Suzumiya Haruhi:Volume2 Capítulo5br

From Baka-Tsuki
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Capítulo 5


Era uma manhã de segunda-feira... uma semana antes do começo do festival, e a escola ainda estava cercada por uma atmosfera de relaxamento. Será que a escola pensa mesmo em fazer um festival assim? A atmosfera no deveria ser um pouco mais viva? Como disse anteriormente, a atmosfera ainda era muito descompromissada, e eu estava me sentido bastante desmotivado. E ainda tinha de encarar coisas que me fariam ficar ainda mais desmotivado enquanto me aproximava da sala de aula.

Koizumi me esperava do lado de fora da minha sala. Você já falou demais ontem. Ainda tem mais?

"A sala 1-9 já começou os ensaios para a peça. É claro, eu só estava passando por aqui."

Seu rosto é a última coisa que eu gostaria de ver tão cedo.

"O que foi? Não me diga, aquela dimensão estúpida finalmente apareceu?"

"Não, ela não apareceu ontem. Parece que Suzumiya-san estava tão ocupada estando deprimida que não teve tempo de ficar frustrada."

Por que?

"Você sabe... ou pelo menos deveria saber. Bem, como você parece não estar entendendo, irei explicar. Suzumiya-san sempre acreditou que, não importa o que acontecesse, você seria seu único companheiro. Mesmo com reclamações, você continuaria a ajudá-la. Não importa o que ela fizesse, você era o único que a aceitaria."

Do que você está falando? Os únicos que poderiam aceitar seu comportamento são os santos que se sacrificaram em nome do Senhor. Que fique gravado, não sou nenhum santo, ou grande líder, só sou uma pessoa comum armada com bom senso.

"O que há entre você e Suzumiya-san?"

O que você quer dizer com 'o que há entre nós'?

"Você poderia a animar? Os pombos são bonitinhos agora, mas se ela continuar deprimida desse jeito, pode ser que aqueles pombos do templo se tornem algo bem diferente do que são hoje."

"Como o que?"

"Se eu soubesse, não estaria tão preocupado. Não seria uma bela coisa ver aquele templo infestado de criaturas pegajosas cheias de tentáculos, seria?"

"Tente jogar um pouco de sal."

"Isso não resolve todo o problema. Agora mesmo Suzumiya-san está em um limbo; ela tem tentado melhorar a situação ativamente fazendo esse filme. Mas tendo se desentendido com você ontem, sua energia está sendo canalizada em outra direção – do positivo ao negativo. As conseqüências poderiam se administradas se tudo acabasse aqui, mas se isso continuar, as coisas podem se tornar um pouco complicadas demais."

"Então, você está pedindo para que eu a console?"

"Não seria tão difícil, não é? Tudo que você tem de fazer é fazer as pazes com ela."

O que você quer dizer com fazer as pazes com ela? Eu não me lembro de ter me dado bem com ela para começar.

"Huh? Sempre pensei que você fosse uma pessoa calma e racional. Será que eu me enganei?"

Manti meu silêncio.

A razão para essa briga ter começado era porque eu não podia continuar vendo ela maltratando Asahina-san... eu acho... ou talvez eu estivesse com falta de cálcio. Então ontem a noite, bebi um litro inteiro de leite, surpreendentemente, meu temperamento melhorou muito desde então. De qualquer forma, leite é apenas uma forma de sedativo.

De qualquer forma, será que eu poderia engolir o meu orgulho e ir consolá-la? Não importa quantas vezes eu pense, no final é impossível negar que ela tenha ido longe demais.

Koizumi começou a ronronar como um gato de rua querendo comida, e me deu um tapinha no ombro.

"Estou contando com você, afinal, em termos de distância, você é a pessoa mais próxima dela."


Como não olhei para trás, não tive nenhum contato olho a olho com Haruhi, que sentava atrás de mim. Hoje, Haruhi estava prestando certa atenção especial para o céu, então gastou boa parte de seu tempo olhando para fora da janela, até mesmo na hora do almoço.

Por alguma razão, até mesmo Taniguchi estava enfezado hoje.

"Que tipo de filme é esse? Eu não sei porque perdi meu tempo indo!"

Durante o almoço, Taniguchi amaldiçoava enquanto mastigava a sua comida. Haruhi geralmente estava longe da sala, e hoje não era uma exceção; Ele só conseguia falar esse tipo de coisas quando ela não estava por perto. Taniguchi era o tipo de covarde que só falava esse tipo de coisa alto quando tinha certeza de sua segurança.

"É tudo culpa da Suzumiya. Essa vai ser uma porcaria de filme, podem anotar!"

Eu realmente não dou a mínima para a opinião dos outros. Não me considero um grande líder, e não pretendo deixar meu nome nos livros da história. Seu apenas um pequeno personagem resmungando sozinho em um canto. Sempre fui bom em achar as pequenas falhas da comida da minha mãe, mesmo que eu próprio não saiba cozinhar.

Mas havia algo ali que deveria esclarecer, então falei:

"A última coisa que eu quero ouvir são vocês reclamando."

Taniguchi, você já fez algo útil na vida? Pelo menos Haruhi tentou fazer parte do festival escolar, e fez o seu melhor para isso, mesmo nos trazendo montes de problemas no processo. Mas pelo menos ela é melhor que esses idiotas que ficam reclamando o dia todo. Seu imbecil! Você deve se desculpar com todos os Taniguchis do Japão por desgraçar este nome!

"Esqueçe isso, Kyon."

Kunikida tentou mediar a situação.

"Ele só está liberando a frustração. Na verdade queríamos passar mais tempo com Suzumiya-san. Realmente temos inveja de você, Kyon."

"O inferno que temos," - disse Taniguchi encarando Kunikida - "não vou me juntar a esse clube estúpido."

"Isso é estranho vindo de você, quem concordou em ir assim que foi chamado, heim? Você não estava animado ontem? Até cancelou seus planos para o dia."

"Pare de me provocar, seu imbecil!"

Era por isso que Taniguchi estava tão bravo. Ele cancelou seus planos para ontem, apenas para trabalhar entusiasmadamente como extra, mas no final das contas mal apareceu em uma cena, e acabou quase se afogando. Entendo, ele merece um pouco de pena, não são sinto nenhuma pena dele agora porque estou muito bravo para isso.

Eu sabia mais que ninguém que o filme de Haruhi seria idiota demais para que qualquer um assistisse, porque ela só sabia correr para cima das coisas sem pensar nas conseqüências. Como filmamos o que veio a sua cabeça, não tivemos nem roteiro para seguir. Apenas um gênio poderia fazer deste filme um sucesso. E na minha humilde opinião, Haruhi não tinha o mínimo talento na direção, mas se as pessoas começassem a criticá-la apenas por causa... espere, então porque eu estou tão bravo com isso?

"Kyon, Suzumiya-san parece estar com um humor pior do que o usual, aconteceu alguma coisa?"

Eu ouvi Kunikida perguntando, sem pensar.

Eu era a mesma coisa que Taniguchi. Tudo que fazia era seguir as suas ordens, e depois reclamar pelas suas costas. Sentia um pouco de mim nesse sujeito. As vezes eu amaldiçoava Haruhi, outras vezes simplesmente ficava sem reação... mas esse era o meu trabalho, só podia ser feito por mim, e por ninguém mais.

Estava tão frustrado que até a comida tinha um gosto amargo. Sinto pena da minha mãe que fez essa comida para mim. Droga, Taniguchi, seu idiota. Se você não tivesse dito essas coisas inúteis, eu não teria que fazer coisas de que me arrependeria depois.

O que eu fiz?

Fechei a minha lancheira e corri para fora da sala.


Haruhi estava na sala do clube, com a câmera de vídeo conectada no computador; ela parecia estar trabalhando com alguma coisa. Ela olhou em choque enquanto eu abria a porta subitamente. Era um pão de curry que ela estava segurando?

Ela freneticamente jogou o pão fora, e colocou a mão detrás do cabelo... eu acho. E então seu cabelo se soltou. Não sei por que ela fez isso, mas aparentemente ela estava soltando o cabelo que havia prendido atrás da cabeça. Eu não olhei com tanta atenção, então não consegui pensar nisso melhor depois. Era melhor dizer o que havia para dizer a ela.

"Ei, Haruhi."

"O que?"

Haruhi entrou em um modo defensivo, me olhando como um gato. Eu continuei falando com ela.

"Precisamos fazer desse filme um sucesso!"

Isso é o que chamam de impulso, certo? Uma pessoa como eu acaba ficando um pouco emocional demais durante meio ano, por causa disso, estava bravo ontem. O tempo foi perfeito. E hoje, esse impulso foi causado pelas palavras ambíguas de Koizumi e pela cara de idiota do Taniguchi. Sem mencionar o olhar melancólico de Haruhi. Tudo isso me fez sentir frustrado e desconfortável. Se deixasse esses sentimentos dentro de mim, provavelmente teria quebrado a vidraça da sala, então era melhor lidar com eles agora. Por que preciso justificar tudo que eu faço?

"Hmph."

Haruhi disse com desdém.

"É claro que vai ser. Afinal, eu sou a diretora. O sucesso já está garantido. Não é preciso que você constate o obvio."

