Difference between revisions of "Suzumiya Haruhi:Volume3 Cap02 br"

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'''Bamboo Leaf Rhapsody (A Rapsódia da Folha de Bambu)'''
'''Capítulo 2'''
 
   
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A Lenda de Tanabata (七夕)
Deveríamos estar no outono agora, mas a temperatura ainda não caiu. Acho que a Terra finalmente chegou a senilidade e esqueceu de trocar a estação do Japão para o outono. O calor do verão aparentemente está se estendendo indefinidamente. Ele vai ficar por ai até que alguém o jogue para fora do parque. Tenho a sensação de que até isso acontecer, o outono já terá acabado e estaremos no inverno.
 
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Antes de começarmos o capítulo, vamos dar uma breve leitura na Lenda de Tanabata.
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Duas estrelas separadas pela Via-Láctea (銀河 ou 天の川) no céu noturno do verão. Uma delas, de acordo com as lendas chinesas, é a estrela “Shokujo” (織姫), traduzido no japonês como “Orihime”. Filha do Imperador do Céu (天帝), Orihime era uma tecelã habilidosa e bastante trabalhadora. Do lado oposto da Via-Láctea, existe uma luminosa estrela chamada “Kengyu” (牽牛, 彦星 “Hikoboshi” no Japão), que se tornaria o noivo de Orihime. Assim como Orihime, Hikoboshi também era muito trabalhador. Considerando a dedicação dos dois em seus serviços, o Imperador do Céu permitiu o casamento entre as duas estrelas. Passado um tempo de casados, Orihime e Hikoboshi deixaram de cumprir seus deveres para ficarem juntos.
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Diante disso, o Imperador do Céu enfureceu-se e separou o casal através da Via-Láctea, mas generosamente concedeu também um dia por ano para se reencontrarem, o dia 7 de julho, o dia de Tanabata. A história dessas duas estrelas é muito popular no Japão e o nome de Hikoboshi e Orihime aparecem no livro de poesia chinês mais antigo descoberto até hoje. Sabendo que o modelo da história de Tanabata já estava formulada há pelo menos 2000 anos atrás, é divertido pensar que as pessoas da antigüidade olhavam o céu das noites de verão como nós o vemos hoje.
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Enfeites de Tanabata
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Olhando tiras de papel com pedidos escritos pendurados em ramos de bambus, logo notamos que são enfeites de Tanabata. Este costume é relativamente novo, pois se iniciou na era Edo, sendo um costume particularmente japonês. Antigamente havia muitos tipos de cerimônias para se comemorar o Tanabata, variando de acordo com a região. Havia desde lugares que acendiam incensos pedindo progresso nas habilidades artísticas até lugares que confeccionavam cavalos de palha e enfeitavam o telhado pedindo aos ancestrais um ano de boa safra.]. Os enfeites de Tanabata mais comuns hoje em dia foram originados dos enfeites de Sendai, os quais enfeitavam sete objetos (紙衣 “kamigoromo”, 千羽鶴 “senbazuru”, 短冊 “tanzaku”, 投網 “toami”, 屑籠 “kuzukago”, 巾着 “kinchaku”, 吹き流し “fukinagashi”), cada um com um pedido com sucesso comercial, saúde, etc.
   
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Haruhi nos disse que demoraria um pouco, então pegamos nossas malas assim que saímos da escola. Imagino para onde ela vai descendo ladeira abaixo com tanta rapidez. Realmente duvido que encontremos um patrocinador disposto a doar dinheiro para um filme escolar. Talvez se fossemos um grupo de pesquisa. Mas dessa forma que estamos hoje não faz nenhum sentido, não existe explicação sobre como sobrevivemos por meio ano, tirando os pormenores de que ainda ninguém sabe porque está aqui. Não ficaria surpreso se ninguém abrisse as portas para nós.
 
   
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O mês de maio já estava o suficientemente quente, porém em julho chegamos ao ponto do insuportável. A umidade estava ainda pior, o que elevava minha infelicidade a níveis recordes. E não havia chance nenhuma de uma escola medíocre como a nossa ter instalado algum tipo de ar condicionado de alto nível. A escaldante sala da 1-5 parecia agora a sala de espera para um ônibus sem escalas para o inferno. Tinha certeza de que o arquiteto que projetou aquilo não tinha idéia do que “um ambiente confortável se convivência” significava.
Uma vez que descemos a ladeira, chegamos ao ponto local da linha de trem e rumamos em direção a terceira estação. Estávamos próximos ao caminho repleto de cerejeiras aonde eu e Asahina demos uma volta. Eu via ao longe uma grande loja de departamentos, assim como o distrito comercial. Um local relativamente cheio.
 
   
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Para piorar as coisas, nessa semana começavam os exames de fim de semestre, fazendo que toda a alegria que ainda restava em meu coração fosse passear pelos arredores do Brasil, e aparentemente ela não estaria de volta tão cedo.
Com Asahina-san e eu bem atrás, Haruhi seguiu em frente para o distrito comercial.
 
   
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Os meus resultados durante o meio do semestre já haviam sido desastrosos, então não podia imaginar uma nota muito melhor no fim das provas. Isso era devido ao meu tempo de permanência junto a Brigada SOS, o que me impedia de concentrar-me apropriadamente nos estudos. Infelizmente não conseguia fazer nada a respeito, pois desde o começo da primavera, cada vez que Haruhi dava uma sugestão, misteriosamente eu acabava a seguindo. Isso se tornara parte da minha rotina diária, e sinceramente, eu estava começando a me odiar por me acostumar com essa vida.
"Aqui."
 
   
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A aula já havia acabado, e o sol brilhava no oeste da nossa sala. A garota que sentava atrás de mim cutucou as minhas costas com sua lapiseira.
"Esperem um pouco. Eu vou negociar."
 
   
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"Você sabe que dia é hoje?"
Haruhi me entregou a sua mala e andou para dentro da loja com paredes de vidro.
 
   
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Suzumiya Haruhi me perguntou com um sorriso no rosto, aqueles geralmente vistos em crianças durante a véspera de natal. Quando ela revelava esse tipo de expressão, era um claro sinal de que ela estava maquinando algo diabólico. Fingi estar pensando naquilo durante uns três segundos, e então disse;
Asahina-san se escondia atrás de mim, olhando amedrontada para a loja com sua placa luminosa. Era como uma estudante do primário indo à casa de uma amiga pela primeira vez. Estava ocupado protegendo Asahina quando vi as costas de Haruhi lá dentro, conversando com um homem de meia idade que parecia ser o gerente. Se Haruhi aparentasse, mesmo que remotamente, que iria fazer algo de estranho, eu pegaria Asahina-san pelos braços e iria sair correndo dali.
 
   
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"É o seu aniversário?”
Do outro lado do vidro, Haruhi apontava para alguma coisa na vitrine, então para si mesma, e para o sujeito. E ele apenas balançava a cabeça em afirmação. Eu provavelmente deveria alertar a ele para não aceitar as palavras de Haruhi com tanta facilidade.
 
   
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"Não!”
Eventualmente, Haruhi andou um pouco e apontou para nós dois, que estávamos parados na porta prontos para fugir ao menor sinal de perigo. Ela sorriu como se tivesse comido um punhado de cogumelos estranhos, e voltou ao seu discurso animado.
 
   
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"O aniversario da Asahina-san.”
"Imagino o que ela está fazendo..."
 
   
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"Nãããão!”
Asahina-san, que estava escondida ao meu lado, questionou cheia de dúvida, enquanto colocava a sua cabeça para fora para espiar, e então voltava para trás.
 
   
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"O aniversario da Nagato ou do Koizumi.”
Se isso é algo que alguém do futuro não sabe, não tem como eu saber.
 
   
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"E eu lá deveria saber quando são os aniversários deles!?"
"Aposto que ela está mandando o sujeito entregar a sua filmadora digital mais avançada livre de cobrança."
 
   
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"Falando nisso, meu aniversario é no dia...”
Ela é uma garota capaz de falar uma coisa dessas sem rodeios. Se você der uma brecha ela vai achar que o mundo gira em torno dela.
 
   
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"Quem liga para isso? Você realmente mão sabe o quão importante é o dia de hoje?”
"Isso é uma droga."
 
   
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Não importa o quão importante você ache que o dia de hoje é, não passa de dia normal, porem muito quente, para mim.
Me lembro de ter ouvido um posicionamento similar de Nagato um tempo atrás.
 
   
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"Então, me diga, qual é a data de hoje?”
Haruhi acredita que seu julgamento é absoluto. E é certo de que ela não tem idéia do que as outras pessoas - na verdade a maioria das pessoas - tem opiniões e propósitos diferentes. Se você quer viajar mais rápido que a luz, deixe Haruhi ir em sua nave. Ela simplesmente vai ignorar a teoria da relatividade para você.
 
   
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“Sete de julho... eu não tinha pensado nisso, mas você não está falando do festival de Tanabata, está?”
Quando mencionei isso para Nagato, a pseudo-alien reticente, ela respondeu o seguinte.
 
   
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"É claro que estou! Hoje é o dia de Tanabata! Como japonês você tem o dever de lembrar disso!”
"Sua explicação está parcialmente correta."
 
   
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Na verdade esse festival teve origem na China. E de acordo com o calendário chinês, o Tanabata é só mês que vem.
Essa era outra das sentenças sem sentido de Nagato. Era uma piada sem graça. Essa era a existência de Suzumiya Haruhi.
 
   
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Haruhi segurou a lapiseira e agitou em frente ao meu rosto.
"Ah, parece que eles terminaram de falar."
 
   
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"A Ásia começa no Mar Vermelho e vem até aqui."
A voz afável de Asahina-san me trouxe de volta de meu flashback.
 
   
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Que tipo de conceito geográfico é esse?
Como esperado, Haruhi emergiu da loja de eletrônica aparentando estar deleitada. Ela carregava uma pequena caixa nas mãos. Olhei para a foto do produto ao lado do conhecido logotipo da fabrica de eletrônicos. Se eu não estivesse ridiculamente enganado, aquilo era uma filmadora.
 
   
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"Eles não estão todos juntos nas eliminatórias da Copa do Mundo? E afinal, julho e agosto são meses de verão, então não faz diferença.”
   
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Sério?
   
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"De todo modo, temos de fazer um evento de Tanabata. Eu insisto que esse festival seja tratado com seriedade."
Que tipo de ameaças ela fez?
 
   
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Eu sinto que existe uma porção de coisas que merecem ser tratadas com mais seriedade do que isso. Mas você realmente tem que me dizer isso? Eu realmente não tenho idéia do que você está querendo fazer.
Será que ela ameaçou queimar o lugar? Boicotar a loja? Mandar vários fax falsos a noite? Fazer um escândalo no meio da loja? Explodir o lugar sem nenhum aviso com uma bomba presa ao corpo?
 
   
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"Será mais divertido se fizermos isso juntos. Anuncio agora, que organizaremos algo grande para o Tanabata todos os anos, desse em diante."
"Você é idiota? Eu não usaria esse tipo de ameaça sem originalidade."
 
   
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"Não decida esse tipo de coisas sozinha."
Haruhi andava alegremente sob as antenas do distrito comercial.
 
   
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Mesmo que tivesse dito aquilo, ver Haruhi excitada daquele jeito, já era o suficiente para me fazer perceber o quão estúpido seria contrariá-la.
"O primeiro passo foi um sucesso. Está tudo indo bem."
 
   
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"Me espere no clube! Não vá para casa sozinho!" - ela disse.
Eu andava atrás dela, forçado a carregar a caixa com a câmera de vídeo. Eu observava o seu cabelo liso balançando pelas costas.
 
   
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Não era necessário me dizer aquilo, de todo modo, estava mesmo planejando ir até o clube. Porque lá estava uma pessoa que precisava ver, nem que fosse uma vez. Apenas aquela pessoa.
"Estou perguntando como você conseguiu uma coisa cara dessas de graça. Você sabia algum ponto fraco dele ou algo assim?"
 
   
Sim, a primeira coisa que ela disse depois de sair da loja foi "Entendi." Se ele estava dando coisas de graça me avise. Quais eram as palavras mágicas?
 
   
Haruhi olhou para trás com um sorriso irônico.
 
   
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Os outros membros já estavam reunidos na sala, localizada no segundo andar do prédio antigo que hospedava as salas dos clubes de artes. Ao invés de dizer que a Brigada SOS emprestou a sala do clube de literatura, de fato seria uma melhor expressão dizer que a brigada a ocupou por meio da força.
"Nada de especial. Eu disse que queria fazer um filme, então ele me deu uma, e ele tinha muita certeza do que estava fazendo. Não vejo nenhum problema nisso."
 
   
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"Oh, olá."
"Pare de se preocupar com coisas insignificantes. Você só precisa trabalhar alegremente como meu servo."
 
   
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A pessoa que sorriu para mim e me cumprimentara de maneira tão animada era Asahina-san. A fonte de todo o conforto do meu coração, sem ela, a existência da Brigada SOS teria tanto sentido quanto de um prato de arroz com curry, sem os cubos de curry.
Infelizmente, sinto como se tivesse embarcado em um barco com a palavra 'Titanic' escrita em sua carcaça. Eu queria mandar um SOS para qualquer lugar, mas me arrependo em dizer que não sei código Morse. Primeiramente, eu não tenho o temperamento desprendido para ser servo de ninguém.
 
   
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Desde julho, Asahina-san tem usado um uniforme de maid de verão. Obviamente foi Haruhi quem o comprou - ainda não tenho a mínima idéia de onde ela tira essas roupas estranhas. Mesmo assim, Asahina-san sempre iria agradecer sinceramente a ela pelas fantasias com um "Ah... mu... muito obrigada.". Resumindo, ela continuava a ser a maid titular da brigada SOS, fazendo diligentemente chá para mim. Beberiquei meu chá e estudei as redondezas;
[[Image:Sh_v02c02_01.jpg|thumb|''Eu andava atrás dela, forçado a carregar a caixa com a câmera de vídeo.'']]
 
   
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"Então, como vão as coisas?"
"Venham, vamos logo para a próxima loja!"
 
   
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Koizumi me cumprimentou. Ele estava sentado em frente a um tabuleiro de xadrez que estava jogado sobre a mesa, segurando um livro de xadrez em uma mão, enquanto movimentava as peças com a outra.
Haruhi caminhou energicamente, com seus braços balançando contra a multidão de pedestres. Troquei um olhar com Asahina-san antes de correr atrás de Haruhi, que desaparecia ao longe, em uma velocidade que você só esperaria do participante de uma maratona.
 
   
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"As coisas nunca têm estado normais para mim desde que entrei no colegial."
   
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Koizumi disse que estava cansado do Othello, então decidiu trazer um tabuleiro de xadrez durante a última semana. Porem, como ninguém mais ali saiba jogar, ele teve de se divertir sozinho esse tempo todo. Certamente ele parece relaxado, mesmo com as provas finais chegando.
   
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"Bem, não estou exatamente relaxando. Estou usando o tempo que não estou estudando para exercitar meu cérebro. A circulação do meu cérebro melhora a cada problema resolvido. Então, que tal um jogo?”
O lugar que Haruhi visitou em seguida era uma loja de modelos.
 
   
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Não, obrigando. Não estou com vontade de exercitar o meu cérebro já exausto. Se pensar em mais alguma coisa complicada, todas as palavras em inglês que sofri para memorizar serão ejetadas do meu cérebro.
Asahina-san e eu novamente ficamos para fora enquanto ela engajava-se nas negociações. Comecei a entender, quando Haruhi apontava para nos pelo vidro, ela na verdade apontava para Asahina-san. Parece-me que ela queria que Asahina fizesse algo como pagamento pelos serviços. A própria Asahina-san, sem ciência deste fato, olhava curiosa para um diorama na vitrine. Eu deveria dizer isso a ela?
 
   
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"É uma pena. Será que eu devo trazer banco imobiliário ou batalha naval da próxima vez? Ou será que uma coisa que todos possamos jogar juntos? Tem alguma coisa em mente?”
Após alguns minutos de espera, Haruhi emergiu novamente da loja, carregando uma caixa compacta. O que seria dessa vez?
 
   
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Qualquer coisa, ou melhor, coisa alguma. Esse não é o clube de estudos de jogos de tabuleiro, essa é a Brigada SOS. Falando nisso, ainda não tenho idéia do tipo de atividades nas quais a Brigada SOS está envolvida. Não tenho certeza do que esse clube misterioso devia estar fazendo. Na verdade nem queria saber, afinal, a ignorância a respeito vai aumentar as minhas chances de sobrevivência. Então não tinha motivação alguma para fazer qualquer coisa, essa era a minha lógica perfeita.
"Uma arma."
 
   
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Koizumi deu de ombros e voltou a ler seu livro de xadrez. Ele pegou o cavalo preto e o movimentou pelo tabuleiro.
Haruhi respondera enquanto empurrava a caixa para mim. Sob uma observação mais detalhada, vi que a caixa continha um modelo feito de plástico, que parecia ser algum tipo de pistola. O que ela iria fazer com isso?
 
   
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Sentada atrás de Koizumi, estava a garota com menos emoções do que um robô, Nagato Yuki, ocupada demais lendo seu livro para se incomodar com a minha presença. A alienígena silenciosa perdera o interesse em romances traduzidos, e agora os lia em suas linguagens originais. Neste momento ela estava lendo um livro, cuja capa estava escrita em uma linguagem que eu era incapaz de reconhecer, como esses grimórios antigos e esquecidos. Acho que deveria estar escrito em etrusco antigo, ou qualquer outra língua estranha. Tenho certeza que Nagato não teria nenhum problema em ler a pedra de roseta se a encontrasse.
"Se vamos usar nas cenas de ação, precisamos de algumas cenas com tiros. Um tiroteio vistoso é o básico do entretenimento. Gostaria de explodir algumas coisas também. Você sabe aonde se vende dinamite? Imagino se as lojas de departamento vendem."
 
   
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Puxei uma cadeira dobrável e me sentei. Asahina-san rapidamente colocou um copo em minha frente. Quem diabos tomaria chá quente em um dia infernal como esses... não tenho intenção alguma de reclamar, afinal isso podia trazer a ira divina sobre mim, então bebi o chá com um senso de gratidão crescente. Hmm, está escaldante.
Como eu iria saber? Eu posso dizer ao menos que você não vai achar em lojas de conveniência ou comprando online. Você pode achar alguma no chão se você for a alguma pedreira - essa era a última coisa que eu iria dizer, mas me vi forçado a engolir essas palavras. Pensando como seria, não duvido que ela sairia no meio da noite roubar TNT, pólvora e pavios.
 
   
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Parado em um canto da sala, estava um ventilador que Haruhi deve ter roubado de alguém. Mesmo assim, seus efeitos apaziguadores eram tão grandes quanto jogar água quente sobre pedras ainda mais quentes. Se você pode roubar esse tipo de coisa, porque não pegou um daqueles ventiladores de teto da sala dos professores?
Coloquei as caixas com a câmera e a arma de brinquedo no chão, e me virei para Haruhi.
 
   
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Tirei o meu olhar do livro de inglês, cujas páginas balançavam com o vento, e me estiquei sobre a cadeira de metal.
"Então, o que faremos com essas coisas?"
 
   
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Sei muito bem que não vou estudar quanto chegar em casa, achei que seria melhor para mim estudar no clube, mas percebi que enquanto não estiver realmente interessado em uma coisa não vou ter como fazê-la, não importa aonde eu esteja. Não vai ser bom para mim, tanto fisicamente quanto mentalmente, me forçar a fazer algo contra a minha vontade. Em outras palavras, é mais saudável para mim não me forçar a nada. É assim, eu não estou estudando, então guardei a minha lapiseira e fechei meu livro, e decidi dar uma olhada no meu estabilizador mental. Esse estabilizador que aliviava o meu coração cínico agora estava vestido de maid e realizando problemas de matemática bem na minha frente.
"Leve para sua casa por hoje. Então traga para o clube amanhã. Seria um saco voltar para a escola agora."
 
   
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Olhando intensamente para as questões enquanto rabiscava no caderno; parecendo inabalável enquanto pensava, até começar a escrever loucamente como se inspirada por alguma coisa – a pessoa que estava fazendo essas ações não era ninguém menos que Asahina-san.
"Eu?"
 
   
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Me senti mais relaxado só de olhar. De repente um grande senso de pena se abateu sobre mim, como se dar todo o meu dinheiro para a caridade fosse algo trivial. Asahina-san não percebera que eu estive olhando para ela esse tempo todo, e permanecia concentrada em seus problemas de matemática. Qualquer ação que ela fizesse já era o suficiente para me fazer sorrir, de fato, já estava sorrindo. Me sinto como se estivesse observando um bebê foca.
"Você"
 
   
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Nossos olhos se encontraram.
Haruhi cruzou os braços com um olhar de contentamento no rosto. Uma visão rara na sala de aula. Era o seu sorriso apenas para a Brigada SOS. Toda vez que ela sorria assim, eu acabava tendo que correr por ai para limpar a área após cada desastre. O que eu era para ela?
 
   
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"Ah... o, o que foi? E... eu fiz alguma coisa estranha?"
"Uhm..."
 
   
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Asahina-san se ajeitou freneticamente, o que fez meu coração chegar ainda mais próximo do derretimento. Justo quando estava prestes a cantar minhas preces aos anjos...
Asahina-san levantou a mão timidamente.
 
   
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"Ya-ho!"
"O que eu deveria fazer...?"
 
   
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A porta se abriu violentamente, e a garota selvagem entrou caminhando a passos largos.
"Tudo certo com você, Mikuru-chan. Pode ir embora agora, já terminamos por hoje."
 
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"Desculpem pelo atraso."
   
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Não precisa se desculpar, afinal, ninguém estava esperando por você.
Asahina-san piscou os olhos rapidamente, como um guaxinim possuído pelo espírito de uma raposa. Pois a única coisa que ela fizera hoje foi seguir Haruhi nervosamente se escondendo atrás de mim. Ela não tinha idéia de porque Haruhi a forçara a vir. Entretanto, eu já havia entendido o motivo.
 
   
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Haruhi entrou em cena carregando uma muda de bambu no ombro. Era um ramo comprido de bambu verde, com folhas saindo em ramos por toda a superfície. Por que você trouxe essa coisa até aqui?
Haruhi aparentava ter energia sobrando, o suficiente para fazer mais uma rodada de exercícios pesados, ela nos levou até a estação mais próxima. Parece que isso resume as atividades diárias de Haruhi. Suas habilidades de negociação e seus meios não ortodoxos nos deram uma câmera e uma arma de brinquedo, sem nenhum pagamento envolvido. Ou seja, elas foram de graça.
 
   
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Haruhi bateu no peito e replicou.
As pessoas dizem que não existe nada mais assustador do que ganhar algo de graça. O problema é que Haruhi não parecia nem remotamente assustada. Na verdade, se alguém descobrir alguma maneira de assustá-la, me avisem.
 
   
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"Por que!? Para pendurar desejos, é claro."
   
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O que? Como é?
   
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"Na verdade nada importante, já faz algum tempo que não penduro tanzakus [1], então achei que seria legal fazer isso agora, afinal, hoje é Tanabata!"
No dia seguinte, alem da mala, tive que carregar algum peso extra enquanto subia a ladeira.
 
   
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1-[Nota do tradutor: O costume de atar tanzaku (papel com poemas ou pedidos) de diferentes cores aos ramos de bambu, teve início em 1818. Qualquer pessoa pode escrever seu pedido no tanzaku, onde cada cor de papel (branco, amarelo, verde, vermelho/rosa e azul) simboliza um tipo de pedido].
"Yo, Kyon. O que você ta carregando ai? Um presente para alguma criança que foi boazinha esse ano?"
 
   
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... como sempre, as atitudes de Haruhi não tinham nenhum significado real.
Esse foi Taniguchi, que corria ao meu lado. Um idiota de mente simples que era quase um organismo unicelular. Sem dúvida um estudante comum que você poderia encontrar em qualquer lugar. Comum. Que mundo maravilhoso era aquele. Ser normal nessa situação é uma comodidade rara, pois essa palavra nos ata novamente ao mundo real.
 
   
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"Onde você conseguiu isso?"
Hesitei um momento antes de jogar os dois pacotes plásticos nos braços de Taniguchi.
 
   
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"No bosque de bambus atrás da escola."
"O que é isso? Um modelo de arma? Não sabia que você tinha um hobby oculto desses."
 
   
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Se me lembro bem, aquele é um terreno particular, sua ladra de bambus.
"Não é minha, é da Haruhi."
 
   
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"E quem liga pra isso? As raízes do bambu são subterrâneas, ela não vai ser afetada, mesmo se cortarem a parte de cima! Só seria uma ofensa se eu tivesse roubado o broto inteiro. Até fui picada por mosquitos no caminho, e cara, como isso coça. Mikuru-chan, você pode passar um pouco de pomada para coceira nas minhas costas?"
Suponho que deveria dizer que você não deve se apressar tanto em rotular uma coisa dessas como um "hobby oculto".
 
   
  +
"Sim, agora mesmo!"
"Eu não consigo imaginar Suzumiya desmontando e limpando uma Glock ''[1]'' sozinha."
 
   
  +
Asahina-san caminhou em passos curtos, carregando o kit de primeiros socorros, parecendo até uma pequena enfermeira. Ela pegou o creme, espalhou nas mãos, e colocou as mãos sobre a gola do uniforme de Haruhi, sobre as suas costas. Haruhi se inclinou para frente e disse;
''1-[Nota do tradutor: Glock é uma empresa austríaca fabricante de armas e materiais de cutelaria. É preferida por policiais e terroristas em grande parte pelo marketing e grande aceitação entre forças paramilitares e policiais no mundo].''
 
   
  +
"Um pouco mais para a direita... uhmm. Bem ai mesmo."
Nem eu. Isso significa que no final alguém vai ter de montar e desmontar essa coisa. Devo mencionar que quando eu era criança, tentei montar certo mobile suit e no final acabei desistindo pois não consegui juntar o ombro direito.
 
   
  +
Haruhi parecia uma daquelas gatas de rua sendo afagadas no queixo, piscando continuamente em relaxamento. Ela colocou o pedaço de bambu ao lado da janela, e calmamente se sentou na cadeira de comandante, então tirou uns pedaços de papel de Deus-sabe-onde, e sorriu com alegria.
"Deve ter sido difícil para você."
 
   
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"Agora, vamos escrever os nossos desejos!"
Pelo seu tom de voz, Taniguchi não parecia achar nem um pouco que era difícil para mim.
 
   
  +
Nagato levantou a cabeça lentamente, enquanto Koizumi sorria com cautela, e Asahina-san arregalava os olhos. O que ela estava tramando agora? Haruhi saltou da mesa, com a sua saia flutuando com o vento, e então disse;
"Se procurarmos em todas as eras e lugares, a única pessoa capaz de cuidar da Suzumiya será você, eu posso garantir. Então me faça um favor e saia com ela."
 
   
  +
"Mas existem algumas condições."
Que diabos ele estava falando? Eu não tenho a intenção de me comprometer com Haruhi de maneira nenhuma. Se houvesse alguém com quem eu queria sair seria Asahina-san. Será que todos concordam?
 
   
  +
"Que condições?"
Taniguchi gargalhou como um demônio.
 
   
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"Kyon, você sabe quem garante os desejos das pessoas no Tanabata?"
"É, mas acho que não vai dar. Ela é o anjo da escola, o descanso para os corações cansados dos estudantes. A não ser que você queira que metade da escola queira enfiar você dentro de um saco, não faça nada de errado. Você não vai querer que eu perca a cabeça e o apunhale pelas costas, certo?"
 
   
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"Não são Orihime e Hikoboshi [2]?"
Então vamos para próxima escolha: Nagato.
 
