Toaru Majutsu no Index:Volume14 Capítulo3

From Baka-Tsuki
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Capítulo 3: Algo Distante dos Magos — Incentivo_ao_Poder.[edit]

Parte 1[edit]

O Distrito 23 da Cidade Acadêmica era um distrito especializado em aviação e indústrias espaciais. Os principais aeroportos da Cidade Acadêmica estavam no Distrito 23.

O distrito era coberto de pistas e locais de lançamento de foguetes, então não havia prédios altos como no resto da cidade. Até aonde a sua vista alcançasse, se via apenas asfalto liso com algumas torres e laboratórios despontando.

— É como se fosse um campo feito de rochas e ferro...

Kamijou disse isso ao sair do trem, e olhou para a paisagem que se estendia à sua frente.

Esse era o lugar onde ele havia lutado com Oriana Thomson durante o Daihaseisai, mas ele tinha a impressão que havia ainda mais segurança do que antes.

Ele colocou as compras que estava carregando em um armário ativado por moedas na estação. Como havia vários pesquisadores nessa cidade, todos os armários desse tipo eram hermeticamente fechados e você podia até refrigerá-los.

Mas...

— …Isso é caro. Essas coisas custam isso tudo por hora?

— Nyah. Parece que seria mais barato jogar essas sacolas de compras fora e comprar tudo de novo em algum supermercado barato, quando voltarmos.

Tsuchimikado tinha razão, mas Kamjiou não gostava de desperdiçar comida. Ele colocou as sacolas no armário, gravou sua digital, trancou-a, e ativou a opção de refrigeração.

Kamijou se dirigia para a saída da estação e falou com Tsuchimikado.

— E eu suponho que vamos pegar um avião, já que estamos no Distrito 23.

— Bem, nós estamos deixando o país.

— Sério? …Espere, alguém pegou meu passaporte?

— Não.

Kamijou calou-se com a resposta seca de Tsuchimikado.

Tsuchimikado parecia entediado enquanto continuou falando.

— Não é como se fôssemos viajar a passeio. Nossas atividades são completamente não-oficiais. E, se formos descobertos, provocaremos um incidente internacional que empalidece em comparação de não ter um ou dois carimbos em nossos passaportes.

— E-eu entendo.

Havia muitas coisas que ele queria dizer, mas o jeito simples que Tsuchimikado disse isso fez ele se perguntar se este jeito era mesmo o melhor.

Depois de sair da estação, eles estavam num terminal rodoviário de grande escala. No Distrito 23, você se locomovia em ônibus ao invés de andar.

Tsuchimikado achou o ônibus que se dirigia para o aeroporto internacional e entrou. Kamijou o seguiu.

Como o distrito tinha poucos prédios e era cheio de pistas, a estrada era reta como uma flecha. O limite de velocidade era bem alto, também; as placas indicavam 100km/h.

Com a planície de asfalto vista pelas janelas, até mesmo o horizonte cinza era feito pelo homem.

Grandes nuvens brancas de vapor podiam ser vistas emergindo do horizonte.

Um tremor de baixa frequência balançou os vidros, fazendo-os vibrar.

— Ah, um foguete... Parece que foi lançado corretamente.

Tsuchimikado suspirou ao dizer aquilo.

Kamijou pegou seu celular e ligou a função de televisão. O noticiário mostrava vários ângulos de um foguete deixando o solo.

— Eles estão dizendo que é o 4º satélite da Cidade Acadêmica. Eu me pergunto se é verdade ou não.

— Se eles estão lançando um foguete agora, uma das razões é para que as pessoas especulem. As pessoas dirão de tudo, desde um satélite militar até um teste de lançamento de um ICBM[1]. Quanto mais possibilidades, se torna mais efetivo para deixar outros em alerta.

(Então é isso que é guerra de informação…)

De repente, Kamijou ficou imóvel.

— …Espere. E a Index?

Ele não queria levá-la a nenhum lugar perigoso, mas ele não poderia deixá-la a só sem comida alguma.

— Não se preocupe. Maika irá ao seu apartamento, Kami-yan. Ela provavelmente terá somente um terço da fome que tem usualmente depois que Maika passar por lá.

Kamijou ficou aliviado ao ouvir aquilo, mas então percebeu que sua existência aos olhos de Index era somente para fazer comida para ela.

Pouco tempo depois, o ônibus chegou ao aeroporto internacional.

Kamijou saiu do ônibus e olhou as horas em seu celular.

— Tsuchimikado. Onde exatamente nós estamos indo?

— França.

Tsuchimikado respondeu casualmente.

— Ugeh?! Europa! É uma viagem e tanto... Espere, por quanto tempo nós vamos ficar fora? E um voo para Europa não leva algo como 10 horas?

— Não, nós estaremos lá em apenas uma hora.

— Hah?

Kamijou disse, confuso.

Tsuchimikado parecia estar aborrecido por ter que explicar, então ele simplesmente apontou para uma pista um pouco distante do terminal.

Lá havia aviões para múltiplos passageiros enfileirados, cada um com algumas dezenas de metros de comprimento.

— Nós vamos pegar um daqueles.

— …Por favor, me diga que você está brincando.

Kamijou estava quase sem palavras quando pediu a Tsuchimikado uma confirmação.

Ele já havia voado em um daqueles antes.

— Se me lembro bem, aquele é o tipo de avião que usaram para me trazer de Veneza para o Japão.

— Sim, foi isso o que eu ouvi, Kami-yan. Eu não me envolvi muito com todo o incidente da "Rainha do Adriático", então eu não sei dos detalhes.

— Então esses são realmente do tipo que voam 7000 km/h?

— Ha ha ha, Tsuchimikado riu. — Quanto mais rápido, melhor, certo?

— É rápido demais!! Quando voei naquilo, parecia que havia uma placa de metal lentamente me esmagando! Index tinha finalmente começado a abrir o coração dela para o lado da ciência e aquilo fez com que ela o fechasse completamente!!

Também houve a parte na qual Index pediu comida no voo e a comida voou para trás dela espetacularmente.

— Ah, o que é isso, Kami-yan. Nós estamos partindo em uma missão não oficial em outro país. Você realmente pensou que nós iríamos para a França enquanto despreocupadamente comíamos a comida no avião e assistíamos a um filme?

— B-bem, não. Eu estava esperando um pouco mais de tensão que isso, mas... Espere. Nós realmente vamos naquela coisa? Eu não recomendo a experiência!!

— Não se preocupe. Não se preocupe. Depois que passarmos de Mach 3, um amador não consegue sentir a diferença.

— E como diabos isso vai fazer eu não me preocupar?

Kamijou continuou reclamando, mas Tsuchimikado parou de escutá-lo e começou a explicar o que fazer depois que entrassem no avião. Parecia que não havia outros aviões, então eles realmente não tinham opção. Tsuchimikado guiou Kamijou por entre uma porta de "somente pessoal autorizado" e descendo um corredor que os levou ao avião supersônico de passageiros enquanto contornavam o portão de uso geral.

Parte 2[edit]

— O C-Document. Esse é o nome do item espiritual no centro de tudo isso.

A voz de Tsuchimikado ecoou através do espaçoso avião.

O avião supersônico de passageiros era um pouco maior que um avião comum de passageiros, mas eles eram as únicas duas pessoas lá além da comissão de bordo. Isso os fazia sentir o avião bem vazio.

Como só havia dois passageiros, Kamijou e Tsuchimikado estavam sentados bem na melhor área, a primeira classe. Diferentemente dos assentos apertados da classe econômica, eles tinham espaço mais que suficiente para esticar as pernas.

Tsuchimikado estava olhando para o assento próximo a ele, onde Kamijou se sentou.

— Seu nome formal é o Documento de Constantino. A Igreja Cristã originalmente foi perseguida pelo Império Romano até que o Imperador Constantino a reconheceu como uma religião oficial. O C-Document é um documento criado por Constantino para a Igreja Católica Romana.

Aquelas não eram as palavras do colega de classe que Kamijou conhecia.

Tsuchimikado Motoharu estava plenamente em “modo-magia”.

— O C-Document diz que o Papa Romano é o líder da Igreja Cristã e que os direitos das terras da Europa inteira onde Constantino governou pertenciam ao Papa. Como Constantino possuía a maior parte da Europa, isso essencialmente significava que a Europa pertencia ao Papa e todas as pessoas que lá viviam teriam que obedecer à Igreja Católica Romana. É um certificado que garante a Igreja Católica Romana algo que, segundo o ponto de vista deles, seria bom demais para ser verdade.

Tsuchimikado continuou a falar enquanto mexia na tela LCD touch-screen que estava próxima ao seu assento.

— Como um item espiritual, o poder do C-Document é... bem, você poderia dizer que é como um compasso. Para descobrir as terras que Constantino possuía a quase 1700 anos atrás, você pode usar o C-Document até mesmo nos dias atuais. Nele aparecem símbolos que indicam que determinado local foi herdado do imperador. E, como a herança do imperador é composta de coisas dadas à Igreja Católica Romana, a terra e os itens de onde um símbolo aparecer no C-Document são todas doadas à Igreja Católica Romana para desenvolvê-las ou usar como acharem melhor.

Tsuchimikado parou de falar.

Ele estava olhando para o rosto de Kamijou.

— Kami-yan, você está prestando atenção?

— Ughghghghghghghghghghghghghghgh!!

Kamijou não podia respondê-lo.

7000 km/h. A poderosa força-G[2] que aquele tipo de velocidade criava estava esmagando os órgãos internos de Kamijou Touma, o deixando impossibilitado de responder propriamente. Parecia que havia uma bola de basquete sendo empurrada contra seu estômago enquanto alguém o pisoteava o mais forte possível.

O estranho era Tsuchimikado, estando perfeitamente normal naquelas circunstâncias.

— Bem, que seja. Apenas escute.

— Ughgh!!

Tsuchimikado não tinha certeza se o que ouviu era uma resposta ou um gemido.

— Como eu disse, o C-Document parecia ser bom demais para ser verdade, do ponto de vista da Igreja Católica Romana. Na verdade, um estudioso do século XV declarou-o falso. E ele tinha razão. Os efeitos do C-Document e o seu poder como um item espiritual são bem diferentes.

— Ghghghghghgh!!

— O verdadeiro efeito do C-Document atua em uma escala bem maior. Faz com que coisas ditas pelo Papa Romano sejam consideradas "verdade absoluta".

Tsuchimikado movia levemente os lábios enquanto falava baixo.

— Por exemplo, se o Papa declarasse que os membros de certa religião são inimigos da humanidade, que estavam causando distúrbios na ordem pública, isso seria uma afirmação verdadeira no momento que ele dizê-la. Se ele declarasse que você não queimaria a mão enquanto tocasse uma placa de metal aquecida enquanto você orasse, e você fizesse isso, também seria crível sem qualquer tipo de evidência.

— Ohh-gh-gh-gh!!

— Vamos lá, Kami-yan! Pelo menos olhe para cá!

A parte de cima do corpo de Kamijou balançava violentamente.

E, ainda assim, ele conseguiu falar.

— Então...se ele usar esse C-Document...tudo o que o Papa disser...é verdade...?

Parecia que ele conseguiu mesmo acompanhar a conversa bem o bastante para entender aquilo.

Kamijou estava tentando descobrir se falar ao invés de ouvir podia fazê-lo se sentir melhor. Era o seu último recurso.

— Então...ele pode fazer tudo o que quer se tornar realidade? ...Como o Ars Magna[3] em alquimia? ... Oghhh!!

— Não, não desse jeito.

Tsuchimikado parecia estar tão despreocupado que parecia que ele havia começado a sussurrar uma canção.

— O C-Document pode apenas fazer as pessoas acreditarem que algumas coisas são verdadeiras. Não importa o quão ridículo pareça, faz as pessoas pensarem que seja verdade porque o Papa disse assim. Ele não altera realmente as leis da física.

Ele fez algo na tela de LCD instalada no descanso para os braços.

— Também, somente as pessoas da Igreja Católica Romana são afetadas. Então, pessoas que não se importam com o que é verdade para a Igreja Católica Romana, ou aqueles que particularmente não se importam se estão errados não são afetados. Para melhor ou pior, o item espiritual é de uso privado da Igreja Católica Romana.

— E-e-então...é um item espiritual que faz com que as pessoas achem que o que você diz seja verdade? M-mas isso é... Ugh.

— Ha ha. Eu acho que pode soar como trapaça. Mas há muitos truques usados para manter a realeza de uma pessoa tempos atrás, quando o que as pessoas poderosas diziam eram consideradas leis absoluta. Mesmo porque, a realeza dessas poderosas pessoas determinava se as pessoas acreditavam nessas leias absolutas ou não. E se a fé nessas leis fraquejasse, o país inteiro estaria em perigo. Mesmo no Japão havia a prática de cortar uma pessoa em dois se elas falassem mal de um samurai, na era Edo. Qual outro meio mais fácil de regular as ideias das pessoas que esse?

— E-e-então... eles fizeram o C-Document porque...

— Sim, porque eles estavam com medo. Com medo de perder controle do mundo que criaram. A Igreja Católica Romana teve muitas crises durante a história. Mas a Igreja Cristã e Deus são supostos de ser absolutos. Deus é um ser que supostamente salvará a humanidade de qualquer crise. E, ainda assim, a população da Europa diminuiu bastante durante a peste negra, houve várias falhas durante as Cruzadas, e ninguém sabia quando os Turcos Otomanos iriam atacar a Europa em massa.

Tsuchimikado disse isso com uma voz sem emoção, mas havia um brilho compassivo em seus olhos.

— A ideia que "Deus é absoluto" foi desafiada várias vezes. E a Igreja Católica Romana precisava de ajuda para manter essa ideia viva. Por isso eles precisavam do C-Document. Com ele, eles podiam certificar que o coração das pessoas ficaria com eles, mesmo nas piores crises.

Você quase poderia dizer que era um item espiritual que preenchia o espaço entre o ideal e a realidade.

Era uma ferramenta para proteger a esperança das pessoas, forçando-as a “acreditar”.

Podia parecer cruel, mas ao mesmo tempo podia-se notar certo carinho na intenção por trás disso.

(E-e-então a Igreja Católica Romana está usando esse C-Document agora...)

Kamijou respirou profundamente enquanto pensava.

(Eles estão fazendo as pessoas acreditarem que aqueles que vivem na Cidade Acadêmica são os caras maus, e isso é "verdade". E por eles estarem forçando essa informação na cabeça das pessoas, as manifestações tomaram esse rumo distorcido.)

Kamijou então moveu seus lábios agora pálidos por culpa da força G.

— M-m-m-mas… Se eles possuíam um item espiritual tão terrível… Por que não o usaram ainda?

— Porque os efeitos do C-Document são enormes. Uma vez que algo seja dito como "correto", é muito difícil reverter o efeito mesmo usando-se o C-Document novamente. Por causa disso que eles não podem determinar cada coisa pequena como "verdade".

Tsuchimikado respondeu a pergunta tranquilamente.

— Além disso, o C-Document não é exatamente fácil de ser usado. Como eu tinha dito, ele faz as pessoas pensarem que algo que o Papa Romano disse esteja "correto". Não pode ser usado por qualquer um e não pode ser usado em qualquer lugar. Foi feito originalmente para ser usado apenas quando estivesse no centro do Vaticano. O comando espalha-se em volta do mundo de uma vez através das linhas de ley[4].

— Eh? Ghh... M-mas nós não estamos... indo impedir que eles o usem?

— Estamos.

— E-então por que na França? Você acabou de dizer... que o C-Document pode apenas...ser usado no Vaticano...

— Hm? Ah, certo. Sobre isso.

— M-mas...você disse...que depois que eles o usam... eles não podem deletar o comando, certo? Mas isso significaria que... nós não podemos fazer nada... sobre isso.