Que pessoa simples. Agora que eu achava que ela estava desenvolvendo sentimentos gentis dignos de elogios. Mesmo as luzes enigmáticas dos olhos de Haruhi estavam readquirindo as chamas da confiança. Eu não tenho idéia de onde ela tira o seu combustível. Ela não poderia ser mais simples. Era como um chefe de RPG que continuava a usar magias regenerativas em si mesma, mas eu não podia ligar menos. Ela precisa ser melhor balanceada. Ela poderia derrotar os jogadores com um simples golpe, trazendo logo a tela de "Game Over"... o que eu estou falando? Ah sim, esses jogos que reduzem a pressão não existem. Eu não sei muito bem o que isso quer dizer, mas de todo modo. Não gosto de ver Haruhi deprimida, e não gostaria de vê-la assim novamente. Ela foi feita para correr sem rumo por essas maratonas infinitas e sem destino. É só que... se ela parar no meio do caminho, talvez subconscientemente faça algo completamente desnecessário, é só isso.

... e era nisso em que eu pensava logo em seguida.


No mesmo dia, depois da aula...

"Você não podia ter dito outra coisa?" - Falou Koizumi.

"Desculpe" Respondi.

"Apesar de você ter a animado, preferia que você tivesse expressado isso de forma... A não criar mais obstáculos posteriores."

"... desculpe."

"Ao invés de fazer as coisas voltarem ao normal, a situação se tornou ainda mais extrema."

" ... "

"Não há como escondermos esse fato."

Koizumi olhou para mim com aqueles olhos profundos e contemplativos. Ele não parecia estar me culpando, mas a sua voz denotava uma grande melancolia. Era assim? As coisas ficaram piores, e tudo graças a mim.

O que era agora? Algo que eu deveria saber?

As cerejeiras floriam por todo o canto. Era o caminho a beira do rio, no qual Asahina-san revelou sua verdadeira identidade para mim. Vamos confirmar a estação novamente: agora estamos no outono. Ainda há alguns restos do verão no ar, mas normalmente as cerejeiras ficam em flor no meio da primavera. É aceitável para uma arvore aflorar uma estação antes, mas florir meio ano antes era meio ridículo demais. Quando foi que as cerejeiras enlouqueceram?

Sob as pétalas que caiam, apenas Haruhi mantinha seus motores ligados. Vestindo a apertada fantasia de garçonete, Asahina-san andava pela rua sem rumo. Será porque ela estava surpresa com as flores saindo na estação errada?

"Nunca achei que as coisas seriam tão fáceis. Estava pensando em filmar uma cena com muitas flores de cerejeira! Esse evento meteorológico raro com certeza foi uma grande coincidência!"

Haruhi falava, enquanto obrigava Asahina-san a fazer diversas poses.

Era realmente impossível. Quando as pessoas fazem algo impulsivo, seu 'eu' no futuro com certeza irá sofrer. Parece que estou continuamente recebendo essa lição nos últimos seis meses.

Não estava pensando em "Eu devia ter feito isso!", mas em "Eu não devia ter feito isso." Um pensamento bastante negativo. Alguém me dê uma arma! Uma de verdade! Não uma de brinquedo!

As cerejeiras começaram a florir durante a manhã, e a tarde as pétalas começaram a cair. A rede local de televisão até mesmo fez uma reportagem sobre esse evento raro, como eu gostaria que eles pensassem que foi apenas um acontecimento aberrante único. Apenas culpem todos esses acontecimentos bizarros causados pelo aquecimento global, OK?

"É assim que Suzumiya-san parece pensar."

Koizumi falava enquanto andava ao lado de Asahina-san. A visão de Koizumi, que apenas era bonito superficialmente, e Asahina-san, que era genuinamente bela, andando juntos, era o suficiente para enfurecer todos os homens desse planeta. Eu estava realmente bravo com tudo aquilo.

Nagato não tinha nenhum comentário a fazer sobre as flores de cerejeira flutuando sobre nós, ela olhava para as pétalas, cujo relógio biológico estava completamente bagunçado, com a sua expressão vazia de sempre. As pétalas róseas pousaram sobre seu manto negro, causando um forte efeito de contraste. Será que ela sabe sobre os pombos?

"Certo! Vamos pegar um gato!"

Haruhi disse subitamente.

"Uma feiticeira tem de ter um familiar, e o que seria melhor que um gato? Onde poderíamos achar um gato preto? E precisamos de um bem bonito."

Espere um pouco, Nagato não deveria ser uma maligna maga alienígena?

"E qual é a diferença? Vamos logo! É isso que eu visualizei. Onde poderíamos achar um gato?"

"Em uma loja de animais, é claro!"

Surpreendentemente Haruhi pensou depois de ouvir a minha sugestão casual.

"Um gato de rua vai servir. Teríamos que emprestar um da loja de animais, e depois devolver, e isso seria um grande incômodo. Conhecem um lugar aonde podemos achar um gato de rua? Yuki, você sabe?"

"Sim."

Nagato balançou a cabeça levemente, e então começou a caminhar como se fosse um líder religioso nos levando a terra prometida. Existe alguma coisa que Nagato não saiba? Se perguntar onde está a carteira que perdi há cinco anos, provavelmente ela irá saber me responder, afinal, ela continha toda a minha fortuna na época, o que deveria ser em torno de quinhentos ienes.

Quinze minutos depois, chegamos atrás do condômino luxuoso onde Nagato morava. Lá havia um terreno baldio cercado de arvores, o que obscurecia a visão dela pela parte da frente. Alguns gatos estavam reunidos ali. Eles se pareciam com gatos de rua, mas não tinham medo das pessoas. Enquanto caminhávamos por entre eles, os gatos não tentaram fugir, talvez achassem que iríamos alimentá-los. E alguns até mesmo enrroscaram-se em nossas pernas. Haruhi pegou um dos gatos e disse.

"Não tem nenhum gato preto? Certo, vamos usar esse então!"

Era um gato malhado, não preciso nem mencionar que ele era um macho [1]. Haruhi não percebia quanto pedigree esse gato tinha, e não estava maravilhada com esse gato que pegara randomicamente.

1-[Nota do tradutor: O gato que Haruhi pegou é um gato malhado, conhecido também como gato tricolor, ou gato cálico. Os alelos que determinam a pelagem de um gato estão ligados a herança sexual. O alelo que determina um gato calico é XOXo, Xo – recessivo para com preta e XO - dominante para cor laranja, um gato malhado apresenta esses dois genes "X" , o que resultaria em uma fêmea. Um gato macho com os alelos para o fenótipo "malhado" é algo digamos... bastante incomum, para não dizer impossível, só existindo no caso de um macho XOXoY, portador da síndrome de Kleinefelter. Como Shamisen era realmente um gato macho normal só podemos constatar uma anomalia gênica, possivelmente causada pela influência de Haruhi].

"Aqui Yuki, esse é o seu parceiro. Espero que você se de bem com ele."

Nagato recebeu o gato com uma expressão vazia de quem recebe um panfleto distribuído por algum vendedor de rua, o gato também apresentava uma expressão vazia quando passou para as suas mãos.

A filmagem começou há pouco tempo, nos fundos de um condomínio, os cenários não parecem mais uma preocupação nesse filme. Minha câmera já está entupida de cenas que de tempos em tempos saíam diretamente da mente da diretora. Eu não vou ter que editar essas cenas sem sentido em uma história coerente, não é?

"Yuki, ataque a Mikuru-chan!"

Ao sinal de Haruhi, Nagato se ajoelhou de maneira estranha e se transformou em uma feiticeira maligna com um gato no ombro. Não importa como se olhasse, o gato parecia ser pesado demais. A única coisa boa é que o gato se permitiu ficar obedientemente pendurado no ombro de Nagato. O corpo dela se inclinava para os lados como resultado do peso excessivo, Nagato fazia o seu melhor para manter o equilíbrio e impedir que o gato caísse. Ela manteve esse estado sem naturalidade enquanto abanava a varinha em direção a Asahina-san.

"Tome isso."

Acredito que raios incríveis deveriam sair da varinha de Asahina-san nessa cena, certo?

"... kyaa!"

Asahina-san gritou como se estivesse sofrendo uma dor excruciante.

"E, corta!"

Haruhi disse com satisfação, e eu imediatamente parei de filmar, enquanto Koizumi abaixou o refletor que estava segurando.

"Eu quero falar com o gato. Ele é o gato de uma maga afinal de contas. Pelo menos ele precisa dizer algo maligno."

Isso é ridículo, sério.

"Seu nome é Shamisen. Ei Shamisen! Diga alguma coisa!"

Ele deveria falar? Não, na verdade eu imploro para que ele não fale.

Talvez as minhas preces tenham sido atendidas, porque o gato com o agourento nome de Shamisen não começou a falar, ao invés disso lambeu o rabo e ignorou completamente o comando de Haruhi. Isso foi natural, mas mesmo assim eu soltei um suspiro de alivio.

"Está tudo indo de acordo com o plano."

Haruhi revisou as cenas filmadas durante o dia e sorriu alegremente. Dando a impressão de que a sua depressão matutina jamais havia ocorrido. Era uma coisa boa ela ter se animado tão rapidamente. A sua velocidade de recuperação continuava a me impressionar.

