho que nós devemos ver um ao outro por enquanto.”

Desanimadamente virando-se para longe, ele saiu.

Charl ficou tão pálida como um fantasma, tremendo toda.

“Que… O que eu devo fazer…”

“Ei, acalme-se.”

“Felix… me… odeia…”

“Acalme-se. Veja, é tudo apenas um grande mal entendido—”

“Deixe-me sozinha!”

Varrendo a mão de Raishin, ela correu como se ela fosse uma bala disparada de uma arma.

Seus ombros finos desapareceram na distância. Raishin podia apenas olhar em branca perplexidade para a figura dela desaparecendo. Incapaz de acreditar no que ele acabou de ver, Raishin murmurou para si.

“… Não é algo digno de chorar, certo?”

Suas palavras foram carregadas pelo vento da noite, desaparecendo como a espuma do oceano.


(6)

Raishin retornou para seu quarto, completamente insatisfeito.

“… Yaya?”

Ele cautelosamente espreitou no quarto. O quão mal emburrada ela estava?

A alternativa era que ela estivesse com raiva. De qualquer jeito, ele não estava ansioso por isso.

Contudo.

“Bem-vindo de volta, Raishin <3”

Seus pés tamborilaram no chão conforme ela correu em direção a ele, em um extremo bom humor.

“Eu fiz o jantar. Eu tenho confiança em meu cozimento esta noite.”

“Uh… O que você está falando…?”

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Refeições no dormitório eram manuseadas pela cantina. Não haviam instalações ou equipamentos para estudantes cozinharem por sua própria conta.

Seu olho vislumbrou sobre a mesa— e ele estava assustado.

“O que… que você está fazendo agora?”

“Qual o problema? Apresse-se e sente-se.”

Yaya irradiou para ele, acenando-o em direção a mesa.

Haviam vários pratos colocados ordenadamente no topo da toalha de mesa branca.

Todos eles estavam vazios.

“O que está errado com você? Saia fora dessa!”

“Ufufu, não há nada de errado comigo. Raishin, você está sendo tão estranho.”

Embora Yaya estivesse sorrindo brilhantemente para ele, seus olhos eram ocos, desprovidos de luz.

Raishin sentiu um calafrio arrepiar sua espinha.

Havia um defeito em seu processo de pensamento…!?

Não sabendo o que fazer, Raishin puxou Yaya para ele e abraçou-a fortemente.

“É minha culpa! Desculpe-me! Então por favor, retorne de volta ao normal!”

Yaya rachou, enfiando seu rosto dentro do peito de Raishin—

E então ela começou a chorar.

“Uu, Uu, Raishin é tão cruel… Mesmo que você saiba como Yaya se sente, você ainda persegue outra mulher…”

“Eu disse para me desculpar, então pare de chorar. Veja, eu trouxe algo para você.”

Ele segurou o pacote da loja de sapato. Era algo que ele havia comprado quando ele esteve fora na cidade com Charl.

Yaya olhou para ele em surpresa, então com uma mistura de expectativa e inquietação em seu rosto, houve um ruído de papel conforme ela abria o pacote.

Era um par de brilhantes, botas de amarrar pretas.

Elas eram um pouco antiquadas, mas bem trabalhadas e elegantes.

“Quando você pisou nos trilhos da ferrovia aquela hora, seu geta ficou todo mal tratado. É difícil para você lutar vestindo-os, e há sempre o risco da alça quebrar. Então use estes por ora.”

Raishin ajudou-a a colocá-las, e Yaya sorriu alegremente.

“Um encaixe perfeito… <3”

Ela virou seus pés um par de vezes em felicidade.

Embora ela estivesse sendo um pouco demasiado exuberante, ela estava de volta ao normal. Raishin deixou escapar um suspiro de alívio.

“Yaya. Você está cometendo um engano fundamental em seu pensamento. Eu não estou atraído pela Charl ou nada do tipo, e eu não a convidei para sair porque eu estava.”

Dissipar seu engano era perigoso. Raishin cuidosamente e minuciosamente explicou-se de uma maneira fácil de entender.

“Em primeiro lugar, eu não estou interessado em pequenas garotas as quais têm que usar enchimento. Eu prefiro alguém como Shouko, uma lady com decote cheio como a deusa da colheita.”

“Como você sabe que seu peito era falso…? Também, de novo com Shouko, Shouko, Shouko… !”

Notando que Yaya parecia como se ela estivesse prestes a arrancar seu topo, Raishin rapidamente tossiu e mudou o assunto.

“Vamos deixar isso de lado por agora. E de qualquer jeito, eu saí com Charl porquê eu queria confirmar algo. É relacionado a Cannibal Candy.”

Yaya capturou-se em alguma coisa. Seus olhos alargaram-se,

“Não me diga, você suspeita de Charlotte ser Cannibal Candy?”

“A torrente de luz que Sigmund disparou deixaria para trás uma cicatriz similar ao trabalho manual de Cannibal Candy.”

Raishin estava referindo-se a unicamente lisa, cicatriz vítrea, a qual lembrava alguém lambendo um doce.

“Havia uma chance em um milhão de Cannibal Candy aparecer quando Charl e eu deixamos a academia.”

“Se ele aparecesse seria criado um álibi para Charlotte, não seria?”

“Isso está certo. E como de fato, Cannibal Candy atacou— ou então pareceu.”

“Então isso não significa que Charlotte não é culpada?”

“Não, ao contrário, apenas faz as coisas parecerem mais sombrias.”

Não importa como ele olhava para isto, parecia muito conveniente.

Até o momento, Cannibal Candy jamais havia atacado dois dias seguidos. Dessa vez, ele não esperou até meia-noite para caçar, e a ferida estava somente meia derretida. Algo parecia fora sobre isso.

O jantar desta noite havia sido fictício— uma farsa, e havia decepção escrito sobre todo ele.

Yaya não pareceu entender. Ela havia uma expressão preocupada em seu rosto enquanto ela franzia suas sobrancelhas juntas em uma careta.

“Mas Sigmund e eu estávamos ambos mantendo vigia sobre os quartos o tempo inteiro. Sem um marionetista por perto, nós não seriamos capazes de manifestar nenhuma energia mágica.”

“Há uma exceção para isso embora. Bandolls.”

Bandolls eram essencialmente máquinas vivas as quais abrigavam partes humanas dentro delas. Por causa disto, elas podiam suprir a si mesmas com energia mágica a uma certa extensão.

“Nesse caso, seu álibi não sustentaria… Então, isso significa que era realmente um encontro…?”

“Não alargue seus olhos. Sua ausência tem sentido.”

Yaya olhou para ele desconfiada. Contudo, Raishin não explicou-se, ao invés indo sobre a situação em sua cabeça.

De fato, Charl ter estado em um encontro com ele teve sentido. Graças a isso, ele era capaz de agarrar o inimigo pela cauda… Ou assim ele sentiu. Se o que ele viu justamente agora havia sido realmente o trabalho manual de Cannibal Candy—

Justo quando ele estava no meio de seus pensamentos, ele foi perturbado por uma batida inesperada em sua porta.

Do lado oposto da velha porta, a voz da mestra recepcionista podia ser ouvida, sua voz redundantemente fácil em seus ouvidos.

“Raishin. Você tem uma chamada telefônica.”

Raishin deixou Yaya no quarto e foi à recepção no primeiro andar.

O telefone estava em frente ao escritório da mestra recepcionista. O receptor já estava fora de seu gancho, e Raishin o pegou.

“Me desculpe pela chamada tardia. É Lisette Norden.”

“Oh, é você. O que você deseja?”

“Você acha que eu chamaria alguém tão deplorável como você apenas por diversão?”

“… Seria melhor se você houvesse começado com isso. Então, o que você deseja?”

“Nós estamos procurando por Charlotte.”

“— O que você disse?”

“Ela deixou o dormitório grifo. Eu não sei se você sabe disso, mas ambas Charlotte e eu moramos nesse dormitório.”

“Você tem certeza que ela não está aí?”

“Se ela estivesse, eu não faria esta ligação telefônica, sua larva densa.”

“… Você está certa.”

“Eu achei que talvez ela tivesse ido para seu quarto para indultar-se em relações sexuais ilícitas.”

“Você é Yaya? Seu salto de lógica é espetacular. Pare de pular para conclusões apressadas.”

“Para você ter me insultado é uma tamanha humilhação. Você tem qualquer ideia de onde ela possa estar?”

“… Nope.”

Por um momento, ele lembrou-se do raio de luz solitário que havia caído sobre a bochecha dela.

“Se você não possui nenhum conhecimento, então você é claramente inútil. Adeus.”

Houve um clique. Ela havia pendurado.

Esquecendo-se de colocar o receptor de volta, Raishin ficou parado por um minuto. Estava Charl ainda planejando em procurar por Cannibal Candy?

Ou— Ela estava prestes a fazer algo precipitado?

(… Não. Acalme-se. Eu não posso fazer nada se eu estiver afobado.)

Se Sigmund estava com ela, então Charl seria capaz de rechaçar Cannibal Candy… ou deveria ser capaz de. Também, se Sigmund estava com ela, ele preveniria ela de fazer qualquer coisa tola.

Porém, tudo isso era supondo que Sigmund estava com ela. Se ele não estava—

“Droga, uma pessoa tão problemática…”

Ele bateu o receptor de volta no gancho, caminhando em direção a entrada. Justamente quando ele estava prestes a arrancar-se para fora da academia— ele parou como se houvesse sido acertado por um raio de um relâmpago.

Seus olhos estavam focados em alguém parado ali.

Embora ele queria abraçá-la ele não podia dizer isso na frente dela.

Seu quimono era mais no estilo de um vestido, e seu amplo peito era tão branco que quase brilhava. Como se ela estivesse escondendo sua inigualável beleza, ela havia óculos na forma de um tapa-olho sobre seu olho direito.

Com uma risada encantadora, sua voz era como um instrumento de cordas.

“Esta noite é uma noite agradável, não é boy. A lua é tão bela.”

“Shouko—”

Raishin finalmente voltou aos seus sentidos, conseguindo cuspir o nome dela.

Referências e Notas de tradução[edit]

  1. Uma espécie de árvore nativa da Europa. Wikipédia
  2. Um monstro da mitologia grega, cujo possuía cobras no lugar de cabelos e petrificava as pessoas que olhavam para ela. Wikipédia
  3. Deusa da lua e da caça na mitologia romana. Wikipédia
  4. Literalmente “Rio dos Três Cruzamentos”. Segundo a tradição budista japonesa, um rio envolto por névoa que separa o mundo dos vivos do mundo dos mortos. Wikipédia
  5. Um alimento em forma de cubo branco feito a partir de soja. Wikipédia
  6. Uma técnica culinária, geralmente usada em carnes, onde mistura-se água, sal, temperos e algum componente ácido. Wikipédia
  7. Um prato tradicional da culinária japonesa. Wikipédia
  8. Literalmente “Vento (風), Floresta (林), Fogo (火) e Montanha (山)”, é uma versão popular de um padrão de batalha usado no período feudal japonês. Mencionado no livro ”A Arte da Guerra“, consiste de quatro frases básicas: “Tão rápido quanto o vento, tão silencioso quanto uma floresta, tão feroz quanto o fogo, tão imperturbável quanto uma montanha.” Wikipédia (Eng)

Capítulo 5 – Desde o Princípio do Princípio[edit]

(1)

Em meio à neve caindo, as duas se destacaram com suas cores vívidas.

Uma encantadora mulher voluptuosa, e uma bela garota jovem.

Ambas estavam vestidas em sedutores quimonos. A garota estava segurando um guardachuva, para proteger a mulher da neve.

Ao primeiro olhar, elas pareciam como irmãs. A mulher era como uma deslumbrante rosa, e a garota como um elegante crisântemo[1]— elas tinham ares vastamente diferentes sobre elas, mas suas características faciais tinham algumas similaridades.

“É isso, não é?”

Chegando a uma parada em frente a uma certa propriedade, elas passaram através de uma porta escurecida.

Parecia que havia tido um incêndio. A propriedade havia sido completamente devastada por ele, deixando-a uma mera sombra de sua forma anterior. O cheiro de cinza queimada permeava o lugar, e o chão estava coberto em uma fina camada de fuligem.

Ao meio de tudo isso, havia um garoto solitário.

O frio no ar era suficiente para ferroar carne despida, ainda assim o garoto havia despido até a cintura, fazendo gestos com seus dedos como um eremita da montanha. Um pergaminho de aparência antiga estava desdobrado diante dele enquanto focava sua energia mágica e derramava-a no boneco de madeira em sua frente.

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Tremulamente, como um bebê recém-nascido aprendendo a caminhar pela primeira vez, o boneco deu passos instáveis adiante.

O garoto estava fazendo o boneco se mover. Seu corpo inteiro estava encharcado em suor. Ele estava concentrado tão rigidamente que parecia como se ele estivesse prestes a estourar uma veia, mas desproporcionalmente a seus esforços o boneco de madeira apenas moveu-se um pouco.

Com selvagens, respirações desiguais, ele trincou seus dentes forte o suficiente para rachá-los conforme ele bateu no chão em irritação com seus punhos cerrados.

Seu rosto parecia terrível. Suas bochechas estavam ocas, e seus olhos estavam afundados. Contudo suas pupilas brilhavam com uma luz feroz, fazendo-o parecer muito fantasmagórico. Ele parecia como se ele estivesse à beira de morrer a qualquer momento.

O garoto olhou através do pergaminho com olhos avermelhados, antes de fazer gestos com suas mãos uma vez mais. Ele começou a armazenar energia em um ponto abaixo de seu umbigo, e então—

Ele vomitou sangue com uma terrível tosse sonora.

Atormentado com tosses, ele caiu em suas costas e parou de mover-se.

—Esse era um momento adequado. A mulher saiu de baixo do guarda-chuva que a garota estava segurando, e caminhou em direção ao garoto.

“Esse foi realmente o esforço, boy.”

“… Eu não sou ‘boy’.”

O garoto replicou em uma voz rouca. Ele ainda estava consciente. Sua resistência física era surpreendente.

“Está certo. Você tem um nome, e ele é Raishin.”

Um olhar cauteloso arrepiou-se em seu olhos. A mulher deu uma risada zombeteira,

“Eu sei muito sobre você, boy. Você é o único sobrevivente do clã Akabane.”

“… Quem é você?”

“Você não é muito diligente, você é boy? Você nasceu em uma casa de marionetistas, e ainda assim você não sabe quem eu sou.”

Virando-se para a garota, ela acenou sobre ela.

A garota pareceu entender o que fazer. Sem nenhuma instrução particular da mulher, ela parou em frente ao garoto, virando suas costas para ele e removeu seu quimono.

O garoto estava sobressaltado, mas ele não tinha mais a força para cobrir seus olhos.

A pele da garota era requintadamente bela. Com nenhuma marca nem defeito nela, ela era tão lisa quanto um campo de neve.

Na esquerda inferiora de suas lindas costas, acima de seu osso do quadril, uma inscrição havia sido esculpida nela.

Karyuusai, lia-se.

Esse nome foi um que ressoou através do mundo. Até as altas patentes dos militares haviam reconhecido-o como o eminente artesão de marionete dessa geração.

Então— essa garota era uma autômato?

Os olhos do garoto abriram-se ligeiramente maiores. Ele estava chocado pela vibração de sua compleição. A sensação de sua pele era exatamente como essa de um ser humano.

“Ela é linda, não é? Esta é uma do trio Setsugetsuka, Yaya da Lua.”

“…!?”

Ele havia apenas ouvido de sua existência antes, o tesouro premiado de Karyuusai, o Setsugetsuka.

Elas jamais haviam sido reveladas para o mundo antes. Não importa o quão rica uma garota fosse, não havia jeito que ela pudesse possuir uma.

Portanto, nesse presente ponto no tempo, o único que poderia estar em possessão de uma Setsugetsuka seria o próprio criador.

Sua face encharcada de sangue contorceu-se conforme ele deixou escapar uma fraca risada.

“Você tem que estar brincando comigo… Karyuusai é… um alcoólatra pesado, apaixonado por mulheres, e alguém que se induz selvagemente nos prazeres da vida…”

“Oh, então você me conhece apesar de tudo. Sim, isso é tudo verdade. Eu amo vinho, mulheres e canções.”

“Isso significa que você é aquele que… criou a da Guarda Imperial… Oborofuji…”

A mulher virou sua cabeça para longe como se isso fosse algo tedioso, e falou em um tom estranhamente depressivo.

“Essa coisa era uma falha.”

“Uma falha…!? Esse monstro…. o qual mudou… a paisagem inteira dos campos de treinamento Fuji…?”

“Ela não era bela de qualquer modo.”

O garoto ficou sem fala. A mulher continuou falando.

“Nesse mundo passageiro entretanto, nada é inútil— graças a essa falha, minha fama cresceu significantemente de certa forma. Eu acho que você pode me chamar de uma celebridade agora. E eu tenho influência entre os superiores do exército.”

Ela riu violentamente, e olhou dentro dos olhos do garoto.

“Influência suficiente para conceder seu desejo, boy.”

“Meu… desejo…?”

“Sim. Eu posso ajudá-lo a encontrar a pessoa que você odeia tanto que você deseja matá-lo.”

“—”

“Para ir contra ele, eu irei até emprestar-lhe a melhor autômato do mundo.”

O garoto moveu suas pupilas horizontalmente, seu olhar caindo na bela garota parada próxima a mulher.

Se o Setsugetsuka fosse exatamente como os rumores diziam que elas eram, então era possível—

“Diga, boy. Torne-se meu.”

Era um olhar perfurante. A mulher levemente e gentilmente tocou a bochecha do garoto. O corpo do garoto enrijeceu-se. Era como se uma perigosa besta selvagem estivesse olhando para ele.

O que refletiu nos olhos do garoto era a emoção sentida quando confrontado com algo completamente desconhecido; medo instintivo.

Porém ao mesmo tempo, ele estava encantado por ela.

A intensidade de sua existência inteira o cativou, sendo ambos veneno e antídoto.

“A estrada jazendo diante de você bifurca-se em dois caminhos, boy. Você pode tanto escolher congelar até a morte aqui, ou você pode—”


(2)

Raishin olhou para a inesperada visitante, emudecido pela sua aparência repentina.

Não havia jeito que ele pudesse estar enganado. Sua beleza encantadora era exatamente como quando ela apareceu pela primeira vez na frente dele dois anos atrás. Em nenhum jeito inferior as bonecas que ela criou, ela era tão ofuscantemente bela como qualquer uma delas. Também, os voluptuosos seios que haviam hipnotizado Raishin eram tão sensuais como sempre.

Como naquela noite, havia uma bela garota acompanhando-a essa noite também. Seu rosto parecia como o de Yaya, mas ela havia cabelo prateado e seus olhos eram mais respeitáveis. Também, ela era um pouco mais alta.

“Shouko, porque você está…”

Ela colocou seu dedo em seus lábios.

“Raishin. Algo está errado?”

A bela mestra recepcionista espiou do escritório com uma expressão desconfiada em seu rosto. Raishin pensou “oh droga.”, mas conseguiu dizer,

“Nada. Tudo está bem.”

A mestra recepcionista retirou sua cabeça.

— Ela não pode vê-las?

“Vamos para seu quarto.”

Shouko sussurrou em sua orelha. O leve cheiro de sua fragrância de jasmim fez a mestra recepcionista franzir desconfiada, mas nem mesmo em seus sonhos mais selvagens poderia ela imaginar que havia tal beleza inigualável parada ali.

