Difference between revisions of "Zaregoto:Volume 1: Capítulo 1.1"

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“Não tem muita coisa mais insignificante que tentar manter uma relação pessoal que acabou dando errado. Mas… Levando isso em conta eu realmente fico admirada com o talento da Kunagisa-chan. Mesmo no ER3 ela—ou melhor, ela. O programa que elas criaram ainda está sendo usado…, e quem diria que eu acabaria encontrando com ela em um lugar assim.”
   
 
“… Porque a Akane-san veio para essa ilha?”
 
“… Porque a Akane-san veio para essa ilha?”

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Sábio Azul[edit]



Kunagisa Tomo – Engenheira gênio.


0


Não se apresse tanto.

Bem, vamos tranquilamente.


1


A minha vida na Ilha dos Corvos de Asas Molhadas chegou a sua terceira manhã. Enquanto eu tentava distinguir coisas ambíguas como o sonho que eu estava vendo até agora e a realidade, eu, vagamente, abri meus olhos.

Da janela retangular que se encontrava em uma posição alta entrava um pouco de luz, mas o quarto ainda estava bem escuro. Como esse quarto não possui lâmpadas, será necessário esperar o tempo passar mais um pouco para que fique mais claro. Isso quer dizer que o sol acabou de nascer e é um horário cedo—deve ser mais ou menos seis da manhã. Se eu for deduzir isso do meu relógio interno e do horário em que o sol nasce deve ser algo assim mesmo. Essa dedução teve ter no máximo erro de quinze minutos, mas mesmo que tenha um erro de uma hora isso não importa nem um pouco para mim.

“… Acordar.”

Depois de sussurrar isso eu, lentamente, levantei meu corpo.

Um quarto vazio que só tem uma cadeira como mobília. Completamente vazio, só com um futon estendido. O teto é alto e isso ajuda a sentir o interior do quarto ainda maior. Essa condição de <insuficiência> lembrava na realidade uma prisão ou algo do tipo e por isso eu me sentia só um pouco na sensação de um prisioneiro condenado a morte. Hoje é a segunda vez que acordo dessa maneira.

Mas na verdade, embora não seja uma prisão esse lugar também não é um quarto. Parece que é um espaço usado normalmente como armazém. Quando eu pedi que me informassem qual seria o menor quarto dessa mansão, foi esse o quarto mostrado. O menor quarto. Ainda assim é muito maior que meu quarto alugado e isso, bem, é algo deprimente.

“Não…, nem chega a ser algo deprimente.”

E então.

Eu troco meu canal de raciocínio do modo de prisioneiro condenado a morte para o modo normal.

Antes de tudo queria confirmar o horário correto e olhei para o meu relógio de pulso, mas não aparecia nada na tela de cristal líquido. Parece que enquanto eu estava dormindo a bateria acabou. Não, como eu troquei a bateria recentemente deve ter sido outra razão que causou esse problema. Como esse é o caso é bom pedir para a Kunagisa consertar.

Depois de agitar minha cabeça que ainda estava sonolenta e fazer um pouco de calistenia saí do quarto. Caminhei um pouco por um longo tapete vermelho que se estendia para todos os lados e que parecia ser caro, ou melhor, deve ser caro. Ao chegar às escadas que tem formato de espiral encontrei por acaso com duas pessoas, a Rei-san e a Akari-san.

“Muito bom dia. As duas realmente acordam cedo, não?”

Antes de tudo experimentei dar um cumprimento de acordo com a boa etiqueta, mas tanto a Rei-san como a Akari-san só abaixaram levemente suas cabeças e passaram por mim sem falar nada.

“… Que frio. Muito bom.”

Sem dúvida elas estão trabalhando agora e eu não sou exatamente um <convidado>, então tenho que me satisfazer com esse tipo de reação. Se eu quiser alguma reação a mais que aquela eu teria que erguer as duas mãos e dizer algo como <First Yuppie!>, mas eu não tenho vontade de fazer isso.

Handa Rei-san e a Chiga Akari-san.

As duas são empregadas que trabalham nessa mansão. A Rei-san está na posição de empregada chefe, enquanto a Akari-san está na posição de empregada normal trabalhando sob as ordens dela. Na mansão ainda existem mais duas empregadas fora elas, as duas tem a mesma posição da Akari-san e isso quer dizer que no total quatro empregadas estão nessa mansão. Pensando na dona da mansão e na disposição da mansão só quatro parece um número pequeno, mas como parece que elas são especialistas, elas realizam o seu trabalho rapidamente.

A dona da mansão—a pessoa para a qual a Rei-san e a Akari-san servem é chamada de Akagami Iria. A dona da ilha e da mansão e, além disso, foi a pessoa que convidou eu e a Kunagisa.

“Ah…, Eu não fui realmente convidado…”

Mas quantos anos será que a Akari-san tem?

A Rei-san de vista parece estar na segunda metade dos seus vinte anos. É difícil distinguir a idade de uma mulher nessa faixa de idade principalmente para eu que ainda sou uma criança, mas provavelmente não tem erro. Só que o problema é a Akari-san. Não importa como não acho que ela seja mais nova que eu, mas sem levar isso em conta ela parece extremamente jovem. É o tipo que você vê em centros de negócios/compras e mesmo sendo adulta consegue pagar meia em serviços públicos. Enquanto eu pensava algo como um zaregoto, se ela realmente teria interesse em homens mais novos (isso é com certeza um zaregoto) subi as escadas em formato de espiral e comecei a caminhar no corredor do segundo andar.

Meu objetivo é chegar ao quarto da Kunagisa.

Quando chegamos há dois dias o quarto da Kunagisa estava obviamente preparado, enquanto não havia um quarto preparado para mim. Isso é óbvio, já que nem eu imaginava vir para essa ilha estranha até receber um telefonema da Kunagisa naquele dia de manhã e por isso é ainda mais óbvio que elas não esperassem por isso.

Assim a Akari-san preparou um quarto para mim rapidamente, mas eu recusei isso de forma polida. Por quê? Vai dar para entender boa parte dessa razão quando eu abrir essa porta que está a minha frente.

Em todo caso depois de bater, eu abri a porta.

Dentro havia um grande espaço. Tapete branco, paredes de cor branca, mobília branca tudo isso para fazer o quarto parecer melhor. Eu também sei que a cor branca possui a característica de difundir a luz. A Kunagisa gosta em particular da cor branca e por isso parece que ela mandou preparar o quarto com as mobílias de modo a combinar com o branco. No centro do quarto havia uma mesa de madeira e um sofá luxuosos. Havia um lustre no teto que aparenta ser muito alto. Uma cama com dossel, um objeto que parecia ter sido retirado daqueles filmes sobre a Idade Média que focavam na realeza.

“… Não tem como dormir aqui…”

Por isso eu pedi que a Akari-san me mostrasse o armazém no primeiro andar, mas a Kunagisa Tomo, que não tem nenhuma ligação com sensitividades desse tipo, estava sobre o lençol de forma sonolenta.

Vi o exagerado relógio antigo que estava pendurado na parede (como se pode imaginar é branco também), era um pouco depois das seis como esperado.

Bem, enquanto eu pensava no que fazer agora, eu sentei ao lado cama e me satisfazia tocando o macio tapete artesanal.

E, a Kunagisa se virou enquanto dormia.

Logo em seguida abriu levemente as suas pálpebras.

“…Hm…? Ué… Ii-chan?”

A Kunagisa por ter reagido a minha presença ou não acabou acordando. Enquanto coçava o seu cabelo cor Hawaian Blue, ela me confirmou com os olhos sonolentos. “Aa… Unn…, Iichan… Bem… Veio me acordar, né… Sanku-1“

“Não, na verdade vim fazer você dormir, mas… O que aconteceu Tomo, é muito raro você dormir de noite. Ou você tinha acabado de dormir agora?”

Se for esse o caso fiz algo ruim.

Uun, e a Kunagisa agitou seu pescoço.

“É pra eu ter dormido umas três horas. É que ontem, foi um pouco… Aconteceu muita coisa Ii-chan. Espera mais cinco segundos…, …, …, Ohayon! Que manhã agradável!”

A Kunagisa com um grande vigor levantou da cama a metade de cima do seu pequeno corpo e com um egg pose mostrou um sorriso que se entendia por toda a face.

“… Ué, mas ainda está totalmente escuro. Então não é agradável. Não gosto disso. O melhor é ver o sol lá no alto quando se acorda.”

“Isso só de tarde.”

“Ainda assim dormi bem.”

A Kunagisa continua ignorando as minhas frases. “Acho que fui dormir lá pelas três. Ontem aconteceu algo ruim e por isso, Bokusama-chan2 acabei dormindo. Em momentos desagradáveis o melhor é dormir mesmo. Sono, algo como: essa é a única salvação dada por Deus. Então, Ii-chan.”

“O que foi Tomo?”

“Continue assim mais um pouco.”

Antes que eu pudesse reagir a Kunagisa rapidamente me segurou, me abraçou. Era quase como se ela estivesse se pendurado em mim, de forma que todo o peso dela estava sobre mim. A pequena cabeça da Kunagisa descansa no meu ombro direito. Nossos corpos ficaram grudados e os finos braços da Kunagisa envolveram meu pescoço.

Gyu.

Não é como se eu sentisse algum peso.

“… Bem, Kunagisa-san?”

“Ca-rre-gan-do.”

Parece que ela está carregando. Ouvindo isso eu não tenho como me mover. Desisti de reagir e deixei que a Kunagisa fizesse o que ela quisesse.

Mas então, eu seria uma tomada ou algo do tipo?

Vendo ela eu percebi que ela dormiu usando um casaco. Pelo que ouvi seja dentro ou fora do quarto, seja verão ou inverno a Kunagisa sempre está vestindo esse casaco. Algo mais próprio a homens, um casaco preto. Quando a Kunagisa, que não é muito alta, veste esse casaco de tamanho L as mangas acabam tocando o chão, mas ao que parece é por isso que ela gostou dele. Eu tentei ensinar a ela para que ao menos quando ela estivesse dormindo o tirasse, mas até agora nenhum resultado positivo. A Kunagisa Tomo é realmente alguém que age de acordo com o ritmo dela.

Nesse sentido eu também sou um pouco parecido.

“…, …. ….. Un, obrigado.”

Depois de dizer isso a Kunagisa finalmente se afastou do meu corpo.

“Carregamento completo. Vamos nos esforçar mais esse dia.”

A Kunagisa desceu da cama falando um yoisho. O cabelo azul treme levemente. E assim ela se dirigiu ao lugar contrário a cama, para a parede próxima a janela onde estão instalados os computadores. Eles foram trazidos do apartamento de Shirosaki dela, sim, os três computadores. Todos os três são da forma de torre. Os que estão colocados nas laterais são de tamanho comum e o do meio possui um tamanho consideravelmente maior. A cor é novamente branca. Eu não sei o porquê da Kunagisa gostar de uma cor que suja tão facilmente.

A mesa de computador estava colocada em um formato de U e no seu centro havia uma cadeira giratória que parecia ser uma almofada. A Kunagisa sentou profundamente nela. Aquela era a extensão aproximada na qual ela conseguia controlar os três teclados de uma vez. Não importa o quanto eu veja, ela só possui dois braços e como ela consegue controlar três teclados ao mesmo tempo é algo fora de minha compreensão.

Observando de trás, os teclados dos três computadores não eram nem do formato ASCII ou JIS ou OASIS, mas sim de misteriosas teclas alinhadas. Não é nem necessário fazer alguma pergunta sobre esse fato estranho. Para a hábil engenheira que é a Kunagisa Tomo o controle de teclados feitas por si mesma é algo muito simples.

Por sinal a Kunagisa não usa mouse. Algo como “Aquilo é muito demorado e por isso não dá”. Só que para um amador como eu um computador que não possui mouse parece algo estranho e inseguro fazendo com que eu não me sinta calmo. Mas não é como se eu não gostasse da sensação de não estar calmo.

“Ii-chan.”

“Que?”

“Amarra meu cabelo.”

Entendi, e eu me aproximei da cadeira onde a Kunagisa estava sentada. Tirei o prendedor de cabelos que estava no braço dela. E amarrei duas tranças, uma de cada lado.

“… Tá na hora de lavar o cabelo. Está grudento de tanto suor.”

“Odeio ofuro. É que, é que, olha, o cabelo não fica molhado?”

“Isso é óbvio. Olha isso, a cor azul está ficando mais forte.”

“Não consigo olhar para a minha cabeça. Ufufu, Se deixar desse jeito vai ficar de cor ultramarina-. Sanku- Ii-chan.”

A Kunagisa disse isso e sorriu muito feliz de maneira a esconder os seus lábios inferiores. Um sorriso ingênuo e desprotegido que faz com que quem olhe fique desnorteado.

“… Bem, pode ser assim então.”

Mesmo enquanto conversávamos assim os dedos da Kunagisa não pararam em nenhum momento. Realmente parecia a precisão de uma máquina, a maneira de como ela teclava com um ritmo constante. Como se fosse fazer um trabalho proposto exatamente da mesma maneira, como se fosse uma atividade que estivesse sendo realizada no subconsciente, um movimento que parecia fluir naturalmente. Nos três monitores apareciam frases em inglês e números que eu não conseguia entender e que apareciam e sumiam rapidamente.

“O que está fazendo logo depois de acordar Tomo?”

“Hm, é só um pouco-. Mesmo que eu diga você não deve entender-“

“Fun. É algo que realmente precisa usar três computadores?”

Ouvindo isso a Kunagisa fez um cara complicada e disse “Ii-chan o do meio é um workstation e não um computador.”

“…? O que é um workstation? Isso é diferente de um computador?”

“Uni-3, errado. Se você pensar que o computador e o workstation foram projetados pensando em uso individual eles são parecidos. Mas Ii-chan, o workstation é melhor.”