   
  +
2-[Nota do tradutor: A paixão de Orihime e Hikoboshi era tamanha que quando se encontravam, ambos se esqueciam dos seus afazeres, e acabaram provocando a ira do rei. Como castigo, o vaqueiro foi enviado para além da galáxia. Mas com pena de Orihime, que passava os dias chorando, o rei permitiu que os dois pudessem atravessar a Via Láctea, e se encontrar um dia a cada ano, no dia sete do mês sete, data em que hoje se comemora o Tanabata. Os antigos chineses se basearam nas estrelas Vega e Altair, representadas por Orihime e Hikoboshi, localizadas em lados opostos da Via Láctea, para criar essa romântica lenda.].
"Também está fora de cogitação. Ela tem mais admiradores do que você pode imaginar. Porque ela parou de usar óculos? Ela trocou para lentes de contato?"
 
   
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"Correto. Você ganhou dez pontos. Então me responda; você sabe a quais estrelas Orihime e Hikoboshi estão se referindo?"
"Hmm... porque você não pergunta para ela?"
 
   
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"Não tenho idéia."
"Pelo que eu ouvi, ela ignora todos que tentam falar com ela. Aparentemente, a sala de Nagato acredita que se ela falar alguma coisa, algo de bom ou ruim acontecerá naquele dia."
 
   
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"Não são as estrelas de Alpha Lyrae e Alpha Aquilae [3]?"
Não trate Nagato como uma flor de bambu. Esse tipo de previsão morreu há muito tempo atrás. É verdade que ela não é completamente normal, mas ela ainda tem suas qualidades comuns - pelo menos é o que eu acho.
 
   
  +
3-[Nota do tradutor: significa "alfa lira e alfa águia", ou simplesmente "Vega e Altair". Resumindo, são momes diferentes para "Orihime e Hikoboshi"].
"Em outras palavras, você é Suzumiya foram feitos um para o outro. Você é o único capaz de falar com ela, e essa é a melhor maneira de manter suas vitimas em um nível mínimo. Então cuide bem dela. O que me lembra; o festival cultural está chegando. O que vocês vão fazer dessa vez?"
 
   
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Koizumi respondeu rapidamente.
"Não me pergunte."
 
   
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"Correto! 85 pontos para você! São essas duas estrelas! Em outras palavras, você tem de apontar o pedaço de bambu com os tanzakus na direção dessas duas estrelas. Entenderam?"
Eu não sou o secretário de relações publicas da Brigada SOS. Mas Taniguchi continuou calmamente.
 
   
  +
O que diabos você está tentando dizer? E a que categoria pertence os quinze pontos restantes?
"Se eu for perguntar isso para Suzumiya, ela só vai falar coisas estranhas e sem sentido. E tenho medo dela bater em mim se eu falar no momento errado. Se perguntar para Nagato Yuki, aposto que ela não vai me dar resposta alguma. E é muito difícil de se aproximar de Asahina Mikuru. Falar com outros caras me irrita por algum motivo. Então eu estou perguntando para você."
 
   
  +
Heh, heh. Subitamente a expressão de Haruhi se encheu de malícia.
Esse bastardo usa uma lógica completamente distorcida. Isso me faz parecer algum tipo de cara bonzinho?
 
   
  +
"Deixe-me explicar. De acordo com a teoria da relatividade, não há como viajarmos mais rápido que a velocidade da luz."
"E você não é? Pelo que eu sei você é o tipo de cara bonzinho que é capaz de continuar andando ao lado dela, mesmo sabendo que há um penhasco bem a sua frente."
 
   
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Tem algum motivo para você estar me dizendo isso? Haruhi então tirou um caderno de notas do bolso da saia, e falou em voz alta enquanto lia.
O portão de entrada já poderia ser visto. Eu peguei o saco plástico das mãos de Taniguchi, com um olhar desencorajado no rosto.
 
   
  +
"Só para vocês saberem. A distância entre a terra e as estrelas de Alpha Lyrae e Alpha Aquilae são de vinte e cinco anos luz, e dezesseis anos luz, respectivamente. Isso significa que vai demorar vinte e cinco e dezesseis anos para mandar uma mensagem da Terra até essas estrelas. Esses são fatos – você está entendendo?"
Eu não sei aonde os trilhos de Haruhi vão nos levar, mas penso que definitivamente não devo esperar algo de bom. Haruhi e eu somos os únicos nesse caminho. Os outros três não tem motivos para estar nessa viagem. Dois deles podem se cuidar sozinhos, mas Asahina-san não tem essa capacidade. Ela é tão ruim em prever o que vai acontecer, que qualquer um duvidaria que ela é uma pessoa vinda do futuro. Bem, acho que não há nada de errado com isso.
 
   
  +
Então o que? Falando nisso, você realmente se incomodou em pesquisar essas informações?
"É por isso que eu disse; alguém tem que protegê-la."
 
   
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"Então esse é o tempo que demorará para que nossos desejos sejam atendidos, certo? Temos de esperar um bom tempo para que o que escrevemos se torne realidade. Então escrevam o que vão querer para daqui dezesseis e vinte e cinco anos no futuro! Escrever coisas como ‘Eu quero um namorado bonitão até o natal! ’ não vai funcionar, porque o desejo não vai poder ser realizado a tempo!"
É, falando assim eu até pareço o personagem principal. A única coisa que posso fazer por ela é impedir o constante assédio sexual de Haruhi.
 
   
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Haruhi chacoalhou os braços com grandeza, e continuou a sua explicação.
Continuei calmamente.
 
   
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"Espera um pouco, se demora vinte e tantos anos para que nossos desejos cheguem até lá, então não vai demorar o mesmo para que eles voltem? Isso não significa que teremos que esperar cinqüenta e trinta e seis anos respectivamente até que nossos desejos se tornem reais?"
"Como tenho essa chance, eu vou continuar a protegendo. Não importa o que os outros homens da escola pensem. Eles podem formar sua própria aliança de cavalheiros se quiserem."
 
   
  +
"Bem, estamos falando de deuses. É claro que eles vão bolar alguma coisa para nos ajudar. É com dizem por ai; tem sempre uma promoção de 50% acontecendo todo ano."
Taniguchi riu novamente como um demônio velho e matreiro.
 
   
  +
Quando é conveniente para ela, Haruhi ignora completamente as leis da relatividade e as joga pela janela.
"Não os subestime. Há pelo menos uma lua nova a cada mês."
 
   
  +
"Então, entendem o que eu quero dizer? Existem dois tipos de tanzakus, um para Alpha Lyrae e um para Alpha Aquilae. Então pensem e escrevam o que vocês irão para daqui a dezesseis e vinte e cinco anos."
Após falar algo que parecia uma notícia de um exorcista, ele se arrastou para dentro do portão principal.
 
   
  +
Isso é ridículo. Pedir que os seus dois desejos sejam realizados imediatamente é uma atitude de gente sem pudor. Alem do mais, não temos como saber o que estaremos fazendo depois desses anos todos. Como saber o que pedir para o futuro? Nesse caso melhor coisa a se pedir é para que a previdência e os planos de poupança estejam funcionando direito até lá, eu acho.
   
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Se Orihime e Hikoboshi tivessem de ouvir esse tipo de pedido o tempo todo, certamente seria uma grande dor de cabeça. Eles só podem se encontrar uma vez por ano, e ainda tem de ouvir esses pedidos estúpidos. Porque ao invés disso você não pede ajuda para os políticos? Se eu fosse eles, com certeza diria isso.
   
  +
De qualquer forma, como sempre, essa garota estava pensando em todo o tipo de coisa sem sentido. Não podia deixar de imaginar se havia um buraco negro na cabeça dela que sugava todo o bom senso para outra dimensão.
Eu estava andando pelo corredor, em frente à sala com a minha bagagem, quando cruzei com Haruhi, que colocava as coisas em seu armário.
 
   
  +
"Bem, isso não é totalmente verdade."
Eu também coloquei as caixas com coisas eletrônicas e modelos plásticos no armário com o meu número de chamada.
 
   
  +
Koizumi parecia estar defendendo Haruhi. Mas disse de uma maneira tão baixa que somente eu consegui ouvir.
"Kyon, nós estaremos ocupados hoje."
 
   
  +
"É verdade que as atitudes, e as palavras de Suzumiya-san são únicas, mas julgando da situação atual, está claro que ela sabe o significado do senso comum."
Sem nem dizer bom dia, Haruhi bateu a porta do armário, e se virou para mim, com um sorriso como o verão indiano.
 
   
  +
Koizumi deu o seu sorriso animado de sempre, e prosseguiu.
"O mesmo vale para Mikuru-chan, Yuki, e Koizumi-kun. Eu não aceitarei nenhuma reclamação. O roteiro do filme está borbulhando em minha mente, prestes a explodir. Tudo que temos a fazer é coloca-lo em pratica."
 
   
  +
"Se seus padrões de pensamento fossem mesmo anormais, o mundo não seria tão estável. Se fosse o caso, esse planeta se tornaria algo estranho, ditado por regras bastante peculiares."
"Entendo."
 
   
  +
"E como você tem certeza disso?" - perguntei.
Respondi indolentemente e entrei na sala. Minha mesa era a segunda da última fila. Mudamos de lugar diversas vezes durante o semestre, mas ainda não consegui um lugar no fim da fila. Isso é porque Haruhi sempre acabava sentando atrás de mim. Chegou ao ponto em que todos percebiam a falta de naturalidade do fato, era estranho demais para ser uma coincidência, mas ainda acreditava que era tudo um grande acaso.
 
   
  +
"Suzumiya-san deseja que o mundo todo mude um pouco, e tem os poderes de reconstruí-lo do zero, se necessário. Você deveria saber disso melhor do que eu."
Se eu não tivesse fé na coincidência, a coincidência perderia a fé em si mesma. Eu sou uma pessoa com uma boa dose de consideração. Acredito que todos que tenham paciência para andar por ai com Haruhi sejam também. Como um centroavante defensivo que tem que correr atrás das bolas que jogam por ai. No caso Haruhi seria um atacante super ofensivo, que quer derrubar qualquer um que toque na bola. Ela deve estar até mesmo atrás do goleiro adversário. Passar a bola para ela só vai resultar nos zagueiros levantando a bandeira, pois Haruhi acaba de cometer um impedimento.
 
   
  +
É claro que eu sei disso. Mesmo tendo dúvidas.
De fato, ela iria dizer seriamente que a regra não faz sentido. Ela até mesmo argumentaria que um gol é um gol, não importando o jeito que foi feito. A sugestão de que ela abandonasse o esporte seria completamente ignorada.
 
   
  +
"O porquê do mundo não ter ido para a completa irracionalidade, é que Suzumiya-san apesar de tudo valoriza o bom senso, acima dos seus próprios desejos."
A melhor maneira de se lidar com uma pessoa impulsiva em fúria, é casualmente abandonar o local como se você não tivesse visto ou ouvido o nada do que ela disse. As outras pessoas da escola já começaram a fazer isso.
 
   
  +
"Pode soar uma infantilidade, porém." - Koizumi levantou a cabeça e falou - "Vamos usar um exemplo, ela deseja que o Papai Noel exista. Pelo conhecimento comum, o Papai Noel não existe. Se considerarmos apenas o Japão, veremos que não é possível que alguém entre em uma casa trancada no meio da noite, e deixe um presente sem ser detectado. E como ele sabe o que cada criança quer no natal? Somando isso com o fato que seria fisicamente impossível percorrer o mundo todo no espaço de uma noite."
Talvez seja esse o motivo que, depois do desaparecimento repentino de Haruhi no final do sexto período, nem o professor Okabe e nem ninguém ousou dizer nada sobre o fato da cadeira atrás da minha estar vazia. Ou eles nem perceberam? Ou será que só fingiram não perceber? Não que eu pudesse fazer algo sobre isso. Bem, todo mundo sabe que é melhor deixá-la sozinha.
 
   
  +
Para alguém levar esse tipo de coisa a sério, tem se ser completamente retardado.
Rumei para o clube com uma sensação desagradável em meu estomago, então parei próximo a sala junto com as sacolas contendo as infames caixas.
 
   
  +
"Exatamente, e é por isso que o Papai Noel não pode existir."
Eu podia ouvir algo. Era a voz da indefesa Asahina-san em prantos. E a implacável voz de Haruhi gritando. Sim, ela estava fazendo aquilo de novo.
 
   
  +
A razão em ter o contrariado, é que me irritava ver Koizumi tomando o partido de Haruhi. Então expus minha indagação:
Se abrisse a porta agora, seria presenteado com a visão do paraíso, mas sendo um homem possuidor de bom senso, estoicamente resisti as minhas fantasias e esperei com paciência.
 
   
  +
"Se você estiver certo, isso não significa que é impossível que existam aliens, espers, e viajantes do tempo? Então como você está aqui?"
Depois de cinco minutos, o caos lá dentro chegara ao fim. Tenho certeza que encontraria Haruhi com as mãos na cintura e um olhar triunfante no rosto. Baseado no fato que um coelho nunca pode vencer uma anaconda, suponho também que nunca verei Asahina-san vencendo.
 
   
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"O que consigo imaginar é que Suzumiya-san estava muito desconfortável com o senso comum existente dentro dela. Pois ele novamente rejeitou os seus desejos - ou seja, um mundo onde ocorrências sobrenaturais são normais."
Minhas batidas na porta foram respondidas com um...
 
   
  +
Quer dizer que os pensamentos selvagens de Haruhi estão levemente acima do seu bom senso?
"Pode entrar!"
 
   
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"Talvez ela tenha sido incapaz de suprimir esses pensamentos, é por isso que Asahina-san e Nagato apareceram ao seu lado, e é por isso que eu recebi esses poderes sobrenaturais. Mas estou incerto do que você deve pensar a respeito."
... essa foi a resposta de Haruhi, gritada em alto e bom som. Enquanto eu imaginava o conteúdo das sacolas que vira hoje pela manhã, eu abri a porta e entrei. A primeira coisa que vi, de fato, foi o rosto triunfante de Haruhi. De qualquer forma, já estou cansando de ver isso. Virei a minha atenção na pessoa sentada na cadeira de metal, em frente a Haruhi e seu fervente ardor.
 
   
  +
Talvez seja melhor permanecer sem certezas. Afinal, não sou como você. Tenho a total consciência de que sou um ser humano normal.
Uma garçonete sentada ali, me olhava com os olhos em lágrimas.
 
   
  +
Mas não tenho como saber se isso é uma benção ou uma maldição.
" ... "
 
   
  +
"Ei vocês! Parem de cochichar! Estou falando de coisas sérias aqui!"
A garçonete, com seu cabelo desnivelado, estava silênciosa como Nagato. Sua cabeça estava baixa. Haruhi amarrou seus cabelos em dois rabos, que balançavam sobre suas costas. Estranhamente, Nagato não estava lá.
 
   
  +
Não satisfeita com nossa conversa, Haruhi nos olhou com frieza, enquanto ela esbravejava conosco. Então obedientemente recebemos os tanzakus e canetas, e voltamos para os nossos lugares.
"E então?"
 
   
  +
Haruhi resmungou e então começou a escrever. Nagato estava sentada e imóvel, olhando para o tanzaku; enquanto Asahina-san tinha uma expressão de dúvida no rosto, como se tivesse encontrado algo mais complicado do que o problema de matemática. Koizumi disse de maneira relaxada, "Hmmm, que coisa incômoda."”, enquanto chacoalhava a cabeça pensando profundamente. Você realmente precisa pensar tão a sério em um assunto leviano como esse? Não seria melhor pegar leve, e escrever qualquer coisa que você queira?
Haruhi me perguntou com um sorriso malicioso de satisfação. Por que você dá a impressão que tem responsabilidade sobre isso? A amabilidade de Asahina-san vem dela mesma, mas…
 
   
  +
Girei o lápis ao redor dos dedos e olhei para o lado. A muda de bambu que Haruhi havia "roubado" estava encostada sobre a janela aberta, com seus ramos bagunçados como resultado. Uma brisa ocasional agitava as folhas, produzindo um som suave e relaxante.
Eu acho que ela ficou ótima nesta fantasia. Mas o que será que Asahina pensa sobre isso? Não que eu tenha nenhuma objeção, mas a saia não é um pouco curta demais?
 
   
  +
"Todos acabaram? "
Asahina-san era uma tão perfeita como maid quanto um suco de frutas 100% puro. Seus punhos fechados repousavam sobre os joelhos.
 
   
  +
A voz de Haruhi trouxe minha atenção de volta a realidade. Em frente a ela, sobre a mesa, estavam duas tiras de papel onde podiam se ler:
Você está peculiarmente perfeita! É como essa roupa tivesse sido feita apenas para você. E esse é o motivo de eu ter gastado uns bons trinta segundos olhando para Asahina-san em silêncio, antes de levar um tapinha no ombro.
 
   
  +
"Que o mundo gire em torno de mim! "
"Bem, olá. Estou terrivelmente arrependido por ontem. Nós deveríamos fazer um ensaio do roteiro hoje, mas eu preciso fazer as minhas coisas antes. E então me encontrei correndo infinitamente em círculos."
 
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"Desejo que a Terra de voltas ao contrario."
   
  +
Esse era o tipo de coisa que uma criança mimada e perturbada escreveria. Ficaria tudo bem, se fosse tratado como uma piada, mesmo com Haruhi parecendo estar tão séria a respeito disso enquanto pendurava os tanzakus nos ramos de bambu... e não me diga que esses desejos seus se tornarão realidade!
O rosto rosado e bonito de Koizumi, me observava sobre os ombros.
 
   
  +
Asahina-san havia escrito com a sua elegante caligrafia:
"Oh?"
 
   
  +
“Desejo costurar melhor.”
Ele sorriu alegremente.
 
  +
“Desejo cozinhar melhor.”
   
  +
Os dois desejos de Asahina-san eram adoráveis demais. Ela juntou as palmas das mãos e orou para os tanzakus que estava pendurando no ramo de bambu. Acho que ela deve ter entendido algo errado.
"O que temos aqui?"
 
   
  +
Não havia nada de interessante nos tanzakus de Nagato, com uma letra regular e precisa, ela escreveu coisas abstratas cheias de palavras monótonas, como “harmonizar”, e “reorganizar”.
Koizumi passou ao meu lado e deixou sua mala na mesa, antes de sentar em uma das cadeiras.
 
   
  +
Koizumi não havia sido muito diferente de Nagato, com uma letra rabiscada, ele escreveu frases simples como “paz mundial” e “uma família fraternal”.
"Fica esplêndido em você."
 
   
  +
E eu? Os meus também eram simples. Como serão vinte e cinco anos e dezesseis anos no futuro, acho que nessa época já serei um velho chato, então tenho certeza que o futuro me permitirá desejar o seguinte:
Ele falou por si só. Todos nós já sabíamos disso. Só não sabíamos o motivo de termos uma garçonete nessa sala suja que não é nem um café e nem um restaurante de família.
 
   
  +
“Eu quero dinheiro.”
"Kyon," - Haruhi disse - "é porque Mikuru-chan vai usar essa roupa no filme."
 
  +
“Quero uma casa com jardim, onde possa dar banho no meu cachorro.”
   
  +
"Que desejos mais chatos!"
A roupa de maid não serve?
 
   
  +
"O trabalho de uma maid é ir na casa de alguém rico e fornecer serviço pessoal. Uma garçonete é diferente. O seu objetivo é provir trabalhos diversos para um número não específico de clientes por 730 yen ''[2]'' a hora."
 
   
  +
Haruhi declarou seus pensamentos em um tom espantado. Ela era a pessoa menos qualificada para se surpreender com os meus desejos. Afinal, eles são muito mais saudáveis do que pedir para a terra girar ao contrario!
''2-[Nota do tradutor: aproximadamente R$ 11.40].''
 
   
  +
“Esquece! Gente, fiquem certos de lembrar desses desejos que vocês escreveram! O primeiro período chave será daqui dezesseis anos. Vamos apostar em quem tem o seu desejo realizado antes!”
Não tenho certeza se esse é um bom pagamento ou não, mas não é como se Asahina-san se vestisse para ir a casa de uma pessoa rica, ou a um trabalho de meio período. Talvez Haruhi tenha a pago de verdade.
 
   
  +
"Ah... com certeza".
"Não se importe com essas coisas pequenas! É tudo sobre os sentimentos. E eu gosto do sentimento que isso passa."
 
   
  +
Asahina-san fez um sinal para mim com a cabeça, e me olhava com seriedade. Quando olhei em volta Nagato já havia voltado para o seu mundo literário.
Quem se importa com você? Como Asahina-san se sente sobre isso?
 
   
  +
Haruhi botou o ramo de bambu para fora da janela, em uma posição firme. Então colocou uma cadeira ao seu lado e se sentou nela. Colocando o cotovelo sobre o parapeito, Haruhi olhava para o céu com um pouco de melancolia, sem saber o que fazer em seguida. Ela era o tipo de pessoa com um humor extremamente variável, e pensar que ela estava eufórica até agora a pouco.
"Su-su-suzumiya-san... parece um pouco pequeno para mim..."
 
   
  +
Abri meu livro, e novamente recomecei a minha tentativa de sobrepujar as provas, enquanto memorizava os diversos tipos de adjetivos.
Asahina-san estava bastante preocupada. Ela estava incessantemente abaixando a minissaia. Mas seus movimentos rápidos eram bastante reveladores. Você percebe que meus olhos não conseguem desviar dali, certo?
 
   
  +
"Dezesseis anos, huh? Isso é uma porção de tempo".
"Fica perfeito em você."
 
   
  +
Ouvi Haruhi resmungando atrás de mim.
Forcei a minha visão a se afastar, e se focar no sorriso de Haruhi, que era como uma flor colorida brotando na selva. Haruhi olhou virou os seus olhos, olhando diretamente para mim.
 
   
"O conceito para o nosso fime..."
 
   
Ela apontou para Asahina-san, curvada em uma posição fetal.
 
   
  +
Nagato continuava a ler seu romance estrangeiro em silêncio, Koizumi começara novamente a jogar xadrez sozinho, enquanto eu estava preocupado em memorizar as sentenças em inglês. Esse tempo todo Haruhi permanecia sentada, olhando para o céu. Ela era bastante bonita nesse tipo de situação, onde ficava quieta e não se mexia. No começo pensei que ela havia decidido imitar as atitudes de Nagato, mas de alguma forma, a visão de Haruhi sentada pensando consigo mesma, me fazia ficar ainda mais desconfortável. Suspeito que ela esteja tramando mais coisas que nos trariam problemas futuros, e com certeza, ainda mais dores de cabeça.
"... é esse!"
 
   
  +
Por algum motivo Haruhi parecia estar particularmente deprimida hoje. Algumas vezes ela olhava para fora e deixava escapar um longo e penoso suspiro. Isso me fazia tremer. Esse silêncio provavelmente era a calmaria antes da tempestade, com certeza era um tipo de situação assustadora. O imperador Sutoku deve ter se sentido assim nos dias antes do seu exílio em Sanuki [4].
Esse? Vamos fazer um documentário sobre a vida diária de uma garota trabalhando em um café?
 
   
  +
4-[Nota do tradutor: O imperador Sutoku deve ter se sentido assim nos dias antes do seu exílio em Sanuki. - Em 1156, os partidários do In Toba e de seu filho, o imperador Goshirakawa entraram em conflito com o grupo do In Sutoku. A esse choque de interesses somou-se a rivalidade do Kampaku Fujiwara Tadamichi e seu irmão mais novo, o Sa-Daijin Yorinaga. Morrendo o In Toba, o partido do In Sutoku, a que se juntou Yorinaga convocou os chefes guerreiros Taira-no-Tadamasa, Minamoto-no-Tameyoshi e seu filho Tametomo para atacar o imperador e o Kampaku. Estes por sua vez recorreram a Minamoto-no-Yoshitomo, também filho de Tameyoshi e ao futuro autocrata Taira-no-Kiyomori (1118-1181). Foi a famosa Revolta de Hôgen, que terminou com a vitória do partido imperial, o confinamento do In Sutoku na província de Sanuki, na Ilha de Shikoku, a morte de Yorinaga em combate e a execução de Tameyoshi e Tadamasa pela mão de seus próprios parentes].
"Não, não há nada de divertido em se filmar vídeos secretos da vida cotidiana de Mikuru-chan. A única maneira de conseguir uma história interessante filmando a vida diária de uma pessoa é quando esse alguém tem uma vida extremamente excêntrica. Filmar o dia-a-dia de uma estudante comum só vai satisfazer o seu próprio ego."
 
   
Falhei em ver como Asahina-san iria ficar satisfeita em fazer esses vídeos. Para falar a verdade, acho que esse filme é uma maneira de satisfazer o ego de outra pessoa. Alêm do mais, a vida cotidiana de Asahina-san poderia ser considerada bastante excêntrica, mas prefiro manter a boca fechada sobre isso.
 
   
"Como a diretora encarregada de representar a Brigada SOS, decidi criar um entretenimento de qualidade, espere e verá. Cada membro da audiência irá se levantar e aplaudir!"
 
   
  +
Ouvi o som do atrito do papel, e levantei a minha cabeça. Sentada do outro lado da mesa, trabalhando nos seus exercícios de matemática até a pouco, Asahina-san colocou o seu indicador sobre os lábios e fechou seu olho direito, me entregando um tanzaku extra que pegara agora pouco. Olhando para Haruhi com o canto dos olhos, Asahina-san retraiu a sua mão e abaixou a cabeça, como uma garotinha que havia acabado de pregar uma peça em alguém.
Com um olhar atento, percebi que a faixa de Haruhi foi mudada de "chefe" para "diretora" em algum momento. Ela certamente estava preparada.
 
   
  +
Minha necessidade de ser cúmplice nesse crime estava completamente desperta, rapidamente peguei o tanzaku que Asahina-san me entregou, e o li com cuidado.
Olhei para a diretora ficando excitada consigo mesma, a atriz principal ficando deprimida e o ator principal parado sorrindo enigmaticamente como um mero transeunte. Estava imaginando o que estava acontecendo quando a porta de abriu sem nenhum ruído.
 
   
  +
“Por favor, fique no clube após as aulas terem terminado. – Mikuru-chan“
" ... "
 
   
  +
A mensagem acima estava escrita no papel com uma letra pequena e graciosa.
Pensei em quem apareceria agora. Achei que a figura que ali aparecera veio para me extirpar da minha curta vida. Até me fez imaginar se não tinha entrado na sala de música aonde encenavam a cena em que Salieri destruía Mozart lentamente, enquanto ele compunha o seu réquiem.
 
   
  +
É claro que eu ia obedecer.
" ... "
 
   
Assim ela nos mostrou sua citação habitual, Yuki Nagato entrou na sala com um rosto ainda mais pálido do que de costume. Apenas seu rosto era visível. Todo o resto estava coberto de preto.
 
   
Não era o único sem palavras. Haruhi e Asahina-san estavam no mesmo estado, até o sorriso de Koizumi apresentava um ar de surpresa. Nagato estava coberta com uma roupa estranha, que poderia até mesmo ser incomoda para Asahina-san.
 
   
  +
"Isso é tudo por hoje".
Seu corpo estava envolto em um manto negro como a noite. E sua cabeça estava cobera por um chapéu pontudo da mesma cor. Ela praticamente estava igual a uma caçadora de vampiros.
 
   
  +
Haruhi disse aquilo, e prontamente pegou a sua mala e foi embora. Seu comportamento continuava anormal, ela era como um caminhão a diesel que subitamente se transformara em um carro movido a energia solar. Acho que as coisas ficarão bem por hoje.
Então observamos Nagato, que estava parecendo com o ceifador, silênciosamente ir em direção a sua cadeira, pegar um livro de capa dura de baixo de seu manto e o colocar sobre a mesa.
 
   
  +
"Então irei me retirar também".
Ignorando completamente o nosso choque ela começou a ler o livro com indiferença.
 