Uma arte mágica para esconder a presença de alguém. Isso era algo que a máquina irmã de Yaya, Komurasaki, era habilidosa.

Tendo entendido a situação, Raishin fingiu um ar de ignorância em direção a mestra recepcionista conforme ele retirou-se de volta para seu quarto.

Embora se ele fosse honesto, tudo que ele desejava fazer no momento era procurar por Charl, mas uma vez que Shouko havia saído de seu caminho para vir visitá-lo, ela não era alguém que ele podia dispensar.

Retornando para seu quarto, mal havia Yaya saltado em direção a ele quando ela parou em surpresa.

“Shouko!”

Shouko olhou para ela de um jeito que uma mãe olharia para sua criança,

“Você parece suficientemente energética, Yaya.”

“Sim. As funções de Yaya estão perfeitamente normais.”

“Se você está perfeitamente normal, por que há esses traços de lágrimas em seu rosto?”

Alguém cortou abruptamente. A bela garota caminhando atrás de Shouko repreendeu Yaya.

Yaya tomou um passo para trás, sua cautela em plena amostra.

“… Desde quando você estava aí, grande mana Irori?”

“Oh? Você está fora de si que nem mesmo pode contar o número de visitantes? Ou seus olhos ficaram ruins? Eles estão aí apenas para mostrar?”

“Isso foi apenas sarcasmo. Yaya esta totalmente focada.”

“Com uma atitude como essa, certamente você esteve causando nada além de problemas para Raishin, não esteve?”

“I-isso não é totalmente verdade…”

“Então você não esteve tendo delírios selvagens sobre Raishin e ressentindo-o, queimando com ciúmes sobre suas suspeitas equivocadas, chorando, perdendo seu temperamento, e voando em raivas ciumentas?”

“N-n-n-não, eu não e-e-estive…”

“Realmente agora, você devia aprender da Komurasaki. Ela não queixa-se de receber tarefas simples, não perde-se com delírios de amor, e apenas trabalha arduamente para cumprir seu dever. Em primeiro lugar, você—”

“Uu… a mana é sempre tão malvada para mim…”

Ignorando as duas irmãs, Raishin segurou uma cadeira para Shouko e despejou um pouco de chá.

“Então Shouko, por que você está na academia?”

Desnecessário dizer que, a segurança da academia era bastante rigorosa. Esgueirandose com um autômato era um perigoso predicamento. Mesmo se esse dito esgueirando-se fosse coberto por uma arte mágica de alto nível que matava a presença delas.

“Eu não podia ficar sentada porque eu estava preocupada sobre você, boy.”

Ela lançou-lhe um olhar paquerador. Seus seios estavam pressionados juntos e a nuca de seu pescoço estava tentadoramente visível, provocando Raishin a agarrar seu nariz.

Uma fria intenção assassina derivou-se de Yaya por detrás dele, fazendo seu sangue congelar.

“Não me provoque deste jeito. Há um motivo legítimo para você estar aqui, não há?”

“Cannibal Candy pode provar-se um oponente mais problemático que nós pensávamos.”

“—!”

Pareceu que ela havia conseguido apossar-se de alguma informação nova. Sentando-se um pouco mais reto instintivamente, Raishin esperou por ela para continuar. Contudo, Shouko calmamente bebericou seu chá, e mudou o assunto, para sua irritação.

“Essa foi a façanha bastante imprudente que você manejou, boy. Eu ouvi que você entrou em uma briga com dez autômatos.”

“… Era um contra um no começo.”

“E então você acabou destruindo nenhum.”

“Eu destruí alguns. Metade foi obra de Charl, mas todos os dez acabaram como sucata—”

As lentes enterradas dentro do tapa-olho brilharam. Ele sentiu o olho encará-lo profundamente de dentro como se estivesse enterrado em uma ravina sem fundo, e encontrou-se parando a meio caminho.

“Não entenda errado, boy. Marionetes não são humanos.”

Estas eram palavras afiadas. Os ombros de Yaya enrijeceram-se a sua observação cortante.

“Sua ingenuidade beira a arrogância. Até você parar o coração, um autômato não morrerá. Seu ato de compaixão pode então retornar para apunhalá-lo nas costas um dia. A ambição que você nutre não é tão fácil que você pode adquiri-la sem manchar suas mãos. Pegue essa sentimentalidade e jogue-a fora nas mais profundas covas da terra.”

“… Eu não posso seguir essa ordem.”

Ele sabia que ele estava sendo infantil, mas Raishin ainda recusou teimosamente.

“Autômatos tem um senso de si mesmos. Eles podem sentir dor e eles podem sentir prazer. Eles até tem corações. Como isso os fazem de algum modo diferente de humanos?”

“Criança tola… você ainda não entende nada, boy.”

Com uma insinuação de pena em sua voz, Shouko falou friamente.

“Se você matar um humano, a lei classifica isso como assassinato— Se você destruir um autômato, é apenas considerado dano a propriedade. Não importa o que você pensa, boy. Abra seus olhos para a realidade. Há um abismo separando os dois.”

“Mesmo assim, para mim, autômatos são humanos também. Se você parar um coração de autômato, é o mesmo que matar um humano. Eu não me importo com o que a sociedade pensa, isso é o que ser um marionetista significa para mim.”

“… Isso só ficará pior, você sabe?”

“Eu estou preparado para isso.”

“Entendo. Nesse caso, tente o máximo quanto você puder manter-se aos seus princípios otimísticos.”

Embora ela foi brusca, um débil mas inesperado sorriso gentil surgiu em seus lábios.

Raishin estava cativado por ele. De todos os rostos sorridentes que ele havia visto até agora, esse era de longe o mais bonito.

“Sobre Cannibal Candy.”

Bebericando seu chá, ela voltou ao tópico à mão.

“É um inimigo muito maior que você pensou que ele fosse, boy.”

“Maior…?”

“Os militares pensaram que as pessoas as quais haviam desaparecido podiam providenciar uma pista para estreitar a verdadeira identidade de Cannibal Candy. Naturalmente, eles prontamente começaram suas investigações nas vítimas. Porém—”

“— Elas não puderam serem encontradas.”

“Exatamente. Mais de vinte garotos e garotas apenas elevaram-se e desapareceram da face dessa terra. Cannibal Candy não está apenas comendo bonecas; ele está desfazendo-se com seus usuários— ou possivelmente seus corpos. Por causa disso realmente está parecendo que ele realmente os come.”

Esconder um corpo requer uma quantidade de esforço estafante. Uma enorme quantidade de assassinos foi desfeita por causa do problema com esconder os corpos de suas vítimas. Enterrar os corpos deixa para trás terra recém-cavada. Talhar os corpos deixaria uma quantidade massiva de manchas de sangue. Em primeiro lugar apenas mover os corpos sozinho seria duro. Mantendo-os vivos e escondendo-os poderia ser uma opção mais fácil—

Apesar disso, eles estavam falando sobre um enorme número de pessoas. Para um indivíduo ser capaz de confinar tantos era impensável.

Era por isso que ela referiu-se ao inimigo como maior?

“A academia, a família real, ou mesmo o governo Britânico podem estar envolvidos de algum jeito.”

“… Você está suspeitando da academia de estar em conivências com Cannibal Candy?”

“Não lhe parece ser desse jeito para você? A academia é policiada por ambos a segurança e o comitê disciplinar. Se alguém estiver para tentar algo, as duas camadas de proteção apertariam neles imediatamente.”

Contudo, a realidade era essa que Cannibal Candy ainda estava em liberdade.

Também, tantos estudantes haviam desaparecido e a causa por trás de seus desaparecimentos ainda era desconhecida.

Se a academia embora estivesse realmente puxando as cordas por trás de todo o caso, então a desapontante falta de resultados de repente faria um monte de sentido.

Mas isso significaria que o comitê disciplinar, a segurança do campus, e mesmo o corpo docente, todos são o inimigo— não é?

“Não é muito tarde para você lavar suas mãos sobre o assunto, você sabe?”

Por um breve momento, Raishin esteve fortemente tentado por esse curso de ação.

Se ele pretendia não ter notado nada estranho— Não era como se a academia desapareceria se ele continuasse vivendo com fingida ignorância. No máximo, o conselho estudantil apenas iria explorá-la.

Raishin tinha um objetivo. Um inimigo que ele tinha que derrotar a todos os custos.

Se ele estivesse para envolver-se sem necessidade com outros casos e acabasse morrendo, então a única pessoa que ele podia culpar era a si próprio.

Mesmo assim.

“… Há alguém que eu não posso abandonar.”

Tendo notado algo, Raishin murmurou alto.

“Ela é irremediavelmente imprudente, barbárica, pavio curto, e sempre sozinha por si mesma. Mesmo assim, ela não é uma má pessoa.”

Suas palavras vieram em pedaços e peças conforme ele continuou dando voz a seus pensamentos.

“Por algum motivo que eu não sei, ela está atualmente perseguindo Cannibal Candy. Ou possivelmente, esse pode ter sido seu objetivo desde o início… pelo menos eu penso assim. Além disso, eu devo a ela um débito de gratidão… então eu acho que eu estou obrigado a ela de alguma maneira… argh, droga, que sofrimento!”

Bagunçando seu cabelo, Raishin levantou sua cabeça para o alto.

Olhando direto no rosto de Shouko, ele falou-lhe.

“Eu quero ajudá-la.”

“… Você esqueceu nossa aposta? Você aposta sua vida, boy. Se você estiver para ir egoistamente e morrer uma morte de cachorro em algum lugar sem minha permissão, eu nunca irei perdoá-lo.”

Raishin cerrou seus dentes. Shouko estava certa. Justamente como ela disse, ele não podia sair desse jeito por sua própria conta. Avançando de cabeça sem necessidade em perigo era algo imperdoável. Contudo—

Ele também não podia apenas abandonar Charl.

Vendo a frustração de Raishin, Shouko suspirou.

Não era um suspiro de resignação, não era um suspiro para zombar dele, era apenas um suspiro cordial.

“Yaya, venha aqui.”

Yaya trotou. Shouko colocou sua mão em seu peito.

Momentaneamente, uma onda passou através do corpo de Yaya.

Raishin não havia ideia do que havia acabado de acontecer. Todavia, os olhos de Yaya começaram a girar e ela começou a cair de costas.

“Yaya! Você está ok!?”

Ele apressadamente pegou-a. Os olhos de Yaya ainda estavam girando, mas ela não estava visivelmente machucada.

Sem dá-lo nenhuma chance de levantar suas suspeitas, Shouko continuou impondo informação nele.

“O Kongouriki de Yaya é inigualável sob o firmamento— mas mesmo então, há algumas coisas que ela não pode enfrentar. Por exemplo, o circuito mágico Gram de Tyrant Rex.”

“O disparo de luz de Sigmund?”

“Essa não é a descrição mais precisa de como ele funciona. Colocando simplesmente, luz é o resultado. Quando a atmosfera é aniquilada, luz é produzida.”

“Você sabe que tipo de circuito mágico é esse?”

“Eu posso imaginar asperamente. É uma fórmula secreta que é proximamente relacionada a como o universo funciona. Por causa disso, não há contramedida para ele. Não importa o quão duro o objeto, ou o quão refletivo o objeto é, eles são todos impotentes diante dessa arte mágica. Basicamente, enquanto houver forma, será aniquilado. Se Yaya estiver para ser acertada por isso de frente, ela deverá morrer. Raishin sentiu Yaya agitar-se levemente em seus braços.”

“Mais uma coisa. Os inimigos naturais de Yaya são vento e água.”

“Estados fluídos…?”

“Sim. Não importa o quão forte Yaya possa ser, ela não pode acertar algo sem forma. Seja cuidadoso quando você encontrar adversários sem corpos físicos.”

“… Certo.”

Vendo ambos eles acenarem, Shouko estava satisfeita.

“Bem então, desculpe mantê-los por tanto tempo. Sejam cuidadosos.”

“É. Vamos lá, Yaya.”

“Roger!”

Depois de certificar-se que Yaya estava em uma condição apropriada, Raishin arrancouse para fora de seu quarto.


(3)

Conforme Raishin e Yaya partiram, a irmã mais velha de Yaya— Irori assistiu-os irem com sentimentos complicados dentro dela.

“Raishin acalmou-se um pouco. Naquela época, ele era como um voraz cão da montanha.”

Shouko deu uma tragada de seu cachimbo, antes de responder languidamente.

“A passagem de tempo pule um homem. Assim também faz o ódio e a raiva.”

“Ainda assim, para esse Raishin jogar a si próprio de cabeça em perigo pelo bem de outro alguém—”

“Esse boy iria felizmente pegar a ponta curta da vara se isso significasse que outro alguém seria beneficiado.”

“… Eu sempre pensei que Raishin era impiedoso e motivado por interesse próprio. Que ele estaria bem com outros machucando-se se estivesse nos interesses de seu objetivo.”

“Fufu… Então isso significa que você é até menos focada que Yaya. Eu não me lembro de fazer seus olhos serem tão ruins, Irori.”

Palavras ásperas faladas com um tom gentil, Shouko levemente repreendeu Irori.

“O boy não é impiedoso, mas as circunstâncias que ele foi pego certamente o são. O destino deu-lhe uma mão cruel. Você o vê como motivado por interesse próprio, mas sua conduta atual é meramente porque ele está motivado por vingança— Em resumo, desde o princípio do princípio, o boy já era assim; alguém o qual mostraria compaixão até mesmo ao mais amargo dos adversários.”

“Você está referindo-se a ele mostrar consideração pelas circunstâncias de seu inimigo?”

Shouko não respondeu. Ela apenas continuou fumando seu cachimbo serenamente.

Irori rapidamente ficou inquieta.

“Ama. É uma boa ideia deixar Raishin sair desse jeito? Como você disse mais cedo, Raishin estará indo contra um adversário formidável…”

“Você está preocupada sobre Yaya? Você sempre mima-a um monte.”

“Qu—!? N-não há como eu deixar meus sentimentos pessoais…”

Seu pele branca virou escarlate, e ela balançou suas mãos desesperadamente em negação.

“Não há motivo para preocupação. Eu removi a restrição de Yaya.”

Irori ficou ainda mais preocupada conforme ela amontoou mais perguntas.

“… Raishin ficará bem? E se ele ser completamente consumido pela Yaya…”

“O boy não é tão fraco.”

“Você tem certeza? Raishin mal foi um marionetista por alguns anos— Se eu puder ser franca, ele é como um bebê pássaro que ainda não aprendeu a voar. Eu tenho certeza que se você explicar corretamente para ele, ele saberia que ele apenas ainda não está no nível requerido.”

“Ao invés do inimigo, o boy severamente calculou mal sua própria força. É apenas que ele ainda não notou. Ele não compreendeu que ele foi abençoado com seu próprio talento inato.”

Shouko deixou sair um pequeno riso abafado conforme ela lembrou algo.

“Quando nos encontramos pela primeira vez, o boy estava treinando com um boneco de madeira.”

“De madeira?”

Um boneco de madeira não tem Coração de Eve instalado dentro dele, e então era apenas um simples, comum boneco de madeira.

Obviamente, isso significava que ele não havia nenhuma forma de autonomia. Portanto, ele dependia exclusivamente da energia mágica do marionetista para tudo— o marionetista tinha que controlar a tensão nas juntas, equilíbrio, e seus movimentos gerais.

Mesmo para alguém com telepatia ou um ascético da montanha o qual havia devotado-se a treinamento rigoroso, ainda era uma proeza astuta de se manejar.

Irori estava honestamente chocada. Raishin havia apenas começado dois anos atrás, mas nesse ponto no tempo ele já havia energia mágica habilidosa o suficiente para manipular um boneco de madeira. Com seu olho nas costas dele, Shouko acenou.

“O irmão do boy pode manipular um boneco de madeira ao ponto de ficar como vivo. Contudo, ele não pode fazer isso— e então ele estigmatizou-se como sem talento. Porém —”

Seus longos cílios tremularam-se para baixo conforme ela suspirou distraidamente.

“Um marionetista comum não seria nem capaz de fazer um boneco de madeira parar em pé.”

No máximo, eles seriam apenas capazes de mover um único membro na melhor das hipóteses.

“Fufu… Você realmente é esse boy temeroso.”

“O clã Akabane era uma família de adivinhos. Eu ouvi falar que eles eram habilidosos em artes de exorcismo e uso de shikigami[2]. Você está tentando dizer que seu talento é algo a ser esperado, já que ele é dessa linhagem sanguínea?”

“Sim, e não é maravilhoso? Porém, a fortuna e o infortúnio são meramente dois lados da mesma moeda. É precisamente porque ele tem o Sangue da Asa Escarlate nele que ele sofreu o infortúnio e teve sua família destruída.”

A boca de Irori fechou-se. Detalhes da infância de Raishin, a tragédia de seus parentes serem atacados, e o genocídio do clã Akabane são escassos.

Ambos sua ama e Raishin haviam recusado-se a falar sobre isso longamente.

Contudo, ela pensou que o status quo estava bom assim como estava.

Ela estava contente de esperar até que a hora chegasse quando Shouko quisesse falar sobre isso. Até então— e mesmo depois disso, as três irmãs iriam se esforçar para ser de ajuda a sua ama no melhor de suas habilidades.

Tendo chegado a uma conclusão, Irori deixou o assunto de lado e mudou de tópicos.

“Será Raishin capaz de derrotar Tenzen?”

“Quem sabe? Isso é algo que ele terá que tentar para descobrir.”

“Você está dizendo que a possibilidade existe, então?”

Shouko não respondeu, em vez disso lançando seu olhar para fora para as figuras deles desaparecendo conforme ela fumou seu cachimbo.

Depois de um tempo, ela abruptamente murmurou.

“Essa conversa sobre vingança é ridícula.”

“Eh—”

“Se ele souber a verdade, o boy me odiaria com certeza.”

Um sorriso solitário o qual jamais havia sido visto antes até agora surgiu em seus lábios.

O módulo de pensamento de Irori começou a boiar com numerosas dúvidas.

Contudo, seu cérebro logo acalmou-se de seu estado caótico conforme ela deixou seus pensamentos evaporarem-se para longe.

Contanto que sua ama soubesse a verdade, estava tudo bem mesmo que ela não soubesse.

Irori olhou para fora da janela, olhando para o alto para a lua pendurada no céu noturno.

Seus pensamentos eram muito parecidos com uma oração conforme ela quietamente baixou sua cabeça para baixo.

Boa viagem, Raishin.


(4)

Com Yaya a tiracolo, Raishin estourou-se para fora do dormitório tartaruga.

Era muito passado do toque de recolher. A mestra recepcionista chamou-o por detrás dele para parar e voltar, mas porque isso era uma emergência Raishin ignorou-a. Ter de explicar que ele estava auxiliando o comitê disciplinar e isso era um assunto relacionado era muito problemático.

Seguindo as luzes da rua de fora dos prédios, ele arrancou-se em direção do dormitório grifo. O vento frio da noite acariciou as costas de seu pescoço, fazendo seu corpo tremer. A conversa que ele teve com Felix mais cedo reprisou-se na mente de Raishin.

“Ei, Felix.”

Raishin queria perseguir atrás de Charl, mas uma mão em seu ombro o conteve de assim fazê-lo.

Felix segurou sua mão em um gesto pacificador.