“A-…, Isso quer dizer que o workstation é um ótimo computador, então?”

Realmente disse algo próprio de um amador, alguém que não tem uma cabeça boa.

Hmm, e a Kunagisa pensa.

“Então Ii-chan computador (personal computer) é computador. Workstation é workstation. Ambos são computadores de uso geral, mas é melhor pensar que os dois são completamente diferentes.”

“O que é um computador de uso geral?”

Ouvindo a minha pergunta a Kunagisa mostrou um rosto de como se tivesse visto um homem primitivo e disse vagamente “Ii-chan, Ii-chan realmente não sabe nada…”

“Ii-chan nos cinco anos que morou em Houston o que você ficou fazendo?”

“Algo diferente do que você fez Tomo.”

“Fuin. Bem, deixa pra lá…”

Depois de ter inclinado um pouco seu pescoço e dito isso, a Kunagisa, como se um switch tivesse sido ativado, voltou ao trabalho. Novamente as letras e números que aparecem no monitor e se parecem com alguma maldição, algo que não entendo.

Por mim, eu queria saber o que é um workstation, queria saber com mais detalhes sobre essas divisões, mas eu não tenho tanta sede de conhecimento e como a Kunagisa voltou ao trabalho é exagero atrapalhar ela. Além disso, conseguir continuar entendendo a conversa dessa pequena garota que está além de ser uma nerd é muito difícil e por isso decidi parar a conversa por aí. Depois de massagear os ombros da Kunagisa sem muito cuidado decidi emprestar o banheiro. Ali lavei meu rosto e aproveitei para trocar de roupa.

“Ei Tomo, eu vou dar um passeio.”

A Kunagisa acena agitadamente com uma das mãos de qualquer forma. A outra mão, como sempre, estava ocupada com o teclado.

Depois de encolher meus ombros, saí do quarto da Kunagisa.

2


Se eu disser que conheço bem a Fundação Akagami, isso é uma mentira. É uma organização que não aparece muito em público e como ela se concentra especialmente na região de Kanto, não tem como eu, que nasci em Kobe, cresci em Houston e agora mora em Kyoto ter tido alguma relação com ela.

De forma mais grosseira a família Akagami é desde tempos antigos uma família de sucesso. Eles podem estar trabalhando com comércio ou podem ter criado um sistema no qual eles ganham dinheiro sem grande esforço. Nesse sentido nada é definitivo, mas não é necessário que isso seja definitivo. Em resumo a Fundação Akagami é rica.

Não só no Japão, mas eles possuem terras no mundo inteiro e aqui, a Ilha dos Corvos de Asas Molhadas, também é um bem imóvel deles.

E a pessoa que é a dona da mansão em estilo ocidental que está no centro da ilha, não é nem mais nem menos a Akagami Iria.

Como se pode ver pelo sobrenome ela é uma das netas do líder da Fundação Akagami. Uma ojou-sama de carne e osso que possui muito dinheiro e é de uma linhagem que tem sucesso há muitos anos. E então um dia vai ela vai herdar uma grande fortuna, suceder com uma enorme influência e liderar uma multidão de pessoas.

Entretanto ela já foi retirada da candidatura para ser a próxima líder e tudo que eu pensei antes deveria ser apresentado no passado.

Retirada.

Não sei o que ela fez, mas de qualquer jeito ela fez algo. Há cinco anos, quando a Iria-san estava com 16 anos, ela foi exilada para sempre da família principal. Nesse momento o líder da Fundação Akagami proporcionou um pouco de dinheiro de compensação (expressei assim, só que não tem como eu, um civil comum, ter noção da quantidade enorme de dinheiro que isso deve ter sido) e essa pequena ilha que está flutuando no mar do Japão.

Ou seja, isso é exílio em uma ilha.

Atualmente acho que isso foi feito em uma era errada, mas não é muito bom ficar metendo a boca no que os outros fazem. Além do mais se esse outro for uma Fundação que vive em outro mundo.

De qualquer jeito a Iria-san viveu por cinco anos junto com as quatro empregadas sem poder dar um passo para fora da ilha. Nessa ilha remota que não possui nenhuma forma de entretenimento por cinco anos. Eu acredito que de uma maneira isso seria um inferno, mas ao mesmo tempo daria uma pequena sensação de morar no céu. O quanto a Iria-san estava se sentindo chateada e solitária não é nem preciso dizer.

Afinal acho que posso dizer que a Kunagisa foi convidada para essa ilha para que a Iria-san não se sentisse chateada. Não é exagero dizer que com certeza não só a Kunagisa, mas da mesma maneira a Akane-san, a Maki-san, a Yayoi-san e a Kanami-san, todas estão nessa ilha para fazer com que a Iria-san não se sinta chateada.

“… Não, isso seria um pouco exagerado.”

Enfim.

A Iria-san não tem como sair da ilha, <já que é assim> ela decidiu convidar vários peritos para essa ilha. Vários peritos é um termo que está um pouco errado e dá para trocar esse termo por outro—A Iria-san está convidando para a sua mansão os assim chamados <gênios>. Se não tem como sair daqui, então vou fazer com que eles venham para cá, uma linha de raciocínio extremamente simples.

Famoso ou não, desde que essa pessoa tenha talento e técnica ela é convidada para essa ilha. A taxa de estadia é obviamente de graça e não só isso, mas todas as despesas são pagas pela Iria-san. Mais do que isso se eles vierem à ilha são eles que recebem dinheiro e conversa melhor que essa não tem.

Pelo que eu penso, a Iria-san tem em mente um salão da Grécia antiga. Vários artistas diferentes de várias áreas, ela está juntando os gênios e fazendo com que eles interajam entre si enquanto vivem de forma agradável. Isso não é algo que uma pessoa com senso comum pensaria, mas bem, dá para dizer que é uma bela idéia.

É uma ilha pequena e solitária que não tem nada a não serem florestas, mas para que os gênios possam descansar seus corpos e almas, pode ser que seja um bom lugar, afinal esse plano está tendo relativo sucesso.

Bem.

Enquanto eu andava aleatoriamente por essa ilha que não tem nada, passeava tranquilamente entre as florestas em um lugar relativamente distante da mansão, de repente, ao lado de uma cerejeira encontrei o Shinya-san.

“Ah–, … Ya, é assim que se fala?” disse o Shinya-san que ergueu uma de suas mãos e me cumprimentou. “Você acordou mesmo cedo, hein? Bem… qual era mesmo o seu nome? Foi mal, eu realmente tenho uma memória ruim.”

10 centímetros mais alto que eu, vestindo uma roupa de estilo ocidental de uma marca muito cara. Um rosto brando e um jeito de falar brando. De fato, o que eu pensei sobre o seu vestuário e sua altura devem estar corretos, mas se o Shinya-san é realmente uma pessoa branda, eu não sei. Eu não tenho habilidade de julgar uma pessoa por sua aparência externa e não sou capaz de descobrir isso só por ter convivido com ele por alguns dias.

“Será que eu ainda não me apresentei?” Eu encolho meus ombros e respondo a pergunta do Shinya-san. “Eu sou somente um pertence da Kunagisa Tomo. Não é necessário nome para um extra, certo?”

“Isso é realmente um pensamento negativo. Se bem que por estar nessa ilha não é tão estranho assim. Mas se você é um extra então o mesmo vale para mim.”

O Shinya-san sorriu levemente.

Sim, eu e o Shinya-san somos apenas extras. É algo óbvio e nem seria necessário falar isso, mas eu não estou nessa ilha porque eu sou um gênio. Quem é chamado de <gênio> é só a Kunagisa Tomo e eu sou somente o seu acompanhante. Se a Kunagisa não tivesse dito “Fiquei de ir para uma ilha não sei aonde e por isso vem comigo Ii-chan”, eu estaria a essa hora em Kyoto dentro de quatro paredes me arrumado para ir para a universidade.

A protagonista é somente a Kunagisa Tomo.

Vamos deixar isso bem claro.

Bem, sobre o Shinya-san, quem o Sakaki Shinya está acompanhando…. Ela está agora debaixo da cerejeira. Como se estivesse pensando algo e ao mesmo tempo com olhos de como se não estivesse pensando em nada, ela apenas observava as folhas que caíam da cerejeira.

Cabelo dourado e olhos azuis. Ela estava vestindo um vestido de cores pálidas e acessórios resplandecentes dando a imagem uma boneca francesa feita de celulóide. Um colar e um bracelete daqueles deviam valer mais que o meu fígado. Talvez, mesmo que eu vendesse todos os órgãos do meu corpo eu não conseguiria obter a quantia necessária.

Ibuki Kanami.

Uma das pessoas que é chamada de gênio.

Desde que nasceu parece que ela tem problemas nas pernas e por isso ela está usando uma cadeira de rodas. É por isso que o Shinya-san está acompanhando ela. Pelo que ouvi falar a Kanami-san era cega até alguns anos atrás. Os olhos azuis não estão mostrando que ela tem sangue estrangeiro.

A Kanami-san é uma pintora.

Mesmo eu que vivi sem ter nenhum contato com esse mundo já ouvi falar sobre ela. Ela é conhecida por ser uma artista atual que não possui um estilo definido. Até agora eu nunca vi uma pintura dela diretamente, mas vendo-a observar a cerejeira daquela maneira pode ser que ela vá pintar isso em uma tela.

“O que a Kanami-san está fazendo?”

“É como você pode ver. Ela agora está observando a cerejeira. Já que daqui a algum tempo ela vai estar sem folhas. Ela gosta do <momento antes da morte>, de coisas efêmeras, sabe.”

As árvores dessa ilha são todas perenifólias e então porque só tem uma diferente, porque tem uma cerejeira? Parece que ela já é bem velha, mas é muito estranho ter só uma cerejeira no meio de uma ilha. Provavelmente a Iria-san transferiu ela de outro lugar.

“… Dizem que debaixo de uma cerejeira tem um corpo humano enterrado.”

“Que tosco.”

Au.

Pensei em conversar pra passar tempo, mas o assunto que eu trouxe não deu muito certo. Bem, com certeza é tosco, mas ainda assim.

Shinya-san riu dizendo “É brincadeira.”

“Pessoalmente eu acho que esse tipo de lenda combina mais com a ameixeira… Se bem que nesse caso mais do que uma lenda isso seria um mito… Kuhaha. E então jovem, já se acostumou com essa ilha? Hoje é o seu terceiro dia, certo? Bem…, vocês têm previsão de ficar nessa ilha por quanto tempo?”

“Uma semana. Por isso só mais quatro dias aqui.”

“Fun…, Isso é uma pena.”

O Shinya-san disse isso de maneira significativa.

“… O que você quer dizer com isso?”

“É que bem, daqui a uma semana o favorito da Iria-san vai vir para essa ilha. Mas como vocês vão embora daqui a quatro dias, por pouco que vocês não vão encontrá-lo. Por isso disse que era <uma pena>.”

“Ah, então era isso.”

Enquanto eu assentia, comecei a pensar.

<Favorito>.

Isso quer dizer que é algum tipo de gênio.

“Cozinheira, adivinhadora, pesquisadora, pintora, engenheira, depois dessas, qual seria o próximo…”

“Vai saber. Eu também não sei muita coisa, mas parece que ele consegue fazer de tudo. Ao invés de ser um especialista é um generalista… A Hikari-san disse que além de ser esperto, tem bastante conhecimento e sua habilidade física é fenomenal.”

Fun. É realmente uma pessoa fora do comum. Mesmo que isso seja algum boato exagerado, só por esse boato existir, dá para ver que essa pessoa não é qualquer uma. Se eu disser que não tenho interesse, isso pode chegar a ser uma mentira.

“Não acho que seja ruim encontrá-lo. O que acha de prolongar um pouco a sua estadia? A Iria-san também ficaria muito feliz.”

“Não é uma conversa ruim, mas…” Eu provavelmente fiz uma cara de quem não gostou muito da idéia. “Pra falar a verdade essa ilha não me agrada muito. Por eu estar vendo ela do ponto de vista de uma pessoa normal, quero dizer.”

Ouvindo isso o Shinya-san riu exageradamente, Kuhahaha.

“Ei ei. Ei ei ei ei ei, jovem. Por acaso você é daquele tipo? Por acaso você sente complexo em relação a pessoas como a Kanami ou a Akane-san?”

Complexo. Não é necessário expressar isso de uma maneira direta como essa, mas o que eu sinto é algo próximo a isso. Ma ainda assim o Shinya-san bate nos meus ombros.

“Não é preciso se sentir inferior a aquelas loucas. Certo? Fique firme irmão. Mesmo em relação à Kanami—“

E ele olha de relance para a Kanami-san que está debaixo da cerejeira.

“—Em relação a Akane-san, em relação a Yayoi-san, em relação a Kunagisa-chan, se nós fizermos janken, de três vezes elas só vencem uma, certo? Mesmo que a Maki-san seja uma exceção.”

“Se você falar assim, isso realmente não tem nem pé, nem cabeça…”

E o Shinya-san ainda por cima chamou a sua chefa de <aquela louca>. Não dá para falar que a Kanami-san e o Shinya-san se odeiam, mas ao mesmo tempo não dá para dizer que eles se dão muito bem.

“Talento não tem nenhum significado. Eu me sinto muito melhor em não ter algo assim. Talento é algo insignificante.”

“Por quê?”

“Se você tiver algo trabalhoso assim, você precisa se esforçar, certo? Ser normal é mais tranqüilo. Eu acho que <não precisar ser o melhor> é certamente um ponto positivo.” O Shinya-san disse isso cinicamente e encolheu seus ombros. “A conversa mudou um pouco de foco…, De qualquer jeito acho que não é ruim prolongar a sua estadia. Ao menos eu. Sabe, pode ser que esse generalista seja capaz de ganhar todos os janken contra nós.”

“Bem…, vou tentar falar com a Kunagisa pelo menos…”

Nesse sentido não é como se um extra pudesse definir algo.

