Mimizuku to Yoru no Ou: Capítulo 4

From Baka-Tsuki
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Capítulo 4 – Liberação[edit]

Vou juntar coisa bonitas, pensou Mimizuku.

Belas flores, folhas, e suaves pedras vítreas. Ramos com formatos elegantes e bolas de seiva que parecem pedras preciosas.

Enquanto ainda estava claro, Mimizuku foi para a floresta buscar esses tipos de coisas, e quando o sol se pôs, ela voltou para a mansão de Fukurou.

Ela lentamente abriu a porta da mansão. Da segunda vez que tinha aberto a porta, ela estava segurando uma bela flor amarela em sua mão. Fukurou nunca fez algo para que impedir Mimizuku de sair, então como um tipo de pedágio para entrar, Mimizuku sempre trazia algo bonito para Fukurou.

A floresta transbordava de coisas belas.

A luz era saturada por detrás da porta do quarto de Fukurou. Quando Mimizuku a abriu, encontrou Fukurou de costas. Ela caminhou de forma a não fazer muito barulho, mas suas correntes ainda ressoavam. Ela se sentou próxima a Fukurou.

Segurando uma pequena flor roxa em sua mão, Mimizuku olhou para cima em direção a Fukurou.

Fukurou estava de frente para uma tela gigantesca. Ele pintou-a com azuis, verdes, e a cor profundamente vermelha da Renka. Fukurou despejava as cores na tela com suas garras brilhantes. Parecia como se ele estivesse aplicando camadas leves de cor na tela, mas elas eventualmente se convergiam em uma pintura.

Mimizuku observou a cena fantástica.

Ela então percebeu de repente que não pertencia a esse lugar.

Fukurou é lindo. Seu desenho é lindo. Essa sala é linda.

A sala estava decorada com as belas coisas que Mimizuku juntara, e elas davam uma certa sensação de liberdade para eles, pois elas pareciam dançar em volta da sala.

Mas…

Por que estou aqui? Mimizuku abaixou sua cabeça.

— Por que você não me devora?

As palavras saíram sem se desconectar com os pensamentos dela. Fukurou não olhou para ela, mas, após um longo silêncio, quando Mimizuku já havia esquecido o que disse, ele de repente abriu sua boca.

— Garota que dá nomes a bestas.

— Sim? — Mimizuku respondeu humildemente.

Fukurou olhou para cima, mas não para Mimizuku.

Ele simplesmente perguntou: — Por que você quer ser devorada por mim? Por que você quer ser devorada por um monstro? Mimizuku piscou os olhos, confusa.

Ela não havia pensado exatamente sobre a razão disso. No entanto, Mimizuku foi capaz de responder. Ela sempre soube a resposta no fundo de seu subconsciente.

— Porque eu não quero morrer.

Fukurou não dise nada. Era como se um buraco tivesse sido cravado nele. Já que Fukurou não falaria, Mimizuku, arriscando sua vida, começou a juntar suas palavras.

— Sabe, eu odeio usar facas...

— … Fale de uma forma que eu possa entender, — resmungou Fukurou de mau humor.

Mimizuku sorriu.

— Ok, então vou te contar o motivo. Eu costumava fazer vários tipos de trabalhos diferentes, mas eram os piores, mais sujos e mais dolorosos trabalhos. Oh, ainda agora eu não gosto de pensar sobre isso, o que eu mais odiava era julgar as pessoas.

— Julgar?

— É. — Mimizuku deu uma curta risada e confirmou com a cabeça. Os belos olhos de Fukurou haviam se voltado para ela, então era natural que ela sorrisse. Ela continuou a rir.

— As pessoas mortas, eu tinha que cortar o estômago delas pouco a pouco, mesmo que tivessem sido assassinadas pelos habitantes das vilas, então colocar minha mão dentro de todas os órgãos moles e puxar o coração. Eles falavam que os vendiam por preços altos.

Era um trabalho que só eu fazia. Uma mulher no “vilarejo” disse que graças a isso eu seria uma pessoa boa, mas eu não pensava o mesmo. E mesmo assim, batiam em mim se eu falasse qualquer coisa. Quando seguro uma faca, me lembro daquele trabalho, então é por isso que eu não seguro facas. Mesmo se você lavá-las num rio, o cheiro de sangue e órgãos nunca irá desaparecer. A pior parte era mostrá-la para pessoas vivas, porque elas sabiam que seriam esfaqueadas. Sempre imaginei como elas se sentiam. Eu me lembrava de quando eu era estapeada. Não queria morrer. Eu também tinha que enterrar as pessoas mortas, mas já que cavar levava um bom tempo, o corpo apodrecia e ficava coberto de insetos, e isso causava um cheiro horrível. No entanto, eu me acostumei a isso, mas nunca quis me tornar uma pessoa dessas. Se alguém é devorado, esse alguém sempre será belo, certo?

— E então —, Mimizuku continuou, mas Fukurou repentinamente tampou a boca dela.

— Fgyah… — Ela fez um som estranho de surpresa.