— Vamos ver. A qual pergunta devo responder primeiro?

Enquanto Tsuchimikado falava, um tom eletrônico suave veio dos alto-falantes da aeronave.

Então, uma voz feminina aparentemente sintética fez um anúncio. Estava em uma língua estrangeira, mas Kamijou não achou que era inglês. Depois de escutar o anúncio, Tsuchimikado ficou com um tom cruel.

— …Bem, parece que estamos sem tempo. Kami-yan, você está bem mesmo? Se não estiver se sentindo muito bem, tente respirar profundamente. Vamos, respire.

— Huhh.

— Expire.

— Hoo.

— Respire novamente.

Huhh.

— E expire novamente.

— Hoo.

Depois de fazer isso, Kamijou se sentiu melhor...ou pelos menos ele pensou que estava melhor.

Mas o rosto de Tsuchimikado parecia mais e mais cruel.

— Isso não parece bom. Talvez você se sentiria melhor se vomitasse? Bem, venha, Kami-yan. Tire o cinto de segurança e me siga. Vamos, não há aeromoças, então você não precisa se preocupar, não haverá problema, Kami-yan.

Tsuchimikado levantou de seu acento calmamente e Kamijou vagarosamente o seguiu. Kamijou sentiu que não estava se movendo por vontade própria; ele sentiu que ele foi tirado da situação e seu corpo se movia sozinho.

Tsuchimikado desceu um corredor, abriu uma porta, entrou em um corredor ainda menor, atravessou uma escotilha tão baixa que parecia que ele ia bater a cabeça, e entrou em uma área que era feita apenas de metal, onde um som tremido podia ser ouvido claramente.

(Onde estamos?)

Kamijou estava atordoado e pegou o que Tsuchimikado lhe entregou, um objeto que parecia uma mochila.

— Aqui. Coloque isto.

— Tsuchimikado? O que era aquilo de me sentir melhor se vomitasse?

— Não se preocupe. Não se preocupe. Eu vou abri-lo em breve, então se apresse e coloque isso.

Tsuchimikado já havia colocado os cintos da mochila em volta de seu corpo. A coisa toda era excessiva.

Havia cintos conectando a mochila a ele não apenas sobre os seus dois ombros, mas em volta de seu peito e estômago também.

Kamijou não entendia realmente o que estava acontecendo, mas colocou os cintos de sua mochila da mesma maneira que Tsuchimikado.

— Certo, Kami-yan. Parece que você está pronto para ir.

Tsuchimikado usou a palma de sua mão para pressionar um grande botão no que parecia a tampa de uma lata.

— Tudo bem, agora você pode vomitar o quanto quiser!!

Kamijou ouviu um som alto e estranho.

Quando Kamijou percebeu que era o som de algo grande bombeando, uma grande porção da parede se abriu repentinamente revelando nada mais que o céu.

— O quê?

Kamijou estava completamente aturdido.

E antes que ele pudesse pensar mais, um vento violento surgiu dentro da aeronave e começou a sugar tudo para fora.

— Ts-Ts-Ts-Ts-Tsuchimikadoooooo?!

Kamijou agarrou freneticamente uma protuberância na parede, mas ele duvidava que poderia segurar por muito tempo.

No meio de todo aquele vento, Tsuchimikado sorria largamente.

— Vamos, Kami-yan. Você está pronto, então vomite o quanto quiser!

— Cale essa maldita boca!! P-Por que diabos você abriu a escotilha de bagagem?

— Porque se nós pousássemos no aeroporto da França como dois idiotas, aqueles bastardos Romanos Católicos iriam descobrir. Esse avião vai para Londres. Nós pulamos na metade do caminho.

— Você é estúpido?? Pense o quão rápido esse avião se move! Abrindo a escotilha a 7000km/h vai destruir o avião em pedaços!!

— Desculpe, mas já está aberto.

— Nós vamos morrer!!!

— Você é estúpido, Kami-yan. Se eu realmente tivesse feito aquilo, nós não poderíamos sentar aqui e conversar como estamos fazendo.

O avião deve ter diminuído sua velocidade para eles poderem sair. E, na verdade, Kamijou estava se sentindo melhor, já que ele não estava mais sendo muito afetado pela força-G...

— E-ei. Então para que serviu todo aquele exercício de respiração? Aquilo não tinha motivo algum, certo?

— Vamos lá, Kami-yan. Pare de se debater em vão e solte-se da parede de uma vez.

— Eu estava agradecido. Eu realmente estava agradecido porque você estava se preocupando comigo!! E você estava apenas sendo um bastardo!!

— Cale a boca e vá.

Tsuchimikado chutou a mão de Kamijou e o garoto de cabelos espetados perdeu seu último apoio.

O forte vento soprando fora do avião o interceptou e ele voou para fora da área de bagagem para o céu vazio.

Na hora local, passava de meio-dia.

Abaixo do refrescante céu azul, um estudante do ensino médio estava gritando até esvaziar os pulmões.

— Gyaaaaaaaaaaahhhhhhhhhh!!

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Havia apenas o céu azul em volta dele.

Provavelmente, graças a ele estar balançando os braços e pernas, e a resistência do ar movendo o vento de uma maneira estranha, seu corpo era jogado em direções confusas.

(O-o que está acontecendo? A poucas horas atrás, eu estava tendo uma competição de forkball com Fukiyose. Então por que eu estou voando sobre o céu da França?)

Enquanto caía, ele conseguiu enxergar Tsuchimikado pulando do avião e sorrindo, como se fosse um competidor de esportes aéreos.

(Eu vou matá-lo... Quando chegarmos ao chão, eu vou espancar esse bastardo!!!)

(…Espere, como vamos aterrissar?)

O rosto de Kamijou ficou pálido.

Mas então, a mochila que Kamijou usava explodiu.

Um enorme paraquedas emergiu de dentro dela. Deve ter sido ajustado para abrir automaticamente a uma determinada altura.

Mas pegou Kamijou completamente de surpresa.

— Ghhh?! Meu pescoço! Agarrou em volta do meu-...!

Ele não conseguiu terminar sua reclamação.

Seus braços e pernas balançavam enquanto ele flutuava, descendo em uma pose bem natural.

Ele não podia saber que seu paraquedas foi levado por uma corrente de vento e se desviou da área que supostamente ele pousaria, e que ele acabou pousando no Rio Rhone, que é conhecido por ter uma largura de 100 metros.

Parte 3[edit]

Kamijou escutou o som de água.

O que o deixava confuso era que o som estava vindo de sua própria boca.

Seu paraquedas foi pego em uma corrente de ar e ele acabou no meio de um rio. Ele não conseguia sentir o chão abaixo de seus pés. Ele não era um grande nadador, mas também não era tão ruim assim. Contudo, com suas roupas encharcadas e um paraquedas gigante envolto em seu corpo, ele não conseguia flutuar muito bem.

Não havia sinal de que Tsuchimikado tivesse pousado por perto. Mas como ele estava afundando no rio, estar separado de Tsuchimikado era o menor de seus problemas.

Ele não tinha ideia de quão profundo o rio era.

Era possível que o rio podia nem ser tão fundo, mas era definitivamente o suficiente para Kamijou se afogar dado o estado de desorientação em que se encontrava. A água não estava fazendo nada, a não ser o deixando em pânico.

Ele começou a se debater com seus braços de 2 a 3 vezes mais devagar que seus pensamentos.

Seus braços tremiam muito.

O tremor era devido o cansaço de seus músculos, a água tirando seu calor corporal, e o medo de que ele não conseguiria tirar a cabeça para fora da água. Tudo isso junto o fez sentir que havia algo restringindo seus movimentos.

(Ah, droga.)

O ar que ele havia puxado com a boca saíra em borbulhas.

Ele podia ver a luz do sol brilhando na superfície da água acima de sua cabeça.

A luz dançava e bagunçou completamente seu senso de direção.

(Pensando bem, isso aconteceu comigo uma vez quando fui jogado do navio de gelo em Chioggia...)

Enquanto Kamijou olhava para a superfície, ele viu algo como uma estranha lanterna giratória descendo em sua direção.

A superfície se abriu formando um grande número de bolhas.

(...!!!)

Antes que Kamijou pudesse ficar surpreso, uma delicada mão o alcançou além da alva cortina de ar.

Quando percebeu que alguém devia ter mergulhado na água, aquela mão pegou seu pulso.

Ele foi então puxado por uma força incrível.

O corpo de Kamijou estava estranhamente "solto" enquanto ele era puxado para superfície por uma corda.

Não demorou nem mesmo 10 segundos para seu rosto atravessar a superfície da água e encontrar o ar.

Ele ouviu uma forte pancada na água.

Ele estava encontrando dificuldades em respirar o oxigênio que ele tanto desejava.

Os músculos que moviam sua garganta e seus pulmões não estavam funcionando corretamente.

— V-você está bem?

Ele escutou a voz de uma garota próxima a ele.

O paraquedas continuou a agir como peso puxando o corpo de Kamijou para baixo. A garota aumentou o tom de sua voz enquanto carregava o peso de ambos.

— Eu vou trazê-lo para margem. Apenas deixe seu corpo solto assim!!

Quando chegaram à margem do rio... ou melhor, uma parte mais rasa do rio, Kamijou conseguiu se sentar.

Por causa de suas roupas e porque o paraquedas absorvera muita água, ele se sentia muito pesado. E a corda do paraquedas embolou-se enquanto ele se debatia na água, se tornando nada mais que um obstáculo.

— É-é assim que isso funciona?

A garota esticou sua delicada mão.

Kamijou escutou um alto “click” e viu-se finalmente livre do paraquedas.

Ele então se levantou lentamente da parte do rio onde estava sentado, que não era mais fundo que uma poça.

Ele olhou para cima e viu o sol alto no céu, então devia ser pouco mais de meio-dia. Mas não havia outras pessoas além de Kamijou e a garota. Talvez as pessoas estivessem dentro de suas casas por medo das manifestações e confrontos.

Ele olhou em volta.

Havia uma ponte em forma de arco bem próxima, mas estava parcialmente destruída e só ia até uma parte por cima do rio.

A garota devia ter pulado no rio daquela parte da ponte.

Kamijou então se voltou à garota que o tinha salvado.

Ele supostamente devia estar na França, mas essa garota era japonesa.

Ela parecia ser da mesma idade que ele.

Ela tinha cabelos negros que iam até o ombro e pálpebras duplas. Ela estava usando um top rosa e uma bermuda branca. Ela possuía uma figura esbelta.

— Você engoliu água...?

A garota que o olhava com preocupação lhe parecia familiar.

— Cof. Itsuwa, dos Amakusas?

?— Ah, sim. É bom vê-lo de novo.

Itsuwa abaixou sua cabeça graciosamente.

Mas ela supostamente devia estar vivendo em Londres junto com o resto dos Amakusas. Ela não estaria na França sem ter razão alguma.

(Por que Itsuwa está aqui? ...Aliás, só pode haver uma razão para ela estar aqui...)

— Ei, Itsuwa. Foi Tsuchimikado quem a chamou aqui?

— Um... Quem é Tsuchimikado-san?

Traindo as expectativas de Kamijou, Itsuwa inclinou sua cabeça de lado, confusa.

— Cof. Hã, não é isso? Kamijou claramente não esperava aquilo. — Quer dizer, certamente você deve estar aqui por que a Igreja Católica Romana está usando o C-Document para causar manifestações e protestos em volta do mundo, certo?

— C-como você sabe disso?

Itsuwa colocou sua mão sobre a boca, surpresa.

— É-é verdade que nós estamos investigando o C-Document, mas como você sabe da pista que demoramos tanto para encontrar? Eu acho que isso devia ser o esperado daquele que derrotou a Sacerdotisa com um único golpe!!

Os olhos dela brilhavam por alguma razão, mas Kamijou não tinha nenhuma lembrança desse evento, graças a sua perda de memória. Na verdade, isso o assustava.

(O que diabos eu fiz com a Kanzaki?)

— Um, bem, uh... Por que você estava flutuando em um paraquedas tão repentinamente? As coisas estão bem na sua escola, no Japão?

Kamijou foi confrontado com uma questão ainda mais básica.

Ele coçou sua cabeça, seu cabelo ainda molhado com a água suja do rio, e respondeu.

— Eu vim aqui com Tsuchimikado para parar o C-Document. A Igreja Anglicana não lhe informou das ações de Tsuchimikado?

— Nós estamos investigando as linhas de ley e outras propriedades mágicas da terra na França a pedido da Igreja Anglicana.

— Entendo.

Kamijou não estava prestando muita atenção. Mas então, ele piscou.

— Nós?

— Sim, Itsuwa disse e balançou positivamente a cabeça. — Os 52 membros prontos para combate da Igreja do estilo Amakusa. Nós estamos visitando as maiores cidades da França. Eu era a responsável pela cidade de Avignon, mas então você apareceu caindo do céu...

— ...Entendo. Então esta aqui é Avignon.

Ele foi arrastado nisto e jogado do avião por Tsuchimikado, então ele não tinha ideia de onde estava.

Quando pensou bem, ele tinha mesmo sorte de encontrar uma pessoa japonesa que ele conhecia.

E como Tsuchimikado o estava levando para Avignon, era altamente provável que a Igreja Católica Romana guardava o documento lá.

Isso significava que era uma base inimiga.

E Kamijou caiu bem no meio dela.

— Ei, Itsuwa. Tsuchimikado disse que o C-Document só podia ser usado no Vaticano.

— I-isso é verdade.

— Então por que vocês estão investigando a França e não a Itália? Eu perguntei para ele, mas fui jogado para fora do avião antes que ele pudesse responder.

Itsuwa deve ter pensado que aquela última parte era algum tipo de piada que ela não entendeu, visto que ela deu um sorriso um pouco forçado.

E então, Itsuwa se lembrou de algo.

— U-um... Posso pegar minha bolsa antes de responder isso?

— Sua bolsa?

— Eu a deixei em cima da ponte. E-eu estou preocupada que possam roubá-la.

Ela devia estar se referindo à ponte em forma de arco em ruínas próxima dali.

Aparentemente, ela realmente havia pulado da ponte.

— Entendo. Ah, e obrigado por me salvar. Eu realmente estaria com problemas se você não tivesse me salvado.

— N-não, não! Não foi nada, realmente!!

Itsuwa balançou sua cabeça para trás e para frente em uma velocidade incrível e sacudiu suas mãos em frente ao seu rosto enquanto dizia aquilo. Pequenas gotas de água voavam de seus dedos.

Vendo isso, Kamijou perguntou a ela.

— Ah, e mais uma coisa, Itsuwa. Você tem roupas extras na sua bolsa?

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— Eh? B-bem, a Igreja do estilo Amakusa se especializa em sigilo.

Ela estava confusa com a pergunta repentina de Kamijou, mas podia-se notar um pouco de orgulho em sua expressão enquanto ela explicava aquilo.

— A maior parte de minha bagagem está no hotel, mas eu tenho roupas extras comigo para quando estiver seguindo alguém ou para poder fugir. No entanto, eu ainda não as usei.

— Entendo. Bom.

— ?

Itsuwa ainda não havia entendido do que ele estava falando.

Mas Kamijou estava relutante em dizer diretamente a ela.

Então ele desviou seu olhar de Itsuwa para o céu azul e apontou para o que ele estava falando.

— ...

Itsuwa seguiu com seus olhos a direção para onde o dedo de Kamijou apontava e viu o que ele estava apontando.

Seu peito.

Mais precisamente, seu top rosa que ficou transparente e estava grudando em sua pele por estar molhado e então deixando toda sua silhueta visível.

Parte 4[edit]

Bem, Itsuwa era uma garota com uma personalidade pacífica e honesta.