"Kyon, você será o responsável por cuidar do gato."

Haruhi dobrou a cadeira de diretor e me deu essa ordem sem sentido.

"Cuide bem dele em casa, porque ainda vamos usá-lo para outras cenas. O treine direito! Ensine um truque para ele até amanhã, como pular um aro de fogo ou coisa parecida."

Se ele é o suficientemente esperto para se pendurar no ombro de Nagato, acho que ele é capaz de fazer uma coisa assim, certo?

"Isso é tudo por hoje, amanhã vai ser o ultimo dia da filmagem! Hoje as gravações ocorreram sem problemas, e a história está prestes a entrar no seu clímax, todos mantenham a animação! Descansem um pouco, porque precisaremos dessa energia amanhã também!"

Haruhi acenou com o alto-falante e nos liberou, indo para casa cantarolando o tema de encerramento de "Blade."

"Sigh..."

Asahina-san e eu suspiramos, Koizumi colocou o refletor debaixo do braço se preparando para ir embora, enquanto Nagato olhava vagamente para Shamisen como uma caneta sem tinta.

Eu me abaixei e afaguei a cabeça do gato.

"Obrigado pelo trabalho duro. Talvez eu compre comida de gato para você, ou será que você iria preferir um peixe seco?"

"Para mim, qualquer um dos dois iria servir."

Uma clara voz masculina de barítono disse a sentença acima, e ela não saiu de nenhum dos presentes. Vi Koizumi e Asahina-san com um olhar pasmo no rosto, e então o rosto imutável de Nagato. Todos eles estavam com o olhar fixo em um ponto - meus pés.

E ao lado deles, estava o gato, que olhava para mim com seus olhos negros arregalados.

"Ei!" - eu disse - "Você falou alguma coisa, Nagato? Eu não estava perguntado para você, estava perguntando para o gato."

"É isso que eu havia pensado, então eu o respondi. Eu disse alguma coisa errada?"

E assim falou o gato...


"Isso realmente me pegou de surpresa." - Koizumi disse.

"Isso é algo chocante demais, um gato falando..."

Foi a vez de Asahina-san indagar.

" ... "

Nagato permaneceu em silêncio enquanto pegava Shamisen, que então falou.

"Eu não entendo porque vocês estão tão surpresos."

Ele disse enquanto colocava as patas sobre o ombro de Nagato.

Um gato demônio... era isso que os gatos viravam depois de viver muitos anos?

"Eu não tenho certeza. O conceito de tempo não me preocupa. O que é o presente? O que é o passado? Eu não tenho o menor interesse nisso."

Já estávamos surpresos o bastante com o fato dele saber falar, e ele vem com esse tipo de pensamento abstrato. Não fique se achando, você é só uma bola de pelo. Imagino quanto ganharíamos se vendêssemos o Shamisen em um leilão na Internet.

"Para vocês, provavelmente eu faço sons similares a voz humana, mas os papagaios também não fazem? O que vocês levam em conta para deduzir que eu faço esses sons de acordo com o seu sentido literal?"

De que diabos você está falando?

"Por essa conversa, afinal você respondeu precisamente as minhas perguntas."

"Talvez os sons que eu faça por acaso combinem com a natureza das suas perguntas."

"Nesse caso, então não significaria que todas as conversas entre todos os seres humanos não fazem o menor sentido?"

Por que diabos eu estou conversando com um gato? Shamisen, aquele gato de rua, lambeu as patas e afagou as orelhas, e então continuou a falar.

"Exatamente. Você pode ter achado que conversou com aquela senhorita, mas ninguém tem certeza de que vocês captaram o que cada um tinha realmente dizer."

Shamisen disse com sua voz grave.

"Isso é porque, cada pessoa pode ou não dizer o que está no fundo do seu coração, dependendo da situação." - Koizumi respondeu.

É para você ficar calado!

"Agora que você disse isso... talvez faça sentido." - Asahina-san falou.

Por favor, vocês poderiam parar de concordar com esse gato?

Examinei todos os outros gatos do lugar, tirando Shamisen, todos os outros gatos faziam "miau" ou "purr". Nenhum outro gato parecia ter ganhado a habilidade de se expressar na linguagem humana. Como pode ser?

Isso é tudo culpa daquela garota estúpida.

Examinei todos os outros gatos do lugar, tirando Shamisen, todos os outros gatos faziam "miau" ou "purr". Nenhum outro gato parecia ter ganhado a habilidade de se expressar na linguagem humana.


"Parece-me que as coisas foram dessa para pior."

Koizumi elegantemente deu um gole seu café mocca e continuou.

"Nós subestimamos Suzumiya-san."


"O que você quer dizer?" - Asahina-san perguntou em voz baixa.

"O mundo do filme criado por Suzumiya-san começou a se mesclar com a realidade. O conteúdo do filme que ela visualizou, começou a se manifestar nesse planeta, se tornando parte dessa realidade. Como Asahina-san soltando raios pelos olhos ou com um gato podendo falar. Se ela subitamente dissesse 'Quero filmar uma cena com um meteorito gigante caindo na Terra' isso muito provavelmente iria acontecer."

Neste momento, todos os membros da Brigada SOS, com exceção de Haruhi, estavam juntos em um café em frente a estação. Koizumi propôs essa reunião de emergência para resolvermos o caso Haruhi, um plano que todos acabamos concordando. Aparentemente as coisas começaram a se tornar um pouco sérias demais. A primeira vista, parecíamos um bando de estudantes conversando alegremente (apesar de Koizumi ser o único ali que sorria), mas na verdade éramos como um grupo de vilões planejando a derrota do grande defensor da justiça através de um ataque final. Falando nisso, deixamos Shamisen esperando na grama lá fora, e o ordenamos a não falar com ninguém, ou responder qualquer pergunta. O gato não pareceu ficar bravo com isso, só respondeu "Tudo bem." Então sentou em silêncio na grama sob a sobra das arvores, e nos viu partir.

"O que vai acontecer de agora em diante...?"

Asahina-san perguntou em um tom preocupado. A pobre garota parecia muito confusa, afinal era sempre agredida mentalmente durante o filme de Haruhi. Nagato manteve a expressão vazia, e ainda estava vestida inteiramente de preto.

Koizumi lentamente bebia seu café com leite, e continuava a falar.

"Tudo que sabemos é que não podemos deixar Suzumiya-san livre dessa maneira."

Bebi a água gelada em um só gole, afinal já tinha bebido todo o meu copo de suco de maça, e aquilo era tudo que me restara.

"Então não deveríamos estar procurando um jeito de deter Haruhi?"

"Quem poderia impedi-la de fazer esse filme? Eu não tenho a confiança para tal."

E nem eu.

Uma vez que ela liga os motores, não há como parar Haruhi, ela vai continuar até o fim. Provavelmente ela morreria se parasse, como um daqueles peixes. Se traçássemos a linha genealógica ancestral dela, provavelmente acharíamos DNA de atum e bonito misturado ali no meio.

Nagato não parecia estar nem pensando enquanto bebia o seu chá de amêndoas. Talvez ela realmente não estivesse pensando, afinal ela possivelmente compreendia tudo, não tinha porque ficar pensando, havia a possibilidade de que ela não era boa em conversar, então ficava calada. Depois de passar seis meses perto dela, ainda encontro dificuldades em adivinhar no que ela está pensando.

"E você Nagato? O que me diz sobre isso?"

" ... "

Nagato colocou seu copo na bandeja sem fazer nenhum ruído, então virou a cabeça levemente para mim e disse:

"Diferentemente da ultima vez, Suzumiya Haruhi não irá desaparecer deste mundo."

Sua voz era fria e ríspida.

"A Entidade Senciente de Dados Integrados deduz que isso já é o bastante."

"Mas isso seria um problema para nós."

"Mas não para nós. Continuaríamos a catalogar as mudanças do alvo de observação."

"Então é assim?"

Koizumi rapidamente decidiu ignorar Nagato, e se virou para mim.

"Então, em que gênero poderíamos enquadrar o filme de Suzumiya-san?"

Sigh, novamente ele falou de uma forma ambígua.

"A estrutura da história poderia ser dividida em três formas. Primeiro, poderia ocorrer dentro de uma certa moldura. Segundo, poderia quebrar essa moldura e criar um novo paradigma. Ou terceiro, poderia retomar um molde já obsoleto ao seu estado passado."

Como esperado, ele começou a falar em grego, isso levaria as pessoas ao nosso redor a pensar "Do que ele está falando afinal?". Asahina-san, você não deveria levar essas baboseiras a sério!

"Como existimos dentro dessa moldura, se quisermos entender nosso mundo, teríamos de pensar racionalmente, ou deduzir perante certas observações."

Que diabos é essa "moldura"?

"Tente pensar na 'realidade' em que estamos agora. Esse mundo só pode existir nesse estado atual. Resumindo, o filme de Suzumiya-san para nós é uma ficção."

Isso não era meio obvio?

"O problema é que algumas coisas que existiriam apenas na ficção, agora afetam a nossa 'realidade'."

Os olhos da Mikuru-Maravilha, os pombos, as flores de cerejeira e o gato.

"Devemos impedir que o mundo ficcional interfira na nossa realidade."

