Koyomimonogatari ~Brazilian Portuguese~/Koyomi Montanha/003

From Baka-Tsuki
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003[edit]

Quanto ao Templo Kitashirahebi, tenho certeza de que houve vários pontos de explicação necessários — como eu tinha mencionado antes mais ou menos, era um lugar de muitas coincidências estranhas para mim, mas mesmo tirando isso, esse lugar tinha recentemente — isto é, desde as férias de primavera, esta cidade tinha se tornado um ponto popular.

Desde as férias de primavera.

Isto é, desde Oshino Shinobu — a vampira.

Já fazia quase meio ano desde que Shinobu tinha visitado esta cidade — a visita da lendária vampira, o demônio de uma beleza que podia dar calafrios na sua espinha. A visita da vampira do sangue de aço, do sangue quente, do sangue frio — esse foi um grande incidente.

Bem, não estou dizendo exatamente que isso foi o maior incidente no meu caso, e eu também não estava usando nenhuma retórica para implicar que a existência de vampiros fosse um grande incidente — mas para que tal grande e poderosa esquisitice surgisse, poderia apenas ser uma grande notícia para a indústria.

Pode ser mais fácil de entender se eu comparar isso a um tufão.

Um tufão, representado pela informação que variava de classe e trajetória, velocidade e escala — na meteorologia, existe uma variedade de fenômenos climáticos, mas quantos tipos diferentes de ‘climas’ existem para que tal informação seja corretamente medida e para que nomes sejam dados a eles?

É dessa maneira.

Se considerarmos as viagens de Oshino Shinobu — anteriormente conhecida como Kissshot Acerolaorion Heartunderblade — dessa maneira, elas certamente seriam algum tipo de calamidade.

Foi por isso que o Oshino fez seu movimento — e gastou o poder de ressurreição dessa calamidade. Oshino, que fundamentalmente tinha a ocupação de colecionar histórias de esquisitices, pode ter parecido ser um especialista desleixado que só colecionava histórias de fantasmas, lendas urbanas e rumores ociosos apesar de estar nesta cidade — mas ele realizava trabalhos fora disso também.

Ou melhor, se estamos falando de trabalho, então eu tinha ajudado diretamente também — como alguém relacionado ao incidente da vampira, e como um pagamento para minha dívida.

Por conta da aparição da vampira lendária, houve algum distúrbio espiritual — e o que o Oshino tinha me feito fazer para retornar esta cidade perturbada ao normal foi corrigir o distúrbio espiritual no seu centro.

E esse centro, se você esteve prestando atenção, seria.

Podia quase ser considerado um marco zero — seria este mesmo ponto, no Templo da Cobra Branca do Norte.

Se eu quisesse copiar a frase “ponto de ar urbano”, então eu o chamaria de algo como um “ponto de ar rural” — era um lugar para a impureza espiritual, ou em outras palavras, as ‘coisas ruins’ que podiam se tornar ingredientes para esquisitices, para se reunirem — um ponto de encontro para esses.

Um local de reunião.

Sequer uma única grama permaneceria após a passagem da vampira — embora Shinobu tenha exercido uma fúria que faria você pensar que isso aconteceria, em vez de nada permanecer, os verdadeiros resultados, os verdadeiros efeitos colaterais que permaneceram que foram mais problemáticos.

É uma história que durou somente duas semanas, mas como alguém que tinha se tornado um vampiro assim como ela — como alguém que tinha tido uma experiência horrível, embora eu nunca falaria isso em voz alta, eu compreendi por que aqueles especialistas que possuíam técnicas de combate contra vampiros tinham se tornado freneticamente indiscriminados em sua exterminação.[1]

Na verdade, era por conta das ‘coisas ruins’ que tinham se reunido neste templo que a amiga das minhas irmãs menores, Sengoku Nadeko, tinha se deparado com algo terrível — é possível que aquele vigarista que tinha sido a causa daquela coisa horrível tenha sido conjurado pelo incidente da vampira.

Bem, essa é só minha conexão individualista das coisas — em todo caso, baseado no tempo e nas circunstâncias, não seria estranho se uma grande guerra de youkais tivesse ocorrido no centro do Templo da Cobra Branca do Norte.

Uma grande guerra de youkais.