Fukurou manteve a boca de Mimizuku violentamente fechada, e seu rosto tinha uma expressão indescritível, de ódio ou nojo.

— Basta. Não fale.

Mimizuku riu.

Ela riu espasmodicamente, e eventualmente caiu em um ataque de risos. Fukurou a soltou, e se virou em direção a pintura.

Um longo silêncio perdurou.

— Por quê? — Fukurou perguntou repetinamente.

Mimizuku inclinou seu pescoço e olhou de baixo em direção a Fukurou.

Os olhos de Fukurou encaravam Mimizuku.

— Por quê? Por que você não fugiu desse tipo de tratamento?

Mimizuku piscou várias vezes. Suas pálpebras tremiam secas.

— Hm…

Ela abriu a boca pra falar, mas permaneceu dessa forma fixa como se tivesse esquecido o que deveria dizer. O que ela deveria dizer? Que ela foi surrada, estapeada e oprimida. Esses eram os motivos pra ela nunca ter deixado o “vilarejo.”

— Não sei. Não sei o porquê. Eu odiava tudo aquilo, era doloroso e árduo. Algumas pessoas até mesmo se ofereceram pra me ajudar a sair de lá. Mesmo assim, eu não sei.

Se ela pensasse sobre isso, era realmente uma coisa estranha. Ela inclinou seu pescoço.

— Por quê? Não houve uma vez que eu tenha tentado escapar…

Era porque essa era sua vida. Esse tipo de vida diária era normal pra ela. E se isso era normal, ela sentiu que não tinha outra saída pra isso.

Mesmo que ela aceitasse esse tipo de tratamento, ela nunca havia realmente acreditado que esses dias acabariam.

— Então por que você está aqui agora? — Fukurou perguntou. Ele já tinha voltado a atenção para sua pintura e passava sua garra por ela.

— Uh, bom, eu acho…

Mimizuku sabia que podia responder essa pergunta. Ela sabia o motivo pra ela ter deixado o “vilarejo” pra trás.

— Eu notei que já estava cheia daquilo —, Mimizuku disse com um grande sorriso.

Ela se sentou no chão frio, e baixou suas pálbebras como se fosse dormir. No entanto, ela começou a falar como se estivesse cantando.

— Mimizuku dormiu no estábulo do cavalo. Ela estava escondida no feno. E o Sr. Cavalo sempre estava ocupado, sempre fazendo sons altos, porque as pessoas deixavam ele chateado. Ouvi dizer que todas essas pessoas mudaram por completo!

As pequenas lutas entre os ladrões sempre foram disputas territoriais.

As valas cresceram mais e mais fundo, até serem similares a oceanos, e eventualmente os ladrões assaltaram seu próprio vilarejo. Mimizuku não entendeu o que havia acontecido.

Gritos e berros atravessavam suas orelhas, e o som de chamas estalando aqui e ali podia ser ouvido.

E então veio o profundo perfume de sangue.

Antes de mais nada, homens segurando katanas invadiram o estábulo. Com uma mão grande, um deles arrastou Mimizuku, que estava enrolada no estábulo enquanto cobria seus ouvidos, para fora.

— Estou com a Mimizu. Ei, você aí com o cabelo vermelho, a bochecha dela tá sem ferida, leva ela.

Por algum motivo, essas eram as únicas palavras que ela podia lembrar.

Nesse momento, os pensamentos dela haviam parado, e ela não sentia mais qualquer dor ou perturbação.

O cenário parecia distante, como se tivesse sido queimado.

— “Garota escrava,” é? Isso foi o que ele disse.

Então o homem sorriu. Seus pêlos estavam arrepiados.

Ele demonstrou um tipo de reação enojada.

— “Interessante,” ele disse. Eu não entendo o que ele quer dizer com isso, mas é isso que ele queria dizer, então tanto faz, ele disse isso.

A cabeça de Mimizuku balançou para baixo.

— “Interessante.”

O homem de cabelo vermelho sorriu, e levou Mimizuku com ele.

A mente de Mimizuku estava perfeitamente parada. Ela realmente parado, ela já não pensava sobre mais nada.

No entanto, Mimizuku levou uma faca do estábulo com ela.

Era a faca que ela sempre usava para cortar corpos.

Ela sentiu como se tivesse gritado, como se algo tivesse se agitado em sua garganta. No entanto, ela realmente não lembrava de nada. Ele não conseguia lembrar de sua voz, ou se as coisas que ela gritou eram palavras reais.

— Eu esfaqueei ele. Sim.

Da mesma forma como ela fez com os corpos, ela cortou o abdomem do homem com toda sua vontade. Usando o centro como uma alavanca, ela cortou o corpo todo. Um berro que soava como roupa sendo rasgada surgiu. Era a voz do homem. O sangue de seu corpo era muito mais vivo e fresco do que o sangue dos velhos corpos mofados. Ele se espalhou pelo rosto dela e entrou em seus olhos. A visão dela ficou turva.