Mesmo após Kamijou apontar a “questão”, ela não demonstrou nenhum tipo de ação desmedida, como dar-lhe um tapa, mordê-lo, fritá-lo eletricamente com um bilhão de volts, ou qualquer outra coisa parecida.

Apenas sua face tornou-se extremamente corada e ela deu uma risada nervosa. Ela apenas disse, “Ah. Ah ha ha. Desculpe-me por ter lhe mostrado isso. Ah ha ha ha ha.”, cruzou os braços para esconder seu peito e correu em direção da ponte aonde estava a bolsa com suas roupas extras.

Ela estava sorrindo, mas seus olhos lacrimejaram um pouco. Parecia uma reação bem adulta e sensível.

— Hmmm...

Por alguma razão, Kamijou se sentiu bem desconfortável com toda a situação.

Ele mirou o horizonte desejando que ela ao menos tivesse gritado.

Dez minutos depois, Itsuwa estava de volta usando roupas diferentes, fazendo Kamijou pensar aonde exatamente ela havia se trocado. Ela já havia se secado, mas ela ainda devia ter sentido que exalava cheiro da água do rio, porque ele percebeu que ela havia colocado perfume.

— D-desculpe fazê-lo esperar.

Itsuwa tinha uma grande bolsa apoiada em seu ombro.

Ela estava usando uma blusa verde clara e calças marrom escuras que iam até a altura da panturrilha.

A blusa era feita de um material tão fino que você poderia imaginar que veria através dela se o sol brilhasse ali. A blusa não tinha botões; era apenas amarrada na altura do estômago.

Aquela blusa era tudo o que ela estava vestindo na parte de cima de seu corpo.

— ...Itsuwa-san?

— E-eu não tive escolha! Eu só tinha isso para colocar por cima do top e parece ser uma roupa diferente! Então, por favor, não diga nada!!

Ela parecia estar dizendo a verdade porque, olhando de perto, a blusa realmente não tinha botão algum.

Amarrar a parte da frente era a única maneira de deixá-la fechada.

Ela devia saber que estava levando ao limite com aquela roupa, porque ela se curvou um pouco para evitar o olhar silencioso de Kamijou.

Mas ela estava nessa situação porque ela pulou no rio para salvá-lo.

Kamijou usou os recursos limitados de seu cérebro para achar algo para dizer.

— Bem, do jeito que Kanzaki se veste, isso não é nada, certo?

— A Sacerdotisa não se veste de uma forma tão promíscua quanto isso!!

Itsuwa negou que Kanzaki se vestisse inapropriadamente, mas então percebeu que ela mesma estava vestida de forma “promíscua” e sua face corou de vez.

(Bem, como Kanzaki age como se fosse festejar a noite inteira, funciona. Mas como Itsuwa fica toda embaraçada, tenta se esconder e fica tímida, isso a faz aparecer ainda mais.)

— Eu realmente não sei quem é o Tsuchimikado-san, mas, se você está aqui para recuperar o C-Document, talvez nós possamos trabalhar juntos até nos encontrarmos com ele.

Itsuwa deve ter desejado mudar rapidamente o assunto e desviar a atenção da roupa dela, porque ela forçou um pouco o tópico relacionado ao trabalho.

Como Kamijou não sabia nada de Francês e não tinha passaporte, ele não podia voltar para o Japão por conta própria, então ele esperava que as coisas funcionassem como Itsuwa havia dito.

— B-bem, seria de grande ajuda se nós pudéssemos fazer dessa maneira.

— Certo, primeiro vamos achar um lugar para sentarmos. Nós podemos discutir algumas coisas.

Kamijou estava a ponto de concordar, mas então ele olhou para suas roupas e viu o estado em que estavam.

— Eu estou ensopado... Gostaria de, pelo menos, tirar essa lama daqui.

As costas de Itsuwa se enrijeceram depois de escutar o comentário casual de Kamijou.

Ela apressadamente vasculhou sua bolsa.

— B-b-bem... E-eu tenho uma toalha molhada, você poderia...

Antes que ela pudesse terminar, uma toalha foi largada sobre a cabeça de Kamijou.

Surpreso, ele se virou e viu um homem branco com um cachorro grande. O homem nem mesmo se virou e balançou a mão enquanto dizia algo de maneira aborrecida, que devia ser algo do tipo “Pode ficar com ela.”

— …Ah. Existem algumas pessoas boas aqui. Por que os franceses tem esse jeito bacana de fazer qualquer coisa? ...Hm? Itsuwa, por que você ficou rígida desse jeito?

— N-não é nada...

Itsuwa abaixou os ombros. Kamijou inclinou sua cabeça de lado, confuso, enquanto tirava a lama de seu rosto e suas roupas com a toalha.

— Ah, certo. Estão acontecendo manifestações e protestos nessa cidade, correto? Eles estão fazendo inspeções? Veja bem, eu não trouxe meu passaporte.

— Eles estão fazendo várias inspeções, mas a maioria é feita somente para checar seus pertences. Eu não acho que eles vão pedir seu passaporte. E eu posso enganá-los usando magia.

Itsuwa reajustou a alça de sua bolsa enquanto murmurava algo sobre como uma toalha quente funciona melhor que uma toalha comum.


Avignon.

A cidade antiga no sul da França estava cercada por quatro quilômetros de muros de castelo. Havia várias construções amontoadas em um espaço limitado. Na era de ouro da cidade, ela era uma enorme influência cultural na Europa. Parcialmente por causa disso, ela ainda era um dos principais pontos de turismo da França.

— …Hmm. Então você estava investigando Avignon por causa do C-Document? Eu entendi até aí, mas...

Kamijou pediu uma explicação para Itsuwa enquanto atravessavam o portão arqueado que os levou para dentro das grandes paredes rochosas e para a cercada cidade de Avignon.

Eles entraram em uma área de praças e Kamijou avistou o que parecia ser um café. A placa ao lado da rua tinha algo escrito em francês (ao menos Kamijou pensou que era. Ele não tinha certeza.) e inglês. Devia ser um café para turistas, porque possuía vários aparatos para ajudar a acomodar pessoas que estivessem lá pela primeira vez.

Itsuwa levou Kamijou para fora daquela área, em uma rua menor. Kamijou supôs que devia ser um lugar mais escondido que Itsuwa conhecia.

— Eu sei que você disse que iríamos a algum lugar para sentar, mas...”

— S-sim?

— Por que o Drory Coffee? Digo, eu sei que é uma companhia estrangeira, então não é surpresa que exista filiais aqui na França, mas isso é exatamente como no Japão. Não podíamos ter escolhido um lugar como... você sabe, um lugar pouco conhecido que foi fundando por um casal de idosos ou algo do tipo?

— B-bem, existem lugares assim, mas...

Itsuwa parecia estar se desculpando.

— Um... Lugares assim costumam ter mais pessoas locais, então japoneses como nós iriam se destacar mais. É bem mais seguro ficar em um lugar onde muitos turistas japoneses vão...

— Nnn... Kamijou gemeu.

Ele meio que concordou com ela, mas então ele percebeu outra coisa.

— …Espere um pouco, Itsuwa. Eu ainda estou bem sujo.

Ele havia recebido uma toalha lá no rio, mas ele não conseguiu tirar toda a sujeira com aquilo. Ele estava praticamente seco agora, mas ainda havia bastante lama.

— Se eu entrar em uma loja do jeito que estou, não me botariam para fora assim que eu entrasse?

— Vai dar tudo certo. Itsuwa respondeu casualmente. — Do jeito que as coisas estão, vai dar tudo certo.

Kamijou descobriu o que ela quis dizer assim que entrou na loja.

O ambiente da loja era exatamente o mesmo das lojas no Japão.

As paredes viradas para a rua estavam cobertas com vidro e, na frente do vidro, havia uma longa mesa com assentos alinhados à sua frente. O centro do piso tinha assentos para quatro pessoas, e o balcão onde se fazia os pedidos se alongava até o fundo da loja. Kamijou não conseguia ler francês, mas pelas placas e sinais de “não fume” espalhados pela loja, a mesma devia ser considerada uma área inteira para não fumantes.

As únicas diferenças do Japão eram as pessoas dentro do recinto.

Obviamente, as pessoas lá dentro eram francesas ao invés de japonesas.

Não havia ninguém por perto quando ele pousou de paraquedas, mas a loja estava lotada. Eles podiam estar com medo das manifestações e protestos, mas eles ainda tinham que trabalhar para sobreviver. As pessoas só estavam indo a lugares aos quais tinham de ir, então o fluxo de pessoas estava concentrado em áreas específicas.

E havia outra diferença.

A maioria dos clientes tinha cabelos despenteados e roupas desalinhadas, estavam cobertas de lama, e tinham bandagens envoltas de seus braços ou pernas. Todos, do adulto mais forte até a menor criança tinham, no mínimo, um machucado no rosto. Você tinha que procurar bastante para encontrar alguém sem nenhum ferimento.

— Então, este é o resultado das manifestações e os protestos...

Kamijou suspirou enquanto falava.

Até agora, a Cidade Acadêmica e a Igreja Católica Romana haviam mostrado sua oposição uma contra a outra, mas nenhum ação considerada militar havia sido tomada. Mesmo assim, isso causou uma mudança que estava tendo um efeito real no mundo. Mesmo que ninguém desejasse essa terrível mudança.

— Nós temos que fazer algo sobre isso o mais rápido possível, Itsuwa disse, em voz baixa.

— …Eu sei. E nós estamos aqui para descobrir como faremos isso. Kamijou respondeu.

Não era hora de comer aproveitando lentamente o tempo, mas Itsuwa salientou que eles iam se destacar se não pedissem nada. Kamijou concordou porque ele se sentiria incomodado de ter uma conversa enquanto os funcionários o encaravam, então ele se dirigiu ao balcão.

Claro, a jovem atrás da caixa registradora era francesa.

(E agora...)

— I-Itsuwa san. Como eu estou na França, eu tenho que falar em francês?

— O quê?

— Eu estou pensando se há alguma chance de alguns franceses entenderem inglês.

— Bem, eu acho que a maior parte das pessoas na Europa entenderia inglês. Ao contrário de uma nação em ilha como o Japão, o senso de nacionalidade aqui é um pouco mais fraco. Veja bem, aquele cliente alemão ali. Ah, e ali tem um italiano. Como eles têm que conversar com pessoas de muitos países diferentes, a maior parte dos empregados de loja em cadeia que lidam com clientes tem que saber mais do que só francês.

— E-Entendo!! Kamijou de repente se encheu de motivação.

Chegou a hora de mostrar os frutos de seus esforços com o aplicativo “Treino Fácil de Inglês” de seu telefone.

Ele se sentiu um pouco desencorajado porque ele travou no nível 4 da prática, mas não era a hora de se preocupar com isso. Ele andou propositalmente em direção ao balcão e falou antes que a atendente pudesse lhe perguntar se ela poderia anotar seu pedido.

“Coffee and Sandwich, please!![5]

Sua pronúncia era bem ruim, mas a mulher acenou com a cabeça.

(E-ela me entendeu!!)

Mas justamente enquanto Kamijou celebrava suas habilidades em inglês, a mulher disse algo em uma língua estrangeira que deve ter significado, “O total é 7 euros”.

Kamijou se desesperou.

Eles não aceitavam iene.

— O-o que eu faço…!!

A expressão de Kamijou o fez parecer que havia sido atingido por um raio, mas Itsuwa deu a ele uma nota de euro.

(Certo, eu tenho que pagar isso a ela depois... Espere, quantos ienes dão um Euro?)

— U-um, eu vou querer um expresso, um sanduíche de presunto preto e alguns palitos vegetais saudáveis.

A funcionária francesa acenou com a cabeça mostrando que ela havia entendido e Kamijou gritou, chocado.

— Ehhh, japonês? Eu podia ter usado japonês?

Quando ele olhou bem para os funcionários, ele notou que tinham pequenos broches em forma de bandeiras em seus ombros. Provavelmente, isso indicava quais idiomas eles entendiam.

Isso fez com que Kamijou duvidasse profundamente de sua habilidade em inglês. É possível que ela só havia entendido sua pronúncia porque ela conhecia japonês.

Kamijou se sentiu bem desanimado enquanto pegava sua bandeja e foi em busca de uma mesa. Itsuwa veio um pouco depois.

Itsuwa primeiro colocou sua bandeja sobre a mesa, depois colocou sua bolsa perto de seus pés.

Kamijou escutou um alto ruído metálico vindo da bolsa.

— ...

Ele olhou na direção da bolsa.

Quando ele fez isso, o rosto de Itsuwa ficou vermelho e ela balançou suas mãos em frente ao seu rosto.

— N-não se preocupe com isso.

— Sim, mas...

Ele estava a ponto de continuar quando Itsuwa falou, quase sem mexer seus lábios.

— )...Um, Eu tenho uma arma ali.)

— Hah?

— (…A empunhadura é dividida em 5 partes. Quando eu preciso usá-la, eu posso conectar as partes montando um lança. Eu sei que adicionando encaixes faz com que a lança seja mais fraca mas, desse jeito, eu posso carregá-la comigo.)

(Pensando bem, eu realmente a vi usando uma lança enorme em Chioggia.)

— A propósito, você já conseguiu contatar aquela pessoa, o Tsuchimikado-san?

— Não.

Kamijou tirou o seu celular de seu bolso.

— …Nós nos separamos durante a queda e eu não consigo entrar em contato com ele. Eu consigo fazer chamadas, mas parece que o telefone dele está fora do alcance de uma antena... Bem, conhecendo ele, ele dever ficar bem não importa o que aconteça.

Ele tentou ligar novamente, mas não havia nenhum sinal de que conectaria ao telefone de Tsuchimikado.

Esse telefone é resistente. Eu caí naquele rio e ele está perfeitamente normal.

Kamijou colocou o celular de volta no bolso.

Kamijou estava pensando em ter uma discussão estratégica com Itsuwa enquanto comia seu sanduíche, mas ele percebeu que não havia guardanapos em sua bandeja.

— Ah, o que foi agora? Eu queria limpar minhas mãos antes de comer…

Por alguma razão, os olhos de Itsuwa brilharam depois de ouvir sua reclamação.

— N-n-n-n-nesse caso, eu posso…

O rosto dela ficou realmente vermelho e ela começou a vasculhar a bolsa que estava à seus pés, mas então uma funcionária que estava passando disse algo em francês que parecia uma desculpa e colocou na mesa uma pilha de guardanapos.

Itsuwa paralisou-se, chocada, enquanto segurava, por alguma razão, uma toalha pessoal molhada.

Depois de limpar suas mãos com os guardanapos, Kamijou decidiu ir direto ao assunto.

— Então, você disse antes que você estava aqui investigando Avignon... hein? O que aconteceu, Itsuwa?

— N-nada...

Ela parecia ter perdido toda sua energia como uma planta de interior que foi deixada perto da janela por muito tempo durante o verão.

Kamijou começou novamente.

— Então, você disse que estava procurando em Avignon, certo? Por que você está procurando na França e não no Vaticano? Você achou algo suspeito?

— S-sim, Itsuwa acenou com a cabeça. — Eu estava planejando em conseguir mais informações e contatar o resto dos Amakusas que estão espalhados pela França.

— Então você achou o que estava procurando? Kamijou pediu uma confirmação e Itsuwa não negou.

— Você conhece o prédio chamada Palácio dos Papas?

— ?

— É a maior construção Católica Romana em Avignon. Ou melhor, a cidade de Avignon foi construída em volta dele.

— Dos Papas... Kamijou murmurou.

(Por “papa” significa “O Papa” papa?)

— Hm? Mas o Palácio dos Papas não devia ficar no Vaticano? Esse nome o faz parecer realmente importante.

— Bem… Itsuwa começou.

Parecia que ela estava tendo dificuldades em saber o que dizer.

— Há algumas circunstâncias complicadas em relação à cidade de Avignon.