Soava inacreditável, mas não era algo para se brincar — Oshino estava se arriscando bastante quando ele passou a tarefa inteira de prevenir isso para um estudante do colegial normal como eu. Embora, se eu não tivesse tomado um trabalho de tal tamanho, então eu provavelmente ainda não teria pagado minha dívida de cinco milhões de ienes.

Em outras palavras, isso poderia ser considerado um trabalho de cinco milhões de ienes.

“Já que é um templo que foi abandonado e fechado, e o deus desapareceu — já que estava completamente vazio, imagino se foi isso que o fez se tornar o apoio pra essas ‘coisas ruins’?”

Enquanto eu inquiria o estado dos meus arredores no templo abandonado que eu estava visitando pela primeira vez em um tempo, tinha incluído algumas emoções fortes no que disse. Essas emoções fortes não eram por eu ter sentido saudades do templo, mas porque ele tinha me lembrado do Oshino. Podia ser por eu ter vindo com a sobrinha do Oshino que foi mais fácil de eu me lembrar dele.

“O apoio, você diz? — ha, ha, ha.”

Ougi-chan riu.

Ela riu animadamente — uma risada que era completamente desapropriada com a atmosfera do templo abandonado.

“Bem, em termos da vida das pessoas, suponho que todo mundo precise de algum tipo de apoio —“

“Er, agora não estou falando de pessoas, mas sobre essas ‘coisas ruins’.”

“As pessoas não são parte dessas ‘coisas ruins’?”

“......”

Como aquele vigarista?

Como a sobrinha do Oshino, a Ougi-chan provavelmente sabia sobre aquele vigarista também — então por que não falo sobre ele? — Foi o que senti no meu coração por um instante, mas se ela não sabia sobre ele, não senti que tivesse de explicar quem aquele bastardo era, e mesmo que ela soubesse, ainda seria desconfortável se ficássemos naquele assunto de alguma forma.

Então eu decidi me manter afastado de falar sobre aquele vigarista com a Ougi-chan na medida em que ela não falasse sobre ele primeiro — então eu engoli as palavras que só chegaram à minha garganta.

Mas eu tinha me lembrado do que ele tinha dito.

Para fazer algo circular — para causar uma infecção, então isso tem que estar completamente vazio de antemão, e uma vez que você possa ‘criar’ esse estado vazio —

“......”

Shinobu tinha passado, exercendo sua fúria.

Na cidade que tinha se tornado vazia, as várias ‘coisas ruins’ tinham se reunido aqui como se estivessem procurando por terras férteis — e elas se reuniram no templo, que estava vazio até mesmo por dentro.

E se meu julgamento estava correto (embora ele possa não ter alcançado o nível de julgamento), era por causa de o templo ter ruído, e o deus ter ficado ausente, que ele tinha se tornado ‘vazio até mesmo por dentro’ —

“... Pra onde o deus foi?”

“? Araragi-senpai, você disse algo?”

“Não...”

Eu tinha pensado no talismã do qual eu estava cuidando — embora em vez de cuidar, era algo que tinha sido forçado para mim por uma certa pessoa — embora, sinceramente, seria problemático se eu tivesse me livrado disso.

Parecia que nem mesmo Shinobu poderia fazer algo quanto a isso, então eu estava perdido — já que era um talismã, imaginei que poderia oferecê-lo a algum lugar.

Eu não queria ficar com ele, se qualquer coisa.

“Incidentalmente, você não acha que a frase ‘clientes visitantes do templo’ é um pouco misteriosa, Araragi-senpai? Não é como se as pessoas que vem ao templo possam ser consideradas clientes.”

“Hm? Ah... Bem, eu entendo aonde você quer chegar, Ougi-chan... Mas não consigo pensar em alguma expressão que funcionaria melhor também. Então, Ougi-chan. O que você quer dizer com querer consertar a discórdia exatamente? Quando você disse que a inicialização foi um erro, você quis dizer que construir este templo no topo desta montanha não foi apropriado para o deus cobra...?”

“Quando você pergunta se é apropriado ou não, é quase como se você estivesse perguntando se essa moda parece boa ou não em mim, no entanto —“

Apesar de ser a sobrinha de um especialista, Ougi-chan não tinha um interesse particular nos arredores e andou direto no meio da estrada do templo. Mesmo que até mesmo eu, um amador, soubesse que já que o meio da estrada era por onde os deuses andavam, era ruim para os humanos andarem nele... Bem, já que o deus não estava aqui, era possível que esse não fosse mais o caso.