“Eu sei o que você dirá, Raishin. Primeiro, de qualquer modo apenas deixe-me dizer que eu não estou duvidando da sua relação com Charl.”

“Então porque você foi e disse tudo isso?”

“Obviamente, foi para o bem dela.”

“— O que você quer dizer?”

“Se eu não dissesse isso para ela, ela continuaria suas ações precipitadas, não? Ela é ruim em cooperar com outros, e trabalhar sozinho é cheio de perigo.”

Raishin caiu em silêncio. Ele não podia pensar em uma resposta. Ele estava certo que Cannibal Candy era perigoso, e que Charl não estava suscetível a seguir as instruções do comitê disciplinar.

Porém, enquanto isso era lógico, ele ainda não podia aceitar, e Raishin esquivadamente continuou.

“… Mesmo que você diga isso, você não pode negar que Charl está machucada.”

“Depois que nós tomarmos conta de Cannibal Candy, eu farei as pazes pelo que eu disse.”

Havia mais sinceridade em seus olhos que o normal conforme Felix disse isso.

Sua recordação chegou a um fim, Raishin estalou sua língua.

No momento que eles tomassem conta das coisas, já podia ser tarde de mais.

Charl não era tão forte ou tão indiferente quanto ela pretendia ser.

(Não faça nada imprudente, assustadora garota dragão…!)

“—Raishin!”

Yaya gritou um aviso. Ele estava perdido em reflexão e sua atenção a seus arredores haviam portanto diminuído. De repente ele notou pela primeira vez que havia uma presença aproximando-se diretamente da direção oposta a eles.

Reflexivamente preparando-se para combate, ele estendeu a mão em direção a Yaya. A outra parte teve a mesma reação, e abraçou seu corpo. Capturando a luz das lâmpadas da rua em volta deles, algo brilhou em sua mão.

Era o frio brilho de metal— uma faca.

Algo pareceu suspeito conforme a altura da pessoa desconhecida provocou um senso de déjà-vu a passar sobre ele. O corpo era magro e conservador, com cabelo no comprimento do ombro e um par de lentes fornecendo um ar intelectual… Essa pessoa era—

“Lisette! Sou eu!”

“Raishin Akabane…”

Baixando sua faca, ela iluminou uma lâmpada em sua mão para verificar o rosto de Raishin.

Ela estava sozinha. Como sempre, seu autômato não estava acompanhando-a.

“Você está procurando por Charl?”

“Sim. De fato, eu estava justamente em meu caminho para o dormitório tartaruga.”

“Você estava dirigindo-se a mim?”

“Conhecendo você, eu senti que você viria arrancando-se.”

“— Isso é fé em mim?”

“Não se empolgue demais, sua lombriga.”

“… Meu mau. O que você quer comigo então?”

“Para onde você estava dirigindo-se?”

“Em direção ao seu sentido. Eu queria ouvir suas ideias.”

Lisette havia uma expressão nebulosa em seu rosto conforme ela deu um suspiro exageradamente alto.

“Charlotte não tem um grande círculo de amigos. Se ela não pensa em ir até você, e está apenas tolamente vadiando em volta da área, então a situação é irremediável.”

“Uhuh. Você pode refazer essa frase de um jeito melhor?”

“Bastante simples, eu não tenho ideia de para onde ela pode ter desaparecido…”

Pressionando seu dedo para seus lábios, ela estava profundamente em reflexão. Depois disso, algo ocorreu para ela e ela virou-se para encará-lo.

“Você esteve fora com ela o dia inteiro hoje, não esteve? De todo modo ela disse qualquer coisa?”

“Não, não realmente… Em qualquer caso, eu acredito que Felix é a causa do desaparecimento dela.”

“Foi essa uma débil tentativa de transferir responsabilidade a outro alguém para esconder sua própria incompetência, seu verme tubifex[3]?”

“Por que são todos os seus insultos fixados em variações de longos e finos vermes?”

Nesse momento, Raishin notou algo fora do ângulo de seu olho, e virou-se para observar seus arredores.

“… Está ficando um pouco turbulento por aqui.”

Olhando de perto, ele podia ver sombras acerca movendo-se furtivamente em meio as árvores e na cobertura dos prédios. Embora elas haviam habilmente escondido suas presenças, os cinco sentidos de Raishin eram mais afiados que os de uma pessoa normal. Tão logo quanto ele parou de mover-se, ele podia senti-las.

Lisette olhou sobre elas também, antes de hesitantemente falar.

“A verdade é, o comitê disciplinar está colocando todo seu esforço em procurar por Charlotte.”

“Que, é ela tão importante— espere, você não está suspeitando dela, você está?”

Se o comitê disciplinar estava perseguindo atrás dela, isso significava que eles pensavam que ela era Cannibal Candy?

Lisette não moveu nem mesmo uma sobrancelha, mas Yaya cobriu sua boca com suas mãos em choque.

Raishin olhou para Lisette com uma expressão questionadora.

Lisette hesitou um pouco antes de finalmente ceder e resignadamente confessar a verdade.

“Justamente mais cedo, vários circuitos mágicos foram descobertos no quarto de Charl.”

—Circuitos mágicos?

Ela estava referindo-se àqueles que Cannibal Candy havia removido…?

“Isso é impossível!”

“É a verdade. Aquela que descobriu-os foi a mestra recepcionista…”

Ele percorreu sobre os fatos em sua cabeça. Parecia como se alguém estava tentando armar para Charl— Não, isso não era. Se Charl realmente fosse Cannibal Candy, seu circuito mágico aniquilaria os circuitos mágicos. Se alguém estava realmente tentando armar para ela, fazer isso haveria o efeito oposto.

Então, isso significava que Charl estava acumulando circuitos mágicos por razões desconhecidas para Raishin…?

Considerando a força de Charl, também havia a possibilidade que ela podia infligir um ataque que deixaria os circuitos mágicos intactos.

“Nós ainda estamos para verificar se os circuitos em questão são aqueles que Cannibal Candy havia removido. Um dos professores está atualmente examinando-os, mas desde que eles estão em muito mau estado, os resultados apenas sairão amanhã.”

Raishin ficou em silêncio conforme ele continuou a pensar.

Julgando-o não ser de posterior utilização para ela, Lisette deu uma curta reverência, “Nós vamos nos separar aqui. Eu devo voltar à busca agora—”

“Espere.”

Lisette duvidosamente parou.

Querendo confirmar algo, Raishin escolheu suas palavras cuidadosamente e deliberadamente.

“Seria correto dizer que eu atualmente sou alguém que está auxiliando o comitê disciplinar?”

“Isso está correto.”

“Nesse caso, eu gostaria de conduzir uma investigação, com sua cooperação.”

Seu interesse despertado, Lisette virou-se para encará-lo.

“O que você deseja fazer?”

“Eu gostaria de confirmar algo com meus próprios olhos.”

Raishin contou-a aonde ele desejava ir.

Lisette estava chocada. Uma expressão perturbada raramente vista apareceu em seu rosto.

“Esse é… um lugar o qual eu não tenho a autoridade para dar-lhe acesso.”

“Permissão de quem é preciso então?”

“… Dê-me um minuto. Eu preciso discutir isso com Felix primeiro.”

“Então você ajudará?”

“Dadas as circunstâncias atuais, sim. Não importa o quão o bastante de uma larva de mosquito sem cérebro você possa ser, para você pedir por uma coisa como esta durante uma emergência como essa deve significar que há uma razão por trás, não?”

Embora ele estava um pouco incomodado por algumas das coisas que ela havia dito, Raishin acenou.

Lisette falou-lhe que ela precisaria fazer uma chamada telefônica, e retornou de volta ao caminho.

Por um curto período, Raishin e Yaya foram deixados sozinhos no frio.

Yaya estava aderindo-se firmemente a ele, então o frio não afetava ele tanto. A espera entretanto, era algo que era excessivamente difícil de aguentar.

Talvez as negociações não estivessem fluindo suavemente, ou ela havia completamente negligenciado de mencioná-las, ou talvez ela havia encontrado um acidente a meio caminho; Lisette ainda não havia retornado.

A ansiosa espera durou vários minutos. Finalmente, Lisette retornou—

“Seja grato. Felix falou para o comitê executivo.”

Em resumo, eles haviam recebido permissão.

“Eu guiarei você. É o mínimo que eu posso fazer desde que nós estamos cooperando nisso.”

“Eu estou em débito com você.”

“Eu deverei recusar sua gratidão. Isso é meramente parte de meus deveres afinal.”

Tendo falado curtamente, Lisette começou a caminhar à frente de Raishin.

Ela liderou-os em direção ao mais importante bloco da academia.

Dirigindo-se passado do auditório central, passando em volta das costas da torre relógio e cortando através da residência do diretor, havia um grande prédio retangular que parecia como uma lápide.

O prédio onde todas as máquinas importantes eram armazenadas, o Armário.

“Antes que você entre, você deve saber que sua entrada é sujeita a uma condição.”

A expressão em seu rosto era cinco vezes mais severa que o normal conforme ela falou gravemente.

“Dentro, incontáveis autômatos estão armazenados em um estado de hibernação. Sem necessidade de dizer, todos eles estão completamente desprotegidos. Se você quisesse, você podia facilmente destruí-los, e seus usuários seriam incapazes de participar na Festa Noturna.”

“Não seja ridícula. Eu não vou descer a esse nível.”

“Eu estou apenas dizendo que a possibilidade existe, sua escumalha[4] de lagoa.”

“Então eu fui rebaixado a um micro-organismo agora? Certo, eu entendi. Eu deixarei Yaya aqui.”

“Raishin…”

Yaya olhou para ele com uma expressão preocupada em seu rosto. Seus grandes olhos cintilaram, refletindo a luz da lâmpada. Ela olhou tão inocente e indefesa quanto um filhotinho.

“Grite se qualquer coisa acontecer. Seria trágico se você fosse atacada por Cannibal Candy.”

“Yaya ficará bem. Mais importante, Raishin…”

“Não se preocupe. Eu estarei com Lisette.”

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“Estar sozinha junto com essa mulher significa que sua castidade está em perigo…”

“… Você ainda está falando sobre isso?”

“Você não tem motivo para se preocupar, boneca obcecada por sexo. No improvável evento que ele me ataque, eu morderei minha língua.”

“Eu não atacarei você! Ambas vocês, parem com seus absurdos!”

Terminando a conversa, Lisette tomou a frente novamente, e caminhou em direção ao prédio retangular.

Haviam sentinelas postadas na entrada, e mais segurança pessoal na sala da guarda.

Lisette apontou para sua braçadeira para indicar que eles estavam aqui em negócios do comitê disciplinar.

Parecia que os guardas já haviam sido informados. Depois de processar a entrada deles, eles entregaram uma chave mestra.

O interior do prédio era o mesmo que sua fachada, desprovido de qualquer forma de decoração que seja. Seus andares, paredes e tetos eram todos construídos com linhas retas, fazendo-o parecer sufocante e confinador.

As luzes internas estavam todas apagadas, então eles dirigiram-se mais profundamente internamente apenas com suas lâmpadas acesas.

“Então, o que você deseja confirmar?”

“O autômato de um estudante terceiranista. Se minha lógica está correta, então ela pode provar ser uma pista decisiva para localizar Cannibal Candy.”

“Nesse caso, nós devemos nos dirigir ao segundo andar. Por esse caminho.”

“… Posso perguntá-la algo?”

“Eu não tenho um namorado, mas eu prefiro morrer que fazer sexo com um playboy como você.”

“…”

Era um momento constrangedor. Lisette tossiu no que pareceu ser embaraço.

“Isso foi uma piada. Qual é ela?”

“Que tipo de autômato é o de Felix?”

Lisette pensou por um momento, buscando através de suas memórias antes de responder.

“Eu não sei exatamente muito sobre os detalhes, mas eu já o vi antes. Eu não sei se isso é verdade ou não, mas eu ouvi rumores que ele foi feito durante o período da Renascença.”

“Então ele é uma antiguidade?”

“Não é algo que você possa apenas descartar levianamente. O período da Renascença foi um tempo na história da humanidade onde incontáveis gênios excepcionais caminharam pela terra. Técnicas que agora estão perdidas para nós existiam naquela época, e haviam artes mágicas desse período que nós estamos ainda para decompor. O autômato de Felix é também teorizado de ser um desses milagres criado por esses gênios.”

“… Isso não é surpresa. De qualquer jeito, eu posso pelo menos dizer que é um autômato que o alistou nos Rounds.”

Mesmo embora ele fosse um remanescente de um século atrás, ele ainda estava em uso ativo— um autômato como esse não podia apenas ser descartado como obsoleto. Era provavelmente muito superior a trabalho manual de artesanato moderno, e devia haver um segredo para ele.

“Então que tipo de circuito mágico está instalado dentro dele?”

“Bem, eu não sei esse tanto… eu posso ser sua assistente, mas eu também sou uma candidata a Festa Noturna. Não é prudente revelar sua mão para alguém a quem irá se tornar seu oponente algum dia.”

“Eu acho que isto não é surpreendente também.”

“É apenas—”

“— Apenas que?”

“Quando nós estávamos fazendo prática de campo anteriormente, ele criou lava.”

“Lava?”

“Sim. Ele aqueceu a terra e usou-a para cavar trincheiras. Também, durante outra hora, ele manipulou névoa densa para arremessar o time inimigo em confusão.”

“Névoa… Você tem certeza que não era apenas vapor?”

Se fosse um circuito mágico que girava em volta de manipulação de calor, então era possível gerar ambas lava e névoa.

“Não, era mais natural, como se fosse uma extensão de seus nervos ou sentidos.”

“Que diabos é isso? Ao menos que ele esteja usando várias artes mágicas juntas em conjunto… mas de jeito nenhum, algo como isso deveria ser impossível.”

Em qualquer caso, ele estava certo de ser um oponente problemático. Lava e névoa eram ambos estados fluídos sem forma.

Tendo alcançado o topo das escadas, Lisette chegou a uma parada.

“O armário de Felix está na sala mais distante na parte de trás a direita.”

“Está tudo bem, eu não planejo ir lá.”

Os olhos de Lisette estreitaram-se em perplexidade.

Do fluxo da conversa deles, ela teve a impressão que eles estavam procurando o armário de Felix.

Raishin pegou a chave mestra de sua mão, e começou a caminhar na direção oposta.

Ele já havia compreendido o layout do prédio.

“Isso é—”

Atrás dele, Lisette estava falando algo. Raishin ignorou-a e abriu a porta.

Os armários lembravam caixões, e estavam alinhados em fileiras ordenadas.

Confiando nas placas de identificação, ele olhou pelo armário que ele estava procurando.

Muito antes, ele descobriu o que ele estava procurando.

Código de registro White Mist— Lisette Norden.

Suprimindo sua impaciência, ele usou a chave mestra para destrancar a fechadura, e abriu a tampa com um ar de finalidade.

“…!”

Dentro do armário, havia um largo cilindro de vidro.

Parecia com um tubo de ensaio gigante. O líquido que preenchia-o completamente parecia exatamente como formaldeído[5]. Envolvida nesse líquido, exatamente como um espécime biológico, havia uma garota completamente nua suspendida dentro.

Não era uma autômato.

Espiando de seu peito aberto era tecido real e carne real.

Raishin amaldiçoou sua própria tolice.

Eu sou tão idiota. Isso… Como eu pude não notar algo tão óbvio?

Em outras palavras, desde o princípio do princípio, ela esteve aqui todo esse tempo.

Suspendida dentro do cilindro de vidro, essa era—

O corpo de Lisette Norden.

No próximo momento, algo acertou Raishin de trás com força suficiente para nocautear o fôlego para fora dele.

Referências e Notas de tradução[edit]

  1. Uma planta de cultivo tradicional nos países asiáticos, o nome original vem do grego, que significa flor de ouro. Wikipédia
  2. Na mitologia japonesa, shikigamis eram espíritos invocados para servir e proteger. Wikipédia
  3. Uma espécie de verme avermelhado que vive no fundo do mar. Wikipédia
  4. Algas unicelulares que vivem na água. Wikipédia
  5. Metanal / Formol. Wikipédia

Capítulo 6 – Verdadeiro Ser[edit]

(1)

Na noite anterior.

Depois de inspecionar o autômato devorado, Lisette chamou por Raishin justamente quando ele estava prestes a sair.

Ela informou-o dos perigos de associar-se com Tyrant Rex e avisou-o para ser cuidadoso. Ela também falou-lhe que Sigmund era uma Bandoll.

Logo depois disso.

“Você tem quaisquer perguntas até agora?”

“É, eu—”

O jovem na frente dela falou levemente— mas seus olhos haviam um brilho afiado conforme ele falou.

“Por que você estava lá quando Cannibal Candy estava devorando sua presa?”

Seus olhares colidiram um com o outro. Ela podia sentir sua sobrancelha começar a estremecer. Lisette empurrou seus óculos até a ponte de seu nariz, respondendo-o com seu rosto escondido.

“Você está tentando dizer que eu sou Cannibal Candy?”

“Mas você estava lá, não estava?”

“Não. Eu apenas recebi o relatório e arranquei-me rapidamente para a cena. Embora pela hora que eu cheguei, Cannibal Candy já havia desaparecido.”

“Oh? Eu estava sob a impressão que você havia visto o momento do ataque.”

“… Por que você pensaria isso?”

“Hm. É assim então? Entendo.”

“Por favor pare com suas insinuações. É extremamente perturbador.”

Raishin deu-lhe um olhar de lado. Era um olhar forte, o qual o peso causou um calafrio de medo percorrer sua espinha o qual ela não pôde suprimir.

“Você identificou uma das marionetes devoradas como o usuário de estrela-d'alva, não é?”

“… Identifiquei.”

“Como você sabia disso? O rosto estava esmagado; você não deveria ser capaz de identificá-lo de qualquer modo.”

“Qualquer um que viu chegaria a mesma conclusão. Havia essa bola de ferro única—”

“A qual estava esmagada nas pernas da marionete devorada, não estava?”

Lisette foi surpreendida. Ela finalmente compreendeu o que Raishin estava implicando.

“Sim, parece que você entendeu agora. Qualquer um que viu essa situação normalmente assumiria que o usuário de estrela-d'alva foi aquele quem atacou. Para qualquer um concluir que a arma havia sido virada contra o próprio usuário, você teria que ter alguma forma de conhecimento avançado. Como— se você já soubesse que a marionete devorada era o usuário de estrela-d'alva desde o princípio… por exemplo.”

“… Isso é, se você pensar sobre isso normalmente.”

Desesperadamente tentando manter sua voz de tremer, Lisette fez seu contra-argumento.

“Eu não acho que o perpetrador deixaria para trás evidências específicas que o incriminariam. Se Cannibal Candy estava usando algo, ele certamente teria levado com ele quando ele saiu.”

“É assim então? Ele parece mais do tipo o qual deixaria seus restos espalhados em volta como eles estavam.”

“— Isso em si não é algo considerado único a seu M.O.”

“Então essa era a lógica por trás de sua conclusão.”

“Pare de tentar achar faltas onde elas não existem! Eu sou totalmente inocente!”

Raishin riu ironicamente e levantou ambas as mãos em um gesto de paz.

“Não fique tão agitada. É apenas uma dúvida que esteve me incomodando por um tempo.”

Virando-se para longe, ele começou a caminhar em uma maneira desprotegida.

“Isso era tudo que eu queria perguntá-la. Bem então— oh, certo.”

