Suzumiya Haruhi:Volume2 Capítulo4br

From Baka-Tsuki
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Capítulo 4


No dia seguinte, relutantemente esperamos novamente em frente à estação. Dessa vez, porém, ao invés dos três membros de sempre da Brigada SOS, me encontrei esperando junto de alguns rostos novos. Os chamados "capangas" que Haruhi havia chamado.

"Ei Kyon, isso é diferente do que você havia nos dito." - Taniguchi protestou.

"Onde está Asahina-san. Só viemos porque você disse que ela vira aqui nos buscar! Mas eu não a vejo em lugar nenhum."

Certamente a hora marcada já havia se passado, e Asahina-san não havia chego. Provavelmente ela estaria se escondendo em casa matando aula, depois de se sobrecarregar durante os últimos dois dias.

"Só vim aqui para satisfazer meu apetite visual, mas o que é isso? A única coisa que consegui ver até agora foi Suzumiya Haruhi ficando irritada. Mais que perda do tempo!"

Pare de reclamar! Por que você não vai observar Nagato então?

"Agora que você mencionou isso, a fantasia de Nagato-san realmente combina com ela."

Esse foi o Kunikida falando casualmente. Ele fora escolhido como capanga número dois, depois de Taniguchi. Haruhi me ligou ontem à noite enquanto tomava banho. Pegando o telefone que minha irmã me trouxera, lavei o meu cabelo enquanto ouvia ela falar.

"Aquele idiota do Taniguchi e aquele outro cara... não lembro o nome dele... de qualquer forma, eles são seus amigos. Traga aqueles dois amanhã. Quero usar eles como capangas."

Depois de dizer isso, ela prontamente desligou. Você poderia pelo menos dizer um "Oi!". Quando você faz pedidos para alguém, faça de uma maneira educada, e não ordene simplesmente! Faça pedidos como Asahina-san faria.

Não sei que planos Taniguchi e Kunikida teriam para seus dias de folga, então os chamei pelo celular depois do banho. Esses dois coadjuvantes tinham muito tempo livre e concordaram prontamente em ir. O que eles fazem nos feriados afinal?

Talvez esses dois caras não fossem o suficiente, pois Haruhi trouxe mais outra pessoa. Essa coadjuvante se inclinou para frente como se fosse cumprimentar e examinou Nagato, cujos olhos estavam cobertos pelo chapéu de abas largas. Ela abanou o seu cabelo, realmente comprido, diga-se de passagem, e sorriu para mim.

"Kyon-kun, cadê a Mikuru?"

O nome dessa garota realmente energética era Tsuruya, que por sinal era uma colega de classe de Asahina-san. De acordo com a própria, ela era... "uma amiga que conheci nessa era", então suponho que não exista nada de errado com ela. Voltando para junho, quando Haruhi nos forçou a participar do campeonato de Baseball, Asahina-san trouxe essa garota do segundo ano só para fazer volume no time. Claro que Taniguchi e Kunikida vieram também... para falar a verdade, até a minha irmã veio.

Tsuruya-san generosamente mostrou seus dentes brilhantes e disse:

"O que faremos hoje? Ela me disse para vir se estivesse com tempo, então eu vim. O que é essa faixa no braço de Haruhi? Para que é essa câmera de vídeo? E para que Yuki está fantasiada?”

Ela começou a me bombardear com uma pergunta atrás de pergunta. E quando estava prestes a responder, Tsuruya-san já havia ido falar com Koizumi.

"Wow, Itsuki-kun Você está maravilhoso como sempre!"

Ela é realmente uma pessoa muito ocupada.

Haruhi fora igualmente energética durante essa manhã, enquanto gritava e esbravejava pelo celular.

"O que!? Você é a protagonista! 30% do sucesso do filme depende de você! É claro que eu sou responsável pelos outros 70%, mas isso não importa! O que você disse? Dor de estomago? Pare de brincadeiras! Só uma estudante de primário usaria uma desculpa dessas! Você tem trinta segundos para chegar até aqui!"

Parece que Asahina-san começou a se trancar em casa como uma hikkikomori [1]. Quando percebeu que teria que passar hoje por tudo aquilo novamente, era natural para ela sofrer uma dor de estomago mentalmente induzida. Ela é uma pessoa de coração frágil afinal.

1-[Nota do tradutor: consiste de jovens que se ostracizam em suas próprias residências por receio de contato com outras pessoas].

"Sério!"

Ela começou a me bombardear com uma pergunta atrás de pergunta. E quando estava prestes a responder, Tsuruya-san já havia ido falar com Koizumi.

Haruhi furiosamente desligou o telefone, então revelou um olhar ameaçador como de um mordomo prestes a repreender uma criança sem modos a mesa.

"Ela merece uma punição!"


Você não deveria dizer isso. Asahina-san é diferente de você. Ela só quer viver pacificamente, ou pelo menos descansar um pouco no domingo quando não há aulas. Até eu penso assim.

É claro que Haruhi não gostaria que sua atriz principal desertasse. A diretora que exigia tanto da protagonista, mesmo sem pagar nenhum tostão pelo trabalho, disse:

"Eu vou atrás dela. Empreste-me essa mala um pouco."

Haruhi pegou a mala com as roupas e correu em direção a parada de táxis. Ela bateu no vidro de um táxi parado ali em frente, então o motorista abriu a porta, e ela então rapidamente no carro, que partiu imediatamente.

Agora que penso um pouco nisso, não sei aonde Asahina-san mora, mesmo assim fui ao apartamento de Nagato várias vezes...

"Consigo compreender o que Asahina-san sente."

Sem eu perceber, Koizumi já estava ao meu lado conversando comigo.

Tsuruya-san agora cumprimentava os dois palhaços da minha sala e dizia; "Yo, há quanto tempo não nos vemos!". Koizumi sorriu ao ver aquilo, e falou:

"Tenho a sensação que ela vai realmente se transformar em uma garota mágica se as coisas continuarem assim. Afinal, ela até soltou raios laser pelos olhos. Isso já está ficando ridículo."

"Como isso pode ficar ainda mais ridículo?"

"Você está certo. Se ela pedisse para cuspir fogo pela boca, não seria tão difícil assim de se treinar..."

Asahina-san não é um monstro. E nem uma artista de circo, ou uma lutadora cruel. O que aconteceria se ela queimasse aqueles belos lábios? Quem seria o responsável por isso Não me diga que você quer assumir essa responsabilidade?

"Não, se tem algo pelo que sou responsável, é de esperar pacientemente até que os 'celestiais' comecem a provocar o caos. Felizmente, as coisas não chegaram a este nível... Aquilo aconteceu uma só vez, acredito. Fico grato por vocês terem voltado. Graças a você o desastre foi contido e tudo voltou à normalidade."

Há meio ano atrás o mundo quase foi destruído graças a Haruhi. Graças ao meu trabalho duro e fadiga mental, a humanidade conseguiu sobreviver. Sinto que não seria demais se todos os chefes de estado ao redor do mundo enviassem-me cartas de agradecimento. Talvez devesse ter sido visitado por algum diplomata estrangeiro. Sigh, pelo outro lado, mesmo que isso acontecesse, esse tipo de visita só aumentaria os meus problemas, então nem esperei que eles aparecessem. A única recompensa que recebi foi ser abraçado por uma chorosa Asahina-san. E pensando bem, isso é mais que o suficiente. Então não sinto felicidade alguma em ser agradecido por Koizumi.

"O mesmo vale para o tal Raio Mikuru..."

Pare de chamá-la pelo primeiro nome; isso me irrita.

"Desculpe-me. Agora mesmo deveríamos ser capazes de prevenir que Asahina-san soltasse mais raios estranhos."

Como você tem certeza? Você está tão otimista só porque Haruhi não trouxe nenhuma lente colorida dessa vez?

"Não, já eliminamos esse fator de risco. Pedi um pouco de ajuda a Nagato-san."

Virei meu olhar para a garota que estava parada ali observando as lojas em frente à estação, e então olhei novamente para Koizumi.

"O que vocês fizeram com Asahina-san?"

"Não fique nervoso, nós meramente removemos a capacidade dela de soltar raios. Não estou certo de como foi, mas ao contrario de outras interfaces TFEI, Nagato-san não questionou nada. Eu só pedi para que reduzisse a ameaça provocada por Asahina-san a zero.”

"Que diabos é uma TFEI?"

"É uma abreviação que usamos entre nós, você não precisa saber o que significa. Sinto que Nagato-san é a mais incrível entre 'elas'. Eu estive pensando, pelo que mais ela é responsável alem de ser uma simples interface de comunicação?”

O que ele quis dizer era – o que mais aquela silênciosa garota que ama ler faz, alem de observar Haruhi? - Algumas pessoas sentem uma ponta de pena pelo sumiço de Asakura Ryouko, pessoalmente, não me sinto nem um pouco triste.