— Circunstâncias complicadas?

— No fim do século XIII, houve uma disputa entre os Católicos Romanos e o Rei francês. E o vencedor dessa disputa foi o Rei. Ele ganhou o direito de ordenar o Papa naquela ocasião. Uma de suas ordens foi que o Papa deixasse sua sede e viesse morar na França.[6]

— Foi isso que começou o Papado de Avignon, Itsuwa completou.

— E a sede do Papa era o Vaticano?

— N-não. Naquela época, era conhecido como Estado Papal.

— Aparentemente, os franceses queriam controlar o Papa para usar dos vários privilégios e benefícios que a Igreja Católica Romana tinha. Avignon foi o lugar escolhido para aprisionar o Papa. E o palácio no qual o Papa foi aprisionado foi chamado de O Palácio dos Papas.

— Aprisionado, hã?

— Nos 68 anos do Papado de Avignon, houve diversos Papas e todos tinham que agir como Papa nesta cidade.

Itsuwa mastigou um palito vegetal.

— Mas havia muitas coisas que o Papa só podia fazer no Estado Papal. Coisas como a investidura de Cardeais e várias reuniões do conselho ecumênico só podiam ser realizados por um representante. Mas coisas como essa deviam ser feitas no Estado Papal, em construções dentro do Estado Papal, ou com certos itens espirituais no Estado Papal não podiam ser feitos em Avignon da mesma maneira.

— Fazendo isso, podia levar a parecer que estava se criando um novo Estado Papal, Itsuwa explicou.

— Então a Igreja Católica Romana precisava usar um determinado truque.

— Um truque?

— Eles não podiam recriar os mesmos aparatos em Avignon que eles possuíam no Estado Papal, mas criando um túnel mágico para Avignon, eles podiam controlar os aparatos do Estado Papal a longa distância.

— …Então, é como conectar um computador para que ele possa acessar o servidor principal?

— Quando o Papa se mudou da França, no fim do Papado de Avignon, esse túnel foi supostamente cortado, mas pelos padrões de pulsação mágica no terreno dessa área, deve haver uma instalação que foi deixada conectada para que eles pudessem usar o C-Document ou talvez eles tenham reconectado o túnel que havia sido desfeito.

— Hm… Kamijou acenou com a cabeça.

Ele pensou sobre o que acabara de ouvir e falou.

— …Você já checou dentro do Palácio dos Papas?

— N-não.

Itsuwa se encolheu em seu assento e balançou a cabeça.

— Eu deveria apenas investigar… Quando tiver alguma informação, eu devo contatar o Papa Substituto para que uma equipe maior possa ser reunida e invadir de uma vez.

Aparentemente, Tatemiya Saiji, o Papa Substituto, tem um “item espiritual especial” que foi passado de geração em geração entre os Amakusas, mas parecia que Itsuwa pensava que agir sozinha não era uma boa ideia quando lidando com um objeto que afetava o mundo inteiro.

(…Pensando bem, isso faz com que as minhas ações e as de Tsuchimikado sejam bem irregulares, não é?)

— Como Tsuchimikado veio aqui, ele deve ter decidido que Avignon parecia ser suspeita por alguma outra fonte de informação. O que significa que é altamente provável que a Igreja Católica Romana está usando o C-Document no Palácio dos Papas.

Mas então surgiu outro pensamento na cabeça de Kamijou.

— O C-Document é de propriedade da Igreja Católica Romana, certo?

— S-sim.

— Então, por que tem que ser usado no Estado Papal? …agora se chama Vaticano, eu acho. Eu não consigo pensar em uma razão que explique por que eles não podem retirá-lo de sua sede. E somente por que eles podem controlar os aparatos no Vaticano daqui de Avignon não significa que existe alguma magia que só pode ser ativada em Avignon, certo?

— Bom, existem múltiplas teorias sobre isso...

Itsuwa pensou por um momento e então voltou a falar.

— Provavelmente, demora muito para se conseguir aprovação para o uso do C-Document. Os 141 Cardeais no topo da Igreja Católica Romana devem estar em concordância sobre ele. O Papa tem muito poder dentro da igreja, mas ele provavelmente não pode usar o C-Document baseado apenas na sua decisão. Eu acho que é por isso que ele não foi muito usado até agora.

— Existem conflitos entre facções dentro da Igreja Católica Romana e essa regra previne o uso do C-Document durante esses conflitos.

— De acordo com algo que ouvi, eles não precisam da aprovação de todos os Cardeais para controlar algo de Avignon porque esse método é muito irregular. Mas, ao mesmo tempo, como eles não estão ativando diretamente no Vaticano, alguns preparativos tem de ser feitos em Avignon fazendo com que a ativação não seja instantânea como de costume. E isso significa que se nós pararmos o C-Document agora, nós podemos ser capazes de acabar com o caos que se espalha no mundo completamente.

— Mas, de um jeito ou de outro, você terá de investigar o Palácio dos Papas...

— E-eu só preciso de um pouco mais de informação para ter o bastante e fazer o grupo se mover. Eu acho que estaremos prontos para infiltrar o Palácio em poucos dias.

Essa era uma guerra entre ciência e magia, mas Itsuwa e os outros Amakusas pareciam estar lutando contra a Igreja Romana Católica.

Os Anglicanos provavelmente não gostavam do fato da Igreja Católica Romana estarem segurando as rédeas do lado da magia. Por outro lado, eles não gostavam de criar problemas diretos para eles mesmos.

Ela tinha dito que foram os “Amakusas”, não a “Igreja Anglicana”. Em outras palavras, a Igreja Anglicana estava usando os Amakusas para deter o C-Document e, se os Amakusas falhassem, eles iriam insistir que foi apenas uma pequena facção agindo fora de seu controle.

— ...

Kamijou havia se separado de Tsuchimikado.

Ele sentia que trabalhar com Itsuwa no plano dela para infiltrar-se no Palácio dos Papas era um plano melhor que seguir para lá sozinho.

Isso significava que ele precisava ajudar Itsuwa a conseguir a informação que ela precisava.

— Itsuwa, eu posso ajudar em algo?

— Eh?

— Você disse que não infiltraria o Palácio por algum tempo, mas nós precisamos resolver isso o mais rápido possível.

— I-isso é verdade. Nesse caso...

Itsuwa parecia não saber como responderia à pergunta de Kamijou.

Mas ela não teve a chance de responder.

Houve um barulho violento, e todas as janelas viradas para a rua se quebraram simultaneamente.

Não foi graças a pedras que foram arremessadas. Nem mesmo por terem sido acertadas por bastões ou canos de metal.

Foram mãos humanas.

Centenas de mãos empurraram o vidro de uma só vez e a pressão quebrou-o. Muitos gritos surgiram de dentro da loja e uma enorme horda de pessoas a invadiu. Era como se fosse uma cena de um filme de zumbi.

Kamijou rapidamente percebeu de que se tratava de uma cena incomum.

— Uma manifestação?

— P-por aqui!!

Itsuwa pegou sua bolsa no chão, pegou o braço de Kamijou com sua outra mão, e começou a correr. Ela não se dirigia para a saída principal; ela estava indo em direção da saída de emergência. Durante esse tempo, centenas de pessoas invadiram e a loja estava repentinamente cheia e impossível de se mover, como um trem lotado.

— Eles são japoneses!

— Eles são da Cidade Acadêmica?!

— Destruam-nos. Não hesitem. Eles são inimigos!!

Kamijou não entendia francês, mas ele captou a essência do que eles estavam dizendo pelas nuances nos tons emotivos de suas vozes. Uma multidão de mãos tentou alcançar suas costas, mas antes que eles pudessem alcançá-lo, ele conseguiu sair por entre a porta metálica de emergência que estava aberta quase que dando cambalhotas.

Ele se virou para trás.

Ele ouviu muitos gritos de algumas mulheres e crianças vindos de dentro da loja. Mas antes que ele pudesse voltar para ajudá-los, Itsuwa chutou a porta de emergência para fechá-la.

— Itsuwa!!

— As ações deles não são suficientes para matar alguém. Há muitos deles lá. O grande número de manifestantes não fez nada além de restringir seu próprio movimento. Enquanto eles não começarem a cair como dominós, não deverá haver nenhuma pessoa ferida gravemente.

— Esse não é o problema aqui!! Nós temos, que pelo menos, ajudar as crianças para-!!

— A mesma coisa...!! Itsuwa gritou, interrompendo a frase de Kamijou. — A mesma coisa está acontecendo no mundo inteiro. Se nós voltássemos para aquela onda de pessoas, o que nós poderíamos realmente fazer? Nós estamos aqui para destruir a fonte de tudo isso o mais rápido possível, certo?

— ...Maldição.

— Se nós pararmos o C-Document, esses tumultos irão terminar. Se nós formos pegos pela manifestação, não faremos nada além de restringir nossos próprios movimentos. E então não sobrará ninguém para pará-los.

A Igreja Católica Romana está causando esses tumultos e a Cidade Acadêmica não está fazendo nada para detê-los.

— …Droga!! Kamijou amaldiçoou e rangeu seus dentes.

(E os únicos que estão sofrendo são as pessoas que ficam presas no meio disso tudo!! Eu não posso ignorar isso. Eu vou parar isso aqui. Eu preciso parar essa maldita confusão aqui o mais rápido que puder!!)

Kamijou e Itsuwa correram pela rua de trás que possuía paredes altas de ambos os lados.

Kamijou podia ouvir uma voz gutural de um homem gritando. O som de vidro quebrando ecoou em seus ouvidos. Ele ouviu choros altos e agudos. Ele podia até mesmo ouvir uma explosão de gás ou gasolina.

Ele não tinha ideia do que era o alvo dessas manifestações.

Eles podiam estar colocando como alvos a cadeia de companhias japonesas ou talvez eles estivessem atacando hotéis nos quais turistas japoneses geralmente ficavam. Qualquer que fosse o motivo, eles haviam perdido a visão de sua meta original e estavam agora inundando as ruas de pessoas e causando destruição.

— Itsuwa, o quão mais iremos correr?

— No momento, eu queria achar uma área onde não fossemos pisoteados por pessoas, mas…

Ela parou no meio da sentença.

Eles podiam ver outro grupo de manifestantes no fim da rua.

Droga, eles tem boa afinação…

Então Kamijou teve um pensamento preocupante.

— Ei, Itsuwa. Você está investigando aqui há algum tempo, certo? Alguma vez você foi pega em manifestações como essa?

— Eh? N-não. A Igreja Amakusa se especializa em se misturar no ambiente no final das contas. Normalmente, eu sairia assim que percebesse qualquer sinal de manifestação vindo em minha direção…

— …Então eu estava certo.

As palavras de Itsuwa confirmaram o que ele havia pensado.

— A afinação deles é boa demais.

— O que você quer dizer…?

— Se o inimigo que controla o C-Document está aqui em Avignon conosco, eles devem ter me visto chegar de para-quedas. E mesmo que eles não tenham me visto diretamente, um avião de passageiros supersônico da Cidade Acadêmica deixando algo sobre a cidade. Essa reação faz sentido se aqueles que controlam o C-Document estiverem atentos.

— Você não quer dizer que...

— Essa manifestação é o modo que eles têm de nos interceptar!!

Enquanto Kamijou gritava, a massa de pessoas que bloqueava o caminho dos dois se aproximava.

O Palácio dos Papas se encontrava na velha cidade de Avignon, que era uma pequena cidade cercada de muros antigos de castelo. Por eles continuarem a construir mais e mais prédios em seu limitado espaço, as estradas eram tão estreitas que era difícil de até mesmo um carro passar por elas. E como esses caminhos estavam cercados por prédios de mais de 10 metros de altura, se criava uma incrível sensação de claustrofobia.

E essas ruas estreitas estavam bloqueadas por grupos de pessoas em vários pontos.

As pessoas que participavam na manifestação pareciam estar se machucando.

Kamijou pensou por um segundo e se conformou com o que devia ser feito.

A não ser que eles forçassem seu caminho por entre aquelas montanhas de pessoas à sua frente que marchavam na direção contrária, eles nunca chegariam ao Palácio dos Papas. E pegar uma rota diferente não iria resolver o problema. Quanto mais eles demorassem, mais pessoas se machucariam.

— Vamos lá, Itsuwa.

— Eh…?

— Nós não temos tempo de esperar uma chance para poder contatar Tsuchimikado. E os Amakusas não chegariam aqui tão rápido, certo? Então nós não temos escolha a não ser forçar nosso caminho por entre aquelas pessoas e nos dirigir ao Palácio dos Papas. Se o inimigo descobrir que estamos aqui, eles podem não ficar aqui por muito tempo. Mesmo que eles fugissem para o Vaticano, eles podem continuar usando o C-Document. Deixar com que eles levem o C-Document de volta à sua sede só pode ser uma coisa ruim. Eu sou um completo amador nesse tipo de coisa e até mesmo eu consigo entender isso. Nós temos que destruí-lo aqui e agora!!

Itsuwa hesitou um pouco, mas finalmente acenou positivamente na direção de Kamijou.

Ela havia decidido que eles não tinham tempo de esperar que os Amakusas espalhados pela França se encontrassem aqui.

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Enquanto eles conversavam, centenas de manifestantes se aproximavam da estreita rua.

Era uma parede sólida feita de humanos como o interior de um trem lotado.

— …Fique abaixado enquanto nós passamos, Itsuwa disse, com uma voz baixa, enquanto ela olhava para os manifestantes. — Se nossas cabeças aparecerem acima da multidão, nós podíamos facilmente nos tornar alvos. Nós teremos uma probabilidade menor de ser avistados se nos escondermos atrás das pessoas à nossa volta. Mesmo que essa manifestação seja um modo do inimigo nos deter, eles não têm controle preciso sobre ela.

— Entendi, Kamijou disse, se sentindo estranhamente nervoso. — Aqui vamos nós.

Depois de dizer isso, Kamijou e Itsuwa correram na direção dos manifestantes.

Os manifestantes estavam amontoados e fortemente apertados como uma parede, mas eles conseguiam se amontoar ainda mais entre eles. Havia simplesmente muitas pessoas para correr. Eles mal conseguiam andar e, de imediato, eles só conseguiram se mover uns poucos metros.

Alguém gritou e acertou a cabeça de Kamijou.

Ele conseguiu andar mais à frente, mas dedos grossos seguram sua camisa.

Ele continuou a seguir em frente descuidadamente. Ele mordeu o braço que o segurava, empurrou seus ombros contra a parede de pessoas, e caminhou para frente com pessoas ainda se pendurando nele. Ele sentiu unhas em suas costelas e sangue começou a sair. Ele podia sentir o odor vindo dos homens que haviam trabalhado como loucos.

Os gritos explosivos ecoaram em seus ouvidos e a pressão das pessoas o empurrando por todas as direções gradualmente esvaiu sua consciência.

Maldição…

As pernas de Kamijou começaram a se enfraquecer.

Ele estava perdendo o poder de andar em frente.

Maldição…!!

Justamente quando sentiu que ele seria engolido pela massa repugnante, a parede de pessoas diminuiu de repente.

Agora que o ar não era feito do bafo de outros, ele respirou profundamente o fresco oxigênio.

— V-você está bem? Itsuwa perguntou próximo a ele.

Havia uma gota de sangue saindo de sua têmpora.

Aparentemente, ela também não conseguiu sair ilesa da massa de pessoas. Ela tinha sua lança na bolsa, mas, provavelmente, ela não quis usá-la aqui.

Kamijou começou a correr para fora da multidão enquanto ofegava bastante. Ele estava cambaleando e se sentia um pouco trêmulo. Ele tinha que prestar atenção para que não trombasse nas paredes rochosas nas laterais da estreita rua.

— I-Itsuwa. Onde é o Palácio dos Papas?