O Shinya-san depois de dizer “Verdade.”

“… Pelo jeito você é parecido comigo.”

E começou a olhar profundamente os meus olhos.

Isso era um olhar extremamente desagradável.

Era como se eu estivesse sendo observado de dentro, um mal estar desse tipo.

“… Parecido? Eu e o Shinya-san? O quê? Como e de que maneira nós somos parecidos?”

“Não fale desse jeito… Deixa eu ver, a maneira de como nós nos consideramos como uma peça do mundo é muito parecida.”

O Shinya-san não parecendo querer explicar mais, desviou o olhar que estava focado em mim e voltou a observar novamente a Kanami-san. Como antes a Kanami-san parecia estar observando a cerejeira de todo o coração. Ao redor da Kanami-san dava a sensação de que só ali o mundo havia sido separado.

Não dava vontade de se aproximar, daria para descrever isso como sendo algo sagrado.

“… A Kanami-san desde que chegou aqui já começou a pintar?”

“É melhor dizer que ela só veio para essa ilha para pintar…, ela só pensa em pintar, sabe. Algo como: ela vive somente para pintar. Aa…”

O Shinya-san disse isso um pouco preocupado, mas se fosse possível interpretar o que ele disse de maneira literal, isso era uma forma de viver realmente invejosa. Uma vida que foca no fazer o que se quer fazer. Isso não é algo que eu posso desejar. Eu que não sei o que quero fazer, nem ao menos o que eu tenho que fazer.

“…”

Quando me toquei vi que o Shinya-san estava sorrindo maliciosamente, como se tivesse pensado em alguma travessura e também estava olhando para mim. Eu estremeci um pouco. Tive um mau pressentimento. E assim o Shinya-san como se <tivesse recebido uma idéia divina> disse “Ah sim.” E bateu as suas mãos.

“Já que está aqui, porque você não vira modelo?”

Sem entender o que ele quis dizer, sem saber o que falar, o Shinya-san se virou para a Kanami-san e a chamou com um “E-i!”

“Kanami! Tem um rapaz aqui que disse que quer virar modelo de uma pintura sua!”

“…! Espera aí Shinya-san…” Eu finalmente compreendi a situação e fiquei na frente do Shinya-san. “Isso é muito ruim… Quero dizer, me poupe disso.”

“Ei ei, porque está envergonhado? Não é esse tipo de personagem, certo?”

“Não é um problema de tipo de personagem…”

Pra falar a verdade eu sou péssimo nesse tipo de situação. Ainda por cima pedir que a Kanami-san me pinte? Isso é realmente algo que não combina comigo. Só que o Shinya-san não deu muita importância para os meus argumentos e só respondeu “Bem, bem, não fique envergonhado.”, e esperou a resposta da Kanami-san.

Então a Kanami-san mudou a direção da cadeira de rodas e olhou para mim com seus olhos azuis. Olhou-me fixamente ou tentou ver se valia mesmo a pena e depois de observar desde a parte mais alta da minha cabeça até a parte mais baixa do meu pé, disse.

“Realmente quer que eu pinte você?”

Ela disse isso de uma forma muito aborrecida.

Essa é uma pergunta difícil de responder. Já que se trata de uma pessoa de talento como a Kanami-san até o ato de recusar é algo rude. Eu sou fraco em situações desse tipo. Muito frágil. Como vivi os 19 anos da minha vida sendo levado pelos outros, eu não tenho poder para mudar o fluxo de uma história.

“Isso quer dizer que dentro do Workstation tem mais um, ou seja, está fazendo com que pareça que tenha Mac. Quer dizer que está enganando o software. Óbvio que também tem Windows. Boa parte dos OSs estão instalados. Por isso esse aqui consegue fazer quase de tudo.”

“Han.”

Não consigo entender.

“… É uma pergunta de iniciante, mas qual é a diferença entre Windows e Mac?”

Para essa pergunta realmente de iniciante, a Kunagisa pensou um pouco e deu uma resposta certeira, “As pessoas que os usam são diferentes”.

“… Bem, isso é verdade. Bem, deixa quieto. OS é um software básico, certo? Eu acho. Então isso quer dizer que esse computador tem múltiplas personalidades?”

“Isso é uma comparação estranha.”

“Então esse computador… workstation? Qual seria o básico do básico OS que ele está usando? Se tem múltiplas personalidades, isso quer dizer que tem uma personalidade principal.”

“É o Geocide.”

“Nunca ouvi falar. É Yunix?”

“Se você quer dizer isso, é Unix. Já que você estudou fora não fique lendo o alfabeto como romaji4, Ii-chan. Parece coisa de idiota. Un, o Geocide é compatível com o Unix também. Foi um amigo da Bokusama-chan que criou esse OS original.”

“Amigo…”

Amigo da Kunagisa. Além disso, alguém que consegue criar um OS significa que deve ser um membro daquele

“…”

Alguns anos atrás, no século passado. Quando a network do Japão ainda não estava tão evoluída, essa organização apareceu. Não…, não é certo falar que apareceu.

Eles em nem ao menos um instante tiveram sua aparência, sombra, nem sequer cheiro expostos. Eles não se autodenominavam, por isso praticamente todos os nomes pelos quais eles são chamados foram dados por outros. Mesmo que eles sejam chamados de Clube virtual, de Cyber terroristas, de Unidade de Crack, de ‘Um Machado’, de construtores de arranha-céu, eles não vão se importar, nem ao menos reagir em relação a isso.

Uma existência completamente nula e não-identificada. O

E o que eles faziam?

Qualquer coisa.

Seja como for eles realmente faziam qualquer coisa. Eles faziam tanta coisa que parecia que eles faziam tudo. Devastavam, devastavam, de qualquer jeito devastavam. Eu não estava no Japão nessa época, então não vi pessoalmente o que aconteceu, mas parece que foi uma devastação refrescante, tão terrível que nem dava a sensação de ter algum motivo ou alvo. Começaram com coisas simples como hacks e cracks, até chegar a conselheiros ou montadores de empresas. Naquela época não era estranho ouvir que eles controlavam várias empresas.

Mas ainda assim não é como se eles só tivessem causado problemas. Por bem ou por mal todo o nível de tecnologia em relação à network cresceu muito. Pode-se dizer que ela foi forçada a evoluir. Se você ver isso de uma micro visão houve prejuízo, mas se você ver de um amplo geral também houve muito lucro.

Mas é claro que para os <poderosos> eles não passavam de criminosos desagradáveis que infringiram as leis, para os hackers e crackers não passavam de problema. Por isso eles foram alienados, perseguidos constantemente. Mas no fim ninguém conseguiu nenhuma pista sobre o

“…”

“Au-. O que foi Ii-chan? Ficou quieto de repente.”

“Não… foi nada.”

Enquanto balançava o seu cabelo azul a Kunagisa ria.

“…. Não foi nada, mas…”

Desse jeito, dessa maneira anticlimática que o

Mas se não fosse assim não teria como a Kunagisa ter sido convidada para essa ilha. Não teria como a Kunagisa ter sido convidada por ser uma especialista em engenharia ou controle de informações.

“…É impossível não sentir complexo em relação a isso Shinya-san….”

“Hm? Disse alguma coisa?”

A Kunagisa se virou por um instante.

Eu respondi, “É um Zaregoto”.

“Geocide, senão me engano, quer dizer massacre da terra…”

“Sim. Provavelmente dentro dos OSs existentes é o melhor. Geocide as Number One. RASIS também é perfeito.”

“Eu acho que de vez em quando você usa palavras difíceis de propósito para me complicar. O que é RASIS?”

“Confiabilidade (reliability), aviabilidade, manutenção (serviceability), integridade e confidencialidade (secrecy). A primeira letra de cada uma dessas palavras. Claro que isso é em inglês…” A Kunagisa disse isso já meio desiludida. “Isso quer dizer que ele é estável. Claro que o sistema da máquina tem que ser de alto rendimento, mas nunca aparece algum erro. O Acchan é realmente um gênio. Ufufufu-.”

“Acchan… Parecem ser bem íntimos.”

“Hm? Tá com inveja? Hm? Hm?” A Kunagisa disse isso aparentando estar feliz, rindo de maneira indecente. “Não se preocupe. Bokusama-chan gosto mais do Ii-chan.”

“Sim sim. Muito obrigado.”

Eu encolho meus ombros e logo mudo de assunto.

“Seja como for, não seria melhor vender um OS tão bom assim? Se vender tanto como um Windows não daria uma fortuna?”

“Isso é impossível. Sabe sobre retorno crescente? Por causa da diferença enorme entre os dois, não importa quanto o outro tente ele não vai conseguir alcançar. Negócios não são feitos de talento e rendimento.”

Retorno crescente. É uma lei da economia que diz que quem tem mais vai ter ainda mais e não serve de consolação para quem não tem nada. Aprendi sobre esse termo já faz muito tempo, mas em poucas palavras teria o significado de que . O mesmo vale quando se trata de dinheiro ou de talentos.

“… Além disso, o Acchan está satisfeito só de ter feito o Geocide. Ele é uma pessoa que se satisfaz só com sua auto-satisfação.”

“Isso é algo bem, digamos feliz…”

“Mesmo não levando isso em conta seria impossível transformar isso em uma mercadoria. É um software básico, mas a especificação necessária não é brincadeira. Chega a números astronômicos. Mesmo para a configuração da máquina da Bokusama-chan é complicado.”

“Fun. Seu Hard Disk tem quantos Giga? Uns 100 Giga?”

“100 Tera.”

A unidade estava errada.

“Tera senão me engano… é o contrário de pico, então… é 1000 vezes um Giga?”

“Não, é 1024 vezes.”

Que pessoa mais exata.

“Pra ser mais exato não é um Hard Disk e sim um Holographic Memory. Ao invés de gravar os dados em forma de linha como o Hard Disk ele grava em área. Em um segundo consegue transferir dados na ordem de Terabits. Para chegar ao mercado deve demorar mais um pouco… ainda deve demorar bastante. É uma mídia usada em projetos de desenvolvimento espacial.”

Você tem contatos até nessa área.

Uma comunidade muito desagradável.

“Sobre a configuração da máquina isso também vale, já que a especificação da placa mãe fez com que só uma construída especialmente para isso desse certo. O Acchan não pensa nem um pouco nos outros quando vai construir algo e naturalmente acaba desse jeito. Ele nunca leva isso em conta.”

“Construir uma placa mãe…? Quem faria algo assim?”

“Bokusama-chan.”

A Kunagisa aponta para si mesma com o polegar.

É mesmo. Ela no final das contas é uma engenheira. Foi ela mesmo que deu as <armas> para os membros do

“Deixando de lado o massacre da terra-san, você não tem intenção de vender? Essa sua placa mãe que você tem orgulho e você mesma construiu.”

“Bokusama-chan também sou do tipo que se satisfaz só por construído. Ii-chan é diferente?”

“Bem… como será que é.”

Sem levar em conta se uma pessoa tem talento ou não, no fim as pessoas se dividem em dois tipos. Aqueles que buscam e aqueles que criam. Deixando de lado qual dos dois eu seria, a Kunagisa com certeza está mais para o segundo tipo.

“Além disso, já tenho dinheiro mais do que suficiente, então Bokusama-chan não penso em querer ganhar mais.”

“… Isso é.”

Isso é verdade. A Kunagisa não está em uma posição social na qual ela precise começar a fazer negócios. Sem exagerar, a Kunagisa gasta mais dinheiro que uma bomba de água. Uma garota de 19 anos que mora em praticamente dois andares de uma mansão caríssima em Shirosaki e mesmo não tendo algum emprego faz compras como se fosse morrer amanhã. Eu não sei quantas pessoas tem mais dinheiro que a Kunagisa, mas é difícil ter alguém que sozinha gaste mais dinheiro que a Kunagisa.

É fora do meu conhecimento qual das duas, a Fundação Akagami ou a família Kunagisa, tem mais poder, mas seja como for, é certo que essas organizações têm dinheiro de sobra o suficiente para que uma pessoa possa viver vidas só aproveitando.

Por falar nisso, por ambas terem sido expulsas da família principal, a Iria-san que é dona dessa ilha e a Kunagisa tem algo em comum. Será que no fundo as duas são parecidas? Não dá para dizer isso depois de ter morado aqui por três dias… Mas bem, as duas são com certeza excêntricas. Como o fato de ser impossível elas esquecerem um grupo, serem membros de alguma organização.

“…”

Com certeza é algo assim.

Se for essa ilha é…,

O significado da ilha ter o nome de Corvos de Asas Molhadas é.

A Kunagisa recomeçou a usar o teclado.

“… Eu vou tomar café agora. Vai querer também?”

“Não quero. To sem fome-, já que é quase época de acasalamento. Ii-chan pode ir comer sozinho. Coma por mim também.”

Eu respondi que entendi e me dirigi para a sala de jantar.

3


Na sala de jantar estava a Akane-san.

E por isso eu fiquei um pouco nervoso.

A Akane-san não estava como uma típica japonesa, ela estava com uma pose refinada de pernas cruzadas, sozinha em uma mesa redonda, no meio de sua refeição. Não, ela já havia terminado sua refeição e ao que parece agora era o coffee time.

“Ah! Bom dia!”

A Akari-san disse isso com uma voz alegre e animada, com um sorriso no rosto enquanto limpava a sala de jantar. Não, está errado, ela não é a Akari-san. A Akari-san não me cumprimentaria de forma animada. Essa Akari-san não é a minha Akari-san. Isso quer dizer que,

“Bom dia Hikari-san.”

Deduzi que ela deveria ser a Hikari-san e a cumprimentei. Parece que eu acertei e a Hikari-san assentiu com sua cabeça em um gesto de reverência.

Chiga Akari-san, Chiga Hikari-san.