Passando pelo pavilhão de água onde você lavaria suas mãos, que estava não figurativamente, mas literalmente vazio, Ougi-chan chegou ao templo em si — e olhou para cima.

“Hm...”

Ela foi e então sussurrou:

“Isso se tornou algo bem problemático. Me faz querer ir para casa. Ou faria, se eu tivesse uma casa para voltar.”

“Eh, você não volta pra residência dos Oshino?”

“Bem, a residência dos Oshino existe, mas — isso... parece que mal está balanceado. E pensar que meu tio simplesmente se levantaria e deixaria as coisas nesse estado... É isso?”

Ougi-chan apontou para o talismã que tinha sido preso ao templo. Isto é, a pessoa que tinha prendido aquele talismã seria eu.

Ao comando do Oshino, eu, junto da Kanbaru, tinha visitado o templo para colocar esse talismã — bem, eu não tinha ideia do tipo de poderes espirituais que esse talismã possuía, e já que eu tinha o prendido sem qualquer conhecimento, entendi que tirá-lo agora traria alguma maldição. Mas parecia que era um talismã que não podia ser prendido a não ser que você estivesse no nível de amadores como Kanbaru e eu — alguém completamente envolvido nesse mundo, mas sem qualquer conhecimento que especialistas tinham.

Bem, não era como se o Oshino me apresentou para algum trabalho especial de cinco milhões de ienes envolvendo escalar uma montanha uma vez apenas por boa vontade de me ajudar a pagar minha dívida.

Entendi que o talismã do qual fui forçado a cuidar por um certo alguém possuía esse significado também — mas em vez de ser um seguro para uma dívida, aquilo podia ser considerado como uma dívida ruim por si só...

“Ah, é isso. É isso que o Oshino me disse pra colocar aqui —“

Eu respondi à pergunta da Ougi-chan.

Pensando nisso, isso foi bem antes em Junho, então fazia quase quatro meses desde então — certamente não era algo que me fez se sentir nostálgico, mas já que era por conta do trabalho do Oshino que eu tinha conseguido encontrar minha velha amiga Sengoku Nadeko novamente, de certa maneira isso me fez se sentir emotivo.

Quando penso sobre como eu provavelmente não seria capaz de sair com ela como faço agora se não fosse por aquela chance de ter me encontrado com ela, então o destino parece uma coisa muito misteriosa.

Bem, não está limitado à Sengoku — era o mesmo com a Hanekawa e a Senjougahara e a Hachikuji e a Kanbaru...

Até mesmo Shinobu.

Até mesmo a vampira.

“Bem, é um pouco perigoso, o equilíbrio foi mais ou menos alcançado nesse caso — a atmosfera do terreno parecia mesmo refrescante.”

“Refrescante, huh?”

“Sim. Em algum momento, teria sido difícil chamar isto de um ponto de encontro para as ‘coisas ruins’ se reunirem.”

“......”

Se agora mesmo, o terreno deste templo abandonado acontecesse de ser ‘refrescante’, então eu saberia o motivo mais ou menos — afinal, no último dia das férias de verão, Shinobu e eu tínhamos completamente ‘refrescado’ este lugar.

Eu tinha falado sobre isso para a Ougi-chan?

“Bem, de agora em diante, deve estar bem por outros cem anos — na taxa em que ele está atualmente. Vamos apenas dizer que ele está sendo se espalhando de uma boa maneira. Embora eu vir aqui hoje poderia ser outro assunto...”

Enquanto dizia isso, a Ougi-chan começou a fazer algo que era difícil de acreditar. Era algo que era absolutamente excêntrico sem nenhum espaço para discussão — porque naquele templo, que não tinha sido reparado por anos, ela subitamente começou a escalá-lo.

“O... O que você tá fazendo, Ougi-chan?”

Em termos de nuance, eu tinha quase gritado ‘O que você tá fazendo, Ougi-chan!’, mas em circunstâncias súbitas como essas, as pessoas são incapazes de gritar. Eu tinha acabado perguntando normalmente.

