Owarimonogatari: Volume 3 ~Brazilian Portuguese~/Inferno Mayoi/010

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010[edit]

Tadatsuru mais uma vez levanta seu olhar abaixado de volta em direção ao céu. O sol está baixando, e está começando a escurecer, então pensei que ele pudesse estar procurando pela primeira estrela no céu noturno, mas quando sigo o olhar dele dessa vez, posso claramente ver o que ele está olhando.

Bem, talvez não claramente — só consigo vagamente distingui-lo, mas ainda posso dizer com certeza o que isso é.

De cima no céu — ou melhor, do paraíso — está pendurado um longo, oscilante pedaço de corda.

“Pode ser mais preciso chamar isso de fio, em vez de corda, Araragi-san. Essa é a sua luz no fim do túnel. Bem, essa colocação pode fazer parecer que você está prestes a morrer, mas, nesse caso, quero dizer que isso lhe trará de volta para o mundo dos vivos.”[1]

Apesar da explicação da Hachikuji, em vez de luz no fim do túnel, a primeira coisa na qual eu penso quando ouço a palavra “fio” é a história do fio da aranha que Buda desceu do Paraíso para dentro do Inferno.[2]

Bem, a seda de uma aranha é aparentemente durável o bastante para ser usada em engenharia espacial, então eu não pensaria nela como sendo insegura... Mas qual era o nome do cara mesmo, Kandata? Como me recordo, quando ele tentou escalar o fio da aranha e chegar ao Paraíso, todos os outros pecadores tentaram ir com ele, e o fio acabou se partindo no momento em que ele disse para eles soltarem...

Nesse sentido, você poderia pensar nele como um fio criado para testar as pessoas — e quando considero que pode ser a Gaen-san quem está o descendo, isso soa ainda mais verdadeiro.

“Nós realmente estamos ficando sem tempo agora. Se você não se segurar nesse fio, você realmente será condenado a passar uma eternidade queimando no Avicii. Você será infinitamente atormentado por demônios de 89 olhos.”

“89 olhos? Tá falando de si mesma?”[3]

“Desculpe-me, erro meu. Quis dizer 64.”

“Bem assustador, de todo jeito...”

Esses são dois extremos bem grandes.

“Como tal, realmente sinto muito, Teori-san, mas eu poderia lhe pedir que essa conversa acabe aqui?”

“Espera um pouco, Hachikuji, isso não é jeito de se resolver as coisas. Pro inferno que vou deixar a explicação ser cortada no meio dela... Tadatsuru. A coisa que você poderia fazer como alguém de fora da rede é o que penso que tenha sido? Era que você poderia aceitar o pedido para exterminar Shinobu e eu — ou pelo menos fingir fazer isso?”

Na tentativa de pressionar Tadatsuru por respostas antes que o fio(?) desça do céu até chegar ao templo, tento antecipar o próximo ponto de sua explicação. Não estou sendo uma audiência muito educada, mas parece que fiz um bom chute:

“Imagino que você poderia dizer — a pretensão de um homem vivo fingindo aceitá-lo. Não posso dizer com certeza se era isso que o Oshino queria que acontecesse, no entanto,” é a resposta dele. “Considerando o estado da situação, Yozuru Kagenui verdadeiramente era a pessoa perfeita para seu papel em tudo isso, como alguém que existe dentro da rede, mas fora do controle da Gaen-san. Se eu fosse fazer uma manobra ilegal, ela com certeza iria impiedosamente me derrubar, sem ser nem um pouco levada pela emoção. E então, assim que os problemas com a sua condição física surgiram, Gaen-senpai colocou ela em combate...”

“...”

Gaen-san tinha despachado a Kagenui-san e a Ononoki-chan imediatamente, quase como se soubesse da mudança que ocorria em meu corpo — minha falta de reflexo — antes que eu pudesse sequer contar a ela sobre isso. Na época, percebi que essa foi mais uma demonstração de como ela “sabe de tudo” e estremeci em terror de sua clarividência — mas agora que o truque por trás disso foi revelado, mal havia algo de mais nisso. Ela simplesmente tinha previsto a reviravolta de eventos antecipadamente e tinha ela em sua agenda em adiantamento.

