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Wazamonogatari ~Brazilian Portuguese~/Bom Apetite, Acerola 002
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===002=== De uma maneira ou de outra, parece que eu morri novamente. Tal foi minha vaga dedução enquanto eu lentamente reganhava a consciência — mesmo que morrer seja um tanto comum para mim, dessa vez, minha morte pareceu ter sido bastante horrível. Por quê? Porque, após eu ter lentamente despertado, a primeira coisa que entrou em meu campo de visão foi a minha própria cabeça cortada rolando pelo chão — seu pescoço retorcido, como se ela tivesse sido violentamente arrancada. A cabeça cortada estava me encarando amargamente através de seus olhos vagos — agora que o torso voltara à vida, a cabeça que uma vez o comandou brevemente sucumbiria ao destino de se desfazer em pó, então eu podia compreender a amargura daquele olhar. Antes, quando a minha cabeça foi arrancada (ou foi cortada?), eu retornei à vida através de minha cabeça, e foi o torso que retornou ao pó; então nem mesmo eu entendo a base das circunstâncias atuais. Bem, mesmo que eu retorne à vida através de tanto minha cabeça quanto meu torso tal como uma criatura inferior, o número de “eus” cresceriam infinitamente, e seria minha identidade a ser desfeita, então talvez fique tudo bem assim. Mas ainda que eu tenha me acostumado a esses olhares ressentidos, se eles vêm das partes do meu próprio corpo, o sabor é um pouco diferente — sabor, sim. Eu casualmente a alcancei e peguei um pouco de seu cabelo. Lindo cabelo loiro, modéstia à parte. A luz se foi de seus olhos, mas essas pupilas ainda são da mesma cor dourada. Dizem que o ouro não tem nenhum charme, mas este cabelo dourado e estes olhos dourados meus são bastante complexos e misteriosos — eu afundo minhas presas na parte de trás da cabeça. Comer através do cabelo e ossos é simplesmente requintado. A textura da carne e dos ossos e do sangue, até mesmo do cérebro, se misturando em tua boca é simplesmente algo para se matar por — a sensação de esmagar os globos oculares com uma leve chupada, eu posso me acostumar a isso... Faz tanto tempo desde que eu comi minha própria cabeça, e ainda é algo de outro mundo. Um precioso material comestível que eu apenas posso apreciar por um momento antes de ele desaparecer — pensei enquanto mastigava. Finalmente, enquanto eu brincava com as vértebras cervicais as rolando pela minha boca, tentando apreciar aquele momento antes que o processo de desaparecimento tomasse seu curso, eu ouvi uma voz. "Uh..." Era uma voz como um sino que rolava diante de mim, assim como eu estava rolando as vértebras em minha boca. "Quis perguntar isto antes, mas... é bom? Isso." "Delicioso como sempre, claro. É a minha cabeça, sabes?" Eu imediatamente respondi. Era difícil falar com a boca cheia de ossos do pescoço, mas já que eles ainda eram demasiadamente grandes para se engolir, eu os empurrei para a beira de minha bochecha — como a bolsa da bochecha de um esquilo. "Mas não importa realmente se é bom ou não. Mesmo que fosse repugnante, eu a comeria." Eu como o que mato. É assim que eu vivo. Após eu ter explicado isso, ela — a Princesa Acerola vagamente concordou. Como se ela não compreendera nada realmente. Não é como se eu particularmente quisesse que ela compreendesse, mas o que eu simplesmente não podia suportar era o fato de que ela não estava nem um pouco nervosa diante de mim. Longe disso, "Tu realmente deverias parar." Ela falou como se fosse uma consideração cuidadosa para mim, de todas as pessoas — uma humana como ela, na posição de uma humana, disse algo tão atípica a um humano. Eu fiquei irritado e reuni as sete vértebras na bolsa de minhas bochechas e