Sempre acho que Koizumi se entusiasma demais falando nesse tipo de coisa, e dessa vez ele parecia bastante animado. Para revidar isso, decidi manter uma expressão de mau humor.

"Esse filme serviu como um filtro para Suzumiya-san manifestar seus poderes. Para prevenir nisso, deveríamos enfatizar para Suzumiya-san que isso é tudo ficção. Porque agora, ela está apagando as tênues linhas que separam a realidade dessa sua ficção."

Você realmente está animado com tudo isso!

"Precisamos encontrar uma forma racional de provar que as coisas do mundo ficcional não são reais. E devemos fazer que esse filme acabe de maneira razoável."

"E como vamos normalizar o fato do gato poder falar?"

"Normalizar não é o termo correto. Pois dessa maneira, um mundo onde gatos podem falar será criado. Na nossa realidade os gatos não podem falar. Se ninguém achar isso estranho, então as conseqüências serão atrozes, afinal, para nós é impossível um gato falar."

"E o que dizer sobre os aliens, viajantes do tempo, e espers? A existência deles não é uma mera possibilidade?"

"Bem, é claro, afinal estamos existindo nesse momento. No nosso mundo isso é uma coisa normal, o único porem é que não devemos deixar que Suzumiya-san saiba disso."

Sério?

"Vamos supor que nosso mundo seja um objeto observado de longe. Se ela acreditar que o 'mundo real' seja aquele em que você acreditava viver, um mundo sem nenhum fenômeno sobrenatural – onde aliens, espers, e viajantes do tempo não existam – estão essa 'realidade' em que vivemos hoje, seria um mundo completamente fictício."

Então esse é o verdadeiro Deus de que você estava falando?

"Mas isso se somos observados de longe. Você já descobriu que esses fenômenos sobrenaturais, de fato, existem – o que inclui a existência de seres como eu e Nagato-san. Como você está aqui, você só poderia aceitar esses fatos estando dentro dos limites desse mundo. Estou certo de que sua visão de mundo é diferente de um ano atrás."

Talvez eu fosse muito mais feliz se não soubesse nada disso.

"Como eu poderia dizer isso? Hmm, eu posso confirmar. Agora o estado de Suzumiya-san é igual ao seu estado no passado. Em outras palavras, sua visão da realidade não mudou. Talvez ela fale muito sobre isso, mas no fundo ela não acredita que esse tipo de fenômeno sobrenatural realmente exista. Vamos tomar o que ela vê como exemplo; ela tratou o aparecimento do Espaço Restrito e dos 'Celestiais' como um sonho. Como sonhos são fenômenos ficcionais, a 'realidade' desse mundo pôde ser mantida."

E esse é o motivo de nos esforçarmos tanto, e por tanto tempo, para manter as coisas como estão.

"Nesse momento, não há duvidas de que a ficção pode se manifestar em nossa realidade. Se Suzumiya-san trate essas ocorrências como 'fatos', então um gato falante pode se incorporar a nossa 'realidade'. Como seria estranho para o mundo que gatos falassem, o universo teria de ser reconstruído no intuito de manter os gatos falantes como parte da 'realidade'. Será que Suzumiya-san quer um mundo com gatos falantes? Eu não acho os domínios da ficção cientifica vão incorporar-se ao nosso mundo, julgando pela maneira dela pensar, não acredito que Suzumiya-san faria algo tão drástico. Mas também é possível que exista um mistura dos elementos fantásticos ao mundo, onde não seria necessária uma explicação lógica do porque gatos conseguirem falar. Enquanto os gatos falantes permanecessem existindo, isso já seria o suficiente para ela. Não haveria indagações de 'Por que os gatos conseguem falar?', afinal será algo natural os gatos falarem."

Koizumi colocou seu café na mesa e começou a se distrair girando os dedos sobre a borda do copo, e então disse.

"E isso seria bem problemático, seria como jogar fora todos os conceitos conhecidos pela humanidade. Da minha maneira, respeito como os humanos chegam as suas conclusões através da observação. Através desse método, seria impossível, sem influencias externas, achar nesse planeta um gato que pode falar."

Como então você explicaria a sua existência? Esperes não são tão incríveis quanto gatos falantes?

"De certa forma você está certo. Pois nesse mundo, ainda somos uma anomalia. Não confinados as regras impostas dessa realidade. Existimos apenas graças a Suzumiya-san. E esse gato é a mesma coisa, porque Suzumiya-san quis que ele aparecesse no filme, ele existiu. Pelo que eu estou entendendo, Suzumiya-san está tentando ligar esta realidade e os elementos ficcionais do seu filme."

Agora não é a hora para entender, agora é a hora de achar alguma solução!

"Por isso precisaríamos categorizar o gênero deste filme."

Como eu queria que isso não tivesse se estendido tanto. Olha, eu sei que pode ser legal para você mostrar a sua habilidade de argumentação e tudo mais, mas pelo menos pense um pouco nos sentimentos de quem está ouvindo! Seu discurso é tão incomodo quanto aqueles que o diretor faz nas reuniões da escola toda a semana. Olhe como Asahina-san está perplexa desde que começamos a conversar.

Mas Koizumi não pretendia parar por aqui.

"Se isso tudo está acontecendo no mundo ficcional não precisa haver explicação alguma sobre o fato do gato conversar, ou sobre Asahina-san soltando lasers. Pois nesse mundo, 'isso é um fato'."

Olhei para fora da janela para garantir que Shamisen ainda estivesse ali.

"Mas, na verdade há uma razão para os gatos falantes ou para o Raio Mikuru existam, mas no momento isso ainda não foi descoberto. Existe uma realidade em que gatos podem falar e Asahina-san solta raios pelos olhos, mas ninguém ainda percebeu as causas desses fenômenos - pelo menos por observação, mas de toda a forma uma hora ou outra esses motivos seriam provados. Então todo nosso mundo iria mudar. Precisamos reajustar a realidade desse mundo, para uma em que fenômenos paranormais existam, assim esse mundo passa a ser um mundo ficcional."

Suspirei pesadamente. Sério, esse cara não pode calar a boca?

Então o que você está tentando dizer é: uma razão razoável é necessária para explicar a existência dos gatos falantes. Mas nesse caso, como você explicaria a existência de Nagato, Asahina-san, e a sua? Vocês não são parte desses fenômenos sobrenaturais?

"Provavelmente, assim como você, e não é preciso explicar muito. Para você, o mundo mudou. O mundo que você conhecia ao entrar no colegial, não é um mundo diferente do qual você vive hoje? Seu conceito de realidade mudou, para o bem ou para o mal, e no final acabou encontrando novas realidades. No final, você não confirmou o fato de pessoas como nós existirem?"

"O que você está tentando dizer afinal?"

"Voltando a falar sobre o filme de Haruhi, este poderia facilmente se enquadrar no gênero de ficção cientifica. Nesse filme, não são necessários motivos para que um gato fale, ou para que Asahina-san ou Nagato-san possuam poderes. Isso já é o suficiente."

Então o que precisamos fazer é encontrar um motivo para a existência do gato demoníaco, da garçonete do futuro, e da perversa maga alien?

"Não exatamente, porque darmos uma razão de existência a esse fatos acabará acarretando problemas com o mundo externo. Se alguém perceber que 'o mundo mudou' depois de assistir o filme inteiro, do inicio ao fim, então isso revelaria a existência dessa nova 'realidade', o que acabaria transformando o mundo em um lugar aonde não é grande coisa um gato falar. Acredite, não quero que o mundo fique mais complicado do que ele já é."

E nem eu. Acho que as únicas pessoas que não iriam se importar eram Nagato e seus colegas.

"Como havia dito antes, precisamos definir o contexto desse filme, tudo que precisamos fazer é perguntá-la sobre a direção em que o filme está seguindo. Com a definição desse contexto provavelmente todas as questões sobre os mistérios ou eventos paranormais ocorridas durante o filme serão dissipadas, e com um desfecho satisfatório, conseguiremos colocar o mundo de volta aos seus devidos eixos. Pensei um contexto que conseguiria salvar o mundo, independente do seu estado, e ainda por cima, responder satisfatoriamente todas as perguntas sobre os acontecimentos bizarros."

E que contexto é esse?

"O contexto dedutivo, especificamente da dedução básica. Uma vez que ele sido realizado, todas as cenas surreais serão acompanhadas pelas pessoas dizendo 'eu não acredito nisso' e esses eventos paranormais poderão ser ignorados facilmente. Tudo que precisamos fazer é deixar o gato falante e os raios letais de Asahina-san o mais perto de uma farsa, assim nosso mundo permanecerá intacto, estou certo?"

A garçonete do café estava incomodada pelas roupas de Asahina-san, mas fingiu não ver nada enquanto pegava os copos vazios de cima de nossa mesa. Koizumi esperou ela sair, então prosseguiu.

"Obviamente um gato falante é algo fora dos limites do bom senso, mesmo assim esse gato existe. Em outras palavras, coisas que não deveriam existir, começaram a aparecer. E isso é um fato extremamente inconveniente."

Ele agitou as gotas de água em seu copo com os dedos e disse:

"Para resolver esse problema, precisamos de um final adequado. Um que teoricamente seja aceitável por todos - ou pelo menos para Suzumiya-san. Um final aonde gatos que falam, feiticeiras alienígenas e viajantes do tempo possam existir."

