Nekomonogatari Branco ~Brazilian Portuguese~/Tigre Tsubasa/060

From Baka-Tsuki
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060[edit]

Eu duvido que exista alguém em nossa moderna sociedade que nunca tenha considerado o quão maravilhoso seria se o cérebro humano fosse capaz de ser gerenciado como o HD de um computador.

Em outras palavras, ser capaz de fazer memorias (arquivos) desaparecerem, fazê-las inexistentes, quando não quiséssemos lembrar delas, ou ser capaz de substituir nossa realidade caso não quiséssemos enfrentá-la, remover todo tipo de trauma, medo, e desagradáveis, não tratadas memórias — o quão maravilhosos um cérebro assim seria.

Mas — por alguma virada do destino, parecia que eu possuía tal maravilhosa coisa.

Eu jogo fora minhas memórias, jogo fora meu coração.

Seria muito fácil de entender se você considerar o exemplo mais recente, que seria a minha conversa com o Episode-kun essa manhã a caminho da escola — lembrando dos acontecimentos das férias de primavera, eu estave, da minha própria forma, com medo dele até mesmo enquanto eu conversava normalmente (no ponto de vista de outro alguém deve ter parecido anormal).

Eu estava tendo uma conversa agradável com alguém que tentou me matar.

Poderia algo ser tão antinatural?

Minha descoberta de que ele era alguém surpreendentemente fácil de se conversar não deveria ser o ponto. Talvez se eu fosse um personagem de uma história em quadrinhos ou de uma novela da TV — mas, como um real ser humano, por que iria eu fazer algo tão terrívelmente anormal?

Não era claramente antinatural?

Eu fui a única que percebeu.

Porque — eu tinha me esquecido.

Claro, eu não tinha memórias de quando minhas entranhas foram explodidas (eu tinha achado que isso era graças ao choque mas aparentemente não era) — mas eu esqueci da sensação de medo que eu tinha por ele naquele momento.

A carne pode lembrar.

Mas o coração esqueceu.

Não, certamente até a carne esqueceu também.

É por isso, mesmo depois de algo desse nível acontecer comigo, que eu podia viver todo dia de forma total — Araragi-kun pode viver inflamado por seus arrependimentos todo dia, mas esse não era o meu caso.

Eu não sabia quando começou.

Eu não sabia quando que me tornei capaz de imitar um computador dessa forma.

Porém, baseada em minha atual condição, deve ter sido antes de ter me tornado Hanekawa Tsubasa — eu devo ter sido capaz de fazer isso, inconscientemente, antes de me tornar velha o suficiente para entender, caso contrário a história se tornaria incoerente.

Eu não sabia por que eu me tornei capaz de fazer algo tão conveniente ou talvez até habilidoso, por que eu aprendi essa habilidade que parecia de anormalidades.

Era provavelmente isso — o gatilho para tudo isso foi aquela primeira memória que cortei de mim.

Era bem simples de imaginar — até mesmo antes de conhecer a anormalidade chamada Sawari Neko, eu já era algo anormal. Finalmente senti o peso das palavras do Oshino-san, sobre como eu era mais espectral que qualquer outra pessoa, e que a anormalidade não foi nada além de um gatilho para mim.

Não, talvez nem mesmo o Sawari Neko existiu de verdade.

Ao invés disso, Black Hanekawa — pode ter sempre existido dentro de mim.

E talvez,

o Inflaming Tiger também.

Independentemente do quanto queremos esquecer — o passado sempre se delongaria ao redor dos seres humanos.

Ele sempre nos atormentaria.

E talvez, isso nunca vá terminar.

Oshino-san pode ter me dado vinte anos como referência, mas eu não acreditava que esse número poderia ser confiável — e no final, enquanto eu continuasse a desejar por isso,

enquanto eu continuasse do jeito que eu era

então por toda eternidade —

continuarei eu dessa forma.

Assim como Sherlock Holmes não teve permissão nem de morrer, e foi forçado a continuar seu esforços até mesmo depois de sua aposentadoria — sempre continuando.

Eu talvez continuaria.

Eu certamente continuaria.

... Mas esse era o fim.

Encerremos isso.

Não havia escolha senão acabar com isso — esse era o limite.

Seria ridículo continuar dessa forma depois de quinze, ou até dezoito anos.

Era hora de parar de enganar a mim mesma.

Afinal, era mais ridículo ainda que um absurdo desses tivesse sido até mesmo aceitado — ainda que só pudesse terminar em tragédia.

Enganos não mais funcionariam a esse ponto.

Esse não só era meu limite — era o fim da linha.

Após isso, eu continuei meu trabalho de construir nossas torres com as irmãs Araragi (no final, Tsukihi-chan foi a única que ganhou. Eu fui o mais longe que pude, mas eu simplesmente não conseguia subir minha torre. Então até você tem coisas que não consegue fazer, disse Tsukihi-chan), jantei com os pais do Araragi-kun depois que chegaram do serviço, e então me tranquei no quarto do Araragi-kun no segundo andar.

Ainda que fosse só o meu segundo dia, eu me senti ficando estranhamente acostumada com esse quarto, embora eu suponha que esse era o quarto do Araragi-kun, afinal de contas.