Em vez disso, ao ponto de me fazer me perguntar se a auto-descrição dela como uma rata de biblioteca foi uma sincera ou uma piada, a Ougi-chan tinha rapidamente chegado ao topo do telhado do templo como um animal selvagem, em um piscar de olhos.

Como um macaco, ou talvez um gato.

Embora eu tivesse tido tempo para repreendê-la, não havia tempo para pará-la — já que ela não estava usando sapatos bons para isso ou roupas nas quais eram fáceis de se mover, era um negócio bem significativo.

Contudo, não parecia que ela estava segura só porque tinha chegado ao topo — porque, como eu tinha dito antes, o templo tinha sido abandonado com os anos e parecia que iria ruir se o vento soprasse.

Era possível que ele caísse assim que o peso de uma única pessoa fosse posto no telhado — se fosse um elevador, então a situação definitivamente chamaria pelo soar de um alarme.

Bem, é possível que porque ele estava tão decaído que havia mais pontos desiguais que o fizesse mais fácil de escalar, que era como a Ougi-chan tinha conseguido escalar para lá tão rapidamente como se ela estivesse escalando um polo.

“Qual o problema? Araragi-senpai. Por favor, me siga.”

“Er, não, bem, eu tô de camisa hoje...”

Como se aquele fosse o caso.

Mas apesar de ser quem eu sou, eu não era tão devotado aos meus calouros a ponto de seguir comportamentos tão drásticos.

“De todo jeito, não sou bom em escalar polos.”

“Oho. E pensar que o Araragi-senpai, que é chamado de Dragão Escalador do Colegial Naoetsu, está dizendo palavras tão penosas.”

“Ninguém me chama assim. Isso soa como Shoryuken ou algo assim.”

“Falando nisso, você sabia? Se o nome do usuário de Shoryuken, Ryu, fosse escrito em kanji, seria o kanji de ‘prosperidade’.”

“Sério? Não o kanji de ‘dragão’?”

“Sim. Ken usa o kanji de ‘punho’, contudo. Bem, essa era a definição antiga, então pode ter mudado agora — mas falando em definição, Araragi-senpai.”

Do topo do telhado, em vez de olhar para mim, ela olhava como se fosse capaz de ver a cidade inteira daquela altura — embora eu não estivesse certo do quanto da cidade você poderia ver daquela altura — e falou para mim.

“Não estou falando sobre um dragão, mas sobre uma cobra. Entende?”

“Ah... É sobre o deus cobra no qual você tá pisando sobre agora mesmo, Ougi-chan?”

“O deus cobra é um representativo, mas você está ciente de como as cobras se tornaram deificadas aqui, apesar de elas não estarem no nível de deuses?”

“Como as cobras foram deificadas...”

Hm.

Bem, elas são temidas, e em termos de imagem, o ‘deus das cobras’ realmente dá um sentido de mal-estar — mas colocar isso como a base de algo assim não seria pensar profundamente sobre isso.

“Não é como se elas servissem qualquer propósito para a vida dos humanos como vacas ou cavalos, e elas não vivem por perto também — havia mais candidatos, como insetos ou vermes. Por que você pensa que foi assim?”

“Por quê...”

“Pense no zodíaco. O Rato, o Boi, o Tigre, a Lebre, o Dragão, a Serpente — nessa ordem, mas se você pensar nele, não há algo em que você encontra um problema? Para a cobra suceder o dragão, não é uma etapa estranha a se seguir? Essa é a própria definição de um anticlímax, e ele causaria muitas risadas.”

“Não acho que a astrologia esteja aí pra fazer as pessoas rirem, no entanto —“

Eu falei enquanto olhava para cima.

Era um ângulo que fazia falar mais difícil do que eu pensava — minha caloura olhando por cima de mim de um lugar alto certamente não me enchia de alegria.

“— mas não sei. Por que foi assim? Há alguma história por trás disso? Mitos relacionados a cobras, ou —“

“Bem, claro que existem mitos relacionados a cobras. Há montanhas deles. Mas o que estou dizendo aqui é, por que as cobras conseguiram um papel principal nesses mitos?”

Por 'o que estou dizendo aqui', ela estava falando sobre como estava de pé no topo do templo? Considerei o que ela disse. Ou melhor, procurei pela minha memória — se era algo assim — não teria sido estranho eu ter ouvido isso da Hanekawa ou do Oshino.