— Era a primeira vez que esfaqueei uma pessoa viva. O homem caiu após isso. Ele definitivamente morreu, sim.

Mimizuku riu.

— Ele definitivamente morreu, Mimizuku o matou.

Enquanto ela recontava a história, suor começou a escorrer por sua testa. Não era morno, mas sim estranho. Ela sentiu frio por todo o corpo, e seus dedos começaram a tremer.

Ela sempre foi ordenada a fazer coisas similares. Ela havia cortado corpos várias vezes.

No entanto, o que ela fizera foi fundamentamente diferente, e Mimizuku não podia compreender o significado de suas próprias ações.

— Então foi ai que eu pensei, “já chega”. Eu realmente achava que já tinha dado, eu estava muito cansada… — Ela se lembrou da ocasião. Ela estava cansada. Ela nunca havia ficado cansada antes disso.

Ela desistiu de tudo.

E então, ela se lembrou de uma história que ouviu há muito tempo. Ao longe do oeste, havia um lugar chamado Floresta da Noite, onde vários monstros viviam.

Diziam que não sobrava nenhum traço daqueles que eram devorados pelos monstros.

— Então eu andei até aqui.

Ela sentiu como se tivesse levado uma pancada na cabeça. Começou a se sentir tonta.

Mimizuku lentamente se levantou, e foi para mais perto de Fukurou, olhando o rosto dele.

Quando ela olhou para seus olhos de lua, ela sentiu-se tranquila.

Fukurou não a forçou sair, simplesmente fez uma careta desagradável para ela. Então ele abriu um pouco sua boca.

— Você ainda quer ser devorada por mim, garota que nomeia bestas?

Mimizuku imaginou por que ele estava perguntando a ela algo tão óbvio. Ela disse várias vezes que queria ser devorada por Fukurou, e desaparecer sem deixar traços. Foi isso o que ela sempre desejou.

É claro que quero!

Ela abriu a boca para dizer isso.

Ela não hesitou, e as palavras estavam prontas para sair.

Porém, seus finos e secos lábios não conseguiam dizer mais nada.

Ela abriu e fechou a boca num piscar de olhos como se fosse um peixe no lago. Mimizuku não entendeu por que ela não conseguia dizer isso.

— Uh, uh.

Mimizuku passou seus dedos pelos lábios de uma forma estranha. Ela queria dizer “Me devore.” Parecia que se ela pedisse, Fukurou realmente a devoraria agora mesmo.

Se ela realmente desejava isso, agora era sua oportunidade.

Meu desejo?

Seu desejo. Sua esperança. Isso é o que ela procurava.

— Eu, uh, Fukurou…

Ela se perdeu em pensamentos. Se ela não pudesse falar o que queria, então não havia saída.

Mimizuku continuou a falar.

— Ei… Tudo bem se eu dormir aqui hoje?

Nessa bela sala. Cercada pelas pinturas de Fukurou, Mimizuku pensou, que seria maravilhoso se ela pudesse dormir ali.

Fukurou parecia não prestar atenção para o pedido dela, e simplesmente se virou para sua pintura.

No entanto, ele não recusou, e Mimizuku ficou incrívelmente feliz. Era como se ele tivesse dito a ela para fazer o que quisesse.

Mimizuku se enrolou perto dos pés de Fukurou, e então quietamente caiu no sono.

Fukurou olhou para baixo em direção a ela por um tempo infinitésimo, e então voltou a passar suas garras pela sua tela, pintando. A porta para o escritório do rei se abriu num estouro, então uma forma humana entrou e afundou no sofá. O rei olhou pra cima de seus documentos e ergueu uma sombrancelha.

— Pra onde foi o cavalheirismo dos velhos cavaleiros?

— Talvez pro outro lado daquela estrela —, Ann Duke disse com indiferença, como se falasse de dentro do sofá.

— Meu Deus. Que jeito improvisado de fazer as coisas.

— O que quer dizer?

Sem se agitar ao mínimo pela pergunta do rei, Ann Duke surgiu do sofá e ficou cara a cara com o rei.

— Então, os preparativos para dominar o rei demônio estão indo bem?

O rei respondeu com silêncio. Ann Duke começou a falar com uma expressão cheia de seriedade.

A população está inclinada para a aniquilação do rei demônio. Ele não fez nenhum dano real até agora, e só é usado para assustar crianças que não se comportam. Eles só estão simpatizando com aquela garota que ele confinou. E agora também estão falando que a Brigada de Magos do rei já fez os preparativos.

O cavaleiro santo não sabia de nada disso. Ele estava na tropa dos cavalheiros, mas não estava no topo do grupo. Não tinha autoridade polícia, e suas habilidades eram usadas apenas para o propósito de batalhar. Ele era aquele que escolhera esse estilo de vida, a princípio trabalhando lentamente e ficando em casa.

— Está certo. Você, o cavalheiro santo, está encarregado de ultrapassar a guarda de ofensiva — o rei disse para Ann Duke de forma relaxada.

O rei então ergueu o rosto.

— O que você irá fazer?