Claro, o fato de que o timing dela conseguiu ser tão pontual ainda é muito do seu feitio...

“Mas por que se incomodar...? Você não poderia ter simplesmente recusado o pedido?”

“Não havia nenhum motivo para recusá-lo, e mesmo que eu recusasse, o mesmo podia poderia simplesmente ter sido enviado para outro especialista. Gaen-senpai e eu concluímos que seria melhor seguir com o plano do ‘inimigo’ aqui.”

“I... inimigo?”

Não... um cliente?

Nesse caso, isso deve estar se referindo à pessoa que pediu que Tadatsuru exterminasse Shinobu e eu. As únicas pessoas que poderiam realmente chamar essa pessoa de inimigo não seriam Shinobu e eu, as duas pessoas em questão?

“Não mesmo. No mínimo, Deishuu Kaiki desapareceu desta cidade. Nem eu, nem a Gaen-senpai somos tão frios a ponto de permanecermos sem emoção perante isso.”

“Kaiki...?”

Vindo a pensar nisso, acho que a Gaen-san mencionou isso — ela disse que as informações por volta disso eram uma bagunça enrolada e que era difícil dizer o que era verdade, ou algo do tipo.

Acredito que ele seja do tipo de cara que não morreria mesmo que você o matasse, e tenho certeza de que a Gaen-san e Tadatsuru, seus antigos colegas, acreditam nisso ainda mais fortemente... Ainda assim, não é o tipo de coisa que eles podem apenas deixar de lado.

“Eu digo que nós seguimos o plano do inimigo, mas não é como se soubéssemos qual era o ‘plano’ — o sentido de tudo isso era o de descobrir isso. E mais, isso também serviu como uma medida vital para parar sua vampirificação de progredir ainda mais. Eu chegaria até aqui embaixo primeiro para servir como seu guia — embora, claro, eu acabei de fazer o papel de vilão, então tive que chamar a Hachikuji-chan aqui para me assistir.”

“Fiquei feliz em ajudar”, diz Hachikuji. “Foi uma participação especial. Eu seria um dos nomes que aparecem bem no final dos créditos. Ouvi que poderia vê-lo novamente, Araragi-san, então eu trabalhei de graça.”

“Seria absolutamente depressivo se você tivesse sendo paga pra fazer isso... Ainda mais depressivo do que acabar no Inferno.”

Então sou morto e reiniciado do zero, e então apenas as partes “humanas” do meu corpo são ressuscitadas... é isso? Se for esse o caso, parece que eles poderiam ter me contado de antemão, mas já que eles não contaram...

Pode ter havido um motivo para não me contarem. Talvez tenha algo a ver com a estratégia deles de derrotar o inimigo.

Não tenho nenhuma maneira de saber o que isso possa ser, no entanto.

“Claro, havia uma chance de que, após você ser morto com a lâmina demônio ‘Kokorowatari’ e revivido com a lâmina demônio ‘Yumewatari’, você simplesmente voltaria como seu eu vampiro, em cujo caso, nós estaríamos de volta para logo onde começamos. É por isso que, a fim de prevenir isso, era necessário ter um especialista como eu chegar primeiro que você no Inferno.”

Enquanto diz isso, Tadatsuru salta da caixa de oferendas — não tiro os meus olhos dele por um segundo, mas, no momento em que ele pousa seus pés, ele está vestido em trajes completamente diferentes. Eu usei uma palavra casual como “traje”, mas a roupa para qual ele trocou é cheia de dignidade e quase tão japonesa quanto se pode ser — e é altamente apropriada, considerando onde nós estamos agora.

Ele está vestido como um sacerdote xintoísta.

... Ter um corpo etéreo deve ser bem útil, se ele pode arbitrariamente trocar de roupas num instante desse jeito. Não estou exatamente com inveja, mas ele pode não ter estado mentido quando disse que estava vivendo uma vida de luxúria.

“Ambos Gaen-senpai e eu chegamos à conclusão de que não podemos consertar isso, nós não teríamos nenhuma maneira de contra-atacar o inimigo... Parece estranho estar de tal acordo com minha amarga rival, mas imagino que devo simplesmente elogiar as habilidades do Oshino como um mediador aqui.” “... As suas perguntas foram respondidas?”