“Se me lembro corretamente — isso mesmo. Cobras são supostamente símbolos de imortalidade ou renascimento, eu acho?”

“Oho. Você veio com a resposta certa de repente.”

Ougi-chan acenou.

Embora, já que ela não estava olhando na minha direção quando ela acenou, eu não estava exatamente certo se ela estava acenando de verdade ou se estava apenas mudando o Ângulo no qual ela olhava para a paisagem.

“De fato, estudantes que se preparam para testes estão em um nível diferente.”

“Bem... Mesmo que você diga ‘de fato’, não tem como algo assim aparecer em um Teste do Centro Nacional.”

“Cobras trocam de pele para poderem crescer, afinal — além do mais, já que cobras não possuem nenhum tipo de desigualdade como mãos ou pés, a pele que elas trocam é muito fácil de entender, ou em outras palavras, é algo direto. Pensando na natureza discreta das cobras, é possível que a pele que é deixada para trás é mais notável que as cobras em si.”

“......”

“Bem, durante uma época em que a biologia não tinha se expandido tão longe quanto agora, se você conseguisse observar uma cobra trocando de pele — você iria querer começar a considerá-las sagradas.”

Imortalidade. Renascimento.

E — sacralidade.

“... Mas, bem, Ougi-chan. Isso —“

“Sim, isso mesmo. Para cobras é um fenômeno biológico que não tem nada a ver com imortalidade. Além disso, elas têm a imagem de ter uma força vital forte, mas na verdade não é nada do tipo.”

“— É como a imagem da hiena?”

“Isso mesmo, sim. Então seria que houve um desentendimento desde o início — mas, ainda assim, seria impossível tentar limpar a imagem sagrada que a cobra tem após todo esse tempo, não é? Falando realisticamente —“

“......”

“Nós aprendemos sobre isso nas aulas de ciência, afinal de contas. Na sociedade moderna japonesa, dificilmente há pessoas que não saibam sobre como uma cobra troca de pele, mas — todo mundo ainda possui algum sentido de reverência para as cobras em algum lugar de seus corações. Eles são capazes de aceitar o termo deus cobra sem qualquer desconforto—“

A inicialização foi um erro.

Não, não foi mesmo um erro — foi simplesmente o período de tempo errado.

“O que há de errado? Araragi-senpai. Você acha que é deselegante tentar explicar a religião com a ciência? O que estou dizendo não é refinado? Mas se você ler a história, encontrará montanhas de exemplos em que pessoas foram injustificadamente executadas ou irracionalmente punidas em nome da religião com uma fundação insuficiente.”

“... Há montanhas deles, huh?”

“Estou somente dizendo, se você vai decapitar alguém, deveria ao menos fazê-lo racionalmente — mas não precisa se preocupar, já que é como eu disse antes. Não importa o quão brutalmente eu tente explicar as coisas, uma crença que foi produzida uma vez não pode ser dispensada por teoria ou razão.”

“......”

Eu ouvi algo assim mês passado.

Era sobre minha irmã.

Ela tinha logicamente negado a existência do fantasma da sala do Clube da Cerimônia do Chá, a ‘oitava pessoa’ entre os membros do clube — ela tinha a negado minuciosamente, sem perder nenhum canto ou recanto. Já que era essa minha irmã, era uma negação imatura a ponto de que as pessoas diziam, “Você está mesmo indo tão longe assim?”

Contudo — foi completamente inútil.

Não importava o que ela tentasse dizer, os outros membros continuaram a acreditar na ‘oitava pessoa’ — e nessa situação, na verdade foi Tsukihi que se tornou uma herege.

“Através da fé, até mesmo a cabeça de uma sardinha pode ser valorizada — até mesmo a casca vazia de uma cobra pode ser valorizada. Bem, é sobre isso que tudo isso é, Araragi-senpai. Instintos cravadas no corpo há milhares, ou até mesmo dezenas de milhares de anos ainda não podem ser ultrapassados por centenas de anos de base científica. É a mentalidade sobre a verdade; é isso que a humanidade é, e essa é a sociedade humana.”[2]

“... Mas imagino se isso mudará em algum ponto? Algo do tipo... Quando as centenas de anos se tornarem milhares de anos e a base científica se empilhar mais, será que os humanos colocarão a verdade à frente da mentalidade?”