Olhando diretamente para seus olhos, Ann Duke permaneceu calado por um tempo.

— …Para o público, parece que vamos salvar a menina, mas qual é o verdadeiro motivo para estarmos dominando o rei demônio? — Ann Duke perguntou num tom baixo.

— Pelo bem das pessoas desse país —, o rei respondeu, seu olhar fixo moveu-se um pouco para o lado.

Ann Duke sabia o que ele realmente queria dizer. O rei atual era um excelente rei. Seu país fora invadido muitas vezes, e ele o reconstruiu em uma geração. Ele formou a Brigada dos Magos através do uso das fortes tradições mágicas da região, e eles se tornaram seu exército. Ele fez as colheitas e comércio prósperos, e deu poder ao país.

Após centenas de anos, a lendária Espada Santa escolheu um mestre, e esse “Cavaleiro Santo” se tornou um símbolo de independência do Reino da Arca Vermelha.

No entanto, havia algo faltando. Ao fazer o rei demônio se render, eles ganhariam várias coisas.

Ann Duke havia entendido a predição do rei. Já se passaram dez anos desde que ele havia sido escolhido para ser o Cavalheiro Santo. Para Ann Duke, que perdera seu pai quando tinha muito jovem, o reino era como um pai, um parceiro, e um amigo. Ele nunca usou sua espada para seu próprio bem. Fossem seus inimigos humanos ou não, Ann Duke não causou mortes desnecessárias. Ele não tratou sua espada como uma decoração, pois ele sabia que quando a empunhasse, uma vida desapareceria.

— Então se chegou a esse ponto… Eu irei.

Deixando tudo isso de lado, ele encolheu um pouco seus ombros e, com um olhar confuso no rosto, deu um sorriso.

— Minha esposa não vai ficar feliz. Ela dirá algo do tipo, “Se você não pode salvar uma garotinha, então você não deveria deixar de ser um Cavaleiro Santo?”

Ele entendeu que, de certa forma, isso também era uma vitória para o rei. Mesmo o protetor da casa, o Cavaleiro Santo, não conseguiria erguer um dedo contra sua esposa. O rei sabia disso muito bem.

— Talvez Orietta também devesse se juntar aos postos.

O rosto do rei brilhou com essa ideia.

— A donzela do Cavaleiro Santo aumentaria a moral da Brigada dos Magos mais do que qualquer coissa! Com a mágica criada nesse templo…

— Ei, Sua Majestade. — Ann Duke interrompeu o rei, sorrindo.

— Vou te falar algo de antemão, — ele disse como se não fosse nada demais.

Embora ele falasse como se não fosse nada demais, sua voz estava num tom mais baixo do que o normal.

O rei respirou fundo sem nenhum motivo em particular.

— O modo como você usa o Cavaleiro Santo é problema seu. Você pode me mandar como algum tipo de amuleto, ou você pode me enviar para o campo de batalha contanto que seja por um bom motivo.

A partir dai, o sorriso no rosto de Ann Duke desapareceu.

— No entanto, se mandar Orietta para o campo de batalha, jogarei a Espada Santa fora, vou saírei do país e a levarei comigo. Ele disse claramente com um olhar cruel em seu rosto.

O rei não estava despreparado para destruir obstáculos de seu país. Ele era capaz de manter uma aparência legal, mas não poderia suportar uma rebeldia por parte de Ann Duke. Pois afinal, ele era o “símbolo” do país.

— Está ameaçando seu rei?

Diante dessas palavras, Ann Duke sorria claramente.

— Só estou sendo honesto.

Mimizuku acordou de dia ao som de pequenos pássaros batendo asas. Luz entrava pela janela gigante. A força da luz exibia céus ensolarados. Mimizuku gentilmente fechou seus olhos novamente, e voltou a dormir. O chão frio era confortável, e ela já parecia estar escapando de volta para o sono.

— Mimizuku.

Ao ouvir seu nome, Mimizuku despertou.

Enquanto erguia seu tronco, ela olhou em volta para ver que o mestre da sala não estava lá, mas então viu Kuro parado na grade da janela.

— Kuro!

Os olhos de Mimizuku brilharam ao ver Kuro. Kuro entrou na sala de maneira quieta.

A luz solar é bela de manhã, Mimizuku pensou.

— Que aparência. Mimizuku, tem grãos de madeira do chão grudados no seu rosto.

As palavras de Kuro eram tão gentis que Mimizuku riu enquanto passava sua mão pelas bochechas.

— Como vai, Kuro? Não é raro você vir a mansão?

— De fato. — Kuro acenou rapidamente com a cabeça.

— Mimizuku. Eu vim te contar algo.

— Me contar algo? O quê?

Mimizuku se arrastou para o parapeito da janela. Quando olhou para cima, Kuro estava olhando para baixo em direção a ela, e após um momento de hesitação, Kuro falou.

— Estarei ausente da floresta por vários dias, talvez um mês.

— Ausente?

Mimizuku inclinou seu pescoço. Kuro confirmou com um gesto.