as esmaguei todas — maldição, eu deveria tê-las feito durar mais... "Não critique os hábitos alimentares de outras pessoas, Princesa." "Eu certamente teria algo a dizer quanto ao hábito de se comer a própria cabeça cortada, mas esse não é o motivo de minha preocupação." Disse Princesa Acerola. Ela realmente soava preocupada com algo, e — algo inteiramente imperdoável para mim — na verdade, sem nenhuma grande mentira, ela estava preocupada comigo. Eu entendo até esse grau. É extremamente irritante. A cabeça que eu comera poderia ferver em meu estômago. "O que queres dizer com que não é isso com que te preocupas? Por que uma princesa de um país arruinado possivelmente se preocuparia comigo?" "Estou dizendo que tu hás de desistir de tentar matar-me... pois fazer tal é absolutamente impossível." Entendo. Era isso que ela queria dizer. Ouvindo isso, eu compreendi a maneira que eu morrera dessa vez — a mesma causa de morte que da última vez, da vez anterior à última e até mesmo da vez anterior a isso, assim parecia. Da última vez, meu corpo explodiu. Da vez anterior à última, meu coração foi arrancado. E a vez anterior a isso, fui esmagado em pedaços. Mesmo que as maneiras em que eu morrera houvessem sido diferentes — a causa da morte era a mesma. Causa da morte: Princesa Acerola. Entre os humanos, ela parecia ser conhecida como “Princesa Beleza”, mas eu certamente não usarei esse nome — esse nome não é bom, penso eu. Uma mulher que matou um vampiro como eu quatro vezes, incluindo essa, não deveria ter tal nome sentimental. Eu disse isso, e, "Eu verdadeiramente penso que não sou mais digna de um nome como “Princesa Beleza”." Disse Princesa Acerola, balançando sua cabeça de um lado para o outro. Bem, mesmo aquele gesto desanimado poderia ser chamado de bonito — e tenho certeza de que sua atitude modesta era ainda mais bonita do que isso. "Contudo, estou tudo, menos vexada por ter lhe levado a morrer de novo e de novo assim; se tu pelo menos deixasses de tentar me matar, não morrerias sequer uma vez." Tsc. De fato, eu não morreria. Embora ela diga isso com um rosto gentil, ela certamente não distorce o que realmente pensa — esse é mais um motivo para essa mulher ser chamada de “Princesa Beleza”, suponho eu. Pode ser o maior motivo. Uma forte vontade, e uma forte convicção. Sem recuar um centímetro diante de um vampiro. Eu não podia deixar de sentir alguma admiração, apesar de mim mesmo — embora essa admiração em si possa ter sido a causa de minhas quatro últimas mortes. Além do mais, embora a causa da morte em si jazesse em Princesa Acerola, o verdadeiro preparador delas era eu, de todas as pessoas — fui eu quem me matou. Eu me esmaguei em pedaços. Eu arranquei meu próprio coração. Eu rompi meu próprio corpo. E então, dessa vez, eu arranquei minha própria cabeça. Desde que memórias do momento da morte são razoavelmente confusas, não posso dizer muito para assegurar a mim mesmo, mas, de acordo com a explicação da própria princesa, é assim que o mecanismo parecia funcionar: Sempre que eu tentava ferir essa mulher, sucumbia a um sentimento feroz de culpa, e o vetor do ataque se voltava completamente contra mim mesmo — algo assim. Autodestruição. Auto-dano, auto-ferimento. Uma simples descrição seria algo como, “a habilidade de repulsar ataques”, mas a diferença é que não é uma habilidade, e, portanto, a Princesa Acerola não pode controlar isso de maneira alguma — como um reflexo. É isso. Tudo, incluindo o impulso de auto-ataque e a consciência culpada, ocorre em minha mente, não na dela — para usar uma analogia das artes marciais orientais, é como lutar sumô consigo mesmo. É mais estúpido do que absurdo, e é divertido o bastante para que se pudesse chamar isso de