   
  +
Koizumi guardou as peças de xadrez e se levantou. Depois de trocar olhares comigo e com Asahina-san, ele saiu da sala do clube de literatura.
   
  +
Nagato fechou seu livro. Oh, você também esta indo embora? Obrigado pela compreensão... quando estava sentindo gratidão pela situação, Nagato veio até mim, caminhando silenciosa como um gato.
   
  +
"Fique com isso".
Aparentemente, era a fantasia de sua sala para a barraca de previsão da sorte.
 
   
  +
Ela me entregou um pedaço de papel. Era outro tanzaku. Realmente não posso te ajudar a mandar isso para o espaço, mesmo que você tenha o entregue para mim! Pensei com meus botões enquanto analisava o papel.
Isso é o que eu consegui tirar das respostas curtas de Nagato para Haruhi, que foi a primeira a se recuperar do choque. Para Nagato andar por ai com uma roupa tão macabra, sua classe deveria ter um estilista realmente talentoso.
 
   
  +
Varias formas geométricas estranhas estavam desenhadas nele. Que diabos era isso? Algum tipo de linguagem suméria? Creio que nem o computador Enigma [5] poderia decifrar o significado dessas mensagens.
Em todo o caso, andando pela sala com essa túnica monástica, seria a maneira de Nagato de competir com Asahina-san? Isso fazia a lógica de Haruhi parecer simples.
 
   
  +
5-[Nota do tradutor: Máquina usada pelos alemães para criptografar mensagens trocadas entre o front e as bases militares na Segunda Guerra Mundial].
Um silêncio incomodo pairou sobre a sala. Apenas Haruhi pareceu feliz com aquilo.
 
   
"Yuki, você entendeu! É isso!"
 
   
  +
Estudei esses desenhos com um olhar confuso no rosto. Não eram nem palavras nem desenhos, apenas formas triangulares, circulares, e onduladas. Nesse momento Nagato já havia terminado de pegar suas coisas, e tinha deixado a sala.
Nagato lentamente olhou para Haruhi antes de voltar a olhar para o seu livro.
 
   
  +
Esquece. Coloquei o tankazaku no meu bolso, e me virei para Asahina-san.
"Essa fantasia é perfeita para o papel que eu estava na minha cabeça! Deixe que as pessoas que colocaram isso em você saibam disso. Eu quero escrever uma mensagem de agradecimento para elas."
 
   
  +
"D-desculpe pedir isso, mas espero que você possa vir comigo a um lugar".
Sério. Se alguém receber uma mensagem de parabéns de Haruhi, essa pessoa vai começar a suspeitar de alguma coisa terrível contra ela, e acabaria tendo medo da própria sombra. Você precisa ter uma visão objetiva sobre como as pessoas vêem você.
 
   
  +
Esse convite não veio de ninguém mais do que a própria Asahina-san. Seria condenado a ir para o inferno se recusasse. Até pularia em um poço flamejante se ela me mandasse.
Haruhi parecia estar nas alturas enquanto cantarolava a marcha turca ''[3]'' e abria a mala para pegar um maço de fotocópias. Ela rapidamente os repassou, como Kintarou ''[4]'' derrubando um urso negro.
 
 
''3-[Nota do tradutor: do original turkey march... uma obra clássica de Mozart].''
 
   
  +
"Claro, para onde nós vamos?"
''4-[Nota do tradutor: um herói do folclore japonês, conhecido no ocidente como Golden Boy].''
 
   
  +
"Bem... uhm... para três anos atrás".
Não tendo outra escolha, tornei para ver o pedaço de papel.
 
   
  +
Pedi um lugar, e ela me respondeu um tempo. Porem...
A seguinte passagem estava rabiscada pela folha.
 
   
  +
Essa história de três anos atrás de novo? Pensei um pouco, mas não podia deixar de estar interessado a respeito. Afinal, Asahina-san clamava ser uma viajante de um futuro desconhecido, apesar de esquecer isso com freqüência, devido a sua beleza. Mas três anos atrás? O que faremos nesses três anos do passado? Isso significa que viajaremos no tempo?
   
  +
"S... sim".
   
  +
"Claro, fico feliz em poder ir, mas por que eu? O que nós temos de fazer lá?"
   
  +
"Bem... você vai entender assim que chegarmos... eu acho".
"Garçonete de Combate: A Aventura de Asahina Mikuru-chan (tentativa)"
 
 
(estrelas) Dramatis Personae
 
• Asahina Mikuru... Garçonete de Combate do Futuro.
 
• Koizumi Itsuki... Garoto esper.
 
• Nagato Yuki... Alienígena do mal.
 
• Extras... transeuntes.
 
 
... espera, o que? É, bem...
 
   
  +
Huh?
Seu nível de intuição superou a incredulidade. Ou ela acertou no alvo sem nem ao menos tentar? Imagino se ela estava fingindo ignorância o tempo todo. Ou os seus sentidos aguçados só funcionam em intervalos estranhos?
 
   
  +
Talvez fosse o olhar de questionamento em meu rosto que levou a isso, então Asahina-san chacoalhou as mãos freneticamente e me implorou com lágrimas nos olhos.
Eu parei pasmo, sendo trazido de volta a realidade pelo som de risos ao meu lado. A única pessoa que daria esse tipo de risada seria Koizumi.
 
   
  +
"Eu imploro! Não pergunte nada, só concorde em ir por enquanto! Se não... uhm... isso vai se tornar um grande problema".
"Bem, isso é um tanto..."
 
   
  +
"Então... tudo bem, vamos lá".
Tenho inveja de como você consegue aproveitar a situação.
 
   
  +
"Sério? Muito obrigada!"
"Como posso dizer? Bem, não é como todos poderíamos esperar? De qualquer forma, o elenco parece bastante apropriado para Suzumiya-san. É maravilhoso."
 
   
  +
Asahina-san sorriu e segurou as minhas mãos com alegria. Ah, a felicidade da Asahina-san é a minha felicidade, hahaha!
Não sorria para mim. Isso me dá arrepios.
 
   
  +
Pensando bem, quando Asahina-san declarou ser do futuro, não havia prova alguma da veracidade da história. Não foi quando encontrei a sua versão crescida que passei a acreditar realmente nela, mesmo não podendo negar que ainda tenho suspeitas sobre uma possível conspiração por trás disso. Então hoje terei uma grande chance para provar o seguinte questionamento; "Asahina-san realmente veio do futuro?".
Asahina-san lia a folha de A4, que segurava com seus punhos fechados, tremendo violentamente.
 
   
  +
"Então, cadê a maquina do tempo?"
"O que..."
 
   
  +
Achei que precisaríamos entrar em um armário ou coisa parecida, mas Asahina-san disse que não existia um mecanismo assim. Então por onde iríamos viajar pelo tempo? Ela encolheu os ombros e apertou o avental, então disse;
Um gemido suave escapou por sua boca. Ela se virou para meus olhos buscando a salvação. Exceto sob um olhar atento, seus olhos pareciam muito tristes, até mesmo reprovadores. Como uma gentil irmã mais velha brigando com uma criança cujas brincadeiras foram longe demais... oh, agora eu me lembrei. Isso me lembra do incidente de seis meses atrás, quando eu revelei as identidades verdadeiras deles a Haruhi.
 
   
  +
"Saqui mesmo".
Gah. Droga será que isso tudo foi culpa minha?
 
   
  +
Huh? Aqui? Virei e olhei com descrença para a sala vazia do clube.
Me virei freneticamente para Nagato, a interface humanóide com propósito de contato humano, fechada em seu manto e chapéu negro.
 
   
  +
"Sim, por favor, se sente. Você poderia fechar os olhos? Sim, e relaxe os seus ombros também".
" ... "
 
   
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Fiz o que ela havia pedido. Só espero não ser acertado na cabeça repentinamente.
Ela estava lendo seu livro em silêncio.
 
   
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"Kyon-kun..."
   
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Asahina-san suprimiu sua voz atrás do meu ouvido. Que respiração suave.
   
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"Me desculpe".
"Não vejo nenhum problema nessa conseqüência."
 
   
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Tive um pressentimento ruim a respeito. Quando ia abrir os olhos, tudo ao meu redor ficou escuro. Então fui jogado a inconsciência, enquanto sentia uma forte sensação de náusea e falta de equilíbrio. Se soubesse que seria assim, nunca teria concordado em vir.
Koizumi dissertou de maneira otimista. Falhei em enxergar o humor nesta situação.
 
   
"Enquanto as circunstâncias permitirem o bom humor, não há motivo para o pessimismo."
 
   
"Como você sabe?"
 
   
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Quando recuperei meus sentidos, minha visão estava uns 90 graus invertida. Tudo que deveria estar em pé estava jogado na horizontal, quando vi o poste atravessando meus olhos da esquerda para a direita, percebi que eu estava deitado. Foi ai que senti uma sensação de calor ao lado da minha cabeça.
"Pela simples razão que estamos meramente encenando um filme. Suzumiya-san não acredita realmente que eu seja um esper. Eu só interpreto o papel de um garoto esper chamado Koizumi Itsuki, dentro do contexto ficcional do filme."
 
   
  +
"Oh, você já acordou?"
Koizumi parecia estar falando como um professor se dirigindo a um pupilo com uma memória extremamente ruim.
 
   
  +
Uma voz angelical falou. Já estava completamente acordado. O que era esse calor sob o meu ouvido esquerdo?
"Você pode dizer que Koizumi Itsuki existe na realidade, sendo assim eu mesmo, e esse Itsuki-kun em particular é uma pessoa inteiramente diferente. Ninguém irá confundir um personagem com o ator em um filme, certo? E mesmo que alguém não faça distinção entre os dois, essa pessoa não será necessariamente Suzumiya-san."
 
   
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"Uhm... se você não levantar a sua cabeça... então eu teria que..."
"Isso não é muito animador. Não existe nenhuma garantia de que o que você está dizendo seja verdade."
 
   
  +
Asahina-san parecia preocupada. Me levantei e confirmei onde estávamos.
"Se ela não soubesse diferenciar a ficção e a realidade, esse mundo teria se tornado algo fantasioso há muito tempo. Como mencionei anteriormente, Suzumiya-san anda é uma pessoa com pensamentos racionais."
 
   
  +
Em um banco de praça, no meio da noite.
Eu sei disso. Mas como a racionalidade de Haruhi opera sempre de maneira meio fantasiosa, eu tenho sido arrastado para muitos incidentes bizarros. E Haruhi, a chave para todos esses fatos, ainda não percebeu o que está acontecendo ao seu redor.
 
   
  +
O que está acontecendo aqui? Estava dormindo sobre os joelhos de Asahina-san e por estar dormindo, não lembro de nada... é mesmo uma pena.
"Não devemos deixar que ela descubra nenhuma evidência do que está acontecendo."
 
   
  +
"Minhas pernas estão dormentes, isso já está ficando cansativo".
Koizumi disse calmamente.
 
   
  +
Asahina-san sorriu com constrangimento e abaixou a cabeça. Não sei quando ela se trocou, mas no lugar da roupa de maid, ela estava com o uniforme do colégio. Pensando bem, até o horário que estamos deve ter dado tempo mais que o suficiente, afinal fiquei dormindo o tempo todo. Mas, por que diabos eu estava dormindo?
"Em algum momento, haverá a necessidade que revelemos a verdade. Mas por hora, felizmente a facção de Nagato e de Asahina-san compartilham a mesma opinião, portanto preferimos que a situação atual se mantenha inalterada."
 
   
  +
"Porque não podia deixar você saber dos métodos de viagem no tempo, afinal é uma informação confidencial... você ficou bravo Kyon-kun?"
Que assim seja. Eu não quero que o mundo se torne uma imensa bagunça. Não antes de eu zerar aquele jogo que sai semana que vem, se não eu me arrependerei amargamente.
 
   
  +
Não, nem um pouco. Se fosse a Haruhi, já teria ficado furioso com ela, mas como foi a Asahina-san, não me importei muito.
Koizumi continuava sorrindo.
 
   
  +
Falando nisso, agora a pouco estava sentado de olhos fechados no clube, então como eu vim parar em um parque no meio da noite? O pior é que sinto já ter estado nesse parque antes. Eu lembro de Nagato me pedindo para vir aqui outro dia, será que esse parque é a terra santa das pessoas excêntricas?
"Você deveria se preocupar menos com o mundo, e mais com a sua própria segurança. Nagato e eu podemos ser substituídos facilmente, mas você não pode gozar deste mesmo beneficio."
 
   
  +
Cocei a minha cabeça, ainda havia algo que queria perguntar.
Eu não podia deixar esses sentimentos de frustração me afetarem, e me concentrei em carregar a arma de brinquedo em minhas mãos.
 
   
  +
"Em que tempo nós estamos?"
   
  +
Sentada ao meu lado, Asahina-san respondeu.
   
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"Tomando nosso tempo de origem como referência, esse é o dia sete de julho de três anos atrás. Deve ser umas nove horas da noite, eu acho".
Haruhi nos dispensou após entregar Asahina-san a sua fantasia e anunciar o elenco. Aparentemente ela queria que Asahina-san colocasse a roupa de garçonete para que ela pudesse fazer uma coletiva de imprensa para o filme vindouro, mas como Asahina já estava a beira das lágrimas, fiz Haruhi desistir da idéia. Não era como se a nossa escola possuísse um clube de jornalismo, notícias ou de propaganda. Uma vez que coloquei isso em pauta, os lábios de Haruhi, se fecharam como o bico de um pássaro.
 
   
  +
"Então é isso?"
"Acho que você está certo."
 
   
  +
"Sim".
Surpreendentemente, ela concordou.
 
   
  +
Ela me olhava com seriedade.
"É melhor que deixemos os detalhes embaixo dos panos até o último segundo. Kyon, isso é muito astuto vindo de você. Seria bem ruim se as coisas vazassem antes da hora."
 
   
  +
Nunca achei que chegaríamos aqui tão facilmente. É claro que não era ingênuo o suficiente para acreditar em tudo que ela me dizia, eu tinha que confirmar isso. Tentaria primeiro ligar para o número que oferecia informações sobre o horário e sobre o clima.
Essa idéia não está no nível de um filme de Hollywood, ou até mesmo de um filme de Hong Kong. Quem iria querer roubar uma história vinda de você?
 
   
  +
Quando estava preste a contar meus planos para ela, senti meu obro direito pesar subitamente. Huh? Asahina-san estava agora com a cabeça encostada sobre o meu ombro. Essa exausta garota estava agora se apoiando em mim; alguém poderia me dizer qual é o significado disso?
"Então Kyon, deixe a arma pronta para usarmos durante o dia. As filmagens começam amanhã. Você também precisa aprender a mexer na câmera. Ah, certo. Você precisa também saber como passar o vídeo para o computador e assim que ele estiver lá, como editar, então pirateie os programas necessários. E também…"
 
   
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"Asahina-san? "
Uma vez que Haruhi já despejara centenas de tarefas em mim, ela deixou a sala, cantarolando o tema de "The Great Escape ''[5]''".
 
   
  +
-- Nenhuma resposta. --
''5-[Nota do tradutor: escrito por James Clavell, é um filme sobre a Segunda Guerra Mundial, baseada em uma história verídica sobre aliados de guerra em fuga de um campo de prisioneiros alemão].''
 
   
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"Uhm..."
Não importa se ela está de bom ou mau humor, ela sempre está causando problemas para as outras pessoas. Francamente...
 
   
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"(Ronco)..."
Então, esse é o motivo para que eu esteja face a face com outro cara, o Koizumi, lutando para fazer a arma de brinquedo disparar a munição, como diz o manual.
 
   
  +
Ela está roncando?
Uma vez que Asahina-san terminou de se vestir, ela foi embora com seus ombros caídos. Nagato ainda estava vestida como uma convidada para um Sabá, e foi embora para algum lugar sem levar a sua mala. Suponho que Nagato só tenha vindo até a brigada para mostrar a sua fantasia. Baseado nos registros anteriores, esse ato tem muito significado. Ou talvez ela só quisesse dar as caras por aqui. Agora ela devia estar fazendo algo na sala, como treinar previsão do futuro com bolas de cristal ou algo assim.
 
   
  +
Joguei minha cabeça para frente, e me virei 85 graus para a esquerda, vendo Asahina-san de olhos fechados, e lábios entreabertos, deixando escapar um ruído suave dos lábios. O que diabos está acontecendo aqui?
   
  +
Os arbustos se mexeram repentinamente. Senti meu coração subir até a garganta, o que é isso?
   
  +
"Ela está dormindo?"
Tenho a impressão que o nível de comoção na escola aumentou significativamente durante esses dias. A cada vez que eu ouvia a camerata marcial praticando depois da aula, seus trompetes baratos cometiam menos erros. Havia pessoas cortando tabuas pelos cantos da escola. E um número crescente de pessoas fantasiadas com roupas estranhas começou a aparecer.
 
   
  +
Vindo de dentro dos arbustos, surge ninguém menos que... outra Asahina-san.
Mas, ainda assim era apenas um festival comum em uma escola municipal. Eu esperava um festival cultural sem nada de extremo ou fora do comum. Pelo que eu vi, talvez metade de corpo estudantil ainda não havia desistido de fazer alguma coisa divertida. Incidentalmente, nossa sala, a 1-5, já havia desistido de se divertir há tempos. Aqueles que não faziam parte de nenhum clube cultural provavelmente ficariam realmente entediados durante aquele dia. E aqui temos duas pessoas que poderiam facilmente representar o clube "direto para casa depois da aula", Taniguchi e Kunikida.
 
   
  +
"Boa noite, Kyon-kun".
"Falando em festivais culturais."
 
   
  +
Era a versão de luxo de Asahina-san. Uma jovem senhorita, mesmo assim, bem mais velha que a Asahina-san que dormia em meu ombro, e que havia crescido em todas as partes. Ainda assim continuava linda, e seu charme havia aumentado em pelo menos dez vezes. Eu já havia a encontrado antes, e como da última vez, ela vestia uma blusa branca, e uma minissaia azul bastante justa. Essa mulher agora caminhava em nossa frente.
Taniguchi disse.
 
   
  +
"Hee hee, olhando por esse ângulo".
É hora do almoço. Esses dois personagens coadjuvantes insignificantes e eu estamos cercados pelos nossos lanches.
 
   
  +
A Asahina-san adulta apertou as bochechas da Asahina-san que dormia, e então disse;
"Falando em festivais culturais?"
 
   
  +
"Ela parece apenas uma criança".
Kunikida replicou. Taniguchi exibia um sorriso cínico perturbador no rosto, que não tinha nenhuma chance contra o sorriso refinado de Koizumi.
 
   
  +
Olhando com nostalgia, Asahina-san (a grande), acariciou suavemente o uniforme de Asahina-san (a pequena).
"Um super evento."
 
   
  +
"Então é assim que eu era nessa idade?"
Não fale como Haruhi. O sorriso de Taniguchi foi subitamente arrancado de seu rosto.
 
   
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Ao sentir o hálito de Asahina-san (a pequena) em meu braço, não pude me mover, e permaneci parado como uma pedra, olhando fixamente para a Asahina-san (grande).
"Mas não tenho nada com isso. Na verdade isso me irrita."
 
   
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"A missão dela era o trazer até aqui, e desse ponto em diante, a minha função é de lhe guiar".
"Por que?" - Kunikida perguntou.
 
   
  +
Parecendo um idiota, perguntei a Asahina-san, que exalava uma aura de maturidade enquanto sorria.
"A visão de pessoas se divertido realmente me irrita. Especialmente se for um casal, o que me trás desejos homicidas. O que? Algum problema com isso?"
 
   
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"Uhm... o que é que..."
Acho que isso é o que podemos chamar de fúria cega.
 
   
  +
"Não posso explicar em detalhes, afinal, são todas informações confidenciais. Tudo que posso fazer agora é servir como sua guia".
"E o que tem com a nossa sala? Uma pesquisa? Há! Cha-to. Provavelmente envolve coisas como perguntar para as pessoas qual é a sua cor favorita, certo? Qual é a diversão em adquirir informações desse tipo?"
 
   
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Virei-me para olhar Asahina-san dormindo em meu ombro.
Porque você não mencionou a sua brilhante idéia? Talvez prevenisse Haruhi de mencionar toda aquela coisa sobre filmes.
 
   
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"Por isso que eu a fiz dormir, para não ser vista por ela".
Taniguichi engoliu uma salsicha com uma só mordida.
 
   
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"Mas por quê?"
"Nunca digo nada que vai de dar mais trabalho. Bem, eu podia dizer alguma coisa, mas não queria ser responsável por toda a bagunça."
 
   
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"Porque quando eu era ela, nunca me vi".
Kunikida concordou, enquanto cortava um pedaço do seu omelete enrrolado.
 
   
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Esse motivo parecia esclarecedor e confuso simultaneamente. A charmosa Asahina-san fechou um dos olhos e disse.
"As únicas pessoas que levantam as mãos e abrem a boca nesse tipo de situação são as que são facilmente influenciadas, ou que guardam algum senso de responsabilidade. Se ao menos Asakura ainda estivesse aqui."
 
   
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"Vá para o sul seguindo a linha do trem, até chegar a uma escola pública; Você poderia, por favor, ajudar a pessoa que está para fora do muro dessa escola? E você pode fazer isso agora? Se possível espero que não se importe de me carregar junto, não devo ser muito pesada".
Ele citou o nome da antiga colega que se mudara para o Canadá. Meu coração aumentava a pulsação e eu suava frio cada vez que ouvia o seu nome. Nagato podia ter apagado Asakura, mas eu fui a razão para que isso acontecesse. É claro que se Nagato não tivesse feito nada, seria eu que teria sido apagado, então não há motivos para me sentir mal com isso.
 
   
  +
Ela soava como uma aldeã daqueles RPG´s de videogame. Imagino a recompensa que ganharei fazendo isso.
"É, isso foi uma grande perda." - Taniguchi disse - " Minha AA+ foi transferida… não tenho sorte mesmo. Ela era a única coisa boa nessa sala. Droga, imagino se eles vão me deixar trocar de sala nessa época."
 
   
  +
"Recompensa? Bem..."
"E em que sala você queria ficar?" - Kunikida perguntou - "A sala da Nagato-san? Falando nisso, e u vi ela andando por ai ontem com uma roupa de mago. O que era aquilo?"
 
   
  +
A Asahina-san adulta elegantemente colocou a mão sob o queixo e pensou profundamente, então me deu um sorriso maduro.
Não me pergunte. Tenha certeza de que eu não sei.
 
   
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"Não tenho nada a oferecer para você, mas você pode me beijar enquanto eu estiver dormindo. Mas apenas enquanto eu estiver dormindo, entendeu?"
"Nagato, huh..."
 
   
  +
Que negócio mais atraente! Era exatamente nisso que eu estava pensando. A visão de Asahina-san dormindo era linda demais para que não me sentisse tentado a respeito, porém...
"Eu pergunto novamente, o que foi aquilo? Você e ela abraçados na sala… foi algo arquitetado provavelmente pela Suzumiya. Certamente foi alguma farsa feita para me surpreender, certo? Mas acredite, você não pode me enganar."
 
   
  +
"Isso é um pouco..."
Fiquei aliviado ao saber que ele arbitrariamente não entendeu a situação... espere, você não foi para a sala pegar algo que tinha esquecido? Como poderíamos saber que você apareceria – mas naturalmente, não vou manifestar essa opinião. Taniguchi é um idiota, e dizer a um idiota que ele é um idiota não tem nenhum propósito. È uma coisa boa ele ser um idiota, eu deveria estar agradecido.
 
   
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Não sei se era devido ao meu humor ou a essa situação estranha, mas acho que não era uma coisa apropriada para mim. Francamente, estava com raiva de mim mesmo por ser tão racional.
"De qualquer forma, isso é chato."
 
   
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"O tempo está acabando, eu devo ir agora."
Taniguchi se lamentou enquanto Kunikida se concentrou em sua comida. Eu olhei para trás. Haruhi não estava em sua mesa. Bem, imagino o que ela está tramando neste momento.
 
   
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Essa é a pista que você está me dando dessa vez?
   
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"Ah, sim, por favor, não a deixe saber que eu estive aqui. Vamos fazer um yubikiri [6]"
   
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6-[Nota do tradutor: Yubikiri é uma promessa feita unindo os dedos mindinhos, em geral é uma promessa de amizade feita por crianças.].
"Estava procurando um bom lugar para filmar ao redor da escola."
 
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Automaticamente levantei o meu dedo mindinho e o cruzei com o de Asahina-san (a grande). Posso continuar segurando por mais um minuto?
   
Haruhi me disse.
 
   
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"Até mais, Kyon-kun".
"Mas não consegui encontrar nenhum. Suponho que não conseguiremos filmar com todo esse marasmo. Vamos embora daqui."
 
   
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Asahina-san (a grande) disse com animação e caminhou em direção a escuridão, em pouco tempo ela já não podia ser mais vista.
Talvez ela não gostasse da atmosfera escolar. Mas o fato é que essa falta de energia não era razão para se esforçar em achar um lugar melhor. Aparentemente, o objetivo dela era tornar isso algo grande.
 
   
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"Então..." - resmunguei comigo mesmo. Será que encontrarei essa Asahina-san adulta novamente? Tenho a sensação que ela não mudou muito desde que me deu aquele conselho estranho da última vez que nos vimos.
"Huh... e-eu vou também?"
 
   
  +
Talvez essa Asahina-san tenha vindo de um plano temporal anterior a aquela que vi da última vez. Eu não entendi. E não acho que tinha como entender. Julgando pela situação que estou, é possível que encontre Asahina-sans de diversos períodos temporais.
Asahina-san perguntou em um tom temeroso.
 
   
"É claro. Não podemos fazer nada sem a estrela."
 
   
"N-n-nessas roupas!?"
 
   
  +
Asahina-san, a qual eu carregava nas minhas costas, não era necessariamente leve, mas também não era pesada. Era natural que meu passo diminuísse. Seu rosto angelical respirava levemente sobre meus ouvidos, de maneira quase criminosa. Até meu pescoço começou a coçar por causa da respiração dela.
Asahina-san tremia, forçada a vestir novamente a fantasia que Haruhi comprara ontem.
 
   
  +
Esquivei-me dos olhares dos outros pedestres (mesmo achando que não havia quase ninguém na rua esse horário), e rapidamente rumei para a direção que a Asahina-san adulta havia indicado. Acho que andei por uns dez minutos, e a quantidade dos pedestres da rua começava a diminuir conforme eu caminhava. Depois de virar uma esquina, finalmente cheguei ao nosso destino.
"É claro que sim."
 
   
  +
A escola média do leste. Já havia ouvido sobre esse lugar. Essa é a escola onde Taniguchi e Haruhi estudaram. E falando no diabo, uma silhueta familiar estava em frente aos portões da escola. Eu reconheci aquela pequena figura instantaneamente quando ela tentava escalar a cerca de metal.
Haruhi assentiu imediatamente. Asahina-san se segurou com um tom relutante.
 
   
  +
"Ei!"
"Não é um saco ficar se trocando toda hora? Alem do mais, talvez não tenha um lugar para se vestir por lá. Então é melhor estar usando a roupa o tempo todo, não? Certo? Vamos lá! Todo mundo!"
 
   
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Depois de gritar, percebi o quanto eu estava surpreso. Como eu poderia saber quem era essa pessoa? Era inacreditável demais. Olhei para as costas dela, e sua altura era bem menor, e seu cabelo negro não era tão longo e nem tão curto.
"Pelo menos me deixe vestir alguma coisa por cima."
 
   
  +
Mas é claro, só havia uma pessoa que eu conheço que iria invadir a escola no meio da noite.
O apelo de Asahina-san foi rebatido com um...
 
   
  +
"O que foi?"
"Não."
 