Após uns trinta minutos, o táxi que carregava Haruhi voltou, dentro dele estava também Asahina-san vestindo a roupa de garçonete. Assim como ontem, ela parecia bastante deprimida. Haruhi pediu o recibo para o taxista, provavelmente ela queria uma reposição para as suas despesas.

Taniguchi e Kunikida olharam para ela e resmungaram.

"Uma vez eu estava voltando da loja de conveniências no meio da noite, e um táxi passou por mim."

"E daí?"

"E no lugar da placa de 'livre' a lâmpada de cima dizia 'Carro do Amor'."

"Você deveria ficar surpreso com isso?"

"Antes que eu conseguisse confirmar, o táxi foi embora. Então foi que eu percebi, não é amor que falta na minha vida agora?"

"Aquele táxi realmente tinha uma lâmpada de 'Carro do Amor' em cima?' Talvez fosse um táxi customizado."

Fiquei surpreso com o nível da conversa desses dois idiotas, tenho a sensação de que a falta de talento estava ficando séria. Se Taniguchi e Kunikida eram ligas de níquel, então Tsuruya-san era platina. A diferença entre eles era como entre fogos de artifício e a nave Apollo 11.

"Ah, Mikuru veio de táxi! Eh? Quem é você?"

A tom de voz de Tsuruya-san era muito agudo, se deixasse o tom um pouco mais baixo ainda seria maior que o tom anormalmente alto de Haruhi. Acho que Tsuruya-san está nos limites do mundo normal.

"Wow! Você está tão sexy! Onde a Mikuru-chan trabalha? Você não tinha que ter pelo menos dezoito para fazer isso? Huh? Só tem dezessete? Oh, não se preocupe, afinal, não somos clientes."

Os olhos úmidos de Asahina-san estavam da cor natural, aparentemente havia uma escassez de lentes de contato.

O que você quer dizer com doente? Não vou deixar você usar uma desculpa dessas! Vamos continuar a filmagem! Agora vamos fazer as excitantes cenas de Mikuru-chan! Isso vale para todos os membros da Brigada SOS! Não importa a idade que tenham, a platéia sempre fica comovida com atos de sacrifício próprio!

Então se sacrifique você!

"Neste mundo, há apenas uma protagonista feminina. Para ser honesta, eu gosto de ser essa pessoa, mas dessa vez eu generosamente cederei esse papel, pelo menos até o final do festival escolar!"

Neste mundo, ninguém a considera a protagonista!

Tsuruya-san bateu no ombro de Asahina-san, a fazendo tossir freneticamente.

"Que fantasia é essa? Uma garota corredora? Que papel você está fazendo? É isso! Você pode vestir essa roupa na loja de yakisoba durante o festival cultural! Tenho certeza de que atrairemos muitos clientes assim!"

Realmente entendo o sentimento de Asahina-san em querer se tornar uma eremita. Encarando continuamente esses ataques ferozes, ninguém conseguiria manter-se em pé sobre a base do rebatedor.

Asahina-san levantou lentamente a cabeça, olhando para alguém que morreria por ela a qualquer momento, implorando por minha ajuda, depois desviou o olhar. Ela suspirou suavemente, mas mesmo assim foi capaz de esboçar um sorriso fraco para mim.

"Desculpe-me pelo atraso."

Olhei para a fronte de Asahina-san, que estava abaixada, e disse.

"Tudo bem, não é importante."

"Vou pagar o almoço de vocês."

"Não precisa, nem se preocupe com isso."

"Por favor, me perdoe por ontem, parece que disparei inesperadamente algum tipo de arma ótica...”

Dei uma olhada nas redondezas. Nagato estava olhando para o vazio, segurando sua varinha com estrela na ponta. Asahina-san olhou para mim, diminuiu o volume de sua voz, e falou.

"Eu fui mordida."

Ela esfregou o braço esquerdo.

"Mordida pelo que?"

"Por Nagato-san. Ela injetou nanomaquinas... então meus olhos não serão capazes de atirar mais nada, estou aliviada por isso."

Graças e isso, não tenho que me preocupar em ser fatiado em pedaços... certo? Falando nisso, acho que a cena de Nagato mordendo Asahina-san é bem difícil de se imaginar. O que ela injetou?

"Na noite de ontem, ela veio com Koizumi-kun à minha casa."

Koizumi que estava a cargo do equipamento, agora falava com Haruhi. Eu deveria ter ido com ele noite passada! Ele deveria ter me convidado para ir com ele! Fazer uma visita a Asahina-san definitivamente seria mais divertido do que ser forçado a ir até um Espaço Restrito.

"Do que vocês dois estão falando?"

Tsuruya-san enredou os seus braços curtos sobre o pescoço de Asahina-san.

"Mikuru, você é tão bonitinha! Como eu queria ter você como minha mascote! Kyon-kun, vocês estão se dando bem?"

Agora realmente...

Os dois palhaços, Taniguchi e Kunikida, estavam olhando para Asahina-san com suas bocas escancaradas. Ei, parem de olhar! O que vocês farão se ela perder um pedaço da fantasia? Enquanto eu divagava, Haruhi gritou.

"Já decidimos o lugar!"

Que lugar?

"O lugar para a gravação externa!"

Era isso? Eu havia esquecido que estávamos fazendo um filme, Não sei porque, mas só queria esquecer sobre isso. Por algum motivo, eu não posso deixar de sentir que era uma locação usada para algum filme de ídolos barato.

"Tem um grande lago perto da casa de Koizumi-kun, vamos começar a filmagem lá hoje!"

Em um piscar de olhos, Haruhi pegou uma bandeira plástica onde se lia "Elenco de filmagem e pessoal" e seguiu em frente.

Eu chamei Kunikida e Taniguchi, que ainda estavam com seu olhar sujo sobre Asahina-san, e generosamente dividi os equipamentos e malas com eles.


Andamos por trinta minutos até chegar ao lago. A localização era em algum lugar no meio de uma colina, que basicamente ficava no centro do distrito residencial. Se é que aquilo podia ser chamado de lago, era só uma grande poça de água, do tipo que os pássaros migratórios passariam batido durante o inverno. De acordo com Koizumi, os gansos e andorinhas estariam voando por ai qualquer momento.

O lago era cercado por uma cerca de metal, o que dizia as pessoas para não ultrapassar. Esse era o conhecimento comum, não era? Nem mesmo as crianças de primário brincavam mais por ali, exceto talvez, por aquelas mentalmente insanas.

"O que você está esperando? Venham e escalem isso logo!"

Me esqueci que de fato Haruhi era uma pessoa seriamente insana; assim que ela colocou o pé sobre a cerca e acenou para nós, Asahina-san colocou as mãos sobre a saia extremamente curta e olhou desesperadamente para nós. Tsuruya-san ficou ao lado e gargalhou.

"Huh? Para que viemos aqui? Ei! A Mikuru vai nadar?"

Asahina-san moveu a cabeça muito rapidamente, suspirou e olhou para a superfície esverdeada do lago, como se ela só conseguisse ver sangue.

"Você não acha que essa cerca é um pouco alta demais para escalarmos?"

Koizumi não estava falando comigo, mas com Nagato. Você está perdendo tempo, se que começar uma conversa séria com ela. Ela vai te dar uma resposta simples de "sim" ou "não", ou começar a usar algum tipo de jargão incompreensível.

" ... "

Mesmo com Nagato permanecendo em silêncio, ela teve uma reação peculiar. Nagato colocou o dedo sobre a cerca e a empurrou para frente. Por alguma razão, a cerca metálica que deveria estar presa a terra com firmeza, agora estava mole como um caramelo sob o sol forte, e lentamente coagulou-se em sua forma inclinada.

Ela era elegante como sempre. Freneticamente olhei para a reação dos outros, talvez eu estivesse me preocupando demais.

"Huh? Essa cerca parece bastante velha."

Kunikida disse como se soubesse de tudo.

"O que eu vou interpretar? Espero que não me dêem o papel de kappa [2]..."

2-[Nota do tradutor: segundo a lenda, um kappa é um demônio que vive nas águas].

Taniguchi resmungou enquanto caminhava pela abertura causada pela cerca torta, em direção ao lago.

Tsuruya-san o seguiu, segurando a mão de Asahina-san, que relutantemente ia até o lago aonde Haruhi esperava.

Estou aliviado pelo trio de extras não ter muita inteligência.

Koizumi sorriu para mim e para Nagato, seu corpo esguio passou facilmente pelo buraco, enquanto Nagato, a maga negra, passou por mim como um fantasma.

Bem, vamos logo com isso! Temos que terminar antes que alguém descubra que a propriedade pública foi vandalizada.


Asahina-san e Nagato continuaram se encarando, bem, vejo que esta é outra cena de combate. Eu realmente me pergunto se Haruhi escreveu o roteiro com seriedade. Quando Koizumi vai aparecer? Ele continua usando o uniforme, mas continuava atrás de mim realizando com primazia o seu trabalho de segurador da placa refletora.