As duas são irmãs gêmeas. Para ser mais exato são trigêmeas e abaixo delas existe mais uma irmã mais nova chamada de Teruko-san que quase não fala. Parece que a visão da Teruko-san é ruim e por isso só ela usa um óculos escuro fazendo com que seja possível identificá-la. Mas a Akari-san e a Hikari-san tem desde o mesmo comprimento de cabelo até o mesmo uniforme, tanto que, talvez seja melhor dizer que mais do que parecidas, elas são a mesma.

Mas ao contrário da Akari-san a Hikari-san é simpática e gentil. Mesmo para eu que não sou um <convidado>, mas sim um extra, ela age da mesma forma que com os outros.

“É café da manhã, certo? Espere um momento.”

Depois de dizer isso a Hikari-san se virou e foi rapidamente na direção da cozinha. Eu pensava em coisas sem graça como mesmo sendo baixa um pequeno giro também dá certo.

A Hikari-san saiu e por isso eu e a Akane-san ficamos a sós.

Depois de pensar por √2 segundos decidi sentar perto da Akane-san. Pensei em cumprimentá-la, mas a Akane-san parecia estar pensando em algo, dando a impressão da que dava ou não dava para ouvir o que ela sussurrava em voz baixa, sendo que ela nem olhou para cá. Ao que parece ela nem percebeu minha existência. Querendo saber o que ela estava pensando me concentrei em ouvir a voz dela.

“Pretas Fu 9-6… Brancas Fu 8-4… Pretas mesmo Fu… Brancas Fu 8-7… Pretas Hisha 8-4… Brancas Fu 2-6… Pretas Gin 3-2… Brancas Fu 9-5… Pretas Kaku 4-4… Brancas recuam com Kin 5-9… Pretas Keima 2-7…”

Não entendi nada.

Senti-me comovido sozinho pensando que uma das Sete Tolas sussurrava coisas de outro mundo, mas ouvindo melhor isso é um registro de um jogo de shougi. Faz sentido… shougi às cegas.

Além disso, sozinha.

Desde manhã cedo o que essa pessoa está fazendo.

“Brancas Fu 2-3, e com o Nari, fim das pretas”, depois de dizer isso a Akane-san olhou para cá com o canto dos olhos. “Ah… Pensando em quem seria, é você. Bom dia.”

“… Muito bom dia.”

“Fufufu, Não acha shougi complicado? Ao contrário do xadrez o movimento das peças é muito maior… por sinal eu era as brancas agora. Dá para dizer que foi uma vitória sofrida.”

“Hah.”

Você estava jogando sozinha então como têm pretas e brancas! A Akane-san poderia fazer como os golfinhos que conseguem dividir o seu cérebro. Un, se for a Akane-san isso seria possível.

“Você joga bem shougi? Pode ser xadrez também.”

“Não posso dizer que jogo bom…”

“Será?”

“Ler o pensamento dos outros é uma das minhas piores habilidades.”

“Deve ser assim mesmo. Você tem mesmo uma cara desse tipo”, assentiu a Akane-san. “Antes vi você pela janela daqui, estava fazendo um passeio de manhã?”

“Sim, estava fazendo um passeio pela floresta.”

“Sim, um passeio pela floresta é bom. Passear pela foresta é bom. A phytoncide que as árvores liberam tem efeito de esterilização.”

Vou saber disso.

Nos Estados Unidos, no estado do Texas, na cidade de Houston existe um centro de pesquisas chamado de sistema ER3. Ali estão vários americanos, não, uma reunião das pessoas mais inteligentes de todo o mundo e desde economia a história, de política a literatura, física, de cálculo avançado a zoologia, de engenharia elétrica a engenharia mecânica, até a parapsicologia, quase todas as pesquisas, quase todas as áreas são pesquisadas lá, um lugar conhecido como o mais avançado da ciência.

O segundo nome pelo qual é conhecido é Centro Geral Generalizado de Pesquisas.

Um lugar que reúne várias pessoas inteligentes que amam aprender, pesquisar. Um ninho de pessoas anormais que tem, mais do que os três desejos comuns, um grande desejo por conhecimento. Uma organização sem nenhum envolvimento econômico, não vende o conhecimento ou os resultados de suas pesquisas, em certo sentido pode-se dizer que é um tipo de organização secreta fechada e voltada para si mesma.

As regras básicas são quatro.

Não possuir orgulho.

Não possuir honra.

Não demonstrar afeto.

Não demonstrar fraqueza.

Sempre colaborar com os outros, fazer qualquer tipo de coisa necessária, não fazer coisas inúteis ou que podem acabar com o mundo, não sair mesmo que o universo seja destruído.

O sistema ER3 é um lugar que agrupa essas pessoas que tem os mesmos objetivos e meios, querer fazer pesquisa, querer saber de tudo, não tem como ficar sem saber de algo. Estão reunidos desde professores de universidades renomadas a pesquisadores novos, estudiosos amadores, todo tipo de pessoa que não tem orgulho está lá. Uma parte da mídia os compara a um grupo religioso de tanto estudarem e ficarem estranhos. É assim que o grupo anormal de pessoas reunidas.

Mas é também uma organização que produz muitos resultados positivos através de suas pesquisas. A descoberta da óptica não linear de Dalevio, a evolução veloz da tecnologia de holografia de volume, o que nos últimos tempos era considerado como oculto, mas que agora é confirmado que o DOP é uma tecnologia sensorial, tudo, tudo isso foi resultado do ER3. Por ser resultado de um grupo, não de uma pessoa, ser uma organização sem foco econômico que recusa prêmios e honras, sem se destacar muito, ela tem uma fama considerável no mundo da ciência. Não tem nem um século desde que foi fundada e apesar de ser um centro de pesquisas com uma história curta, sua network já está espalhado pelo mundo inteiro. E nesse centro de pesquisas existem algumas existências que transcenderam todas as outras chamadas de Sete Tolas.

Conhecidos por <serem as sete pessoas mais próximas de descobrir as repostas do planeta>, as sete pessoas escolhidas dentre as escolhidas, os <gênios entre os gênios>.

Uma dessas pessoas é a Sonoyama Akane-san.

Um lindo cabelo escuro, como se estivesse separado seguindo alguma lei, dando um ar de intelectualidade. Para uma mulher sua altura pode ser considerada alta e o seu corpo é esbelto e stylish. Não importa como você veja, ela é uma mulher atraente e é a pesquisadora feminina japonesa de maior status.

O sistema ER3 é pouco conhecido no Japão. O fato do ER3 em si ser fechado é uma das razões, mas acho que a principal razão é o fato de que o estilo de não separar as pessoas envolvidas acaba não combinando com a tradição japonesa. Mas mesmo assim, a Akane-san sendo a primeira japonesa pura e ainda na casa dos vinte anos, conseguiu se tornar uma das Sete Tolas do ER3. Naturalmente não seria estranho que os japoneses reconhecessem o seu nome.

Ainda assim, porque mesmo sem levar em conta que eu sou um japonês puro, pode-se perguntar como eu sei tanto sobre ela, mas isso não tem nenhuma grande razão. Não é porque eu gosto de obter informações e sim porque eu tenho uma pequena relação com o sistema ER3.

O sistema ER3 tem um pensamento em longo prazo e por isso também foca seus esforços em criação de jovens talentos, preparação para a próxima geração e criou o programa ER, que foca no estudo no exterior de jovens. Eu participei desse programa por cinco anos, desde a sétima série e por isso eu sei sobre a <existência acima das nuvens>, sobre a existência das Sete Tolas, sobre a existência da Sonoyama Akane.

Por isso quando eu cheguei nessa ilha e descobri que a Akane-san estava aqui fiquei muito surpreso.

Eu não sou uma pessoa sincera que se rende a posição social ou status, a talento ou poder, mas acabo ficando nervoso perto dela. Assim como agora que não sei o que conversar com ela. Sobre o que eu deveria conversar com uma das Sete Tolas…

Enquanto eu estava calado a Akane-san puxou conversa comigo, “Falando nisso”.

“Sobre a garota azul. Sobre a Kunagisa-chan.”

“Ah, sim.”

“Ela é realmente surpreendente. Ontem a noite ela fez a manutenção do meu computador. Ela possui uma habilidade incrível. Existem técnicos no ER3, mas daquele jeito, com uma perfeição que parecia a de uma máquina foi a primeira vez que eu vi. Um trabalho de como se ela estivesse fazendo somente um trabalho de rotina. Pode ser algo rude, mas por um momento eu duvidei de que ela fosse humana. Entendo porque a Iria-san tem tanto interesse nela.”

“Ah…, Ela estava fazendo isso. Ela não causou algum problema?”

Ouvindo a minha pergunta a Akane-san riu estranhamente, fufufu.

“Você realmente disse algo que um carro-forte (gosousha) diria.”

Um carro-forte?

Que comparação diferente eu acabei recebendo.

“… Você quer dizer guardião (hogosha)?”

“Hm? Mas se você a protege e a leva, o significado não é o mesmo?”

“Carro-forte é um carro.”

“Ah, isso é verdade”, assentiu a Akane-san. O talento dela é excepcional na área de matemática e ciências, mas parece que língua japonesa não é uma área que ela se dá muito bem. “Você está certo. E não, ela não causou nenhum problema.”

Óbvio.

“Mas ela parece ser do tipo de que a conversa acaba não tendo muito sentido. Parece que ela não ouve a conversa dos outros… E por isso parece que o meu computador evoluiu umas duas gerações.”

“Ainda que ela está bem melhor agora. Antigamente nem tinha conversa… Falava o que queria, ficava quieta e era isso. Sofri bastante por causa disso.”

“Hm. Se eu for falar do meu ponto de vista, eu gosto de ver aquele tipo de expressão sincera dos seus sentimentos.”

“Hmm. Sobre isso eu não sei se realmente concordo…”

“Então”, a Akane-san encolheu seus ombros.

“Acabei ouvindo sobre isso nessa ocasião, mas você participou do programa ER?”

“Au.”

Aquela garota faladeira revelou isso facilmente. Avisei pra ela não falar nada sobre isso. … Mas não é como se eu não soubesse que isso não teria nenhum significado.

“Você podia ter dito isso antes. Temos muita coisa para conversar, não? Sinto como se tivesse desperdiçado dois dias. Por acaso você estava se contendo? Pode ser que você tenha uma impressão errada, mas eu não sou uma pessoa tão diferente assim.”

“Não é bem isso… Não sabia como dizer isso. Mesmo que eu tenha participado do programa, eu bem, acabei desistindo no meio…”

A duração do programa é de dez anos. Eu acabei desistindo no sexto ano, em janeiro desse ano. Assim voltei para o Japão, reencontrei com a Kunagisa e por sorte já havia recebido no segundo ano do programa o certificado de formatura do segundo grau e por isso pedi transferência para a universidade de Rokumeikan em Kyoto.

“Ainda assim, isso é um grande feito. Mesmo que no meio você tenha tido uma distensão (nenza)…”

“É contratempo (tonza).”

“Mesmo que você tenha tido um contratempo, a prova para entrar no programa ER é bem difícil. É um grande feito. Você pode se orgulhar um pouco disso.”

É verdade que a prova de seleção do programa ER é extremamente complicada. Além disso, no contrato havia: <Não há nenhum privilégio. Não há garantia de futuro. Não há uma pessoa que vá pegar seu cadáver. A única garantia é a de que vocês receberam um ambiente que satisfará o desejo de conhecimento que vocês possuem>, e assim os candidatos de elite de todo mundo se juntavam para fazer essa prova. Com certeza eu passei nessa prova e até posso me orgulhar disso.

Mas.

Ainda assim eu não cumpri os dez anos.

“Como eu desisti no meio, isso não tem significado nenhum. No mundo o resultado é tudo que importa.”

“Eu acho que tudo que importa é o resultado. Você por acaso não está pensando em algo idiota como <os gênios devem continuar como gênios e sendo gênios devem se manter como gênios>?”

A Akane-san disse isso com um pouco de ironia.

“Os gênios não são uma rosa. No Japão não existem várias pessoas que se orgulham por terem se esforçado? Que por terem se esforçado tanto o resultado não importa. Que o esforço em si tem seu valor. Eu aprovo esse tipo de atitude. <Ter se esforçado> é um resultado magnífico. Eu não aceito as pessoas que falam bobagens como se eu quiser, eu também consigo ou se eu não fiz é porque eu sei que não vou conseguir. <Digo que consigo fazer, mas não digo que eu vou fazer>. Realmente… tem muitas pessoas diferentes nesse mundo.”

“Eu não consigo, por isso eu não faço.”

“… Hm. Fufufu, você tem um caráter de uma pessoa aposentada (inkyo).”

“É provavelmente modesto (kenkyo).”

“É bem isso.”

Depois de sorrir somente com o lado direito dos seus lábios a Akane-san tirou do seu bolso um maço de cigarros. Com um movimento natural ela colocou um cigarro na sua boca e o acendeu.

“Olha… Você fuma? Não imaginava isso.”

“Você é do tipo que não gosta de mulheres que fumam?”

“Não, isso não é somente para mulheres. Fumar faz mal pra saúde.”

“A saúde faz mal pro fumar.”

A Akane-san disse isso sem problemas e lentamente soltou um pouco de fumaça.

Enquanto eu admirava o fato de que as Sete Tolas realmente falavam algo diferente a Akane-san sorriu como se estivesse envergonhada e disse “… É um sofisma. Não ligue para isso. Se você pensar que sou uma pessoa assim, isso acaba sendo ruim pra mim.”

“Vamos mudar de assunto. Até o colegial eu estava no Japão.”

“Sério?”

Não esperava algo assim. Mas se pensar melhor não é algo tão estranho assim.

“Qual colégio?”