Existem muitas outras coisas que eu gostaria de perguntar — mas é isso que eu mais quero saber agora.

“Você disse que embarcou no plano do Oshino porque não sabia o que ele estava pensando — você fez isso parecer ter sido o fato decisivo pra você, mas você sequer conseguiu a resposta pra isso?”

“Infelizmente, não. Mas eu tenho uma teoria — apesar de que seria bem presunçoso chamá-la de uma teoria minha. O crédito dela deveria ser inteiramente da Gaen-senpai. Gaen-senpai acredita que o motivo pelo qual Oshino está se mantendo escondido de nós, mesmo agora — ou, do meu ponto de vista, o motivo para seu desaparecimento — é exatamente o mesmo pelo qual Yozuru sumiu do mapa.”

“...?”

Que diabos? Isso não é só uma tautologia? É basicamente o mesmo que não dizer nada. É óbvio que a Kagenui-san desapareceu da mesma maneira que o Oshino — espera, não, isso não está bem certo.

Quando você coloca isso dessa maneira, o Kaiki desapareceu também. Então ele também deveria estar incluído nessa afirmação — mas ele é uma exceção, e somente o Oshino e a Kagenui-san estão colocados na mesma categoria.

Há uma chance para se lançar aí — ou, no mínimo, acho que a Gaen-san está tentando encontrar uma? Presa nesta situação em que não sabemos contra o quê estamos lutando, ela está tentando encontrar um plano de ataque...

“É aí que Gaen-senpai e eu vemos as coisas de modo diferente. Você me ouviu naquela hora, não ouviu? Eu disse para você ‘encontrar o Oshino’. Posso ver você não fez nenhum progresso nesse aspecto, contudo.”

“... Bem, a minha amiga está procurando por ele.”

Mais precisamente, a Hanekawa é a única que ainda tem truques em sua mangá que pode usar para encontrar o Oshino. Senjougahara e eu usamos todas as nossas conexões — e nós ainda não fazemos a menor ideia de onde ele esteja, ou se ele sequer ainda está vivo. Ela é a única que não desistiu.

Eu tinha descartado isso como uma impossibilidade, mas a única opção realmente restante é a de que ele está no estrangeiro, onde a Hanekawa está procurando agora...

“... Mas, basicamente, essa única fala não foi parte de uma atuação, hein? Apesar de toda a parte em que você fez parecer que a Ononoki-chan te matou...”

“Não foi apenas essa única fala. Pode ter sido que apenas um boneco meu foi morto, mas quase tudo que eu disse naquela hora era realmente o que eu sentia. A humilhação, como um usuário de marionetes, de ser manipulado por mais alguém — do seu destino estar nas mãos de mais alguém — não é particularmente agradável, afinal. Não foi um papel divertido de fazer — e para mim pareceu que as coisas se seguiram quase facilmente demais. Claro, metade desses sentimentos poderia ter sido direcionada àquele homem tão astuto, Oshino.”

“...”

“Eu sinto como se deveria me desculpar à Yozuru, contudo. Eu tive que fazer o papel do vilão, mas é ela quem teve que interpretar um papel verdadeiramente desagradável. Após usar sua shikigami para me matar, tenho certeza de que mesmo alguém como ela ficaria um pouco chateada... um pouquinho chateada...”

O sacerdote está perdendo suas palavras.

Bem, não comentarei isso. É um pouco difícil para um estudante do colegial como eu compreender o que se passa pela mente da Kagenui-san... Ainda assim, se eu fosse ser completamente franco, acho que existe uma chance de que ela possa ligar ainda menos que a Ononoki-chan.

“... Tudo bem se eu contar pra elas?”

“Hm?”

“Ononoki-chan... e quando nós encontrarmos ela, a Kagenui-san também. Tudo bem eu contar pra elas que você tava controlando uma marionete e que você não morreu de verdade naquela hora... sobre como você se fingiu de morto e de vivo? Dando um palpite, não é algo que você realmente queira que as pessoas saibam, certo?”