Haruhi colocou a cadeira no chão e rabiscou o que parecia ser o dialogo em seu livro de anotações.

"Essa cena vai mostrar Mikuru encarando uma situação desesperadora, com seus raios sendo nulificados."

Haruhi parou de escrever e sorriu com satisfação.

"Sim, isso vai servir. Você ai, segure isso e fique bem aqui."

Então, Taniguchi ficou a cargo de segurar as placas com as falas. As duas atrizes começaram a ler as placas seguradas por um Taniguchi obviamente insatisfeito.

"I-isso não é o suficiente para me fazer desistir! A... alien maligno, Yuki-san! A... abandone a Terra de uma vez...! Umm... me desculpe..."

Asahina-san não podia evitar se desculpar depois de dizer suas falas. Nagato Yuki, a maga alien cruel, disse então:

"... então é isso?"

Ela abanou a cabeça impassível, e começou a ler as falas, orientada por Haruhi.

"Você é que vai desaparecer deste período de tempo. Ele irá cair em nossas mãos. Ele é valioso para nós. Mesmo que ele não tenha descoberto a totalidade de seus poderes ainda, são poderes muito preciosos. Uma parte vital para o plano de invadir a Terra."

Se movimentando em acordo com Haruhi, que agitava o alto falante, Nagato abanou a varinha estrelada em direção ao rosto de Asahina-san.

"E... e... eu não vou deixar que você faça isso! Mesmo que arrisque a minha vida para isso."

"Se é assim, prepare-se para morrer."

"Corta!" - Haruhi gritou e se levantou, ela se posicionou entre as duas e começou a falar.

"Vocês precisam criar uma atmosfera! Sim, alguma atmosfera como essa agora, mas não muito longe do roteiro. Mikuru-chan, venha aqui."

A diretora e a protagonista nos abandonaram e nos deram as costas. Abaixei a câmera e cocei o pescoço. O que será que elas estão discutindo?

Tsuruya-san não conseguiu mais se agüentar e começou a gargalhar alto.

"Que tipo de filme é esse? Isso pode ser realmente chamado de filme? Nyahahahaha! Isso é muito engraçado!"

Alem de você, acho que só Haruhi acha isso engraçado.

Taniguchi e Kunikida estavam ali com um olhar de "Que diabos viemos fazer aqui?" no rosto. Nagato estava ali ao lado, mesmo achando que ela não tinha nada a ver com a história toda. Enquanto Koizumi naturalmente olhava para a beira do lago. Tirei a fita, que estava quase cheia, colocando uma nova em seu lugar. Tinha o sentimento de estar produzindo apenas lixo inútil.

Tsuruya-san olhou o equipamento que eu carregava com interesse.

"Hmm, é isso que usam para fazer filmes hoje em dia? Está cheio de imagens engraçadas da Mikuru, certo? Posso dar uma olhada nela depois? Acho que será hilário."

Não é nem um pouco engraçado, sério. Entregar panfletos vestida de bunny-gal só dura um dia, penso que esse filme ridiculamente hilário vai durar até o festival cultural. Poderíamos parar de matar aula para não ir a escola logo de uma vez. Isso seria problemático para mim, pois não conseguiria tomar mais um bom chá. O chá de Nagato é sem gosto, enquanto o de Haruhi deve ser ridiculamente amargo. Deixando o chá do Koizumi de lado, acabaria tendo que fazer o meu próprio chá, se fosse assim, acabaria bebendo apenas água.

"Desculpe por fazer vocês esperarem."

Para falar a verdade, realmente demorou um bom tempo. Mas vamos fazer isso depressa, não quero acabar mais com o belo cenário natural do lago do que já fizemos.

"O clímax real está para começar, cuidado gente!"

Haruhi empurrou Asahina-san para frente. Mesmo que você não tenha perguntado, eu poderia passar o dia todo com os meus olhos arregalados! Entende? Como sempre, Asahina-san estava linda e...

"Huh?"

A cor de um olho havia mudado, dessa vez era o olho direito. O olho prateado se virou para mim penosamente, e virou para o chão logo depois.

"Agora, Mikuru-chan, dispare seu incrível Raio Mikuru R e atire alguma coisa incrível ou algo assim, sei lá, apenas ataque!"

Não havia maneira de impedir aquilo dessa vez, e mesmo se pudesse, teria sido fatiado em pedacinhos. Falando nisso, tudo aconteceu subitamente demais; Haruhi dando o terrível comando, Asahina-san piscando seus olhos horrorizada, e...

Nagato derrubando Asahina-san dentro do lago; a aparição de sua silhueta negra havia sido muito repentina.

Os acontecimentos de ontem estavam se repetindo, era como assistir uma fita novamente. Nagato mostrou suas incríveis habilidades de movimentação instantânea.

Em uma fração de segundo, apenas o chapéu permanecera onde ela estava, e lentamente caiu no chão. O corpo que antes usava o chapéu movimentou-se além dos limites em um piscar de olhos (aproximadamente 0.2 segundos), e escalou o corpo de Asahina-san, agarrando a sua testa...

"Na... na... nagato-sa... KYAA!!"

Com uma expressão vazia, Nagato ignorou os gritos comoventes de Asahina-san, seus cabelos curtos ondularam para frente e para trás enquanto sentava sobre os ombros de Asahina-san.

"Espere um minuto!" - Haruhi voltou rapidamente aos seus sentidos.

"Yuki! Você é uma maga! Você não dever ser boa em combates corpo a corpo segundo o meu roteiro! Sem luta na lama nesse lugar..."

Haruhi disse aquilo e então fechou a boca. Ela pensou por alguns segundos e disse:

"Bem, acho que isso pode valer. É outro ponto de apelo, certo? Kyon! Grave tudo isso! Esse é o raro momento de gloria da Yuki!"

Eu não acho que esse seja um momento de gloria. Ela só está reagindo por instinto para anular a ameaça causada por aquelas lentes de contato. Asahina-san provavelmente entende isso, mas não pode fazer nada se não gritar e chacoalhar as pernas como resultado do choque. Eu sou uma pessoa doente também. Agora não é a hora de ficar observando isso.

Nesse momento, um barulho pesado foi ouvido. Alem das duas atrizes, todos os outros se viraram e olharam para trás.

O som veio da cerca que rodeava o lado, a qual Haruhi havia pulado, e a qual nos passamos pelo buraco criado por Nagato. A abertura agora revelava um imenso buraco, a cerca havia sido cortada em forma de V e caira para trás, em direção à rua, como ser tivesse sido cortada por um laser invisível.

Virei meus olhos para fora da cena do crime, e vi Nagato mordendo o pulso de Asahina-san como um vampiro anêmico.


"Fui muito descuidada."

Nagato falou surpresa, com o tom de quem comete um erro.

"Eu originalmente permiti que o laser se dispersasse sem causar mal aos humanos, mas dessa vez o raio era composto de partículas de hiper vibração..."

Ela dissera aquilo sem parar para tomar fôlego. Koizumi a entregou o chapéu que caira no chão, e disse:

"Algo como a fibra ótica? Mas esse tipo de partícula não é invisível e não tem peso?"

Nagato prontamente recolocou o chapéu na cabeça, e prosseguiu.

"Senti a presença de uma pequena quantidade de massa, algo entre dez vezes a força de quarenta e uma gramas negativa."

"Até mesmo menor que os nêutrons?"

Nagato não falou nada e olhou para o olho de Asahina-san, que ainda estava prateado.

"Umm..."

Asahina-san esfregou o pulso que fora mordido e falou com uma voz assustada:

"O que você injetou no meu corpo...?"

A ponta do chapéu se movimentou uns cinco centímetros para frente. Para mim, esse era um sinal de que Nagato estava preocupada. Talvez ela estivesse pensando em como converter isso em palavras adequadas. Como esperado, Nagato começou a falar.

"Alternando os períodos de vibração dimensional, um campo gravitacional pode ser formado sobre a superfície de um objeto."

Parece-me que ela estava se esforçando para explicar esse fato difícil. Enquanto eu entendia que ela havia provavelmente anulado os raios assassinos, mesmo não entendo como os outros haviam entendido o que Nagato havia dito. Koizumi disse então, "Entendo, então os tremores são causados pela gravidade?" e outras coisas irrelevantes. Nagato provavelmente concordava com aquilo, então permaneceu em silêncio.

Koizumi levantou os ombros, como se aquilo fosse sua marca registrada.

"Mas eu também fui descuidado, acho que devo tomar parte da responsabilidade para mim. Achei que ela apenas pudesse soltar raios laser. Como eu iria imaginar que ela soltaria algo como Suzumiya-san descreveu? Acho que é impossível acompanhar a linha de raciocínio de Suzumiya-san, estou realmente surpreso."