   
  +
Naquele momento finalmente estava começando a acreditar que estava frente à realidade de três anos atrás. Sem brincadeira, realmente parecia ter voltado três anos.
"Mas é muito constrangedor."
 
   
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Apoiada na cerca, a pessoa que se virou para mim realmente era mais nova do que a comandante da Brigada SOS que eu conhecia. Mas aquele par de olhos brilhantes não me enganava, aqueles eram realmente os olhos de Haruhi. Mesmo vestida casualmente com uma camiseta e um short, ela parecia igual para mim. Três anos atrás, acho que estávamos na quinta série do fundamental. Será que essa era a pessoa que Asahina-san queria que eu ajudasse?
"Você só está se envergonhando pois acha que é constrangedor! Você nunca vai ganhar um Globo de Ouro ''[6]'' assim!"
 
   
  +
"Quem é você? Um tipo de maníaco sexual? Um seqüestrador? Você parece realmente suspeito".
''6-[Nota do tradutor: os prêmios Globo de Ouro (inglês: "Golden Globe Awards") são entregues cada ano para homenagearem o cinema e a televisão norte-americanos.].''
 
   
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As lâmpadas embaçadas da rua nos banhavam com uma luz branca fraca. Não pude ler claramente a expressão de Haruhi. Sim Haruhi, aquela estudante de ensino fundamental, que me olhava com os olhos cheios de receio. Quem parecia ser mais suspeito aqui? Uma garota tentando pular a escola no meio da noite, ou eu que estava andando por ai carregando uma garota inconsciente? Realmente, não acho que essa seja uma pergunta que mereça algum crédito.
Não estávamos tentando ganhar o primeiro lugar da melhor atração do festival cultural?
 
   
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"Você é a pessoa suspeita aqui. O que está fazendo num lugar desses?"
Todos os membros da brigada estavam reunidos no clube hoje. Koizumi aparentemente resolveu os problemas com o roteiro da peça de sua sala, e atualmente está acompanhando a discução unidirecional entre Haruhi e Asahina-san. Nagato está aqui também. E aqui está um pequeno problema envolvendo Nagato.
 
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"O que mais eu estaria fazendo? Estou tentando invadir esse terreno, é claro".
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Não declare abertamente essas suas intenções criminosas, há um limite para a falta de vergonha!
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"Você chegou bem na hora. Não te conheço, mas se estiver livre, então me ajude em uma coisa! Ou eu vou chamar a polícia!"
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Sou eu que deveria estar chamando os policiais, mas prometi para a outra Asahina-san que ajudaria. Por outro lado, gostaria de saber por que a existência chamada Suzumiya Haruhi sempre arranja um jeito de se aproveitar de mim. Sou forçado a fazer esse tipo de coisa até mesmo nessa época?
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Haruhi saltou para o outro lado do portão e o destrancou pelo outro lado com uma chave. Onde diabos você arranjou essas chaves?
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"Roubei quando ninguém estava olhando. Foi muito fácil".
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Ela era realmente uma criminosa. Haruhi lentamente deslizou a porta de metal e acenou para mim. Andei em direção a aquela pequena garota, quer no futuro teria mais um menos uma cabeça de altura a mais do que tem agora. Tudo isso enquanto carregava Asahina-san apropriadamente.
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Ao lado da entrada da escola do leste, estava a pista de corrida. O complexo escolar ficava do lado oposto ao nosso. Haruhi então começou a caminhar diagonalmente pelo campo escuro.
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Era bom que estivesse escuro, assim ela não seria capaz de ver claramente o meu rosto ou o de Asahina-san. Daqui três anos, nunca passou pela cabeça de Haruhi que havia nos conhecido na quinta série. Então era melhor que as coisas continuassem assim, ou isto poderia se tornar uma grande dor de cabeça.
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Haruhi foi diretamente para o canto da pista de corrida, em direção ao deposito de equipamento. Dentro dele havia um carrinho de mão enferrujado e uma maquina de desenho com giz atrás de suas rodas, assim como alguns sacos de pó de giz.
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"Deixei isso escondido durante a limpeza do depósito hoje à tarde, bem esperto não é?"
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Ela sorriu com astúcia, e então começou a carregar o saco de giz, que era quase tão pesado quanto ela para o carrinho, e então puxou a sua alça. A maneira que ela puxava o carro me fez perceber o quão jovem ela era. Acho que esses estudantes do fundamental não são mais que crianças durante a 5ª série.
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Cuidadosamente coloquei a desacordada Asahina-san no chão, apoiando-a a parede do depósito, por favor, fique aqui sentada como uma boa garota até eu voltar.
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"Deixe-me fazer isso! Me entregue essa coisa, você leva a maquina de giz."
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Será que eu devia estar realmente a ajudando? Todo esse tempo fui escravizado por Haruhi, ela era como um andróide que entrava em frenesi e não parava até destruir tudo ao seu redor. Pelo jeito continuava igual, no passado ou no presente. Aparentemente a natureza de uma pessoa não muda assim tão facilmente em um espaço de três anos.
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"Siga as minhas instruções e desenhe as linhas. Sim, você mesmo! Afinal, eu preciso olhar de longe para não cometer nenhum erro. Ah! Você desenhou errado ali! O que pensa que está fazendo?!"
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Para sair por ai dando ordens para um rapaz do ensino médio que nunca viu na vida, sem ao menos hesitar, ficava claro que aquela tinha que ser a Haruhi. Se estivesse encontrando essa garota pela primeira vez, com certeza a acharia completamente insana.
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Se eu a conhecesse antes de encontrar Nagato, Asahina-san, e Koizumi, é claro.
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Seguindo as ordens de Haruhi, desenhei as linhas brancas ao redor da pista. Pelos primeiros trinta minutos, nenhum professor sequer apareceu, e nenhum carro da polícia deu as caras para investigar após receber queixas dos vizinhos.
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Será que as estranhas figuras simbólicas que Taniguchi disse terem aparecido na pista de corrida teriam sido feitas por ninguém menos que eu mesmo?
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Silenciosamente olhei para os padrões que me esforcei tanto para desenhar. Haruhi caminhou para o meu lado e pegou a maquina de desenho das minhas mãos. Então começou a desenhar algumas linhas a mais e disse;
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"Ei, você acredita que alienígenas existem?"
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Que pergunta mais súbita!
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"Acho que sim."
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A imagem de Nagato passou rapidamente pela minha cabeça.
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"E os tais viajantes do tempo?"
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"Hmm, não seria muito surpreendente se eles existissem."
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Para falar a verdade, nesse momento, eu mesmo sou um deles.
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"E que tal espers?"
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"Eles estão em todo o canto, não é?"
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De repente, pensei em numerosos pontos escarlates cruzando os céus.
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"E sliders?"
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"Não encontrei nenhum deles ainda."
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"Hmph."
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Haruhi deixou a maquina de lado, e esfregou o pó de giz para fora do seu rosto com o canto do ombro.
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"Hmm, isso deve dar."
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Comecei a me sentir desconfortável, será que disse algo que não devia ter dito? Haruhi olhou para mim e disse:
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"Esse é um uniforme do colégio médio do norte?"
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"Exatamente."
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"E qual é o seu nome?"
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"John Smith."
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".... você é um idiota por acaso?"
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"Não posso usar um pseudônimo de vez em quando?"
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  +
"E quem é aquela garota?"
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  +
"É a minha irmã. Ela sofre de uma doença chamada narcolepsia [7]. Ela tem sido assim já faz um tempo, caindo no sono de repente nas piores horas e lugares, é por isso que tenho de ficar carregando-a por ai."
  +
  +
7-[Nota do tradutor: Narcolepsia é uma condição neurológica caracterizada por episódios irresistíveis de sono e em geral distúrbio do sono. É um tipo de dissonia].
  +
  +
"Hmph."
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  +
Haruhi mordeu seus lábios, e se virou de costas, com uma expressão de descrença no rosto. Então, decidi mudar de assunto.
  +
  +
"Falando nisso, para que isso serve?"
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  +
"Você não percebeu? É uma mensagem."
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  +
"Para quem? Não me diga que é pra Hikoboshi e Orihime?"
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Haruhi me olhou com surpresa e retrucou;
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  +
"Como você sabia?"
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  +
"... bem, hoje é o dia do Tanabata. É que eu conheço uma pessoa que faz coisas desse tipo também."
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  +
"Sério!? Realmente gostaria de encontrar essa pessoa. Existe alguém assim no seu colégio?"
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"Sim."
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Na verdade, de hoje em diante, a única pessoa que faria esse tipo de coisas é você.
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"Hmm, a escola média no norte, huh..."
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Haruhi resmungou enquanto pensava profundamente. Ela ficou em silêncio por um tempo como um vegetal. Então se virou de repente, dando as costas para mim.
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"Estou voltando para casa. Acho que já fiz o que tinha que fazer. Até mais."
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Ela caminhou a passos largos. Nem uma palavra de agradecimento? Que rude, mesmo sabendo que Haruhi iria reagir assim nesse caso. Além do mais, ela não falou seu nome nesse tempo todo. Acho que é melhor assim.
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Não podemos ficar assim para sempre, então decidi acordar Asahina-san. É claro, não antes de devolver o carrinho e o pó de giz que Haruhi abandonara atrás do depósito.
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Dormindo como uma gata de rua. Asahina-san estava tão linda que estava tentado a fazer algo pervertido com ela, mas no final, eu resisti a essa provação e lentamente chacoalhei os seus ombros.
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"Uhm... huh. Eh?"
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Abrindo seus olhos, Asahina-san começou a olhar freneticamente ao seu redor.
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"EH!?"
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Ela gritou, então levantou aos saltos.
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"O, o, o... onde estamos? Por que? Que tempo é esse?"
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Como eu deveria respondê-la? Enquanto procurava um argumento válido. Asahina-san subitamente gritou, "AH!!!" mesmo no escuro, conseguia ver que seu rosto alvo se tornara ainda mais pálido do que o normal.
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Asahina-san tateou o seu corpo com ambas as mãos.
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"O TPDD... sumiu. Eu não consigo encontrar~~."
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Ela estava à beira das lágrimas, então depois de alguns instantes Asahina-san começou realmente a chorar. Ela era como uma criança perdida que esfregava as mãos pequenas sobre seus olhos úmidos. Mas agora não é a hora de admirar a sua beleza.
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"O é um TPDD?"
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*Soluça~~ "... isso é uma informação confidencial, eu não devia dizer isso... mas é algo como uma maquina do tempo. Eu a usei para chegarmos nesse plano temporal... mas não consigo a encontrar. Sem isso, não podemos retornar ao tempo de que viemos..."
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"Como você perdeu isso?"
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"Não sei... não era para eu o perder... mas realmente desapareceu."
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Pensei na outra Asahina-san, que estava mexendo em seu corpo há algum tempo.
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"Ninguém poderia aparecer e nos ajudar..."
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"Isso é impossível. Sob~~"
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Asahina-san me explicou enquanto choramingava, que todos os eventos ocorridos em um plano temporal estão pré-definidos, e se existe um TPDD, ele deveria estar com ela. Agora que ele sumiu, significa que sua perda era inevitável, e com isso havia sido decidido que "ela não mais o possui"... ou algo assim. O que isso deveria significar?
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"Em outras palavras. O que vai acontecer conosco agora?"
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*Soluço~~ "Isso significa que se as coisas continuarem assim, ficaremos presos nesse plano, e seremos incapazes de voltar ao nosso tempo original."
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Agora as coisas ficaram sérias! Pensando bem, de alguma forma não fico muito alarmado. A Asahina-san adulta nunca disse nada disso para mim. Então acho que ela foi quem pegou o tal de TPDD, e acabou criando toda essa situação. Deduzo que Asahina-san (a adulta) veio para o passado apenas para isso. Para aquela Asahina-san que veio de um futuro ainda mais distante do que essa Asahina-san, fazer isso era inevitável.
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Tirei meus olhos de Asahina-san, que soluçava nervosamente, e os centrei na pista de corrida, os padrões misteriosos que Haruhi pensou e que foram desenhados por mim, pareciam extremamente distorcidos. Os professores e alunos dessa escola entrariam em choque quando vissem isso pela manhã. Só espero que esses rabiscos não sejam uma maldição voltada aos alienígenas... quando pensava nisso, finalmente percebi uma coisa.
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Estava escuro, a escola estava apenas mal iluminada pelas lâmpadas opacas dos postes da rua. Como as linhas que desenhei eram tão grandes, não conseguiria ver as figuras se não recuasse um pouco antes de olhar.
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Por isso demorei tanto para descobrir.
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Tateei meus bolsos e peguei o tanzaku que Nagato havia me entregue. Nele haviam misteriosas formas geométricas desenhadas.
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"Deve ter um jeito de sairmos dessa."
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Quando disse isso, Asahina-san me olhou piscando confusamente, enquanto eu continuava estudando o tanzaku.
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Os padrões simbólicos desenhados nele, eram exatamente os mesmos da mensagem de Haruhi para as estrelas, a mensagem que ela e eu desenhamos na pista da escola não muito tempo atrás.
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Rapidamente fomos embora da escola intermediaria do leste, em direção ao luxuoso bloco de apartamento perto da estação.
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"Essa não é... a casa de Nagato-san?"
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"Sim. Eu não perguntei especificamente quando ela veio para a Terra, mas tenho certeza que ela estava aqui há três anos... eu acho."
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Fiquei parado em frente à entrada do prédio e apertei o botão para o apartamento 708. Um ruído continuo e estridente podia ser ouvido através do interfone, conseguia sentir o calor das mãos nervosas de Asahina-san segurando o meu braço. Então falei no fone.
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"Essa é a residência de Nagato Yuki?"
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" ... " - o interfone respondeu assim.
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"Uhm, eu não sei como posso dizer isso."
   
 
" ... "
 
" ... "
   
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"Sou um amigo de Suzumiya Haruhi... isso faz algum sentido para você?"
Ela estava sempre tão silênciosa que eu não quis dizer nada a respeito, mas ela continuava vestida estranhamente. Por alguma razão ela estava vestindo a roupa que nos mostrou ontem. Se você precisa vestir isso somente no dia do festival, então por que está com essa fantasia agora?
 
   
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Uma respiração surpresa podia ser ouvida pelo auto falante. Uma breve pausa, e então...
Haruhi aparentemente estava satisfeita em ver Nagato com o manto negro e chapéu pontudo.
 
   
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"Pode entrar."
"Vou mudar a sua personagem para 'maga alienígena malvada'!"
 
   
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Beep. O portão se abriu. Levei Asahina-san, que estava apavorada, até o elevador. Nós então chegamos ao sétimo andar, em frente ao apartamento 708, que já havia visitado uma vez antes. Empurrei levemente a porta que se abriu devagar.
Eu sabia, ela já está mudando o roteiro. Haruhi parecia bastante contente em ver Nagato segurando aquela antena com uma coisa que parecia uma estrela de natal presa na ponta. Enquanto observava Nagato segurando a varinha, achava mais difícil de acreditar que a calada amante dos livros era uma maligna maga extraterrestre. Bem, na verdade ela parecia se enquadrar mais neste papel do que no de um terminal de dados para formas de vida. Ela definitivamente tinha poderes mágicos. Eu vi com os meus próprios olhos. Não tenho nenhuma duvida quanto a isso.
 
   
  +
Ali estava Nagato Yuki em frente a porta. Tudo parecia tão surreal para mim. Era mesmo verdade que tínhamos viajado no tempo?
Nagato surpreendentemente levantou a aba do chapéu e me olhou com seus olhos sem vida.
 
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Nagato parecia exatamente a mesma de antes, o que me levou a dúvida sobre a veracidade dessa viagem no tempo. A maneira que ela vestia o mesmo uniforme do nosso colégio, e olhava para mim com aqueles olhos sem emoção, alem da aparente falta de calor corporal e de senso de existência não era nem um pouco diferente da Nagato que eu costumava conhecer. A única diferença entre elas é que a nossa Nagato parou de usar óculos recentemente, enquanto essa os usava como da primeira vez que eu a vi.
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"Ei!" - levantei o meu braço e dei um sorriso amistoso a ela. Nagato como sempre era um poço de emoções. Asahina-san se escondeu atrás de mim, tremendo sem parar.
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"Podemos entrar?"
   
 
" ... "
 
" ... "
   
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Nagato silenciosamente se virou em direção ao seu apartamento. Acho que ela nos deu permissão para entrar. Tiramos nossos sapatos e fomos até a sala de estar. Que por sinal estava igual a daqui três anos, o lugar permanecia vazio como da última vez. Nagato permaneceu parada ali esperando para que entrássemos. Sem escolhas, decidi explicar tudo para ela. Por onde eu posso começar? Pelo dia em que encontrei Haruhi pela primeira vez na escola? Essa é uma história extremamente longa.
Me perguntava se estava certo Haruhi usar arbitrariamente alguma fantasia de outra sala para o seu filme, mas os olhos dela estavam livres de questionamento.
 
   
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Suprimindo os detalhes, a dei um breve resumo do que aconteceu. Seus olhos sem emoção continuaram me fitando por entre as lentes dos óculos. Acho que passei uns cinco minutos explicando, apesar de pessoalmente achar que toda história envolvendo Haruhi não faz sentido nenhum.
"Kyon! Prepare a câmera! Koizumi-kun, você carrega as coisas para fora. Mikuru-chan, porque você está se agarrando na mesa? Vamos logo, se mexa!"
 
   
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"... e então, a você de três anos no futuro me deu isso."
A resistência pífia de Asahina-san durou mais alguns segundos. Haruhi então agarrou a fraca garçonete pela gola e a arrastou até a porta. Nagato as seguiu com seu manto se arrastando no chão. Koizuimi foi o último a desaparecer pelo corredor depois de piscar para mim.
 
   
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Nagato encarou o tanzaku que eu tirei do bolso, seus dedos passavam sobre os símbolos estranhos como se lessem um código de barras.
Imagino se deveria ir com eles...
 
   
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"Entendido."
"Ei! Não podemos fazer um filme sem o cameraman!"
 
   
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Nagato simplesmente abanou a cabeça. Era só isso? Espere, de repente pensei em algo que realmente estava me incomodando.
O torso de Haruhi passou pela porta aberta. Sua boca aberta tomou metade do rosto enquanto ela gritava. Percebi que na faixa no braço de Haruhi poderia ser lido "Super Diretora" o que só servia para me deprimir.
 
   
  +
Coloquei minha mão na testa e disse.
Parece que ela estava realmente séria quanto aquilo.
 
   
  +
"É verdade que conhecemos a Nagato já faz algum tempo, mas essa é você daqui três anos. Para você, essa é a primeira vez que nos vemos, certo?"
   
  +
Mesmo eu não entendia do que estava falando. Os óculos de Nagato brilharam enquanto ela respondia como se nada tivesse acontecido.
   
  +
"Sim."
A auto-proclamada super diretora - que apesar do nome ainda não havia filmado nada - liderou a caminhada, enquanto a bela garçonete a seguiu com os olhos fixos no chão. A bruxa de negro as seguia como uma sombra. Koizumi carregava um saco com um sorriso no rosto... e eu estava no fim da fila, tentando ficar o mais afastado possível daquele bando de malucos.
 
   
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"Então..."
Nós já éramos o centro das atenções enquanto caminhávamos pela escola, mas essa procissão, que mais parecia uma festa de dia das bruxas, também fazia um bom trabalho em atrair atenção fora dos limites da escola. Asahina-san, que já era o centro das atenções na escola, olhava para o chão em vinte porcento do tempo, corava em trinta porcento do tempo, e arrastava os pés como um robô nos outros cinqüenta porcento do tempo que sobravam na conta.
 
   
  +
"Obtendo permissão para compartilhar memória com a disparidade temporal. Adquirindo dados reversíveis do plano móvel temporal."
Haruhi animadamente cantarolava a melodia de "Heaven and Hell ''[7]''" como um desastre eminente se aproximando no horizonte. Não tinha idéia de onde ela tirou aquilo, mas Haruhi estava energicamente carregando um megafone amarelo na mão direita, e uma cadeira de diretor sob o braço esquerdo, como a cavalaria mongol rumando ao oeste pelas planícies. Enquanto eu imaginava o que iríamos pilhar, chegamos a estação de trem. Haruhi comprou passagens para todos e entramos. Então ela avançou em direção a cabine de bilhetes com um olhar prosaico no rosto.
 
   
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Que diabos é isso?
''7-[Nota do tradutor: uma música composta por John Entwistle para o The Who].''
 
   
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"O 'eu' que existe nesse plano temporal, e o 'eu' que existe no plano futuro, são essencialmente a mesma pessoa."
"Espere."
 
   
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E o que? Esse não é geralmente o caso? Mas não pode ser possível que a Nagato de três anos atrás possa compartilhar a memória com a Nagato de três anos no futuro.
[[Image:Sh_v02c02_02.jpg|thumb|''Eu fiz uma objeção em nome de Asahina-san, visto que ela tinha perdido sua habilidade de falar. Eu apontei para a garçonete de minissaia olhando inquisitivamente em todas as direções, e para a garota verticalmente desfavorecida vestida de preto ao lado dela.'']]
 
   
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"É possível."
Eu fiz uma objeção em nome de Asahina-san, visto que ela tinha perdido sua habilidade de falar. Eu apontei para a garçonete de minissaia olhando inquisitivamente em todas as direções, e para a garota verticalmente desfavorecida vestida de preto ao lado dela.
 
   
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Como você faz isso?
"Você vai fazer elas entrarem no trem vestidas assim?"
 
   
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"Sincronização."
 
   
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Uhm, ainda não entendi.
"Alguma coisa de errado nisso?" - Haruhi respondeu fingindo inocência - "Você pode ser preso se ficar correndo pelado por ai, mas elas estão vestidas. Por que não? Você prefere a roupa de bunny-gal? Me dissesse antes. Não me importaria em mudar para 'Coelinha de Combate (tentativa)' caso você quisesse."
 
   
  +
Nagato não respondeu, e lentamente tirou os óculos. Seus olhos sem emoção piscaram para mim. Esse era o rosto da garota devoradora de livros que eu conhecia. Essa era a Nagato Yuki que eu conhecia.
Não sei se você deveria dizer isso depois de arrastá-la por todo esse caminho com a roupa de garçonete... de qualquer forma, você não disse que esse era o conceito do filme? Eu não posso afirmar, mas você pode mudar o conceito principal assim?
 
   
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"Por que você está com o nosso uniforme? Você já começou a ir para a escola?"
Forcei meu cérebro a tentar entender pelo menos um lampejo dos pensamentos do criador.
 
   
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"Não, atualmente estou em modo de espera."
"O mais importante é se adaptar a situação. Foi isso que permitiu que a vida na terra evoluísse. É o principio adaptativo. Se você se descuidar, acaba sendo eliminado pela seleção natural. Você tem que se adaptar apropriamente!"
 
   
  +
"Espera... você pretende esperar pelos próximos três anos?"
Adaptar a quê? Se o ambiente tivesse uma mente própria, veria Haruhi sendo ejetada da atmosfera.
 
   
  +
"Sim."
Koizumi só sorria enquanto carregava as coisas. Nagato mantinha o silêncio como mencionado anteriormente. Aparentemente faltava a força necessária para Asahina-san falar. O que significa que todos estão mantendo suas bocas fechadas.
 
   
  +
"Isso é realmente..."
Queria que alguém fizesse algo a respeito disso.
 
   
  +
Uma demonstração de paciência. Você não acha isso muito chato? Nagato abanou a cabeça em negação e disse;
Haruhi provavelmente interpretou o silêncio de todos como um sinal de que todos estavam impressionados por suas palavras.
 
   
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"Essa é a minha missão."
"Venham, o trem está aqui. Ande rápido, Mikuru-chan. O verdadeiro trabalho ainda está por vir."
 
   
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Seus olhos límpidos olharam diretamente para mim.
Como uma detetive policial levando embora uma criminosa que cometeu um assassinato, ela colocou o braço sobre os ombros de Asahina-san e andou através do guichê de passagens.
 
   
  +
"Há mais de uma maneira de se mover pelo tempo."
   
  +
Nagato disse com uma expressão vazia.
   
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"TPDD é só uma ferramenta para controlar o espaço-tempo, e contêm incertezas e erros. Muitas teorias existem sobre a movimentação pelo continuo espaço-tempo."
E ali estávamos nós. Saímos da mesma estação de ontem, e rumamos para o mesmo distrito comercial. Estava começando a ter minhas suspeitas quando passamos pela mesma loja do dia anterior. A loja de eletrônica aonde Haruhi obtera a câmera.
 
   
  +
Asahina-san novamente se agarrou forte ao meu braço.
"Viemos, como eu prometi!"
 
   
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"Uhm... e o que isso significa?"
Haruhi gritou animadamente enquanto entrava na loja. O homem de meia idade apareceu do interior da loja e pousou os olhos sobre Asahina-san.
 
   
  +
"Usar o TPDD para transferir formas orgânicas através do tempo é possível, mas isso irá gerar interferências. Para nós, ela não é uma ferramenta ideal."
"Ho-ho."
 
   
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Quando você diz "nós", quer dizer a Entidade Senciente de Dados Integrados?
O sujeito olhou para a atriz principal como um sorriso no rosto, que só poderia ser considerado assédio sexual. Asahina-san estava completamente sem movimento como um personagem de um jogo de luta após usar um golpe especial. E o homem continuou a falar.
 
   
  +
"Nagato-san pode realizar um salto no tempo em sua forma completa?"
"Ela é aquela menina de ontem? Eu não a reconheci. Ho-ho. Estou contando com você."
 
   
  +
"Forma não é necessária. Já é o suficiente se uma viagem no tempo contiver os mesmos dados."
Contando com o quê? Eu estava no processo de avançar para defender a temerosa Asahina-san quando Haruhi me empurrou para trás.
 
   
  +
Ficar alternando entre o passado, presente, e futuro, hun?
"Ok. Vamos ter uma reunião agora, então me escutem."
 
   
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Se Asahina-san pode fazer isso, não me surpreenderia se Nagato também conseguisse. Afinal, ela possui os poderes adequados para tal tarefa. Comecei a pensar, que se comparada com Koizumi e Nagato, Asahina-san não fica meio fora do padrão?
E Haruhi fez o seu anúncio com o mesmo sorriso que deu depois de vencer a corrida entre os clubes escolares.
 
   
  +
"Tudo bem então."
"Vamos começar a filmagem do comercial!"
 
   
  +
Interrompi a conversa entre Nagato e Asahina-san, afinal agora não era hora de discutir a teoria e o funcionamento das viagens no tempo. A questão agora era como nós conseguiríamos voltar para o nosso futuro.
   
  +
Mesmo assim, a única coisa que Nagato fez foi dar um aceno com a cabeça e dizer;
   
  +
"Isso pode ser feito."
"Es-essa loja... uhm... tem um dono bem amigável. Ele é um cara legal. A loja tem estado por aqui desde a época do avô de Eijirou-san. Eles vendem de tudo, desde baterias até geladeiras, uhm... e também, um..."
 
   
  +
Ela se levantou e abriu a porta de papel para o quarto adjacente a sala de estar.
A garçonete Asahina-san lia forçadamente com uma voz mortificada e um sorriso forçado no rosto. Nagato estava ao seu lado segurando uma placa com "Oomori Eletrônica" escrito. Eu observei as duas pelo visor da câmera.
 
   
  +
"Aqui."
Asahina-san estava com um sorriso impressionantemente desastrado no rosto. E segurava um microfone que não estava ligado em coisa alguma.
 
   
  +
Era um quarto no estilo japonês, forrado com tatami [8], na verdade, não existia nada no quarto a não ser o tatami. Parecia realmente solitário, como esperado da casa de Nagato. Eu podia entender isso, mas porque ela nos trouxe a esse quarto? Tem uma maquina do tempo escondida aqui? Quando estava prestes a soltar toda essa torrente de questionamentos, Nagato nos trouxe um futon do armário e o colocou no chão. Ela até trouxe um par de travesseiros junto.
Koizumi estava segurando as placas com as falas com o seu sorriso usual no rosto. As placas eram apenas folhas de papel que Haruhi escrevera momentos atrás, sem pensar muito. Koizumi virava as páginas enquanto Asahina-san as lia.
 