A primeira coisa que eu fiz foi abruptamente me jogar na cama, ainda vestindo meu uniforme, e enterrar a cabeça no travesseiro.

"Uh..."

Dei voz à minha exaustão.

Mas — eu não estava abatida.

Se alguma coisa, eu estava tensa.

"Eu posso não te ver de novo — Araragi-kun."

Mas nada poderia ser feito sobre isso.

Afinal, se minha dedução era correta — e era — então o Inflaming Tiger apareceu nessa cidade porque o Araragi-kun estava ausente.

Eu me estatelei na cama por outros aproximados cinco minutos.

Isso não era sem sentido. Havia um significado.

Isso era como a marcação de território de um animal — eu estava deixando vestígios de mim na cama do Araragi-kun.

Os vestígios que eu não queria deixar na casa dos Hanekawa.

Eu estava tentando deixá-los aqui — no quarto do Araragi-kun.

Certamente, Araragi-kun perceberia.

Mesmo se nós nunca mais nos vermos, na próxima vez que ele dormir nessa cama ele provavelmente lembrará um pouco de mim.

Eu tenho que me contentar com isso.

Eu tenho que estar satisfeita. Complacente.

Mesmo que Araragi-kun retorne de forma segura e eu estivesse lá para dar as boas vindas a ele — até lá, o eu que Araragi-kun conhecia já teria se ido.

Exatamente como o Episode-kun tinha dito que o eu das férias de primavera e o eu de agora eram como duas pessoas diferentes — e ainda mais que isso, eu certamente iria encontrar o Araragi-kun como outro eu.

Era isso que significava — era andar uma casa para fora do passado.

Era andar uma casa rumo ao Tigre.

"Bem. Terminei por aqui."

No final, não conseguia dizer se o aroma que eu exalava pertencia a mim ou ao Araragi-kun, mas quando o relógio bateu sete e meia, eu finalmente comecei a agir.

"Ah, não. Tenho que me apressar."

Eu me desliguei por muito tempo.

Bem, vendo como a casa dos Hanekawa queimou pela manhã, havia pouco motivo pra pensar que o Tigre era noturno como o Gato — porém, era provavelmente um bom começo para referência.

Primeiro, eu tirei meu uniforme e o coloquei em um cabide.

Depois disso, eu revirei os cabides do guarda-roupa do Araragi-kun, encontrei algo entre as roupas casuais que parecia ser mais confortável de se mover dentro, e as coloquei.

Embora eu já tenha pego emprestado os pijamas dele, eu me senti um pouco inquieta pegando suas roupas casuais sem perguntar, mas considerando o quanto Araragi-kun sempre quis me ver usando roupas casuais, suponho que isso seja exatamente o que ele queria.

Começando a me sentir um pouco peralta, comecei a pensar que talvez eu deveria tirar uma foto de mim e mandar pra ele — embora não soubesse em que situação ele estava.

Porém, como poderia incomodá-lo, eu não tentei contatá-lo — embora agora que eu pensei nisso, talvez essa tenha sido só uma desculpa educada. Se eu estivesse realmente preocupada, eu iria imediatamente decidir entrar em contato com ele, assim como a Senjougahara-san o fez — não seria essa a coisa humana a se fazer?

Então eu deveria ser corajosa. Eu deveria mandar uma foto a ele, como encorajamento. Do jeito que eu estava, eu poderia ajudá-lo um pouco.

Eu peguei o celular do meu uniforme no cabide — e estiquei minha mão, tirando uma foto de mim mesma. Sendo uma garota colegial, eu tenho usado o celular por um bom tempo, mas essa era a primeira vez que tirei uma foto de mim mesma.

Tendo anexado a foto, mandei a mensagem para o Araragi-kun sem nenhum texto — e desliguei o celular.

A próxima vez que eu ligar esse telefone,

eu não estarei mais nesse mundo.

Então talvez isso não seja peraltice e sim assédio.

Era como mandar uma foto de funeral.

Era como um tipo de bullying, vindo de quem é conhecido por ser uma estudante de honra.

Cruel, do meu próprio jeito.

Mas agora, não havia mais nenhum arrependimento em meu coração.

Eu não mais tinha um coração para deixar pra trás.

Eu podia abrir meu coração — e me preparar.

Pegando a caneta e papel da minha mochila, sentei na cadeira e encarei a mesa do Araragi-kun. Porém, eu não estava revisando a aula de hoje ou me preparando para a de amanhã.

Sim, eu escreveria uma mensagem.

Eu iria redigir uma carta.

Eu hesitei com o começo, mas não havia sentido usar de cerimônias estranhas nesse ponto,

Para Black Hanekawa-san,

eu simplesmente comecei com essa linha

...Talvez esse não fosse um passo necessário.

Talvez eu estivesse fazendo algo sem sentido.

Eu posso não ter nenhuma memória de quando sou Black Hanekawa — mas certamente, Black Hanekawa tinha memórias de ser eu.

Mesmo assim, eu queria expressar os sentimentos que eu tinha, como eu mesma, para a eu que estava separada de mim, para ela.

Eu queria expressar a ela — a que sempre tem pego meu lugar, à escura, negra parte de mim, a ela que tem apoiado tudo para mim — meus sentimentos de gratidão, e meu último desejo.

Então,


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