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===062===

Eu sou um tigre. Meu nome é Tigre Inflamado

Embora eu tenha uma noção de onde eu nasci, a única memória que tenho é a de estar chorando naquele turvo, pesado lugar — eu sou feito não só de inveja, mas de todas as emoções sombrias.

Eu sou um fruto das trevas

De trevas das quais alguém tentou desviar os olhos.

No entanto, o que eu sou ou qual é o meu nome, onde nasci ou do que sou feito, nada faz diferença.

Pelo contrário, o nome 'Tigre Inflamado' só me aborrece. Um tigre morre e deixa sua pele, um homem morre e deixa seu nome, ou pelo menos é o que dizem, mas sendo feito só de escuridão e existindo como se já estivesse morto, não planejo deixar nenhum dos dois.

Planejo não deixar nem mesmo vestígios de cinzas.

Nem mesmo um único pilar será poupado pelas chamas.

Tudo será queimado.

A única coisa importante pra mim é esse intenso senso de obrigação que queima em mim.

O Tigre Inflamado não se importa com o passado.

Deve ser queimado. Deve ser queimado

O que deve ser queimado?

Tudo deve ser queimado.

No momento em que vim ao mundo, eu vi a mãe que me deu à luz.

Ou talvez ela deve ser chamada de minha irmã gêmea mais velha.

Pelo jeito as chamas que residem em meu coração vêm dela — minha forte, firme, assustadora e frágil irmã, a feita de puro branco.

Puro, limpo branco. Branco brilhante e descaradas mentiras.

Minha linda irmã, bem diferente de mim.

Ela realmente era linda.

Pensar que posso aguentar tamanha beleza,

tamanha pureza — me enche de orgulho.

Mas não faz diferença.

Não faz diferença a maneira como o fogo será aceso.

Não faz diferença a maneira como as chamas queimam.

A única coisa dentro de mim é um senso de obrigação.

Se eu não possuo senso de 'agir por ela', então o que eu faço não vai machucá-la, ao contrário do que o gato que também nasceu dela disse.

Eu não tenho características para estabelecer.

Poderia dizer até que sou meramente uma chama.

Uma chama branca é o que sou.

Eu não fui dado nem consciência nem vontade. Pode parecer que estou pensando e falando nesse momento, mas é só um papel, nada mais que um fingimento.

Eu sou um fenômeno natural.

Eu simplesmente queimo o que há para queimado.

Não.

Não há nada nesse mundo que não queime.

Tudo deve ser queimado.

Eu sinto uma inveja de toda e qualquer coisa dentro de mim mesmo.

De pais. De mães. De amigos. De kouhais<ref> Alguém que está num ano letivo inferior ao seu.</ref>.

Eles deveriam simplesmente desaparecer.

Eles deveriam simplesmente ir embora.

Eles deveriam sofrer. Se afligir. Cair em depressão.

Eles deveriam lamentar. Se afundar nas profundezas. Serem sobrecarregados.

Eles deveriam chorar.

Chorar, assim como eu chorei.

E talvez assim essas lágrimas podem enfraquecer, não a tirania, mas as chamas.

Agora, coloquemos algo em chamas nessa noite.

Que encontremos algo para queimar.

Embora tudo vá ser queimado um dia, deve ainda assim haver uma ordem para as coisas.

Deve haver um devido processo.

Por enquanto, vai ser essa construção.

Assim que eu pensei isso, não, antes mesmo de pensar nisso, eu já estava lá.

Eu não tenho vontade. Eu não tenho intenção.

Isso é o que sou.

Eu sou isso que está aqui agora.

Eu não chego antes, eu não chego depois.

Onde quer que for, eu aparecerei.

Onde quer que for, eu espalharei minhas chamas.

Analisando meu alvo deliberadamente, eu o inspecionei.

Hmph.

Entendo.

Parece que essa vai ser mais fácil de queimar, comparado àquela casa destacada ou aquele grande prédio.

Bem, não faz diferença se o alvo é simples ou trabalhoso.

Agora que meu objetivo foi fixado, não há sentido em hesitar.

É tudo a mesma coisa.

Eu não sei de tudo.

Mas eu posso queimar tudo.

Mostrando minhas presas, eu abro minha boca.

E agora, as chamas.

As chamas,

"— Miau!"

mas então,

naquele instante, entre eu e meu alvo — apareceu um gato.

Um jovem gato de cabelos prateados caiu do céu, como se tivesse nascido asas em suas costas, e atravessou meu caminho.

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