   
  +
8-[Nota do tradutor: Tatame, que significava originariamente "dobrado e empilhado", é o piso tradicional japonês. O tatame tradicional é feito de palha de arroz prensada revestida com esteira de junco e faixa preta lateral. Seu formato e tamanho são padronizados. É o piso das áreas secas de uma residência e serve de medida para os cômodos.].
Estávamos em frente à loja, no distrito comercial.
 
   
Haruhi se inclinou para trás na cadeira de diretor com suas pernas cruzadas, enquanto observava a atuação de Asahina-san com um olhar de concentração intensa no rosto.
 
   
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"Espero que seja só a minha imaginação... mas você não está pedindo para dormirmos aqui, está?"
"Ok, corta!"
 
   
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Nagato carregava os travesseiros enquanto olhava para mim. Asahina-san e eu podíamos ser vistos claramente refletidos em suas pupilas cristalinas.
Ela bateu com o megafone contra a palma da mão.
 
   
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"Sim."
"Não há nenhuma emoção nisso. Porque você não entende? Não tem aquela sensação de 'é isso!' na sua interpretação."
 
   
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"Aqui? Com Asahina-san? Nós dois?"
Ela mordia as unhas enquanto falava.
 
   
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"Sim."
Pasmo, parei de filmar. Asahina-san, que se agarrava ao microfone também parou o que estava fazendo. Nagato continuava imóvel. E para variar, Koizumi apenas sorria.
 
   
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Olhei de relance para o meu lado e vi Asahina-san com um olhar envergonhado, sua face corava furiosamente. Acho que já esperava por esse tipo de reação.
Atrás de nós, as pessoas do distrito comercial cochichavam com curiosidade.
 
   
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Mas Nagato não parecia nem um pouco preocupada.
"Mikuru-chan, sua expressão ainda está muito travada. Seu sorriso precisa ser mais natural. Pense em coisas felizes, sim, você não está se sentindo alegre agora? Sabia que você foi escolhida a dedo para ser a estrela desse filme? Você nunca vai experimentar algo mais feliz em sua vida!"
 
   
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"Agora durmam."
Eu realmente queria dizer a ela; pare de ser imbecil!
 
   
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Não seja tão direta!
Se tivesse que resumir a conversa de Haruhi com o gerente ontem, provavelmente seria algo assim.
 
   
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"É só dormir."
''"Vou fazer um comercial para essa loja no meu filme, então me dê uma filmadora."''
 
   
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Sigh... é isso que pretendo fazer então. Troquei olhares como Asahina-san, e ela corou novamente, então dei de ombros. Viemos atrás de ajuda de Nagato, se ela está nos mandando dormir, então vamos dormir! Se acordarmos no nosso tempo, então essa vai ter sido uma solução um bocado simples.
''"Claro."''
 
   
  +
Nagato desligou a o interruptor e começou a murmurar alguma coisa. Ela não estava nos desejando uma boa noite, estava? A lâmpada enfraqueceu e se por fim se apagou.
Tenho certeza que tem algo errado com o gerente que se deixa levar pelas palavras dela, mas definitivamente tem algo ainda mais errado com Haruhi se ela planeja fazer um filme caseiro com comerciais. Eu nunca ouvi falar de uma atriz principal que atuou em um comercial no meio de um filme. Eu não me importaria em colocar um logotipo no cenário durante algumas cenas do filme, mas nesse exato momento estamos filmando um comercial, e não um filme.
 
   
  +
Tenham uma boa noite! Me deitei e puxei o cobertor sobre o meu corpo.
"Entendi!"
 
   
Haruhi gritava sozinha. Por favor, você pode parar de ter essas revelações súbitas?
 
   
"É um pouco estranho para uma garçonete estar um uma loja de eletrônicos."
 
   
  +
No momento seguinte, as luzes se acenderam novamente. A lâmpada fluorescente piscou lentamente até se estabilizar. Huh? Que sensação estranha é essa? A janela nos mostrava o mesmo céu noturno de antes.
Não foi você que comprou a fantasia?
 
   
  +
Me sentei sobre o futon [9], Asahina-san também se sentou, agarrada em seu travesseiro.
"Koizumi-kun, me passe aquela sacola, a pequena."
 
   
  +
9-[Nota do tradutor: Um futón é um tipo de colchão usado na cama tradicional japonesa. Os futons japoneses são baixos, com cerca de 5 cm de altura e têm no interior algodão ou material sintético. Vendem-se conjuntos no Japão que incluem o colchão (shikibuton), o edredão (kakebuton) e a almofada (makura). Estas almofadas enchem-se com feijão verde, trigo negro ou peças de plástico].
Haruhi tomou o saco de papel das mãos de Koizumi e agarrou a mão de Asahina, que parecia estar distraída. Então ela invadiu a loja.
 
   
  +
Seu rosto inocente e infantil parecia confuso, me olhando com olhos questionadores, mas é claro que eu não saberia responder as suas questões.
"Gerente! Você tem um lugar aonde ela possa se trocar? Sim, qualquer lugar serve, até o banheiro. Sério? Então vamos usar o seu depósito."
 
   
  +
Nagato estava ali parada como antes, ligando o interruptor.
Ela disse aquilo, e então desapareceu dentro da loja com Asahina-san. Parecia que a pobre garota não tinha mais forças para resistir, pois ela obedientemente se deixou levar pela força descomunal de Haruhi. Acho que ela poderia fazer qualquer coisa, se isso significasse se livrar daquela fantasia.
 
   
  +
Tinha uma sensação que aquela não era a Nagato de sempre, era como se tivesse alguma emoção dentro dessa. Olhei atentamente para aquele rosto pálido, e parecia que ela queria dizer alguma coisa que conflitava com o seu coração. Se não tivesse observado seu rosto por algum tempo, não teria percebido. Posso garantir que isso não é apenas a minha imaginação.
O resto de nós; Koizumi, Nagato e eu, ficamos lá parados sem nada para fazer. Nagato, em suas vestes negras, não se moveu um milímetro da sua posição de seguradora da placa. Ela apenas olhava fixamente para a filmadora. Estou surpreso por ela não ter se cansado disso ainda.
 
   
  +
Um som de espanto podia ser ouvido do meu lado. Me virei e encontrei Asahina-san olhando o relógio digital em seu pulso direito.
Koizumi sorriu para mim.
 
   
  +
"Eh? Será mesmo? ... eh? Isso é realmente verdade?"
"Parece-me que eu não vou aparecer muito nesse filme. Você sabe, eu estou atuando também na peça da nossa sala. Tudo foi decidido democraticamente. Isso significa que ainda estou lutando para memorizar as minhas falas. Eu preferiria um papel nesse filme com o menor número de falas possível... o que você acha? Que tal você fazer o papel principal?"
 
   
  +
Dei uma olhada em seu relógio, seria esse o infame TPDD?
Em todo caso, Haruhi é quem tem autoridade sobre o elenco. Dirija seus pedidos a ela.
 
   
  +
"Não, é só um relógio digital automático."
"Você acredita que sou capaz desta incrível tarefa? Eu, um mero ator, não poderia ir fazer exigências a produtora, que por acaso, também é a diretora. Afinal, as ordens de Suzumiya-san são absolutas. Eu não imagino o tipo de punição que receberia se eu a desobedecesse."
 
   
  +
E nem eu. Não é por isso que eu sou o cameraman? E para piorar, nem estamos filmando um filme, apenas um comercial local para uma loja particular. O conceito de ser um bom vizinho já chegou longe demais.
 
   
  +
Você diz que isso é um daqueles relógios que se sincronizam sozinhos com o tempo correto? Asahina-san sorriu para mim e disse;
A cena caótica de sempre provavelmente acontecia nos fundos da loja agora. Haruhi arrancava as roupas de Asahina-san, enquanto ela implorava por clemência. Não sei que tipo de fantasia ela estaria colocando, mas aposto que Haruhi podia vestir a roupa no lugar dela. Na verdade, será que ela nunca considerou a possibilidade de ser a estrela do filme?
 
   
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"Nós voltamos. Nosso tempo de origem era sete de julho... logo depois das nove e meia da noite. Que alivio..."
"Desculpem a demora!"
 
   
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Ela soltou um suspiro de alivio do fundo da alma.
Do par que voltava dos fundos, Haruhi naturalmente permanecia em seu uniforme.
 
   
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Em frente a porta, estava a Nagato que conhecíamos. Se tivéssemos de distinguir entre essa e aquela que ainda usava óculos, essa Nagato Yuki era aquela que tinha se suavizado um pouco. Vendo ela três anos depois, finalmente compreendi. Essa Nagato em nossa frente realmente havia mudado um pouco desde nosso primeiro encontro no clube de literatura, antes mesmo de Haruhi fundar a brigada. Essa mudança era tão pequena, que provavelmente nem ela mesmo havia percebido.
A aparição da outra pessoa desencadeou uma exibição de imagens na minha mente. É, já foram seis meses. Como o tempo voa. Certamente muitas coisas aconteceram nesse meio tempo. Baseball, uma ilha remota, e todos os tipos de coisas. Elas são apenas memórias tenras agora... como é possível?
 
   
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"Mas como você fez isso?"
A nostálgica primeira fantasia de Asahina Mikuru, que Haruhi também vestira no portão da escola. A roupa que não cobria muita coisa, e que se tornou assunto da escola toda, e por conseqüência deixou Asahina-san emocionalmente abalada.
 
   
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Nagato explicou para Asahina-san, sem demonstrar emoção alguma.
A perfeita bunny-gal, com bochechas coradas e olhos úmidos, estava parada envergonhadamente ao lado de Haruhi, com sua orelhas abanando.
 
   
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"Congelamento seletivo dos dados liquefeitos com conexão com o espaço-tempo, preservando-o até o destino apropriado no continuum espaço-tempo conhecido, e então o descongelamento dos dados."
"Absolutamente perfeita. Acho que uma bunny-gal é perfeita para promover um produto."
 
   
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Ela disse esses termos abstratos, então fez uma pausa e acrescentou.
Haruhi disse incompreensivelmente enquanto olhava Asahina-san com um olhar satisfeito. Asahina-san parecia completamente miserável, era como seu espírito estivesse escapando pela boca entreaberta.
 
   
  +
"E é apenas isso."
"Venha, Mikuru-chan. Vamos começar novamente. Acredito que você já tenha decorado as suas falas. Kyon, rebobine para o começo."
 
   
  +
Asahina-san tentou se levantar, mas seus joelhos cederam, e ela se ajoelhou novamente.
Nesse ponto, acredito que ninguém vai estar mais ouvindo nada. Estou certo de que todos terão seus olhos colados em Asahina-san. Espero que os olhares vidrados dos espectadores não façam um buraco na tela.
 
   
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"Não pode ser... isso é impossível... Nagato-san, você..."
"Tomada dois!"
 
   
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Nagato permaneceu em silêncio.
Haruhi gritou, e deu uma batida em seu megafone.
 
   
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"Tem alguma coisa errada?" - perguntei.
   
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"Nagato-san parou o tempo aqui dentro. Ela provavelmente esteve esse tempo todo aqui dentro, enquanto estávamos congelados, até hoje, quando ela descongelou o tempo...
  +
certo?"
   
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"Sim." - Nagato respondeu com um aceno de cabeça.
O comercial da loja de eletrônicos foi estrelado por uma Asahina que estava entre o sorriso e o choro, a qual foi manipulada por Haruhi até o final. Era como ver um lutador estrangeiro sendo manipulado por um empresário maléfico.
 
   
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"Isso é incrível, a capacidade de parar o tempo... wah~"
Mas agora, algo me lembrou que tínhamos visitado outro patrocinador mais cedo. Acho que ninguém precisava ter lembrado disso. Para começar, Haruhi planejava fazer outro comercial para aquele patrocinador.
 
   
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Asahina-san tombou exausta enquanto suspirava.
Haruhi caminhava pelo centro comercial arrastando a coelhinha Asahina-san, que volta e meia deixava escapar alguns "Ah~!" and "Kyaa~!" bonitinhos. A seguindo de perto como um fantasma estava Nagato, que andava sem expressão em suas vestes negras. Koizumi e eu as seguiam a paisana.
 
   
  +
Acho que voltamos a salvo para o nosso presente. Tenho certeza disso só de olhar para a reação de Asahina-san, ela é o tipo de pessoa que deixa transparecer as preocupações no seu rosto. Mas enfim, acredito que voltamos de três anos atrás e o tempo esteve parado até agora. Nesse momento posso tolerar quase qualquer coisa, não importa o que seja, eu posso aceitar sem problemas. Tudo bem... mas ainda tem uma coisa que me incomoda.
Meu blazer estava sobre os ombros de Asahina-san, em uma tentativa vã de conforta-la, mas talvez isso só aumentasse a atenção sobre ela. Afinal, esse mundo é cheio de pessoas com gostos estranhos. E que fique claro que estes não são os meus gostos.
 
   
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Essa não era a primeira vez que visitei a casa de Nagato. Ela já havia me convidado uma vez, a mais de um mês atrás, mas daquela vez, eu só tinha visto a sala de visitas e não entrei nesse espaço, que na verdade nem tinha ciência que existia. Então... uhm, em outras palavras, o que está acontecendo aqui?
Chegamos na segunda parada, a loja de modelos, e então houve uma repetição dos últimos procedimentos. Com toda a atenção sobre ela, Asahina-san virou seus olhos cheios de lágrimas para mim – em outras palavras, para a camera – e falou.
 
   
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Olhei para Nagato, que me devolveu o olhar.
"Es-essa loja de modelos foi aberta ano passado por Yamatsuchi Keiji, 28 anos, depois dele deixar a vida de trabalhador burocrata... para perseguir os seus sonhos... as vendas não estão indo tão bem quanto ele gostaria. A taxa de crescimento desse primeiro semestre é de apenas oitenta porcento do primeiro semestre do ano passado. A linha desse gráfico está indo para baixo.. então, é por isso... que vocês por favor, devem vir dar uma olhada aqui!"
 
   
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... em outras palavras, quando eu a visitei pela primeira vez, e ouvi aquela historia envolvendo explosões de dados, havia outro "eu" dormindo na sala ao lado.
A voz tremula de Asahina-san dava a entender que ela não tinha a menor idéia do que estava falando. Nesse ponto, será que o gerente Yamatsuchi estava de acordo com esse discurso? Acho que isso só serviu para deprimi-lo. Quem gostaria de ser julgado assim por uma estudante de ensino médio?
 
   
  +
Era isso que havia acontecido? Bem, pelo menos é a coisa mais correta segundo a dedução lógica.
A bunny-gal estava apontando o rifle que haviam jogado em suas mãos para cima.
 
   
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"Sim." - Nagato respondeu. Me senti tonto de repente.
"Você não deve atirar em pessoas com isso! Use para atirar em latas vazias ou algo assim!"
 
   
  +
"... isso significa que você sabia o que iria acontecer quando me encontrou pela primeira vez? Incluindo a minha existência e os eventos de hoje?"
Nagato estava ao seu lado com uma placa que dizia "Loja de modelos Yamatsuchi", com uma expressão fixa em seu rosto. Era uma visão surreal. Como Asakura Ryouko parecia ser uma pessoa normal com sentimentos, assumo que nem todos os humanos artificiais feitos pelos aliens agem como robôs. Será que a falta de emoções de Nagato foi só uma escolha de design?
 
   
  +
"Sim."
Asahina-san apontou o rifle para latas vazias no chão e abriu fogo.
 
   
  +
Pela minha perspectiva, a primeira vez que encontrei Nagato foi durante o começo das aulas, quando Haruhi fundou a Brigada SOS. Porém, Nagato já havia me encontrado no Tanabata, três anos atrás. Para mim, isso havia acontecido a não muito tempo, mas para ela, já haviam se passado três anos. Acho que estou enlouquecendo.
"Ah! Acho que isso vai machucar bastante se acertar você! Ahhh~~!!!"
 
   
  +
Asahina-san e eu olhávamos chocados para essa súbita mudança no curso dos eventos. Sempre soube do que Nagato era capaz, mas nunca achei que ela pudesse parar o tempo. Nesse caso, isso não a faz mais incrível que a própria mulher maravilha?
Ela até mesmo demonstrou uma patética performance de tiro, transformando latinhas de alumínio em peneiras. A demonstração de tiros causou uma comoção entre os pedestres. Mesmo assim sua precisão não passava de dez porcento.
 
   
  +
"Isso não é verdade." - ela abnegou meus elogios com humildade - "Foi uma exceção especial. Uma emergência. A não quer que o caso seja muito importante, esse método raramente é utilizado."
De certa forma eu me sinto culpado em gravar uma coisa dessas. Acho que devo me desculpar com Asahina-san e com a pessoa que inventou essa tecnologia. Estou certo de que ele não inventou as câmeras de vídeo para filmar uma porcaria dessas.
 
   
  +
E nós somos considerados "muito importantes".
Então, terminamos por hoje assim que os comerciais estúpidos acabaram.
 
   
  +
"Muito obrigado, Nagato."
Retornamos momentaneamente para a escola e esperamos no clube, enquanto Haruhi nos informava a programação para o estágio seguinte da filmagem.
 
   
  +
Decidi a agradecer primeiro, acho que isso era o mínimo que eu poderia fazer.
"Amanhã é sábado e temos o dia livre, então nos encontraremos de manhã. Estejam em frente à estação de Kitaguchi as nove. Entenderam!?"
 
   
  +
"Isso não importa."
Incidentalmente, cabe dizer que os comerciais já haviam consumido quinze minutos do tempo. Qual seria a duração atual do filme então? Se você apresentar um épico de três horas em um festival cultural, ninguém vai ficar lá até o final. E duvido que tenhamos orçamento para isso.
 
   
  +
Nagato balançou a cabeça de forma fria, então me entregou o tanzaku com as estranhas formas geométricas desenhadas. Percebi que a qualidade do papel havia piorado muito, afinal, ele havia sido deixado ali por três anos.
Eu pensava nisso enquanto observava uma desencorajada Asahina-san. Ela fora forçada a vestir a roupa de garçonete na ida, e agora tinha de usar a fantasia de bunny-gal durante a viagem de volta, e só na escola havia sido autorizada a colocar seu uniforme de volta. Ela caiu sem vida no chão. Nesse ritmo, acabaremos vendo a atriz principal desmaiar durante as filmagens.
 
   
  +
"Ah sim, os símbolos no tanzaku, o que eles significam?"
Eu acabei de beber o chá que Koizumi fez no lugar de Asahina-san, que por sinal estava exausta, com sua cabeça estirada sobre a mesa.
 
   
  +
Perguntei casualmente. Não acho que alguém pode ter entendido os símbolos sem sentido desenhados por Haruhi, então acho que tudo isso deve ter sido uma grande piada.
"Ei, Haruhi, não podemos fazer nada sobre a roupa de Asahina? Tem que ser algo que pareça mais algo que se pode usar em uma luta. Como um uniforme de combate, ou roupas camufladas."
 
   
  +
"Eu estou aqui."
Haruhi apontou para mim com a antena com uma estrela na ponta, em tom reprovatório.
 
   
  +
Nagato respondeu. Estava ficando irritado com toda essa situação.
"Isso vai matar a surpresa quando a luta começar. Uma garçonete lutando tem todo um fator surpresa. Agarrar a atenção do público é a chave. É tudo uma questão de conceito. Entendeu, conceito!"
 
   
  +
"Isto era o que estava escrito."
Ela realmente sabe o que conceito significa? Infelizmente eu posso apenas suspirar por uma coisa dessas.
 
   
  +
Estou ficando cada vez mais confuso.
"Tá... acho que funciona, mas qual é o sentido dela vir do futuro? Realmente importaria se ela não fosse uma viajante do tempo?"
 
   
  +
"Esses símbolos e desenhos como os de Nazca [10] são algum tipo de linguagem alienígena?"
Os ombros de Asahina-san tremeram violentamente enquanto ela estava estendida sobre a mesa. Haruhi não percebeu, e obviamente não abriria mão da idéia.
 
   
  +
10-[As linhas de Nazca são geóglifos de enormes dimensões localizados no deserto de Nazca, no altiplano do Peru. Criados pelo povo de Nasca entre os séculos III a.C e VIII, estes geóglifos representam centenas de figuras, incluindo imagens estilizadas de animais como macacos, beija-flores ou lagartos, traçados no solo plano do deserto, em linhas se constituem em extensas esteiras de pedras não muito grandes catadas dos arredores.].
"Podemos trabalhar nisso depois. Quando alguém reclamar poderemos começar a nos preocupar."
 
   
  +
Mas Nagato não respondeu essa pergunta.
E eu não reclamei? Me dê logo uma resposta.
 
   
"Se você não pode responder, apenas os ignore! Não é como se isso importasse. É só para ser divertido."
 
   
Claro que para você é, mas quais são as chances do filme em si ser divertido para as outras pessoas? Não há sentido em filmar algo que só agrade ao diretor. Você está querendo ganhar a Framboesa de Ouro ''[8]'' na categoria amadora?
 
   
  +
Asahina-san e eu deixamos à casa de Nagato e andamos sob o céu estrelado.
''8-[Nota do tradutor: é um prêmio cinematográfico, paródia do Oscar, que premia só os piores filmes produzidos ao longo de um ano].''
 
   
  +
"Asahina-san, tem algum motivo para você me mandar pro passado?"
"O que é isso? Eu só estou atrás de uma coisa, o primeiro lugar na enquete de melhor atração do festival! E se possível um Globo de Ouro. É por isso que precisamos vestir Mikuru-chan corretamente, ou as pessoas irão reclamar!"
 
   
  +
Ela fez o seu melhor para pensar em uma resposta, então levantou a cabeça e disse em um tom suave;
Duvido que alguém irá reclamar. De qualquer forma, parece-me que ver aquele filme deixou Haruhi furiosa com qualquer um que tenha ganhado um Globo de Ouro.
 
   
  +
"Me desculpe. Eu... bem... uhm... não estou muito certa... é que eu sou como... a interface final... não, o fundo... não, eu sou mesmo uma amadora."
Suspirei novamente e olhei para o lado. Envolta em preto, Nagato estava parada no canto da sala, engajada em sua leitura usual. É, será que ela vai morrer se não ler nada enquanto está nessa sala?
 
   
  +
"Mesmo assim, você está ao lado de Haruhi."
"Espere."
 
   
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"Mas nunca pensei que ela me pegaria para criar o clube."
Percebi algo enquanto observava a alien amante dos livros.
 
   
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Ela fez uma cara de descontentamento e falou. Asahina-san, sabia que você também fica linda com esse tipo de expressão?
"Nós ainda não temos o roteiro."
 
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"Só estava seguindo ordens... dos meus superiores, ou de alguém de um posto ainda mais alto. Então nem eu mesmo sei o significado das coisas que estou fazendo."
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Olhando para a corada Asahina-san, pensei comigo mesmo, será que esse superior não poderia ser ninguém menos que a Asahina-san adulta? Era uma especulação sem bases, mas afinal elas eram as únicas viajantes do tempo que eu conhecia, então não acho que podia ser culpado por pensar assim.
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"Entendo."
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Chacoalhei a cabeça e resmunguei.
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Sim, eu ainda não compreendo a situação toda. Se a Asahina-san adulta apareceu para me dar uma pista, afinal ela devia saber o que acontecia conosco. E ela nunca havia contado nada disso para a nossa Asahina-san. Afinal, que diabos estava acontecendo?
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"Hmm..."
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Não tenho por que esquentar a cabeça com isso. Se ela não entende o que está acontecendo, não sou eu que vou entender. Nagato disse que existe mais de uma maneira de viajar no tempo. Os viajantes de tempo do futuro devem ter suas próprias regras, não é? Espero que alguém as explique para mim algum dia, então estará tudo acertado.
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Separei-me de Asahina-san na estação. Sua figura pequena mais uma vez me agradecera, e fora embora como se estivesse carregando uma grande culpa. Depois que a perdi de vista, também fui para casa, até perceber que esquecera a mala na sala do clube.
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No dia seguinte, oito de julho, pelo menos para a minha consciência era realmente o dia seguinte, mas para meu corpo era como se três anos e um dia tivessem se passado sem eu ir para a aula. Fui para escola de mãos vazias, diretamente para a sala do clube, então voltei para a sala após recuperar a minha mala. Aparentemente Asahina-san havia aparecido antes de mim, pois não via a sua mala em lugar nenhum.
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Chegando na sala, vi Haruhi sentada ali, olhando concentrada para fora da janela, como se esperasse atentamente a chegada de alienígenas ou algo do gênero.
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"O que aconteceu? Você parece deprimida desde ontem. Andou comendo algum cogumelo venenoso?"
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Falei com ela e então me sentei. Haruhi deu um suspiro intencional e respondeu.
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"Não é nada. Só estava meio melancólica pensando no passado. Algumas lembranças minhas sobre o Tanabata"
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Desisti logo de uma vez. Quais eram as suas memórias?... bem, sobre isso eu não perguntei.
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"Entendo."
   
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Haruhi virou a cabeça e continuou a observar as mudanças nas nuvens. Dei de ombros. Não tinha intenções de acender o pavio dessa bomba. Acho que qualquer um com o mínimo de bom senso faria o mesmo.
Na verdade, nem sabemos sobre o que a história é. Tudo que sabemos é que Asahina-san é uma garçonete do futuro, Koizumi é um esper, e Nagato é uma maga alien do mal.
 
   
"Não se preocupe."
 
   
Não tinha idéia do que Haruhi queria dizer, mas subitamente ela apontou para a própria cabeça com a antena com a estrela na ponta.
 
   
  +
Depois da aula, o clube de literatura se tornara mais uma vez a base oculta da Brigada SOS.
"Está tudo aqui. O roteiro, o storyboard, estão todos prontos. Você não precisa pensar em nada. Só vai precisar cuidar da câmera."
 
   
  +
Haruhi só disse, "Joguem o bambu fora, ele é inútil agora." - e então foi embora. A faixa de "comandante" parecia solitária jogada sobre a mesa. Sigh, aposto que amanhã ela vai voltar a ser a garota excêntrica de sempre, nos pedindo para fazer todo o tipo de coisas impossíveis. Afinal, ela é esse tipo de pessoa.
Palavras fortes. A verdade é que você é que deveria evitar pensar e apenas olhar para fora da janela sem nada na cabeça. Se você tivesse uma expressão mais razoável no rosto, poderia trocar de lugar com Asahina-san sem nenhum problema.
 
   
  +
Asahina-san também não estava lá. Só Nagato Yuki permanecia na sala, alem de mim e de Koizumi, que jogávamos xadrez. Fui incapaz de resistir a sua vontade de me "evangelizar" no mundo do xadrez, e acabei concordando em aprender o jogo.
"É amanhã. Amanhã! Todo mundo se prepare. O primeiro passo para a glória é resistência espiritual. Essa é a maneira mais rápida de alcançar a vitória sem gastar dinheiro. Uma vez que suas almas quebram os elos mundanos, habilidades latentes desconhecidas acordarão, e liberarão um poder incrível. É isso mesmo!"
 
   
  +
Achei que Koizumi começou a jogar xadrez porque era horrível no Othelo, mas acho que eu estava errado. Ele é péssimo no xadrez também.
Bem, eu posso ver que o rumo de uma batalha é alterado por um acontecimento inesperado em uma dessas revistas em quadrinhos, mas tenho certeza que não importa o quanto você fale sobre resistência do espírito e nacionalismo, ainda estaremos longe de testemunhar a seleção japonesa de futebol vencer uma Copa do Mundo.
 