“Tenho certeza de que sim. Eventualmente.”

Mas uma vez que humanos colocarem a verdade à frente da mentalidade, poderiam eles ainda ser chamados de humanos após isso, era algo que eu estava me perguntando no fundo do meu coração — e então, foi isso que a Ougi-chan disse.

Ela tinha tido o mesmo sentimento que o meu quanto a isso.

Ou talvez.

Era a mesma mentalidade.

“Bem, vamos cruzar essa ponte quando chegarmos nela — isto é, é algo a se considerar após o Araragi-senpai morrer.”

Após ter falado de maneira descolada como se ela estivesse planejando viver mais do que eu, que ainda possuía traços de vampirismo, ela mudou de assunto.

“O problema agora é limpar os assuntos deste templo — limpar este Templo da Cobra Branca do Norte, que, após mais de mil anos atrás, consagrou uma cobra que viveu por mais de mil anos. Você também poderia dizer que é uma limpeza após meu tio.”

“O que você quer dizer? Nós não já tomamos conta da situação onde ele se tornaria um lugar de reunião?”

Foi uma jornada completa por mim e Kanbaru — então esse caso já deveria estar acabado.

“Ainda não está acabado. Em vez disso, ele apenas acabou de começar.”

“Bem, um, mesmo que você diga uma fala tão comum...”

Imagino quem teria sido o primeiro a ter dito isso?

Algo como, nossa aventura apenas acabou de começar! — era uma fala que me fazia querer conhecer quem diria isso normalmente.

“Não, ainda não acabou — o que meu tio tomou foi uma medida defensiva. Nós conseguimos defender, mas ainda não atacamos.”

“Vou dizer isso em uma maneira que é fácil de entender. Meu tio foi sucedido em limpar após a invasão do tufão chamado de Kissshot Acerolaorion Heartunderblade. Certamente foi uma conquista, não, uma grande conquista, para um especialista, ter conseguido prevenir a ocorrência de uma grande guerra de youkais. Mas será mesmo? E penso que meu tio estava sendo ingênuo aqui — é verdade que se outra esquisitice no nível de Heartunderblade chegasse, não haveria contra-medida para isso, certo?”

“......”

A pessoa que tinha me entregado o talismã para que eu cuidasse dele — tinha dito algo parecido. Ou melhor, ela tinha me dito isso enquanto entregava o talismã a mim.

Mas...

“Em vez de apenas manter a paz do presente, acredito que deveríamos formar uma contra-medida para o próprio lugar de encontro para a próxima vez — sem um lugar de encontro, não haveria nenhum lugar para as ‘coisas ruins’ se reunirem.”

“Hmm... Bem, eu entendo até aí. Mas isso não é algo do qual você é incapaz de fazer sozinho? Pro Oshino, não sei quanto dinheiro ele precisaria pra reconstruir o templo...”

“Seria impossível somente com dinheiro também. Mesmo que nós fôssemos capazes de reconstruir o templo por algum motivo, ainda seria um lugar em que, ano após ano, não haveria mais nenhum visitante... Em outras palavras, nós precisaríamos reviver a crença no deus cobra... Haha, assim como você disse, Araragi-senpai, é um feito impossível para alguém fazer sozinho...”

Contudo, só porque é impossível não significa que é algo do qual se desista — disse a Ougi-chan.

“Você precisa corrigir o que precisa ser corrigido — não importa o quão sem sentido ou impossível isso pareça. Mesmo que não haja significado, não parece simplesmente errado não corrigir um erro? Araragi-senpai.”

“Bem... Como alguém que faz erros todos os dias em seu conjunto de problemas, sinto que eu tenho que dizer sim a essa questão. Mas existir coisas que podemos fazer e coisas que não podemos fazer é uma realidade, certo? É assim que a realidade funciona, certo? Não acredito que um mundo em que qualquer um pode fazer qualquer coisa seja certo.”

“Não acredito nisso também. Isso é apenas m problema de intenção. É um problema do meu motivo de defesa ofensiva — haha, quando chamo isso de defesa ofensiva, pode fazer parecer que meus motivos não são muito fortes. Um... Vamos voltar ao assunto?”