— Pelas ordens do Rei da Noite, devo deixar a floresta por um tempo, e tomar conta de alguns deveres no mundo humano. Durante esse tempo, mesmo se você me chamar, sua voz não alcançará meus ouvidos. Por isso, cuide-se. Você consegue fazer isso?

— Sim senhor!

Mimizuku ergueu sua mão para o alto e deu uma resposta energética. No entanto, ela imediatamente olhou para baixo.

— O que quer dizer com “ordens do Rei da Noite”?

— Significa que… — Kuro começou a falar, mas então fechou sua boca. — Não posso dizer.

— Certo, tudo bem — Mimizuku sorriu. Ela não estava infeliz quanto a isso. Na realidade, ela estava feliz que Kuro veio contar a ela que estava se ausentando da floresta.

Kuro observou Mimizuku rir, e eventualmente abriu sua boca para falar.

— Mimizuku, nesse momento, antes que eu vá para a floresta, a contarei uma lenda.

— Lenda?

— Exato. Uma história de muito tempo atrás.

Mimizuku não conseguiu entender a intenção das palavras repentinas de Kuro, mas ela não tinha nenhum motivo para não ouví-las.

— Muito bem então…

Sentando-se no chão com os grãos de madeira, Mimizuku esperou Kuro falar.

Após um pouco de hesitação, Kuro fez um movimento como se estivesse coçando sua bochecha, e então começou a falar.

— Essa é uma história que ocorreu há um bom tempo. É uma história que foge um pouco da insensibilidade do fluxo do tempo.

Ele falou alto e apressado com sua voz quebrada. Ele podia ser comparado a um trovador recontando a história épica de um herói. — Essa é a história de um prícipe que viveu em um reino que foi destruído eras atrás.

Mimizuku inclinou a cabeça. Era como uma história de outro planeta.

Kuro não parou com seu discurso.

— Era longe, muito longe. Se você atravessasse várias montanhas e fosse um tanto para o norte, onde a pele humana muda de cor, você encontraria esse reino. Eles não escreviam, e não podiam caçar. No entanto, esse reino nunca foi pobre, porque numa certa montanha naquele país tinha um mineral deslumbrante. As pessoas minavam esse mineral, faziam produções com ele, e vendiam-no, ganhando muita riqueza no processo. O estilo de vida do rei também era marcado pela abundância. Ele era capaz de contratar mercenários, e isso aumentava seu poderio militar. Embora a terra fosse coberta por neve profunda durante o inverno, isso apenas tornava a efêmera primavera mais bonita.

— Neve…

Mimizuku não conseguia imaginar uma coisas dessas. Ela pesquisou seus pensamentos e memórias, e ela então pensou num belo pó branco.

— As pessoas eram ricas. A família real era rica. As pessoas tolas minavam cada pedaço de mineral da montanha.

Nesse ponto, o tom da voz de Kuro diminuiu.

— Todas as coisas que tenham forma desaparecem num certo ponto. Essa é uma das verdades lógicas do mundo. No entanto, com o tempo, as pessoas se esquecem disso. O mineral acabou. As pessoas começaram a lutar entre si, tentando juntar tudo o que pudessem do pouco que restava do mineral. Quando o rei pensou sobre o que fazer, ele decidiu que o restante do mineral seria confiscado por força. Com o potêncial de indústria deles desperciçado, o rei não podia fazer nada para ajudar as pessoas a se livrarem de sua dependência do mineral.

A história foi árdua para que Mimizuku entendesse, e ela se confundiu pensando sobre isso. No entanto, ela decidiu acompanhá-la de qualquer forma, e permaneceu quieta ouvindo a história de Kuro.

— Agora, a família real tinha um príncipe. Ele nasceu quando o mineral estava começando a desaparecer. Então, ele era envolvido por olhares frios das pessoas. Embora o desaparecimento do mineral fosse natural, como é a atitude natural dos humanos, eles precisavam culpar alguém fora eles por suas dificuldades. O príncipe nasceu com a dificuldade da perseguição. Ele foi tratado como um príncipe. Ele tinha coisas para vestir e comer. No entanto, o rei e a rainha, que eram seus pais, não o amavam. Mimizuku pensou em silêncio.

O que isso de “ser amado” significa?

— O patrimônio do príncipe era a solidão. No entanto, ele nunca pensou em terminar sua vida. Ninguém era gentil com ele, mas ele pensou que o cenário de seu país era belo demais para palavras descreverem. Ele pensou em dar forma para aquele belo cenário refletido em seus olhos. Para fazer isso, o prínicipe pegou um pincel, e começou a pintar um quadro.

— Ah...

Aqui, Mimizuku havia entendido o que, ou melhor, a quem a história de Kuro se referia.

Kuro não respondeu, e continuou a contar a história.

— Logo, uma revolução ocorreu no país. Pessoas que estavam no limite da fome devido ao desgoverno do rei colocaram o castelo em chamas. O príncipe, que vivia numa construção separada, também foi trazido diante do público. Como uma encarnação da diversão deles, eles colocaram a pintura que o príncipe fez em chamas na praça da cidade. Foi arrasador para o príncipe, que não tinha nada além da pintura em sua vida.