   
  +
Capturei um dos peões de Koizumi com meu cavalo, enquanto encarava Nagato, que olhava atentamente para o tabuleiro com seu rosto vazio.
"Isso é tudo por hoje! Esperem por amanhã! Kyon, não esqueça de trazer a câmera, acessórios, fantasias, e outras coisas. Tenha certeza que vai chegar na hora!"
 
   
  +
"Diga, Nagato, eu não entendi nada ainda. Asahina-san é realmente do futuro?"
E após ter dito isso, Haruhi deixou a sala, balançando a mala heroicamente. Eu podia ouvir a música tema de "Rocky" desaparecendo no corredor. Olhei amargamente para aquela pilha de imbecilidades. Imagino para que sindicato eu deveria reclamar sobre a opressão da nossa diretora.
 
   
  +
Ela balançou lentamente a cabeça.
   
  +
"Sim."
   
  +
"Mas eu sinto certo paradoxo em ir para o passado e então voltar para o futuro."
O fato era o seguinte: a nossa vida escolar até esse dia consistia de acontecimentos comuns do dia a dia, com exceção da paixão anormal de Haruhi por fazer esse maldito filme. Mas se você fosse a cada escola do país, provavelmente encontraria pessoas fazendo exatamente a mesma coisa. Para simplificar, isso era 'normal'.
 
   
  +
Como eu esperava. Era como se não houvesse continuidade entre o passado e o futuro - nós voltamos três anos, fomos dormir, e acordamos novamente no presente, e esse "presente" que estamos agora é diferente do mundo de "ontem", de onde partimos. Mesmo se vermos pelos resultados, eu acabei dando idéias que não deveria ter dado a Haruhi, e essas idéias a trouxeram para o colégio do norte, aumentando seu interesse em toda a forma de vida não humana... essa possibilidade não deixa de existir.
Nenhum ataque pela espécie de Nagato. Nenhuma viagem do tempo com Asahina-san. Nenhum gigante azul brilhante aparecendo. E nenhum assassinato levando a revelações posteriores.
 
   
  +
Se não tivesse ido para o passado três anos atrás, tudo poderia na obter acontecido. Julgando pelo tom de voz da Asahina-san adulta, ela parece saber mais de nós. Em outras palavras, a continuidade realmente existe entre o passado e o futuro. O que contradiz o que ela me disse anteriormente. Pelo menos posso perceber isso, não importa o quão estúpido eu seja.
Apenas uma vida escolar completamente normal.
 
   
  +
"Como não há conclusão na teoria do paradoxo, não há como provar que não há paradoxo algum."
A contagem regressiva para o festival cultural prosseguia, e Haruhi estava empolgada como sempre, direcionando uma dose cavalar de adrenalina para a cabeça e correndo como um hamster alcançando a velocidade do som dentro de uma daquelas rodinhas.
 
   
  +
Nagato disse calmamente, como uma expressão que dizia 'Isso deve explicar tudo.'. Essa explicação deve ter sido boa o suficiente para você, mas eu não entendi coisa alguma. Nagato então levantou seu rosto alvo e olhou para mim.
Em outras palavras, os negócios de sempre.
 
   
  +
"Logo você vai entender."
   
  +
Ela voltou para a cadeira de sempre e retornou ao mundo dos livros. Agora era a vez de Koizumi falar.
   
  +
"Se esse é o caso, então meu rei foi colocado em cheque pela sua torre. Esse é certamente um problema para mim, então, como eu deveria escapar?"
… até esse dia, é claro.
 
   
  +
Koizumi disse isso enquanto pegava o rei preto e o colocava casualmente dentro do bolso do seu blazer. Ele então mostrou a palma da mão, como um mágico revelando seus truques.
   
  +
"Bem, é criado algum paradoxo se eu fizer isso?"
   
  +
Brinquei com a torre entre meus dedos e pensei; não estou com vontade de fazer um joguinho de filosofia zen [11] com você, e não me satisfaço pensando nesse tipo de assunto abstrato. Então me recuso a responder a sua pergunta.
Em retrospecto, eu tenho que dizer que Haruhi estava se segurando. Sob um olhar atento, percebi que ainda não tínhamos filmado nem uma cena do filme. O único material que tínhamos na câmera era o vídeo de Asahina promovendo a loja de eletrônica e de modelos vestida de bunny-gal, que servira apenas para conseguir patrocínio. Nenhum raio de luz atravessara o filme que seria produzido, dirigido e supervisionado por Haruhi. Nós nem sabíamos sobre a história ainda.
 
   
  +
11-[Nota do tradutor: Zen é o nome japonês da tradição C'han, surgida na China e associada em suas origens ao Budismo do ramo Mahayana. Foi ou é cultivado sobretudo na China, Japão, Vietnam e Coréia. A prática básica do Zen na versão japonesa e monástica é o Zazen, tipo de meditação contemplativa que visa a levar o praticante à "experiência direta da realidade". Todas as escolas de Zen são versadas em filosofia e doutrina budistas, incluindo as Quatro Nobres Verdades, o Nobre Caminho Óctuplo e as Paramitas. No entanto, a ênfase do Zen em experimentar a realidade diretamente, além de idéias e palavras, o mantém sempre nos limites da tradição].
E eu acho que era melhor que tivéssemos ficado sem saber.
 
   
  +
Em todo o caso - não existe dúvida alguma que Haruhi é uma existência paradoxal, e o mesmo pode se dizer sobre este mundo.
Poderíamos ter ficado com o vídeo de Asahina-san apresentando o distrito comercial. Na verdade, será que isso não traria mais audiência? E, ainda por cima, promoveria a área local. Mataríamos dois coelhos com uma cajadada só. É, porque não transformamos isso em um video promocional da Mikuru Asahina? Isso me faria bem mais feliz. Considerando que essa era minha verdadeira motivação como cameraman.
 
   
  +
"Alem do mais o rei não representa nada para nós, ao invés disso, quem cumpre o papel principal é a rainha."
Porém, eu sei que Haruhi nunca ficaria satisfeita com isso. Ela sempre cumpre a sua palavra. Se ela diz que vai fazer, com certeza fará. Ela nunca desiste na metade do caminho. Essa é uma situação aonde manter a palavra é sinônimo de algo problemático.
 
   
  +
Coloquei a torre branca no quadrado onde o rei preto estava. Rainha para cavalo 8.
Então, no inicio daquele dia, nos encontramos novamente no meio de algumas situações bastante bizarras. É, é sério. Estou sem palavras. O que foi que Haruhi disse mesmo?
 
   
  +
"... não sei o que vai acontecer de agora em diante, só espero que não seja algo que me de uma grande dor de cabeça."
Uma vez que suas almas quebram os elos mundanos, habilidades latentes desconhecidas acordarão, e liberarão um poder incrível – ou algo parecido com isso.
 
   
  +
Nagato permaneceu em silêncio, enquanto Koizumi sorriu e disse.
Entendo.
 
   
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"Acho que é melhor que as coisas continuem pacíficas, ou será que você prefere que algo interessante aconteça?"
Mas sabe, Haruhi…
 
   
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Suspirei, enquanto desenhava um circulo ao lado do meu nome no placar.
Por que você tem que ser a pessoa a vivenciar esse despertar?
 
   
E você nem mesmo percebeu isso...
 
   
   

Revision as of 08:09, 6 December 2008

Bamboo Leaf Rhapsody (A Rapsódia da Folha de Bambu)

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A Lenda de Tanabata (七夕)

         Antes de começarmos o capítulo, vamos dar uma breve leitura na Lenda de Tanabata.

Duas estrelas separadas pela Via-Láctea (銀河 ou 天の川) no céu noturno do verão. Uma delas, de acordo com as lendas chinesas, é a estrela “Shokujo” (織姫), traduzido no japonês como “Orihime”. Filha do Imperador do Céu (天帝), Orihime era uma tecelã habilidosa e bastante trabalhadora. Do lado oposto da Via-Láctea, existe uma luminosa estrela chamada “Kengyu” (牽牛, 彦星 “Hikoboshi” no Japão), que se tornaria o noivo de Orihime. Assim como Orihime, Hikoboshi também era muito trabalhador. Considerando a dedicação dos dois em seus serviços, o Imperador do Céu permitiu o casamento entre as duas estrelas. Passado um tempo de casados, Orihime e Hikoboshi deixaram de cumprir seus deveres para ficarem juntos.

        Diante disso, o Imperador do Céu enfureceu-se e separou o casal através da Via-Láctea, mas generosamente concedeu também um dia por ano para se reencontrarem, o dia 7 de julho, o dia de Tanabata. A história dessas duas estrelas é muito popular no Japão e o nome de Hikoboshi e Orihime aparecem no livro de poesia chinês mais antigo descoberto até hoje. Sabendo que o modelo da história de Tanabata já estava formulada há pelo menos 2000 anos atrás, é divertido pensar que as pessoas da antigüidade olhavam o céu das noites de verão como nós o vemos hoje. 

Enfeites de Tanabata Olhando tiras de papel com pedidos escritos pendurados em ramos de bambus, logo notamos que são enfeites de Tanabata. Este costume é relativamente novo, pois se iniciou na era Edo, sendo um costume particularmente japonês. Antigamente havia muitos tipos de cerimônias para se comemorar o Tanabata, variando de acordo com a região. Havia desde lugares que acendiam incensos pedindo progresso nas habilidades artísticas até lugares que confeccionavam cavalos de palha e enfeitavam o telhado pedindo aos ancestrais um ano de boa safra.]. Os enfeites de Tanabata mais comuns hoje em dia foram originados dos enfeites de Sendai, os quais enfeitavam sete objetos (紙衣 “kamigoromo”, 千羽鶴 “senbazuru”, 短冊 “tanzaku”, 投網 “toami”, 屑籠 “kuzukago”, 巾着 “kinchaku”, 吹き流し “fukinagashi”), cada um com um pedido com sucesso comercial, saúde, etc.

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O mês de maio já estava o suficientemente quente, porém em julho chegamos ao ponto do insuportável. A umidade estava ainda pior, o que elevava minha infelicidade a níveis recordes. E não havia chance nenhuma de uma escola medíocre como a nossa ter instalado algum tipo de ar condicionado de alto nível. A escaldante sala da 1-5 parecia agora a sala de espera para um ônibus sem escalas para o inferno. Tinha certeza de que o arquiteto que projetou aquilo não tinha idéia do que “um ambiente confortável se convivência” significava.

Para piorar as coisas, nessa semana começavam os exames de fim de semestre, fazendo que toda a alegria que ainda restava em meu coração fosse passear pelos arredores do Brasil, e aparentemente ela não estaria de volta tão cedo.

Os meus resultados durante o meio do semestre já haviam sido desastrosos, então não podia imaginar uma nota muito melhor no fim das provas. Isso era devido ao meu tempo de permanência junto a Brigada SOS, o que me impedia de concentrar-me apropriadamente nos estudos. Infelizmente não conseguia fazer nada a respeito, pois desde o começo da primavera, cada vez que Haruhi dava uma sugestão, misteriosamente eu acabava a seguindo. Isso se tornara parte da minha rotina diária, e sinceramente, eu estava começando a me odiar por me acostumar com essa vida.

A aula já havia acabado, e o sol brilhava no oeste da nossa sala. A garota que sentava atrás de mim cutucou as minhas costas com sua lapiseira.

"Você sabe que dia é hoje?"

Suzumiya Haruhi me perguntou com um sorriso no rosto, aqueles geralmente vistos em crianças durante a véspera de natal. Quando ela revelava esse tipo de expressão, era um claro sinal de que ela estava maquinando algo diabólico. Fingi estar pensando naquilo durante uns três segundos, e então disse;

"É o seu aniversário?”

"Não!”

"O aniversario da Asahina-san.”

"Nãããão!”

"O aniversario da Nagato ou do Koizumi.”

"E eu lá deveria saber quando são os aniversários deles!?"

"Falando nisso, meu aniversario é no dia...”

"Quem liga para isso? Você realmente mão sabe o quão importante é o dia de hoje?”

Não importa o quão importante você ache que o dia de hoje é, não passa de dia normal, porem muito quente, para mim.

"Então, me diga, qual é a data de hoje?”

“Sete de julho... eu não tinha pensado nisso, mas você não está falando do festival de Tanabata, está?”

"É claro que estou! Hoje é o dia de Tanabata! Como japonês você tem o dever de lembrar disso!”

Na verdade esse festival teve origem na China. E de acordo com o calendário chinês, o Tanabata é só mês que vem.

Haruhi segurou a lapiseira e agitou em frente ao meu rosto.

"A Ásia começa no Mar Vermelho e vem até aqui."

Que tipo de conceito geográfico é esse?

"Eles não estão todos juntos nas eliminatórias da Copa do Mundo? E afinal, julho e agosto são meses de verão, então não faz diferença.”

Sério?

"De todo modo, temos de fazer um evento de Tanabata. Eu insisto que esse festival seja tratado com seriedade."

Eu sinto que existe uma porção de coisas que merecem ser tratadas com mais seriedade do que isso. Mas você realmente tem que me dizer isso? Eu realmente não tenho idéia do que você está querendo fazer.

"Será mais divertido se fizermos isso juntos. Anuncio agora, que organizaremos algo grande para o Tanabata todos os anos, desse em diante."

"Não decida esse tipo de coisas sozinha."

Mesmo que tivesse dito aquilo, ver Haruhi excitada daquele jeito, já era o suficiente para me fazer perceber o quão estúpido seria contrariá-la.

"Me espere no clube! Não vá para casa sozinho!" - ela disse.

Não era necessário me dizer aquilo, de todo modo, estava mesmo planejando ir até o clube. Porque lá estava uma pessoa que precisava ver, nem que fosse uma vez. Apenas aquela pessoa.


Os outros membros já estavam reunidos na sala, localizada no segundo andar do prédio antigo que hospedava as salas dos clubes de artes. Ao invés de dizer que a Brigada SOS emprestou a sala do clube de literatura, de fato seria uma melhor expressão dizer que a brigada a ocupou por meio da força.

"Oh, olá."

A pessoa que sorriu para mim e me cumprimentara de maneira tão animada era Asahina-san. A fonte de todo o conforto do meu coração, sem ela, a existência da Brigada SOS teria tanto sentido quanto de um prato de arroz com curry, sem os cubos de curry.

Desde julho, Asahina-san tem usado um uniforme de maid de verão. Obviamente foi Haruhi quem o comprou - ainda não tenho a mínima idéia de onde ela tira essas roupas estranhas. Mesmo assim, Asahina-san sempre iria agradecer sinceramente a ela pelas fantasias com um "Ah... mu... muito obrigada.". Resumindo, ela continuava a ser a maid titular da brigada SOS, fazendo diligentemente chá para mim. Beberiquei meu chá e estudei as redondezas;

"Então, como vão as coisas?"

Koizumi me cumprimentou. Ele estava sentado em frente a um tabuleiro de xadrez que estava jogado sobre a mesa, segurando um livro de xadrez em uma mão, enquanto movimentava as peças com a outra.

"As coisas nunca têm estado normais para mim desde que entrei no colegial."

Koizumi disse que estava cansado do Othello, então decidiu trazer um tabuleiro de xadrez durante a última semana. Porem, como ninguém mais ali saiba jogar, ele teve de se divertir sozinho esse tempo todo. Certamente ele parece relaxado, mesmo com as provas finais chegando.

"Bem, não estou exatamente relaxando. Estou usando o tempo que não estou estudando para exercitar meu cérebro. A circulação do meu cérebro melhora a cada problema resolvido. Então, que tal um jogo?”

Não, obrigando. Não estou com vontade de exercitar o meu cérebro já exausto. Se pensar em mais alguma coisa complicada, todas as palavras em inglês que sofri para memorizar serão ejetadas do meu cérebro.

"É uma pena. Será que eu devo trazer banco imobiliário ou batalha naval da próxima vez? Ou será que uma coisa que todos possamos jogar juntos? Tem alguma coisa em mente?”

Qualquer coisa, ou melhor, coisa alguma. Esse não é o clube de estudos de jogos de tabuleiro, essa é a Brigada SOS. Falando nisso, ainda não tenho idéia do tipo de atividades nas quais a Brigada SOS está envolvida. Não tenho certeza do que esse clube misterioso devia estar fazendo. Na verdade nem queria saber, afinal, a ignorância a respeito vai aumentar as minhas chances de sobrevivência. Então não tinha motivação alguma para fazer qualquer coisa, essa era a minha lógica perfeita.

Koizumi deu de ombros e voltou a ler seu livro de xadrez. Ele pegou o cavalo preto e o movimentou pelo tabuleiro.

Sentada atrás de Koizumi, estava a garota com menos emoções do que um robô, Nagato Yuki, ocupada demais lendo seu livro para se incomodar com a minha presença. A alienígena silenciosa perdera o interesse em romances traduzidos, e agora os lia em suas linguagens originais. Neste momento ela estava lendo um livro, cuja capa estava escrita em uma linguagem que eu era incapaz de reconhecer, como esses grimórios antigos e esquecidos. Acho que deveria estar escrito em etrusco antigo, ou qualquer outra língua estranha. Tenho certeza que Nagato não teria nenhum problema em ler a pedra de roseta se a encontrasse.

Puxei uma cadeira dobrável e me sentei. Asahina-san rapidamente colocou um copo em minha frente. Quem diabos tomaria chá quente em um dia infernal como esses... não tenho intenção alguma de reclamar, afinal isso podia trazer a ira divina sobre mim, então bebi o chá com um senso de gratidão crescente. Hmm, está escaldante.

Parado em um canto da sala, estava um ventilador que Haruhi deve ter roubado de alguém. Mesmo assim, seus efeitos apaziguadores eram tão grandes quanto jogar água quente sobre pedras ainda mais quentes. Se você pode roubar esse tipo de coisa, porque não pegou um daqueles ventiladores de teto da sala dos professores?

Tirei o meu olhar do livro de inglês, cujas páginas balançavam com o vento, e me estiquei sobre a cadeira de metal.

Sei muito bem que não vou estudar quanto chegar em casa, achei que seria melhor para mim estudar no clube, mas percebi que enquanto não estiver realmente interessado em uma coisa não vou ter como fazê-la, não importa aonde eu esteja. Não vai ser bom para mim, tanto fisicamente quanto mentalmente, me forçar a fazer algo contra a minha vontade. Em outras palavras, é mais saudável para mim não me forçar a nada. É assim, eu não estou estudando, então guardei a minha lapiseira e fechei meu livro, e decidi dar uma olhada no meu estabilizador mental. Esse estabilizador que aliviava o meu coração cínico agora estava vestido de maid e realizando problemas de matemática bem na minha frente.

Olhando intensamente para as questões enquanto rabiscava no caderno; parecendo inabalável enquanto pensava, até começar a escrever loucamente como se inspirada por alguma coisa – a pessoa que estava fazendo essas ações não era ninguém menos que Asahina-san.

Me senti mais relaxado só de olhar. De repente um grande senso de pena se abateu sobre mim, como se dar todo o meu dinheiro para a caridade fosse algo trivial. Asahina-san não percebera que eu estive olhando para ela esse tempo todo, e permanecia concentrada em seus problemas de matemática. Qualquer ação que ela fizesse já era o suficiente para me fazer sorrir, de fato, já estava sorrindo. Me sinto como se estivesse observando um bebê foca.

Nossos olhos se encontraram.

"Ah... o, o que foi? E... eu fiz alguma coisa estranha?"

Asahina-san se ajeitou freneticamente, o que fez meu coração chegar ainda mais próximo do derretimento. Justo quando estava prestes a cantar minhas preces aos anjos...

"Ya-ho!"

A porta se abriu violentamente, e a garota selvagem entrou caminhando a passos largos. "Desculpem pelo atraso."

Não precisa se desculpar, afinal, ninguém estava esperando por você.

Haruhi entrou em cena carregando uma muda de bambu no ombro. Era um ramo comprido de bambu verde, com folhas saindo em ramos por toda a superfície. Por que você trouxe essa coisa até aqui?

Haruhi bateu no peito e replicou.

"Por que!? Para pendurar desejos, é claro."

O que? Como é?

"Na verdade nada importante, já faz algum tempo que não penduro tanzakus [1], então achei que seria legal fazer isso agora, afinal, hoje é Tanabata!"

1-[Nota do tradutor: O costume de atar tanzaku (papel com poemas ou pedidos) de diferentes cores aos ramos de bambu, teve início em 1818. Qualquer pessoa pode escrever seu pedido no tanzaku, onde cada cor de papel (branco, amarelo, verde, vermelho/rosa e azul) simboliza um tipo de pedido].

... como sempre, as atitudes de Haruhi não tinham nenhum significado real.

"Onde você conseguiu isso?"

"No bosque de bambus atrás da escola."

Se me lembro bem, aquele é um terreno particular, sua ladra de bambus.

"E quem liga pra isso? As raízes do bambu são subterrâneas, ela não vai ser afetada, mesmo se cortarem a parte de cima! Só seria uma ofensa se eu tivesse roubado o broto inteiro. Até fui picada por mosquitos no caminho, e cara, como isso coça. Mikuru-chan, você pode passar um pouco de pomada para coceira nas minhas costas?"

"Sim, agora mesmo!"

Asahina-san caminhou em passos curtos, carregando o kit de primeiros socorros, parecendo até uma pequena enfermeira. Ela pegou o creme, espalhou nas mãos, e colocou as mãos sobre a gola do uniforme de Haruhi, sobre as suas costas. Haruhi se inclinou para frente e disse;

"Um pouco mais para a direita... uhmm. Bem ai mesmo."

Haruhi parecia uma daquelas gatas de rua sendo afagadas no queixo, piscando continuamente em relaxamento. Ela colocou o pedaço de bambu ao lado da janela, e calmamente se sentou na cadeira de comandante, então tirou uns pedaços de papel de Deus-sabe-onde, e sorriu com alegria.

"Agora, vamos escrever os nossos desejos!"

Nagato levantou a cabeça lentamente, enquanto Koizumi sorria com cautela, e Asahina-san arregalava os olhos. O que ela estava tramando agora? Haruhi saltou da mesa, com a sua saia flutuando com o vento, e então disse;

"Mas existem algumas condições."

"Que condições?"

"Kyon, você sabe quem garante os desejos das pessoas no Tanabata?"

"Não são Orihime e Hikoboshi [2]?"

2-[Nota do tradutor: A paixão de Orihime e Hikoboshi era tamanha que quando se encontravam, ambos se esqueciam dos seus afazeres, e acabaram provocando a ira do rei. Como castigo, o vaqueiro foi enviado para além da galáxia. Mas com pena de Orihime, que passava os dias chorando, o rei permitiu que os dois pudessem atravessar a Via Láctea, e se encontrar um dia a cada ano, no dia sete do mês sete, data em que hoje se comemora o Tanabata. Os antigos chineses se basearam nas estrelas Vega e Altair, representadas por Orihime e Hikoboshi, localizadas em lados opostos da Via Láctea, para criar essa romântica lenda.].

"Correto. Você ganhou dez pontos. Então me responda; você sabe a quais estrelas Orihime e Hikoboshi estão se referindo?"

"Não tenho idéia."

"Não são as estrelas de Alpha Lyrae e Alpha Aquilae [3]?"

3-[Nota do tradutor: significa "alfa lira e alfa águia", ou simplesmente "Vega e Altair". Resumindo, são momes diferentes para "Orihime e Hikoboshi"].

Koizumi respondeu rapidamente.

"Correto! 85 pontos para você! São essas duas estrelas! Em outras palavras, você tem de apontar o pedaço de bambu com os tanzakus na direção dessas duas estrelas. Entenderam?"

O que diabos você está tentando dizer? E a que categoria pertence os quinze pontos restantes?

Heh, heh. Subitamente a expressão de Haruhi se encheu de malícia.

"Deixe-me explicar. De acordo com a teoria da relatividade, não há como viajarmos mais rápido que a velocidade da luz."

Tem algum motivo para você estar me dizendo isso? Haruhi então tirou um caderno de notas do bolso da saia, e falou em voz alta enquanto lia.

"Só para vocês saberem. A distância entre a terra e as estrelas de Alpha Lyrae e Alpha Aquilae são de vinte e cinco anos luz, e dezesseis anos luz, respectivamente. Isso significa que vai demorar vinte e cinco e dezesseis anos para mandar uma mensagem da Terra até essas estrelas. Esses são fatos – você está entendendo?"

Então o que? Falando nisso, você realmente se incomodou em pesquisar essas informações?

"Então esse é o tempo que demorará para que nossos desejos sejam atendidos, certo? Temos de esperar um bom tempo para que o que escrevemos se torne realidade. Então escrevam o que vão querer para daqui dezesseis e vinte e cinco anos no futuro! Escrever coisas como ‘Eu quero um namorado bonitão até o natal! ’ não vai funcionar, porque o desejo não vai poder ser realizado a tempo!"

Haruhi chacoalhou os braços com grandeza, e continuou a sua explicação.

"Espera um pouco, se demora vinte e tantos anos para que nossos desejos cheguem até lá, então não vai demorar o mesmo para que eles voltem? Isso não significa que teremos que esperar cinqüenta e trinta e seis anos respectivamente até que nossos desejos se tornem reais?"

"Bem, estamos falando de deuses. É claro que eles vão bolar alguma coisa para nos ajudar. É com dizem por ai; tem sempre uma promoção de 50% acontecendo todo ano."

Quando é conveniente para ela, Haruhi ignora completamente as leis da relatividade e as joga pela janela.

"Então, entendem o que eu quero dizer? Existem dois tipos de tanzakus, um para Alpha Lyrae e um para Alpha Aquilae. Então pensem e escrevam o que vocês irão para daqui a dezesseis e vinte e cinco anos."

Isso é ridículo. Pedir que os seus dois desejos sejam realizados imediatamente é uma atitude de gente sem pudor. Alem do mais, não temos como saber o que estaremos fazendo depois desses anos todos. Como saber o que pedir para o futuro? Nesse caso melhor coisa a se pedir é para que a previdência e os planos de poupança estejam funcionando direito até lá, eu acho.

Se Orihime e Hikoboshi tivessem de ouvir esse tipo de pedido o tempo todo, certamente seria uma grande dor de cabeça. Eles só podem se encontrar uma vez por ano, e ainda tem de ouvir esses pedidos estúpidos. Porque ao invés disso você não pede ajuda para os políticos? Se eu fosse eles, com certeza diria isso.

De qualquer forma, como sempre, essa garota estava pensando em todo o tipo de coisa sem sentido. Não podia deixar de imaginar se havia um buraco negro na cabeça dela que sugava todo o bom senso para outra dimensão.

"Bem, isso não é totalmente verdade."

Koizumi parecia estar defendendo Haruhi. Mas disse de uma maneira tão baixa que somente eu consegui ouvir.

"É verdade que as atitudes, e as palavras de Suzumiya-san são únicas, mas julgando da situação atual, está claro que ela sabe o significado do senso comum."

Koizumi deu o seu sorriso animado de sempre, e prosseguiu.

"Se seus padrões de pensamento fossem mesmo anormais, o mundo não seria tão estável. Se fosse o caso, esse planeta se tornaria algo estranho, ditado por regras bastante peculiares."

"E como você tem certeza disso?" - perguntei.

"Suzumiya-san deseja que o mundo todo mude um pouco, e tem os poderes de reconstruí-lo do zero, se necessário. Você deveria saber disso melhor do que eu."

É claro que eu sei disso. Mesmo tendo dúvidas.

"O porquê do mundo não ter ido para a completa irracionalidade, é que Suzumiya-san apesar de tudo valoriza o bom senso, acima dos seus próprios desejos."