Não há como acompanhar, ela já está à frente da humanidade por três rodadas inteiras. Eu até posso sentir ela se aproximando agora, mesmo olhando com cuidado, aparentemente ela está andando em círculos, nos dando a ilusão de que não de movimentou para frente, mas é exatamente isso que ela quer que nós pensemos. E isso não é tudo, apenas nós que temos que correr nessa mesma pista circular junto dela entendemos esses sentimentos.

A razão para que Haruhi correr tão rápido é que ela não se importa se a pista tem a forma de 'S' ou é um cruzamento interdimensional, ela só avança sem pensar. Não mencionando o fato de que ela possuiu um motor de movimento perpetuo, então pode continuar correndo para sempre. Ela rapidamente pode criar regras que são impossíveis de se seguir, não importa quanto alguém queira, e ela não percebe que isso é uma corrida. Simplesmente Haruhi está acima de qualquer controle.

"Isso não é tão ruim" - Koizumi prosseguiu - "Devemos culpar as autoridades locais por negligenciar a má qualidade da cerca, estou certo de que as pessoas acreditarão nessa história. E o importante é que ninguém se feriu."

Dei uma olhada na face falida sob o chapéu pontudo. Apenas a alguns momentos eu vi uma chaga imensa na mão de Nagato, como se ela tivesse segurado uma foice com as mãos nuas. Como eu queria mostrar isso para aquela criadora de problemas, mesmo achando que aquela ferida já tenha desaparecido sem deixar rastros.

Olhei para o segundo grupo que estava parado não tão distante de nós. Os três extras de Haruhi estavam olhando para o vídeo na câmera, e então, eles gritaram... na verdade, só Tsuruya-san gritou.

"O que faremos? Sinto que algo terrível acontecerá se continuarmos filmando."

"Não podemos parar aqui. Se nos recusamos a cooperar, o que você acha que Suzumiya-san iria fazer?"

"Ela iria enlouquecer."

"Eu acho isso também. Se ela não enlouquecer, tenho certeza de que os 'Celestiais' no espaço restrito, irão."

Pare de me lembrar daquele lugar horrível. Eu não quero ir para lá de novo, e eu não quero fazer "aquilo" nunca mais.

"Talvez Suzumiya-san esteja feliz com as coisas do jeito que estão agora. Ela está fazendo esse filme usando sua própria imaginação, e todas as suas ações são como as de um deus. Você deveria saber melhor que ninguém, que ela está frustrada com a realidade, que não se adequa a sua forma de pensar. Mesmo achando que ela não mostra isso para os outros, enquanto ela não estiver ciente disso, os resultados serão os mesmos. De qualquer forma, no filme, a história prossegue de acordo com seus desejos, e tudo é possível. Suzumiya-san está tentando criar outro mundo, usando o filme como meio para tal."

Como esperado de uma pessoa tão egocêntrica, se ela não tiver uma certa quantidade de poder e dinheiro, será quase impossível ter tudo que quer. Acho que Haruhi deveria entrar na política.

Enquanto eu trocava entre varias faces confusas, Koizumi continuava sorrindo e falando.

"É claro que Suzumiya-san não tem consciência disso tudo. Desde o começo ela esteve criando esse mundo ficcional, o que mostra sua paixão por esse filme. Eu acho que ela é um pouco apaixonada demais, e como conseqüência isso está começando a afetar o mundo real."

Enquanto esse dado permanecer tendo apenas resultados negativos, não importa o quanto você jogue, no final sempre vai sair perdendo. Enquanto esse filme continuar sendo filmado, mais Haruhi corre o risco de sair de controle. Mas é uma idéia pior fazê-la desistir desse projeto então, no final, eu escolho o menor dos males.

"Se não temos escolha senão jogar o dado, então os deixe rolar."

E o que é isso?

"Já cansei de destruir os 'Celestiais'... só brincando... desculpe. De qualquer forma, comparado com permitir que o mundo seja reconstruído desde o zero, nossas chances de sobrevivência serão maiores se permitirmos que algumas mudanças menores ocorram nesse mundo."

Você diz um mundo aonde Asahina-san se torne algo como a Mulher-Maravilha?

"Nesse momento, as mudanças são em uma escala minúscula se comparada ao surgimento dos 'Celestiais'. Nagato-san tomou algumas medidas preventivas para nós, então isso não é um grande problema, certo? Não acha que resolver esses eventos paranormais agora é uma alternativa mais viável do que tentar salvar o mundo de ser recriado do começo?"

Parece complicado, não importa como você olhe. Que tal emboscar Haruhi por trás, bater na cabeça dela, e a deixar inconsciente até o final do festival escolar?

"Isso é inimaginável. Se você pensa em tomar essa responsabilidade, então eu terei que o parar."

"O destino do mundo é um fardo grande demais para os meus ombros."

Respondi e olhei para Asahina-san, que tirava a poeira da roupa de garçonete com seus dedos. Parece que ela estava à beira da desistência, mas quando percebeu que eu estava olhando para ela, disse urgentemente.

"Por favor, não se preocupem comigo, tudo bem. Eu vou arranjar um jeito de resistir a isso..."

Ela é tão adorável, mesmo não parecendo estar assim tão bem. Ela provavelmente tem de encarar o prospecto de ser mordida por Nagato cada vez que uma coisa dessas acontece. Mesmo com as marcas de dentes sumindo depois de um tempo, é desconfortável ser mordida por alguém que se carregasse uma foice no lugar de uma varinha mágica, pareceria a décima terceira carta de tarô - A Morte. Se não isso, ela seria uma cruel vampira do espaço. Ser mordido por alguém com aquela roupa já seria o suficiente para mandar a alma de alguém para o outro mundo.

Pensando bem, Asahina-san foi tragada para isso contra a sua vontade, para alguém que veio do futuro, certamente ela tem um senso de perigo bastante deficiente. Talvez ela faça isso por algum motivo, entretanto ela nunca me contou o que pensa sobre isso, afinal tudo sobre ela é "informação confidencial".

Esquece. Tenho certeza de que algum dia ela vai me contar, espero que estejamos em algum lugar estreito quando isso acontecer.


Finalmente é hora de Taniguchi, Kunikida e também Tsuruya-san fazerem suas primeiras aparições.

Haruhi anunciou os papeis que eles estariam encenando no filme; já estava decidido há bastante tempo que eles seriam apenas personagens coadjuvantes. Eles encenariam "humanos que foram transformados em zumbis sem mente, pela feiticeira alienígena".

"Em outras palavras," - Haruhi disse com um sorriso perturbador - "Mikuru representa o lado da justiça, assim ela não permitirá que inocentes sejam agredidos, e Yuki tomou vantagem dessa fraqueza. Ela controlou esses humanos com hipnose, e Mikuru está sendo derrotada, pois é incapaz de revidar contra esses humanos que a atacam."

Pensei com os meus botões; o quanto mais você vai querer torturar Asahina-san? Então Haruhi disse.

"Vocês vão começar jogando a Mikuru no lago."

"EH!?"

Apenas Asahina-san gritou aterrorizada, enquanto Tsuruya-san riu descontroladamente. Taniguchi e Kunikida trocaram olhares e encararam Asahina-san com uma expressão preocupada no rosto.

"Ei."

Taniguchi perguntou com uma cara sorridente.

"Jogar ela no lago? O tempo pode estar quente, mas já é outono! E alem do mais tem a qualidade da água, não importa como você veja, ela não parece estar muito limpa."

"Su... Su... Suzumiya-san, deveríamos achar uma piscina aquecida ou algo assim..."

Asahina-san protestou com toda a sua força, seus olhos estavam prestes a derramar lágrimas. Mesmo Kunikida concordou com Asahina-san.

"Ela está certa! O que aconteceria se esse fosse um poço sem fundo? Ela não conseguiria voltar se caísse ali. E olha, tem um monte de peixes pretos nadando por ali."

Pare de dizer essas coisas, Asahina-san vai desmaiar! Mas pelas minhas experiências do passado, quanto mais alguém resiste, mais obstinada seria Haruhi. Como esperado, ela deu uma resposta bem típica.

"Silêncio! Escutem, sacrifícios precisam ser feitos em nome do realismo. Eu originalmente queria rodar essa cena com o monstro do lago Ness, mas falta tempo e dinheiro para isso. É nossa missão como humanos criar o melhor possível com orçamento limitado e com prazos apertados, então não temos escolha senão usar esse lago no lugar."

Que tipo de lógica era aquela!? Você quer que Asahina-san se afogue? Você não pode substituir esse cenário?

Enquanto considerava me juntar na argumentação, alguém encostou no meu ombro por trás. Virei-me e vi Koizumi sorrindo e balançando a cabeça em silêncio. Eu sabia que se Haruhi continuasse a seguir o seu caminho algo estranho ia acontecer. Se Asahina-san começasse a cuspir plasma, a força de defesa da Terra iria a considerar um elemento hostil.

"E... e... eu vou fazer isso!"