— É um pouco mais à frente. Aquele é o telhado dele que estamos vendo... Nós temos que passar por lá agora.

Kamijou lentamente olhou para a direção que Itsuwa estava apontando.

O que ele viu foi um grande tumulto que fez com que aquele tumulto no qual eles acabaram de passar parecesse nada em comparação.

Parte 5[edit]

Não havia como seguir no caminho para o Palácio dos Papas.

Kamijou e Itsuwa estavam em uma pequena e antiga cidade de Avignon, cercada por 4 km de muros de castelo, mas eles não conseguiam alcançar um determinado ponto. As ruas da velha cidade eram estreitas.

Elas tinham quase 3 metros de largura e estavam cercadas em ambos os lados de complexos habitacionais rochosos com mais de 15 metros de altura, fazendo ser difícil pegar um desvio. E, para seguir em frente, eles tinham que passar através de uma sólida parede de centenas, senão milhares, de manifestantes. Era como tentar sair da ponta de um trem lotado para a outra extremidade.

Desse jeito, eles nunca conseguiriam chegar ao Palácio dos Papas.

Eles seriam retirados do jogo antes que tivessem a chance de destruir o C-Document.

— De novo não… Itsuwa disse, enquanto parava para respirar e olhava na direção do novo grupo de manifestantes à frente deles. Alguns manifestantes com olhos vermelhos como sangue estavam apontando para eles e gritando. Kamijou não sabia francês, mas eles deviam estar gritando, “Eles são japoneses!”, ou “Eles são da Cidade Acadêmica!”, ou algo parecido.

Antes que eles pudessem se mexer, Itsuwa pegou o braço de Kamijou e começou a correr.

— Isso não vai funcionar. Venha. Isso vai acabar como num beco sem saída!

— Ei, e o Palácio dos Papas? Kamijou gritou enquanto Itsuwa o guiava de volta pelo caminho que vieram. Parecia que os homens que estavam encarando Kamijou e Itsuwa começaram a segui-los, mas eles foram puxados de volta para a massa de manifestantes.

Itsuwa não gostava dessa situação tanto quanto Kamijou.

— …Aquele grupo de manifestantes era claramente o maior até agora. Nós não conseguiremos atravessá-lo apenas correndo!

— Então nós vamos procurar outra rota? Mas…

Kamijou começou a falar, mas ele avistou alguns jovens que tomavam parte de outra manifestação à frente deles. O estreito caminho estava completamente bloqueado por uma parede de pessoas.

Não era tão surpreendente. Kamijou e Itsuwa haviam acabado de passar por aquele grupo.

— Aqui também?

A voz de Itsuwa parecia surpreendentemente irritada e ela pegou a mão de Kamijou enquanto corria em direção do complexo habitacional que compunha a parede. Eles pularam no prédio rochoso que quase parecia ser feito à beira de um precipício.

Eles empurraram a grossa porta de madeira com suas costas.

Os sons que os manifestantes faziam colidiram com a porta. Mas não era porque alguém queria derrubar a porta; era o som de ombros e braços dos manifestantes apertados na estrada e arrastando-se nela.

Kamijou deslizou em direção ao chão enquanto mantinha suas costas na porta.

— …O que nós vamos fazer sobre isso? Desse jeito, nunca chegaremos ao Palácio dos Papas.

— Progredir através dessas manifestações vai ser difícil… Itsuwa falou em um tom baixo.

Ela colocou sua bolsa no chão e pegou alguns bastões de mais ou menos 70 cm. Eles se juntaram em um único bastão quando ela os conectou usando encaixes que pareciam válvulas de gás. Por último, Itsuwa conectou uma lâmina de aço na ponta.

Era uma lança de estilo ocidental.

Kamijou pensou que se chamava lança Friuli.

(Ah... Bem, eu pensei bastante sobre essa coisa de missão secreta, mas…)

Enquanto ele pensava, ele viu algo que fez com que ele engasgasse.

Ele viu os seios de Itsuwa que estavam visíveis por que a frente de sua blusa estava amarrada de uma forma improvisada. Kamijou pensou que havia muitos problemas no jeito com que ela se vestia, mas ela parecia não perceber.

— O que nós faremos agora? Eu ajo para evitar esses tumultos, então eu não tenho nenhum plano ou encantamento para usar se eu fosse pegar em um.

— É-é... Nós temos que chegar ao Palácio dos Papas para parar com as manifestações e nós temos que para com as manifestações para chegar ao Palácio dos Papas... Maldição. Estamos andando em círculos.

E, acima de tudo, tinha o fato de que se o inimigo sentisse qualquer tipo de perigo, eles pegariam o C-Document e retornariam ao Vaticano, enquanto Kamijou e Itsuwa continuariam presos aqui. Se o C-Document fosse usado lá, seria ainda mais difícil pegá-lo. E esses tumultos durariam muitos mais.

Eles tinham que agir agora, mas eles estavam presos. Era realmente um dilema.

Cada segundo perdido parecia dez, senão cem vezes mais lento.

Mas então…

Kamijou escutou seu telefone tocar em seu bolso.

Era Tsuchimikado.

— Kami-yan, você está bem?

— Onde você está? Você foi pego pelas manifestações, também? Você está ferido?

— Estou a caminho do prédio conhecido como o Palácio dos Papas. Se o C-Document estiver realmente sendo usado na França, tem de ser lá.

— O Palácio dos Papas…? Então você também está indo para lá?

— ?

Kamijou continuou antes que Tsuchimikado pudesse responder.

— Então eu não caí em um lugar longe de nosso alvo. Nós realmente estávamos indo para Avignon.

— Bem, sim… Kami-yan, como você sabe sobre o Palácio dos Papas? Eu acho que pulamos do avião antes que eu tivesse lhe explicado isso.

— Eu me encontrei com Itsuwa dos Amakusas e ela explicou para mim. Mas os tumultos estão tão intensos que nós não conseguimos chegar ao Palácio. E você?

— A mesma coisa aqui. Bem, aconteceu muita coisa. Essas ondas de pessoas estão fazendo um ótimo trabalho em bloquear as estreitas ruas de Avignon. Não tem como nós passarmos assim.

E, com isso, ambos entenderam a situação um do outro.

Tsuchimikado deve ter sido pego em algum tumulto e estava escondido em algum lugar.

— Ei, Tsuchimikado. Eu gostaria que nos encontrássemos. Você sabe de algum bom lugar para isso?

— Essas manifestações estão acontecendo na cidade inteira. Eu prefiro não ficar em um lugar por muito tempo.

— Então o que nós vamos fazer? Esperar as manifestações cessarem?

— Isso seria um bom plano se elas estivessem ocorrendo naturalmente, mas essas aqui estão sendo causadas pelo C-Document. A Igreja Católica Romana pode fazer isso durar o quanto for necessário, então as coisas não irão mudar para melhor com o tempo.

— Mas tem alguma outra coisa que podemos fazer?

— Sim, Tsuchimikado respondeu prontamente. — Nós temos que mudar o jeito de pensar sobre isso. Se nós não conseguimos chegar ao Palácio dos Papas, nós apenas temos que resolver o problema de um modo que nós não precisemos ir lá.

— …?

“Como você tem essa pessoa dos Amakusa para explicar para você, eu tenho certeza que você sabe por que nós estamos nos focando no Palácio dos Papas de Avignon, certo?”

Kamijou pensou nisso por um segundo.

— Bem, eles podem operar aparatos no Vaticano de lá, certo? É por isso que eles podem usar o C-Document aqui.

— Certo. Então nós só temos que cortar essa conexão mágica entre Avignon e o Estado Papal, que agora é o Vaticano. Se nós fizermos isso, eles não poderão mais usar o C-Document. Pode ser difícil chegar ao Palácio, mas nós podemos conseguir chegar à conexão.

— Ah, Kamijou respondeu.

(Pensando bem, é verdade…)

— Mas certamente as pessoas que estão usando o C-Document no Palácio vão perceber que não conseguirão usá-lo mais. Quando isso acontecer, eles irão fugir.

— Verdade. Não posso negar isso. É por isso que a nossa programação é importante. Esse plano vai se basear no fato de conseguirmos chegar ao Palácio depois de cortar a conexão.

Kamijou pensou que o plano de Tsuchimikado tinha sentido.

Ele devia estar recolhendo dados disso bem antes deles embarcarem no avião. E ele deve ter continuado investigando enquanto estava sendo perseguido pelos manifestantes depois deles terem se separado.

Mas Kamijou, um amador, achou um problema no plano.

— Mesmo que nós saibamos que o C-Document está no Palácio dos Papas, nós não sabemos que está usando-o. Eles não podem se esconder na multidão de manifestantes? Nós nunca acharemos eles.

— ...

Tsuchimikado ficou silencioso por um momento antes de falar novamente.

Bem, nós cruzaremos essa ponte quando chegarmos nela. Parar o C-Document vem em primeiro lugar.

Kamijou teve um pressentimento ruim com as palavras de Tsuchimikado.

(Ele não vai usar magia para achar a posição do inimigo de novo, vai?)

Tsuchimikado Motoharu tinha uma enorme desvantagem na qual ele sempre se feria ao usar magia.

Mas Kamijou sabia que ele iria ignorar essa desvantagem e usar mágica se ele tivesse que fazê-lo.

Ele rastreou Oriana Thomson durante o Daihaseisai mesmo quando ele estava coberto de sangue.

Sabendo ou não do desconforto que Kamijou estava sentindo, Tsuchimikado continuou a falar.

— Agora nós finalmente sabemos o que tem de ser feito, Kami-yan.

Parte 6[edit]

Kamijou e Itsuwa atravessaram o complexo habitacional e saíram pela porta de trás.

— Itsuwa, os outros Amakusas ainda não podem vir?

— D-desculpe. Eu não achei que algo como isso iria acontecer. Eu os contatei mais cedo, mas eles estarão aqui no mínimo amanhã de manhã. Se nós estivéssemos no Japão, poderíamos usar os "vórtices" do feitiço de transporte "Peregrinação em Miniatura"…

O caminho aonde eles seguiam estava isento de manifestantes e quase parecia que eles conseguiriam chegar ao Palácio dos Papas sem incidentes.

Mas eles não tinham ideia quando uma multidão de manifestantes iria bloquear seu caminho e seria melhor não andar longas distâncias. Parecia que Tsuchimikado estava certo sobre mudar o alvo deles para a conexão mais próxima.

— P-por aqui.

Itsuwa estava mostrando a Kamijou o caminho enquanto segurava a lança dela.

Ele pensou que as “paredes” de cada lado pareciam ainda mais altas que o normal, e, olhando mais de perto, havia prédios rochosos construídos nos topos dos normais por ali. Pelos prédios parecerem quase como fortificações e suas paredes estarem sujas de uma cor negra, as fazendo parecer como algum tipo de baluarte,era difícil saber que tipo de prédios eles eram à primeira vista. Todas as casas, lojas, e igrejas pareciam como fortalezas pelo lado de fora.

— Um, eu sei aonde é o lugar que Tsuchimikado-san mencionou... mas o túnel que faz a conexão com o Vaticano é realmente lá?

— Não me pergunte… Kamijou murmurou enquanto olhava para o telefone.

A voz de Tsuchimikado parecia alegre.

— Bem, o método de leitura das linhas de ley é bem diferente de cultura para cultura, mas eu tenho quase certeza disso.

Aparentemente, o ponto para onde eles estavam indo estava próximo de Kamijou e Itsuwa. Como eles estavam bem distantes de Tsuchimikado, ele estava deixando a ruptura da conexão como trabalho para os dois.

— Ei, com que esse túnel se parece? Ele não fica acima do solo ou algo do tipo, certo?

— Uma linha ley é uma corrente de poder através da terra. Contudo, os tipos de poder e as direções em que fluem podem ser bem diferentes. Não é incomum que um poder que é crucial para uma determinada seita ser completamente inútil para outra. É por isso que o método de leitura delas varia entre as culturas.

Kamijou inclinou sua cabeça de lado, confuso por causa da voz que saía do alto-falante e Itsuwa explicou que isso era parecido com o uso de ingredientes para fazer comidas em diferentes culturas.

O presunto preto usado na culinária ocidental era completamente ignorado na culinária japonesa (sem contar inovações recentes). De uma maneira similar, o sensoriamento e a extração de um tipo preciso de poder de vários outros tipos eram a chave para usar as linhas de ley.

Enquanto Itsuwa explicava isso com facilidade, Kamijou desconfiou que Itsuwa especializava-se em feitiços de linha ley do estilo Amakusa.

— Entenda, Kami-yan. Não existem partes na Terra que são melhores que outras partes. Somos nós, os humanos, que colocam esse tipo de valor nelas.

— Então um amador como eu não conseguiria dizer que isso estava lá, hã.

— De qualquer forma, uma importante linha ley da Igreja Católica Romana está conectando Avignon ao Vaticano. Mas é uma linha ley distorcida que foi criada por ações de pessoas que destruíram e reconstruíram o terreno, Tsuchimikado explicou. — Linhas de Ley são movidas com bastante facilidade. Na verdade, essa é a ideia por trás do feng shui.

— Ah. Eu realmente não entendo toda essa história de linha ley, mas é uma linha esculpida no chão?

— Como eu disse, com a destruição do terreno você pode alterar uma linha ley. O truque para descobrir se a terra é boa ou ruim em feng shui é baseado em saber se a área tem montanhas, em que direção os rios fluem, e coisas como essa. E hoje em dia, preencher rios e destruir montanhas não é uma ocorrência tão rara assim.

— Magos que usam a terra tem que trabalhar para ter certeza que pontos mágicos importantes não sejam destruídos assim, Itsuwa completou.

(…Isso parece ser um pé no saco.)

— Mas você também pode mudar o terreno de uma forma calculada. É tipo como escolher que tipo de linha ley você quer fortalecer de todos os tipos diferentes na área. Mas, se você falhar, o balanço pode ser perdido e isso pode ter consequências desastrosas. Por causa disso, essas alterações só podem realmente ser feitas como um grande projeto de dimensão nacional.

— Então foi assim que o túnel da Igreja Católica Romana foi feito...

— Como eu disse, existem vários tipos diferentes de poder fluindo pela terra em várias direções diferentes. É por isso que pode ser difícil encontrar uma linha específica se você não tiver nenhuma pista. Tsuchimikado explicou com facilidade. — Mas se eu souber que estou procurando por uma linha que conecta o Palácio dos Papas ao Vaticano, eu tenho algum critério para ajudar na busca. É como ter um sistema de navegação de um carro lhe guiando até lá. De qualquer forma, se você puder apenas destruir o túnel, seria uma grande ajuda. Um, é Itsuwa, certo?

— S-sim!!

— Só para ter certeza. Você sabe o método e o feitiço para destruir o túnel, certo?

— U-um… eu sigo o estilo Amakusa, então eu sei os feitiços padrões do Shintô, do Budismo e o do Cristianismo…

— Isso é o bastante. Você pode dar um jeito nisso assim que avistar o túnel.

Kamijou estava meramente confuso com a troca de informações entre os dois.

— Espere. Eu não posso apenas destruir a linha ley ou o túnel ou o que quer que seja com minha mão direita?

Ele tinha o poder conhecido como Imagine Breaker.

Ele podia destruir qualquer poder sobrenatural seja ele de natureza mágica ou psíquica.

Mas Tsuchimikado discordava do ponto vista de Kamijou.

— Eu não tenho certeza se seu Imagine Breaker poder negar linhas ley, Kami-yan.

— Eh? Kamijou parecia chocado. — Mas as linhas ley são...um...mágicas...certo? Então…

— Sim, mas… Tsuchimikado o interrompeu. — Eu não consigo entender o que sua mão direita realmente é.

Você disse que pode negar qualquer tipo de poder mágico ou psíquico. Mas use como base um poder oculto, como a "energia vital" de um humano. Você não pode matar alguém somente apertando sua mão, certo?