“Isso é verdade, mas depois de tudo que aconteceu, elas descobrirão eventualmente. Você poderia dizer que é uma boa oportunidade, ou talvez uma boa hora para eu pagar o pato. Desculpe-se a elas por mim, se puder.”

“De jeito nenhum.”

Por que eu teria que me desculpar?

As pessoas dizem isso o tempo todo, mas quando se pensa nisso, “desculpe-se para fulano por mim” é um pedido completamente injustificável. É isso que eu chamaria de arte da substituição.

“Se você quer se desculpar, faça por si mesmo. Você pode não ser capaz de voltar à vida, mas pode retornar ao mundo dos vivos usando outra marionete, certo?”

“Infelizmente, não é tão simples. Veja bem, morrer é uma ofensa grave e tanto. Não me deixarão sair ileso dessa simplesmente ao aterrissar no Inferno. Uma punição deve se adequar ao crime... Imagino.”

“...”

Então acho que o truque não é tão simples quanto pensei — embora eu não tenha muita certeza se foi uma decisão agonizante, deixar um de seus receptáculos ser esmagado aos pedaços provavelmente não foi uma escolha fácil de tomar também.

“Você, por outro lado, é sortudo e tanto no que você pode ser revivido em um instante pela lâmina demônio ‘Yumewatari’. Como o júnior dela, peço que você perdoe a Gaen-senpai por matá-lo sem explicar nada disso. Ela pensou que seria mais fácil lhe contar os detalhes quando você já estivesse no Inferno...”

“... Bem, já tô acostumado a ser jogado de um lado pro outro sem nenhuma explicação apropriada, então que seja. Mas...”

“Não há nenhuma necessidade de se preocupar”, Tadatsuru responde logo quando tento dizer algo, como se ele quisesse acalmar as minas preocupações antes que eu pudesse colocá-las em palavras. “Gaen-senpai não irá coagi-lo a ajudar com algum trabalho ridículo dela após isso. Se ela estava me contando a verdade quanto ao que planeja fazer, então você terá feito sua parte em tudo se simplesmente voltar à vida como um humano. Considere essa peregrinação pelo Inferno como uma hospitalização de curto-prazo para extrair o seu vampirismo — Gaen-senpai não irá demandar muito de você durante seu período de recuperação. O plano dela é de remover todas as fontes de aflição em face da iminente confrontação com o inimigo — ou, bem, se eu assumisse o pior dela, talvez ela quisesse testar as lâminas demônio ‘Kokorowatari’ e ‘Yumewatari’ também.”

“...”

Tenho certeza de que havia esse tipo de motivo ulterior por trás disso... Ou eu deveria dizer, quando a Gaen-san está envolvida, na verdade é mais preocupante se ela não tem um motivo ulterior.

Contudo, embora ele não estivesse completamente equivocado, isso não é exatamente sobre o que eu iria perguntar...

O sacerdote que acabou de descer da caixa de oferendas começa a caminhar num ritmo vagaroso, então vem a parar no momento em que se posiciona bem debaixo do fio balançando do céu. Então ele acena para que eu me aproxime.

“Vamos lá, Araragi-san.”

Hachikuji me dá um empurrão por detrás também — e com isso, não tenho escolha senão começar a me mover. De fato, “não tenho escolha senão me mover” — isso é sinceramente como isso parece para mim no momento.

O fio baixou o bastante para que eu pudesse pular e agarrá-lo — embora, uh, como se pode ver, o que eu pensava não ser uma corda não é um fio também.

É uma cobra branca.

Tem o rabo de uma cobra sendo pendurado.

... Eu deveria agarrar isso?

Acho que eu deveria apenas estar grato por não ser a cabeça que está sendo pendurada para baixo, mas, hmm, entendo, uma cobra branca é a deidade deste templo, afinal... Imagino que uma cobra é mais apropriada do que uma aranha aqui.

“O que há de errado, Araragi-san? Parece que você perdeu a calma. A cobra lhe deu um susto?”

“Quer dizer, não posso dizer que não deu... Cobras me dão algumas memórias bem traumáticas, sabe.”