uma comédia de alto nível — incapaz de se permitir machucar a beleza excessiva da “Princesa Beleza”, tu acabas se punindo. Engajar meu coração em tal moção, mesmo enquanto seja duvidoso se eu sequer tenha uma... é como uma piada ruim. Francamente. De verdade, eu tirei minha própria vida quatro vezes, incluindo essa, por causa da “Princesa Beleza” — pelo bem da “Princesa Beleza”. Não é tão incomum para mim que eu morra, porém, ainda assim, eu sabia que Tropicalesque pensaria que meu estado atual das coisas estava bem enfadonho. Eu disse que foi quatro vezes, mas desde que minhas memórias ainda estão vagas, eu posso, na verdade, haver me matado muitas mais vezes que isso. Bem, eu sou o único que pode matar algo como eu, de qualquer forma, então se é assim que isso é, é assim que isso é. Entretanto, não seria demasiado difícil escapar deste estado das coisas — pelo contrário, seria extremamente fácil. Assim como a Princesa Acerola disse. Ela está certa. Se eu seguir esse imparcial, altruísta e belo conselho, hei de deixar de tentar matar essa mulher — se eu não tentar matá-la, não sucumbirei a essa profunda culpa e não tentarei me punir. Eu não me matarei. Se eu tentar matar, então serei morto, se eu não tentar matar, então não serei morto — baseado puramente em tal simples axioma, do ponto de vista da inteligente princesa, o motivo para minhas ações devem aparentar serem incompreensíveis. Porém. Eu não posso seguir o conselho dela. Em primeira instância, eu absolutamente detesto seguir o conselho das pessoas — se elas me dizem para fazer algo, eu inconscientemente começo a querer fazer o oposto. E em segunda instância, falando estritamente, eu não estou tentando matar a Princesa Acerola. Mesmo que me digam que seja possível, eu parar de fazer algo que não estou sequer tentando fazer é, de fato, bastante impossível. Eu não estou tentando matá-la. Eu estou tentando comê-la. Não é uma sede por sangue, é apetite. "É mesmo? Bem, imagino que não há nada a se fazer." Disse Princesa Acerola, como se estivesse desistindo. Não, bem, não há como ela desistir. Dotada com a força de absolutamente nunca desistir, sofrendo de uma beleza absoluta e amaldiçoada que não pode desistir — ela verdadeiramente não pode desistir da esperança até mesmo para um monstro como eu. Quando as coisas são risíveis, ou quando é difícil rir. A coisas estúpidas — a coisas bonitas. Mesmo ao ser abduzida no meio de sua jornada e ser miseravelmente confinada em meu “Castelo de Cadáveres”, essa princesa seriamente pensa que sou digno de pena. Essa atitude, essa nobreza. Posso somente dizer que elas tantalizam meu apetite. "A qualquer custo, coma-me se desejas. Se puderes." "Oh, mas claro!" Então, pela quinta vez, eu disparei em direção à Princesa Acerola — infelizmente, eu não tive as maneiras de agradecer antes da refeição. E então, mesmo embora eu tenha disparado em direção a ela com o que deveria ter sido um ataque surpresa, quando tentei afundar minhas presas na suave e clara pele da Princesa Acerola, a minha consciência foi interrompida com um estalo. Hmm. De uma maneira ou de outra, parece que eu me encontrei com minha quinta morte. <noinclude> {| border="1" cellpadding="5" cellspacing="0" style="margin: 1em 1em 1em 0; background: #f9f9f9; border: 1px #aaaaaa solid; padding: 0.2em; border-collapse: collapse;" |- | Retornar para [[Wazamonogatari ~Brazilian Portuguese~/Bom Apetite, Acerola 001|Bom Apetite, Acerola 001]] | Voltar para a [[Monogatari_~Brazilian Portuguese~|Página Monogatari - Português Brasileiro]] | Continuar para [[Wazamonogatari ~Brazilian Portuguese~/Bom Apetite, Acerola 003|Bom Apetite, Acerola 003]] |- |} </noinclude>
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