"E um final assim existe?"

"Claro! E é bem simples. Tudo que precisamos é uma explicação aceitável para os eventos inexplicáveis que ocorreram anteriormente."

E qual é a sua explicação?

"Foi tudo um sonho."

" ... "

Fomos engolidos por um silêncio mortal. Depois de alguns segundos, Koizumi voltou a falar.

"Eu não estava brincando..."

Olhei inquisitivamente para aquele cavalheiro que se distraia separando os cabelos com os dedos e disse.

"Você acha que Haruhi vai aceitar uma bobagem dessas? Ela está falando sério sobre o premio, e não se importa se o filme é real ou não. Agora você diz que foi tudo um sonho? Não importa quão estúpida ela seja, Haruhi não vai fazer um filme tão imbecil assim."

"Claro que levei em conta os seus sentimentos ao elaborar essa conclusão, e esse é o final mais conveniente para nós. Fazê-la declarar que foi tudo um sonho, ou uma farsa, ou que foi tudo inventado, com certeza seria a melhor opção."

Para você talvez... e para mim também não chega a ser uma opção ruim, mas o que Haruhi iria pensar disso? Ela provavelmente inventaria um final extremamente chocante que a agradasse.

Alem do mais, eu não quero mais ser importunado com coisas que deveriam ser sonhos... e também não quero ouvir seus monólogos intermináveis, com certeza não estou me divertindo mais com isso.


No caminho de casa, decidi passar na loja de animais local. Comprei uma tigela barata e comida de gato que estava com desconto, até pedi um recibo antes de sair da loja. Shamisen limpou a cara com as patas e olhou para mim. O gato me seguiu assim que comecei a andar.

"Agora escute. Quando formos para casa, não diga nada, e aja como um gato deveria agir."

"Eu não entendo o que você entende como atitudes de um gato, mas já que você pediu, eu acho que terei de obedecer."

"Olha, não fale comigo. Responda tudo com um miado."

"Miau"

Minha irmã e minha mãe estranharam o fato de eu ter trazido um gato para casa. Dei a desculpa que havia inventado antes, de que "O dono precisou viajar, e me pediu para ficar com ele por um tempo." O que foi facilmente digerido pela minha família, especialmente pela minha irmã, que começou a afagar o Shamisen, enquanto o gato demônio simplesmente ronronava. Isso não é muito não-felino para você?


Depois de uma noite relativamente pacifica, eu ainda tinha de retornar a escola. Eu não estava confortável deixando Shamisen em casa, então o trouxe junto. Pedi para ele ficar dentro da minha mala. Shamisen respondeu humildemente "Tudo bem então.". E prontamente entrou na bolsa. Eu não o deixaria sair até chegarmos à escola!

Restavam poucos dias até o festival, a atmosfera da escora se tornava cada dia mais vívida, em sincronia com o humor de Haruhi. O que aconteceu com o ambiente relaxado de ontem?

A manhã estava repleta de sons de instrumentos musicais e de pessoas cantando, e placas de avisos e panfletos eram espalhados por toda a escola. Havia pessoas vagando por ai com todo o tipo de fantasias estranhas, não tinha idéia de onde elas estavam indo, ou de que show participariam vestidas assim. Julgando pela situação, não seria estranho um ou dois sliders de universos paralelos estivessem infiltrados em meio da multidão. Só o pessoal da 1-5 não tinha o menor entusiasmo. Talvez porque Haruhi tenha pegado todo o entusiasmo para ela?

Quando eu entrei na sala, encontrei Haruhi sentada em seu lugar escrevendo algo vigorosamente.

"Finalmente decidiu escrever um roteiro?"

Rumei a minha mesa enquanto Haruhi resmungou alto, e levantou seu queixo para cima, respondendo impetuosamente.

"Claro que não! Estou fazendo o panfleto promocional para o filme!"

"Deixe-me ver isso!"

Ela pegou seu caderno e encostou no meu rosto.

A coleção de vídeos secretos da Asahina Mikuru-chan foi revelada! Você vai se arrepender se perder isso! A Brigada SOS orgulhosamente apresenta - O filme mais surpreendente do ano! Venha ver!

Com as palavras provocativas no topo, o panfleto estava cheio de coisas falando como o ano acabaria logo. Não que eu realmente me importe, mas isso pode levar as pessoas a interpretarem mal a situação, vai que elas achem que só ela aparece no filme? Se alguém realmente conseguir descobrir sobre o que é o filme só olhando para o panfleto, essa pessoa realmente irá ter o meu respeito. Francamente, nem eu que sou o cameraman sei sobre o que é o filme, e também não estou tendo muito espaço para opinar a respeito. Ela provavelmente também não tem certeza. Mas convenhamos, ela certamente sabe como elaborar um panfleto.

"Vou fazer copias disso e distribuir na entrada durante o festival. Hmm, a resposta das pessoas será ótima! Acho que o Okabe não vai se importar se eu vestir uma roupa bunny-gal durante esse tipo de evento, certo?"

Não, eu ainda acho que eles vão reclamar. Essa escola municipal tem regras de decência bastante cimentadas, afinal. Eu acho melhor você parar de adicionar criar ulceras no estômago dos membros do conselho estudantil!

"Alem do mais, Asahina-san tem de trabalhar na barraquinha de comida da sala dela. Sem mencionar que Koizumi e Nagato têm atividades para fazer também. Seremos os únicos livres no dia."

Haruhi me encarou com aquele olhar suspeito.

"Então, você está dizendo que quer se vestir de bunny-gal?"

E como isso é possível? Só você já basta. Se necessário, eu fico atrás segurando a placa de propaganda para você.

"Falando nisso, você sabe que só restam alguns dias antes do festival cultural, esse sábado e domingo, certo?"

"É claro que sei disso."

"Sério? Vendo você tão relaxada assim, achei que tinha confundido as datas."

"Como eu estaria relaxada? Você não vê que estou tentando pensar em algumas palavras mais provocativas?"

"Alem da propaganda, você não acha que deveria se focar em coisas mais importantes, como o próprio filme que deve ser terminado?"

"Eu farei isso logo. Só precisamos fazer mais algumas cenas, depois editaremos o filme, e adicionaremos alguns efeitos visuais e sonoros durante a pós-produção, então acabaremos."

Agora me surpreendi. Pessoalmente acho que o número de cenas que faltam supera as que já temos. Que tipo de filme essa diretora está tentando fazer afinal? Sem mencionar que perderemos ainda mais tempo na pós-produção. Sinceramente, espero estar errado.


Durante o intervalo, entre a terceira e quarta aula.

"Kyon-kun!"

Sua voz era tão alta que poderia arremessar todos da sala para o alto. Por puro reflexo, me virei na direção da voz, e vi Tsuruya-san com a cabeça para dentro da sala. Ao seu lado, mal se via o cabelo macio de Asahina-san.

"Venha aqui!"

Eu corri para lá, como se estivesse sendo puxado pelo sorriso de Tsuruya-san. Haruhi tinha o hábito de se ausentar durante o intervalo, então ela não estava aqui. Provavelmente estava vagando pela escola. Essa era uma grande chance.

Vim para o corredor quando Tsuruya-san puxou a minha manga e disse.

"A Mikuru quer dizer uma coisa para você!"

Asahina-san tremia quando me entregou um pequeno pedaço de papel.

"Esse... uhm, é um ingresso promocional."

"Essa é uma entrada para a barraca de yakissoba da nossa sala!" - explicou Tsuruya-san.

Recebi com gratidão. Devia ser um cupom de desconto ou algo assim. De acordo com as palavras impressas no verso do cupom barato, eu tinha trinta porcento de desconto ao pedir macarrão.

"Por favor, venha com os seus amigos."

Asahina-san abaixou sua cabeça profundamente enquanto Tsuruya-san tinha a boca escancarada como uma personagem de desenhos.

"Isso é tudo por hora! Até mais!"

Tsuruya-san disse aquilo e se preparou para sair, Asahina-san iria segui-la, mas decidiu ir em minha direção. Tsuruya-san riu e quando viu aquilo, parou para nos esperar.

Asahina-san colocou os dedos juntos e falou para mim.

"... Kyon-kun."

"Sim?"

"Sobre o que o Koizumi-kun disse no outro dia, eu acho melhor você não acreditar nalquilo... talvez você ache que eu tenho algum problema com ele se eu disser isso.... um, eu não gosto disso, mas..."

"Você diz o fato dele chamar Haruhi de Deus?"

Se você quer dizer isso, não se preocupe, eu nunca acreditei nele, desde o principio.

"Eu, hum... tenho uma visão diferente disso, digo, hum… uma explicação diferente da de Koizumi-kun."

Asahina-san suspirou e me olhou com seus olhos completamente abertos.

"Suzumiya-san possui sim o poder de mudar o 'presente', mas não acho que ela tem o poder para reconstruir o mundo. Esse mundo é assim desde o começo, não foi criado por Suzumiya-san."

Nesse caso... não significa que sua visão está em conflito com a de Koizumi?

"Acredito que Nagato tenha sua própria visão da situação também."