“Se você ainda está preocupado com o que aconteceu com a Sengoku, acho que você há de ser menos duro consigo mesmo.” O trauma ao qual eu estava me referindo era o de simplesmente ser dilacerado por presas venenosas de uma cobra de novo e de novo, de ser levado à beira da morte, mas a Hachikuji menciona outra coisa — ela alcança ainda mais longe as profundezas do meu coração.

“No final, pode ter sido aquele vigarista que salvou a Sengoku-san, mas se ele não tivesse sido envolvido, talvez levasse um pouco mais de tempo, mas você poderia tê-la salvado no final. Eu acredito nisso.”

“...”

“Apenas pense nisso como ele roubando todo o crédito para si mesmo. Não se preocupe, posso atestar para você. Você é o mais forte.”

Eu nunca considerei isso como uma competição de quem é o mais forte... E para começo de conversa, eu não penso nisso em termos de vencer ou perder ou quem leva o crédito... Mas ouvir isso da Hachikuji me alguma paz de espírito.

Paz de espírito o suficiente para que eu não tenha nenhum problema em agarrar uma cobra.

Eu estendo minha mão — e agarro o rabo da cobra branca.

Ele dá um pequeno salto. Você está me dizendo que essa coisa está viva?

“Eu concordo com a opinião dela em relação a isso, Araragi-kun. Na verdade, tenho certeza de que é isso que o ‘inimigo’ teria preferido que acontecesse — não tanto quanto a parte de salvar Nadeko Sengoku, mas a parte sobre levar mais tempo. Você poderia dizer que é precisamente porque o Kaiki interferiu e tirou o plano de seu curso que a bola acabou na minha quadra. Originalmente, creio que você deveria continuar lutando contra Nadeko Sengoku por um período maior de tempo. Você deveria continuar se transformando em um vampiro em suas tentativas de salvá-la. Minha entrada em batalha foi uma garantia para o Oshino, mas provavelmente foi uma garantia para o inimigo também”, diz Tadatsuru do meu lado.

Agora que estamos falando de perto coisas extremamente pessoais assim, estou começando a me sentir nervoso por uma razão inteiramente diferente.

“... Ah, é, me esqueci de perguntar a você. Por que eu saí da trilha?”

“O quê?” pergunta Hachikuji.

“O motivo pra eu ter precisado de você pra me guiar. Como eu fui cortado no Templo Kita-Shirahebi no mundo real, mas acordei naquele parque no Inferno? Você mencionou que a gente tava corrigindo o que saiu dos trilhos — ou alterar o que deu certo. O que isso significa na verdade?”

“Hmm... Não há muito tempo, então eu não iria me incomodar de explicar tudo isso, mas isso está lhe incomodando tanto?”

“Eu não diria que tá me incomodando...”

Não.

Eu entendo. Estou apenas enrolando.

Escalar a cobra branca — e voltar à vida... Eu continuo adiando e adiando isso.

“Ainda assim, fiquei curioso. Bem, esqueça tudo isso de sair dos trilhos e o que seja. Você foi na frente e consertou isso pra mim, afinal — mas se você sabe o nome do parque, eu gostaria de ouvi-lo. É o parque em que você e eu nos encontramos pela primeira vez, mas eu ainda não sei como o nome dele é pronunciado.”

Parque 浪白. Poderia ser “Namishiro”, poderia ser “Rouhaku”... Se nenhum desses está correto, então eu sinceramente não faço ideia. Essa é uma leitura difícil demais para sequer aparecer num teste japonês... Eu acho que, se você realmente esticar isso, poderia ser “Roubyaku” ou “Namihaku”...

“É Parque Shirohebi.”

É Tadatsuru que responde.

“Parque Shirohebi é a pronunciação correta, se você voltar às suas origens.”

“... Hein? Shirohebi — que significa ‘cobra branca’?”

“Está escrito com o radical para ‘água’(氵) em vez do radical para ‘inseto’ (虫). Então o caractere para ‘cobra’ está escrito como沱em vez do típico蛇. É o mesmo caractere que se pode encontrar no termo ‘um rio de lágrimas’ (滂沱の涙)... Shirohebi, escrito como沱白. É disso que esta área era chamada, há muito tempo. Por conta de um erro de escrita, a algum ponto, o沱do nome se tornou浪. É por isso que é tão difícil de lê-lo agora.”