— Bem, não…

— Eu acho que existem algumas estranhas "exceções". E é bem provável que as linhas ley são algumas dessas exceções. Eu duvido muito que você pode obliterar a Terra inteira somente tocando o chão.

Mas ao mesmo tempo Misha Kreutzev evitou ser tocada pela mão direita de Kamijou e Kazakiri Hyouka estava, subconscientemente, com medo dela.

— ...

Kamijou silenciosamente observou sua mão direita.

(Exceções…? Como isso funciona?)

Quando pensou calmamente sobre isso, Kamijou percebeu que ele não sabia todos os detalhes de como seu poder funcionava. Pode ter sido por ele ter perdido suas memórias, mas ele pode não ter sabido mesmo antes de perdê-las. Pelo menos, nenhum “conhecimento” deixado após ele perder suas memórias continha qualquer dica na qual ele pudesse achar uma resposta.

Mas, agora, destruir o túnel vinha primeiro.

Ele se recompôs e olhou em frente.

Parte 7[edit]

Kamijou e Itsuwa chegaram a um pequeno museu em Avignon.

Não era um prédio grande usado somente como museu. Assim como os complexos habitacionais e lojas, usava uma parte dos prédios que pareciam fortalezas que se elevavam aos lados das ruas. Não havia espaço suficiente na antiga cidade de Avignon, que era cercada por muros de castelo, e eles provavelmente queriam manter o senso de unidade no cenário.

Havia uma placa em francês na entrada principal, mas a porta de madeira tinha uma grade metálica na frente. A chapa pendurada na maçaneta provavelmente dizia “fechado”.

Era meio-dia em um dia de semana.

— Eles devem ter fechado mais cedo, com medo dos tumultos. Itsuwa disse, enquanto olhava o prédio.

Kamijou observou a grade, que parecia ser bastante sólida, e disse.

— Mas Tsuchimikado disse que o túnel invisível passa pelo museu, certo? Nós temos que entrar de alguma maneira. Não existe algo como abertura de fechaduras do estilo Amakusa ou-..?

— Eyah!

A frase de Kamijou foi interrompida por um grito bonitinho.

A ponta da lança de Itsuwa estava presa no vão entre a grade e o chão e ela moveu a lança através do princípio da alavanca. As engrenagens que moviam a grade quebraram com barulho de trituração.

Itsuwa ignorou o alarma de segurança que disparou e içou ainda mais alto a grade. Então, ela também quebrou a porta de madeira usando a lança como alavanca.

Ela entrou no prédio com uma expressão suave em seu rosto.

— Vamos, ande logo.

— Um… Itsuwa-san?

Kamijou observou o rosto da pequena garota, chocado.

Seus olhos pareciam estar dizendo “E eu pensei que você era somente uma garota normal…”, mas a expressão dela não mudou. Ela devia estar se preparando para espancar qualquer empregado do museu que viesse ver o que estava acontecendo.

Enquanto o alarme de segurança continuava a tocar, Kamijou também entrou no prédio.

Havia pouca luz. Na verdade, estava quase que completamente escuro dentro. Todas as janelas estavam cobertas para que os objetos em exibição não recebessem luz direta do sol. Com luzes fluorescentes normais, não haveria nenhum problema, mas Kamijou estava um pouco incerto de seus passos com apenas a fraca luz do sinal de saída de emergência.

— Tsuchimikado disse que era...

— Eu sei dizer onde está agora que estamos tão perto. É por aqui.

Itsuwa continuou a seguir mais adentro no museu segurando a lança dela em uma das mãos.

Kamijou a seguiu e não viu nada além de um chão normal. Mas olhando o arranjo dos mostruários de vidro, o padrão usual foi ignorado, deixando o chão estranhamente vazio.

Itsuwa lentamente circulou em volta da parte vazia do chão. Ela olhou em volta um pouco e então acenou com a cabeça, satisfeita.

— Sim, é aqui. Eu posso sentir o poder criado pela Igreja Católica Romana. Parece um tipo de poder purificado que é usado em algumas das outras seitas. Essa linha ley é característica de uma igreja da sociedade ocidental. Eles fizeram um excelente trabalho a escondendo; é difícil sentir até você estar bem próximo dela. Ela falou enquanto olhava para Kamijou. …O Tsuchimikado-san ainda não está aqui, mas eu tenho que dar um jeito nisso antes que o inimigo perceba. Eu vou romper o túnel, então, por favor, se afaste.

— Eu não vejo nada aqui. Kamijou disse enquanto olhava o chão perto de Itsuwa. — …E romper o túnel é algo assim tão fácil de fazer?

— Bem, romper por completo uma linha ley requer um grande número de pessoas.

— Ah ha ha. Itsuwa riu. — Mas se o que nós precisamos é fazer com que a linha conectando o Palácio dos Papas ao Vaticano fique inutilizável, eu posso conseguir. Basicamente, eu vou danificá-la, o que irá fazer com que sua direção mude levemente.

— Entendo… Kamijou concordou, mesmo que ele não houvesse realmente entendido.

Ele não queria mexer com isso usando o Imagine Breaker, então ele se distanciou um pouco de Itsuwa.

A garota dos Amakusa colocou sua bolsa no chão e vasculhou dentro dela. Parecia que ela estava escolhendo os itens diários necessários para usar esse feitiço.

Enquanto a observava, Kamijou fez uma pergunta a ela.

— Então, a Igreja Amakusa usa coisas como essas para criar feitiços?

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— S-sim. Para esse feitiço, eu preciso de uma câmera, um chinelo, um panfleto, um pouco de água mineral, e uma calcinha branca...

Quando tirou a calcinha da bolsa, Itsuwa gritou e rapidamente a enfiou de volta. Era provavelmente a mesma da qual ela havia se trocado.

Seu rosto ficou vermelho e ela parou de se mover.

— Q-qual o problema, Itsuwa?

— …esse feitiço.

Itsuwa falou enquanto ainda não se movia.

— Eu preciso dela para fazer esse feitiço.

Seu rosto perdeu toda a esperança e ela lentamente tirou a calcinha da bolsa. Itsuwa parecia estar a ponto de chorar, e Kamijou pensou em se virar, mas ele não conseguia se mover depois que ela disse para ele não se preocupar.

Itsuwa alinhou no chão os objetos que ela havia retirado da bolsa. Para Kamijou, parecia que era um círculo, mas ela devia estar seguindo regras sutis sobre como fazer isso.

Quando ela terminou de colocar os objetos, ela girou sua lança em sua mão para que a ponta estivesse virada para baixo.

— Aqui vai. Itsuwa disse enquanto perfurava o chão com sua lança.

A lança acertou bem no meio do círculo.

Não houve som de metal acertando pedra.

A ponta da lança desapareceu no chão como se estivesse afundando na lama.

(Quando Itsuwa romper o túnel, o C-Document vai parar de funcionar. Em outras palavras, as manifestações aqui devem cessar.)

A garota dos Amakusa murmurou algo enquanto sua lança perfurava no chão.

A lança lentamente se afundou mais.

Mas então as pessoas usando o C-Document no Palácio dos Papas vão perceber que eles falharam.

Quando eles determinarem que a situação não está mais a seu favor, eles devem fugir para o Vaticano com o C-Document.

Ela tocou o chão com o salto de seu sapato.

Ela também tocou, com a ponta do dedo de sua mão que segurava a lança, a empunhadura da lança suavemente, mas em um determinado ritmo.

Então essa é uma corrida contra o relógio. Nós temos que correr para o Palácio dos Papas depois que os tumultos tiverem parado. Nós nos encontraremos com Tsuchimikado e vamos detê-los antes que eles possam deixar a cidade.

A lança agora estava mais da metade para dentro do chão e o fim da empunhadura só alcançava até a altura do peito de Itsuwa.

Ela soltou a lança e ajustou o jeito que ela segurava.

Era como se ela estivesse girando uma chave gigante.

Em seguida, houve um barulho.

Mas…

Não era um barulho causado pela lança de Itsuwa.

Com um barulho alto, a parede externa do museu repentinamente explodiu por causa de algum tipo de ataque. Era destinado a Itsuwa e sua lança que estava afundada no chão.

Parecia uma enorme espada sendo girada.

Era branco.

Viajou em uma linha reta na direção de Itsuwa.

Quando ela percebeu, ela alterou sua posição sem mover a lança, fazendo com que ela estivesse atrás da mesma. O ataque passou por Itsuwa, mas uma parte do ataque destruiu a parede… ou melhor, um pedaço de rocha grande demais para você poder colocar seus braços em volta, atingiu a lança dela em cheio.

— Itsuwa!!

A lança se quebrou exatamente no meio quando foi acertada.

Itsuwa foi lançada a uma grande distância enquanto segurava a lança quebrada.

Depois de causar sua destruição, o ataque esbranquiçado flutuou e desapareceu como fumaça.

— Maldição…!!

Itsuwa segurava as duas metades de sua lança quebrada nas mãos. Ela removeu a parte quebrada dos encaixes e jogou-a de lado. Ela então chutou a sua lança para cima e pegou um bastão reserva no ar. Ela usou aquela parte para refazer sua lança.

O segundo ataque veio logo em seguida.

A “lâmina branca” veio explodindo através da parede externa novamente.

O movimento da “lâmina branca”, enquanto ela se movia de uma parede a outra, era brusco, como uma criança balançando um galho de árvore. Mas tinha uma força avassaladora. As paredes rochosas e o chão ruíram, os mostruários de vidro se quebraram, e as peças se espalharam por todas as direções.

Os sons de destruição continuaram um após o outro.

Kamijou se inclinou e viu uma fina poeira caindo do teto.

(Isso não é bom… Esse prédio não vai durar por muito tempo…!!)

— Itsuwa!! Kamijou gritou e moveu seus braços para dizer a ela que corresse para a saída.

Enquanto isso, a “lâmina branca” continuava a voar desgovernadamente, destruindo as paredes como um predador caçando sua presa.

A cada colisão, parecia se aproximar mais e mais de seu alvo.

Quem for que a estivesse controlando devia estar sentindo como eles conseguiam desviar-se dela.

Ou talvez o agressor estivesse atacando a uma determinada distância e ele ou ela estava se aproximando lentamente.

Kamijou conseguiu se esquivar por pouco da lâmina e ele sentiu como se fosse uma guilhotina. Ele pulou para fora do caminho e fora do museu quase como se desse uma cambalhota.

E então…

— Ora, ora. Parece que quando ataco de longe, minha precisão diminui.

A voz vinha de algum lugar próximo.

Bem próximo. Era como se fosse a alguns centímetros de seu rosto.

Kamijou estava surpreso por que o homem parecia o estar esperando lá.

O homem em frente dos olhos de Kamijou balançou seu braço direito sem mesmo esperar a resposta de Kamijou.

Algo branco apareceu atrás de seu braço enquanto esse se movia.

Diferentemente do movimento lento do braço do homem, o objeto esbranquiçado se lançou na direção do pescoço de Kamijou na velocidade de uma guilhotina em queda.

Houve um grande barulho enquanto viajava pelo ar.

— Ahhhhhhhhh?

Kamijou imediatamente levantou sua mão direita e a “lâmina branca” a acertou.

A “lâmina branca” se despedaçou no mesmo segundo do choque. Literalmente. Um pó branco se espalhou na área.

A cortina de pó que parecia uma névoa flutuava e se juntou quando o agressor moveu um de seus dedos.

— Se afaste!! Itsuwa gritou detrás de Kamijou e ele apressadamente colocou uma distância entre ele e o agressor.

Kamijou finalmente podia se focar totalmente no agressor.

Era um homem vestindo roupas cerimoniais verdes.

Ele estava usando verde dos pés à cabeça.

Ele era um pouco baixo para uma pessoa branca, quase do tamanho de Kamijou ou até mesmo menor. Por outro lado, ele parecia que tinha o dobro da idade de Kamijou. Ele era bem magro, então suas roupas cerimoniais estavam bem folgadas. Suas bochechas cavadas davam a ele um estranho senso de vitalidade.

Kamijou deixou sua mão direita à sua frente e perguntou ao agressor com roupas cerimoniais.

— …Você é da Igreja Católica Romana?

“Eu sou, mas eu preferiria que você dissesse que eu sou do "Assento Direito de Deus".

Kamijou ficou sem palavras com a resposta despreocupada do homem.

Assento Direito de Deus.

Outro membro daquele grupo, Vento Da Frente, quase paralisou completamente a Cidade Acadêmica sozinho em 30 de setembro.

— Meu nome é Terra Da Esquerda.

A poeira branca se juntou em sua mão e tomou forma.

Como antes, era a forma de uma guilhotina.

Era uma lâmina em forma de placa, que parecia ter em torno de 70 centímetros quadrados e a parte de baixo era cortada diagonalmente. O homem a segurava pelo anel que normalmente seria o local onde a corda seria amarrada.

— Parece que finalmente é a minha vez. Como o "Assento Direito de Deus" não pode usar magia comum, eu tive que deixar a operação do C-Document para outro mago.

Terra sorriu enquanto ele deixou a lâmina de execução pendurada casualmente do seu lado.

— E então eu estava esperando que vocês pudessem me ajudar a matar tempo. Vocês são os primeiros a serem pegos pelo meu feitiço de sonda anti-linha ley, então eu espero que vocês me proporcionem um pouco de diversão.

Parte 8[edit]

Kamijou, Itsuwa e Terra estavam em pé na frente da parede externa destruída do museu. A poeira diminuía a visibilidade, então eles tentavam dissipá-la.

Nesse momento, Terra da Esquerda balançou sua mão direito.

Ele a balançou da esquerda para a direita.

Acompanhando aquele movimento, a guilhotina branca se moveu. Não parecia que ele a estava segurando; parecia mais que ela flutuava e estava conectada ao braço dele. A forma da guilhotina que era de um metro de diâmetro há poucos instantes ruiu. Ela se transformou em uma tsunami branca que disparou em sentido horizontal.

Ela rugiu pelo ar.

— Ohhhhh?

Kamijou colocou sua mão direita à frente.

Uma destruição em forma de redemoinho seguiu a lâmina. As ruas da antiga cidade de Avignon eram estreitas. Fazia cortes nos prédios dos lados, lançava carros estacionados ao ar, e entortava construções inteiras.

Havia agora uma clara distinção entre a antiga rua à direita de Kamijou e a pilha de escombros à sua esquerda.

A guilhotina branca era muito destrutiva e podia facilmente cortar uma pessoa ao meio, mas…

(Eu posso cuidar disso usando minha mão direita!!)

— Itsuwa!! Kamijou gritou, mas ele começou a correr na direção de Terra sem esperar ela responder. Ele iria atrair o ataque de Terra e Itsuwa poderia chegar perto o bastante para atacá-lo. Essa era o melhor padrão de ataque para esse tipo de situação.

E Terra parecia estar focado na mão direita de Kamijou.

Seus olhos, que tinham uma expressão doentia, se estreitaram e ele falou com um tom de voz que mostrava admiração.

— Você deveria ter sido morto por aquele ataque. Entendo. Então esse é o Imagine Breaker. ...Eu fiquei sabendo que você derrotou Vento Da Frente.

Terra balançou a guilhotina, sorrindo.

Ele a balançava para trás e para frente.

Acompanhando aquele movimento, a lâmina esbranquiçada se lançou como um parafuso e se dirigia diretamente ao peito de Kamijou.

— …!!

Kamijou conseguiu colocar sua mão direita para atingi-la, mas ele estava tão focado na defesa que ele estava tendo dificuldade para se movimentar rápido o bastante.

Whooosh.

Itsuwa correu para perto de Kamijou segurando sua lança enquanto se agachava levemente.

— Hmph.

A guilhotina de Terra se dirigiu na direção dela.