Asahina-san anunciou com uma expressão de desconforto no rosto, ela estava alem do desespero agora. A pobre garota decidiu se sacrificar pela paz mundial. As coisas chegaram em um ponto onde não há volta. Esse é o clímax do filme, certo? É melhor começar a gravar.

Haruhi se deleitava com aquilo.

"Muito bem Mikuru-chan! Você foi incrível agora! Essa foi a integrante da Brigada SOS que eu escolhi! Como você cresceu!"

Não acho que isso tem muito a ver com crescimento, mas sim o resultado do aprendizado com experiências passadas.

"Agora, vocês seguram os braços da Mikuru-chan, Tsuruya-san, você segura as pernas. Se preparem, e quando eu mandar, joguem ela na água com toda a força."

A cena seguinte aconteceu sob a direção atenta de Haruhi.

Os três capangas ficaram em fila em frente a Nagato, e quando a feiticeira negra abanou sua varinha, eles abaixaram a cabeça como se estivessem rezando em um santuário Xintoísta. Nagato novamente abanou sua varinha como se estivesse afastando os maus espíritos, sempre com um rosto vazio, de certa forma ela parecia uma daquelas sacerdotisas dos templos.

Então, ao receber as ondas psíquicas de Nagato, os três capangas começaram a andar em direção a Asahina-san, como zumbis procurando carne fresca.

"Me desculpe Mikuru, eu não quero fazer isso. Mas não consigo me controlar, me desculpe."

Tsuruya-san parecia bastante feliz enquanto andava em direção a garçonete. Taniguchi, que seria o primeiro a se amedrontar diante de uma emergência, não tinha idéia do que dizer, enquanto Kunikida coçou a cabeça enquanto caminhava em direção a Asahina-san, que estava cada vez mais pálida.

"Os dois idiotas aí! Sejam mais sérios!"

Você é a única idiota por aqui! Eu refreei meus impulsos para dizer aquilo e continuei a gravar. Asahina-san caminhou lentamente até a borda do lago, com um olhar horrorizado no rosto.

"Prepare-se para morrer~~"

Tsuruya-san alegremente derrubou Asahina-san no chão, e agarrou os lados daquelas longas pernas carnudas. Como posso dizer isso? Essa visão parece um pouco perigosa demais.

"Kyaa..."

Asahina-san estava realmente assustada, então Taniguchi e Kunikida seguraram os seus braços.

"E... espere um pouco, é que... i... isso é realmente necessário?"

Ignorando os apelos de Asahina-san, Haruhi acenou com a cabeça e disse.

"Para fazer a melhor cena possível, tudo pela arte!"

Soa bem, mas o que esse filme barato tem a vez com arte!?

Haruhi deu o comando.

"Preparados! AGORA!"

Spash! A água voou pela superfície do lago, provavelmente perturbando toda a fauna marinha que vivia por ali.

"Ah... socorro... ah..."

Esse afogamento está realista demais, Asahina-san. Espere ai... o que aconteceria se ela estivesse realmente se afogando?

"Minhas pernas... eu não consigo... kya...!"

Sorte nossa que aquele não era o Rio Amazonas, ou ela seria provavelmente o alvo ideal para as piranhas, se debatendo tão freneticamente pela água assim. Será que aquelas carpas pretas atacam pessoas? Pensava enquanto olhava pela lente da filmadora. Foi quando eu percebi que Asahina-san não estava só se debatendo.

Taniguchi também estava se afogando. Ele provavelmente jogou Asahina-san com tanta força que acabou caindo no lago também. Decidi ignorar aquele imbecil em prol de coisas mais importantes.

"O que aquele idiota está fazendo?"

Haruhi chegou à mesma conclusão que eu. Ignorem o idiota, ela apontou o alto falante para Koizumi.

"Koizumi-kun, é a hora de aparecer! Vai lá e salve a Mikuru!"

O ator principal, que estava responsável pela iluminação desde o inicio, deu um sorriso elegante e entregou o refletor para Nagato. Então andou até o lago e estendeu a sua mão.

"Segure a minha mão. Se acalme, só não me puxe para baixo."

Como a vitima de um naufrágio, Asahina-san segurou firmemente no braço de Koizumi, como se ele fosse um pedaço de madeira. Koizumi casualmente puxou a ensopada garçonete de combate para fora da água. Ele a segurou firmemente para manter seu equilíbrio. Ei! Você está segurando ela perto demais!

"Você está bem?"

"... uuuu... que frio..."

Como resultado de ter sido ensopada pela água do lago, o uniforme justo ficou ainda mais apertado sobre o corpo de Asahina-san. Se fosse um dos membros da Associação de Classificação Indicativa, não hesitaria em dar um "maiores de 15 anos para esse filme". Para ser honesto, tenho um sentimento que seriamos presos por isso.

"Sim, perfeito."

Haruhi bateu no alto falante e deixou escapar um suspiro de satisfação. Sem prestar atenção no Taniguchi, que ainda se debatia na água, desliguei a câmera.


Temos agora lixo o suficiente para abrir uma feira, mesmo assim não temos uma misera toalha. O que está acontecendo por aqui?

Asahina-san deixou Tsuruya-san secar o seu rosto com um lenço, enquanto ela mantinha os seus olhos fechados. Segurei meu fôlego enquanto estava ao lado de Haruhi, que estudava a fita com um olhar sério.

"Hmm, nada mal."

Depois de ver Asahina-san cair na água três vezes, Haruhi meneou a cabeça em aprovação e continuou seu discurso.

"Nada mal para uma cena onde os protagonistas se encontram pela primeira vez. Itsuki e Mikuru combinam perfeitamente com esse sentimento de timidez e desajeitamento. Excelente."

Sério? Na minha opinião Koizumi parecia bem comum naquela cena.

"Vamos para a próxima cena; depois de resgatar Mikuru, Itsuki decide a esconder em sua casa. A próxima cena vai ser lá."

Isso não ia quebrar a continuidade da história? Para onde Nagato foi depois de controlar Taniguchi e os outros? E os zumbis? Como eles foram derrotados? Mesmo com eles sendo apenas capangas, se as explicações não forem bem dadas, a audiência não vai engolir essa história.

"Você é realmente chato! As pessoas iriam se perguntar o que aconteceu mesmo se essa cena não fosse filmada! Nós podemos pular para as partes importantes!"

Maldição! Você quer dizer que no final das contas você só queria filmar Asahina-san sendo jogada na água?

No momento que pensava em dizer isso, Tsuruya-san levantou a mão e disse.

"Um, a Mikuru pode pegar uma gripe, então podemos levar ela lá em casa pra se trocar? Eu moro aqui perto."

"Isso é excelente!!" Haruhi falou para Tsuruya-san com seus olhos faiscando.

"Posso emprestar o seu quarto Tsuruya-san? Queria filmar uma cena onde a Mikuru e o Itsuki ficam mais íntimos. Isso está sendo muito fácil! Esse filme será um grande sucesso!"

Para alguém que prefere que as coisas sejam convenientes, as coisas tem sido bem fáceis para Haruhi. Mesmo que não possa fomentar uma duvida em minha mente - suspeito que Tsuruya-san sabia que Haruhi queria filmar essa cena antes mesmo dela fazer a sugestão. Como Haruhi escalou Tsuruya-san para ser uma capanga, acredito que ela seja uma pessoa normal como nós, entretanto...

"E a gente?"

Kunikida perguntou. Taniguchi ficou ao seu lado tremendo, enquanto se cobria com a jaqueta molhada.

"Podem ir para casa agora."

Haruhi anunciou friamente.

"Bom trabalho. Até mais, provavelmente não precisaremos mais de vocês."

Então, os nomes e existências desse dois colegas de classe desapareceram da consciência de Haruhi. Sem olhar para o surpreso Kunikida e para Taniguchi, que secava o seu cabelo como um cachorro molhado, Haruhi nomeou Tsuruya-san como sua guia, e andamos a passos largos. Vocês dois não sabem a sorte que tem, sem precisar aturar mais desastres. Para Haruhi, vocês são provavelmente tão úteis quanto um chumbinho usado. E acreditem, vocês não podem ter mais sorte do que isso.

Por alguma razão, Tsuruya-san bradou alegremente.

"Ceerto~~! Gente, é por aqui!"

Ela foi para frente da comitiva e acenou a bandeira.


O comportamento descontrolado de Haruhi não começou ontem. Acredito que ela tenha nascido assim. De fato, daqui a quinhentos anos, provavelmente haverá lendas sobre Haruhi se proclamando como a Honrada pelo Céu e pela Terra, desde o momento de seu nascimento, mas essa já é outra história.

Eu não sei quando isso começou, mas Tsuruya-san parece estar se dando muito bem com Haruhi, enquanto elas andavam juntas na frente do grupo, cantavam em coro "18 Til I Die", do Bryan Adams. Andando logo atrás estava eu, muito envergonhado por conhecê-las.