Asahina-san girava o tecido de seu uniforme com os dedos.

"Um... se disser isso, as pessoas não vão se sentir confortáveis, mas…"

Tsuruya-san sorria enquanto nos encarava a distância, carregando a expressão de uma mãe andorinha que vê o ultimo filho deixar o ninho. Imagino se ela não está interpretando mal a nossa relação.

Asahina-san parecia bastante desconfortável enquanto falava.

"A visão de Koizumi-kun é bem diferente da nossa. Se eu pedir para você... um … não acreditar nele tão facilmente, parece que eu estou o criticando, mas..."

Ela abanou as mãos freneticamente.

"Desculpe se não consigo explicar direito. Eu não sou boa falando isso… digo…"

Ela continuou com a cabeça baixa, e olhava repetidamente para cima.

"O pessoal do Koizumi-kun tem suas próprias teorias, assim como nós. Acho que Nagato-san está na mesma situação, então..."

Asahina-san olhou para mim, finalmente usando toda a sua coragem para decidir algo. Ela ficava tão bonita, mesmo quanto tentava parecer séria. Tremi de alegria ao observar seu belo rosto tão de perto. Então confiantemente respondi a ela.

"Eu sei, como Haruhi poderia ser Deus?"

Ao invés de dar credito a religião daquele panaca, preferia criar uma nova religião em torno de Asahina-san, e adorá-la como seu fundador. Ela provavelmente atrairia mais seguidores assim. Provavelmente faria um selo de aprovação apenas para aprovar isso.

"Para mim, a sua explicação foi bem mais simples de se entender do que a do Koizumi."

Asahina-san revelou um rosto animado. Acredito que era tão doce quanto seriam se os feijões doces se eles pudessem sorrir.

"Um, obrigada. Mas Koizumi-kun não está incluído no meu meio, por favor, entenda."

Ela disse palavras extremamente ambíguas, olhou para mim, e rapidamente se virou como se estivesse tentando fugir. E eu nem estava tentando abraçá-la.

Asahina-san acenou gentilmente para mim, e depois seguiu Tsuruya-san, como um cisne negro seguindo sua mãe, para finalmente deixar o meu campo de visão.


Deveríamos acelerar nosso progresso. Fui em direção a sala do clube enquanto imaginava o porque de estar pensando nisso tão seriamente. Eu quis usar o computador um pouco, mas não esperava que alguém já estivesse sentado lá dentro, vestindo seu chapéu pontudo e seu manto negro enquanto lia um livro.

Ates que pudesse dizer qualquer coisa:

"Eu acredito que isso seja o que Asahina Mikuru pensa."

Nagato falava como se pudesse ler a minha mente.

"Suzumiya Haruhi não é o criador, e não foi a responsável pela criação desse mundo. Esse planeta já existe há muito tempo. A presença sobrenatural de esperes, anomalias temporais e formas de vida alienígenas não foram criadas através dos desejos de Suzumiya Haruhi, e existiam há muito tempo antes dela aparecer. O papel de Suzumiya Haruhi foi descobrir inconscientemente a existência desses indivíduos. Ela começou a usar suas habilidades há três anos, mas suas descobertas não a levaram a autoconsciência destes fatos. Ela foi capaz de procurar o paranormal, mas ao mesmo tempo ela contradiz as próprias visões da paranormalidade. Por isso nossa facção está a prevenindo de ter essa autoconsciência."

Ela falou calmamente sem esboçar nenhuma reação. Nagato olhou para mim com aqueles olhos penetrantes e começou a repetir a frase acima, dizendo o seguinte antes mesmo que eu fechar sua boca.

"E estes seríamos nós."

"Asahina-san tem explicações diferentes das de Koizumi. Seria tão inconveniente assim deixar Haruhi presenciar algo extraordinário?"

"Sim."

Nagato voltou o olhar para o livro aberto, como se nossa conversa não fosse muita coisa.

"Ela veio para esse plano temporal visando proteger seu próprio futuro."

Tenho a vaga sensação de que ela está casualmente descrevendo algo que na verdade é muito importante.

"Para o plano temporal de Asahina Mikuru, Suzumiya Haruhi é uma variável. Na intenção de estabilizar o seu futuro, é necessário garantir que o valor correto para essa variável seja usado. E essa é a missão de Asahina Mikuru."

Nagato silênciosamente virava as paginas do livro sem fazer nenhum barulho. Seus olhos negros e sem emoções não piscaram nenhuma vez enquanto ela continuava.

"Koizumi Itsuki e Asahina Mikuru tem abordagens diferentes para suas missões envolvendo Suzumiya Haruhi. Eles não vão deixar transparecer suas interpretações para os outros, pois cada teoria coloca em risco a existência do outro individuo."

Espera… Koizumi não recebeu seus poderes apenas há três anos atrás?

Nagato respondeu rapidamente.

"Não existem garantias de que Koizumi Itsuki esteja falando a verdade."

A imagem do seu rosto sorridente surgiu em minha cabeça, era verdade, ninguém garante que ele era uma pessoa de confiança. Só porque Koizumi foi capaz de dar uma explicação decente para todas as coisas que encontramos até agora. E não se pode garantir se essas eram as explicações corretas. Até mesmo Asahina-san disse para não acreditar nele, mas pensando um pouco é a mesma coisa em relação a ela, ninguém pode me garantir se a explicação de Asahina-san está certa.

Olhei para Nagato e pensei; Talvez o que Koizumi disse possa não ser verdade, talvez Asahina-san nunca percebeu que a sua opinião poderia estar errada, e na verdade apenas essa calma alienígena não esteja mentindo.

"O que você acha? Qual é a explicação correta? Você mencionou a possibilidade de auto-evolução, que tipo de resultado isso traria a nós?"

"Não importa o quão precisamente eu explique, não há como achar uma prova sólida disso."

"E por que isso?"

Nesse momento, vi algo que raramente veria. Fiquei pasmo ao ver Nagato com um olhar confuso no rosto enquanto dizia.

"Porque ninguém pode garantir que as coisas que eu digo são verdade."

Nagato colocou o livro na mesma, e saiu da sala, deixando a seguinte fala no ar.

"Pelo menos para você."

O sinal tocou, sinalizando o reinicio das aulas.


Eu não entendi.

Afinal, como uma pessoa normal poderia entender?

Tanto Koizumi quanto Nagato, ambos me explicaram as coisas tal forma que uma pessoa comum não poderia entender! Suspeitei que eles estavam explicando assim de propósito, da maneira mais difícil possível de se compreender. Vocês dois deveriam gastar mais tempo organizando suas linhas de raciocínio, ou ninguém vai ouvir vocês, pois as palavras vão entrar por um ouvido e sair pelo outro.

Andei pelo corredor de braços cruzados, enquanto isso um bando de pessoas em fantasias medievais passava pelo corredor. Se Nagato estivesse misturada a essas pessoas com sua roupa negra, aposto que ninguém iria suspeitar nada. Talvez alguma sala tenha decidido filma seu próprio filme de ficção científica, não deixando Haruhi levar toda a glória. O que não seria tão ruim, pelo menos eles não ficariam tão frustrados quanto eu, e fariam seu filme alegremente, comandados por um diretor com bom senso e que dá ordens como mínimo de sensibilidade.

Suspirei pesadamente e voltei à sala da 1-5.


Haruhi era a única que achava que as filmagens estavam de acordo com o cronograma, enquanto isso as preocupações só aumentavam em minha cabeça, o mesmo valia para Koizumi e Asahina-san.

Enquanto as filmagens prosseguiam, muitas coisas aconteceram. Por algum tempo, arma de brinquedo virou uma arma de água, Asahina-san tremia cada vez que Haruhi trazia uma nova lente de contato colorida (a dourada atirava balas de rifle, e a verde criava micro-buracos negros), e no final ela acabava sendo mordida por Nagato; as cerejeiras se apodreceram no dia seguinte. E os pombos do templo se transformaram nos supostamente extintos pombos passageiros (Koizumi me contou isso em segredo) até mesmo a precessão da Terra se alterou levemente (de acordo com Nagato).

O mundo normal estava lentamente se desfazendo.

Arrastei meu corpo cansado para casa, e o animal de bigodes abriu novamente a sua boca.

"Então está tudo bem enquanto eu manter a minha boca fechada em frente a aquela garota enérgica?"

O gato se sentou em minha cama na postura de uma esfinge.

"Você é bem obediente." - gentilmente segurei a longa cauda de Shamisen, que eventualmente escorregou por entre os meus dedos.

"Afinal, se é isso que você deseja. Porém, eu também acho que não será uma boa coisa deixar aquela garota me ouvir falar."

"Bem, de acordo com Koizumi, isso é verdade."

Se esse gato fala, precisamos achar uma razão plausível para tal. Uma solução simples seria criar um mundo aonde ninguém acha estranho um gato falar. Mas que tipo de mundo seria esse? E que tipo de gatos teríamos nele?

Shamisen deixou escapar um bocejo infinito enquanto enrolava a sua cauda.

"Há vários tipos de gatos, não é assim com os humanos?"

Eu não sei o que você quer dizer com "vários tipos."

"O que você faria se soubesse? Não acho que você possa substituir os gatos, mesmo sabendo como os gatos pensam."