"Pode soar uma infantilidade, porém." - Koizumi levantou a cabeça e falou - "Vamos usar um exemplo, ela deseja que o Papai Noel exista. Pelo conhecimento comum, o Papai Noel não existe. Se considerarmos apenas o Japão, veremos que não é possível que alguém entre em uma casa trancada no meio da noite, e deixe um presente sem ser detectado. E como ele sabe o que cada criança quer no natal? Somando isso com o fato que seria fisicamente impossível percorrer o mundo todo no espaço de uma noite."

Para alguém levar esse tipo de coisa a sério, tem se ser completamente retardado.

"Exatamente, e é por isso que o Papai Noel não pode existir."

A razão em ter o contrariado, é que me irritava ver Koizumi tomando o partido de Haruhi. Então expus minha indagação:

"Se você estiver certo, isso não significa que é impossível que existam aliens, espers, e viajantes do tempo? Então como você está aqui?"

"O que consigo imaginar é que Suzumiya-san estava muito desconfortável com o senso comum existente dentro dela. Pois ele novamente rejeitou os seus desejos - ou seja, um mundo onde ocorrências sobrenaturais são normais."

Quer dizer que os pensamentos selvagens de Haruhi estão levemente acima do seu bom senso?

"Talvez ela tenha sido incapaz de suprimir esses pensamentos, é por isso que Asahina-san e Nagato apareceram ao seu lado, e é por isso que eu recebi esses poderes sobrenaturais. Mas estou incerto do que você deve pensar a respeito."

Talvez seja melhor permanecer sem certezas. Afinal, não sou como você. Tenho a total consciência de que sou um ser humano normal.

Mas não tenho como saber se isso é uma benção ou uma maldição.

"Ei vocês! Parem de cochichar! Estou falando de coisas sérias aqui!"

Não satisfeita com nossa conversa, Haruhi nos olhou com frieza, enquanto ela esbravejava conosco. Então obedientemente recebemos os tanzakus e canetas, e voltamos para os nossos lugares.

Haruhi resmungou e então começou a escrever. Nagato estava sentada e imóvel, olhando para o tanzaku; enquanto Asahina-san tinha uma expressão de dúvida no rosto, como se tivesse encontrado algo mais complicado do que o problema de matemática. Koizumi disse de maneira relaxada, "Hmmm, que coisa incômoda."”, enquanto chacoalhava a cabeça pensando profundamente. Você realmente precisa pensar tão a sério em um assunto leviano como esse? Não seria melhor pegar leve, e escrever qualquer coisa que você queira?

Girei o lápis ao redor dos dedos e olhei para o lado. A muda de bambu que Haruhi havia "roubado" estava encostada sobre a janela aberta, com seus ramos bagunçados como resultado. Uma brisa ocasional agitava as folhas, produzindo um som suave e relaxante.

"Todos acabaram? "

A voz de Haruhi trouxe minha atenção de volta a realidade. Em frente a ela, sobre a mesa, estavam duas tiras de papel onde podiam se ler:

"Que o mundo gire em torno de mim! " "Desejo que a Terra de voltas ao contrario."

Esse era o tipo de coisa que uma criança mimada e perturbada escreveria. Ficaria tudo bem, se fosse tratado como uma piada, mesmo com Haruhi parecendo estar tão séria a respeito disso enquanto pendurava os tanzakus nos ramos de bambu... e não me diga que esses desejos seus se tornarão realidade!

Asahina-san havia escrito com a sua elegante caligrafia:

“Desejo costurar melhor.” “Desejo cozinhar melhor.”

Os dois desejos de Asahina-san eram adoráveis demais. Ela juntou as palmas das mãos e orou para os tanzakus que estava pendurando no ramo de bambu. Acho que ela deve ter entendido algo errado.

Não havia nada de interessante nos tanzakus de Nagato, com uma letra regular e precisa, ela escreveu coisas abstratas cheias de palavras monótonas, como “harmonizar”, e “reorganizar”.

Koizumi não havia sido muito diferente de Nagato, com uma letra rabiscada, ele escreveu frases simples como “paz mundial” e “uma família fraternal”.

E eu? Os meus também eram simples. Como serão vinte e cinco anos e dezesseis anos no futuro, acho que nessa época já serei um velho chato, então tenho certeza que o futuro me permitirá desejar o seguinte:

“Eu quero dinheiro.” “Quero uma casa com jardim, onde possa dar banho no meu cachorro.”

"Que desejos mais chatos!"


Haruhi declarou seus pensamentos em um tom espantado. Ela era a pessoa menos qualificada para se surpreender com os meus desejos. Afinal, eles são muito mais saudáveis do que pedir para a terra girar ao contrario!

“Esquece! Gente, fiquem certos de lembrar desses desejos que vocês escreveram! O primeiro período chave será daqui dezesseis anos. Vamos apostar em quem tem o seu desejo realizado antes!”

"Ah... com certeza".

Asahina-san fez um sinal para mim com a cabeça, e me olhava com seriedade. Quando olhei em volta Nagato já havia voltado para o seu mundo literário.

Haruhi botou o ramo de bambu para fora da janela, em uma posição firme. Então colocou uma cadeira ao seu lado e se sentou nela. Colocando o cotovelo sobre o parapeito, Haruhi olhava para o céu com um pouco de melancolia, sem saber o que fazer em seguida. Ela era o tipo de pessoa com um humor extremamente variável, e pensar que ela estava eufórica até agora a pouco.

Abri meu livro, e novamente recomecei a minha tentativa de sobrepujar as provas, enquanto memorizava os diversos tipos de adjetivos.

"Dezesseis anos, huh? Isso é uma porção de tempo".

Ouvi Haruhi resmungando atrás de mim.


Nagato continuava a ler seu romance estrangeiro em silêncio, Koizumi começara novamente a jogar xadrez sozinho, enquanto eu estava preocupado em memorizar as sentenças em inglês. Esse tempo todo Haruhi permanecia sentada, olhando para o céu. Ela era bastante bonita nesse tipo de situação, onde ficava quieta e não se mexia. No começo pensei que ela havia decidido imitar as atitudes de Nagato, mas de alguma forma, a visão de Haruhi sentada pensando consigo mesma, me fazia ficar ainda mais desconfortável. Suspeito que ela esteja tramando mais coisas que nos trariam problemas futuros, e com certeza, ainda mais dores de cabeça.

Por algum motivo Haruhi parecia estar particularmente deprimida hoje. Algumas vezes ela olhava para fora e deixava escapar um longo e penoso suspiro. Isso me fazia tremer. Esse silêncio provavelmente era a calmaria antes da tempestade, com certeza era um tipo de situação assustadora. O imperador Sutoku deve ter se sentido assim nos dias antes do seu exílio em Sanuki [4].

4-[Nota do tradutor: O imperador Sutoku deve ter se sentido assim nos dias antes do seu exílio em Sanuki. - Em 1156, os partidários do In Toba e de seu filho, o imperador Goshirakawa entraram em conflito com o grupo do In Sutoku. A esse choque de interesses somou-se a rivalidade do Kampaku Fujiwara Tadamichi e seu irmão mais novo, o Sa-Daijin Yorinaga. Morrendo o In Toba, o partido do In Sutoku, a que se juntou Yorinaga convocou os chefes guerreiros Taira-no-Tadamasa, Minamoto-no-Tameyoshi e seu filho Tametomo para atacar o imperador e o Kampaku. Estes por sua vez recorreram a Minamoto-no-Yoshitomo, também filho de Tameyoshi e ao futuro autocrata Taira-no-Kiyomori (1118-1181). Foi a famosa Revolta de Hôgen, que terminou com a vitória do partido imperial, o confinamento do In Sutoku na província de Sanuki, na Ilha de Shikoku, a morte de Yorinaga em combate e a execução de Tameyoshi e Tadamasa pela mão de seus próprios parentes].


Ouvi o som do atrito do papel, e levantei a minha cabeça. Sentada do outro lado da mesa, trabalhando nos seus exercícios de matemática até a pouco, Asahina-san colocou o seu indicador sobre os lábios e fechou seu olho direito, me entregando um tanzaku extra que pegara agora pouco. Olhando para Haruhi com o canto dos olhos, Asahina-san retraiu a sua mão e abaixou a cabeça, como uma garotinha que havia acabado de pregar uma peça em alguém.

Minha necessidade de ser cúmplice nesse crime estava completamente desperta, rapidamente peguei o tanzaku que Asahina-san me entregou, e o li com cuidado.

“Por favor, fique no clube após as aulas terem terminado. – Mikuru-chan“

A mensagem acima estava escrita no papel com uma letra pequena e graciosa.

É claro que eu ia obedecer.


"Isso é tudo por hoje".

Haruhi disse aquilo, e prontamente pegou a sua mala e foi embora. Seu comportamento continuava anormal, ela era como um caminhão a diesel que subitamente se transformara em um carro movido a energia solar. Acho que as coisas ficarão bem por hoje.

"Então irei me retirar também".

Koizumi guardou as peças de xadrez e se levantou. Depois de trocar olhares comigo e com Asahina-san, ele saiu da sala do clube de literatura.

Nagato fechou seu livro. Oh, você também esta indo embora? Obrigado pela compreensão... quando estava sentindo gratidão pela situação, Nagato veio até mim, caminhando silenciosa como um gato.

"Fique com isso".

Ela me entregou um pedaço de papel. Era outro tanzaku. Realmente não posso te ajudar a mandar isso para o espaço, mesmo que você tenha o entregue para mim! Pensei com meus botões enquanto analisava o papel.

Varias formas geométricas estranhas estavam desenhadas nele. Que diabos era isso? Algum tipo de linguagem suméria? Creio que nem o computador Enigma [5] poderia decifrar o significado dessas mensagens.

5-[Nota do tradutor: Máquina usada pelos alemães para criptografar mensagens trocadas entre o front e as bases militares na Segunda Guerra Mundial].


Estudei esses desenhos com um olhar confuso no rosto. Não eram nem palavras nem desenhos, apenas formas triangulares, circulares, e onduladas. Nesse momento Nagato já havia terminado de pegar suas coisas, e tinha deixado a sala.

Esquece. Coloquei o tankazaku no meu bolso, e me virei para Asahina-san.

"D-desculpe pedir isso, mas espero que você possa vir comigo a um lugar".

Esse convite não veio de ninguém mais do que a própria Asahina-san. Seria condenado a ir para o inferno se recusasse. Até pularia em um poço flamejante se ela me mandasse.

"Claro, para onde nós vamos?"

"Bem... uhm... para três anos atrás".

Pedi um lugar, e ela me respondeu um tempo. Porem...

Essa história de três anos atrás de novo? Pensei um pouco, mas não podia deixar de estar interessado a respeito. Afinal, Asahina-san clamava ser uma viajante de um futuro desconhecido, apesar de esquecer isso com freqüência, devido a sua beleza. Mas três anos atrás? O que faremos nesses três anos do passado? Isso significa que viajaremos no tempo?

"S... sim".

"Claro, fico feliz em poder ir, mas por que eu? O que nós temos de fazer lá?"

"Bem... você vai entender assim que chegarmos... eu acho".

Huh?

Talvez fosse o olhar de questionamento em meu rosto que levou a isso, então Asahina-san chacoalhou as mãos freneticamente e me implorou com lágrimas nos olhos.

"Eu imploro! Não pergunte nada, só concorde em ir por enquanto! Se não... uhm... isso vai se tornar um grande problema".

"Então... tudo bem, vamos lá".

"Sério? Muito obrigada!"

Asahina-san sorriu e segurou as minhas mãos com alegria. Ah, a felicidade da Asahina-san é a minha felicidade, hahaha!

Pensando bem, quando Asahina-san declarou ser do futuro, não havia prova alguma da veracidade da história. Não foi quando encontrei a sua versão crescida que passei a acreditar realmente nela, mesmo não podendo negar que ainda tenho suspeitas sobre uma possível conspiração por trás disso. Então hoje terei uma grande chance para provar o seguinte questionamento; "Asahina-san realmente veio do futuro?".

"Então, cadê a maquina do tempo?"

Achei que precisaríamos entrar em um armário ou coisa parecida, mas Asahina-san disse que não existia um mecanismo assim. Então por onde iríamos viajar pelo tempo? Ela encolheu os ombros e apertou o avental, então disse;

"Saqui mesmo".

Huh? Aqui? Virei e olhei com descrença para a sala vazia do clube.

"Sim, por favor, se sente. Você poderia fechar os olhos? Sim, e relaxe os seus ombros também".

Fiz o que ela havia pedido. Só espero não ser acertado na cabeça repentinamente.

"Kyon-kun..."

Asahina-san suprimiu sua voz atrás do meu ouvido. Que respiração suave.

"Me desculpe".

Tive um pressentimento ruim a respeito. Quando ia abrir os olhos, tudo ao meu redor ficou escuro. Então fui jogado a inconsciência, enquanto sentia uma forte sensação de náusea e falta de equilíbrio. Se soubesse que seria assim, nunca teria concordado em vir.


Quando recuperei meus sentidos, minha visão estava uns 90 graus invertida. Tudo que deveria estar em pé estava jogado na horizontal, quando vi o poste atravessando meus olhos da esquerda para a direita, percebi que eu estava deitado. Foi ai que senti uma sensação de calor ao lado da minha cabeça.

"Oh, você já acordou?"

Uma voz angelical falou. Já estava completamente acordado. O que era esse calor sob o meu ouvido esquerdo?

"Uhm... se você não levantar a sua cabeça... então eu teria que..."

Asahina-san parecia preocupada. Me levantei e confirmei onde estávamos.

Em um banco de praça, no meio da noite.

O que está acontecendo aqui? Estava dormindo sobre os joelhos de Asahina-san e por estar dormindo, não lembro de nada... é mesmo uma pena.

"Minhas pernas estão dormentes, isso já está ficando cansativo".

Asahina-san sorriu com constrangimento e abaixou a cabeça. Não sei quando ela se trocou, mas no lugar da roupa de maid, ela estava com o uniforme do colégio. Pensando bem, até o horário que estamos deve ter dado tempo mais que o suficiente, afinal fiquei dormindo o tempo todo. Mas, por que diabos eu estava dormindo?

"Porque não podia deixar você saber dos métodos de viagem no tempo, afinal é uma informação confidencial... você ficou bravo Kyon-kun?"

Não, nem um pouco. Se fosse a Haruhi, já teria ficado furioso com ela, mas como foi a Asahina-san, não me importei muito.

Falando nisso, agora a pouco estava sentado de olhos fechados no clube, então como eu vim parar em um parque no meio da noite? O pior é que sinto já ter estado nesse parque antes. Eu lembro de Nagato me pedindo para vir aqui outro dia, será que esse parque é a terra santa das pessoas excêntricas?

Cocei a minha cabeça, ainda havia algo que queria perguntar.

"Em que tempo nós estamos?"

Sentada ao meu lado, Asahina-san respondeu.

"Tomando nosso tempo de origem como referência, esse é o dia sete de julho de três anos atrás. Deve ser umas nove horas da noite, eu acho".

"Então é isso?"

"Sim".

Ela me olhava com seriedade.

Nunca achei que chegaríamos aqui tão facilmente. É claro que não era ingênuo o suficiente para acreditar em tudo que ela me dizia, eu tinha que confirmar isso. Tentaria primeiro ligar para o número que oferecia informações sobre o horário e sobre o clima.

Quando estava preste a contar meus planos para ela, senti meu obro direito pesar subitamente. Huh? Asahina-san estava agora com a cabeça encostada sobre o meu ombro. Essa exausta garota estava agora se apoiando em mim; alguém poderia me dizer qual é o significado disso?

"Asahina-san? "

-- Nenhuma resposta. --

"Uhm..."

"(Ronco)..."

Ela está roncando?

Joguei minha cabeça para frente, e me virei 85 graus para a esquerda, vendo Asahina-san de olhos fechados, e lábios entreabertos, deixando escapar um ruído suave dos lábios. O que diabos está acontecendo aqui?

Os arbustos se mexeram repentinamente. Senti meu coração subir até a garganta, o que é isso?

"Ela está dormindo?"

Vindo de dentro dos arbustos, surge ninguém menos que... outra Asahina-san.

"Boa noite, Kyon-kun".

Era a versão de luxo de Asahina-san. Uma jovem senhorita, mesmo assim, bem mais velha que a Asahina-san que dormia em meu ombro, e que havia crescido em todas as partes. Ainda assim continuava linda, e seu charme havia aumentado em pelo menos dez vezes. Eu já havia a encontrado antes, e como da última vez, ela vestia uma blusa branca, e uma minissaia azul bastante justa. Essa mulher agora caminhava em nossa frente.

"Hee hee, olhando por esse ângulo".

A Asahina-san adulta apertou as bochechas da Asahina-san que dormia, e então disse;

"Ela parece apenas uma criança".

Olhando com nostalgia, Asahina-san (a grande), acariciou suavemente o uniforme de Asahina-san (a pequena).

"Então é assim que eu era nessa idade?"

Ao sentir o hálito de Asahina-san (a pequena) em meu braço, não pude me mover, e permaneci parado como uma pedra, olhando fixamente para a Asahina-san (grande).

"A missão dela era o trazer até aqui, e desse ponto em diante, a minha função é de lhe guiar".

Parecendo um idiota, perguntei a Asahina-san, que exalava uma aura de maturidade enquanto sorria.

"Uhm... o que é que..."

"Não posso explicar em detalhes, afinal, são todas informações confidenciais. Tudo que posso fazer agora é servir como sua guia".

Virei-me para olhar Asahina-san dormindo em meu ombro.

"Por isso que eu a fiz dormir, para não ser vista por ela".

"Mas por quê?"

"Porque quando eu era ela, nunca me vi".

Esse motivo parecia esclarecedor e confuso simultaneamente. A charmosa Asahina-san fechou um dos olhos e disse.

"Vá para o sul seguindo a linha do trem, até chegar a uma escola pública; Você poderia, por favor, ajudar a pessoa que está para fora do muro dessa escola? E você pode fazer isso agora? Se possível espero que não se importe de me carregar junto, não devo ser muito pesada".

Ela soava como uma aldeã daqueles RPG´s de videogame. Imagino a recompensa que ganharei fazendo isso.

"Recompensa? Bem..."

A Asahina-san adulta elegantemente colocou a mão sob o queixo e pensou profundamente, então me deu um sorriso maduro.

"Não tenho nada a oferecer para você, mas você pode me beijar enquanto eu estiver dormindo. Mas apenas enquanto eu estiver dormindo, entendeu?"

Que negócio mais atraente! Era exatamente nisso que eu estava pensando. A visão de Asahina-san dormindo era linda demais para que não me sentisse tentado a respeito, porém...

"Isso é um pouco..."

Não sei se era devido ao meu humor ou a essa situação estranha, mas acho que não era uma coisa apropriada para mim. Francamente, estava com raiva de mim mesmo por ser tão racional.

"O tempo está acabando, eu devo ir agora."

Essa é a pista que você está me dando dessa vez?

"Ah, sim, por favor, não a deixe saber que eu estive aqui. Vamos fazer um yubikiri [6]"

6-[Nota do tradutor: Yubikiri é uma promessa feita unindo os dedos mindinhos, em geral é uma promessa de amizade feita por crianças.]. Automaticamente levantei o meu dedo mindinho e o cruzei com o de Asahina-san (a grande). Posso continuar segurando por mais um minuto?


"Até mais, Kyon-kun".

Asahina-san (a grande) disse com animação e caminhou em direção a escuridão, em pouco tempo ela já não podia ser mais vista.

"Então..." - resmunguei comigo mesmo. Será que encontrarei essa Asahina-san adulta novamente? Tenho a sensação que ela não mudou muito desde que me deu aquele conselho estranho da última vez que nos vimos.

Talvez essa Asahina-san tenha vindo de um plano temporal anterior a aquela que vi da última vez. Eu não entendi. E não acho que tinha como entender. Julgando pela situação que estou, é possível que encontre Asahina-sans de diversos períodos temporais.


Asahina-san, a qual eu carregava nas minhas costas, não era necessariamente leve, mas também não era pesada. Era natural que meu passo diminuísse. Seu rosto angelical respirava levemente sobre meus ouvidos, de maneira quase criminosa. Até meu pescoço começou a coçar por causa da respiração dela.

Esquivei-me dos olhares dos outros pedestres (mesmo achando que não havia quase ninguém na rua esse horário), e rapidamente rumei para a direção que a Asahina-san adulta havia indicado. Acho que andei por uns dez minutos, e a quantidade dos pedestres da rua começava a diminuir conforme eu caminhava. Depois de virar uma esquina, finalmente cheguei ao nosso destino.

A escola média do leste. Já havia ouvido sobre esse lugar. Essa é a escola onde Taniguchi e Haruhi estudaram. E falando no diabo, uma silhueta familiar estava em frente aos portões da escola. Eu reconheci aquela pequena figura instantaneamente quando ela tentava escalar a cerca de metal.

"Ei!"

Depois de gritar, percebi o quanto eu estava surpreso. Como eu poderia saber quem era essa pessoa? Era inacreditável demais. Olhei para as costas dela, e sua altura era bem menor, e seu cabelo negro não era tão longo e nem tão curto.

Mas é claro, só havia uma pessoa que eu conheço que iria invadir a escola no meio da noite.

"O que foi?"

Naquele momento finalmente estava começando a acreditar que estava frente à realidade de três anos atrás. Sem brincadeira, realmente parecia ter voltado três anos.

Apoiada na cerca, a pessoa que se virou para mim realmente era mais nova do que a comandante da Brigada SOS que eu conhecia. Mas aquele par de olhos brilhantes não me enganava, aqueles eram realmente os olhos de Haruhi. Mesmo vestida casualmente com uma camiseta e um short, ela parecia igual para mim. Três anos atrás, acho que estávamos na quinta série do fundamental. Será que essa era a pessoa que Asahina-san queria que eu ajudasse?

"Quem é você? Um tipo de maníaco sexual? Um seqüestrador? Você parece realmente suspeito".

As lâmpadas embaçadas da rua nos banhavam com uma luz branca fraca. Não pude ler claramente a expressão de Haruhi. Sim Haruhi, aquela estudante de ensino fundamental, que me olhava com os olhos cheios de receio. Quem parecia ser mais suspeito aqui? Uma garota tentando pular a escola no meio da noite, ou eu que estava andando por ai carregando uma garota inconsciente? Realmente, não acho que essa seja uma pergunta que mereça algum crédito.

"Você é a pessoa suspeita aqui. O que está fazendo num lugar desses?"


"O que mais eu estaria fazendo? Estou tentando invadir esse terreno, é claro".

Não declare abertamente essas suas intenções criminosas, há um limite para a falta de vergonha!

"Você chegou bem na hora. Não te conheço, mas se estiver livre, então me ajude em uma coisa! Ou eu vou chamar a polícia!"

Sou eu que deveria estar chamando os policiais, mas prometi para a outra Asahina-san que ajudaria. Por outro lado, gostaria de saber por que a existência chamada Suzumiya Haruhi sempre arranja um jeito de se aproveitar de mim. Sou forçado a fazer esse tipo de coisa até mesmo nessa época?

Haruhi saltou para o outro lado do portão e o destrancou pelo outro lado com uma chave. Onde diabos você arranjou essas chaves?

"Roubei quando ninguém estava olhando. Foi muito fácil".

Ela era realmente uma criminosa. Haruhi lentamente deslizou a porta de metal e acenou para mim. Andei em direção a aquela pequena garota, quer no futuro teria mais um menos uma cabeça de altura a mais do que tem agora. Tudo isso enquanto carregava Asahina-san apropriadamente.

Ao lado da entrada da escola do leste, estava a pista de corrida. O complexo escolar ficava do lado oposto ao nosso. Haruhi então começou a caminhar diagonalmente pelo campo escuro.

Era bom que estivesse escuro, assim ela não seria capaz de ver claramente o meu rosto ou o de Asahina-san. Daqui três anos, nunca passou pela cabeça de Haruhi que havia nos conhecido na quinta série. Então era melhor que as coisas continuassem assim, ou isto poderia se tornar uma grande dor de cabeça.

Haruhi foi diretamente para o canto da pista de corrida, em direção ao deposito de equipamento. Dentro dele havia um carrinho de mão enferrujado e uma maquina de desenho com giz atrás de suas rodas, assim como alguns sacos de pó de giz.

"Deixei isso escondido durante a limpeza do depósito hoje à tarde, bem esperto não é?"

Ela sorriu com astúcia, e então começou a carregar o saco de giz, que era quase tão pesado quanto ela para o carrinho, e então puxou a sua alça. A maneira que ela puxava o carro me fez perceber o quão jovem ela era. Acho que esses estudantes do fundamental não são mais que crianças durante a 5ª série.

Cuidadosamente coloquei a desacordada Asahina-san no chão, apoiando-a a parede do depósito, por favor, fique aqui sentada como uma boa garota até eu voltar.

"Deixe-me fazer isso! Me entregue essa coisa, você leva a maquina de giz."

Será que eu devia estar realmente a ajudando? Todo esse tempo fui escravizado por Haruhi, ela era como um andróide que entrava em frenesi e não parava até destruir tudo ao seu redor. Pelo jeito continuava igual, no passado ou no presente. Aparentemente a natureza de uma pessoa não muda assim tão facilmente em um espaço de três anos.


"Siga as minhas instruções e desenhe as linhas. Sim, você mesmo! Afinal, eu preciso olhar de longe para não cometer nenhum erro. Ah! Você desenhou errado ali! O que pensa que está fazendo?!"

Para sair por ai dando ordens para um rapaz do ensino médio que nunca viu na vida, sem ao menos hesitar, ficava claro que aquela tinha que ser a Haruhi. Se estivesse encontrando essa garota pela primeira vez, com certeza a acharia completamente insana.

Se eu a conhecesse antes de encontrar Nagato, Asahina-san, e Koizumi, é claro.


Seguindo as ordens de Haruhi, desenhei as linhas brancas ao redor da pista. Pelos primeiros trinta minutos, nenhum professor sequer apareceu, e nenhum carro da polícia deu as caras para investigar após receber queixas dos vizinhos.

Será que as estranhas figuras simbólicas que Taniguchi disse terem aparecido na pista de corrida teriam sido feitas por ninguém menos que eu mesmo?

Silenciosamente olhei para os padrões que me esforcei tanto para desenhar. Haruhi caminhou para o meu lado e pegou a maquina de desenho das minhas mãos. Então começou a desenhar algumas linhas a mais e disse;

"Ei, você acredita que alienígenas existem?"

Que pergunta mais súbita!

"Acho que sim."

A imagem de Nagato passou rapidamente pela minha cabeça.

"E os tais viajantes do tempo?"

"Hmm, não seria muito surpreendente se eles existissem."

Para falar a verdade, nesse momento, eu mesmo sou um deles.

"E que tal espers?"

"Eles estão em todo o canto, não é?"

De repente, pensei em numerosos pontos escarlates cruzando os céus.

"E sliders?"

"Não encontrei nenhum deles ainda."

"Hmph."

Haruhi deixou a maquina de lado, e esfregou o pó de giz para fora do seu rosto com o canto do ombro.

"Hmm, isso deve dar."

Comecei a me sentir desconfortável, será que disse algo que não devia ter dito? Haruhi olhou para mim e disse:

"Esse é um uniforme do colégio médio do norte?"

"Exatamente."

"E qual é o seu nome?"

"John Smith."

".... você é um idiota por acaso?"

"Não posso usar um pseudônimo de vez em quando?"

"E quem é aquela garota?"

"É a minha irmã. Ela sofre de uma doença chamada narcolepsia [7]. Ela tem sido assim já faz um tempo, caindo no sono de repente nas piores horas e lugares, é por isso que tenho de ficar carregando-a por ai."

7-[Nota do tradutor: Narcolepsia é uma condição neurológica caracterizada por episódios irresistíveis de sono e em geral distúrbio do sono. É um tipo de dissonia].

"Hmph."

Haruhi mordeu seus lábios, e se virou de costas, com uma expressão de descrença no rosto. Então, decidi mudar de assunto.