Ele parou. Virando sua cabeça sobre seu ombro,

“Eu acho que você mal-entendeu algo. Em nenhum ponto jamais eu disse que você era Cannibal Candy.”

“—!”

“Eu apenas perguntei se você esteve lá.”

“… Parece que eu estava enganada.”

Com uma risada irritante, Raishin deixou a sala.

Lisette mordeu seu lábio fortemente— e no próximo instante, ela açoitou o atril[1] do professor.

O atril desintegrou-se facilmente, os destroços espalhando-se sobre o chão.


(2)

A luz da lua falhou em chegar aqui, as trevas profundas e impenetráveis.

‘Aqui’ era um túnel formado por árvores que eram um pouco fora da rua principal. Mesmo durante o dia era escuro como breu.

Em meio as trevas, Charl estava caminhando em um ritmo acelerado.

Seu corpo inclinou-se adiante, ela estava tomando grandes passos com ombros quadrados.

Atrás dela, Sigmund estava batendo suas asas para alcançar.

“Vamos voltar, Charl.”

Charl ignorou-o e continuou pressionando adiante.

“Quanto tempo você planeja em continuar assim?”

“Você está sendo muito barulhento. Fique quieto.”

“Pare de somar para sua lista de crimes cometidos. Retorne para sua cama.”

“Hmph. Não é um crime contanto que eu não seja pega.”

“Cesse essa tolice, Charl.”

Sigmund voou em frente de Charl e arreganhou suas presas. Enquanto habilmente voava para trás, ele começou a palestrar para ela como um velho homem ranzinza.

“Você já deveria saber por agora, mesmo que você consiga por fazer as coisas desse jeito, não irá lhe trazer felicidade. Você planeja em viver sua vida inteira como uma exilada social? O que você precisa neste momento é o reconhecimento de outras pessoas. Pare de tentar arcar com todos os fardos por si mesma. Não há ninguém no mundo o qual não precise de um amigo para andar de mãos dadas.”

“Eu já falei para você ficar quieto, não falei!?”

Ela esbofeteou Sigmund para longe.

“Se você manter isso, eu mudarei sua dieta diária para amendoins.”

Sigmund teimosamente reganhou sua postura, voando na frente de Charl mais uma vez.

“Por que você está tão agitada? Felix disse algo para você?”

Os lábios de Charl estalaram fechados.

Sigmund suspirou em resignação.

“Demonstrasse em seu rosto. Você é muito fácil de ler as vezes.”

“Quieto. Se você entende, então apenas cale-se e ajude-me.”

“Mais razão ainda para recusar, Charl. Se você realmente deseja ser reconhecida por esse homem, cesse essa imprudência. Pare de ser tão impaciente. Lute e vença dentro da Festa Noturna justo e quadrado e você silenciará toda a fofoca circundando você.”

Charl de repente chegou a uma parada.

Talvez as palavras de Sigmund haviam-na perfurado, mas havia uma expressão angustiada em seu rosto.

“Mas eu não posso perdoar isso… Como você pode esperar que eu sente-me calmamente pelo lado e assista…!?”

“Você não é uma representante da lei, nem você é um membro do comitê disciplinar. Esse vigilantismo é meramente seu próprio egoísmo.”

“Essa é apenas a lógica de um covarde! Obrigação nobre—”

O fogo em seus olhos morreu quase que imediatamente conforme ele havia aparecido.

Sem Sigmund ter de apontá-lo, ela já havia notado seu erro.

Charl estava usando a pretensão de indignação pública como um substituto para sua própria raiva e ódio.

Sigmund gentilmente pousou em seus cabisbaixos ombros.

“Você tem um sonho precioso. Não manche-o lutando batalhas sem sentido. Você tem sua família para pensar sobre—”

“… Isso é suficiente, Sigmund.”

Sua voz estava anormalmente tensa. Sigmund imediatamente caiu em silêncio, levantando sua cabeça e varrendo as trevas circundantes.

Finalmente, ele notou algo.

Cinquenta metros adiante, a direita do local atual deles, havia um objeto alienígena acerca contorcendo-se!

A sombra estava rastejando em volta de quatro na base de uma árvore, oculto dentro das trevas impenetráveis.

Não demonstrou sinais de respirar, e movia-se silenciosamente— não era humano.

Considerando a hora e o lugar, não havia nenhum humano o qual rastejaria em volta de quatro agora.

Então, era um autômato.

Os cantos dos lábios de Charl contorceram-se. Por um breve momento, seu rosto aristocrático metamorfoseou-se em uma máscara medonha de ferocidade como uma besta selvagem.

“Finalmente, parece que nós encontramos nossa presa.”

“Espere, Charl. Nós devemos averiguar quem ou o que isso é primeiro.”

“Todos os bons meninos e meninas devem estar na cama por agora. O único tipo de pessoa o qual estaria esgueirando-se em volta a essa hora da noite…”

Charl começou a irradiar energia mágica de seu cabelo até seus ombros. Dentro das trevas, a azulada luz branca que brilhava cintilou como luz lunar. Estendendo sua mão para Sigmund, sua energia mágica coalesceu em um feixe de luz o qual fluiu até Sigmund.

O corpo de Sigmund começou a reagir, mas ele não cresceu nenhum pouco maior.

“Não é nada bom, Charl. Não há luz suficiente aqui.”

“Está bem mesmo que você esteja deste jeito. Tenha certeza de mantê-lo vivo, Luster Flare!”

O pequeno dragão abriu sua mandíbula. Incontáveis agulhas de luz ofuscante verteram adiante da boca de Sigmund, voando em direção a sombra, empalando-a. Como seu nome implicou, não era a explosão de um canhão, mas continha o pequeno poder explosivo de uma labareda.

O autômato quadrupede desabou sob o ataque.

Todos os quatro membros foram perfurados com as agulhas de luz, alfinetando-o ao chão.

“Consegui!”

Charl regojizou-se. Exatamente conforme ela correu para confirmar o que ela havia acertado,

“Não mova-se!”

Vozes intensas e zangadas aproximaram-se dela em todos os quatro lados.

Escondidas nas copas das árvores e sombras, incontáveis presenças humanas revelaram-se.

Charl percebeu que ela estava completamente cercada. Haviam oito— dez indivíduos.

Todos eles haviam suas lâmpadas viradas em direção a ela. Para chamar suas atitudes de hostis seria um eufemismo.

Também, todos eles haviam uma braçadeira em volta de seus braços.

(O comitê disciplinar…!?)

Seu liso cabelo dourado flutuando, alguém caminhou em frente de uma desconcertada Charl.

“Sincronismo perfeito, Charl. Ou melhor, eu devo dizer que esse sincronismo é melhor que perfeito.”

“Felix—”

Felix virou-se melancolicamente em direção ao autômato quadrupede, apontando para ele.

“Esse é um dos meus autômatos reserva. Eu pensei que veria se eu conseguia fisgar Cannibal Candy, então eu soltei três iscas no aberto.”

Charl estava confusa. Ela não podia compreender o significado atrás das palavras de Felix. Estava ele chateado que ela havia interferido com suas buscas?

“Charl. Você sabe porque eu estou aqui?”

“… Essa é uma operação de infiltração.”

Felix assentiu.

“Eu ouvi que você esgueirou-se para fora de seu quarto. Na possibilidade remota que algo pudesse acontecer, eu ordenei que a área fosse isolada.”

Ela estava sendo suspeita de ser…?

Tão logo quanto ela percebeu isso, ela foi apertada por um medo indescritível.

“Não! Eu pensei que esse autômato era Cannibal Candy!”

“Então você está tentando capturá-lo, isso está correto?”

Seu olhar era cheio de suspeita. Sendo olhada desse jeito, Charl sentiu sua explicação deslizar de volta sua garganta abaixo.

“Você é uma candidata programada na Festa Noturna. Mesmo assim, Cannibal Candy ainda seria uma ameaça. Contudo, certamente ele não era essa grande ameaça para que você precise caçá-lo proativamente, ele era?”

“Eu apenas… eu pensei… que era imperdoável…”

“A ama recepcionista já testificou que você esteve esgueirando-se para fora do dormitório regularmente.”

Charl recuou em surpresa.

Isso certamente era verdade.

Tão trivial quanto podia ser, Charl quebrou as regras, e ela havia feito assim repetidamente.

“Você pensou que sua ausência teria passado despercebida?”

“Mas eu não estou fazendo nada para sentir-me culpada sobre! Eu escapei do dormitório —”

“Para procurar por Cannibal Candy.”

“… Isso está certo!”

“Oh, Charl… Você não acha que é hora de deixar cair o ato?”

“—!”

Felix balançou sua cabeça. Ele havia uma expressão amarga em seu rosto que era uma mistura de resignação e traição. O olhar em seus olhos não era mais suave ou gentil.

“Agora que eu penso sobre isso, suas ações têm sido incompreensíveis como de tarde. Você manteve-se falando sobre Cannibal Candy com indignação em sua voz— mas isso também era estranho.”

Felix suspirou. Quando ele começou a falar novamente, o calor em seu tom havia desaparecido.

“Você odeia pessoas, e você não mistura-se em torno muito com outros. Como eu podia esperar você sentir qualquer simpatia por aqueles estudantes os quais foram atacados? Também—”

Não havia emoção em sua voz conforme ele continuou em uma monotonia.

“Você aproximou-se de Raishin Akabane. Alguém que odeia pessoas tanto quanto você aproximou-se a alguém tão caloso como ele.”

“Não—!”

“Em outras palavras, seu ódio de Cannibal Candy— era meramente uma amostra que você colocava.”

“Não! Eu realmente—!”

“Se nós assumirmos que tudo que você fez foi para evitar suspeita, então todas as peças caem no lugar.”

“Por que!? Como você pode dizer isso!? Que evidência há!?”

“Há evidência. Nós a encontramos em seu quarto.”

Os olhos de Charl alargaram-se. Eles não podiam ter— eles encontraram isso!?

“Espere, eu posso explicar! Esses circuitos mágicos—”

Os membros do comitê disciplinar agitaram-se. Charl compreendeu seu engano.

“Charl… então, esses foram realmente escondidos por você.”

Felix havia uma expressão triste em seu rosto. Em uma mão, havia a possibilidade de um terceiro escondê-los— Alguém o qual tinha um rancor contra Charl, ou mesmo o próprio Cannibal Candy podia ter colocado-os ali para enquadrar outro alguém. Porém, Charl havia mencionado circuitos mágicos ela mesma, e então esses circuitos eram agora evidência incriminatória.

Contudo, não podia ser ajudado e ela não podia defender a si mesma. A verdade era que a própria Charl havia escondido uma grande quantidade de circuitos mágicos em seu quarto.

“Você machucou um grande número de estudantes até agora.”

Uma vez mais, ela não podia dizer nada porque era a verdade.

“Você sempre foi distante e solitária, e seus arredores eram cheios com nada além de inimigos. Sob essas circunstâncias, seu ódio não acumular-se-ia?”

“O que você está implicando?”

Felix falou lentamente, como se ele estivesse tentando confirmar algo.

“O motivo do porquê nossa investigação jamais pôde obter uma preensão de Cannibal Candy era que ele era um solitário, e então ninguém havia uma pista como para seus movimentos.”

“…”

“Depois de descobrir que Raishin Akabane havia aceitado auxiliar o comitê disciplinar, você sentiu um senso de perigo. Por que? Porque ele não estava com medo de você e persistentemente tentou aproximar-se de você apesar de suas rejeições. Se qualquer um estivesse para aproximar-se de você, eles cheirariam um rato.”

“…”

“E isso é o porquê você ter saído com ele; para criar um álibi e então lançar suspeita fora de você. Ou talvez, você estava tentando levá-lo para seu lado? Fortunadamente para você, você possui grande beleza.”

Seus ombros tremeram. Isso era mortificante. Para ser pensada como alguém a qual destruía autômatos por nenhum bom motivo e usar sedução como um meio para um fim.

“Você deve entender o que eu estou tentando dizer, não?”

Felix deu um longo, profundo suspiro, como se ele estivesse tentando esvaziar seus pulmões.

Olhando para Charl com amargo desgosto, Felix finalmente falou.

“Em outras palavras, Charlotte Belew. Você é Cannibal Candy.”


(3)

Raishin foi enviado voando do violento golpe doloroso que ele recebeu em suas costas.

Colidindo no armário, o vidro quebrou conforme ambos eles esmagaram-se na parede, causando o violento barulho alto a ecoar através do prédio.

Lentamente, sangue começou a espalhar-se através do piso.

Depois que a poeira havia sossegado, Raishin foi deixado enterrado sob o armário, completamente imóvel.

Lisette assistiu sem emoção sobre o caos.

Tendo ouvido todos os sons, os guardas logo vieram voando. Dois guardas estouraram na sala sem fazer muito barulho, seus autômatos a tiracolo.

Eles estavam em alto alerta e em posições de batalha. Seus autômatos na frente, eles haviam Lisette em suas miras. As vozes dos marionetistas eram excessivamente frias conforme eles perguntaram,

“… O que aconteceu aqui?”

Lisette ofegava violentamente e sua voz estava levantada conforme ela respondeu.

“C… Chame o comitê executivo por favor.”

“O que aconteceu? Você está ok?”

“Ele… Ele estava prestes a destruir os autômatos aqui, então lamentavelmente eu tive de atacá-lo.”

Ainda mantendo-se em alto alerta, um deles moveu-se dentro da sala para confirmar a história de Lisette.

“Entendo. Wow, isso é muito ruim.”

O marionetista fez uma careta conforme sua lâmpada iluminou a poça de sangue no piso.

“Você fez isso por si mesma?”

“Felizmente, meu autômato estava aqui.”

Ela apontou para o armário. O guarda estava um pouco desconfiado, mas não pressionou ainda mais e virou-se de costas para o corpo de Raishin.

“Ele ainda está respirando, embora fracamente.”

“Eu tentei evitar seus pontos vitais. Porém, seria melhor se nós o levássemos para o escritório do doutor imediatamente.”

“Nós providenciaremos isso. Deixe isso conosco.”

Sinalizando seu parceiro, eles começaram a virar-se e caminhar para longe, mas Lisette chamou eles.

“Por favor espere. Há uma possibilidade que ele— Raishin Akabane está trabalhando com Cannibal Candy.”

“O que você quer dizer?”

“Ele pode ter tentado criar um distúrbio aqui de forma a cobrir os movimentos de Cannibal Candy. Algo que ele disse insinuou tanto. Então apenas para ter certeza, vocês podem fazer algo sobre o autômato na frente…?”

“Certo. Nós iremos restringi-lo.”

“Por favor.”

“E sobre você?”

“Eu tenho de me encontrar com o resto do comitê disciplinar e relatar isso para eles. Há uma chance que Cannibal Candy irá mover-se— não, há uma possibilidade que ele já tenha feito seu movimento.”

“Hm… Você é a testemunha ocular para essa comoção. Eu preferiria que você permanecesse aqui.”

“Nesse caso eu retornarei tão breve quanto possível. Meu nome é Lisette Norden, uma terceiranista na classe F.”

Ela entregou-lhes seu cartão de identificação de estudante. Com isso, o guarda pareceu ter alguma fé nela. Sua afiliação estava claramente afirmada, e ela também era a assistente do presidente do comitê disciplinar. Alguém do calibre dela… com isso em mente, ele decidiu que podia permitir Lisette a deixar a cena.

Lisette selou seu armário antes de sair da sala a um passo rápido.


(4)

Em frente do prédio em forma de lápide— O Armário, havia um pouco de comoção acontecendo.

A pessoa no meio da comoção era nenhum outro senão Raishin. Ele estava atualmente recebendo primeiros socorros— Ele estava sendo enfaixado em ataduras grosseiramente e indiscriminadamente.

Circundando-o estava os guardas e alguns membros do comitê disciplinar. Enquanto tratavam-no, alguns deles foram checar no dano feito internamente.

Raishin estava completamente flexível conforme eles faziam como eles quisessem ao seu corpo. Seus olhos estavam meio abertos, mas não havia luz em suas pupilas. Depois que eles terminaram os primeiros socorros ele foi carregado em uma maca, tudo enquanto seu corpo nem mesmo dava a menor contração.

“Essa é uma algazarra bastante horrível acontecendo por aqui. Há algum tipo de festival acontecendo que eu não saiba sobre?”

Suas intenções assassinas imediatamente afiaram-se na voz. Ignorando seus olhares como se fosse nada de sua preocupação, uma mulher casualmente passeou até eles de um pequeno caminho. Vestindo o uniforme de educadora, ela era uma dama alta com um jaleco branco.

“Professora Kimberly… por que você está aqui?”

Alguém falou. Kimberly havia um ar de indiferença sobre ela.

“Eu ocasionalmente saio para caminhadas em volta da área.”

“Eh? Você sai para caminhadas… a essa hora?”

“Eu fui forçada a oferecer minha opinião experiente em algo incômodo, então eu pensei em fazer um passeio no vento da noite para refrescar-me como uma mudança de ritmo. É apenas lógico, certo?”

“Uh… eu acho…”

Forçadamente inserindo-se dentro do anel de pessoas, ela começou a rir ao Raishin amarrado à maca.

“Quão sem graça, Penúltimo. Você parece terrível com esses machucados.”

Porém, Raishin não respondeu aos seus insultos.

“… Huh? Ele perdeu a consciência ou algo assim?”

“Sim. Ele foi nocauteado.”

“Para desmaiar com seus olhos meio abertos… esse camarada assustador. Hm… sua respiração é rasa, e sua temperatura corporal é baixa.”

Tocando a pele de Raishin, ela imediatamente percebeu o perigo que ele estava.

“Se eu não estou enganada, suas costelas foram quebradas. Seus pulmões também foram perfurados. Apressem-se e movam-no.”

Tendo sido alertados, as pessoas manuseando a maca tornaram-se um pouco menos grosseiras com seus manuseios. Embora eles definitivamente não trataram-no como um objeto frágil. Com Raishin bamboleando de lado a lado na maca, eles começaram a transportá-lo para o escritório do doutor.

Assistindo-os partirem com um rosto sombrio, Kimberly dirigiu sua pergunta a ninguém em particular.

“Ele foi linchado ou algo do tipo? Seu corpo inteiro foi golpeado.”

“Não, quem fez isso foi uma terceiranista chamada Lisette Norden. Aparentemente, ele estava prestes a causar estragos dentro dos armários.”

“Uma luta um contra um… e ele foi espancado de uma maneira tão ruim?”

Seus olhos alargaram-se em surpresa. Kimberly começou a ficar inquieta conforme ela perguntou,

“Onde está seu autômato? Ela é uma garota baixa com cabelo preto.”

“Ah, ela está logo ali.”

“O guarda apontou sobre onde uma garota estava sendo transportada para longe, cercada pelos autômatos dos guardas.

Suas mãos estavam amarradas atrás de suas costas, e ela estava sendo levantada pelos seus tornozelos. A nuca de seu pescoço até suas costas estavam cobertas em feridas de corte, expondo sua carne vermelha abaixo. Havia uma grande quantidade de sangue, e seu corpo inteiro estava coberto em hematomas. Kimberly estava chocada pelo fato que havia sangue e que sua pele podia sangrar. Ela era exatamente como um humano.

Enquanto olhava para Yaya, Kimberly franziu.

“… Hmph. Parece que essa aqui está meia morta também.”