Isso é realmente frustrante, na verdade, tudo é muito frustrante.

Quando eu ia tomar banho, minha irmã entrou no quarto anunciando um visitante.

Desci as escadas imaginando quem seria. Não esperava que fosse o Koizumi. Decidi sair para conversar com ele sob o céu noturno. Eu não queria convidá-lo para entrar, ou tudo acabaria com um daqueles discursos infinitos. Alem do mais, não queria ouvir ele e Shamisen me explicando simultaneamente sobre filosofias abstratas difíceis de se entender.

Como eu pensei, no final Koizumi inundou a minha mente com um dos seus discursos, ele até mesmo disse isso.

"Para Suzumiya-san, os pequenos detalhes e as minúcias do enredo não são importantes. Na verdade eu acho isso interessante, e isso já me basta. A história não tem um enredo denso ou resoluções cabíveis, e nem ao menos ganchos para uma seqüência, afinal ela fez isso em um período muito curto de tempo. Ela nem mesmo elaborou o final, então quem sabe, o filme acabe sem um."

E quem se incomoda com isso? Se você diz que se o filme acabar de uma forma mal resolvida, essa realidade vai ser permanentemente distorcida e se transformará na nova realidade? Haruhi tem de ter um final em mente, e um final que corresponda a realidade. Esse é um problema que devemos considerar, afinal Haruhi nunca liga para esse tipo de coisa, e quando liga, geralmente acaba gerando um desastre. É melhor que nós façamos o trabalho mental. Mas porque nós devemos pensar nessa bobagem? Não há ninguém para carregar esse fardo para nós?

"Se ela existe, então sim."

Koizumi deu de ombros.

"Acredito que essa pessoa teria aparecido para nós há muito tempo se ela existisse. Como não apareceu, devemos nós mesmos achar uma solução, e rápido, principalmente você. Estou esperando para ver você trabalhar com ainda mais empenho."

Mais empenho no que? Por favor, seja mais específico.

"Pois se o mundo ficcional se tornar realidade, todas as nossas teorias não servirão para nada. Talvez Asahina-san não seja afetada, afinal, a sua facção tem seu próprio conjunto de teorias. Assim como Nagato-san, eu não sei muito sobre ela, mas acho que a facção dela iria aceitar qualquer resultado calmamente, mesmo se a terra desaparecesse; enquanto Suzumiya-san existir, eles estarão satisfeitos."

As lâmpadas da rua brilharam no rosto frio de Koizumi em meio aquela escuridão.

"Posso dizer honestamente, a 'Organização' e a facção de Asahina-san não são as únicas pessoas cuja filosofia gira em torno de Suzumiya-san. Existem muitos outros por ai, tantos que eu gostaria de lhe falar sobre os combates secretos que lutamos detrás das cortinas, aliados que nos traíram, e toda a conspiração e planos, assim como a destruição e mortes que acontece enquanto falamos. Cada um desses grupos usa todos seus recursos na luta contra os outros com o intuito de sobreviver."

Koizumi continuou, carregando um sorriso cínico e cansado.

"Eu não acho que nossa teoria está absolutamente correta; mas para a situação atual, não haveria lugar para mim se não aceitasse essa idéia por hora. Eu inicialmente fiz um acordo com um dos lados, e agora não posso mudar de idéia. Como uma peça branca de xadrez que não pode virar o peão do lado negro."

Você não poderia usar o shogi ou Othelo como exemplos?

"Mas isso não tem nada a ver com você, o mesmo vale para Suzumiya-san, o que é uma coisa boa, especialmente por ela. Espero que ela nunca descubra nada sobre isso. Não quero deixar uma cicatriz em seu coração; Em meus padrões, Suzumiya-san possui certos traços agradáveis. É claro, você também os possui."

"Por que você está me contando tudo isso?"

"São só coisas que escaparam, não há nenhum motivo em particular. Talvez eu esteja brincando, ou talvez tenha sido possuído por alguma vontade estranha, ou talvez só queria conseguir a sua pena. Não importa, isso não tem a mínima importância."

Verdade, isso não é nada engraçado.

"Talvez eu diga algo que não seja ao importante agora. Você já pensou o porque de Asahina Mikuru... me desculpe, Asahina-san ficar conosco? É verdade que Asahina-san é uma garota bonita, e eu posso entender o motivo das pessoas quererem ajudá-la. Você provavelmente tem uma certa empatia com ela, certo?"

Decidi sair para conversar com ele sob o céu noturno. Eu não queria convidá-lo para entrar, ou tudo acabaria com um daqueles discursos infinitos.

Proteger o fraco do forte deve ser a aspiração de todos.

"A missão dela é se aproximar de você, é por isso que Asahina-san tem a aparência e personalidade, coincidentemente iguais ao seu tipo favorito de garota - a indefesa e bonita. Como você é a única pessoa que Suzumiya-san ouve, de certo modo, é imperativo pensar que ela tem um pouco de sua atenção."


Me senti engolfado em um silêncio maior do que um daqueles peixes abissais sente, e lembrei-me do que Asahina-san me dissera há meio ano. Não essa Asahina-san, a do futuro, "Por favor, não se aproxime muito de mim.". Ela me disse isso após considerar sua posição? Ou aqueles eram seus pensamentos verdadeiros?

Vendo como eu permanecia em silêncio, Koizumi continuou em uma voz profunda que soava como um velho cedro de Jomon-sugi.

"Se Asahina-san está meramente fazendo o papel de uma garota inocente, mas de fato é outra coisa, o que você faria? Acho que é mais fácil conseguir a sua empatia dessa forma. A maneira qual ela parece inocente e indefesa perante os comandos sem sentido de Suzumiya-san são só parte de seu plano. Tudo que ela quer é chamar a sua atenção."

Eu acho que ele enlouqueceu. Aprendendo de Nagato, respondi sem demonstrar nenhuma centelha de emoção.

"Estou farto de ouvir suas piadas estúpidas."

Koizumi sorriu lentamente, e mexeu os braços de forma teatral.

"Oh, me desculpe, parece que ainda tenho um longo caminho pela frente na árdua estrada de um bom contador de piadas. Inventei todas essas coisas estúpidas para te enganar. Apenas para dizer algo que deixasse uma boa impressão em sua mente. Você levou isso a sério? Agora me deixou mais confiante em relação a minha atuação. Posso encenar a minha peça mais tranqüilamente."

Ele gargalhou amargamente e continuou.

"Nossa sala vai encenar Shakespeare, ‘Hamlet‘ para se exato. Vou interpretar Guildenstern."

Nunca ouvi falar, acho que é só um personagem secundário.

"Ele deveria ser, mas na metade do caminho resolvemos usar a versão de Tom Stoppard da peça, então tenho que aparecer em mais cenas de agora em diante."

Bem, continue o bom trabalho. Se bem que não tinha idéia de que havia outras versões da peça alem da de Shakespeare.

"Devido ao filme de Suzumiya-san, e a peça da minha sala, meu cronograma tem andado bem apertado, e já estou sentido a pressão. Se eu pareço cansado, provavelmente essa é a razão. Não sei se agüentaria o aparecimento de um Espaço Restrito agora. É por isso que vim pedir a sua ajuda. Eu tenho que arranjar uma maneira de prevenir que o filme de Suzumiya-san gere mais acontecimentos paranormais."

Você fala de um fim aceitável? Não disse que poderíamos declarar que era tudo um sonho?

"Para fazer que Haruhi pense que tudo está apenas dentro seu filme, devemos fazê-la acreditar nisso?... certo?"

"Ela deve realmente ter ciência de tudo. Ela é uma menina astuta, e sabe que um filme é inteiramente ficcional. Só que sinto que as coisas não podem acabar bem se continuarem assim, e temos que resolver isso antes do fim das filmagens."

Eu conto com você. Koizumi me cumprimentou, e então desapareceu na escuridão. Que diabos foi isso? Ele veio aqui só para jogar a responsabilidade em cima de mim? Só porque ele está ocupado eu devo cuidar de todo o resto, é isso que ele está falando? Se esse é o caso, ele procurou a pessoa errada. Isso não é um jogo de carteado, e eu não costumo fugir das minhas responsabilidades. Suzumiya-san não é a carta cinqüenta e três. Ela não é o Rei, nem o Ás, e nem mesmo o Coringa.

"Mas..."

Eu resmunguei sozinho.

Parece que não posso mais evitar. Deixando Nagato de lado, Asahina-san e Koizumi parecem ter chegado aos seus limites. O mundo provavelmente também chegou... só que eu ainda não percebi isso.

"Maldição..."

Isso é um saco! Droga! Estou tão frustrado!

Como cancelar a imaginação selvagem de Haruhi? O mundo do filme e nosso mundo são coisas distintas, e não deveriam interferir um no outro - como fazê-la entender isso? Como fazer que ela aceite que isso não era verdade? Um sonho...? O que mais alem disso?

E não havia muito tempo até o inicio do festival cultural.


No dia seguinte, dei uma sugestão a Haruhi. Depois de debater um pouco, ela finalmente concordou com aquilo.


"Acabamos!"

Haruhi bradou enquanto batia no autofalante.