“Se a gente puder. Ainda não faço ideia de que assunto estamos falando, em primeiro lugar, Ougi-chan — você disse algo sobre como o templo estar nesta montanha foi um erro de inicialização com um equilíbrio ruim, mas não é como se uma garota do colegial como você pudesse fazer algo quanto a isso, certo? Não é como se nós pudéssemos mover o templo pra algum outro lugar neste momento.”

“Sim, isso mesmo.”

Ougi-chan acenou rapidamente.

Pela maneira que ela desviou da questão, não conseguia evitar em sentir o sangue do seu tio nela — a sensação de não entrar em discussões.

“Falando em história, Araragi-senpai. A verdade é, este templo — o Templo da Cobra Branca do Norte, costumava ficar em um local completamente diferente.”

“Completamente diferente?”

“Sim. Naquele tempo, até mesmo o nome era diferente — mas por uma certa razão, ele foi transferido para esta montanha. Ele foi colocado aqui. No pico desta montanha, no mesmo lugar em que estou de pé sobre.”

“......”

“Para explicara a história com um pouco mais de detalhe, parece que naqueles dias, esta montanha tinha um status alto o suficiente para ser considerada sagrada — então para trazer essa eficácia miraculosa, o templo foi transferido para cá.”

“Por transferido... Er, era como uma ramificação do templo?”

“Não, não foi a ramificação do templo que foi movida, mas sim o templo principal.”

“... Estava tudo bem em fazer isso? Não é que eu saiba um bocado sobre como templos funcionam... Mas para templos, eles normalmente não deveria ficar somente em um lugar?”

“Não é necessariamente limitado a isso. Sendo por conta de algum ataque de um tufão ou outra coisa, houve um motivo inevitável que levou o templo a ter sido movido — bem, não foi por isso que falei disso.”

“Eh? Você só não queria falar sobre história?”

“Não, não, não vale a pena se preocupar quanto à história. Só porque falei dela, não significa que eu queria falar sobre ela — havia algo que eu queria que você pensasse sobre, Araragi-senpai. O templo que estava em outro lugar, o antigo Templo da Cobra Branca do Norte — bem, o nome era diferente antes, mas vamos chamá-lo de antigo Templo da Cobra Branca do Norte por conveniência — como as pessoas da época, isto é, os oficiais do templo, conseguiram o levar para o pico da montanha? — É o que estou dizendo.”

“Como... Bem, estamos falando sobre algo que aconteceu a um tempo, certo? Nesse caso, não acho que eles tinham as habilidades necessárias pra mover a construção em si — então talvez eles tenham desconstruído a construção e a moveram dessa maneira. Embora você teria que ser capaz de pegar coisas como a caixa de doações em uma parte...”

“Sim. Construções como essas podiam ser construídas sem usar sequer um prego — e desconstrui-la também não era um trabalho muito intensivo. O que você acabou de dizer, Araragi-senpai, é como o navio em uma garrafa. Para colocar um veleiro dentro de uma garrafa com uma pequena abertura, o processo correto seria ligar as partes dentro da garrafa... Mas, Araragi-senpai. Diferente do navio em uma garrafa, não era como se desmontar o templo fizesse suas partes mais fáceis de carregar.”

“Hm?”

“Afinal — o caminho pelo qual subimos não existia no passado.”

E dizendo isso.

Ougi-chan — se virou para a arcada do templo e apontou para o caminho íngreme da montanha que nós tínhamos subido. Sim, o caminho íngreme da montanha. Mesmo que o caminho estivesse ali, carregar madeira por aquele caminho não seria uma tarefa fácil — mas ela está dizendo que o próprio caminho não estava ali naqueles tempos?

“Sim. Não estava ali. Foi durante o período pós-guerra que esse caminho foi criado aí. É bem recente.”

“Eu não consideraria o período pós-guerra como algo bem recente, no entanto...”

“Aparentemente, em Kyoto eles consideram o período pós-guerra como após a Guerra de Onin.”

“Não, tenho quase certeza de que isso é uma mentira completa. Não tem como eles terem pensado isso.”

“Bem, imagino. Parece que há uma razão experimental para isso. Isto é, durante a Guerra Mundial, a própria cidade de Kyoko não tinha sofrido tanto dano dos ataques aéreos em comparação às outras cidades, então seria mais difícil chamá-la de uma Guerra Mundial, dizem eles. Se você pensar nisso dessa maneira, certamente parece possível que o período pós-guerra poderia ser considerado após a Guerra de Onin.”