“Um colégio provincial comum. Não é famoso. Estava no clube de karate e até que me diverti bastante. Naquele momento não considerava isso algo divertido, mas lembrando dessa época agora, aquilo realmente foi divertido. Que nostálgico… Já faz mais de dez anos… Saias dessa altura estavam fazendo sucesso na época. Minhas notas não eram grande coisa, só ia bem em matemática e inglês. Por isso me inscrevi em uma universidade de lá. A família era contra isso, mas como dizem por aí, as crianças bonitinhas que se escondam, tem que sofrer quando ainda é jovem e por isso eu confrontei os meus pais.”

“Não dizem isso.”

“No fim eu acabei cortando minha ligação com a família e fui sozinha para os Estados Unidos. Para o eu daquela época aquilo foi realmente uma grande decisão.”

E assim ela virou uma das Sete Tolas.

Mas que Cinderela é essa.

“Você gosta mesmo de números? Dá essa impressão.”

“Hmm… Bem, não odeio. Na época de colegial eu gostava do fato de haver somente uma resposta correta e por isso só estudava matemática. Gostava porque era algo claro. Mas quando fui à universidade e participei do sistema ER3, vi que não era bem assim. É igual à shougi ou xadrez. No final desde que a resposta esteja correta o resto não importa, mas os caminhos que existem para se chegar a ela são infinitos. É como se eu tivesse me encontrado com um trapaceiro.”

“É como se tivesse descoberto um lado que você não imaginava do seu namorado?”

A Akane-san riu dizendo que isso é uma boa comparação com o batimento rápido do coração, mas que não está certo nesse caso.

“Mas mesmo com isso eu me comovi. Na época de colegial eu pensava que conhecimentos sobre cálculo ou a resolução de uma equação de terceiro grau não teriam nenhuma utilidade na sociedade, mas você sabia que se não usar isso tem lugares para o quais você não consegue chegar? Você usa o fatorial no seu dia-a-dia. Eu me comovi mesmo quando descobri sobre esse tipo de verdade.”

“Entendo.”

Eu assenti.

Isso é realmente algo que sinto.

A Akane-san sorriu satisfeita com um un un.

“Você também é bom em matemática? No geral os homens têm mais facilidade nessa área. Parece que o cérebro foi feito dessa maneira.”

“É verdade?”

“É um resultado baseado no total.”

“Um resultado que parece que liga a discriminação entre homens e mulheres…”

Além disso, um resultado baseado no total não é algo que faça muito sentido. Não é como se fosse certo de que um dado dê o número 6, mesmo que ele tenha dado esse valor nas 100 tentativas anteriores. Depois de dizer isso a Akane-san disse que não era bem assim.

“Um dado que deu o número 6 em 100 vezes é um dado que só dá esse valor. Isso não é algo que pode ser considerado como coincidência ou um simples truque. O mesmo vale para o total de homens e mulheres… Fufufu, você é feminista, não? Não, ou será que você está se contendo por minha causa? Quando ouço sobre o avanço dos direitos feministas ou da liberação das mulheres chego a me sentir mal. Afinal, não é? Elas estão forçando a barra. Com certeza o mundo atual é dominado pelos homens. Mas o que deveria ser dado não é igualdade de sexo, mas sim igualdade em relação às habilidades. Você pode afirmar que os homens e as mulheres são completamente diferentes, se você ver isso pela genética de cada um. Por isso a Sonoyama Akane acha que cada um tem um papel. Claro que levando principalmente em conta que o seu papel e o que você quer fazer são coisas diferentes, mas se você falar isso, ainda deve-se levar em menor consideração o fato de você privilegiar o que você quer fazer. Opa, antes disso também tem a idéia intermediária de fazer o que você quer antes. Eu acho que isso é uma razão simples que se opõe ao fato de você dizer que não consegue fazer nada.”

“Eu acho que tem o problema do ambiente…”

“Ambiente. Mas será que realmente havia uma época em que as mulheres eram proibidas de escrever livros ou de esculpir? Em relação à tendência atual eu tenho mais compaixão com os homens. Isso deve ser porque a minha posição está mais próxima com a de vocês, mas o trabalho até agora não era o território dos homens? Qualquer um que entrou aí vai se sentir irado.”

“Elas estão tentando consertar o que está errado. O sofrimento do nascimento.”

Enquanto eu pensava no porquê de eu ter que ficar do lado feminista, experimentei falar uma objeção contra o que a Akane-san disse. A Akane-san assentiu a minha frase com um “Pode ser que seja assim mesmo”.

“Eu não entendo direito. Mas não é como se eu não sentisse raiva dos homens também. Ninguém se sente bem quando alguém se orgulha do que faz, quando só está cumprindo o seu papel. Só que não quero ser envolvida só por causa disso. O que eu realmente quero é que façam isso longe de mim. Afinal de modo geral as mulheres são seres sem graça. O mesmo vale para vocês, homens. Deixa eu ver–, na verdade mesmo no ER3 tem mais homens que mulheres. Dentre os Sete Tolos, cinco são homens.”

“É a lei do risco retorno, não?”

“Oh?” A Akane-san parecia estar surpresa. “Não conheço essa palavra… Risco retorno? Isso é algum tipo de comida?”

“Tem o significado do porque o Beta não conseguiu ganhar do VHS.”

“Ah, faz sentido. É uma tendência que surge dentro das leis da economia. Vamos ver, uma vez que foi estabelecida a tendência da vantagem masculina, fazer com que isso volte ao normal seria muito difícil… Na verdade se ambos não fizessem coisas que o outro ficasse com inveja não haveria esse problema, mas ninguém entende isso. Não tem nenhuma diferença entre a discriminação e a distinção…”

“… Se a Akane-san fala assim, até que tem poder de persuasão. Deve ser porque a Akane-san também teve <algumas> dificuldades.”

“Não tive dificuldade nenhuma vez.”

A Akane-san disse isso com convicção.

“Mas eu me esforcei.”

Uma frase significativa.

E, como eu lembrei isso agora, experimentei perguntar. Desde que eu participei do programa ER e descobri a existência dos Sete Tolos, sempre quis que alguém respondesse a isso.

“Quem seria a pessoa mais inteligente dentro do sistema ER3?”

Essa pergunta é praticamente igual a perguntar qual é a pessoa na Terra que mais tem inteligência. A Akane-san respondeu sem nenhuma dúvida.

“O segundo é o Fraulein Levi.”

“O primeiro é?”

“Ei ei, jovem. Quer que eu responda tudo?”

Au.

A Akane-san sorriu, enquanto eu fiquei calado.

“… É uma brincadeira, brincadeira. Deixa eu ver, se eu for responder a essa pergunta seriamente…, A pessoa que eu mais respeito, ou seja, sem levar em conta qualquer outro fator, a existência que se encontra no topo seria o professor assistente Hewlett. Ele é com certeza o superior.”

“O top dos Sete Tolos…”

Produziu tantos resultados que chegam a superar o limite da linguagem sendo considerado o maior talento do século passado e provavelmente também é o maior e o último talento desse século. O primeiro e último homem que conseguiu aprender todas as matérias com menos de 10 anos. Ele possui um privilégio de perdão comparável a presidentes e o seu cérebro é protegido pelo estado—

Se a Akane-san é uma deusa aos meus olhos o professor assistente Hewlett seria algo como a estrutura do universo.

“Sem exageros, se ele fosse uma mulher a história do mundo teria mudado—“

A Akane-san disse isso com olhos de quem estivesse vendo algo muito distante.

Parecia um olhar de admiração.

“Desculpa a demora!”

E com um timing perfeito a Hikari-san apareceu com o vagão. Em cima do vagão estava o meu café da manhã. Já acostumada com isso, ela foi colocando os pratos na minha frente e por último deixou o garfo e a faca ao lado. “Então, sirva-se a vontade”, com um sorriso e uma reverência elegante a Hikari-san saiu novamente para outro lugar. A Hikari-san ainda teve ter muito trabalho a fazer.

Nove bolas de risoto e alface. Uma sopa de peixe, salada, sanduíches ficelle. E café. A Akane-san viu isso e sussurrou “A Sashirono-san é realmente incrível”.

Sashirono Yayoi-san.

Ela é a cozinheira que cuida da cozinha, mas ela não é uma empregada. Sim, ela também foi convidada para essa ilha e é um dos gênios. Já está a um ano morando nessa mansão e parece que agora ela é a pessoa que mais ficou tempo aqui. Isso quer dizer que gênios que vêm a essa ilha somente por causa de sua comida não são poucos.

A princípio sua especialidade é comida ocidental, mas fora isso ela parece ter a habilidade de cozinhar comida chinesa, japonesa, qualquer coisa. No mundo da culinária não há uma pessoa que não conheça a cozinheira suprema—ao que parece. Ainda em relação à ciência ou artes eu tenho algum conhecimento, mas em relação ao mundo da culinária não sei nada e por isso até visitar essa ilha eu tinha um conhecimento limitado sobre a Yayoi-san, mas tendo três refeições por dia, além dos lanches deu para entender perfeitamente a sua habilidade.

Se o primeiro nome for Yayoi dá a impressão que ela é uma onee-san5 assistente de bordo ou uma garota baixa que possui muita energia, mas a Yayoi-san não é nenhuma das duas, é uma mulher digna, jovem e com cabelo curto. Atitude educada e uma personalidade que não daria para dizer que ela é um gênio. Tirando eu, ela é provavelmente a única com senso comum. Em relação à impressão favorável, ela é a segunda nessa ilha. Falando nisso, a primeira é a Hikari-san. Não, isso é um zaregoto.

Pelas conversas que ouvi a Yayoi-san tem a técnica de conseguir cozinhar qualquer coisa melhor que os outros, e bem, o que seria isso? Tenho interesse, mas ainda não perguntei. Ela fica o dia inteiro na cozinha (será que dá pra dizer que ela também é hikikomori?) e quase não tenho oportunidades de conversar com ela.

Quando percebi a Akane-san parecia estar olhando desejosamente pelas bolas de risoto. Mesmo assim eu fiquei quieto e então ela olhou para mim. Um olhar um pouco diferente de antes, olhos de animais carnívoros que pareciam estar se concentrando na sua presa.

“Você sabia que os humanos só conseguem reconhecer até o número sete?”

“… Sim.”

Números maiores que oito são reconhecidos como <muitos>. Ouvi que a razão do fato dos Sete Tolos estarem limitados em somente sete pessoas era essa, enquanto eu estava participando do programa.

“Un. Então com um pensamento frio e simples, se as suas nove bolas de risoto virarem oito, você não vai sentir tanta diferença.”

“Por isso?”

“Mas que homem mais devagar… Imagino como você consegue se manter com a Kunagisa-chan.”

“Não é como se nós dois estivéssemos nesse tipo de relação.”

“Não mude de assunto. Parece que você quer fazer eu, que sou uma das Sete Tolas, abaixe a cabeça. Que seja. As bolas de risoto que a Sashirono-san fez parecem muito gostosas, por isso me dê um. Hm? Está satisfeito?”

“…”

Em silêncio eu empurrei o prato.

A Akane-san começou a comer as bolas de risoto um por um, parecendo estar feliz. Em pouco tempo as bolas de risoto haviam sumido. Parece que <uma bola de risoto> queria dizer <um prato>.

“…”

Mas, bem, não é como se eu fosse alguém que come muito de manhã. Eu tinha que comer a parte da Kunagisa também, mas deixar isso com as outras pessoas é algo ruim.

Troquei de canal (cérebro) e peguei os sanduíches, além de comer a salada. É uma opinião simples, mas é realmente gostoso. Se sempre há comida desse tipo (além disso, de graça), não é difícil de entender porque alguns gênios acabam aceitando vir a essa ilha. A Akane-san que está na minha frente pode ser que seja uma delas.

“Bem, você tentou mudar o assunto espertamente antes, mas”, e limpando a sua boca com um guardanapo, disse a Akane-san. “Se você e a Kunagisa-chan não são <desse tipo>, então qual seria a relação de vocês?

Se fossem somente amigos, não teria como vocês terem vindos juntos a essa ilha. Afinal você também tem aulas.”

Com certeza, por eu ter vindo para essa ilha não vou à universidade desde o primeiro dia de aula. Falando nisso, eu não fui ao primeiro dia. Então, bem, é isso.

“Eu conheci ela antes de participar do programa. Então já faz aproximadamente cinco anos.”

“Fun. E quando você voltou ela tinha se tornado uma cyber terrorista? Que coisa desagradável.”

Com certeza.

Se bem que já tinha sinais disso desde que ela tinha 13 anos.

Mas deixando de lado esse assunto, a Kunagisa Tomo que eu reencontrei depois de passar cinco anos estudando no exterior não tinha mudado nada, tanto que eu acabei ficando muito surpreso. Estava do mesmo jeito da época do low teen, e mesmo que não fosse eu qualquer um ficaria surpreso. Entretanto, isso só se refere à aparência exterior porque a personalidade dela se tornou mais humana.

Minha relação com a Kunagisa.

Se me perguntarem isso diretamente é com certeza algo difícil de responder.

Eu sou necessário a ela. Isso eu entendo. Mas ao mesmo tempo isso não quer dizer que precisa ser necessariamente eu. Explicar essa situação de forma clara é complicado. Eu teria que falar sobre assuntos pessoais da Kunagisa e isso não é algo que eu desejo.

A Akane-san assente com um fun.

“Só conversei um pouco com a Kunagisa-chan, mas… Ela tem muitas falhas para viver uma vida comum. Hm… Falha é uma maneira ruim de mostrar isso. Não é como se ela fosse inferior aos outros. Mas ainda assim a concentração dela é muito focada em algo. Eu acabei lembrando de conhecidos meus que possuíam a síndrome de Savant.”

Savant—em francês quer dizer pessoa que tem conhecimento. Eu sei que no passado a Kunagisa era chamada exatamente assim. Realmente, eu sei disso até demais.

“Por isso é realmente necessário que ela tenha um acompanhante, um amigo como você no caso. Consigo entender o porquê de você estar ao lado dela. Mas se for assim, para você, isso seria o que?”