“Ah, não, eu quero dizer… ela estava em uma agitação, então nós tivemos que…”

Sentindo-se um pouco culpado, o guarda tentou explicar-se.

“Agitação? Hmph… você diz isso, mas eu não vejo nenhuns machucados que sejam consistentes com autodefesa.”

Ao contrário, parecia que ela não havia resistido ao todo. O dano infligido era limitado a suas costas, com seus braços e seu rosto mostrando nenhuma ferida de qualquer natureza. Parecia como se eles haviam atacado-a furtivamente de repente a fim de evitar qualquer trabalheira.

“Vocês não acham que você exageraram um pouco? Dois anéis de captura nível E, e três códigos de isolamento mágico— vocês acham que estão lutando contra um dragão lendário?”

“Mas nós ouvimos que esse autômato derrotou dez Esquenta Bancos.”

Enquanto internamente amaldiçoava-os por jogar seguro, Kimberly perguntou.

“O que você planeja em fazer com ela?”

“Nós a levaremos ao comitê executivo. Raishin Akabane pode estar relacionado a Cannibal Candy de alguma maneira. Ele terá de ser levado para questionamento.”

“Vocês acham que ele está em conivências com Cannibal Candy?”

Uma perigosa presença preencheu o ar. Havia um olhar perfurante nos olhos de Kimberly conforme ela falou,

“Isso era supostamente para ser uma piada? Esse tipo de piada está em voga hoje em dia?”

“Não, eu quero dizer, eu não estou tão certo nos detalhes eu mesmo…”

“—!?”

De repente, Kimberly colocou sua guarda elevada. Contorcendo seu corpo superior, ela alcançou no bolso de seu peito. Suas ações eram quase mecânicas em natureza, como se ela fosse um soldado no exército e houvessem sido rigorosamente perfuradas nela.

“… Professora? Qual o problema?”

“Justamente agora— essa autômato moveu, não moveu?”

O guarda virou-se em volta para olhar a Yaya, a qual estava tão sem vida como um peixe morto em uma tábua de corte, antes de inquietamente contestá-la.

“Não podia ser. Não havia jeito que ela seria capaz de. Seu ego foi selado afinal.”

“Não, eu posso jurar que ela moveu-se.”

“Você deve estar vendo coisas, professora. Sua energia mágica foi completamente cortada dela. Em seu estado atual, ela não é nem capaz de falar. Em primeiro lugar, sua estrutura já tomou uma quantidade considerável de dano—”

“Afaste-se! Abaixe-se no chão agora!”

Conforme ela gritou, Kimberly já havia saltado para trás.

O guarda não pôde reagir. Mal havia ele virado sua cabeça em volta, quando ele foi enviado voando.

Houve um som alto de uma explosão, e uma luz branca azulada disparou.

Energia mágica colossal estava vazando dela. Algo similar a ar quente estava sendo expelido para fora do corpo inteiro de Yaya na atmosfera ao redor.

(Que diabos…? Isso… isso é como algum tipo de… monstro…?)

Em meio ao ar quente, Kimberly podia ver Yaya rompendo suas restrições de metal tão facilmente como se elas fossem feitas de papel.

Sua silhueta estava distorcida devido ao efeito cintilante do ar quente.

A combustão de energia mágica era intensa. Como um bico de gás, chama branca azulada estava sendo disparada para cima.

(Isso é… um chifre…?)

A luz lunar ricocheteou-o, dando-o um brilho branco puro. Ele estava em sua sobrancelha, cintilando como se fosse feito de diamante. Sem parar para checar seu corpo, a atmosfera em volta de Yaya começou a romper conforme ela moveu-se.

Sua figura era a imagem viva de um yaksha[2].

Um instante depois, a sombra de Yaya havia desaparecido completamente—

Deixando para trás os guardas que estavam parados de pé, estupefatos, e uma Kimberly aturdida.


(5)

O som da alta explosão alcançou todo o caminho para onde Charl estava.

O chão retumbou, então houve um vento violento. Inquietação começou a se espalhar entre os membros do comitê disciplinar.

“O que foi isso?” “Soou como se viesse do Armário.” “Algo aconteceu a assistente do presidente…?”

Felix levantou sua mão para reprimir a inquietação.

“Times C e D dirijam-se até essa direção. Mais provavelmente, há algum problema acontecendo onde Lisette esta. Ela definitivamente precisará de backup. O resto de vocês recuem e formem um cordão cinquenta metros de distância a partir daqui.”

Um dos membros do comitê disciplinar estava surpreso pela ordem, e falou.

“Presidente, esse é um movimento arriscado. Seu oponente é a T-Rex!”

“Eu ficarei bem. Eu sou um membro dos Rounds afinal—”

Felix sorriu, seu sorriso usual em seu rosto.

“E meu autômato acabou de chegar.”

Bem na hora, algo apareceu atrás de Felix. Ou melhor, seria mais preciso em dizer que algo estava descendo atrás dele. Era uma silhueta feminina, e pousou com um suave baque.

Era um autômato vestindo armadura— se ele tivesse de ser resumido em uma única palavra, ele seria uma Valquíria[3]. Havia uma armadura antiquada e estava carregando uma montante[4]. O elmo cobria seu rosto completamente, então parecia com algum tipo de máscara demoníaca.

(Esse é… o autômato de Felix?)

Era a primeira vez de Charl vendo-o em pessoa. Parecia que também era a primeira vez para os membros do comitê disciplinar, conforme eles olharam para ele fascinadamente.

Sigmund ficou cauteloso, dando um rugido baixo.

“Agora então todos, por favor retrocedam.”

Os membros do comitê disciplinar olharam uns aos outros, hesitantes.

“Presidente, essa é uma ordem que nós não podemos seguir. O inimigo não apenas é a T-Rex, ela é também Cannibal Candy—”

“Vocês ainda não entenderam?”

A voz de Felix congelou de repente.

Inimaginável do Felix normal, sua voz estava agora tão fria como gelo.

“Vocês ficarão no caminho, é o que eu estou tentando dizer.”

Todo mundo ficou de pé frio. Era claro para eles o que estava prestes a acontecer.

Seguindo as ordens de Felix, eles espalharam-se em um círculo, movendo-se para longe em todas as quatro direções.

Suas presenças rapidamente desapareceram na distância. Eventualmente, a área cercando Charl e Felix ficou silenciosa, e Felix falou quietamente, seu sorriso habitual de volta em seu rosto.

“Vamos ter uma boa, longa conversa, Charl.”

O coração dela ficou frio. Esse sorriso habitual agora instilou medo dentro dela ao invés, e ela perguntou-o,

“… Você honestamente acredita que eu sou Cannibal Candy?”

“É claro, eu estou sério sobre isso. Seria um problema se eu não estivesse.”

—O que ele quer dizer por isso?

Contudo, antes que ela pudesse dar voz as suas dúvidas, Felix continuou a falar.

“Honestamente, o plano original era para ele— Raishin Akabane derrotar você. Eu fui capaz de atraí-lo com êxito no pretexto que você havia desaparecido… ao menos essa parte saiu sem nenhum impedimento. Bem, não importa mais. Eu diria que ele fez o suficiente por mim.”

“… Raishin?”

Ela tinha um sentimento desagradável. Ela sentiu sua garganta rapidamente secar conforme ela perguntou,

“… Você fez algo para ele também?”

“Eu apenas tomei conta dele. Meus camaradas tomarão conta do resto.”

“Você o matou!?”

“Não o fiz. Eu apenas quebrei-o, e sua boneca.”

“Por que…!?”

“Ele estava realizando atividades subversivas dentro do Armário.”

“—!”

“Em primeiro lugar, ter de fazer isso era apenas uma leve modificação para o plano. Ele ainda tinha algum valor para mim, então era uma pena que eu tive que fazê-lo. Se ele houvesse aberto meu armário, então tudo ficaria bem, mas ele justamente tinha que ir e abrir o único armário que eu não queria que ninguém abrisse— então eu não pude deixar mais ele vaguear em volta livremente.”

Valor? Armário?

Charl não havia ideia sobre o que ele estava falando.

O cérebro de Charl estava repetindo uma linha diferente que Felix havia falado mais cedo. Raishin foi atraído— porquê ele estava procurando por mim?

“Por que!? Eu não entendo! Em primeiro lugar, você é quem arrastou-o no caso todo!”

“… Oh, Charl. Em pensar que eu a valorizei tão altamente. Você não é muito rápida na cabeça, você é?”

Felix suspirou. Dando-a um olhar de desprezo, ele encolheu seus ombros.

Nesse momento, como uma lâmpada saindo de sua cabeça, Charl finalmente compreendeu.

Ela finalmente viu a figura inteira. Tanto quanto ela não queria acreditar nisso, era o pior cenário possível.

Ela mordeu seus lábios. Seus joelhos tremeram. Falando lentamente, como se ela estivesse emergindo de um estado de confusão,

“Você… usou… a mim…?”

“Era uma oportunidade muito importante para passar, Charl. Se você deseja odiar algo, odeie o fato que nós estávamos destinados a encontrar-nos. Amaldiçoe os céus por colocar ambos você e eu na academia nesse ano.”

Não… Felix balançou sua cabeça como se para dizer.

Como uma rachadura gigante na terra, um sorriso seco surgiu no rosto de Felix.

“Amaldiçoe o fato que seu Luster Cannon é similar ao meu Predator.”

Finalmente, Charl entendeu tudo.

A situação havia sido assim durante todo o tempo.

Tudo que ela pensou que ela sabia era efetivamente invertido.

Felix não mostrou gentileza para Charl porque suas artes mágicas eram similares.

Era porque suas artes mágicas eram similares que ele tentou aproximar-se dela.

Tudo havia sido cuidadosamente calculado.

Ele fingiu interesse sobre Charl para aproximar-se dela.

Tudo que ele disse para ela estava meticulosamente preparado também. Sua gentileza havia sido uma farsa.

Ele estava prestes a enquadrar Charl com todos os seus pecados, e matá-la como Cannibal Candy— Esse era seu plano traiçoeiro durante todo esse tempo.

Em resumo, Felix foi o inimigo todo esse tempo.

Felix era Cannibal Candy!

Nesse momento, o mundo literalmente desabou em trevas.

Não havia som, nem luz; tudo havia desaparecido. Seus músculos pareciam como se houvessem sido substituídos com chumbo, carga morta a qual pesou fortemente nela.

Quem acreditaria na versão de Charl dos eventos?

Seria a palavra dela contra a do presidente do comitê disciplinar. Toda a evidência convenientemente apontava para ela. De fato, poderia até haver algumas fabricadas para ajudar o caso.

Não havia uma única pessoa que acreditaria, entenderia, ou a defenderia. Mesmo agora ela lembrou do conselho de Sigmund em fazer amigos, mas era tudo muito tarde.

Algo quente começou a pingar em suas bochechas.

Suas emoções enfureceram-se dentro dela. Porém, não havia nada que ela pudesse fazer, e ela sentiu um senso extraordinário de desamparo. Soluçando como um pequeno bebê, tudo que Charl podia fazer era deixar suas lágrimas fluírem.

“Isso… é muito cruel…”

“É lamentável. Se for alguma consolação, eu estou contando para você sobre tudo pelo menos.”

“Mas por quê…? Por que você faria…?”

“Não seja estúpida. Que outro motivo pode haver para matricular-se nessa academia?”

O tom de Felix era leve e refrescante.

“Para tornar-se o Sábio, é claro. Eu estou rumo a virar o rei do mundo mágico.”

Charl sentiu como se um punho havia sido enterrado nela. Ela sentiu seu cérebro adormecer e seus sentidos embaçarem.

Felix havia um sorriso em seu rosto, e seu tom gentil era como seu eu normal.

“A Festa Noturna é uma batalha impiedosa por sobrevivência, onde a pessoa a qual elimina todos os outros obstáculos no caminho dele ou dela ganha tudo— isso era o que você sempre gostava de dizer.”

“…”

“Eu gostei dessa parte de você. De fato, eu concordei com você de todo coração. É apenas—”

Seus olhos ficaram frios conforme ele terminou sua sentença.

“—que há algo sobre você que eu não posso aguentar. — Sua ingenuidade.”

Ele estendeu sua mão para a autômato ao lado dele.

Energia mágica estendeu-se da palma de sua mão, ligando-o a ela e abastecendo a marionete.

O circuito mágico começou a ativar. Com o autômato como uma conduta, a energia mágica de Felix foi expressada como um fenômeno de alteração física.

A energia invisível começou a acumular-se, antes de ser solta.

Em um clarão, uma torrente de luz disparou-se adiante da espada da marionete.

Na realidade— era o brilho de água.

Como uma flecha, a feroz torrente de água voou reto até ela. A água tomou a forma de uma afiada lança, mirando reto a sobrancelhas de Charl.

Sigmund saltou em ação, usando seu pequeno corpo como um escudo para proteger Charl.

A torrente arrancou pele, causando sangue fresco a estirar-se e acertar o piso. O pequeno dragão foi forçadamente enviado voando de ré, colidindo no chão.

“O que você está fazendo, Charl…!? Apresse-se e apoie-me..!”

Sigmund chamou por ela. Porém, sua voz não alcançou seus ouvidos.

Felix preparou seu próximo ataque, focando sua energia mágica. Mesmo isso não entrou seu campo de visão.

Charl permaneceu afundada no piso, incapaz de fazer qualquer outra coisa exceto chorar.

Sua mente era um borrão, mas uma coisa destacou-se mais.

Como é que eu vou desculpar-me?

Se fosse apenas ela, então estaria bem. Isso era punição por sua própria tolice.

Contudo, os esquemas de Felix haviam também envolvido outro alguém além de Charl.

Por causa da minha estupidez, esses dois—

Ele era uma pessoa rude, mas bem-intencionado.

Seu autômato também, foram arrastados nesse caso bagunçado.

Agora eles sofreriam por causa dela.

“Raishin… me desculpe—”

Exatamente conforme a desculpa de Charl deixou sua boca, o brilho de água indicou que algo havia cortado através do ar.

Transformando-se a si mesma em uma forma letal, a ponta afiada estava prestes a perfurar asseadamente ambos Sigmund e ela—

Contudo.

Com um tinido, um som metálico assaltou seus tímpanos.

Ela estalou-se de volta a realidade. Repuxando para cima sua cabeça reflexivamente, uma mais bela visão entrou em seus olhos.

A luz da lua brilhou deslumbrante, refletida através das gotas de água.

O jato de água similar a uma lança foi bloqueado por eles, dispersando-se inofensivamente.

Duas sombras apareceram em frente de Charl.

Aquela que parou a lança de água era uma pequena e esbelta garota.

Diretamente atrás dela, com sua mão em suas costas, havia um jovem.

Suas ataduras tremularam no vento, e o cabelo da garota fê-lo da mesma forma. Seu corpo inteiro estava umedecido em sangue, a severidade de seus machucados óbvio mesmo nas trevas da noite.

“Não desculpe-se, sua idiota.”

Com suas costas manchadas de sangue para ela, sua voz foi brusca, mas havia um estranho calor nela.

“Não há nada que você tenha feito que precise desculpar-se por.”

Ele virou-se para encarar o inimigo.

Para proteger Charl, ele estava prestes a lutar.

Referências e Notas de tradução[edit]

  1. Pequena estante onde se coloca um livro aberto para leitura. Wikipédia
  2. Uma classe de espíritos da natureza que aparecem na mitologia Hindu, Jainista e Budista. Eles são responsáveis por manter e guardar os tesouros naturais escondidos na terra e das raízes das árvores. Geralmente são benevolentes, mas tem a sua versão sombria que assombram desertos e armam emboscadas para viajantes. Wikipédia
  3. As valquírias são deidades menores que serviam Odin, eram responsáveis por escolher os mais heróicos guerreiros mortos em batalha para conduzi-los ao salão dos mortos, Valhalla, regido por Odin, onde os guerreiros eram preparados para lutar no Ragnarök. Wikipédia
  4. Espada longa medieval, feita para ser utilizada com as duas mãos. Wikipédia

Capítulo 7 – A Besta que Anseia por Eternidade[edit]

(1)

Um pouco antes de Raishin aparecer em frente de Charl.

Os guardas carregando a maca foram assaltados por uma misteriosa sombra.

A sombra havia roubado a pessoa gravemente ferida na maca, e desapareceu no piscar de um olho.

E agora mesmo, a sombra exalou um fedor de sangue conforme ela corria em direção a um bosque de árvores.

Era a figura de uma garota. Seu quimono rasgado flutuou no vento noturno, expondo sua pele, a qual era como neve fresca. Seu cabelo preto esvoaçante chicoteando ao redor, mas ela estranhamente não mostrou sinais de exaustação.

Obviamente, ela era Yaya, e ela estava carregando outra sombra em suas costas.

Com seu pé direito na faixa amarrada em volta da cintura dela, e seu joelho esquerdo no ombro de Yaya, Raishin estava literalmente sendo carregado por Yaya. Demonstrando um extraordinário senso de equilíbrio, Yaya continuou a correr sem soltar Raishin ao todo.

“Você está ok, Raishin?”

“Eu estou… bem.”

Sua testa estava coberta em suor frio. Cada vez que Yaya chutava o solo, o corpo de Raishin enrijecia-se.

Parecia como se ele estivesse em dor. Yaya reduziu sua velocidade por preocupação, mas—

“Não se preocupe sobre mim. Por agora, tudo que você precisa focar é na luta próxima.”

Ele estava obviamente excedendo-se… mas Yaya obedientemente seguiu suas ordens.

Se seu mestre disse que estava bem, então como uma autômato tudo que ela podia fazer era acreditar e apoiá-lo.

“Mais importante contudo, vamos continuar nossa conversa mais cedo. Algo que você me contará antes que nós avancemos em combate.”

Yaya acenou. Ela contou-lhe o que Sigmund havia contado-a mais cedo essa tarde.

“Charlotte está procurando por sua família dispersada.”

“Dispersada? Ela não é alguma lady respeitável de uma casa nobre?”

“É verdade que a casa de nobres Belew foi uma eminente família no Império Britânico.”

Raishin silenciosamente apressou-a a continuar. Enquanto arrancava-se através do bosque de árvores,

“Conde Belew— O pai de Charlotte era conhecido como um ávido colecionador de autômatos. Haviam numerosos autômatos em sua casa, e todos davam-se bem, então todos eles passaram seus dias como uma família verdadeira, autômatos incluídos. Mas…”

Um dia, um garoto de posição social extremamente alta veio para visitar como um convidado.

O cão autômato de Charl acabou machucando o garoto.

O conde recebeu uma reprimenda extremamente severa da família real. Seu título de conde foi despojado dele, e suas terras foram confiscadas. Um grande número de autômatos os quais eram parte de sua família acabaram sendo desmantelados.

“… Hmph, essa criança problemática. A qual família esse fedelho pertence?”

“Eu não sei. Tudo que Sigmund diria era que ele era de uma posição social extremamente alta.”

Com suas posses congeladas, a família caiu em pobreza. O antigo conde não pôde encontrar nenhum trabalho no pais, então ele foi forçado a mover-se para a França para trabalhar como um marionetista tudo sozinho por si próprio.

Porém, as coisas não pareceram ir bem para ele. Pouco tempo depois, contato com o antigo conde foi perdido.

Enquanto Charl estava fora em colégio interno, os paradeiros de sua irmã e mãe foram perdidos para ela também.

Enfim, ela ficou sem dinheiro para as despesas de seu colégio, e foi expulsa do colégio interno.