“É mesmo? Então tem um motivo...”

Quando ouvi do período pós-guerra, por um momento o considerei ser após as Férias de Primavera que eu passei, então podia ser algo parecido.

“De todo jeito, então essa escadaria foi construída bem recentemente, huh —“

“Sim. Falando em termos do navio em uma garrafa, a imagem seria de algo parecido com o pescoço da garrafa ser extremamente longo, ou talvez torto?”

“Nesse caso... A maneira típica não seria abrir um caminho pra carregar os materiais de construção? Quer dizer, até a escadaria ter sido feita, eles usaram esse caminho em vez dela... Assim que uma escadaria nova e mais conveniente fosse feita, o outro caminho deixou de ser usado e foi eventualmente coberto por árvores e plantas.”

“Poderia ser isso. Fazer um caminho — isto quer dizer, é essencial para se construir algo. Não preciso mencionar a Rota da Seda como um exemplo, mas é possível que a história humana seja intercambiável com a história das estradas — primeiro foram estradas, depois rotas marinhas e então rotas aéreas que foram criadas. Após isso, seriam excursões pelo espaço? Contudo, Araragi-senpai, essa resposta está errada.”

“Huh? Eu estava errado?”

“Sim. Como mencionei antes, esta era uma montanha sagrada que era bem dignificada. Eles não podiam possivelmente realizar uma construção de tamanha larga-escala. Claro, um tamanho mínimo de construção era necessário para transferir o templo ao pico, mas o senso comum era de evitar o máximo de ações possíveis que pudessem machucar a montanha. Ou, mais do que senso comum — seria uma piedade religiosa.”

“... Então eles não fizeram um caminho?”

“Sim. Pelo menos não um caminho artificial. Vamos lá, Araragi-senpai, mesmo que subimos a montanha usando as escadas feitas após a guerra, com força de vontade o suficiente, mesmo sem usar essas escadas — se nós caminhássemos em uma trilha sem caminho e cheia de árvores, ainda seríamos capazes de alcançar o pico, certo?”

“......”

Imagino.

As pessoas certamente seriam capazes de conseguir com força de vontade suficiente, mas o problema seria que eu não tinha nenhuma força de vontade. Embora, com a Ougi-chan sendo a garota das montanhas que ela era, ela provavelmente seria capaz de conseguir...

Bem, as pessoas no passado eram impressionantes quando se tratava de força de vontade.

Especificamente falando em termos de construção, eles foram capazes de construir esses Patrimônios Mundiais inacreditáveis sem usar nenhum veículo pesado...

Embora eu tenha dito que um mundo em que todo mundo fosse capaz de fazer qualquer coisa não pudesse ser um correto, se você desconsiderar os direitos humanos e ambientes de trabalho, é possível que as pessoas fossem capazes de fazer um bocado de coisas.

Contudo, mesmo que esse fosse o caso.

Sob essas condições — como eles foram capazes de fazer ‘mover’ esse templo uma realidade?

Eu não sabia sobre a eficácia milagrosa ou o que seja sobre a montanha naqueles dias, mas como eles foram capazes de transferir a construção para uma locação com condições extremamente desfavoráveis de um ponto de vista de construção?

“O quê, eles usaram alguma técnica que não faz parte deste mundo? Como algum superpoder supernatural, ou um espiritual... tipo, algo milagroso.”

“Não, não houve nada do tipo. Foi simplesmente a inteligência dos humanos. Se você me perguntar, foi uma ‘mudança’ que era de uma irritação extrema — você poderia dizer que foi por causa disso que eu vim para cá, para esta cidade.”

Sério, o que exatamente é uma cobra branca do norte? — disse ela.

Ougi-chan disse isso, e.

Como se algo desagradável tivesse ocorrido — sem mudar sua expressão, embora não houvesse nenhuma necessidade particular para isso, ela agiu como se fosse chutar o templo abaixo de seus pés.


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  1. Especialidade e técnica de combate são ambos pronunciados como 'senmon'.
  2. Mentalidade e verdade são ambas pronunciadas como 'shinri'.