"Falando nisso, para que isso serve?"

"Você não percebeu? É uma mensagem."

"Para quem? Não me diga que é pra Hikoboshi e Orihime?"

Haruhi me olhou com surpresa e retrucou;

"Como você sabia?"

"... bem, hoje é o dia do Tanabata. É que eu conheço uma pessoa que faz coisas desse tipo também."

"Sério!? Realmente gostaria de encontrar essa pessoa. Existe alguém assim no seu colégio?"

"Sim."

Na verdade, de hoje em diante, a única pessoa que faria esse tipo de coisas é você.

"Hmm, a escola média no norte, huh..."

Haruhi resmungou enquanto pensava profundamente. Ela ficou em silêncio por um tempo como um vegetal. Então se virou de repente, dando as costas para mim.

"Estou voltando para casa. Acho que já fiz o que tinha que fazer. Até mais."

Ela caminhou a passos largos. Nem uma palavra de agradecimento? Que rude, mesmo sabendo que Haruhi iria reagir assim nesse caso. Além do mais, ela não falou seu nome nesse tempo todo. Acho que é melhor assim.


Não podemos ficar assim para sempre, então decidi acordar Asahina-san. É claro, não antes de devolver o carrinho e o pó de giz que Haruhi abandonara atrás do depósito.

Dormindo como uma gata de rua. Asahina-san estava tão linda que estava tentado a fazer algo pervertido com ela, mas no final, eu resisti a essa provação e lentamente chacoalhei os seus ombros.

"Uhm... huh. Eh?"

Abrindo seus olhos, Asahina-san começou a olhar freneticamente ao seu redor.

"EH!?"

Ela gritou, então levantou aos saltos.

"O, o, o... onde estamos? Por que? Que tempo é esse?"

Como eu deveria respondê-la? Enquanto procurava um argumento válido. Asahina-san subitamente gritou, "AH!!!" mesmo no escuro, conseguia ver que seu rosto alvo se tornara ainda mais pálido do que o normal.

Asahina-san tateou o seu corpo com ambas as mãos.

"O TPDD... sumiu. Eu não consigo encontrar~~."

Ela estava à beira das lágrimas, então depois de alguns instantes Asahina-san começou realmente a chorar. Ela era como uma criança perdida que esfregava as mãos pequenas sobre seus olhos úmidos. Mas agora não é a hora de admirar a sua beleza.

"O é um TPDD?"

  • Soluça~~ "... isso é uma informação confidencial, eu não devia dizer isso... mas é algo como uma maquina do tempo. Eu a usei para chegarmos nesse plano temporal... mas não consigo a encontrar. Sem isso, não podemos retornar ao tempo de que viemos..."

"Como você perdeu isso?"

"Não sei... não era para eu o perder... mas realmente desapareceu."

Pensei na outra Asahina-san, que estava mexendo em seu corpo há algum tempo.

"Ninguém poderia aparecer e nos ajudar..."

"Isso é impossível. Sob~~"

Asahina-san me explicou enquanto choramingava, que todos os eventos ocorridos em um plano temporal estão pré-definidos, e se existe um TPDD, ele deveria estar com ela. Agora que ele sumiu, significa que sua perda era inevitável, e com isso havia sido decidido que "ela não mais o possui"... ou algo assim. O que isso deveria significar?

"Em outras palavras. O que vai acontecer conosco agora?"

  • Soluço~~ "Isso significa que se as coisas continuarem assim, ficaremos presos nesse plano, e seremos incapazes de voltar ao nosso tempo original."

Agora as coisas ficaram sérias! Pensando bem, de alguma forma não fico muito alarmado. A Asahina-san adulta nunca disse nada disso para mim. Então acho que ela foi quem pegou o tal de TPDD, e acabou criando toda essa situação. Deduzo que Asahina-san (a adulta) veio para o passado apenas para isso. Para aquela Asahina-san que veio de um futuro ainda mais distante do que essa Asahina-san, fazer isso era inevitável.

Tirei meus olhos de Asahina-san, que soluçava nervosamente, e os centrei na pista de corrida, os padrões misteriosos que Haruhi pensou e que foram desenhados por mim, pareciam extremamente distorcidos. Os professores e alunos dessa escola entrariam em choque quando vissem isso pela manhã. Só espero que esses rabiscos não sejam uma maldição voltada aos alienígenas... quando pensava nisso, finalmente percebi uma coisa.

Estava escuro, a escola estava apenas mal iluminada pelas lâmpadas opacas dos postes da rua. Como as linhas que desenhei eram tão grandes, não conseguiria ver as figuras se não recuasse um pouco antes de olhar.

Por isso demorei tanto para descobrir.

Tateei meus bolsos e peguei o tanzaku que Nagato havia me entregue. Nele haviam misteriosas formas geométricas desenhadas.

"Deve ter um jeito de sairmos dessa."

Quando disse isso, Asahina-san me olhou piscando confusamente, enquanto eu continuava estudando o tanzaku.

Os padrões simbólicos desenhados nele, eram exatamente os mesmos da mensagem de Haruhi para as estrelas, a mensagem que ela e eu desenhamos na pista da escola não muito tempo atrás.


Rapidamente fomos embora da escola intermediaria do leste, em direção ao luxuoso bloco de apartamento perto da estação.

"Essa não é... a casa de Nagato-san?"

"Sim. Eu não perguntei especificamente quando ela veio para a Terra, mas tenho certeza que ela estava aqui há três anos... eu acho."

Fiquei parado em frente à entrada do prédio e apertei o botão para o apartamento 708. Um ruído continuo e estridente podia ser ouvido através do interfone, conseguia sentir o calor das mãos nervosas de Asahina-san segurando o meu braço. Então falei no fone.

"Essa é a residência de Nagato Yuki?"

" ... " - o interfone respondeu assim.

"Uhm, eu não sei como posso dizer isso."

" ... "

"Sou um amigo de Suzumiya Haruhi... isso faz algum sentido para você?"

Uma respiração surpresa podia ser ouvida pelo auto falante. Uma breve pausa, e então...

"Pode entrar."

Beep. O portão se abriu. Levei Asahina-san, que estava apavorada, até o elevador. Nós então chegamos ao sétimo andar, em frente ao apartamento 708, que já havia visitado uma vez antes. Empurrei levemente a porta que se abriu devagar.

Ali estava Nagato Yuki em frente a porta. Tudo parecia tão surreal para mim. Era mesmo verdade que tínhamos viajado no tempo?

Nagato parecia exatamente a mesma de antes, o que me levou a dúvida sobre a veracidade dessa viagem no tempo. A maneira que ela vestia o mesmo uniforme do nosso colégio, e olhava para mim com aqueles olhos sem emoção, alem da aparente falta de calor corporal e de senso de existência não era nem um pouco diferente da Nagato que eu costumava conhecer. A única diferença entre elas é que a nossa Nagato parou de usar óculos recentemente, enquanto essa os usava como da primeira vez que eu a vi.

"Ei!" - levantei o meu braço e dei um sorriso amistoso a ela. Nagato como sempre era um poço de emoções. Asahina-san se escondeu atrás de mim, tremendo sem parar.

"Podemos entrar?"

" ... "

Nagato silenciosamente se virou em direção ao seu apartamento. Acho que ela nos deu permissão para entrar. Tiramos nossos sapatos e fomos até a sala de estar. Que por sinal estava igual a daqui três anos, o lugar permanecia vazio como da última vez. Nagato permaneceu parada ali esperando para que entrássemos. Sem escolhas, decidi explicar tudo para ela. Por onde eu posso começar? Pelo dia em que encontrei Haruhi pela primeira vez na escola? Essa é uma história extremamente longa.

Suprimindo os detalhes, a dei um breve resumo do que aconteceu. Seus olhos sem emoção continuaram me fitando por entre as lentes dos óculos. Acho que passei uns cinco minutos explicando, apesar de pessoalmente achar que toda história envolvendo Haruhi não faz sentido nenhum.

"... e então, a você de três anos no futuro me deu isso."

Nagato encarou o tanzaku que eu tirei do bolso, seus dedos passavam sobre os símbolos estranhos como se lessem um código de barras.

"Entendido."

Nagato simplesmente abanou a cabeça. Era só isso? Espere, de repente pensei em algo que realmente estava me incomodando.

Coloquei minha mão na testa e disse.

"É verdade que conhecemos a Nagato já faz algum tempo, mas essa é você daqui três anos. Para você, essa é a primeira vez que nos vemos, certo?"

Mesmo eu não entendia do que estava falando. Os óculos de Nagato brilharam enquanto ela respondia como se nada tivesse acontecido.

"Sim."

"Então..."

"Obtendo permissão para compartilhar memória com a disparidade temporal. Adquirindo dados reversíveis do plano móvel temporal."

Que diabos é isso?

"O 'eu' que existe nesse plano temporal, e o 'eu' que existe no plano futuro, são essencialmente a mesma pessoa."

E o que? Esse não é geralmente o caso? Mas não pode ser possível que a Nagato de três anos atrás possa compartilhar a memória com a Nagato de três anos no futuro.

"É possível."

Como você faz isso?

"Sincronização."

Uhm, ainda não entendi.

Nagato não respondeu, e lentamente tirou os óculos. Seus olhos sem emoção piscaram para mim. Esse era o rosto da garota devoradora de livros que eu conhecia. Essa era a Nagato Yuki que eu conhecia.

"Por que você está com o nosso uniforme? Você já começou a ir para a escola?"

"Não, atualmente estou em modo de espera."

"Espera... você pretende esperar pelos próximos três anos?"

"Sim."

"Isso é realmente..."

Uma demonstração de paciência. Você não acha isso muito chato? Nagato abanou a cabeça em negação e disse;

"Essa é a minha missão."

Seus olhos límpidos olharam diretamente para mim.

"Há mais de uma maneira de se mover pelo tempo."

Nagato disse com uma expressão vazia.

"TPDD é só uma ferramenta para controlar o espaço-tempo, e contêm incertezas e erros. Muitas teorias existem sobre a movimentação pelo continuo espaço-tempo."

Asahina-san novamente se agarrou forte ao meu braço.

"Uhm... e o que isso significa?"

"Usar o TPDD para transferir formas orgânicas através do tempo é possível, mas isso irá gerar interferências. Para nós, ela não é uma ferramenta ideal."

Quando você diz "nós", quer dizer a Entidade Senciente de Dados Integrados?

"Nagato-san pode realizar um salto no tempo em sua forma completa?"

"Forma não é necessária. Já é o suficiente se uma viagem no tempo contiver os mesmos dados."

Ficar alternando entre o passado, presente, e futuro, hun?

Se Asahina-san pode fazer isso, não me surpreenderia se Nagato também conseguisse. Afinal, ela possui os poderes adequados para tal tarefa. Comecei a pensar, que se comparada com Koizumi e Nagato, Asahina-san não fica meio fora do padrão?

"Tudo bem então."

Interrompi a conversa entre Nagato e Asahina-san, afinal agora não era hora de discutir a teoria e o funcionamento das viagens no tempo. A questão agora era como nós conseguiríamos voltar para o nosso futuro.

Mesmo assim, a única coisa que Nagato fez foi dar um aceno com a cabeça e dizer;

"Isso pode ser feito."

Ela se levantou e abriu a porta de papel para o quarto adjacente a sala de estar.

"Aqui."

Era um quarto no estilo japonês, forrado com tatami [8], na verdade, não existia nada no quarto a não ser o tatami. Parecia realmente solitário, como esperado da casa de Nagato. Eu podia entender isso, mas porque ela nos trouxe a esse quarto? Tem uma maquina do tempo escondida aqui? Quando estava prestes a soltar toda essa torrente de questionamentos, Nagato nos trouxe um futon do armário e o colocou no chão. Ela até trouxe um par de travesseiros junto.

8-[Nota do tradutor: Tatame, que significava originariamente "dobrado e empilhado", é o piso tradicional japonês. O tatame tradicional é feito de palha de arroz prensada revestida com esteira de junco e faixa preta lateral. Seu formato e tamanho são padronizados. É o piso das áreas secas de uma residência e serve de medida para os cômodos.].


"Espero que seja só a minha imaginação... mas você não está pedindo para dormirmos aqui, está?"

Nagato carregava os travesseiros enquanto olhava para mim. Asahina-san e eu podíamos ser vistos claramente refletidos em suas pupilas cristalinas.

"Sim."

"Aqui? Com Asahina-san? Nós dois?"

"Sim."

Olhei de relance para o meu lado e vi Asahina-san com um olhar envergonhado, sua face corava furiosamente. Acho que já esperava por esse tipo de reação.

Mas Nagato não parecia nem um pouco preocupada.

"Agora durmam."

Não seja tão direta!

"É só dormir."

Sigh... é isso que pretendo fazer então. Troquei olhares como Asahina-san, e ela corou novamente, então dei de ombros. Viemos atrás de ajuda de Nagato, se ela está nos mandando dormir, então vamos dormir! Se acordarmos no nosso tempo, então essa vai ter sido uma solução um bocado simples.

Nagato desligou a o interruptor e começou a murmurar alguma coisa. Ela não estava nos desejando uma boa noite, estava? A lâmpada enfraqueceu e se por fim se apagou.

Tenham uma boa noite! Me deitei e puxei o cobertor sobre o meu corpo.


No momento seguinte, as luzes se acenderam novamente. A lâmpada fluorescente piscou lentamente até se estabilizar. Huh? Que sensação estranha é essa? A janela nos mostrava o mesmo céu noturno de antes.

Me sentei sobre o futon [9], Asahina-san também se sentou, agarrada em seu travesseiro.

9-[Nota do tradutor: Um futón é um tipo de colchão usado na cama tradicional japonesa. Os futons japoneses são baixos, com cerca de 5 cm de altura e têm no interior algodão ou material sintético. Vendem-se conjuntos no Japão que incluem o colchão (shikibuton), o edredão (kakebuton) e a almofada (makura). Estas almofadas enchem-se com feijão verde, trigo negro ou peças de plástico].

Seu rosto inocente e infantil parecia confuso, me olhando com olhos questionadores, mas é claro que eu não saberia responder as suas questões.

Nagato estava ali parada como antes, ligando o interruptor.

Tinha uma sensação que aquela não era a Nagato de sempre, era como se tivesse alguma emoção dentro dessa. Olhei atentamente para aquele rosto pálido, e parecia que ela queria dizer alguma coisa que conflitava com o seu coração. Se não tivesse observado seu rosto por algum tempo, não teria percebido. Posso garantir que isso não é apenas a minha imaginação.

Um som de espanto podia ser ouvido do meu lado. Me virei e encontrei Asahina-san olhando o relógio digital em seu pulso direito.

"Eh? Será mesmo? ... eh? Isso é realmente verdade?"

Dei uma olhada em seu relógio, seria esse o infame TPDD?

"Não, é só um relógio digital automático."


Você diz que isso é um daqueles relógios que se sincronizam sozinhos com o tempo correto? Asahina-san sorriu para mim e disse;

"Nós voltamos. Nosso tempo de origem era sete de julho... logo depois das nove e meia da noite. Que alivio..."

Ela soltou um suspiro de alivio do fundo da alma.

Em frente a porta, estava a Nagato que conhecíamos. Se tivéssemos de distinguir entre essa e aquela que ainda usava óculos, essa Nagato Yuki era aquela que tinha se suavizado um pouco. Vendo ela três anos depois, finalmente compreendi. Essa Nagato em nossa frente realmente havia mudado um pouco desde nosso primeiro encontro no clube de literatura, antes mesmo de Haruhi fundar a brigada. Essa mudança era tão pequena, que provavelmente nem ela mesmo havia percebido.

"Mas como você fez isso?"

Nagato explicou para Asahina-san, sem demonstrar emoção alguma.

"Congelamento seletivo dos dados liquefeitos com conexão com o espaço-tempo, preservando-o até o destino apropriado no continuum espaço-tempo conhecido, e então o descongelamento dos dados."

Ela disse esses termos abstratos, então fez uma pausa e acrescentou.

"E é apenas isso."

Asahina-san tentou se levantar, mas seus joelhos cederam, e ela se ajoelhou novamente.

"Não pode ser... isso é impossível... Nagato-san, você..."

Nagato permaneceu em silêncio.

"Tem alguma coisa errada?" - perguntei.

"Nagato-san parou o tempo aqui dentro. Ela provavelmente esteve esse tempo todo aqui dentro, enquanto estávamos congelados, até hoje, quando ela descongelou o tempo... certo?"

"Sim." - Nagato respondeu com um aceno de cabeça.

"Isso é incrível, a capacidade de parar o tempo... wah~"

Asahina-san tombou exausta enquanto suspirava.

Acho que voltamos a salvo para o nosso presente. Tenho certeza disso só de olhar para a reação de Asahina-san, ela é o tipo de pessoa que deixa transparecer as preocupações no seu rosto. Mas enfim, acredito que voltamos de três anos atrás e o tempo esteve parado até agora. Nesse momento posso tolerar quase qualquer coisa, não importa o que seja, eu posso aceitar sem problemas. Tudo bem... mas ainda tem uma coisa que me incomoda.

Essa não era a primeira vez que visitei a casa de Nagato. Ela já havia me convidado uma vez, a mais de um mês atrás, mas daquela vez, eu só tinha visto a sala de visitas e não entrei nesse espaço, que na verdade nem tinha ciência que existia. Então... uhm, em outras palavras, o que está acontecendo aqui?

Olhei para Nagato, que me devolveu o olhar.

... em outras palavras, quando eu a visitei pela primeira vez, e ouvi aquela historia envolvendo explosões de dados, havia outro "eu" dormindo na sala ao lado.

Era isso que havia acontecido? Bem, pelo menos é a coisa mais correta segundo a dedução lógica.

"Sim." - Nagato respondeu. Me senti tonto de repente.

"... isso significa que você sabia o que iria acontecer quando me encontrou pela primeira vez? Incluindo a minha existência e os eventos de hoje?"

"Sim."

Pela minha perspectiva, a primeira vez que encontrei Nagato foi durante o começo das aulas, quando Haruhi fundou a Brigada SOS. Porém, Nagato já havia me encontrado no Tanabata, três anos atrás. Para mim, isso havia acontecido a não muito tempo, mas para ela, já haviam se passado três anos. Acho que estou enlouquecendo.

Asahina-san e eu olhávamos chocados para essa súbita mudança no curso dos eventos. Sempre soube do que Nagato era capaz, mas nunca achei que ela pudesse parar o tempo. Nesse caso, isso não a faz mais incrível que a própria mulher maravilha?

"Isso não é verdade." - ela abnegou meus elogios com humildade - "Foi uma exceção especial. Uma emergência. A não quer que o caso seja muito importante, esse método raramente é utilizado."

E nós somos considerados "muito importantes".

"Muito obrigado, Nagato."

Decidi a agradecer primeiro, acho que isso era o mínimo que eu poderia fazer.

"Isso não importa."

Nagato balançou a cabeça de forma fria, então me entregou o tanzaku com as estranhas formas geométricas desenhadas. Percebi que a qualidade do papel havia piorado muito, afinal, ele havia sido deixado ali por três anos.

"Ah sim, os símbolos no tanzaku, o que eles significam?"

Perguntei casualmente. Não acho que alguém pode ter entendido os símbolos sem sentido desenhados por Haruhi, então acho que tudo isso deve ter sido uma grande piada.

"Eu estou aqui."

Nagato respondeu. Estava ficando irritado com toda essa situação.

"Isto era o que estava escrito."

Estou ficando cada vez mais confuso.

"Esses símbolos e desenhos como os de Nazca [10] são algum tipo de linguagem alienígena?"

10-[As linhas de Nazca são geóglifos de enormes dimensões localizados no deserto de Nazca, no altiplano do Peru. Criados pelo povo de Nasca entre os séculos III a.C e VIII, estes geóglifos representam centenas de figuras, incluindo imagens estilizadas de animais como macacos, beija-flores ou lagartos, traçados no solo plano do deserto, em linhas se constituem em extensas esteiras de pedras não muito grandes catadas dos arredores.].

Mas Nagato não respondeu essa pergunta.


Asahina-san e eu deixamos à casa de Nagato e andamos sob o céu estrelado.

"Asahina-san, tem algum motivo para você me mandar pro passado?"

Ela fez o seu melhor para pensar em uma resposta, então levantou a cabeça e disse em um tom suave;

"Me desculpe. Eu... bem... uhm... não estou muito certa... é que eu sou como... a interface final... não, o fundo... não, eu sou mesmo uma amadora."

"Mesmo assim, você está ao lado de Haruhi."

"Mas nunca pensei que ela me pegaria para criar o clube."

Ela fez uma cara de descontentamento e falou. Asahina-san, sabia que você também fica linda com esse tipo de expressão?

"Só estava seguindo ordens... dos meus superiores, ou de alguém de um posto ainda mais alto. Então nem eu mesmo sei o significado das coisas que estou fazendo."

Olhando para a corada Asahina-san, pensei comigo mesmo, será que esse superior não poderia ser ninguém menos que a Asahina-san adulta? Era uma especulação sem bases, mas afinal elas eram as únicas viajantes do tempo que eu conhecia, então não acho que podia ser culpado por pensar assim.

"Entendo."

Chacoalhei a cabeça e resmunguei.

Sim, eu ainda não compreendo a situação toda. Se a Asahina-san adulta apareceu para me dar uma pista, afinal ela devia saber o que acontecia conosco. E ela nunca havia contado nada disso para a nossa Asahina-san. Afinal, que diabos estava acontecendo?

"Hmm..."

Não tenho por que esquentar a cabeça com isso. Se ela não entende o que está acontecendo, não sou eu que vou entender. Nagato disse que existe mais de uma maneira de viajar no tempo. Os viajantes de tempo do futuro devem ter suas próprias regras, não é? Espero que alguém as explique para mim algum dia, então estará tudo acertado.

Separei-me de Asahina-san na estação. Sua figura pequena mais uma vez me agradecera, e fora embora como se estivesse carregando uma grande culpa. Depois que a perdi de vista, também fui para casa, até perceber que esquecera a mala na sala do clube.


No dia seguinte, oito de julho, pelo menos para a minha consciência era realmente o dia seguinte, mas para meu corpo era como se três anos e um dia tivessem se passado sem eu ir para a aula. Fui para escola de mãos vazias, diretamente para a sala do clube, então voltei para a sala após recuperar a minha mala. Aparentemente Asahina-san havia aparecido antes de mim, pois não via a sua mala em lugar nenhum.

Chegando na sala, vi Haruhi sentada ali, olhando concentrada para fora da janela, como se esperasse atentamente a chegada de alienígenas ou algo do gênero.

"O que aconteceu? Você parece deprimida desde ontem. Andou comendo algum cogumelo venenoso?"

Falei com ela e então me sentei. Haruhi deu um suspiro intencional e respondeu.

"Não é nada. Só estava meio melancólica pensando no passado. Algumas lembranças minhas sobre o Tanabata"

Desisti logo de uma vez. Quais eram as suas memórias?... bem, sobre isso eu não perguntei.

"Entendo."

Haruhi virou a cabeça e continuou a observar as mudanças nas nuvens. Dei de ombros. Não tinha intenções de acender o pavio dessa bomba. Acho que qualquer um com o mínimo de bom senso faria o mesmo.


Depois da aula, o clube de literatura se tornara mais uma vez a base oculta da Brigada SOS.

Haruhi só disse, "Joguem o bambu fora, ele é inútil agora." - e então foi embora. A faixa de "comandante" parecia solitária jogada sobre a mesa. Sigh, aposto que amanhã ela vai voltar a ser a garota excêntrica de sempre, nos pedindo para fazer todo o tipo de coisas impossíveis. Afinal, ela é esse tipo de pessoa.

Asahina-san também não estava lá. Só Nagato Yuki permanecia na sala, alem de mim e de Koizumi, que jogávamos xadrez. Fui incapaz de resistir a sua vontade de me "evangelizar" no mundo do xadrez, e acabei concordando em aprender o jogo.

Achei que Koizumi começou a jogar xadrez porque era horrível no Othelo, mas acho que eu estava errado. Ele é péssimo no xadrez também.

Capturei um dos peões de Koizumi com meu cavalo, enquanto encarava Nagato, que olhava atentamente para o tabuleiro com seu rosto vazio.

"Diga, Nagato, eu não entendi nada ainda. Asahina-san é realmente do futuro?"

Ela balançou lentamente a cabeça.

"Sim."

"Mas eu sinto certo paradoxo em ir para o passado e então voltar para o futuro."

Como eu esperava. Era como se não houvesse continuidade entre o passado e o futuro - nós voltamos três anos, fomos dormir, e acordamos novamente no presente, e esse "presente" que estamos agora é diferente do mundo de "ontem", de onde partimos. Mesmo se vermos pelos resultados, eu acabei dando idéias que não deveria ter dado a Haruhi, e essas idéias a trouxeram para o colégio do norte, aumentando seu interesse em toda a forma de vida não humana... essa possibilidade não deixa de existir.

Se não tivesse ido para o passado três anos atrás, tudo poderia na obter acontecido. Julgando pelo tom de voz da Asahina-san adulta, ela parece saber mais de nós. Em outras palavras, a continuidade realmente existe entre o passado e o futuro. O que contradiz o que ela me disse anteriormente. Pelo menos posso perceber isso, não importa o quão estúpido eu seja.

"Como não há conclusão na teoria do paradoxo, não há como provar que não há paradoxo algum."

Nagato disse calmamente, como uma expressão que dizia 'Isso deve explicar tudo.'. Essa explicação deve ter sido boa o suficiente para você, mas eu não entendi coisa alguma. Nagato então levantou seu rosto alvo e olhou para mim.

"Logo você vai entender."

Ela voltou para a cadeira de sempre e retornou ao mundo dos livros. Agora era a vez de Koizumi falar.

"Se esse é o caso, então meu rei foi colocado em cheque pela sua torre. Esse é certamente um problema para mim, então, como eu deveria escapar?"

Koizumi disse isso enquanto pegava o rei preto e o colocava casualmente dentro do bolso do seu blazer. Ele então mostrou a palma da mão, como um mágico revelando seus truques.

"Bem, é criado algum paradoxo se eu fizer isso?"

Brinquei com a torre entre meus dedos e pensei; não estou com vontade de fazer um joguinho de filosofia zen [11] com você, e não me satisfaço pensando nesse tipo de assunto abstrato. Então me recuso a responder a sua pergunta.

11-[Nota do tradutor: Zen é o nome japonês da tradição C'han, surgida na China e associada em suas origens ao Budismo do ramo Mahayana. Foi ou é cultivado sobretudo na China, Japão, Vietnam e Coréia. A prática básica do Zen na versão japonesa e monástica é o Zazen, tipo de meditação contemplativa que visa a levar o praticante à "experiência direta da realidade". Todas as escolas de Zen são versadas em filosofia e doutrina budistas, incluindo as Quatro Nobres Verdades, o Nobre Caminho Óctuplo e as Paramitas. No entanto, a ênfase do Zen em experimentar a realidade diretamente, além de idéias e palavras, o mantém sempre nos limites da tradição].

Em todo o caso - não existe dúvida alguma que Haruhi é uma existência paradoxal, e o mesmo pode se dizer sobre este mundo.

"Alem do mais o rei não representa nada para nós, ao invés disso, quem cumpre o papel principal é a rainha."

Coloquei a torre branca no quadrado onde o rei preto estava. Rainha para cavalo 8.

"... não sei o que vai acontecer de agora em diante, só espero que não seja algo que me de uma grande dor de cabeça."

Nagato permaneceu em silêncio, enquanto Koizumi sorriu e disse.

"Acho que é melhor que as coisas continuem pacíficas, ou será que você prefere que algo interessante aconteça?"

Suspirei, enquanto desenhava um circulo ao lado do meu nome no placar.



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