Entretanto, ela correu para boa fortuna… tipo de. O nome Belew era famoso para Machinart. A Academia Real de Machinart, Walpurgis era uma instituição que colocava mais peso em potencial do que em boato. Mesmo a filha de um criminoso era bem-vinda aqui. Com um empréstimo estudantil, ela foi capaz de se matricular na academia.

Desde então, Charl começou a trabalhar em direção a seu sonho.

“Entendo. Então o motivo que ela odeia Cannibal Candy tanto é porque ela não pensa sobre autômatos como meras marionetes…”

Também, o pecado que ela havia falado sobre mais cedo—

O motivo que sua família havia sido quebrada era por causa de seu próprio autômato.

Tendo ouvido a explicação de Yaya, Raishin acenou, profundamente comovido.

“Então, o sonho de Charl é—”

“Sim. Ela deseja reviver a casa Belew. Ela já foi capaz de repagar seu empréstimo estudantil, então tudo que lhe resta é comprar de volta o coração de sua família.”

Tratando o assunto como um de grande importância, Yaya suavemente continuou.

“De modo que ela possa viver junto com todos mais uma vez.”

“… Bem, isso é uma merda completa.”

Raishin coçou sua cabeça e estalou sua língua em irritação.

“Para viver junto com sua família— ela deseja ficar no topo da Festa Noturna por isso? Ela deseja chutar de lado todos os outros marionetistas e tomar o trono de Sábio por esse motivo? Se ela está séria, então ela é uma idiota maior que eu.”

Raishin cuspiu, mas contrário a suas palavras, a mão que estava apertando-se no ombro de Yaya estava estranhamente queimando.

Yaya entendeu muito bem porquê.

Raishin havia chegado perto de esmagar o sonho sincero de Charl com suas próprias mãos.

Por causa disso, ele desejava proteger a ela e seu sonho, quer ele estivesse certo ou errado.

Por causa disso, Yaya também pediu que Raishin usasse-a como sua ferramenta para assim fazê-lo.

Yaya sentiu seu sangue ferver conforme ela correu com toda sua força, cortando através do vento noturno.


(2)

As costas da pessoa que havia defendido Charl estava coberta em sangue.

Ele ainda estava no meio do tratamento. Por baixo de sua roupa rasgada, sua pele nua estava coberta em faixas de ataduras. Essas ditas ataduras estavam rasgadas nos lugares, tornando-as absolutamente inúteis. Nesse estado contudo, as ataduras não caíram dele porque elas estavam grudadas pelo sangue meio seco.

Ele estava cambaleando em seus pés.

Era claro que ele não havia sangue suficiente em seu sistema. Mesmo assim, Raishin havia protegido Charl.

Sua visão ficou embaçada e ela cobriu sua boca com suas mãos.

“Me desculpe Raishin… sinto muito…”

“Eu disse para você não se desculpar. Não combina com você, assustadora garota dragão.”

“Mas…! Por minha causa… você acabou machucando-se tão gravemente…!”

“Você está errada.”

Em uma forte, voz afiada, como se ele definitivamente não quisesse admitir, Raishin redondamente negou.

“Você é aquela quem está gravemente machucada.”

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Uma raiva fria, como uma chama queimando silenciosamente, derivou sobre as costas de Raishin.

Sua raiva e sua intensidade envolveram o coração de Charl, o qual havia sido fatiado e pisado.

Desde então levemente, a dor aliviou um pouco.

Abraçando-se no ferido Sigmund, ela levantou seu rosto.

“… Você não entende a situação aqui?”

Em frente a eles, Felix estava olhando para Raishin e Yaya com uma expressão perplexa em seu rosto.

“Ouça-me cuidadosamente, Raishin. A verdadeira identidade de Cannibal Candy é Charl.

Como o presidente do comitê disciplinar, eu tenho uma obrigação de capturá-la e trazê-la para—”

“Heh. Essa é uma performance bastante piolhenta; até o cenário é de terceira classe.”

O rosto de Felix contorceu-se.

Enquanto olhava para Felix, Raishin suprimiu qualquer emoção em sua voz conforme ele falou.

“Não importa quantos muitos inimigos ela tem— mesmo se diga, que havia dez deles, ela não mataria um único.”

Ele pensou de volta ao dia quando ele havia encontrado ela pela primeira vez.

No rescaldo daquela batalha, era claro que Charl não havia matado um único autômato.

“O Luster Cannon é um ataque com um grande alcance que é extremamente difícil para controlar. O poder por trás dele também não é algo meia-boca. Com isso em mente levava considerável habilidade para não matar alguém, mesmo embora houvessem muitos deles pegos na explosão. O inimigo havia acabado de realizar um covarde ataque furtivo nela— Ninguém teria nenhumas objeções ou queixas se ela matasse-os ali mesmo no decurso de virar as mesas.”

Por fim, Raishin declarou alto.

“Mesmo embora ela própria estivesse em perigo, ela ainda estava preocupada sobre a vida de seus inimigos— não há nenhuma forma que alguém como essa possa ser Cannibal Candy.”

Nesse momento, o coração de Charl foi preenchido com imenso calor, como se o sol estivesse brilhando diretamente nele.

Ela sempre pensou que ela estava completamente só.

Haviam apenas inimigos em torno dela. Coisas como amizade e confiança eram conceitos que ela estava destinada a não ter.

Porém—

Mesmo agora havia alguém a quem a entendia e acreditava nela.

Felix desapontadamente olhou para Raishin, antes de começar a rir.

Sua voz despreocupada havia uma insinuação de provocação nela conforme ele perguntou para Raishin.

“Nesse caso, o que você planeja em fazer?”

“Obviamente, vou derrotá-lo e colocar um fim ao alvoroço de Cannibal Candy.”

Próxima a Raishin, Yaya preparou-se a si mesma, baixando sua postura.

Havia um afiado brilho nos olhos de Felix.

“… Você deseja de ir contra mim?”

“É. Ambos você e Lisette, a qual está parada próxima a você.”

Charl não podia compreender o que Raishin havia acabado de dizer.

Timidamente, ela perguntou a Raishin,

“Você acabou de dizer Lisette…?”

“É exatamente como eu disse. Essa pessoa bem ali esteve servindo como a assistente do presidente até ainda agora.”

“Mas ela usou uma arte mágica… então ela é uma autômato, você sabe?”

“Sente e assista quietamente. Eu esmagarei esse elmo feio e exporei seu rosto para você ver.”

Felix bufou.

“Esse é um vanglorio em tanto aí, Raishin. Se você acha que você realmente pode fazêlo, apenas tente, eu desafio v—”

“Suimei Shijuuhachishou.”

Ele ouviu Yaya reconhecer o comando de longe na frente dele.

Para os olhos de Charl, pareceu como se Yaya havia tornado-se invisível. Demorou um tempo para ela notar que era apenas uma pós-imagem deixada em sua retina.

Ela era como um rápido vendaval. Com um salto, ela aproximou-se no autômato inimigo e atacou.

Contudo, o inimigo não era desleixado também. A Valquíria balançou sua espada, interceptando Yaya.

A troca tomou lugar em um instante. Yaya usou uma mão nua para pegar a espada, antes de estocar a outra afiadamente na autômato.

A Valquíria sacudiu seu pescoço para longe para evitar o golpe, mas as pontas dos dedos de Yaya escoriou seu elmo. A porção da máscara desintegrou-se como se houvesse sido arrancada.

Yaya tomou um enorme salto para trás, cambalhotando conforme ela pousou. Conforme seu pé tocou o chão, a máscara da Valquíria caiu no piso, revelando seu rosto para todos verem.

Era um rosto insociável sem emoções.

Ele era inconfundível— esse era o rosto de Lisette Norden.

Os olhos de Charl alargaram-se. Ela tentou dizer algo, mas suas palavras falharam-na e ela permaneceu muda.

“Acalme-se, Charl…”

Sigmund sussurrou calmamente para uma Charl em pânico.

“O rosto de uma marionete pode ser facilmente alterado a vontade… Lisette Norden era definitivamente uma humana até um certo ponto no tempo… muito provavelmente ela foi assassinada e ele substituiu-a com seu autômato…”

Era fácil para fazer um rosto de autômato parecer o de um humano. Tecnologia atual e técnicas possibilitavam a criação de juntas e a sensação de pele que assemelhava-se de perto a uma pessoa normal.

Felix havia modificado seu autômato, e havia feito-a tomar o lugar de Lisette Norden na escola.

Ele havia enganado todo mundo. O comitê disciplinar, a mestra recepcionista, os professores. Também, ele havia enganado Charl.

Enquanto sentia tudo que ela havia acreditado desfazendo-se uma após a outra, Charl começou a tremer conforme sua consternação crescia.

Ela não sabia no que acreditar mais.

Na outra mão, Raishin era a figura da calma conforme ele falou levemente, naturalidade em seu tom.

“Sua máscara metálica está bem, mas eu acho que você parece mais bonita deste jeito. Qual o seu verdadeiro nome?”

“Não seja estúpido, Raishin. Eu não tenho razão para contá-lo tal coisa.”

“Não intrometa-se, Felix. Eu estou falando com ela, não você.”

Felix caiu em silêncio. Seu orgulho havia sido machucado, e seu rosto bonito estava distorcido em raiva.

Era sua primeira vez vendo-o fazer essa expressão. Pela primeira vez em sua vida, Charl experimentou a dor aguda que a desilusão trazia consigo.

Lisette parecia como se estivesse pensando sobre isso, antes de contar-lhe “Eliza”.

“Ok, Eliza. Deixe-me perguntá-la isso. Você não recuará agora?”

“—”

“Uma ferramenta não pode escolher seu mestre. Em outras palavras, você não cometeu pecado. Eu não a culparei por matar todas as pessoas que você matou até agora. Então, recue agora.”

Lisette—Eliza— caiu ainda mais em reflexão, antes de falar.

“Por favor fale dormindo apenas quando você estiver adormecido, sua larva.”

“… É essa sua vontade própria?”

“Parece que você entendeu algo errado.”

Uma fração de segundo depois, a fachada sem emoção de Eliza desfarelou-se.

Um sorriso perverso que parecia alcançar suas orelhas causticou-se em seu rosto.

Sua violenta risada enviou um calafrio na espinha de Charl conforme Eliza falou.

“Você odeia comer?”

“… É um alívio ouvir você dizer isso.”

A presença de Raishin mudou.

A raiva que estava queimando dentro dele— era agora uma frígida intenção assassina.

Ele segurou sua mão direita com sua esquerda escorando-a para cima. Soltando energia mágica, Raishin gritou.

“Kouen Sanjuurokushou!”

“Roger!”

Yaya moveu-se como uma bala acelerando. A enorme energia mágica que Raishin soltou entrou em suas costas, empurrando-a adiante em uma velocidade explosiva.

Incontáveis lanças de água saudaram Yaya conforme ela lançou-se adiante.

As lanças foram disparadas em rápida sucessão como uma metralhadora, mas Yaya não parou. Despreocupada pela chuva de lanças caindo nela, ela carregou-se adiante como uma bola de fogo.

Da posição de Charl, ela não podia ver as coisas claramente, mas parecia como se as lanças não tivessem efeito em Yaya. A torrente de água a qual era forte o suficiente para penetrar a armadura de Sigmund era incapaz de perfurar através da pele de Yaya.

Yaya aproximou-se de Eliza em um instante. Esquivando de sua espada, Yaya ajustou sua trajetória por noventa graus, pulando para frente. Tirando suas coxas extremamente brancas para dentro, ela enrolou suas pernas.

Então com toda sua força, ela trouxe seus pés para baixo.

O ataque de Yaya golpeou a cabeça de Eliza infalivelmente.

Nesse momento, o som de um respingo embotado alcançou as orelhas de Charl.

Seus olhos não traíram o que suas orelhas haviam ouvido. Um grande volume de água respingou para cima e para fora conforme as pernas de Yaya atravessaram sua cabeça.

O corpo de Eliza transformou-se em gotículas de água e foi espalhado sobre todo o lugar.

Embora obviamente, esse não foi o fim. As gotículas começaram a coalescer, formando uma poça de água. A poça de água ergueu-se para assumir a força de um autômato— tornando-se Eliza novamente.

(Água…?)

Eliza não era apenas capaz de controlar água, seu corpo podia virar em um estado líquido.

Isso era extremamente similar a algo que Charl já havia testemunhado em primeira mão há pouco em outro dia, dentro da academia. Aquela quem usou essa arte mágica era a marionete que havia sido devorada por Cannibal Candy.

Seu nome era Ondina. A arte mágica que o autômato estava equipado com era exatamente a mesma que da Eliza.

Podia ser…? Cannibal Candy era capaz de usar as artes mágicas das marionetes que ele havia devorado?

“Eu vejo que seu autômato baseia-se em pura força bruta. Embora infelizmente para você, Eliza não pode ser derrotada através de socos e chutes.”

Enquanto ria, Felix provocou Raishin.

“Eu já vi como você luta, e é absurdamente simplista. Você grita o ataque que você está prestes a usar, e você fixa o inimigo. Esse vulgar, barbárico e primitivo estilo. Embora para compensar por essa fraqueza, você surge com um plano de batalha. Através de atacar em combinação com seu autômato, você pode chegar com táticas complicadas… Contudo—”

Felix balançou sua mão. Em resposta, Eliza atacou.

Ela disparou quatro lanças de água em sucessão. Todas elas estavam miradas em Raishin em vez de Yaya.

Lançando-se planamente ao chão, torcendo-se para fora do caminho e pulando para trás, Raishin esquivou as três primeiras.

Ele foi incapaz de esquivar da quarta, e cortou seu flanco. Raishin afundou-se em seus joelhos em dor, pressionando a mão para parar o sangue de fluir para fora.

“Veja, seus movimentos são tão lentos. Considerando o estado em que você está, é inútil para você lutar desse jeito.”

“Raishin!”

Yaya afobadamente apressou-se até Raishin. Raishin parou-a de assim fazê-lo,

“Não se distraia. Kouen Nijuuyonshou!”

Ele canalizou energia mágica nela mais uma vez. Yaya havia uma expressão de dor em seu rosto, mas obedientemente moveu-se para atacar.

Aproximando-se de Eliza novamente, Yaya socou, chutou, e golpeou-a.

Era uma feroz investida. Água estava espalhada sobre todo o lugar, formando uma neblina. Porém, os ataques de Yaya pareceram ser sem sentido. As gotículas de água juntaram-se quase que imediatamente, reformando a forma de Eliza.

“Você parece não entender.”

Felix zombou, soltando uma torrente de água mirada a Raishin.

Embora dessa vez, seu ataque foi lido. Yaya rapidamente bloqueou a trajetória do disparo, esmagando a lança de água.

“Eu não deixarei você pôr uma mão em Raishin.”

Felix estalou sua língua. Sendo tão esperto quanto ele era, esse disparo disse-lhe tudo que ele precisava de saber.

Esse ataque não tinha mais nenhum uso.

Uma lança de água tinha uma trajetória direta. Tão longo quanto Yaya ficasse no caminho, seria difícil de acertar Raishin. A velocidade de Yaya era vários níveis maior que a de Eliza, e ela era tão dura quanto aço.

Esse era um impasse. Ambos os lados não possuíam um finalizador decisivo, fazendo-a uma situação desagradável de se estar.

Embora surpreendentemente, Felix também parecia odiar o fato que eles estavam em um empate.

“Bem então, que tal isso?”

Preparando-se para um novo ataque, Yaya abraçou-se, mas Raishin foi inesperadamente puxado pelo seu pé.

Raishin de repente encontrou-se suspendido de cabeça para baixo.

Ainda de cabeça para baixo, Raishin foi forçadamente puxado ao ar.

Uma luz branca azulada de algo—uma corrente estava amarrando seus pés juntos. Como um gigante laço, Raishin foi balançado no ar e enviado voando em um magnífico pinheiro.

““Raishin!””

Ambas Charl e Yaya gritaram.

Colidindo com o tronco, ele cuspiu glóbulos de sangue.


(3)

Alguém estava parado no telhado do auditório central.

Como se ele estivesse assenhoreando sobre o lugar, um homem com uma máscara prateada estava olhando para baixo em direção ao chão.

Era a pessoa mais próxima do Trono do Sábio, Magnus. Circundando-o estavam suas donzelas parecidas com flores. Vagando em volta sem rumo enquanto contavam as estrelas no céu, elas estavam apreciando a noite.

De repente, os sorrisos desapareceram de todos os seus rostos.

Virando para encararem a mesma direção, suas orelhas empertigaram-se, fazendo-as parecem como gatos que haviam acabado de sentir um distúrbio.

Conforme elas focaram seus olhares, alguém pousou levemente no terraço.

“Observando, nós estamos? Eu suponho que você está em uma posição para assim fazêlo.”

Era uma dama alta em um jaleco branco— Kimberly.

“Bem, eu suponho que eu também estou em uma posição para fazê-lo.”

Ela tinha um sorriso como o de um felino em seu rosto. Ela não estava intimidada, mesmo com a notória intenção hostil das donzelas direcionada a ela.

Em primeiro lugar, de onde ela havia aparecido? Estava ela voando por cima no céu antes de pousar…?

Não pagando atenção as donzelas em alto alerta, Kimberly perambulou em volta do terraço, tentando encontrar um ponto conveniente para de onde observar. Tendo encontrado algum lugar o qual a satisfez, ela estacionou-se em frente a torre de água, alcançando em seu peito para recuperar seus óculos.

A batalha estava desdobrando-se no meio do bosque de árvores. A visibilidade era ruim, uma vez que estava tão escuro. Bastante francamente, colocando um par de óculos não deveria ser capaz de ajudar a visibilidade, mas…

“Hm, eu conto cinco, seis… não, oito membros do comitê disciplinar. Eles parecem como se estivessem cercando a área, mas há muita distância entre eles e a luta. Eles não serão capazes de averiguar a situação desse jeito.”

Ela precisamente analisou a situação. A surpresa em sua voz era óbvia para todos verem.

“Penúltimo está a beira de morrer. Esse confronto, para não mencionar sua força física— oh?”

Houve um brilho de luz branca azulada de dentro. Um circuito mágico havia sido ativado.

“Felix foi aquele quem se moveu primeiro. Considerando que ele os tinha cercados, não seria em seu melhor interesse prolongar a luta?”

Enquanto dizia isso, ela virou-se para olhar a Magnus. O tom de Kimberly era como se ela estivesse perguntando a um estudante por sua opinião.

Contudo, Magnus esquivou seu olhar, virando-se em volta em seus calcanhares e começou a caminhar para longe.

“Ei, você não está fugindo agora, você está? Pelo menos fique até o fim.”

“Não há necessidade. A luta já está decidida.”

“—Que?”

Kimberly virou-se em volta para olhar ao bosque. Os sons de batalha ainda estavam ecoando dentro. Contrário as palavras de Magnus, a luta parecia como se ela estivesse aumentando em intensidade. — Como isso era decisivo?

Magnus murmurou algo como se ele estivesse falando para si.

“Uma vez que você descobriu o truque, o resto é brincadeira de criança.”

“… O que se supõe que isso signifique?”

“Muito de uma pista já foi dada a ele.”

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Os olhos de Kimberly estreitaram-se afiadamente. Seu olhar era como se pudesse ver através do coração das pessoas.

Magnus caminhou para longe, antes de repente chegar a uma parada.

“Eu lhe darei um aviso.”