Kamijou ouviu um ruído intenso. Abaixando-se, Itsuwa evitou a lâmina que voava em linha reta. Mas ela não parou de se mover ali. Ela a evitou uma segunda e uma terceira vez, segurou sua lança Friuli, e pulou tentando alcançar o peito de Terra.

Ela puxou a parte de trás da lança e fez um forte movimento de perfuração para frente.

Terra repeliu o ataque da lança com um balanço horizontal da guilhotina.

Ele então balançou a guilhotina horizontalmente na posição contrária. Dessa vez, ele estava mirando em Itsuwa.

Era algo como um contra-ataque para aquela lâmina grande.

— !!

Itsuwa não tentou para a lâmina; ela pulou para frente diagonalmente e continuou em frente para evitá-la.

Enquanto fazia isso, ela puxou a lança para acumular força e golpeou para frente.

Talvez por que ela tenha tido que desviar da lâmina, ela perdeu o equilíbrio e houve um pequeno atraso em seu ataque.

Terra usou esse atraso para balançar a guilhotina novamente.

Parecia que a lâmina branca de Terra iria atingir Itsuwa antes que a lança dela o alcançasse.

Mas havia um pouco de luz incidida próxima ao rosto de Terra.

Ele então percebeu linhas de luz se cruzando na frente de seus olhos e muitas outras linhas de luz se espalhando como uma teia de aranha à sua volta.

— Desculpe-me sobre isso… Itsuwa disse essas palavras enquanto um ruído de algo tensionado podia ser ouvido.

O som de algo tensionado ao seu limite estava vido de…

— As Sete Espadas dos Sete Ensinamentos!!

Fios.

Com o som de ar sendo cortado, os fios aceleraram na direção de Terra em uma velocidade incrível. As lâminas extrafinas atacaram de um só vez de 7 diferentes direções e todas estavam preparadas para cortá-lo em pedaços de seus calcanhares até o seu coração.

Terra não tinha tempo evitá-las.

Kamijou pensou que eles podiam estar se movendo mais rápido que um tiro.

Mas…

— Prioridade.

A expressão de Terra não mudou.

Ele simplesmente murmurou aquela palavra. Os 7 fios que estavam na direção de seu corpo não o cortaram em pedaços; eles simplesmente se enrolaram em volta dele sem mesmo afundarem em sua pele, como se fossem nada além de linha de pesca.

Itsuwa se mostrou chocada.

Terra balançou levemente seu braço e os 7 fios enrolados em volta do seu corpo se romperam como se fossem teias de aranha.

— !!

Itsuwa exalou bruscamente e moveu a lança que ela havia puxado para trás em um movimento de estocada.

A ponta afiada se moveu na direção do ombro de Terra na velocidade da luz.

— Prioridade: Parede externa – Inferior, Corpo Humano – Superior.

Mas então Terra pronunciou essas palavras.

Ele desapareceu na parede atrás dele como se estivesse entrando em uma entrada invisível.

— ?!

A lança de Itsuwa atingiu a parede e um som estridente soou.

Itsuwa fez uma careta quando o choque correu por seu braço.

E então…

— Prioridade: Parede Externa – Inferior, Movimentos da Lâmina – Superior.

A guilhotina branca atravessou a parede e atacou horizontalmente na direção do torso de Itsuwa.

Itsuwa abandonou a ideia de bloqueá-la e praticamente caiu no chão para evitar o ataque horizontal.

Alguns fios de seu cabelo flutuaram no ar.

Enquanto isso, Terra saltou do buraco que acabara de ser feito na parede.

Ele avistou Itsuwa logo após sua ação evasiva e casualmente balançou a guilhotina novamente.

Como Itsuwa estava deitada de bruços, não havia como desviar dessa vez.

Então Kamijou pulou na tentativa de ficar entre Itsuwa e Terra.

— Oooooooah?!

Ele conseguiu destruir a lâmina gigante por pouco com sua mão direita enquanto esta ia na direção do pescoço de Itsuwa.

A guilhotina explodiu e uma poeira branca se espalhou na área.

A expressão de Terra não mudou.

Ele não parecia nem um pouco preocupado.

— Prioridade: Parede Externa – Inferior, Movimentos da Lâmina – Superior.

Terra disse as mesmas palavras novamente e casualmente lançou a recém reunida lâmina na direção da parede lateral.

A guilhotina balançou através da parede como um braço derrubando coisas de cima de uma estante.

A parede externa ruiu e dezenas de pedras do tamanho de melões voaram pelo ar.

— !!

Itsuwa, que tentava se levantar, sentiu seu braço ser pego por Kamijou, que a puxou para trás. O lugar onde eles estavam há um segundo atrás foi esmagado pelas ruínas do prédio.

Ao invés de persegui-los, Terra calmamente andou pelos escombros na direção dos dois.

— Eu ouvi falar do Imagine Breaker antes, então eu estava bem ansioso. Terra sorriu enquanto a lâmina branca de propriedades desconhecidas estava pendurada na sua mão direita. — Mas, pelo que parece, você não é grande coisa. Para ser honesto, eu estou um pouco desapontado. Eu queria nunca ter visto isso. Você aparentemente venceu sua batalha contra Vento, mas parece que foi somente por que você eliminou a "Punição Divina" dela e porque a Cidade Acadêmica usou um "anjo caído" e a "pressão do reino" para restringi-la. Se ela estivesse 100%, ela não teria tido nenhum problema em derrotá-lo.

(Isso é…)

Kamijou sentiu um calafrio enquanto percebeu algo.

Um homem que estava no mesmo nível de Vento não atacaria somente com uma espada.

(Ele é do Assento Direito de Deus…!!)

Kamijou inconscientemente rangeu os dentes, mas ele duvidava que Terra iria esperar ele se acalmar.

— Ora, ora. Qual é o problema? Terra sorriu e levantou a sinistra guilhotina. — Certamente você não pensava que poderia me derrotar apenas mantendo a distância. Pelo menos deixe-me aproveitar isso um pouco mais. Se isso é tudo o que você tem, eu nem mesmo precisarei fazer "ajustes".

— Kh!!

Kamijou e Itsuwa levantaram seus corpos pesados e lançaram a frente para atacar Terra simultaneamente.

Terra segurava a guilhotine à frente na sua mão direita e disse.

— Prioridade: Movimentos de uma Lança – Inferior, Ar – Superior.

E, com isso, o movimento de Itsuwa parou repentinamente.

A ponta da lâmina se dirigia à garganta de Terra, mas parou como se estivesse sendo obstruída por uma parede de ar.

Quando Kamijou viu isso acontecendo do seu lado, ele fechou seu punho direito e o lançou na direção do peito de Terra.

Mas Terra foi mais rápido.

Ele casualmente balançou sua mão horizontalmente e a lâmina branca seguiu o movimento. A lâmina gigante passou direto pela mão direita de Kamijou e ia em direção de seu corpo.

(Ah, mer-...?!)

Ele não teve tempo de terminar seu pensamento.

A lâmina era mais grossa que seu dedão e ele a sentiu pressionar sua pele e afundar em seu corpo. Dor explodiu dentro dele.

O corpo de Kamijou dobrou-se com a força da guilhotina, ele voou e chocou-se na parede lateral.

Ele escutou um ruído alto de queda.

Pouco depois, houve um barulho doloroso de quebra vindo dentro de seu corpo.

(…?!)

Ele não conseguia falar.

A pressão dos seus intestinos e suas costas retirou todo o ar de seus pulmões.

— Gha…?!

Mas isso foi tudo o que aconteceu.

O corpo de Kamijou não foi cortado ao meio como as paredes externas.

Ele socou a guilhotina que o prendia na parede com um punho trêmulo. A lâmina gigante explodiu em pó e Kamijou sentou no chão na tentativa de recuperar o controle de sua respiração errática.

— ...

Terra observava com grande interesse a sua guilhotina destruída. Ele deu um passo para trás e moveu levemente seus dedos. Com apenas isso, a poeira retornou a ele.

(Eu estou…vivo…?) Kamijou pensou enquanto esfregava seu estômago que somente tinha uma dor chata. (Eu recebi um ataque direto, mas eu ainda estou vivo…?)

O primeiro ataque surpresa de Terra quebrou facilmente através da parede externa do museu. Kamijou foi atingido pelo mesmo ataque, então seu corpo não devia estar mais ou menos sem ferimentos.

O que significava...

(Aquele ataque e esse eram de tipos diferentes…?)

Kamijou moveu sua visão de seu estômago para Terra.

Terra não parecia nem um pouco preocupado enquanto em pé na frente do museu destruído.

(Tem algo aumentando seu poder destrutivo? Há algum truque naquela lâmina?)

Havia algo que se destacava como suspeito.

Kamijou checava Terra para ter certeza que sua guilhotina estava pronta para ataque depois que havia sido destruída.

— "Prioridade"... Itsuwa murmurou enquanto ela mudava de posição para cobrir Kamijou e puxava sua lança que simplesmente se recusava a alcançar Terra.

Então ela percebeu o pó que estava na ponta da lâmina.

— …Farinha?

Ela pensou por um segundo, mas então seu corpo se enrijeceu e seu rosto demonstrava estar em choque.

— Será que aquela arma funciona usando a "Carne de Deus"…?

— Ah, então até mesmo um asiático consegue descobrir isso.

Itsuwa estava quase sem palavras e Terra tentou provocar Itsuwa com suas palavras.

— Durante a missa, o vinho é tratado como o "Sangue de Deus" e o pão é tratado como a "Carne de Deus". E eu tenho certeza que eu não preciso te dizer que a missa é modelada na execução do "Filho de Deus" na cruz.

Itsuwa mordeu seu lábio após escutar as palavras de Terra.

Kamijou não tinha conhecimento sobre isso, mas aquelas palavras eram bem destrutivas para alguém com conhecimento em magia.

— Quando você pensa calmamente sobre isso, o fato de que o "Filho de Deus" foi crucificado na cruz, você vai perceber que um humano normal não seria capaz de matar o "Filho de Deus". Essa seria uma tarefa difícil mesmo para mim. Em certas partes das escrituras, a "ordem de prioridade" é mudada. Por exemplo, para que o "Filho de Deus" pudesse tomar o "pecado original" de toda a humanidade, a prioridade natural teve que ser mudada para que ele pudesse ser morto por um humano normal.

A guilhotina começou a ruir.

Apesar do fato de que Kamijou estava em guarda, Terra parecia estar se divertindo mais e mais.

— Uma das cerimônias secretas requeridas para completar a história do "Filho de Deus" é a alteração da ordem de prioridade. E é o mesmo feitiço que eu uso. É chamado de "Execução da Luz". A habilidade de mudar livremente o formato da farinha, o que eu uso com mediador, em uma ferramenta de borda afiada é um subproduto disso. Você entende agora?

Isso basicamente significava que se para o “corpo de Terra” foi dada prioridade sobre os “fios”, o corpo dele permaneceria sem ferimentos. Se para a “lâmina feita de farinha” foi dada prioridade sobre a “parede externa”, a lâmina conseguiu destruir as paredes com facilidade. Se para o “ar” foi dada prioridade sobre a “lança”, o ataque de Itsuwa iria para no ar.

— Forças e fraquezas não significam nada para mim. Eu posso simplesmente alterar a ordem dos dois, no fim das contas.

Esse era o poder do Assento Direito de Deus.

Vento Da Frente dominava um tipo de poder que tratava com a “Punição Divina” de Deus, e o usou para paralisar a Cidade Acadêmica.

Desta vez, era a execução do “Filho de Deus”.

Todos os magos mexiam com teorias e leis das quais Kamijou nada sabia, mas ele sentia que aquelas com as quais os membros do Assento Direito de Deus lidavam eram algo especial.

— Hm, mas o que eu faço agora? Eu posso ter revelado meu truque, mas isso não significa que acabou. Não me diga que vocês pensaram que acabaria se vocês resolvessem o mistério.

Kamijou cerrou fortemente seus punhos ao ouvir as palavras de Terra.

Ele tinha razão.

Eles sabiam como funcionava, mas não sabiam um modo de lidar com isso.

Era por causa disso que Terra podia revelar o segredo dele e ainda permanecer confiante.

— Talvez eu lhes dê um pouco de tempo, Terra disse de uma maneira caçoadora. — Aumentar o tempo dessa batalha não me traz dano algum. Eu lhes darei 10 segundos. Nesse tempo, vocês podem traçar um plano para me derrotar ou para fugir. …Mas não se enganem. Eu não estou dizendo que esses planos existem, certo?

Terra parecia se divertir mais e mais enquanto falava.

— Droga, Kamijou amaldiçoou.

Não havia muito espaço entre eles e Terra Da Esquerda.

Kamijou rangeu os dentes e Terra parecia se divertir com cada reação que vinha de Kamijou.

Mas então…

— Oh, que generoso. Eu posso fazer 3 planos diferentes com 10 segundos.

Kamijou de repente escutou uma voz masculina que ele conhecia bem, vindo de algum lugar fora de seu ângulo de visão.

Antes que ele tivesse a chance de olhar, uma bala vermelha atravessou o ar. Era uma peça de origami laranja e em chamas. O pedaço de papel, dobrado e quadrado, voou na direção do rosto de Terra com força suficiente para rachar concreto.

Terra meramente o seguiu com os olhos.

— Prioridade: Mágica – Inferior, Pele Humana – Superior.

O papel o acertou. Mas assim que o origami tocou na pele de Terra, ele rapidamente mudou de direção e acertou a parede bem próxima de Itsuwa. Era como se fosse uma bala ricocheteando em uma parede de metal.

Kamijou finalmente se virou para ver o intruso.

Um garoto usando óculos escuros azuis estava em pé lá.

Porque ele se forçou a usar magia, havia um pouco de sangue vindo de seus lábios.

— Tsuchimikado…?!

Tsuchimikado acenou levemente com a cabeça.

Os seus olhos nunca saíram da figura de Terra.

— Não me diga que, Terra sorriu levemente enquanto a guilhotina estava pendurada em sua mão direita, — esse era um de seus planos.

— Infelizmente para você… Tsuchimikado sorriu, também. Seu ataque ser uma falha, mas ele não parecia nem um pouco preocupado. “Você está cercado agora.

— …?

— E será xeque-mate no próximo ataque. Eu testei minha teoria e ela estava correta.

O que ele puxou enquanto disse isso não era um item mágico.

Era um revolver de uma cor preta brilhante.

A mesma arma com a qual ele atirou em Oyafune Monaka.

— Você realmente acha que pode me vencer com um brinquedo desses?

Tsuchimikado não respondeu.

Ele reuniu forças no dedo que estava no gatilho.

Terra não fez menção alguma de procurar abrigo; ele simplesmente ficou parado e falou lentamente.

— Prioridade: Bala – Inferior, Pele Humana – Superior.

— Prioridade: Bala – Inferior, Pele Humana – Superior.

Tsuchimikado falou juntamente com Terra.

O som de múltiplos tiros ecoou.

Mas as balas ricochetearam para longe do rosto e do peito de Terra.

Era um resultado esmagador para um lado só.

Mesmo assim, Tsuchimikado permanecia sorrindo.

— Eu te disse, Terra Da Esquerda.

Tsuchimikado segurava a arma em uma das mãos e colocou a outra em seu bolso.

Ele puxou um pedaço negro de origami.

— Eu te disse que seria xeque-mate.

— ...

Terra da Esquerda estava em silêncio depois de ouvir as palavras de Tsuchimikado.

Ele então se virou lentamente na direção de Tsuchimikado e preparou sua guilhotina.

As ruas supostamente deviam estar cheias de manifestantes, mas a área estava estranhamente silenciosa.

(Mexa-se…) Kamijou pensou.

Para melhor ou pior, haveria uma grande mudança nessa batalha.