Nagato, a maga negra, as seguia silênciosamente, com Koizumi, o técnico de iluminação e protagonista, logo atrás. Ninguém parecia estar preocupado. Vocês dois deveriam aprender com Asahina-san, abaixando os ombros e as cabeças. Pelo menos me ajudem a carregar algumas coisas, estamos subindo essa ladeira e durante esse tempo estou começando a entender o sentimento daqueles cavalos treinados para correr montanha acima.

"Chegamos! Essa é a minha casa!"

Tsuruya-san gritou e entrou em uma residência. Sua voz era impressionante, e até a sua casa era impressionante. Desculpe, eu quis dizes extravagante. Eu não conseguia ver a casa inteira da entrada, então não tinha a menor idéia de quão grande a casa era, mas era o suficiente para eu chamá-la de uma casa grande. Dificilmente se via outras casas da entrada, o que significava que ela estar bastante longe de qualquer outra residência da vizinhança. Dei uma olhada em volta e percebi que o lugar era cercado por um muro imenso, como aquelas mansões de samurais. Com que tipos de atividades criminosas ela estaria envolvida para morar em uma casa tão imensa?

"Podem entrar!"

Haruhi e Nagato não pareciam ter nenhum conceito de etiqueta, entrando na casa como se ela lhes pertencesse. Asahina-san já viera aqui antes, então não parecia tão surpresa enquanto era puxada para dentro por Tsuruya-san.

"Que aparência nostálgica. Que estrutura bem feita. E isso que chamam de construções com senso arquitetônico? Uma casa atemporal, penso eu."

Koizumi recitou em um tom exclamatório, sem expressão alguma no rosto. Por acaso você é um corretor de imóveis?

Andamos por um espaço grande o suficiente para se jogar baseball em direção ao hall de entrada. Após levar Asahina-san no banheiro, Tsuruya-san nos levou ao seu quarto.

Meu quarto era como uma cama de gato se comparado a esse. Fomos levados até um amplo quarto no estilo japonês. O quarto era tão grande que não sabia aonde me sentar, mas aparentemente eu era o único preocupado com isso. Nagato, Koizumi, e até Haruhi não pareciam ter esse problema.

"Que quarto ótimo. Até poderíamos filmar uma externa aqui. Certo, esse será agora o quarto que Koizumi-kun. Faremos uma cena dos dois se tornando mais íntimos aqui."

Haruhi sentou na almofada e examinou a sala com seus dedos, cruzados em forma de retângulo. O layout do quarto de Tsuruya-san era simples, um quarto em estilo japonês com um tatami e uma lamparina.

Segui o exemplo de Nagato, e sentei com os joelhos no chão, mas não agüentei nem três minutos e já soltei as minhas pernas. Haruhi sentou com as pernas cruzadas desde o inicio. Ela cochichava no ouvido de Tsuruya-san.

"Hee hee! Ah, isso vai ser divertido! Espera ai!"

Tsuruya-san deixou a sala com uma risada alta e prazerosa.

Continuava pensando. Tsuruya-san era mesmo uma pessoa normal? Para se dar bem com Haruhi era necessário ser uma pessoa extremamente excêntrica, ou literalmente, de fora desse mundo. Mas era possível que as duas apenas simpatizassem uma com a outra.

Depois de alguns minutos Tsuruya-san voltou. Consigo ela trouxe Asahina-san, e não era a Asahina-san de sempre, e sim Asahina-san depois de um banho. Ela vestia o que possivelmente era uma camiseta folgada da Tsuruya-san. Como poderia dizer isso? Ela vestia "apenas" a camiseta.

"Ah... d-desculpe por fazer vocês esperarem..."

Asahina-san falava, seu cabelo ainda estava molhado e sua pele estava em um tom vermelho brilhante enquanto ela se escondia timidamente atrás de Tsuruya-san. A roupa era grande demais para Asahina-san, ao invés de chamá-la de camiseta, um vestido de peça única seria uma descrição melhor. Isso só aumentava o seu charme. A lente de contato no seu olho direito, que por sinal esqueceram de tirar, continuava a brilhar em um prateado opaco, me deixando terrivelmente alarmado por algum tempo. Aparentemente ela não era mais capaz de soltar raios e coisas do tipo, o que me aliviou bastante. Eu realmente queria colocar Nagato, que ainda estava com seu chapéu pontudo ajoelhada, em um templo xintoísta para posterior adoração.

"Fiquem a vontade."

Tsuruya-san colocou a bandeja sobre o tatami, ela continha copos com um liquido laranja dentro. Asahina-san bebeu metade do copo que Tsuruya-san entregou a ela. Provavelmente Asahina tinha perdido muito liquido naquele dia, afinal, ela foi a que mais se esforçou entre nós.

Apreciei meu suco com gratidão, enquanto Haruhi bebeu o dela com um só gole, e enquanto girava o gelo dentro do copo, disse:

"Como temos a oportunidade, vamos filmar nesse quarto!"

Sem descanso começamos a filmar a cena a seguir.

Koizumi carregou Asahina-san, que fingia estar dormindo, para o quarto. Por algum motivo, até o futon estava preparado. Koizumi gentilmente colocou Asahina-san no chão, e permaneceu olhando para o seu rosto cheio de intenções.

O rosto de Asahina-san estava em um rubro brilhante, e seus olhos tremiam incessantemente. Cuidadosamente e bem devagar, Koizumi colocou um cobertor sobre a indefesa Asahina-san, então sentou ao seu lado de braços cruzados.

"Um..." - Asahina-san murmurou durante seu sono, Koizumi logo começou a sorrir, enquanto olhava para ela o tempo inteiro.

Nagato, que não precisaria aparecer, estava sentada atrás de mim. Tsuruya-san ainda bebia seu suco com canudinho. Pelo visor da câmera, ampliei a imagem de Asahina-san dormindo. Como Haruhi não deu nenhuma orientação, fiquei livre para realizar minhas fantasias, pelo menos por enquanto. Mesmo assim, Haruhi constantemente dava comandos para os dois atores em cena.

"Mikuru-chan, levante-se e recite o que eu falei pra você."

"... hum."

Asahina-san gradualmente abriu seus olhos, e olhou para Koizumi com um olhar estranhamente desfocado.

"Você já acordou?" - disse Koizumi.

"Sim... onde eu estou...?"

"Essa é a minha casa."

Lutando para movimentar a parte de cima de seu corpo, Asahina-san tinha um rosto suspeitamente quente enquanto ela olhava ao seu redor. Ela estava notavelmente mais sedutora naquela hora; será que era parte da sua atuação?

"O... obrigada..."

Haruhi rapidamente ordenou.

"É isso! Coloquem seus rostos mais perto! Mikuru-chan, feche os olhos. Koizumi-kun, coloque suas mãos nos ombros de Mikuru-chan. Então derrube ela e a beije!"

Asahina-san tinha a boca entreaberta em perplexidade, enquanto Koizumi seguia a risca as instruções de Haruhi colocando as mãos nos ombros de Asahina-san. Minha paciência estava chegando ao seu limite.

"Espere! Esse argumento é muito simples. Porque precisaríamos ter essa cena? Que diabos é isso!"

"A cena aonde uma garota encontra um garoto! Uma cena romântica! Essa cena é necessária em um filme sobre viagem no tempo."

Por acaso você é uma idiota? Acha que essa é alguma novela de duas horas que passa toda a semana? Você também Koizumi, porque está se esforçando tanto para isso? Se a próxima cena for mostrada, seu armário vai se encher com milhares de cartas o amaldiçoando no dia seguinte, use seu cérebro um pouco.

"Hee hee, a Mikuru-chan está agindo... engraçado..."

Não é nem um pouco engraçado... eu queria dizer isso também, definitivamente tem algo errado com Asahina-san. Ela está tão distraída desde que a filmagem começou. Seus olhos estão úmidos e suas bochechas vermelhas, e ela nem resistiu quando Koizumi segurou os seus ombros. Acredite, isso não é nem um pouco engraçado.

"Umm... Koizumi-kun, minha cabeça está pesada..."

Asahina-san murmurou enquanto tremia. Comecei a suspeitar de que ela tenha sido drogada. Naturalmente meu olhar se desviou para o copo vazio, encontrei Tsuruya-san rindo.

"Desculpa por isso. Coloquei um pouco de tequila no suco da Mikuru. Me disseram que um pouco de álcool aumenta o realismo na atuação."

Então esse era o plano de Haruhi? Eu estava boquiaberto, quase enlouquecendo. Como você pode colocar uma coisa dessas no suco dela?

"Isso realmente importa? Mikuru-chan está realmente sexy agora. E isso faz as coisas ficarem ainda mais excitantes." - Haruhi falou.

Isso não tem nada a vez com a atuação de ninguém. Asahina-san já está tonta. A cara dela está vermelha sob seus olhos fechados. Claro que é uma coisa boa ela parecer sexy, mas eu não gosto da visão dela se apoiando assim no Koizumi.