Virando somente sua cabeça em volta, havia um fantasmagórico brilho vermelho vindo de dentro de sua máscara.

“Se você lhe der uma pista mais do que óbvia, eu estou certo que outras pessoas irão descobri-la no futuro não tão distante. Isso certamente poderá ser um obstáculo para sua investigação, professora Kimberly.”

“… Eu manterei isso em mente.”

Com um “com licença então.” Magnus partiu. As damas todas levantaram-se e seguiram atrás dele. Uma delas esticou sua língua para Kimberly, causando-a a sorrir ironicamente.

“O mesmo vale para você, Magnus.”

Ela virou seu olho de volta para a batalha. A batalha estava prestes a alcançar seu clímax decisivo.


(4)

Vendo Raishin vomitar sangue, Charl ficou de pé como uma bala.

Essa não era a hora para ela estar no chão. Abraçando-se a Sigmund, ela correu para o pé da árvore.

Raishin caiu de uma altura de cerca de dois andares. Virando-se em pleno ar, ele pousou em seus pés.

“… Sua idiota. Não chegue tão perto de mim.”

Charl estava assombrada. Quando Raishin havia dito que ele sabia artes marciais, ele não estava brincando. Um ataque como esse podia ter matado uma pessoa normal, mas ele estava bem—ao menos na superfície. Mesmo com seu corpo todo espancado, ele foi capaz de recuperar seu equilíbrio e reduzir o impacto do ataque.

Enquanto um senso de alívio tomou conta de Charl, houve outro grito de trás.

Virando-se em volta, ela viu que era Yaya a qual estava agora suspensa em pleno ar.

De novo, havia algum tipo de corrente enrolada em volta de suas pernas. Muito provavelmente ela era formada de energia mágica; algum tipo de arte mágica que produzia uma corrente. Charl também havia visto isso antes, era usada pelo usuário de estrela-d'alva.

Era inacreditável. Cannibal Candy pode usar uma infinidade de artes mágicas!

Eliza balançou sua espada, enviando uma indefesa Yaya colidindo ao chão.

Era um forte golpe. O corpo de Yaya quicou no piso de pedra como se ela fosse feita de borracha.

As costas de Yaya foi cortada em lugares conforme sangue fresco começou a fluir para fora. Os machucados não eram frescos; O golpe de Eliza havia reaberto os anteriores. Até agora ela não havia sofrido nenhuns ferimentos, mas seu poder defensivo como aço falhou de ativar dessa vez.

Charl entendeu duas coisas então. Primeiro, a resiliência de Yaya não era devido a dureza de seu corpo, mas era alimentada por uma arte mágica. A segunda coisa era que Yaya não podia ativar essa arte mágica se Raishin estivesse em má condição.

Felix também pareceu perceber tanto quanto. Com um sorriso sádico em seu rosto, ele comandou Eliza novamente. Yaya foi erguida no ar mais uma vez.

Os membros de Yaya debateram-se em volta selvagemente conforme ela tentou remover a corrente— mas era inútil.

Porque ela estava içada no ar, ela não havia apoio firme.

Medo frio passou sobre Charl.

Era como se ela estivesse congelando. Abraçando-se firmemente em Sigmund, ela tremeu com desespero.

Mesmo se ela quisesse ajudar Yaya, Sigmund estava gravemente ferido… Ademais, em seu estado atual, ajudar poderia ser fatal. Porque ela estava fora de si, ela não seria capaz de focar nenhuma energia mágica ao todo.

Mais importante entretanto, era o fato que o poder do inimigo era excessivamente forte.

Usar múltiplas artes mágicas ia contra as leis normais de Machinart. Após uma centena de anos ou mais, o segredo por trás dessa boneca antiga criada durante a Renascença estava finalmente sendo revelado.

Seu estado líquido ajudou a difundir a força hercúlea de Yaya, e sua corrente anulou a velocidade de Yaya.

Não apenas ela possuía essas duas artes mágicas, mas Cannibal Candy havia comido seu caminho através de um monte de outros autômatos.

O número de vítimas conhecidas era ao menos vinte. Se todas as suas artes mágicas eram agora de Eliza, então ela seria mais que um páreo para um exército.

Nesse ritmo, eles seriam torturados até a morte!

“Não se preocupe. Eu terminarei essa luta logo.”

Trazendo sua cabeça para cima em surpresa, ela viu que Raishin havia erguido-se a seus pés. Sangue estava derramando de seu corpo e ele estava coberto em machucados, mas havia um brilho afiado em seu olho. Ele ainda não havia perdido sua vontade de lutar.

“Apenas pare já! Você não tem que se preocupar comigo por mais tempo!”

Antes que ela percebesse, Charl estava gritando com ele.

Raishin virou-se para olhar para ela com um olhar ‘sobre o que você está falando?’ em seu rosto. Charl estava metade soluçante conforme ela disse,

“Neste ritmo, você terminará morrendo…!”

Contudo, sua desesperada súplica não alcançou Raishin.

Raishin apenas bufou, e começou a caminhar em direção a Felix.

“Pare! Você deseja participar na Festa Noturna, não é!? Se você for etiquetado como meu cúmplice, o comitê executivo—”

“Você não é Cannibal Candy. Não há nada errado em ajudar você.”

“Mas você não pode provar isto! Eles certamente marcarão você como uma parte relacionada! E não apenas a academia, esse pais, a associação mágica, todos… o mundo se tornará seu inimigo.”

“Pare de fazer tal alarido. Se essa hora chegar,”

Raishin pausou.

“Eu apenas lutarei contra o mundo se eu tiver que.”

Raishin não estava excitado; sua postura era aberta e descontraída.

Contudo, ela podia ver que havia uma inabalável decisão dentro dele.

Como podia ele ter essa atitude— ele estava na realidade rindo?

“Por que…? Por que você está indo tão longe por minha causa…?”

Raishin não respondeu. Ele apenas caminhou até Felix.

Mesmo embora Yaya ainda estivesse amarrada, Raishin ainda caminhou em direção a ele sem nenhuma hesitação.

Felix acenou para si, impressionado.

“Você ainda está tentando? Entendo, você realmente é a pessoa que eu esperei que você fosse.”

Com ambos os braços espalhados, Felix acaloradamente falou com uma expressão séria em seu rosto.

“Junte-se a mim, Raishin. Torne-se meu aliado e lute ao meu lado na Festa Noturna, e eu deixarei passar esse incidente. Eu até garantirei a segurança de Charl. E é claro, exatamente como eu prometi a você desde o início, eu cuidarei para que você obtenha uma qualificação de entrada—”

“Eu recuso.”

“… Você realmente gosta de fazer decisões rápidas, não? Embora dessa vez, eu sugiro que você calmamente pense nisso por uma vez; o que você diz?”

“Eu não seria seu subordinado mesmo se minha mãe me pedisse para sê-lo.”

“… Você deve honrar seus parentes, você sabe.”

“Infelizmente, eles já estão seis pés abaixo.”

“Minhas condolências. Embora ainda não é muito tarde para você honrá-los—”

Um sorriso extremamente largo em seu rosto, Felix falou.

“—no inferno. Adeus, Raishin— Dê a sua mãe minhas saudações!”

Eliza levantou sua espada. A corrente seguiu seu movimento, erguendo Yaya alto no ar. O sangue de Yaya espalhou-se nos arredores, um pouco dele aterrissando no rosto de Eliza. Ignorando-o, Eliza balançou sua espada para baixo.

Seu alvo era Raishin. Ela estava planejando de usar Yaya como uma arma para esmagar Raishin.

“—!?”

Em um instante, a figura de Yaya de repente desapareceu.

Não havia nenhuma pós-imagem gerada que Charl podia ver. Uma fração de segundo depois, Yaya havia reaparecido justamente em frente de Eliza, fazendo Charl pensar que Raishin havia acabado de manejar acerca de algo.

Demonstrando agilidade surpreendente, Raishin contornou enquanto controlava Yaya ao mesmo tempo. Conforme Yaya bateu de volta no chão, o momento que seu pé tocou a terra, ela usou a força de sua perna para romper a corrente.

“Tenken Shijuuhachishou.”

Energia mágica colossal derramou-se adiante da mão de Raishin. Conforme o corpo de Yaya inchou-se com energia mágica, ela desencadeou um violento chute em Eliza. Uma enorme quantidade de massa podia ser sentida dentro de sua perna esbelta, emitindo uma tremenda pressão opressiva.

Eliza puxou de volta a corrente de energia mágica, enrolando a si em camadas dela como um escudo contra o chute.

Era uma barreira de correntes. Contudo, o chute de Yaya tinha um monte de peso atrás dele. Facilmente cortando através da corrente como se ela fosse feita de teias de aranha, ela rompeu através das camadas e alcançou o corpo de Eliza.

Eliza esquivou-se antes que o impacto total do chute pudesse acertá-la. Contudo, ela o fez pela pele de seus dentes. Havia uma rachadura em sua armadura, e uma porção dela caiu.

Charl estava atordoada pelo que havia acabado de transpirar.

Por que Felix não havia feito uso do estado líquido de Eliza?

“Bem, se você pensar sobre, é bastante óbvio.”

Raishin quietamente respondeu às dúvidas de Charl.

“A Teoria da Dissonância de Atividade Mágica jamais foi refutada.”

Muitos praticantes vinham tentando resolver o enigma de usar diferentes tipos de artes mágicas simultaneamente, mas desde que nunca tinha sido conseguido, a teoria da dissonância foi aceita como uma base fundamental para Machinart.

“Pegando o circuito mágico do inimigo e fazendo-o seu próprio— Se tal circuito conveniente existia naquela época, então ele estaria em produção em massa hoje para produzir armas anormalmente fortes. Porém, isso não é verdade. Em outras palavras, ele não é tão conveniente quanto ele parece à primeira vista ser.”

Obviamente, deve haver algum tipo de demérito ao seu uso.

Talvez as condições para usá-lo sejam extremamente duras. Ou ele havia um alto custo proibitivo para fabricação. Ou talvez você tenha de desistir de algo em troca…?

“Eu tenho de soletrá-lo para você? Ele não é custo efetivo.”

Raishin contou-lhe, e Charl finalmente compreendeu a falha de Eliza.

“Colocando-o simplesmente, os circuitos mágicos são descartáveis. Uma vez que eles foram descartados eles não podem ser recarregados. Também há um limite para o quanto você pode usar um circuito. Esse é o porquê um grande número de circuitos têm de serem acumulados.”

… Isso fazia sentido. Se os circuitos pudessem ser recarregados a vontade sem nenhum limite no número de vezes que eles podiam ser usados, então não haveria necessidade de reservar uma quantidade excessiva de circuitos. Também não haveria necessidade de arriscar ser pego saindo de fininho toda noite para cometer os assassinatos.

Raishin havia desprezo em sua voz conforme ele continuou.

“Em preparação para a Festa Noturna, você comeu tantos quantos você pôde. Então você estava prestes a deslocar a culpa na Charl, e apagá-la como Cannibal Candy— isso é desprezível, Felix.”

Felix foi rendido mudo por um momento.

Depois disso, ele riu levemente conforme ele balançou sua cabeça.

“… Bem feito, Raishin. Sua introspecção é notável, para ser capaz de discernir os traços únicos de seus oponentes em um intervalo tão curto. E seus poderes de percepção são afiados também. Seu talento é surpreendente, mas agora eu temo que eu tenha que retirar minha oferta anterior. — Você é muito perigoso para ser deixado vivo.”

Um brilho cruel reluziu em seus olhos.

Sua testa começou a emitir faíscas de energia mágica. Não havia tanto orgulho em sua expressão como havia anteriormente. Seus instintos estão lhe dizendo que este era um oponente que ele precisava de esmagar usando toda a sua força.

A batalha começou mais uma vez.

Ambas Eliza e Yaya chutaram o chão ao mesmo tempo.

Colidindo em alta velocidade, a luta moveu-se em combate corpo a corpo.

Eliza usou sua espada para bloquear o feroz chute de Yaya. Nesse instante, uma parede apareceu em frente de Eliza. Emitindo um brilho metálico, ela pareceu como uma arte mágica especializada usada para defesa. A visão de Yaya estava agora bloqueada, seu ataque de encontro defendido, e por um curto momento, seus movimentos foram parados também.

Felix não hesitou. Ele descartou a arte mágica mesmo embora ela houvesse sido usada uma vez apenas, carregando uma nova.

Bloqueada pela parede, Yaya pousou, apenas para descobrir que o chão debaixo dela havia tornado-se tão suave quanto algodão.

Suas botas afundaram-se. Pareceu como se ele houvesse usado uma arte mágica armadilha. Seu pé grudou, Yaya perdeu seu equilíbrio.

Esmagando a parede ereta, um poderoso raio de luz disparou-se da boca de Eliza.

Ele era deslumbrantemente brilhante. Raishin e Charl foram temporariamente cegados.

Depois que suas visões haviam retornado—

O corpo de Yaya estava içado no ar, exatamente como ela estava mais cedo.

Só que dessa vez, a coisa que estava amarrando Yaya era uma névoa branca.

Um vapor que pareceu como se ele houvesse sido corado de branco estava enrolado em volta de Yaya, suspendendo-a no meio do ar.

Eliza estava em lugar nenhum para ser encontrada. Se ele tivesse que adivinhar, essa névoa branca— era provavelmente a própria Eliza!

Yaya esforçou-se e debateu-se em redor, mas o aperto nela não afrouxou de todo.

Seu quimono começou a derreter, e sua bela pele estava virando vermelha da inflamação.

Ela estava sendo corroída. Não era nenhuma névoa comum. Parecia como algum tipo de elixir vaporizado que agia como um solvente universal.

Era uma forma fluída que possuía poder de ataque. Atingindo direto no ponto fraco de Yaya, essa arte mágica era ambas ofensa e defesa ao mesmo tempo.

Como algum tipo de programa de xadrez automatizado, Yaya estava lentamente sendo cercada.

O ataque em si pareceu ser doloroso, enquanto Yaya havia um olhar de angústia em seu rosto conforme ela retorcia seu corpo.

“As razões para minha vitória são incontáveis. No ponto no tempo quando nós começamos essa batalha, Liz tinha quarenta e sete tipos de artes mágicas sob seu controle. E você? Apenas uma. Não apenas isso, sua arte mágica é excessivamente primitiva.”

Felix pareceu seguro que a vitória era sua, deleitando-se extasiado nisso.

“Embora sua arte mágica, é magnífica. Você endurece o corpo de sua autômato para um grau extremo, de tal modo que nem fogo nem lâminas podem machucá-lo. Porém, no fim — é apenas outra forma de material para ser dissolvido.”

Esse era um ataque que funcionava destruindo coisas em um nível molecular.

A prova disso era que a pele de Yaya estava lentamente sendo comida.

“Essa é a White Mist. Originalmente, eu obtive esta para que então eu pudesse ir contra o Magnus, mas—”

Com um tom peçonhento e uma risada preenchida com má intenção,

“— em troca por sua perda eu tomarei sua arte mágica, Raishin. Por comer sua marionete.”

Yaya continuou a contorcer-se em agonia. Os cabelos no pescoço de Charl ficaram em pé.

Havia nada que ela pudesse fazer, exceto continuar a tremer…

“Yaya.”

Em uma voz cruelmente calma, Raishin silenciosamente chamou por Yaya.

“Chute a bunda dela.”

‘Sobre o que você está falando?’ pensou uma Charl surpresa, conforme Yaya puxou um braço para trás—

E socou a névoa branca com toda sua força.

Felix riu friamente. Um segundo depois, a expressão em seu rosto mudou totalmente.

Com um baque surdo, Eliza foi enviada voando.

Esmagando-se duramente no chão, ela ricocheteou-o. O arco no qual ela voou era bastante grande também. Claramente, ela não estava em um estado gasoso ou líquido. Ela estava mais densa, uma viscosidade coloidal[1] para sua forma. Em cima disso, sua aparência era como uma membrana que havia sido esticada fina, sem gotículas de água espalhando-se de seu corpo.

Charl, Felix, e Eliza, a qual havia sido acertada, não podiam acreditar em seus olhos.

“Ei, Eliza. Onde é que sua armadura foi?”

Ante as palavras de Raishin, Felix olhou para Eliza em choque branco.

Seu elmo e espada haviam desaparecido. Muito provavelmente, isso era porque eles também haviam sido convertidos em névoa quando ela transformou-se.

Em outras palavras, a armadura que estava nela havia sido reabsorvida em seu corpo agora.

Sendo tão brilhante quanto ele era, Felix imediatamente entendeu o que havia acontecido apenas a partir disso.

“Os… fluídos… de seu autômato…?!”

“Correto. O truque para isto era o sangue de Yaya.”

A resistência de Yaya era ridiculamente forte. Essa qualidade especial dela estendia-se para seu sangue também.

E Eliza esteve absorvendo esse sangue. A névoa era basicamente seu circuito interno. “Dois tipos diferente de arte mágica não podem residir no mesmo corpo— essa é a base fundamental de físicas maquinarias.”

Artes mágicas não podem funcionar em harmonia— duas artes mágicas interferirão uma com a outra, e causar a ambas delas a serem incapazes de produzir saída máxima.

Portanto, Eliza era agora incapaz de manter completamente sua forma fluída.

Charl olhou para as costas de Raishin em descrença.

O atual estado das coisas não era definitivamente coincidência. Isso era o que Raishin estava alvejando por todo esse tempo. Isso explicaria porque ele havia sido tão calmo do início ao final.

Nesse caso, pensando de volta para quando as feridas em Yaya tinham reaberto.

Esse momento quando ela havia sido esmagada ao chão e tinha tomado dano.

Eram todos aqueles, parte do plano também?

Charl sentiu um tremor descer suas costas.

“O circuito mágico da Yaya é simples. Eu posso não ter tanto talento como você, ou ser tão esperto quanto você… mas.”

Raishin impulsionou sua mão adiante.

“Minha parceira é a melhor autômato do mundo!”

Ele pôs toda a energia mágica que lhe havia sobrado. O corpo de Yaya começou a incandescer, brilhando com algum tipo de aurora[2].

Então ela investiu adiante.

Era como um clarão de um relâmpago. Yaya enviou ondas de choque conforme ela disparou como um foguete reto em direção ao peito do inimigo.

Os movimentos de Eliza eram vagarosos. Incapaz de regular seu corpo, ela descobriu que manter uma forma gasosa ou líquida estava além de seu controle. Felix foi pego em dois pensamentos sobre se ele deveria continuar controlando-a em seu atual estado inútil ou trocar seu circuito mágico por um novo, acabando paralisado com indecisão.

“Tenken Zesshou—”

Ao comando de Raishin, Yaya suavemente aproximou-se de Eliza, seu punho fazendo contato com seu corpo.

“Hakyaku Suigetsu!”

O som de uma explosão ressoou, enviando ondas ondulando através do corpo de Eliza.

Os músculos de Yaya, ou seu equivalente de músculos, explosivamente endureceram, e com a força de um morteiro por trás deles, aparafusou seu punho no corpo do inimigo. Com um tal impacto terrível, o corpo do inimigo explodiu.

A energia explosiva reverberou através do corpo de Eliza, causando a membrana a romper.

A névoa branca transformou-se em gotículas e espalhou-se em todas as direções. Por agora elas eram meramente gotículas de água, Eliza era incapaz de reuni-las ou reformar seu corpo. Caindo ao chão, ela foi embebida na terra.