Não sei o que responder.

A Akane-san continuou, “A relação de vocês parece ser próxima de codependência.”

“Codependência?”

Não sabe? E a Akane-san inclinou levemente seu pescoço.

“É um tipo de dependência psicológica que surge dentro das relações sociais. Vamos supor que existe um paciente dependente do álcool. É necessário que haja um acompanhante ao seu lado. E esse acompanhante vai se dedicar a cuidar desse paciente, mas quando essa dedicação passa de certo limite isso quer dizer que há codependência. Um estado em que a pessoa está focada só em servir. É possível ver sintomas leves disso em relações amorosas. Não é preciso nem dizer, mas esse estado não é bom. Isso porque um acaba estragando o outro. Não digo que vocês dois são assim, mas é sempre bom prevenir.”

“Hah.”

“Não tem muita coisa mais insignificante que tentar manter uma relação pessoal que acabou dando errado. Mas… Levando isso em conta eu realmente fico admirada com o talento da Kunagisa-chan. Mesmo no ER3 ela—ou melhor, ela. O programa que elas criaram ainda está sendo usado…, e quem diria que eu acabaria encontrando com ela em um lugar assim.”

“… Porque a Akane-san veio para essa ilha?”

Se você é um dos Sete Tolos, isso quer dizer que você não tem muito tempo livre. Depois de ficar em silêncio por alguns segundos a Akane-san respondeu, “Não tem nenhuma razão em especial”. Acabei ficando um pouco curioso depois de ouvir essa resposta meio fria.

“Deixando isso de lado. Mesmo que você não jogue bem, você sabe pelo menos as regras de shougi ou xadrez, certo? Então o que acha de jogar uma partida enquanto conversamos sobre nossas memórias do ER3?”

Uma partida de shougi com uma das Sete Tolas.

Quero experimentar jogar.

“Mas, não às cegas. Tenho uma reputação por causa da minha péssima memória”, é realmente uma péssima reputação essa. “Se trocarmos de lugar, com certeza.”

“Tem um tabuleiro no meu quarto. Quando voltei ao Japão foi a primeira coisa que comprei. Deixa eu ver, como tenho um pouco de trabalho para fazer de manhã, que tal a tarde?”

“Pode ser—espera aí… ah, não dá. Já tenho um compromisso marcado…”

“Compromisso? Com a Kunagisa-chan? Se for assim não tem jeito…”

“Não, com a Kanami-san.”

Em um instante.

A expressão da Akane-san se tornou séria.

Ih. Me esqueci. Logo quando cheguei à ilha a Hikari-san tinha me dito que a Akane-san e a Kanami-san se davam muito mal e por causa da minha memória que me deu certa reputação acabei esquecendo completamente.

“Fun. Como nós temos uma ligação que não é pequena, me deixe dar um conselho. Você não deve ter contato com pessoas que tem um trabalho vulgar daqueles. Diminuir o seu valor de brincadeira e ainda ficar feliz com isso é coisa que só idiotas fazem.”

“… Akane-san, parece que você realmente odeia a Kanami-san…”

“Não, está errado. Não tenho razão para sentir algo por ela. Só que pintores são o pior tipo de pessoa. Fun, incrível!”, a Akane-san disse isso e bateu fortemente na mesa. “Se você for falar que eu odeio algo, não tem coisa pior que pintores. Os pintores são as pessoas mais inferiores desse mundo. Se for comparar com eles até um ladrão ou um estuprador qualquer se parecem com Cristo. Só de segurar um pincel e pintar alguma coisa, eles se sentem como poderosos. Pintar com a cor vermelha ou com a cor azul é realmente um belo trabalho! Han! Qualquer um consegue fazer isso!”

Como se a Akane-san tivesse se tornado outra ela falava mal dos pintores. Por causa dessa mudança brusca dava a impressão de que algum pintor tinha roubado os documentos de pesquisa dela.

Vendo que eu tinha sido tomado de surpresa a Akane-san voltou a si, “Ah, me desculpa. Falei demais. Não tenho a intenção de retirar o que eu disse, mas sim, não é uma sensação boa ter que ficar os outros falando mal de algo. Vou sair para esfriar minha cabeça.”

Depois de falar isso rapidamente, a Akane-san tomou todo o meu café e saiu da sala de jantar como se estivesse fugindo. Parece que ela estava arrependida por ter perdido a razão e gritado daquela maneira. Mas por ainda assim não querer retirar o que disse é algo meio…

“…Fu.”

Fiquei sozinho e soltei um suspiro.

Ah, como fiquei nervoso. Afinal eu não estou acostumado a conversar com os outros. E nisso aparece uma das Sete Tolas do ER3, a Sonoyama Akane. Querer ficar calmo é algo impossível.

Bem, acabei falhando no final, mas conversei melhor do que esperava. Vamos deixar isso como um resultado positivo. Como ainda tenho mais quatro dias aqui, pode ser que dê para jogar uma partida com a Akane-san. Nessa hora vou pedir para que ela jogue sem o Hisha, Kaku, Gin, Kin.

Soltei mais um suspiro, mas parece que ainda estava cedo para ficar tranqüilo. Enquanto eu pensava se eu voltaria ao quarto da Kunagisa depois de ter terminado de comer o café da manhã a Maki-san apareceu bocejando. Com um estilo de roupa outdoor e um rabo de cavalo parecia que ela havia vindo de férias para essa ilha. “Pappa paya paya paya paya paya paya ♪ Pappa paya paya paa ♪” e enquanto cantarolava uma melodia alegre ela se sentou ao meu lado.

“É, bom dia (Ohayou dane).”

“… Bom dia (Doumo).”

“Assim não pode… o cumprimento de manhã é ohayou. Ah, não é como se eu fosse rápida. Você acordou um pouco depois das seis… Isso é incrível. Eu tenho uma pressão baixa incomum que faz com que seja realmente, realmente impossível de fazer isso.”

Enquanto falava isso a Maki-san bocejou mais uma vez. Eu assenti com um <Hah> qualquer. Não tem significado nenhum perguntar a ela como ela sabe o horário que eu acordei.

Por uma razão diferente da Akane-san, acabei ficando nervoso novamente.

Himena Maki-san.

Obviamente ela não veio a essa ilha para surfar. Se ela está aqui é porque tem uma razão para isso.

O trabalho da Maki-san é uma adivinhadora. Assim como a Kanami-san é um gênio da pintura e a Akane-san é um gênio das ciências, a Maki-san é chamada de adivinhadora gênio.

“… Um gênio, hein?…”

Deixando isso de lado eu não me dou bem com a Maki-san.

A minha primeira impressão como desconhecido foi péssima.

“É uma adivinhadora? Primeira vez que vejo uma. Como será que está a minha sorte?”

Não é como se eu tivesse interesse na minha sorte. Só achei que por respeito, eu deveria dizer isso para uma adivinhadora. Qualquer pessoa fica feliz quando se trata do seu ponto forte. Até o Churchill disse, <eu quero falar sobre o que eu sei, mas os outros só perguntam coisas que eu não sei>. Uma frase que quer dizer que ele não quer se tornar como os outros.

Só que isso é uma desculpa. A Maki-san ouviu isso e com um sorriso disse, “Então me diga qual é a data do seu nascimento, seu tipo sanguíneo e o nome do seu ator favorito”. Entendo a data de nascimento e o tipo sanguíneo, mas meu ator favorito teria alguma relação com a minha sorte? Enquanto eu pensava isso respondi a pergunta dela. Só que eu tinha esquecido meu tipo sanguíneo e como eu quase não conhecia atores de filmes, acabei respondendo qualquer coisa.

Enquanto pensava porque ela estava de olhos fechados me ouvindo a Maki-san disse “Entendi. Então olha isso”, e me entregou um pedaço de papel que ela tirou do seu bolso. Então a Maki-san saiu e eu fiquei sozinho.

Pensei que era algo parecido com um amuleto e quando abri o papel ali estava escrito com letra de fonte Ming a minha data de nascimento e, –o tipo sanguíneo e o nome do ator que eu havia acabado de dizer.

“… É um truque, não?”

Depois disso eu fui confirmar isso com a Kunagisa. “Eu acho que é um tipo de truque velho no qual você escreve várias possibilidades e deixa esses papéis escondidos em vários lugares.”

Mas a Kunagisa fez um “Uhm, uhm” e balançando sua cabeça negou essa possibilidade.

“Isso é impossível. Se ainda fosse com as cartas de um baralho ainda dava, mas têm alternativas demais. E também não é possível que ela tenha pesquisado isso de antemão. Afinal, o tipo sanguíneo e o nome do ator que o Ii-chan disse foi uma mentira. Não acho que seja possível prever até a mentira que o outro pode contar.”

Então a Kunagisa começou a dar uma aula sobre a Himena Maki. Parecia que eu tinha falta da capacidade de aprendizagem, já que o nome da Maki-san como adivinhadora é relativamente famoso. Não como uma adivinhadora que usa habilidade para prever o horóscopo, mas sim com grandes políticos ou empresas e mais do que uma adivinhadora, ela parecia ser mais uma religiosa e seu estilo de trabalho não envolvia chamar muito a atenção. Era assim que ela demonstrava seu talento.

Himena Maki, adivinhadora gênio.

“Também é chamada de oráculo.”

A Kunagisa disse isso como se houvesse algo a mais.

A sua catchphrase é assim—uma nouryokusha que conhece o passado, conhece o futuro, conhece as pessoas, conhece o mundo, conhece tudo.

“… O que é um nouryokusha?”

“Esper (Chounouryokusha)”, respondeu facilmente a Kunagisa. “Alguém que tem a habilidade de extrasensory perception.”

“… Hein?”

“ESP. Poderes sobrenaturais são divididos em ESP e PK. Bem, o poder que a Maki-chan tem é dividido no ESP. Retrocognition, precognition e telepathy, eu acho. Se for explicar simplesmente retrocognition é a visão do passado. Precognition é premonição. Telepathy é alcance mental.”

“Espera um pouco, não estou conseguindo acompanhar. Abaixando a frequência rotacional… Tomo, a Maki-san não era uma adivinhadora?”

“Adivinhadora é o trabalho dela, não? Um trabalho que aproveita o talento dela. Não é nada mais que isso. Não significa que porque você corre rápido que esse é o seu trabalho, certo? Mas um atleta é um trabalho. Só porque você tem habilidade em mexer com as coisas não faz disso um trabalho. Mas um engenheiro é. ESP é uma habilidade, a adivinhação é uma ação, mas o trabalho é de uma adivinhadora.”

“Ah…”, faz sentido e assenti com a cabeça. “Então quer dizer que a Maki-san é—“

“Isso. A Maki-san já havia lido os seus pensamentos. Levando em conta a pergunta que ela ia fazer.”

A Kunagisa estava claramente rindo.

“—ESP, hein?”

Eu olhei para a Maki-san com o canto dos meus olhos e sussurrei isso de forma que ela não escutasse. Com a explicação da Kunagisa, deu para compreender até certo ponto, mas—

Vendo a Maki-san com uma cara sonolenta não dá essa impressão. Vendo ela dessa maneira só dá a impressão de que ela é uma onee-san estranha que tem baixa pressão.

“O fato de eu ser uma adivinhadora, parece não agradar muito a você, certo…”

De repente a Maki-san mudou a direção do seu olhar e começou a conversar comigo. Misteriosamente desde o nosso primeiro encontro essa pessoa vive se metendo comigo.

“Se eu andar com uma bola de cristal e usar uma capa preta ficaria melhor? Se eu falar de uma maneira sinistra sobre a destruição ou a sua sorte, falar com palavras vagas sobre várias coisas faria você se convencer disso? Você é uma pessoa que entende mais pela aparência, não é…”

“Isso não é –verdade.”

“Deve mesmo. Sei disso…”, a Maki-san respondeu isso e balançou algumas vezes a sua cabeça. “Bem, tanto faz…, estou nem aí para você.”

“Nem aí?”

“Sim. Você é o representante do Japão de pessoa que estou nem aí.”

Isso quer dizer que sou o homem que menos tem importância do Japão?

Como é ruim minha impressão.

“Mas sabe, vou te dar um aviso por sinceridade. A impressão que você tem de mim está muito enganada. Isso é algo que também vale para a Kunagisa-chan, sabe? Mais do que isso, você altera o seu valor de propósito na forma de como você vê os outros… Viver dessa maneira é com certeza tranqüilo, mas não considero que seja um estilo de vida esperto. Algum dia você vai sofrer muito com isso e por isso tome cuidado.”

Depois de dizer isso sem nenhum problema a Maki-san bocejou novamente como um gato. Nos últimos dois dias, toda hora que eu a encontro sempre acabo ouvindo coisas desse tipo. Além disso, as coisas que ela diz não estão erradas e até parece que ela realmente está usando telepatia, já que o que ela diz realmente se aproxima da verdade.

Falando sinceramente.

Eu a considero como uma pessoa sinistra.

“Foi mal por eu ser sinistra…”

Depois de murmurar isso a Maki-san foi à direção da cozinha provavelmente para pegar o seu café da manhã.

4


Como não tinha timing melhor eu saí da sala de jantar e voltei ao quarto da Kunagisa. Como era esperado a Kunagisa ainda estava de frente para o workstation. Não acho que ela deva ficar o tempo todo no quarto, mas isso é aquilo, é o valor pessoal de cada um.

A Kunagisa se virou para cá.

“Oh, Ii-chan. Bem vindo de volta. Como foi? Encontrou alguém?”

“Já encontrei com quase todo mundo. As que eu não encontrei até agora foram, deixa eu ver… só a Teruko-san e a Iria-san. Ah, sim não encontrei com a Yayoi-san também.”

Comi a refeição que ela preparou, então dá uma sensação de que eu já a encontrei.

“Fuin. Então está praticamente perfect, né?”

“O quê?”