"Koizumi-kun, não se preocupe, vá em frente e a beije. Na boca, é claro!"

Você não pode fazer isso! Como ousa fazer isso com alguém semiconsciente?

"KOIZUMI, PARE!"

Koizumi entrou em estado contemplativo profundo, pensando se ouviria a diretora ou o cameraman. Eu vou seriamente te arrebentar, seu bastardo! De qualquer forma, eu abaixei a câmera, afinal, eu me recusava a filmar aquela cena, e não seria forçado a fazer isso.

"Diretora, esse é um fardo muito grande para mim. E alem do mais, Asahina-san já chegou aos seus limites."

"... eu estou bem."

Asahina-san pode ter dito isso, mas ela não parecia nem um pouco bem.

"Sério, você não tem jeito."

Haruhi reclamou com a garota bêbada.

"Huh? Você ainda está usando as lentes de contato? Tire elas agora!"

Ela bateu com força na cabeça de Asahina-san.

"A... ai!" - Asahina-san mexeu a cabeça e gritou.

"Mikuru-chan, assim não dá! Quando batem na sua cabeça, as lentes de contato devem sair voando. Vamos treinar isso."

Pow!

"Isso dói!"

Pow!

"... KYAA!" - Asahina-san fechou os olhos com força.

"PARE COM ISSO, SUA IDIOTA!" - Eu segurei a mão de Haruhi e a parei - "Que tipo de treinamento é esse? Esse não é um circo! O que tem de tão engraçado nisso?"

"O que foi? Não tente me parar. Eu planejei isso há muito tempo!"

"Ninguém planejou isso com você! Não é engraçado! É ridículo! Asahina-san não é o seu brinquedo!"

"Como já havia decidido antes, Mikuru-chan é o meu brinquedo!"

Depois de ouvir isso, consegui sentir o sangue subindo para a minha cabeça, até mesmo a minha visão estava escurecendo. Estava furioso, e subitamente meus impulsos ultrapassaram a minha razão, e subconscientemente reagi por reflexo.

Alguém segurou o meu pulso. Percebi que Koizumi estava com os olhos fechados balançando a cabeça lentamente. Quando vi que Koizumi estava segurando o meu punho fechado, percebi que estava prestes a bater em Haruhi.

"O que...?"

Os olhos de Haruhi brilharam como uma constelação de estrelas enquanto ela me encarava friamente.

"Se você tem algum problema, então diga! Tudo que você precisa fazer é seguir as minhas ordens! Eu sou a comandante e diretora... em todo o caso, não vou permitir que você se oponha a mim!"

Meus olhos ficaram vermelhos novamente. Sua garota estúpida! Koizumi, me solte! Não ligo se é uma pessoa ou animal, mas todos que não aprendem merecem uma lição, nem que isso signifique ter de usar os meus pulsos. De outra forma ela irá continuar repelindo as pessoas como se tivesse espinhos nas costas, e vai ferir os outros pelo resto de sua vida.

ão ligo se é uma pessoa ou animal, mas todos que não aprendem merecem uma lição, nem que isso signifique ter de usar os meus pulsos.

"Não... parem!"


Asahina-san correu rapidamente, e disse quase incompreensivelmente.

"Vocês não podem! Vocês não devem brigar..."

Com se rosto todo vermelho, Asahina-san caiu no chão entre eu e Haruhi. Ela se segurou nos tornozelos de Haruhi e disse:

"Um... por favor, se dêem bem... ou... nós iremos..."

Asahina-san disse ambiguamente, então caiu pesadamente no chão de olhos fechados, caindo em um sono silêncioso.


Koizumi, passamos pelo lago aonde filmávamos há pouco tempo atrás.

Como a protagonista caiu inconsciente, tivemos que parar as filmagens. Koizumi, Nagato, e eu decidimos deixar Tsuruya-san cuidando da sonolenta Asahina-san enquanto escapávamos de lá. Por algum motivo, Haruhi quis ficar lá, roubou a câmera da minha mão, e voltou rapidamente. Permaneci em silêncio enquanto carregava com rapidez a titânica quantidade de equipamentos que Tsuruya-san deixara na porta.

"Me desculpe Kyon-kun."

Tsuruya-san disse em um tom desculposo, e então sorriu novamente.

"Eu me deixei levar demais! Mas não se preocupem com a Mikuru, deixo ela em casa depois, ou ela pode dormir por aqui."

Nagato andou para longe a partir do momento que pisou para fora da porta, como se não tivesse nada a declarar sobre o caso. Nagato era assim o tempo todo, ele nunca tinha nada a declarar.

Andávamos lado a lado de volta para casa. Depois de alguns minutos de silêncio, Koizumi finalmente falou.

"Sempre achei que você fosse uma pessoa calma."

Eu também pensava isso.

"Nosso mundo começou a agir de forma errática. Gostaria de pedir que você não fizesse mais isso, ou um novo espaço restrito pode surgir."

Eu não tenho nada a ver com isso! Não é para isso que a sua 'Organização' surgiu? Vocês deveriam estar fazendo alguma coisa a respeito!

"Em relação ao incidente de agora pouco, Suzumiya-san parece ter subconscientemente se controlado, e nenhum traço de espaço restrito foi criado. Esse é só o meu pedido, mas, por favor, faça as pazes com ela amanhã."

O que eu faço é problema meu. Isso não pode ser definido simplesmente comigo concordando com o que você diz.

"Agora devemos considerar como a realidade vai lidar com suas partes afetadas."

Koizumi obviamente estava tentando mudar de assunto, resolvi entrar nessa também.

"Não tem nada o que considerar. Eu não ligo para como as coisas ficaram."

"É muito simples. Cada vez que Suzumiya-san acredita em algo, a realidade muda para se adequar a isso. Não foi sempre assim?"

A imagem de um gigante azul causando destruição em um mundo cinzento me veio à cabeça.

"Quando Suzumiya-san nós dá alguma opinião ou algo do gênero, deveríamos considerar. Nossa missão seria achar a motivação oculta sob essas palavras."

Também lembrei das esferas vermelhas reluzentes. Koizumi caminhou devagar, enquanto falava com confiança.

"Nós somos, com o perdão da palavra, os sedativos para o estado mental de Suzumiya-san, somos os seus estabilizadores mentais."

"Isso... é problema seu, certo?"

"Acredite, é o seu também."

O misterioso ex-estudante transferido continuava me dando aquele sorriso eterno.

"Nossa responsabilidade acaba no espaço restrito, enquanto a sua recai sobre o mundo externo, porque você é o único que pode manter o estado mental de Suzumiya-san estável, e isso previne o aparecimento de espaços restritos. Graças a você, pude trabalhar um pouco menos nos últimos seis meses. Acho que deveria agradecer você corretamente."

"Não mencione isso."

"Sério? Isso me faz economizar um bocado de palavras."

Chegando ao fim da ladeira, e no começo da estrada principal, Koizumi novamente quebrou seu silêncio.

"Ah sim, quero que você vá a um lugar comigo."

"E se eu não quiser?"

"Não vai demorar muito. Além do mais, você não parece ter muito que fazer aqui. É claro que você não será convidado a entrar em outro espaço restrito."

Koizumi levantou a mão subitamente, e um familiar táxi negro parou em nossa frente.

"Vamos continuar."

Koizumi disse isso enquanto se sentava no banco de trás do táxi, eu olhava para a parte de trás da cabeça do motorista.

"Nesses últimos tempos, tem sido uma rotina regular nossa lidar com você e com Suzumiya-san. Ao lado dos outros membros da Brigada, nos acostumamos a arremessar Suzumiya-san para fora do descontrole mental a contra atacando fisicamente."

"Que incômodo."

"Talvez seja! Mas, não sabemos quanto essa rotina pode durar, afinal, repetir a mesma coisa em um ciclo infinito é uma das coisas que Suzumiya-san mais odeia."

Ela parece estar aproveitando muito a situação atual... Koizumi deu um sorriso que não demonstrava a menor urgência, e disse:

"Devemos achar um meio de conter o comportamento descontrolado de Suzumiya-san, mesmo depois do final do filme."

Para se tornar um jogador de baseball, alguém precisa treinar rebatendo com o taco e correndo; para se tornar um mestre no go ou no shougi [3], alguém tem que começar memorizando as regras desses jogos; para tirar o primeiro lugar nos exames finais, alguém só terá uma chance se passar a noite inteira decorando os livros de referência. Resumindo, pessoas diferentes usam métodos diferentes para o sucesso, mas todos eles dependem do esforço. Mas, quanto esforço seria necessário para tirar todos aqueles fatores destrutivos do cérebro de Haruhi?

3-[Nota do tradutor: são jogos comuns no Japão].