Kamijou estava tão imerso no confronto entre Tsuchimikado e Terra que ele não percebeu Itsuwa se aproximando. Ela sussurrou em seu ouvido.

— (Um, nós precisamos tirar vantagem da próxima ação do Tsuchimikado-san e fugir.)

— Eh?

— (…Ele nos disse suas instruções. Ele disse que para o C-Document no Palácio dos Papas é mais importante que derrotar o inimigo aqui.)

Itsuwa estava segurando um pedaço de origami.

As instruções de Tsuchimikado deviam estar escritas nele. Kamijou não sabia exatamente quando, mas ele deve ter jogado o origami para Itsuwa enquanto falava com Terra.

Tsuchimikado e Terra tomaram um passo para frente cada um.

E justamente quando Kamijou pensou que eles iriam atacar, um barulho surgiu. Era tão alto que ele pensou que seus tímpanos iriam estourar.

…?!

Aquele não era o som de magia.

Era o som da paisagem urbana de Avignon sendo destruída por explosivos.

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Obviamente, nem Tsuchimikado nem Terra causaram isso.

Uma terceira força estava interferindo.

A prova disso podia ser vista em como ambos estalaram suas línguas, irritados, e como os dois tomaram um passo para trás para colocar distância um do outro.

Kamijou estava surpreso com esse evento repentino e observou como os complexos habitacionais dos dois lados da estrada começaram a ruir. Isso criou uma poeira acinzentada que obscureceu a visão de Kamijou.

Ele podia ver silhuetas na origem das explosões, do outro lado.

Mas aquelas não eram silhuetas humanas.

— …O que está acontecendo? O que diabos está acontecendo? Ele murmurou.

As silhuetas deformadas do outro lado da cortina cinza estavam se movendo.

Parte 9[edit]

A unidade armada não oficial da Cidade Acadêmica começou a invadir a antiga cidade de Avignon por fora de seus muros.

Seu equipamento principal era a HsPS-15, conhecida como “Grande Arma”. Era um exoesqueleto desenvolvido usando o melhor da tecnologia da Cidade Acadêmica.

A armadura era a nova arma da Cidade Acadêmica que cobria o corpo com uma couraça que parecia uma armadura ocidental. As articulações se moviam usando eletricidade e os humanos de carne e osso dentro dela ganhavam mobilidade de duas a dezenas de vezes o normal.

Elas vinham em vários tamanhos padrões e diferentes níveis de poder de fogo, mas os que estavam aqui eram gigantes massas de metal de dois metros e meio de altura.

Os trajes tinha camuflagens azuis e cinzas e a “armadura” que parecia um robô tinha dois braços e duas pernas com 5 dedos em cada. Contudo, se você perguntasse a alguém se essas armaduras se pareciam com humanos, eles lhe diriam que “não”. A área da “cabeça” era enorme. Poderia ser porque a couraça do peito era muito espessa, mas parecia que os trajes tinham em suas cabeças robôs de segurança no formato de tambores. Não havia pescoço. A “cabeça” estava diretamente conectada ao peito, mas ainda podia girar.

Houve um grande barulho de algo sendo esmagado.

Era o som das pernas encouraçadas pisando nas ruínas enquanto avançavam.

O pavimento rochoso e as ruínas dos tijolos sobreviveram por centenas de anos, mas agora eram facilmente esmagados.

As mãos dos exoesqueletos seguravam armas especiais que tinham tambores tão largos que pareciam que eram deformados.

As armas pareciam rifles gigantes feitas com a diminuição forçada do tambor de um canhão de um tanque, mas, na verdade, elas eram bem diferentes. Elas eram escopetas revólveres anti-barreiras.

As balas usadas nessas armas eram especiais. Dentro de uma única bala tinha dezenas de balas que eram comumente chamadas de antimatéria. Cada tiro podia perfurar por completo um tanque e, de perto, poderia forçar uma porta de abrigo nuclear a se abrir. Usualmente, o tambor não suportaria a força explosiva da pólvora, mas, pelo controle delicado do tipo e da disposição da pólvora, a direção da força explosiva podia ser controlada para que o mínimo possível de dano ocorresse ao tambor e máximo possível de força destrutiva fosse liberado.

As poucas dezenas de armaduras cibernéticas se dirigiam aos muros de castelo que cercavam Avignon enquanto seguravam essas armas enormes que foram desenvolvidas com o propósito de quebrar por entre grossas portas de abrigos nos quais inimigos pudessem estar se escondendo.

— Iniciar invasão.

Duas meras palavras.

Quando aquela voz falou, as escopetas anti-barreiras atiraram. A cada tiro, o cilindro do revólver girava.

Em um instante, as paredes rochosas que restringiam a entrada e saída de pessoas da cidade por centenas de anos foram jogadas pelo ar como se fossem de papel.

As armaduras cibernéticas pisavam sobre as ruínas e entraram na antiga cidade de Avignon.

As pernas artificiais se moviam com muito mais suavidade do que aquelas de um ser humano.

Elas encontraram os jovens de Avignon que estavam tumultuando pouco tempo antes.

Esses jovens não demonstravam sentimentos de pura raiva ou puro medo. O ataque foi tão repentino que eles se sentiam inaptos para saber o que sentiam. Isso os deixou tremendo em um redemoinho de emoções.

Por outro lado, a resposta das armaduras cibernéticas era completamente uniforme.

Elas moviam os largos tambores de suas escopetas anti-barreiras que haviam destruído os muros de castelo em um único tiro e miravam diretamente aos humanos de carne e osso à frente deles.

A voz disse um breve relatório para seus companheiros através do rádio.

— Forças inimigas avistadas.

Parte 10[edit]

Kamijou estava atônito quando ele viu um grande número de armaduras cibernéticas forçando o seu caminho pelos muros enquanto andavam por Avignon, ignorando o arranjo complicado das ruas estreitas. Um dos prédios que se elevava por cima dos outros foi destruído, e ele podia “vê-los” no outro lado das ruínas.

Aquelas coisas não deveriam existir no mundo real.

Nenhuma instituição fora a Cidade Acadêmica deveria ser capaz de desenvolver armaduras cibernéticas daquele nível.

Eles tinham armas anti-barreiras em suas mãos.

Eles atravessavam prédios, levantavam carros em seus caminhos e, sem piedade, viraram suas armas nos manifestantes que, imprudentemente, tentavam contra-atacar.

As escopetas atiravam balas daqueles tambores com tamanho qual que um punho humano facilmente caberia ali.

Pessoas eram moídas facilmente quando as escopetas atiravam.

Mas o mais provável é que aquilo não era feita somente com a munição. Kamijou não sabia como funcionava, mas parecia que as armas anti-barreiras podiam usar tipos diferentes de balas.

Talvez os tipos de balas eram divididas entre as câmaras pares e ímpares do cilindro giratório, e ele rodava duas câmaras por vez. Desse jeito, podia-se mudar entre modo par ou modo ímpar.

Eles estavam atirando festim.

Mas a onda de choque da grande explosão que isso causava era suficiente para acabar com o oxigênio dos pulmões de uma pessoa e jogá-los ao chão. Quando a primeira linha de manifestantes enérgicos foi silenciada, a segunda e a terceira linhas de manifestantes mais próximas empalideceu e começou a correr em pânico.

As armaduras cibernéticas não os deixaram correr.

Os trajes passavam pelos nativos que estavam abaixados e tremendo nas esquinas da rua e, se eles mostrassem qualquer sinal de resistência, as armaduras cibernéticas atirariam sem piedade uma bala de festim em sua direção, os derrubando com uma ogiva de som. Quando os manifestantes se tornavam incapacitados com isso, as armaduras conectavam suas escopetas a uma parte de metal em suas costas que se parecia com uma mochila para recarregar automaticamente.

(…O que está acontecendo?)

A situação era tão louca que Kamijou não pode fazer nada a não ser assistir.

(Tsuchimikado não disse que a Cidade Acadêmica não iria agir? E agora que eles agiram... Por que tinha que ser assim?)

Oyafune Monaka disse que os líderes da Cidade Acadêmica não se atreveriam a lidar com o problema em Avignon e que eles simplesmente iriam deixar o caos piorar.

Aparentemente, o momento de agir havia chegado.

Agora que o caos havia feito a quantidade necessária de dano, eles iriam terminar com tudo como se ligassem um interruptor.

Kamijou mordeu seu lábio.

Os líderes da Cidade Acadêmica.

O Conselho de Administração.

E aquele que os controlava estava realmente no topo do lado da ciência.

— Entendo. Então chegou a isso. Terra disse, parecendo entretido.

E com essas palavras, a atmosfera que estava colorida pelo choque voltou-se novamente para Terra.

— Bem, aqueles que estão manipulando o C-Document no Palácio dos Papas são apenas magos normais, então isso pode realmente acabar mal. Eu queria ter um pouco mais de dados do campo de batalha para meu feitiço de prioridade “Execução da Luz”, contudo. Ah, tudo bem.

Enquanto Terra falava, ele não olhou para Kamijou ou os outros e caminhava parecendo sem rumo, através de um dos grandes buracos feitos pelas armaduras em um dos complexos habitacionais.

— Espere!! Tsuchimikado gritou, mas ele pulou lateralmente logo após.

Antes que Kamijou pudesse saber o motivo, uma grande explosão, que provavelmente aconteceu por causa de um ataque das armaduras, veio de dentro do complexo habitacional.

O pequeno corpo de Kamijou foi arremessado para trás na explosão.

O buraco no qual Terra havia entrado estava coberto de chamas.

— Ow...?!

— V-você está bem?

Agitada, Itsuwa pegou a mão de Kamijou.

Kamijou pegou a mão dela para se levantar e Tsuchimikado o chamou.

— Você consegue se mover, Kami-yan? Nós temos que chegar ao Palácio dos Papas!!

— Aquelas armaduras cibernéticas são da Cidade Acadêmica, certo? Eu achei que eles não iriam agir! Isso se tornou bem mais complicado! Nós vamos somente sair sem detê-los?

— A prioridade é ir atrás de Terra!! E eles também estão atrás do C-Document. Todos esse caos pode terminar se aquele item espiritual for destruído!!

— Maldição. Eles realmente estão pensando em parar o caos? Kamijou murmurou, irritado.

Em Avignon, havia manifestantes afetados pelo C-Document e pelas armaduras. Qual lado ele realmente odiava?

— Vamos, Kami-yan. Aquele membro do "Assento Direito de Deus" pode ainda estar nos subestimando, mas do jeito que as coisas estão, eles realmente irão fugir. Essa é a nossa única chance de deter o C-Document!!

— Droga, Kamijou amaldiçoou.

Naquela hora, um número de armaduras pisou na estreita estrada, saindo do buraco coberto de chamas no qual Terra havia passado.

Deviam ser companheiros da Cidade Acadêmica dentro delas, mas as armas estavam travadas na direção deles.

Aparentemente, eles não estavam perdendo tempo para checar de qual lado cada um estava. Eles estavam somente atacando todo mundo na cidade de Avignon.

— …Kami-yan, vamos nos separar aqui. Seu nome é Itsuwa, certo? Você e Kami-yan vão para o Palácio dos Papas juntos.

— Tsuchimikado?

— Parece que agora há dois problemas em Avignon. Eu pensei que nós poderíamos deixar as armaduras de lado por enquanto, mas essa opção se foi. Kami-yan, você irá perseguir Terra e fazer algo sobre o C-Document. Eu irei deter esses idiotas da Cidade Acadêmica.

— Mas não tem…

Kamijou iria terminar com “como você consegue fazer isso", mas Tsuchimikado o interrompeu.

— Eles não são completamente inimigos. É claro, eu vou ter que lutar um pouco, mas vou esperar uma oportunidade para conversar com eles. E eu sou melhor nesse tipo de tática que você.

— …Maldição.

— Vá, Kami-yan!!

— Maldição!!

Kamijou correu pela estrada estreita com Itsuwa enquanto gritava. Atrás dele, ele escutou o som das armaduras cibernéticas em operação e (Tsuchimikado deve ter feito algo) um som repetido de gelo se quebrando. Kamijou rangeu os dentes, sabendo que Tsuchimikado ficou coberto de sangue por usar magia uma única vez, mas, agora, ele não podia fazer nada.

Ele correu pelas ruas estreitas da antiga cidade de Avignon.

O cheiro de pólvora e fumaça preencheu suas narinas.

Ele viu pessoas fugindo e armaduras os perseguindo.

O que diabos está acontecendo?

Isso fez com que as manifestações e tumultos parecessem nada. Enquanto Kamijou assistia a violência esmagadora da ação militar, ele pensou que as veias de sua cabeça iriam explodir.

Itsuwa sabia a localização do Palácio dos Papas graças a sua investigação anterior em Avignon. Ele olhou na direção que ela indicou e viu, ao longe, a silhueta do que ele pensou que seria o prédio para onde eles seguiam.

Nas entrelinhas 3[edit]

Stiyl Magnus deixou a Torre de Londres.

O clima em Londres estava moderado, mas havia poucos turistas e distantes entre si. Diferente de outros países, não havia manifestações em larga escala na Inglaterra, mas ainda havia um sentimento de tensão se espalhando pela cidade.

— "Assento Direito de Deus", hã…? Stiyl murmurou enquanto colocava um cigarro na boca.

De acordo com Lidvia Lorenzetti, havia 4 membros e cada um deles tinha atributos de um dos 4 arcanjos.

— O que você acha sobre o que ela disse? Agnese Sanctis disse, entediada, enquanto saía do prédio, próxima a ele. — Algo assim é verdade? Eu nunca ouvi falar de nada como aquilo enquanto eu estava na Igreja Católica Romana. Poderia ser uma mentira para nos desorientar.

— Eu não posso negar a possibilidade, mas tudo o que ela disse na sala de interrogação está magicamente gravado. É isso o que você está escrevendo no pergaminho. Se nós reanalisarmos isso, nós podemos ser capazes de descobrir o quão preciso é.

— É claro, nós não podemos ter 100% de certeza, Stiyl completou.

Stil pensou enquanto falava.

Se Lidvia estava falando a verdade, o "Assento Direito de Deus" era o nome de um grupo das profundezas da Igreja Católica Romana e, ao mesmo tempo, o seu objetivo final.

(…O assento direito. Quase parece uma dica, mas eu não tenho certeza. Eu não consigo minuciar o suficiente. Eu creio que terei que conversar com eles mais um pouco.)

Stiyl olhou para o rosto de Agnese.

— Talvez nós devêssemos parar um pouco.

— Não, eu quero terminar logo com isso.

— Entendo, Stiyl respondeu brevemente.

Eles entraram novamente na escura Torre de Londres.

Referências e Notas de Tradução[edit]

  1. Intercontinental Ballistic Missile, ou Míssil Balístico Intercontinental.
  2. Força Gravitacional.
  3. Do latim Magum Opus (Grande Obra). Na alquimia, é o poder que possibilita ao alquimista transformar o ideal em real. O nome "Ars Magna" é originário do livro de Álgebra escrito na Renascença por Girolamo Cardano (Que traduzindo seria "A Grande Arte"), cujo foi o primeiro a apresentar números complexos.
  4. Assim como o corpo humano, que possui um sistema de sensores e relês nervosos, também a Terra os possui. Segundo os Ensinamentos Wiccanos, as antigas civilizações ergueram locais de culto para assinalar o plexo de tais pontos no corpo da Terra. A energia que flui de ponto a ponto (seu relê nervoso) é conhecido atualmente como Linha Ley. Há mais coisas sobre o assunto no entanto é informação demais para pôr aqui, sugiro que procurem "Linhas de Ley" no google, é um assunto muito interessante.
  5. — Café e Sanduíche, por favor!!
  6. Para informações mais detalhadas: http://pt.wikipedia.org/wiki/Papado_de_Avinh%C3%A3o
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