“O concurso de encontrar com todos que estão na Ilha de Corvos de Asas Molhadas no período da manhã, perfect.”

Mas que sonoridade ruim.

Mas bem, deixa quieto.

Atualmente nessa ilha existem 12 pessoas. <Artista> Ibuki Kanami-san, <Uma das Sete Tolas> Sonoyama Akane-san, <Cozinheira> Sashirono Yayoi-san, <Adivinhadora> Himena Maki-san e a <Engenheira> Kunagisa Tomo. E como extras o Sakaki Shinya-san e eu. Dentre os moradores da ilha, a dona da mansão e da própria ilha, a Akagami Iria-san. A empregada chefe Handa Rei-san e as trigêmeas que fazem qualquer coisa, Chiga Akari-san, Chiga Hikari-san e a Chiga Teruko-san. No total 12 pessoas.

Em uma casa normal esse número de pessoas a deixaria lotada, mas nessa grande mansão ainda tem muito espaço sobrando.

Depois de pensar isso eu lembrei.

“Ah, sim. Tomo você vai ficar nessa ilha mais quanto tempo mesmo?”

“Mais quatro dias. Porque é só uma semana.”

“Eu ouvi isso do Shinya-san.”

Eu contei para a Kunagisa a mesma conversa que eu tive com o Shinya-san hoje de manhã. O rumor de que o favorito generalista da Iria-san estaria vindo para essa ilha. Mas a Kunagisa não pareceu interessada e “Fuin”, praticamente não prestou atenção.

“Não é melhor deixar assim? As informações são muito vagas e por isso não tem como decidir, mas não acho que haja razão para encontrarmos ele. Bokusama-chan não veio para essa ilha encontrar com gênios e também não tenho interesse nisso.”

“Isso é, mas… falando nisso queria perguntar isso faz um tempo, mas então porque você veio pra cá? Se você não tem interesse nisso, então o que te interessou a ponto de fazer você vir para essa ilha?”

Eu não tenho idéia do que faria a Kunagisa, que odeia sair mais do que tudo, aceitar um convite para viajar. A Kunagisa inclinou um pouco seu pescoço e respondeu a pergunta com outra pergunta, “Bem, só deu vontade?”

“Para ações desse nível não é necessário alguma razão. Ou o Ii-chan é alguém que tem que ter alguma razão para tudo?”

Eu encolhi os ombros.

Capaz.

“Se tiver conexão com a network, qualquer lugar é o mesmo, mas no fim a casa é o melhor lugar mesmo-.”

Ainda estamos de viagem e a Kunagisa diz algo assim.

Deixa assim. No fim é só mais uma das extravagâncias dela. Não tem porque eu me importar com isso e não é algo que eu deva me importar. Eu rolava pelo tapete branco e olhava para o lustre no teto. Realmente… Acho que isso é uma visão completamente irreal. Ainda assim, se me perguntarem o que é uma visão realística eu também não saberei como responder direito.

A Kunagisa me viu desse jeito e disse.

“Ii-chan, por acaso está entediado?”

“Eu estou entediado com a vida.”

“Isso não é legal.”

Au.

Ela disse isso sem nenhum problema.

“Ii-chan, se está de folga quer ler algo? Trouxe alguns livros.”

“Livros… O que tem?”

“Deixa eu ver. Dicionário de inglês-japonês, todos os livros do estatuto e imidas6.”

“Traga essas coisas na forma digital…”

Além disso, quem se divertiria lendo livros desse tipo?

Ah, tem uma bem na minha frente…

Já meio que desistido, meio que surpreendido eu deitei.

“Hm? Ii-chan, esse relógio está quebrado, né?”

“Eh?”

Depois de ouvir a Kunagisa eu olhei para o relógio. Ah, sim. Eu ia pedir para a Kunagisa consertá-lo. Como encontrei com várias pessoas de manhã, esqueci completamente.

“Me empresta. Vou arrumar.”

“Sim. Mas, pode ser que só tenha acabado a bateria.”

“Hmm. Deixa eu ver”, a Kunagisa segura o relógio na direção da luz. “Não, é com certeza outra causa. Bateu ele fortemente em algum lugar? Mas acho que já arrumo ele. Mas nesses dias, usar relógio de pulso é anachro (anacronismo). Se você andar com um celular o problema está resolvido. Ué? Falando nisso, Ii-chan cadê o seu celular?”

“Deixei em casa.”

“Traz ele. Já que é um celular.”

“Se eu deixar cair, o que eu faço?”

“Bem, tem isso…”

“Além disso, nessa ilha não tem sinal nenhum. Só o seu que funciona num lugar desses.”

A propósito, o celular que a Kunagisa está usando agora usa qualquer sinal de satélites e por isso tem sinal em todo lugar do mundo. Seja numa ilha deserta distante ou em qualquer outro lugar o termo sem sinal não existe para esse celular. Claro que ele teve um preço considerável. É um desperdício que uma hikikomori tenha algo assim. Se bem que eu não tenho nenhuma vontade de avisar ela do seu desperdício.

“Bem, isso é verdade. Não é como se anachro fosse algo ruim.”

A Kunagisa encolheu suas grandes pupilas e depois disso deixou meu relógio ao lado da prateleira.

Aí alguém bateu na porta. Como a Kunagisa não reagiu eu, sem escolha, respondi e abri a porta. A visitante era a Hikari-san que estava trazendo consigo alguns itens de limpeza.

“Com licença. Eu vim para limpar o quarto.”

“À vontade. Bom trabalho.”

Eu convido a Hikari-san para entrar no quarto.

“Yahho Hikari-chan, chao7!”

A Kunagisa dá boas vindas para a Hikari-san com um sorriso de orelha a orelha. A Hikari-san também respondeu a isso com um sorriso. Essas duas por alguma estranha razão se dão bem. Pela Kunagisa se dar bem com alguém em tão pouco tempo assim, foi algo que me fez ficar um pouco surpreso.

“Tomo-san, o que está fazendo?”

“Agora estou fazendo um jogo. Criando um aplicativo que transforma textos em música. Como lembrança de ter vindo para essa ilha quero dar de presente para a Iria-san.”

“Não sei que tipo de jogo é. Como é que é?”

“Assim, quer que eu explique? Então vai. Ei, Ii-chan. Dos livros que o Ii-chan leu até agora, qual foi o mais longo?”

“<Genji Monogatari> e <Don Quixote> acabei parando no meio, então… foi <Guerra e Paz> do Tolstói. Aquele foi longo.”

“Un. Por exemplo, transformar ele todo em txt. Pode escanear ou digitar você mesmo. Então, por exemplo, vira <Dó>, <Ro> vira <Ré>, <Ha> vira <Mi> e desse jeito faz uma troca D/A. Assim é feita a música <Guerra e Paz>. Com todo aquele conteúdo não dá uma hora? Claro que na verdade é muito mais complexo. Como troca de acordes e sessões, na verdade tem que harmonizar toda ela. Isso quer dizer que transforma um livro em uma música. Não é divertido?”

“Fun… Deixando de lado se é divertido ou não, dá para dizer que é interessante. Está usando que tipo de linguagem de programação? VB? C?”

“Machine Code.”

Uma linguagem de mais baixo nível.

E pensar que ainda teria alguém que o usasse.

“Isso não é como se você estivesse conversando direto com a máquina…?”

“Ehehe.”

A Kunagisa estava um pouco orgulhosa.

A Hikari-san parece saber ainda menos do que eu sobre computadores e com uma expressão ambígua de como se tivesse entendido, mas não tivesse entendido estava admirada, “Isso é incrível!”

“Hmm. Mas Tomo, o que tem de divertido nesse software? Eu realmente não consigo entender.”

“É divertido fazer ele.”

Uma razão simples. Depois de ouvir isso, não tem como reclamar disso.

A Hikari-san estava atenta a conversa da Kunagisa, mas “Ah, tinha isso”, e se lembrando de algo se virou na minha direção.

“Depois posso ir para o seu quarto limpá-lo? Depósito… Passei antes no quarto, mas como não havia ninguém.”

“Sem problemas.”

Só que não sei o que tem para limpar naquele quarto.

A Hikari-san me agradeceu e em seguida começou a limpar o quarto. E depois de dar uma limpeza geral a Hikari-san soltou um “Fuu”, e se agachou no mesmo lugar.

“Desculpa… Estou um pouco cansada.”

“Quer descansar um pouco?”

“Não, estou bem. Senão a Rei-san vai brigar comigo… A Rei-san é rígida, não sei quantas vezes já disse isso. Não se preocupe, eu estou feliz. Ser feliz é o meu único ponto forte. Por isso estou bem. Perdão por ter feito vocês se preocuparem. Então, com licença.”

A Hikari-san disse isso firmemente e saiu do quarto.

Fuu, e eu acabei respirando assim.

“… A Hikari-san também parece ter seus problemas. Pode ser que seja só impressão minha, mas vendo ela, parece que ela está carregando tudo sozinha.”

“É como se você estivesse vendo você mesmo?”

“Não é isso, mas pode ser que eu sinta um pouco de pena dela.”

A Hikari-san parece estar sofrendo.

A Rei-san e a Akari-san parecem saber definir bem o que é o <trabalho> delas, mas será que a Hikari-san não conseguiu fazer isso direito? É como se ela não tivesse colocado o trabalho no circuito que é a vida. Pode ser que tenha alguma circunstância nesse sentido.

A propósito, sobre a outra empregada que é a Teruko-san como eu não sei o que ela está pensando, não tem como eu comentar sobre ela.

“Ii-chan cada pessoa tem suas dificuldades.”

A Kunagisa disse isso como se entendesse do assunto.

“Todos estão enfrentando dificuldades ou pelo menos estão se esforçando. Até a Hikari-chan, até o Nao-kun que o Ii-chan respeita, até a Akane-chan. A única pessoa que consegue viver sem dificuldades ou esforço seria Bokusama-chan.”


5


Depois de almoçar eu fui ao atelier da Kanami-san como prometido. A Kunagisa como sempre disse: “Estou sem fome”, e logo depois que a tarde começou ficou deitada na cama. Aquela jovem engenheira tem insônia crônica.

“Me acorde na hora da janta. Tenho que encontrar com a Iria-chan mesmo.”

Assim.

Bati na porta do atelier, esperei alguma resposta e girei a maçaneta. Não tem algum tapete estendido e o chão é feito de madeira. Isso me lembrou a sala de arte do shougakkou8, mas claro que não havia carteiras velhas e alguma estátua de gesso que parecia falsa. Além disso, não era tão espaçosa assim. Em questão de área esse atelier tem mais ou menos metade do quarto da Kunagisa.

“… Bem vindo. Então se sente nessa cadeira.”

A Kanami-san me olhou com um olhar frio e depois de um tempo em silêncio me deu essa ordem. Parece que o Shinya-san está no quarto dele e agora no atelier só estão eu e a Kanami-san. Depois de passar pela parede que continha uma estante com materiais de pintura como tintas eu sentei na cadeira como havia sido dito.

De frente para a Kanami-san.

“… É um prazer, Kanami-san.”

Realmente, eu acho que ela é uma pessoa muito bonita.

Cabelos dourados, olhos azuis, dando a impressão que ela seria uma donzela que aparecia de noite na janela de filmes antigos. Além disso, ela também tem um ar intelectual. E ainda por cima ela tem talento como pintora, ela é uma deusa, como o mundo é injusto.

“…”

Não… Não dá para dizer essas coisas.

A Kanami-san tem problemas nas pernas e até meio ano atrás ela não tinha luz. Não tem como eu que não tenho nenhum problema assim reclamar de coisas como essa, já que seria ignorância falar algo assim. Por falar nisso a Kanami-san não considera isso como um handicap ou um obstáculo.

<Deus é realmente justo. Se eu não tivesse os problemas que eu tenho, ele seria injusto com as pessoas saudáveis.> <Pernas são só enfeites.> <Eu comecei a enxergar, mas meu mundo não mudou nem um pouco. O mundo é exatamente como eu imaginava. A natureza e o destino realmente não têm muito senso.>

E esses foram alguns comentários da Ibuki Kanami.

A Kanami-san está sentada, assim como eu, em uma cadeira redonda. Ela está com um vestido e parece que isso não ajuda a ela a se sentir bem sentada nessa cadeira.

E eu me toco.

“Kanami-san. Bem, você pinta com esse tipo de roupa mesmo?”

“Isso quer dizer que você tem algum problema em relação ao meu fashion sense?”

A expressão da Kanami-san se torna um pouco severa. A Kanami-san não está brincando e parece que realmente está brava. Eu me apresso e corrijo o que queria dizer.

“Não, não é isso. É que será que a roupa não suja?”

“Eu não troco de roupa só para pintar. Nunca sujei minha roupa com tinta. Não me faça de idiota.”

“Ha… Não sabia disso.”

Será que é como algum mestre de caligrafia? Com certeza sujar a roupa com tinta deve ser algo que só amadores fazem. A Kanami-san é uma artista de top rank, então dizer aquilo não tinha nenhum significado.

Eu encolhi meus ombros.

“Mas, você realmente pode me pintar?”

“Isso quer dizer o quê?”

A Kanami-san mantinha sua expressão severa e me perguntou isso. Hmm, parece que ela está de mau humor. Não, essa pessoa já era assim desde o começo.

“Não, como posso dizer, parece que o valor do artista cai, não?”

Como por exemplo, a Kunagisa que tem uma habilidade enorme como engenheira e em qualquer lugar do mundo ela poderia demonstrá-la. Só que ela só usa suas técnicas para brincar. Por isso o número de pessoas que a consideram como mestre ou gênio são poucas.

“No fim, poder é só um resultado. Não conseguir e não fazer é a mesma coisa.”

De acordo com a própria, quer dizer isso.

E acho que isso vale o mesmo para artistas. Será que artistas que usam temas quaisquer e pintam como se estivessem brincando não teriam mais dificuldade em serem aceitos pelo seu valor verdadeiro?