“沱 e 浪...”

Acho que... se poderia dizer que eles parecem bastante similares.

Um erro de escrita pode ser um pouco demais, mas somente ao olhá-los seria fácil confundir um com o outro. No mínimo, se você buscasse um deles num dicionário eletrônico usando uma entrada manuscrita, a estrutura do lado direito deles é similar o bastante para que o outro provavelmente surgisse na lista de resultados.

O último kanji de uma palavra ser lido primeiro não é algo desconhecido... Afinal de contas, a tendência de se ler palavras da esquerda para direita apenas se iniciou há relativamente pouco tempo[4]. Não é impensável que esse nome acabaria tão complicado após todo esse tempo... Então, Shirohebi?

Falando de cobras brancas...

“Templo Kita... Shirahebi.”

“Isso. É exatamente o que você está pensando. Foi onde o Templo Kita-Shirahebi foi originalmente construído — e é por isso que você acabou lá. Mais tarde, o templo foi desmantelado e reconstruído em uma nova locação... Você ouviu essa história?”

“Ah, sim...”

Eu me esqueci de quem ouvi isso, mas alguém me contou sobre isso. Se me lembro bem, eles “erraram na transferência”, ou isso acabou sendo a fonte da distorção, ou algo assim...

“Sim, ‘erraram na transferência’ seria uma avaliação precisa. Foi tão ruim quanto trazer um deus do oceano para uma montanha. Embora, falando estritamente, eu não deveria dizer oceano... eu deveria dizer lago.”

“Lago?”

“É por isso que o lado esquerdo é o radical para ‘água’.”

Ele conecta tudo junto com isso, mas a minha atenção é atraída por algo novo — um lago? Eu ouvi sobre isso de alguém também...

Mas antes que eu possa me lembrar por si só:

“Então, bem, você há de seguir seu caminho, Araragi-kun”, diz Tadatsuru, me instando junto. “Dê à Gaen-senpai minhas saudações — e à Yotsugi também. Eu não seria capaz de dizer isso à Yozuru, mas eu ficaria contente se você caducasse a Yotsugi um pouco mais no meu lugar.”

“Sim, saquei”, respondi reflexivamente, dando minha palavra antes que pudesse realmente parar para pensar no que eu havia acabado de concordar e, sob a pressão, eu finalmente digo o que estive realmente pensando nesse tempo todo:

“... Mas tá realmente tudo bem que um cara como eu volte à vida?”

Notas do Tradutor[edit]

  1. Em japonês, Hachikuji usou o termo "omukae". "Mukae", sozinho, é tipicamente usado para se referir a um motorista ou alguém que vem lhe pegar ou lhe deixar em casa, mas se o honorífico polido "o-" é adicionado ao início da palavra, ela tipicamente se refere ao ser que vem lhe levar para o próximo mundo após você morrer.
  2. Esta é uma referência a The Spider's Thread (O Fio da Aranha), um conto escrito por Ryunosuke Akutagawa. Um dia, Buda olha para as profundezas do Inferno e vê Kandata, um criminoso de coração frio que tem uma boa ação levada ao seu nome: ele decidiu não esmagar uma aranha debaixo de seu pé quando estava caminhando pela floresta um dia. Inspirado por esse ato de compaixão, Buda desce o fio de uma aranha para dentro do Inferno para dar a ele uma saída. Contudo, depois que Kandata começa a escalar o fio, outros pecadores se agrupam nele e começam a escalá-lo também; temendo que o fio se quebre, ele grita aos outros que o fio é somente dele. Por conta de sua ação egoísta, o fio se parte e ele é condenado ao Inferno mais uma vez.
  3. Outra parte do que se sabe sobre o Avicii é que ele é habitado por terríveis demônios que respiram fogo e têm 64 olhos. A observação feita quanto ao número 89 é outro trocadilho com o nome da Hachikuji.
  4. Originalmente, a escrita japonesa em horizontal era lida da direita para a esquerda. Foi após a Segunda Guerra Mundial que essa leitura foi mudada para da esquerda para a direita, como em línguas ocidentais (Textos em vertical ainda são lidos da direita para a esquerda, no entanto).


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