Se tentasse pará-la, com certeza ela ficaria muito brava, e um daqueles pavorosos mundos negros cobriria a terra; mas se deixasse ela livre por ai, no final suas fantasias poderiam acabar se realizando.

Ambos os métodos são muito extremos, não importa como você olhe para eles, ela não poderia ter uma atitude mais branda em relação ao mundo? Saco... ela não se chamaria Suzumiya Haruhi se fizesse as coisas com moderação.

Fora do carro, o cenário se tornava cada vez mais verde, enquanto o táxi se embrenhava em uma estrada secundaria. De repente eu percebi que essa era a mesma estrada que havíamos passado de ônibus ontem.

Tempo depois, o táxi parou em um estacionamento comumente utilizado pelas pessoas que visitavam o templo. Estávamos ali ontem, quando Haruhi cometera a atrocidade de atirar no monge e nos pombos com sua arma. Esse templo de novo. Que estranho. Hoje é sábado... mais pessoas deveriam estar por aqui.

Saindo do táxi antes de mim, Koizumi disse.

"Você ainda se lembra do que Suzumiya-san disse ontem?"

Como deveria lembrar de cada baboseira que ela disse quando estávamos aqui?

"Você se lembra de quando chegamos aqui, vindos de dentro do templo, é isso." - Koizumi adicionou então - "Tem estado assim desde manhã."

Subimos pelas escadas de pedra. Já havíamos subido aquelas escadas antes, ontem mesmo. No final das escadas haveria um torii [4], e um caminho pavimentado até o templo. Um caminho cheio de pombos.

4-[Nota do tradutor: torii é um tradicional portal encontrado em templos Shinto].

" ... "

Estava sem palavras.

Havia pombos por todo o caminho, pássaros que bicavam o chão enquanto se movimentavam como um carpete vivo, mas tenho certeza de que aqueles não eram os mesmos pombos de ontem.

Isso porque cada pena daqueles pombos se tornara de uma cor branca pura...

"... alguém tingiu as penas deles?"

... de madrugada.

"Essas penas genuinamente cresceram de seus corpos. Não foram pintadas, e nem foi nada causado pelas cores saindo."

Será que alguém trouxe um monte de pombos brancos e os usou para substituir os pombos de ontem?

"Como isso seria possível? Quem faria uma coisa dessas?"

Só estava tentando adivinhar, claro que já sabia a resposta, mas não queria admitir.

Ontem Haruhi disse: "Se possível, gostaria que todos os pombos fossem brancos, mas acho que não posso ser muito exigente agora."

Parece que ela realmente foi exigente!

"Exatamente. Isso foi criado pelo subconsciente de Suzumiya-san. Tivemos sorte de ter uma margem de erro de um dia antes dos efeitos se tornarem aparentes."

Será que eles acham que viemos alimentá-los? A multidão de pombos cercou nossos pés; alem de nós, não havia nenhum outro visitante.

"O comportamento descontrolado de Suzumiya-san está escapando durante as filmagens desse filme, escapando para a realidade."

Já não era o suficiente impedirmos que Asahina-san soltasse raios pelos olhos?

"Porque não podemos atirar um dardo tranqüilizante em Haruhi e a deixar dormindo até o fim do festival?"

Koizumi respondeu minha indagação com um sorriso irônico.

"Seria uma solução possível, mas você estaria disposto a encarar as conseqüências depois que ela acordasse?"

"Não, obrigado."

Isso certamente não estava incluído na descrição do meu trabalho. Koizumi deu de ombros e disse:

"Então, o que devemos fazer?"

"Ela não é Deus? Então vocês, seus devotos, deveriam fazer algo a respeito!"

Koizumi intencionalmente fez um olhar surpreso.

"Você diz que Suzumiya-san é Deus? Quem lhe disse isso?"

"Você, é claro!"

"Oh, eu disse isso?"

Que vontade de bater nesse sujeito.

Koizumi evadiu com sua resposta de sempre; "Estou apenas brincando," - e continuou:

"De fato, não vejo problemas em classificar Suzumiya-san como 'Deus'. Metade da 'Organização' a trata assim. È claro que existem pessoas que não acreditam nisso. Pessoalmente sou um dos céticos também. Pois acredito que se ela é Deus, não seria possível viver nesse mundo sem consciência disso. Generalizando um pouco, o criador deve ser alguém que nos olha de longe, fazendo milagres randomicamente, enquanto calmamente nos vê entrar em pânico com isso."

Me abaixei, peguei uma pena solta por um dos pombos, e a esfreguei com meus dedos enquanto ainda estava abaixado. Os pombos começaram a se agitar novamente. Desculpe gente, não trouxe nenhuma migalha comigo hoje.

"É isso que eu penso."

Koizumi continuou sua retórica.

"Alguém deu poderes ilimitados a Suzumiya-san, porem esse mesmo ser, não a permitiu ter consciência disso. Se há um Deus, então Suzumiya-san é a pessoa escolhida por ele. Entretanto, não importa como você olhe para a situação, ela continua sendo uma pessoa normal."

Não tenho que pensar muito quando se trata de classificá-la como uma pessoa normal ou não. Mas, porque Haruhi tem esses poderes onipotentes? E pior; poderes de que ela sequer tem consciência. Poder o suficiente para deixar as penas dos pombos brancas. Por que? Quem está por detrás disso?

"Bem, eu não sei, você sabe?"

Ele está pedindo seriamente por um soco bem aplicado.

"Desculpe me." - disse Koizumi, e então continuou.

"Suzumiya-san é o criador, assim como é o destruidor. A realidade atual pode ser um produto falho da criação, e talvez Suzumiya-san tenha recebido a missão de amenizar esse mundo imperfeito."

Então faça isso!

"Se esse é o caso, nós somos os errados. Suzumiya-san é a pessoa normal, enquanto nós somos os inimigos desse mundo se interpondo em seu caminho. E isso não é tudo. Alem de Suzumiya-san, toda a raça humana pode ser culpada."

Sim, e isso seria um problema colossal.

"O problema está com quem tem culpa. Quando o mundo for consertado, nós faremos parte dele? Ou seremos considerados meros defeitos, e, portanto eliminados dele? Isso é algo que ninguém pode prever."

Se você não pode prever, pare de falar besteiras como se soubesse de tudo.

"Tomando em conta certa perspectiva, até agora ela foi incapaz de criar um mundo perfeito, e isso é um fato. O motivo disso é a sua consciência se inclinando a criação. Suzumiya-san é uma pessoa incrivelmente positiva, mas o que aconteceria se ela subitamente se tornasse negativa?"

Essa não era a hora de ficar em silêncio, então, eu desisti.

"O que iria acontecer?"

"Não sei. Mas é um fato que destruir é mais fácil do que criar. 'Se não acreditarmos nisso, então vai desaparecer!' Se Suzumiya-san tiver essa atitude, tudo será reduzido a nada, e então deixará de existir. Por exemplo, se um inimigo formidável aparecesse em nossa frente, enquanto Suzumiya-san negasse a sua existência, isso já seria capaz de o destruir. Seja mágica, ou tecnologia altamente avançada, ela é capaz de sumir com isso facilmente."

Mas Haruhi não negou tudo, isso quer dizer que ela ainda tem esperança em algo?

"E é isso que nos preocupa agora."

Koizumi continuava não parecer nem um pouco preocupado.


"Acho que não tem como descobrir se Suzumiya-san é Deus ou outro ser onipotente, mas há uma coisa de que temos certeza; Se ela continuar usando seus poderes a vontade, a ponto de alterar esse mundo permanentemente, é possível que em algum momento ela perceba que esse mundo mudou. A coisa mais assustadora é que nem mesmo Suzumiya-san percebe as alterações nesse mundo."

"E por que isso?"

"É porque Suzumiya-san é parte desse universo, e isso é a prova de que ela não é o criador dele. Se ela é um deus que criou este mundo, ela só poderia ter vindo de um lugar externo a ele, e mesmo assim, continua vivendo conosco, neste planeta. Só podemos concluir que ela é capaz de alterar a realidade até certo ponto, e isso não é nem um pouco natural, e muito estranho."

"Para mim você parece ainda mais estranho."

Ignorando o comentário, Koizumi continuou.

"Contanto, prefiro continuar vivendo nesse mundo que eu vivo hoje. Pode ter todo tipo de conflito social, mas é só uma questão de tempo para que isso se resolva. O problema está nas teorias como o geocentrismo. Precisamos fazer que Suzumiya-san não acredite nessas idéias, ou as próprias leis físicas do nosso mundo estarão em xeque. Você não voltou do espaço restrito com essas preferências afinal?"

Como posso dizer isso? Eu esqueci daquilo, decidi selar aquelas memórias das quais eu não quero me lembrar.

Um sorriso auto depreciativo se formou no rosto de Koizumi.

"Me desculpe. Eu falo demais sobre essas coisas desconstrutivas, como se eu fosse um defensor da justiça desse mundo. Por favor, aceite as minhas desculpas."



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