Mimizuku olhou para Kuro pálida e espantada, como se tivesse visto toda a cena diante dela.

— O príncipe havia sido trancafiado numa torre alta até o dia de sua execução. Na sala, com nada além de uma janela trancada por barras de ferro, o príncipe, preso em correntes, continuava a pintar, pouco a pouco, até o dia em que teria sua cabeça decapitada. — O que ele usou para pintar? — Ela perguntou, pensando que a situação era estranha.

— Ele não usou nada. Ele não tinha pincéis. O príncipe mordia seu próprio dedo e desenhava nas paredes com seu próprio sangue, como se estivesse possuído. Talvez ele já tivesse ficado louco antes; aquele príncipe que vira apenas o lado ruim das pessoas. Mimizuku se engasgou como se estivesse sem ar em admiração pelo príncipe. Era um tipo de entendimento profundo. — A pintura tinha a mais profunda cor vermelha. Sua beleza era sublime. A pintura era feita com ele raspando sua existência. Antes, Kuro havia dito, “Pinturas que usam o vermelho são as mais belas.” Mimizuku não conseguia ver inconsistência em suas palavras. Ela tinha chegado a entender tudo o que havia levado a esse ponto.

— Aquela pintura podia até mesmo invocar monstros. Eu a vi com meus próprios olhos. E também vi o abatido e injuriado príncipe. Ele era um humano, ao mesmo tempo que tinha aquele espírito, aquele poder mágico. Perguntei se ele ainda queria viver. Perguntei se ele não gostaria de deixar de ser um humano. Ele respondeu diretamente.

É isso mesmo, Mimizuku pensou. Foi assim que aconteceu.

— Foi quando ele veio para essa floresta e tomou a posição de Rei da Noite. Ele ainda está vivo. Quando ele desaparecer, todo o seu poder mágico voltará para a terra, e criará um novo rei. No entanto, há outra forma de substituí-lo. Se o rei atual escolher um sucessor, então dessa forma, qualquer um pode se tornar o rei. A pessoa receberia os olhos de lua. Eu sou aquele que disse para o príncipe ir para a floresta. Ele foi e conheceu o rei. Ele não era um humano, mas um rei, e dessa forma, dizem que o rei conheceu o rei. E então o rei foi escolhido.

Após isso, Kuro falou mais uma vez.

— O rei foi escolhido pelo mundo.

Kuro geralmente fazia referências ao mundo. A seleção do rei, permissões. Todas essas eram escolhas do mundo. Era assim que o mundo dos monstros se resolvia.

— Minha história acaba aqui.

Kuro gentilmente pôs um fim a história. Por quê? Mimizuku pensou. Por que Kuro me contaria uma história dessas…?

— Bom, agora é hora de deixar a floresta para trás.

Kuro repentinamente voou para cima.

— Espero que nos encontremos novamente, Mimizuku.

— Se o destino permitir isso? — Mimizuku perguntou.

— Gyagyagyagya! — Kuro riu. — Sim, se o destino permitir isso. Vamos nos encontrar novamente, Mimizuku!

Kuro então desapareceu como um punhado de fumaça. Mimizuku ficou de pé e se apoiou para fora da janela. Ela seguiu Kuro apenas com o olho de sua mente.

Então de repente, Mimizuku percebeu que suas bochechas estavam úmidas.

— … Uh?

Enquanto ela piscava, viu transparentes partículas de água cairem.

— O que é isso? Estou doente?

Mimizuku enxugou as partículas de água em pânico. Não era a primeira vez que isso aconteceu, mas ela não tinha memória das outras vezes. Mimizuku pensou que as partículas eram um tanto quanto parecidas com suor. Então, enxungando as partículas que caiam de seus olhos, ela se virou em direção a floresta por onde o sol estava nascendo e correu para fora da mansão para tentar encontrar mais coisas bonitas, assim ela poderia encontrar Fukurou novamente.

A lâmpada feita com poder mágico soltou um brilho vermelho que não era natural, como uma laranja madura e amarga. Os magos, cobrindo o som de suas respirações, estavam se encontrando na entrada para a Floreta da Noite. Cada um deles usava um capuz sobre seus olhos e segurava uma velha cana de carvalho.

— Não há lua hoje — disse Ann Duke como se as palavras tivessem vazado de seus lábios. Ele estava revestido por sua armadura. — É uma pena. Dizem que a lua que se ergue sobre a Floresta da Noite é incrívelmente bela.

Uma voz brotou diretamente detrás dele.

— Não há o que ser feito, Sr. Cavaleiro Santo.

O dono da voz usava um capuz como o resto dos magos, e também segurava uma cana de carvalho em sua mão enrugada. Havia vários anéis em seus dedos para ajudarem na magia.

— Nós esperamos pela lua nova. O poder mágico do Rei da Noite caí um pouco durante a noite da lua nova. Se queremos fazê-lo se render, não podemos deixá-lo escapar.