Raishin pensou que ele estava alucinando, mas em seus últimos momentos, ele poderia ter jurado que ele viu um tênue sorriso em seu rosto.

Deixando escapar um enorme suspiro, ele lentamente virou-se em volta para encarar Felix.

“… Agora então.”

Como um falcão que avistou sua presa, Raishin centrou seu olhar em Felix. Felix estava claramente afobado, a expressão em pânico em seu rosto muito ao contrário dele.

“Q-que… você está planejando em fazer?”

Sua voz estava elevada e suas bochechas contorceram-se. Era inegável— isso era uma cara cheia de medo.

“Eu sou o herdeiro para a família Kingsfort. Qualquer violência em direção ao meu ser não será tolerada pela família real, você sabe?”

Raishin não reagiu a isso, mudamente aproximando-se de Felix.

“— Espere. Parece que você ainda não entende a situação em que você está. Se você fizer qualquer coisa para mim, a suspeita envolvendo Charl nunca será limpa. Você deve reconsiderar sua posição. Somente eu posso provar sua inocência agora. Tão longo quanto você tiver minha palavra—”

Raishin ainda estava impassível. Ele estava descaradamente ignorando Felix conforme ele continuou a caminhar em direção a ele.

“Espere. Segure-se… eu disse espere, não disse!”

Perdendo o controle de si, um meio enlouquecido Felix sacou uma arma.

Porém, mais rápido que ele podia sacar a arma, Raishin já havia fechado a distância entre eles. Chutando a arma para longe, Raishin agarrou-o pelo colarinho de seu pescoço, levantando-o corporalmente no ar.

Então, ele enterrou seu punho no rosto de Felix com toda a sua força.

Era um soco forte o suficiente para quebrar seu nariz. Felix foi atirado violentamente no ar, colidindo em uma grande árvore atrás dele antes de desabar em uma pilha no solo.

Parecia como se ele houvesse desmaiado.

Olhando para sua figura sobre afundada pela árvore, Raishin virou-se para Yaya com uma careta em seu rosto.

“… Me desculpe, Yaya.”

“Por que você está se desculpando?”

“Isso deve machucar. Você está sangrando… e essas feridas, eu deveria ter…”

“Yaya rapidamente irá recuperar-se de todas essas! A verdade é que Yaya não está machucada ao todo. Raishin é sempre aquele quem está se machucando… sempre desde aquela vez—”

Raishin interrompeu-a com um abraço, puxando-a próxima de seu peito.

“… Obrigado.”

Deixando-se ceder da Yaya temporariamente extática, ele virou-se em direção a Charl.

Ela estava espantada. Ela colocou mais força na mão segurando em Sigmund sem pensar.

Se Raishin percebeu que Sigmund tinha sido severamente ferido, então ele perceberia que ele poderia ser capaz e derrotá-la facilmente do jeito que ela estava agora.

Contudo, a primeira coisa que Raishin disse era—

“Me desculpe, Charl.”

“Eh…?”

Havia um cintilho travesso em seu olho conforme Raishin gargalhou.

“É porque eu deixei a grande T-Rex toda por si que você acabou machucando-se desse jeito também.”

Charl podia sentir sua própria expressão começar a desmoronar.

Sua tensão desapareceu quase em um instante, e calor inundou-a como um córrego.

Agora, ela sabia. Havia alguém que ela podia acreditar.

Alguém a quem lutaria e sangraria por seu bem.

Alguém a quem acreditou nela.

Seus pensamentos e emoções lançaram-se um após o outro, deixando-a tão sobrecarregada para falar.

Tudo que ela queria fazer no momento era abraçá-lo e chorar. Contudo quer ele sabia disso ou não, Raishin provocativamente falou.

“Vamos lá, levante-se, assustadora garota dragão. Suas pernas cederam?”

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“Qu… eu posso levantar muito bem, sua pessoa insolente! Eu posso levantar, mas…”

Ela não podia olhar diretamente à Raishin. Com olhos revirados,

“Você não pode… ao menos me dar uma mão?”

Com uma risada gentil, Raishin estendeu sua mão.

Olhando para sua mão, Charl hesitou por volta de dez segundos.

Ela estava banhada em sangue, coberta em feridas, grosseiras, e barbáricas, mas, mesmo assim, ela era uma mão quente com sua palma aberta para ela.

Finalmente, ela a alcançou com sua própria.

Firmemente agarrando em sua mão, Raishin puxou Charl a ficar de pé.

Referências e Notas de tradução[edit]

  1. Sistemas químicos onde um ou mais componentes apresentam apresentam pelo menos uma das dimensões dentro do intervalo de 1nm (nanometro) a 1µm (micrometro), exemplos do dia-a-dia incluem sabonetes, shampoos, creme dental, leite, sorvete entre muitos outros. Wikipédia
  2. Refere-se ao fenômeno da aurora polar ou boreal, onde são apresentadas diversas cores, não ao nascimento do Sol. Wikipédia

Epílogo – O Marionetista do Extremo Oriente (2)[edit]

“Raishin Akabane. Um passo à frente.”

A voz do diretor ressoou claramente através do monótono auditório.

Essa era sua primeira vez vendo o diretor de perto. Diferente da imagem de um homem velho decrépito que ele tinha em sua mente, o verdadeiro diretor era um homem grande robusto, com um elegante bigode.

“Em meu nome de Edward Rutherford, venho por este meio reconhecer sua candidatura para a posição de Sábio, e permito-o a participar da Noite de Walpurgis.”

Arranjada em uma bandeja de prata, uma luva resplandecente fora trazida até ele.

O bordado feito com linhas de ouro era lindo. Fora feita de seda de primeira linha, dando-a um brilho lustroso. Porque sua mão dominante estava engessada, Yaya recebeu-a em nome do Raishin.

Baixando sua voz, o diretor cochichou para Raishin um pouco afetuosamente.

“A partir de agora, você é um autêntico Gauntlet— um portador de luva. Mantenha um exemplo para os outros estudantes e torne-se um esplêndido marionetista.”

Foi uma cerimônia de premiação simples, e como tal ela terminou rapidamente sobre essa nota.

O diretor retirou-se, e o mesmo fizeram o número de professores presentes, deixando-o para trás no auditório.

Caminhando em direção ao corredor iluminado, Raishin caminhou em direção à entrada e ficou assustado.

Estava próximo do pôr do sol, ainda assim uma grande multidão estava reunida do lado de fora.

Eram todos estudantes. Estava parecendo como se eles estivessem esperando pelo Raishin aparecer. Havia alguns olhares malignos misturados em sua direção, mas a larga maioridade da expressão dos estudantes eram positivas. Um monte deles estavam vestidos como o Raishin, tendo colocado deliberadamente suas capas.

Levou um segundo antes que Raishin notasse que eles estavam todos em admiração a ele.

“… Por que isso de repente se tornou tão grandioso?”

“Porque o diretor providenciou para que fosse assim.”

Uma voz cortou repentinamente. Olhando ao redor, ele viu Kimberly sentando em uma das cadeiras na entrada.

“Você é como uma planária[1], você sabia disto? Você recém-fora licenciado ontem, e ainda —”

Ela riu sarcasticamente. Seus olhos percorreram sobre Raishin, de seu ombro para seu braço direito, para as muletas em sua mão esquerda, e, finalmente, para as ataduras amarradas em volta de seu pescoço.

“Considerando o quão espancado você está, estou surpresa que você até mesmo possa andar. Parece que você não sofreu ferimentos graves.”

“Bem, desta vez eles vão levar mais tempo para curarem.”

“É porque você está ficando velho?”

“Por algum motivo estranho parece que você está falando por experiência, professora. Então, o que dizer sobre o diretor?”

“O presidente do comitê disciplinário era o verdadeiro culpado por trás de todo este caso. Então há todo um turbilhão de desconfiança e suspeita focado na academia, ambos no interior e do exterior. Promovendo-o como o herói deste caso, ele está esperando que ele possa desviar um pouco da má imprensa.”

Se isso for verdade, então o diretor era uma raposa astuta.

Kimberly olhou para a luva de Raishin— as palavras gravadas sobre ela, para ser mais preciso, e sorriu.

“Isso combina com você. Agora você será oficialmente conhecido como Second Last (Penúltimo).”

“… Quem foi que aplicou-me para esse tal codinome de merda?”

“Por que, eu, é claro.”

Raishin calou sua boca. Kimberly continuou sorrindo para ele,

“Não seja esse rabugento. Graças ao meu testemunho ocular e análise de máquina, ambos vocês estão limpos de todas as suspeitas. Isso não faz de mim sua benfeitora?”

Raishin selou sua boca ainda mais. Ele notou que ele agora estava em débito de uma pessoa estranha, muito para o seu desânimo.

“Vá em frente, os espectadores estão esperando. Hora de ser a esposa do troféu— Digo, o bobo da corte, senhor herói.”

“Essa mudança na expressão era redundante.”

Raishin suspirou e estava prestes a sair, quando ele parou repentinamente.

“Eu tenho algo que gostaria de perguntar a você, professora Kimberly.”

“Vá adiante.”

“Você foi a professora encarregada do meu exame de entrada. Você de todas as pessoas sabia o quão mal meus acadêmicos são. Assim então, por que você não riu de todo quando eu perguntei como eu poderia tornar-me o Sábio?”

“Isso é simples. Eu costumava ser ruim nos meus estudos também.”

Raishin estava surpreso. A voz controlada de Kimberly havia uma sugestão de sentimento nela que usualmente não era presente.

“Pessoas ganham razões para estudar. Eu tenho certeza que você mesmo tem suas próprias razões para fazê-lo. É simples como isto.”

Ele não sabia o que dizer, então Raishin inclinou-se ligeiramente, e virou-se para sair pela porta.

Ao anoitecer, o som de aplausos encheu o ar.

Raishin afobou-se mais, o que era algo fora de caráter. Ele estava acostumado a ser menosprezado, mas ser admirado era algo que ele não era. De fato, ele teria preferido se ele estivesse na extremidade final de uma bronca.

Enquanto deliberava em como ele devia lidar com essa situação, os aplausos subitamente pararam, e o mar de pessoas repartiu-se.

Nem mesmo olhando para os acovardados estudantes, uma bela garota com cabelo loiro e um dragão no topo de seu chapéu— Charl estava rudemente fazendo seu caminho em direção a ele.

Em contraste com os estudantes em vestuário formal, ela estava vestindo seu uniforme normal.

Yaya entrou em alerta elevado, grudando próxima de Raishin.

Charl virou seu peito para longe, e menosprezou-o.

“Eu não posso acreditar que a Festa Noturna afundou-se a este ponto baixo. Para alguém como você tornar-se um Gauntlet, o mundo deve estar chegando a um fim.”

Ela tinha rancorosas palavras para ele. Após terminar sua sentença entretanto, ela começou a agir suspeitosamente, seu rosto tornando-se vermelho e seu olhar vagando aqui e ali. Após um momento de hesitação, ela abruptamente estendeu a sua mão direita.

Havia uma pequena caixa embrulhada com uma fita em sua palma.

“… O que é isso?”

“Você é um idiota? Obviamente é um presente de agradecimento. Longe como as coisas foram, não, digo, olhando para a corrente de eventos, teve a parte na qual você ajudoume. Por isso, de um ponto de vista objetivo, dar-lhe algo como isso é somente uma cortesia comum…”

Pegando a caixa, ele desfez a fita.

Abrindo-a, ele removeu o pingente prateado que estava dentro.

“Um amuleto protetor…? Eu não vejo nenhum feitiço, mas há runas inscritas nele.”

“É um amuleto defensivo que sobe seu poder defensivo. Vai bem com seu estilo de luta barbárico.”

“Pegue-o, Raishin. Charl pensou sobre o que dar para você tão duramente que ela quase teve uma febre.”

“Q-q-quieto, Sigmund! Eu irei te alimentar com farinha de rosca a partir de amanhã!”

Ela ficou vermelha até as pontas de suas orelhas. Cruzando seus braços em um acesso de raiva,

“Não há motivo ulterior por trás disso. É como aquele ditado no Japão, ‘Envie CO[2] para seu inimigo.’”

“Se Kenshin tivesse feito isso, Shingen teria morrido, ok? Isso é apenas um ataque de gás!”

Tendo dito isto contudo, não era um presente ruim. Ele sentiu que ele deveria agradecêla.

Tendo feito isso então, Charl virou sua cabeça para longe com um “Hmph!”

Ela então virou de volta para olhar para ele com um olhar severo.

“Eu espero que você entenda isso, mas quando nós nos encontrarmos na Festa Noturna —”

“Nós seremos inimigos, certo?”

“Está certo. Ambos Sigmund e eu iremos até você com tudo que nós tivermos.”

“Embora eu possa pegar leve com você.”

“Qu- Você- Como você pode falar tal coisa estúpida…?”

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“Yaya não irá se segurar.”

Yaya cortou enquanto sorria, mas o sorriso nem chegou a atingir seus olhos.

“Yaya não irá se segurar.”

Ela disse isto duas vezes. Deve ter sido importante para ela.

Mas ela estava certa. Ninguém podia dar ao luxo de se segurar, e a Festa Noturna não é um lugar onde pessoas podiam apenas rolar e morrer. Especialmente desde que ambos haviam metas que precisavam atingir a quaisquer custos.

É claro, isso era o mesmo para todos os outros participantes também. Todos eles têm sonhos para conquistar e razões para lutar.

Com elas em jogo, não havia escolha além de irem com tudo que eles tinham.

Raishin olhou para cima, encarando o céu o qual tornava-se pálido rapidamente.

Com isso, a cortina estava prestes a subir na Festa Noturna.

Referências e Notas de tradução[edit]

  1. Uma classe de vermes parasitas que comem carne ou cadáveres. Wikipédia
  2. Monóxido de carbono Wikipédia

Posfácio[edit]

Olá, Kaitou Reiji aqui.

Este é meu primeiro livro com Media Factory Bunko J. E aqui está para uma longa e bemsucedida carreira!

Agora então, você, a pessoa que viu a loli[1] gótica oriental na capa e estendeu a mão para este livro sem pensar!

A partir do momento no tempo que você fora movido por essa imagem, você tornou-se um irmão. O que você me diz sobre sairmos para tomarmos uma bebida Já que nós estamos na mesma sintonia, se você estiver lendo isso, compre o livro por favor

Este conto é sobre uma tão falada [Academia Mágica]. O cenário da série é a aurora do século 20, onde marionetistas fizeram sua presença ser sentida. Os melhores marionetistas participam em um jogo de soma zero onde eles tomam parte em lutas noturnas dentro da academia… as quais na realidade são um reflexo dos interesses do próprio autor. Embora a série tome lugar no século passado, os personagens falam o idioma moderno. É um estilo específico de escrita. Este é chamado [Kaitou Reiji pode escrever somente Japonês moderno], então por favor tente compreender.

Também, a garota capa é uma yandere[2]… ou melhor, esse era o plano, mas na hora em que percebi ela dava mais o ar de uma yarare (ferida). Pessoas que gostam de garotas feridas definitivamente devem checar esta série!

As maravilhosas ilustrações foram feitas pelo fantástico Ruroo-san. Bastante honestamente, o trabalho de Ruroo-san é digno em peso no quanto ele está sendo pago. Ambas Yaya e Charl são bastante fofas. Esse autor viu a arte SD[3] na próxima página e ele quase morreu de sobrecarga moe[4].

Durante os momentos ocupados, aquele que me acalma com precisão infalível quando estou imprudentemente exagerando é o Ruroo-san. Atualmente, isso não é tudo… A verdade é, Raishin ser usado pelos militares, as lentes tapa-olho da Shouko, e o motivo da Charl como uma falcoeira, todas essas foram ideias do Ruroo-san.

“Isso é brilhante! Estou pegando esta ideia para mim!”

Cada vez que eu recebi uma ideia brilhante, eu rapidamente inseri-a no livro.

Essa foi a minha primeira vez vivenciando esse nível profundo de troca entre o ilustrador e o autor. Entretanto graças a isso, eu fui capaz de aprofundar-me nas raízes da série, elevando o mundo de só um simples cenário liso para um deslumbrante mundo preenchido com detalhes. O motivo de porquê você foi capaz de visualizar o mundo tão facilmente foi tudo devido aos esforços de Ruroo-san, então eu devo agradecê-lo do fundo do meu coração.

Também, este trabalho não tem apenas recursos visuais, há uma trilha sonora para acompanhá-lo.

De alguma maneira, eu consegui gerir o pouso de um CD imagem para este trabalho!

O compositor é o Toku P-san da SPiCa. Para ser bem franco, ele é superlegal. No ponto da hora de escrever esse posfácio, as líricas não estavam bem-acabadas ainda, mas a canção já estava presa na minha cabeça em repetição interminável. Mal posso esperar pela versão finalizada~

Finalmente, devo dizer um muito grande obrigado pela pessoa encarregada, Shouji-san.

Eu o fiz!

No nosso primeiro encontro,

“Eu quero fazer algo que é bastante similar a um mangá shounen[5]-ficado…” *treme com medo*

“Tudo bem! Eu também gosto da Weekly Shounen Jump[6]!”

Tendo obtido o ok na primeira resposta, eu comecei a fazer uma pequena dança sem pensar.

Se esse momento no tempo não houvesse acontecido, esse trabalho jamais haveria visto a luz do dia. Na verdade, não apenas “visto a luz do dia”, esta série jamais haveria sido concebida!

Há também outros com os quais sem seus apoios, eu jamais teria começado Unbreakable Machine Doll. Também estou bastante excitado para ver como este conto se desdobrará daqui em diante. Porém, se o conto irá ou não realmente se desdobrar é algo que você, o qual está lendo este posfácio agora, terá que esperar para descobrir.

Enquanto você me apoiar, eu definitivamente darei meu 100% e mais um pouco. Então— Vejo você novamente em Machine Doll 2!

Outubro de 2009

Kaitou Reiji


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Olá, este é o ilustrador.

Este foi Unbreakable Machine Doll.

A cortina sobe no maravilhoso mundo de Kaitou-sensei.

De alguma forma isso faz-me sentir superlegal também.

Enquanto eu estou me sentindo todo leve e esvoaçante eu farei o meu melhor, então por favor trate-me favoravelmente.

Com isso, eu espero poder vê-los todos novamente no volume 2.

Ruroo

Referências e Notas de tradução[edit]

  1. Lolita é um estilo japonês de moda. Mais detalhes em Wikipédia
  2. Um termo japonês para uma pessoa que é amável, doce, alegre e gentil para alguém, uma pessoa que realmente ama ou admira puramente e intensamente e a devoção acaba se tornando problemática e mentalmente destrutiva em natureza, usualmente, mas não sempre, de formas superprotetoras, violentas ou brutais. Geralmente representa uma pessoa perturbada mentalmente mas que não demonstra por fora. Wikipédia (Eng)
  3. Super Deformed (Super deformado). Wikipédia
  4. Personagens fofos. Wikipédia
  5. Shounen é a palavra jovem no japonês. Também é um estilo de manga voltado ao público jovem masculino. Wikipédia
  6. Uma revista de mangas famosa no Japão, dela vieram a publicação dos sucessos: Dragon Ball, Yu Yu Hakusho, One Piece, Saint Seiya (Os Cavaleiros do Zodíaco), Yu-Gi-Oh!, Naruto, Bleach, Death Note entre muitos outros títulos. Wikipédia


Referências e Notas de tradução[edit]


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