Mas a Kanami-san negou esse meu pensamento.

“Não acabei de falar para não me fazer de idiota? Você realmente tem cérebro? Eu não escolho temas. Sabe…, se você não tem uma cabeça boa não é melhor ficar quieto?”

Como se estivesse me fazendo de bobo, isso fazia quem estava vendo sentir sua vontade diminuir drasticamente.

“Sabe… Eu fico irritada com isso. Me dá nojo. Não conseguir pintar porque não tem um bom tema ou porque o modelo era ruim ou porque o ambiente era ruim, que com esse tema eu não consigo pintar. Isso não vale só para artistas. Não tem pessoas chatas e egoístas ao seu redor que ficam falando coisas como: isso não é o que eu quero fazer ou professora eu não consigo descobrir o que eu quero fazer?”

“Ah, tem mesmo.”

Eu.

Realmente, e a Kanami-san falava com raiva.

“Coisas como o que eu quero fazer e o que eu não quero fazer…, odeio pessoas que se consideram como incompetentes. Acho que elas não deveriam viver dessa maneira vergonhosa. Claro que não vou dizer para que elas morram, mas espero que elas vivam mais decentemente. Ao invés de ficarem reclamando, que elas façam o que quiserem. Se for eu, não importa se é um homem comum ou os órgãos de um inseto eu vou transformá-los em uma obra de arte.”

Ao contrário da bela aparência exterior, por dentro ela tem muito orgulho. Não só em relação a si, mas também em relação aos outros ela é rígida.

Não foi agradável ser comparado aos órgãos de um inseto, mas se ela consegue pintar isso então não tem como ela não me pintar. Acho que me preocupar com isso não importa mais, ou melhor, qualquer preocupação que eu tenha vai terminar em nada, então decidi ficar em silêncio.

Então percebo um quadro atrás da Kanami-san. Ali havia um desenho feito de lápis, uma cerejeira vista por um ângulo baixo. A mesma cerejeira que a Kanami-san e o Shinya-san estavam observando essa manhã.

Parecia um desenho tão elaborado quanto uma foto monocromática. O número de pixels seria aproximadamente uns 10 milhões. Não, não… Sem sentido. Em frente a um desenho tão detalhado quanto esse não é necessário uma comparação dessas.

“… Esse desenho”, eu aponto para o quadro. “Quando você teve tempo para desenhá-lo?”

“De manhã, tem algum problema com isso?”

A Kanami-san viu a cerejeira essa manhã. Isso quer dizer que foi há umas cinco horas atrás. Será que é realmente possível desenhar algo tão detalhado assim em apenas cinco horas? Para um desenho desse tipo, não importa quão rápido você seja, acho que seria necessário pelo menos uma semana para ficar pronto. Naturalmente acabei olhando para a Kanami-san com um olhar de confusão e ela sorriu intrepidamente.

“Gastar três ou quatro meses para fazer algo que pode ser feito em uma semana é só coisa que idiotas fazem. Se não for um idiota é um preguiçoso. Como eu não sou nenhum dos dois, se tem algo que posso fazer em três horas não gasto mais do que isso.”

Auu.

Não me faz bem ouvir preguiçosos sendo materializados como algum tipo de personalidade. Sinto dor. Isso é algo que eu realmente queria que a Kunagisa escutasse.

“Ei. Você também não acha isso?”

Com uma clara má intenção a Kanami-san pede o meu apoio. Não é como se eu não sentisse que estou sofrendo uma humilhação direta. E acho que isso não é só impressão minha.

“Ah, bem, sim. Bem, é com certeza um bom desenho.”

“Un. Isso é.”

Parece que a Kanami-san não gostou do meu elogio mundano e respondeu sem nenhum interesse. Não, com certeza foi um elogio muito normal, mas ainda assim. É realmente um bom desenho, mas isso é o que parece para todos. Até uma criança de cinco anos diria isso. Por acaso eu sou um idiota?

“… Bem, a Kanami-san também faz desenhos detalhados?”

“Desenho qualquer coisa, não sabia?”

É mesmo. Falhei de novo. A pessoa na minha frente é a artista feminina que nega o uso de um estilo definido e mantêm essa posição, é a Ibuki Kanami-san. Não importa se é um desenho detalhado ou uma pintura de óleo ou qualquer outra coisa, não há nada que ela não possa pintar—

A Kanami-san depois de encolher somente um dos olhos disse.

“Ficar preso a um estilo é algo muito tolo. Não vou dizer que não se deve concentrar em si mesmo, mas se concentrar demais é com certeza estranho. É loucura. Deixando de lado as outras coisas, pelo menos as pinturas que eu faço, faço porque gosto.”

“Isso é verdade.”

Não sabia se devia concordar ou não, então dei uma resposta qualquer. A Kanami-san como se tivesse percebido ou não tivesse percebido isso, começou a rir me desprezando, Fufun.

“Ei, você…, já tinha visto alguma pintura minha?”

“Em livros, algumas vezes. Não me esforcei muito e por isso, essa é a primeira vez que vejo diretamente.”

“Fuun. E, o que achou? Não as dos livros, mas essa da cerejeira.”

A pergunta da Kanami-san foi para mim algo que não esperava. Achava que as pessoas que eram gênios não se importavam com que os outros achavam. Começando pela Sonoyama Akane-san que é uma das Sete Tolas, temos o pessoal do ER3, aquele pessoal nojento que participava do programa, eles não tinham desejo por fama ou vaidade, eram um pessoal que não dava a mínima importância sobre o que os outros achavam.

“Eu sei melhor do que qualquer um, qual é o meu valor. Recuso saber o que o pessoal de cabeça ruim pensa sobre mim.”

Eram um pessoal que conseguiam falar coisas desse tipo. Por isso eu sentia ódio.

“… Bem…”, respondi enquanto estava meio sem saber o que falar. “Sim…, acho que é um desenho bonito.”

“Fun…, um desenho bonito…”, a Kanami-san repetiu a minha frase. “Não precisa ficar se forçando a me elogiar, não? Eu não vou ficar brava com isso.”

“Não… Eu não tenho bons olhos para comparar ou para dizer se é bom do ponto de vista artístico, mas… é realmente um desenho bonito.”

“Fun… Bonito…”

A Kanami-san olha para o quadro com um pouco de pena. E começou a sussurrar com uma voz que dava, mas não dava para escutar.

“Bonito. Bonito, bonito, bonito. Sabe… Isso em relação a artes não é um elogio…”

“Eh?”

“Será que realmente não dá essa impressão… Que pena… Não quero fazer isso… Que desperdício…”

A Kanami-san solta um grande suspiro, Haa-, e inclinando um pouco o seu corpo pegou o quadro,

O ergueu,

E o bateu no piso de madeira.

O som de uma cerejeira se quebrando.

Claro que não foi o piso que quebrou.

“Espe…, o que, está fazendo?”

“Como você pode ver estou jogando fora essa falha de pintura. … A-a. Porque eu tive que fazer algo assim…”

Isso é com certeza a minha fala.

A Kanami-san olhava para o quadro despedaçado como se tivesse perdido algo importante. E com um ar de tristeza repetiu o “A-a”, mais uma vez.

“Realmente… No futuro isso valeria uns 20 milhões…”

“20 milhões de yen…?”

“20 milhões de dólares.”

A unidade…

“Claro que isso só daqui a algumas dezenas de anos.”

“… Artistas de vez em quando realmente fazem coisas exageradas…”

Não precisava fazer isso na minha frente. Só de pensar que foi porque eu disse algo sem pensar muito me da faz sentir que eu tenha cometido um crime.

“Você não precisa se sentir culpado. Essa é minha responsabilidade. Eu não sou uma idiota que coloca a minha culpa nos outros.”

“Mas eu sou um amador. Por causa de uma opinião de um amador, você não precisava fazer algo assim…”

“Eu não reconheço como artistas as que escolhem as pessoas que observam suas obras.”

A Kanami-san declarou isso claramente.

Faz sentido… Então é isso.

Por causa dessas palavras eu consegui entender.

Essa pessoa realmente fala e age de uma maneira maldosa, mas com certeza ela é uma artista até a medula dos seus ossos.

“Mas era um desenho tão realístico que parecia uma foto…”

“Isso também não é um elogio. Sabe…, se você tem mania de elogiar as outras com <é parecido com algo> é melhor você parar com isso. Porque isso é a maior das humilhações possíveis. Se o seu cérebro não consegue entender que não sou uma pessoa presa a alguma estilo não tem jeito”, e a Kanami-san se vira na minha direção. “Bem, eu entendo porque é parecido com uma foto. Já que as fotos vieram originalmente dos desenhos.”

“Sério?”

“Sim, não sabia?”

A Kanami-san ergueu uma de suas sobrancelhas.

Parece que a Kanami-san tem a mania de falar <não sabia?>.

“A pessoa que teve a idéia do daguerreótipo na verdade era um artista. Parece que o estudo sobre as perspectivas levou a criação da câmera fotográfica. Isso é algo que ouvi do Shinya, mas você já ouviu falar da câmera escura?”

Isso eu conheço.

Isso quer dizer uma caixa escura. É um fenômeno onde em um quarto escuro se você abrir um furo, a luz que entra acaba refletindo a imagem do exterior na parede contrária ao lado do furo. É uma técnica antiga, já que na era passada o Aristóteles já havia a indicado. Parece que é a origem da câmera fotográfica.

“Aquilo é uma técnica que surgiu para refletir com clareza a imagem exterior. Já que o princípio básico do desenho em perspectiva é <desenhar exatamente o que se vê>. Essa é uma frase do artista francês Coulbert… além dele, no realismo era dito que <como eu nunca vi um anjo não tem como eu desenhá-lo>. É contrária a minha filosofia. Se você pedir para uma criança desenhar algo sem nenhum tema, ela não consegue? Sem levar em conta o tamanho das coisas, a casa e as pessoas tem o mesmo tamanho, ou a coisa mais preciosa para elas é desenhada de tamanho maior. Isso quer dizer que não é como as coisas são vistas, mas como elas são sentidas que devem ser retratadas em um quadro. Se desenhar é um ato de mostrar o que você está sentindo, então isso também está correto. Se você pensar dessa maneira, não tem como você dizer que um desenho é bom porque é parecido com uma foto.”

“Ha.”

Como começaram a aparecer termos técnicos não consegui entender tudo que ela queria dizer. Além disso, a Kanami-san só está conversando e não tem nenhum sinal de que ela vai começar a pintar. Quando será que ela vai começar?

“Não tem como dizer que uma foto é realmente verdade… Não é difícil enganar alguém se você a editar direito… No sentido que as duas podem ser arbitrárias tanto a foto quanto o desenho não são tão diferentes.”

“… Kanami-san. Não vai começar a pintar?”

“Agora estou memorizando.”

Pensei que ia ser chamado de incompetente de novo, mas a Kanami-san disse isso de forma relativamente calma.

“Não sabia? Eu sou o tipo de pessoa que trabalha sozinha. Se alguém está comigo não consigo me concentrar.”

Ela disse algo que o Leonardo da Vinci diria.

Não costumo ouvir muito sobre artistas que não pintam ao mesmo tempo em que vêem, mas não é como nunca tivesse ouvido isso, então não me assustei tanto.

“Por isso quando eu vou pintar pessoas acabo dependendo completamente da minha memória.”

“Você consegue fazer isso?”

“Para mim memória e reconhecimento é a mesma coisa.”

Agora ela disse algo que o Hannibal Lecter diria.

“Vamos ficar conversando assim por duas horas. E quando você voltar eu começo a pintar. …Opa, antes disso tenho que refazer o desenho da cerejeira. Pelo menos ao um nível que você possa compreender direito. Depois a sua pintura. Como eu vou usar cores mais de uma vez vai demorar um tempo. Depois de esperar secar…, amanhã de manhã já posso te entregar.”

“Vai dar ele para mim?”

“Sim. Eu não preciso de uma pintura como essa. Não tenho interesse em obras completas. Vou assinar, então se você vender deve dar algum dinheiro. Claro que se você não gostar você pode rasgá-lo, mas isso é um desperdício. Pretendo fazer de maneira que possa valer uns 50 milhões.”

Que conversa mais imediata.

Suspiro.

“… Falando nisso, ouvi dizer que você não se dá bem com a Akane-san.”

“Não nos damos bem mesmo. É mais correto dizer que estou sendo odiada sem nenhuma razão. Pessoalmente eu tenho a intenção de ter certo afeto em relação à cientista Sonoyama-san, a pesquisadora Sonoyama-san, uma das Sete Tolas que é a Sonoyama-san e até posso dizer que tenho a intenção de respeitá-la.”

“Ter a intenção, parece que tem algo mais profundo nisso.”

Sim, sorri a Kanami-san.

“Somente a Sonoyama Akane, eu a odeio.”

Duas horas depois.

Depois de sair do atelier da Kanami-san eu voltei ao quarto da Kunagisa. A Kunagisa ainda estava na cama, mas parece que ela tinha acordado uma vez antes e terminado de consertar o meu relógio. Como alguma brincadeira de mau gosto da Kunagisa o indicador digital tinha virado uma escrita ao contrário, mas como ainda dava para usar, o coloquei no meu braço esquerdo e depois de acariciar a cabeça dela e agradecê-la eu fui em direção ao quarto da Akane-san.

“Por favor, jogue sem o Hisha, Kaku, Gin, Kin.”

A Akane-san depois de ouvir meu pedido, sorriu alegremente e, “Vamos te dar ainda mais vantagem”.

E no lado do tabuleiro dela, começou a colocar peças de xadrez.

“É ecletismo entre o ocidente e o oriente.”

“Dá uma impressão maior de ser uma luta inter-racial…”

Só que mesmo com essa vantagem eu perdi, fui completamente derrotado.

Além disso, foram sete vezes seguidas.