— Vocês firmarão juntos o esforço conjunto do orgulho de nosso país, Brigada dos Magos? Consegue fazer isso, Sr. Riveil? — Ann Duke perguntou, sorrindo casualmente como sempre.

— Provavelmente.

Houve uma pusa entre a pergunta de Ann Duke e a resposa de Riveils, mas não era porque ele estava confuso com isso. O que surgiu entre suas palavras foi seu pequeno orgulho e presunção.

— Provavelmente. Contanto que você, Sr Cavaleiro Santo, empunhe a Espada Santa, não podemos ser derrotados, eu acho.

Ann Duke resmungou, sem emoção para as palavras de Riveil. Ele olhou ao seu redor, para a Floresta da Noite que permanecia em estranha calma. Após um pesado silêncio, Riveil falou como se fosse um soldado de reserva sem habilidades.

— No entanto, se a Brigada dos Magos estiver aqui quando o Rei da Noite recuperar seu poder pela manhã, então nós seremos...

— Não quero ouvir isso — Ann Duke disse, cortando o que ele dizia com sua voz suave. — Não me importo se você conseguir fervê-lo e devorá-lo. Só estou aqui para salvar a garotinha que ele capturou. Vocês estão aqui para capturar o rei demônio, certo? Vamos simplesmente deixar assim por hora.

Ele nunca falara num tom áspero. No entanto, Riveil manteve suas reclamações para si mesmo e parou de falar.

— …As preparações da barreira parecem estar completas — Riveil respondeu num tom majestoso.

— Entendi — Ann Duke acenou brevemente. Ele fechou suas pálpebras como se fosse cochilar.

— Sr. Cavaleiro Santo…!

Aconteceu enquanto as sombras começavam a aumentar.

Uma sombra gigante surgiu dentre a escuridão, os magos gritaram, entrando em posição de luta com seus cajados. No entanto, Ann Duke foi mais rápido ao tirar sua espada e derrubou o monstro com um único golpe.

A enorme criatura soltou um grito de outro mundo e desmaiou.

Os magos prenderam a respiração. Eles não poderiam imaginar tamanha habilidade impiedosa de empunhadura vinda do sempre gentil Ann Duke.

Na escuridão, uma luz fraca emanou da Espada Santa.

— Quantos de vocês podem invocar magia? — O Cavaleiro Santo disse, ainda voltado para trás em direção aos magos. Seu tom de voz baixo tomou forma na escuridão e chocou o ar.

— Eu… Eu e esses dois jovens homens, senhor…

Apenas três magos eram capazes de invocar mágica diretamente para capturar o Rei da Noite. O resto estava ali para amplificar e prestar assistência a esse poder mágico.

Ann Duke sentiu como se o cabo de sua espada estivesse preso a sua palma. Se ele fechasse seus olhos, pensava poder ouvir vozes. Elas chamavam a espada dormente, da mesma forma como fizeram quando ele era um jovem garoto.

No momento que ele puxou a espada de sua bainha, seus sentidos ficaram mais aguçados, e o mundo mudou para uma cor fria. Em algum lugar de seu coração, ele se sentiu feliz por estar aniquilando o rei demônio.

Se eu ao menos pudesse usar essa espada, que não consegue mais nada além de tirar vidas, para salvar alguém. Ann Duke pensou isso, mas apenas por um momento.

— Cortarei todas as bestas que entrarem em nosso caminho. Não entrem no raio de alcance da espada. Não preciso dizer que vocês acabarão feridos.

Ele olhou para trás por um segundo rápido. Mesmo na escuridão, seus olhos brilharam com um profundo azul brilhante.

— Porque não garantirei a sobrevivência de vocês.

Riveil foi o único que conseguiu acenar com a cabeça.

O começo da luta fora declarado. O Cavaleiro Santo empunhou sua espada.

Agora não havia mais volta.

Mimizuku, dormindo nas raízes de uma árvore gigante, sentiu como se pudesse ouvir alguém gritando desesperadamente, e acordou em pânico.

— Hã? O que está acontecendo?

Algo estava estranho. Deixando de lado que não sabia o que estava acontecendo, ela olhou em volta inconfortável.

A escuridão gritava. As árvores e folhas pareciam estar gritando como se tivessem sido cortadas.

— O quê? O que é isso?

Ela olhou para cima em direção ao céu. Não conseguia mais ver a lua. Um frio arrepio correu pelas suas costas.

Eu tenho que ir!

Mimizuku chutou o chão, e suas correntes fizeram barulho.

Ela correu para a mansão de Fukurou. Ele tinha que estar lá. Mimizuku não tinha nada belo para ele hoje, mas mesmo se fosse rejeitada, ela sabia que tinha que ir.

— O-O quê?

Enquanto se aproximava da mansão, ela percebeu algo horrível.

— Ah… Aaaaaaah!!!

Ela gritou de forma não humana.