"Bom trabalho gente! Toda a filmagem está completa! Gostaria de agradecer pelo esforço, principalmente a mim mesma! Hmm, as vezes até eu me surpreendo, bom trabalho!"

Ao ouvir seu anúncio, Asahina-san, a garçonete, caiu de joelhos no chão, como se fosse derramar lágrimas de alegria. De fato, ela estava realmente chorando, mas Haruhi deve ter interpretado isso como uma reação emocionada ao seu discurso.

"Mikuru-chan, é muito cedo para chorar, guarde suas lágrimas para o momento em que receberemos a Palma de Ouro, ou o Oscar de melhor filme! Juntos chegaremos ao sucesso!"

Havia só mais um dia até o festival. Estávamos no teto da escola, e a agenda de filmagens fora tão apertada que nem tivemos tempo de comer.

A batalha final entre Mikuru e Yuki chegou ao fim, com a devida interferência de Koizumi Itsuki, que subitamente, teve consciência de seus poderes, e os usou para jogar Yuki para o outro lado do universo.

"Isso foi perfeito! Um filme soberbo! Como eu esperava! Vamos atrair um monte de estúdios querendo comprar os direitos do filme para o exibir em Hollywood! Mas primeiro precisaríamos assinar um contrato com um agente esperto!"

A visão da globalização por Haruhi era de tirar o fôlego. Eu não sabia quem iria querer assistir esse filme, cujo único atributo de vendagem seria a protagonista, nem o resto do elenco ou equipe eram dignos de menção. Se possível, gostaria de ser o agente de Asahina-san. Tenho certeza de que conseguiria um pouco de comissão por isso. Talvez devesse inovar e lançar a rabugenta Haruhi como a mais nova ídolo da nação. Acho que deveria começar mandando suas fotos e um resumo sobre ela.

"Finalmente acabou?"

Koizumi sorriu com animação para mim e disse:

"Sério, isso já encheu o saco, esse sorriso perfeito combina demais com ele. Prefiro ele assim do que melancólico, daquela maneira ele me deixava desconfortável."

"Quando olharmos para trás, agora que acabamos, acharemos que isso aconteceu em um instante. Algumas pessoas dizem que o tempo voa enquanto estamos nos divertindo, imagino quem é a pessoa feliz com isso tudo."

Quem vai saber?

"Posso contar com você para cuidar do resto? Agora estou pensando na minha peça. Diferente de um filme, você não pode dar retoques em uma peça."

Koizumi, que carregava seu sorriso de sempre, me deu um tapinha no ombro e sussurrou.

"Tem mais uma coisa pela qual preciso lhe agradecer, tanto pelo grupo, quanto por mim mesmo."

Estávamos no telhado. Seguindo Koizumi, Nagato deixou o lugar em silêncio, sem demonstrar emoção alguma.

Haruhi tinha os braços cobrindo os ombros de Asahina-san, que olhava para o mar ao longe.

"Nosso alvo é Hollywood e a Brodway!" - ela foi forçada a dizer isso alto. É uma boa coisa ter alguma ambição, mas se você seguir a direção em que está olhando, vai acabar é chegando na Austrália.

"Sigh."

Suspirei e me sentei no chão, colocando a câmera de lado. Para Nagato, Koizumi e Asahina-san, as coisas poderiam ter acabado; mas para mim, os problemas haviam só começado. Ainda haviam coisas a serem feitas.

Alguém tinha que transformar essa pilha de dados inúteis em um "filme". E quem estava encarregado disso? Acho que não preciso nem perguntar.

Na tarde de sexta-feira, apenas Haruhi e eu permanecemos no clube, enquanto os outros três estavam nas atividades de suas respectivas salas.

Foi bom que as filmagens acabaram, mas ela demorou demais, e havia pouco tempo para lidar com o resto das coisas. Depois de passar as filmagens para o computador e ver as cenas repetidamente, cheguei a uma única conclusão - isso era basicamente uma reportagem barata sobre Asahina Mikuru.

Para ser franco, mesmo depois do fim, não tinha idéia de que tipo de filme Haruhi tinha feito. A garçonete, a garota da morte, e o jovem sorrindo o tempo todo, o que havia de errado com eles? E para piorar não havia muito tempo para trabalhar na pós-produção, como colocar os efeitos especiais, sem mencionar que não tinha as habilidades para tal tarefa. Parece que teremos que lançar isso cru, sem passar pela edição.

Haruhi começou a reclamar.

"Como você pode mostrar algo que nem está completo para as pessoas? Você tem alguma solução em mente?"

Você está falando comigo?

"Não vai adiantar me apressar, afinal o festival é amanhã, eu estou fazendo o que eu posso. Já é uma dor de cabeça juntar as cenas que você filmou sem pensar. Não me sinto assistindo um filme agora."

Mas Haruhi era boa em esmagar as opiniões dos outros em um instante.

"Você não ia conseguir fazer, mesmo se passasse a noite toda aqui?"

Quem ficaria aqui? Eu não perguntaria isso, afinal ali só estava eu e Haruhi, que me olhava com aqueles olhos negros de ébano.

"Poderíamos ficar aqui essa noite."

Então, Haruhi disse algo que me deixou muito surpreso.

"Eu vou te ajudar."


Julgando pelos resultados, Haruhi não ajudou muito. Por um bom tempo ela só ficou resmungando atrás de mim, mas depois de uma hora já estava dormindo em cima da mesa. Sério, eu queria filmá-la dormindo. Poderia colocar isso no fim do filme.

Para falar a verdade, parece que eu também acabei dormindo um pouco. Porque quando abri meus olhos, o sol já tinha nascido, e o teclado tinha deixado marcas em meu rosto.

Então, ficar a noite inteira aqui não teve nenhum sentido afinal, o filme continuava incompleto. Tentei editar aqui ou ali, tentando compilar tudo em meia hora, mas ele continuava parecendo um pedaço patético de lixo. Acho que esse filme parecerá ter sido feito por algum amador impulsivo. Seria bom se apenas mostrasse Asahina-san no distrito comercial andando por ai vestida de bunny-gal. Mas essas cenas foram majoritariamente cortadas e passaram quase sem serem notadas, dando lugar a uma história quase inexistente, convenhamos, esse filme não tinha solução. No final ele não fora editado, e os efeitos especiais não tinham sido adicionados, resumindo, era um filme tão ruim que chegava a ser hilário. Acho que nem o Taniguchi conseguiria assistir essa porcaria.

Quis jogar o computador pela janela, mas a brilhante luz do sol me ofuscou demais para isso. Depois de passar a noite inteira em poses não naturais, meu corpo doía inteiro.

Eram seis e meia quando fui acordado por Haruhi, que levantou antes de mim. Pensando bem, foi a primeira vez que passei a noite na escola.

"Ei, então como ficou?"

Haruhi olhou para tela sobre meus ombros, então eu mexi o mouse e cliquei na tela.

"... wow!"

Haruhi exclamou deleitada, enquanto meu queixo caia por causa do choque. Nosso titulo revelou um impressionante fundo em CG. "As Aventuras de Asahina Mikuru-chan Episodio 00", e então começou. Apesar de achar a história bastante inconsistente, que as falas mal podiam ser ouvidas, que a câmera tremia, e perceber os gritos da diretora podiam ser ouvidos nas cenas, o filme chegara em um nível aceitável para os padrões de estudantes de ensino médio. Não havia apenas lasers saindo dos olhos de Asahina-san, mas também raios coloridos saiam da varinha de Nagato.


"Heh heh."

Até Haruhi estava impressionada.

"Nada mal! Mas não está perfeito, mas mostra que você pode fazer uma boa coisa quando você coloca seu coração no meio."

Não fui eu. Provavelmente alguém fez isso enquanto dormíamos, não tinha como eu ter feito uma coisa dessas. A maior suspeita era Nagato, seguida por Koizumi. Asahina-san estava fora de questão. Ou será que havia sido uma pessoa misteriosa que ainda não havia aparecido? Podia ser.

Por algum tempo, assistimos o filme que de alguma forma havia se editado sozinho. Se não fosse por essa tela pequena... estou certo de que ficaríamos ainda mais impressionados ao ver em uma tela maior.

O filme agora mostrava sua cena final, Koizumi e Asahina-san andando de mãos dadas sob uma chuva de pétalas de cerejeira. A câmera deu uma panorâmica e se virou para o céu azul, então o tema de encerramento começou a tocar enquanto os créditos desciam.

Finalmente o pronunciamento da Haruhi.

Era um aviso que com muito custo foi inserido no filme, depois de muitas tentativas de convencer Haruhi. Disse a ela que esse era um elemento crucial no fim do filme, e isso tinha de ser feito pela própria diretora.

Um aviso mágico que eliminaria todos os problemas criados pela filmagem:

“Os eventos retratados nesse filme são fictícios. Não tem relação com nenhuma pessoa, organização, nomes ou fenômenos conhecidos. É tudo inventado. Se algo parecer familiar, é só a sua imaginação. Oh, os comerciais são uma exceção. Por favor comprem na eletrônica Ohmori e na loja de modelos Yamatsuchi! Huh? Você quer que eu repita? Os eventos retratados nesse filme são fictícios. Não tem relação com nenhuma pessoa, orga – Kyon, porque eu tenho que dizer isso? Isso tudo não é obvio? “


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