A mansão estava em chamas. As ardentes chamas vermelhas pareciam envolver a mansão como se rastejassem em volta dela.

Por quê? Mimizuku pensou. Por quê?!

Correndo para mais perto, ela forçou a porta meio aberta e se apressou para dentro. As chamas se aproximavam para o centro da mansão pouco a pouco. Mimizuku subiu as escadas, sentindo como se estivesse queimando pelo fogo do inferno.

Ela correu para a sala de Fukurou.

O Rei da Noite estava de pé lá, no centro da sala.

— Fukurou… Fukurou! Fukurou!! — Mimizuku gritou. Fukurou se virou lentamente. Seus olhos estavam com uma cor gelada de ouro, e pareciam trêmulos ao refletir o vermelho das chamas.

Eles não exibiam emoção alguma.

— Fukurou! Não adianta! Pare com isso!! — Mimizuku exclamou. Ela bateu seu punho contra a parede várias vezes, que estava descascando com o fogo. Mimizuku esqueceu que podia acabar se queimando.

— Pare com isso! Pare com isso!! Sua pintura! Sua pintura vai queimar!!

A fumaça entrou em seus pulmões e ela começou a tossir violentamente. Mesmo assim, Mimizuku tentou tirar a pintura da parede para protegê-la.

A pintura vermelha do pôr-do-sol, que estaria acabada em breve, se dispersou nas chamas.

— Nããããããão!!

Mimizuku uivou feito um animal. Ela se moveu em direção as chamas, mas Fukurou a segurou.

— Chega.

Com a voz fria de Fukurou alcançando os ouvidos dela, Mimizuku se virou.

— É horrível! Não posso salvá-la!

Mesmo sendo tão bela.

Mesmo sendo uma pintura que você fez!

Seu grito desapareceu com um ruído sinistro vindo da mansão. Era um som baixo que parecia uma explosão.

O chão ruiu debaixo dos pés deles.

— Gyaah!

Todo o meio do andar superior da mansão caiu. O teto havia se desintegrado, então Mimizuku e Fukurou não foram esmagados até a morte. Mimizuku estava confusa, sem saber quem ou o que causara a explosão.

— Ah... a...

Suas correntes queimavam com um vermelho escaldante.

Ela sentiu como se o mundo todo estivesse ruindo.

Mas no meio disso tudo, ela pensou que podia ouvir algo.

Em algum lugar, alguém estava dizendo algo.

Ela ouviu uma voz.

— Por aqui!

Na visão dela do mundo queimando, a voz era poderosa.

— Por aqui! Me dê sua mão!

Do outro lado dos escombros da mansão, alguém estava de pé. Era um homem com cabelo loiro e olhos azuis. Ele tinha uma espada em uma mão, e a outra se estendia para Mimizuku.

— Heein!?

Mimizuku fez um som estranho.

— Eu!?

Era uma voz selvagem que não se encaixava na cena tênue;

— Sim, você! Eu vim salvá-la!

A voz que respondera era forte sem limites.

— Salvar?

Ninguém nunca havia estendido a mão para Mimizuku dessa forma.

— Veio salvar…?

Ela sentiu como se tivesse desejado por isso antes, há muito, muito tempo, quando era pequena.

Ela desejou que alguém a levasse. A levasse para a felicidade.

Para… A felicidade…?

— Eu… Eu…

Suas palavras tremiam. O corpo de Mimizuku estava coberto de medo, para o destino de repente se estendeu para ela.

— Pegue minha mão! Não tenha medo!

— Mas…

— Está tudo bem!

Algo assim. Forte. Mesmo se fosse uma mentira, alguém falar para ela “Está tudo bem!”…

Ninguém nunca a dissera isso antes.

Como se tivesse sido atraída, Mimizuku deu vários passos pequenos em direção a voz. Mas ela se virou. Ela olhou para Fukurou. Parecia que o corpo de Fukurou estava sendo puxado por uma corda fina e invisível.

Fukurou encarou Mimizuku nitidamente com seus olhos de lua. Ele falou.

— Vá. Garota que nomeia a bestas. Não há mais motivo para você ficar aqui.

E então, Fukurou se moveu de forma não natural, e parecia involuntáriamente estender seu braço, passando seu longo dedo pela testa de Mimizuku.

Após um momento, o corpo de Mimizuku começou a se mover sozinho. Sozinho, mas sem hesitação, Mimizuku intencionalmente segurou a mão.

Não era o “rei dos monstros”, mas sim o Cavaleiro Santo.

A mão que havia se estendido para ela. A morna carne humana. Ela a envolveu. Ela a erguiu.

Ela foi salvada, como se fosse amada.

Mesmo assim, por algum motivo, Mimizuku queria chorar.

Ela queria, de alguma forma, e com muita vontade, chorar.

Ela estava com uma dor de cabeça intensa. Sua testa estava quente. Ela queria gritar.

Pondo de lado o fato que ela nunca soube o que eram lágrimas antes, ela queria chorar.

...Assim mesmo ...Eu desejava poder ter sido devorada por você assim mesmo.