Zaregoto:Volume 1: Capítulo 1.2

From Baka-Tsuki
Revision as of 22:20, 18 February 2018 by Vinioil (talk | contribs) (Created page with "==Montagem e Aritmética== ------------------------------------------ thumb| Himena Maki – Adivinhadora gênio. '''0''' '''Se você n...")
(diff) ← Older revision | Latest revision (diff) | Newer revision → (diff)
Jump to navigation Jump to search

Montagem e Aritmética


Himena Maki – Adivinhadora gênio.


0


Se você não levar em conta que a sua opinião está completamente errada, ela está praticamente correta.


1


Bati na Kunagisa, que estava dormindo feito uma pedra para acordá-la, a forcei a lavar o rosto e depois de abaixar o cabelo dela, o amarrei. Ainda assim a Kunagisa estava sonolenta e por isso a levei quase que carregando ela para a sala de jantar, onde todos os outros já estavam reunidos.

Uma mesa redonda e dois lugares vazios.

Fiz a Kunagisa se sentar e sentei ao lado dela. Depois de me arrumar, olhei em ordem para cada um que estava em volta da mesa.

“…”

Dos doze a pessoa que mais chama a atenção é com certeza ou obviamente a dona da mansão, a Akagami Iria-san. Achar ela bonita é algo que vem da visão geral de cada pessoa, por isso falar isso não teria muita importância. Se eu achar que a Iria-san é bonita isso é o que eu achei, e no fim, é o que eu acabei achando. Para ser sincero, da minha visão geral de gosto, a empregada Akari-san faz muito mais meu tipo. Não, isso não tem nenhuma importância.

Realmente.

Para qualquer um é certeza que ela, a Akagami Iria é nobre. Um lindo cabelo escuro que está em forma de cachos, um vestido caro; isso realmente não combinava com ela, mas a Iria-san tinha um ar de nobre tão grande que acabava compensando isso. Ela deve ter mais ou menos a mesma idade que eu, por volta dos 20 anos e oh céus; parece que para as pessoas a linhagem ou a forma como elas são criadas é importante. Claro que tem outros fatores importantes, mas o fato de que isso é importante realmente não muda. Isso vale para qualquer era.

Akagami Iria.

Uma descendente da Fundação Akagami e uma neta anormal…

“Então, como a Kunagisa-san também chegou que tal começarmos a hora mais esperada do dia?”

A Iria-san juntou as duas mãos como uma criança e disse: “Itadakimasu1”. Nesse tipo de ação a idade mental dela é de uma pessoa nova. É certo dizer que ela não tem muito senso comum, mas se você ver isso de fora isso não faz tanta diferença.

Por falar nisso, o estilo de vida livre que é mantido nessa ilha tem somente uma regra. Ela é <que todos jantem juntos>. Parece que alguns <gênios> que não conseguiram cumprir essa regra, que qualquer um conseguiria, foram forçados a sair dessa ilha. Se você falar sobre gênios é comum dizer que eles têm algo em comum com pessoas que não tem senso comum ou bom senso.

Ao lado da Iria-san nas duas direções estão duas empregadas cada. Do lado esquerdo estão a Teruko-san e a Rei-san. Do lado direito estão a Akari-san e a Hikari-san. Como eu não consigo diferenciar a Akari-san e a Hikari-san, não sei dizer se a Akari-san está do lado direito ou esquerdo ou se a Hikari-san está do lado direito ou esquerdo. Daria para diferenciar as duas pela expressão ou pelos gestos, mas como eu não tenho uma visão de observador boa assim, isso é um pouco difícil. A Kunagisa parece que consegue diferenciar as duas (não é estranho, já que é a Kunagisa Tomo), mas pelo que ouvi falar a dona Iria-san também não consegue diferenciar as duas. Parece que as duas não se importam muito com isso também.

“Então todos peguem os seus copos e… Kanpai2!”

A Iria-san ergueu alto o seu copo e disse isso como se estivesse cantando. Eu, assim como todos os outros, fiz o mesmo. Mas o que estava no meu copo e no da Kunagisa não era vinho, mas suco.

Eu e a Kunagisa somos menores de idade.

Em cima da mesa redonda estão distribuídos vários pratos. A cozinheira gênio Sashirono Yayoi e várias de suas obras das quais ela se orgulha. Vamos apresentar os pratos a partir do mais próximo a minha cadeira.

Coroa de carneiro assado, sopa de batata doce com base em cappuccino, terrine de foie gras com nhoque de trufas, mexilhões azuis cozinhados, enguia belga cozinhada em molho verde, arenque defumado, sashimi de carne de baleia, ravióli coberta com molho, carpaccio de carne de avestruz, salada de frutas, salada de batatas com ovo e, finalmente, cogumelo salteados com óleo.

“…”

Não sei nada.

A Yayoi-san cozinhou tudo isso se baseando no gosto de cada um, mas mesmo que eu ouça o nome, isso não tem sentido nenhum. Não é como isso importasse muito, já que nome não é algo que tenha tanta influência sobre a essência.

Eu acho.

Depois disso ainda vai vir sobremesa e pensando friamente dá para dizer que tem uma boa quantidade de comida. Como a comida que a Yayoi-san prepara é muito deliciosa, acabo comendo demais e por isso o meu cuidado sobre meu peso acaba sendo deixado de lado. Se bem que parece que esse aspecto também é levado em conta pela própria Yayoi-san.

“Se ela levou em conta o aspecto nutricional e tem esse gosto, ela é realmente um gênio…”

Eu sussurrei isso de forma que ninguém escutasse, já não sei pela qual vez.

Falando nisso, durante o almoço consegui conversar um pouco com a Yayoi-san. Quando fui à sala de jantar por coincidência eu e a Yayoi-san ficamos a sós e aproveitei essa oportunidade para perguntar a ela sobre aquele rumor.

O que realmente é <a técnica de conseguir cozinhar qualquer coisa melhor que os outros>?

Essa pergunta.

A Yayoi-san depois de ouvir essa pergunta riu um pouco surpresa.

“Desculpa, não tenho como corresponder a sua expectativa, mas… Eu ao contrário da Himena-san não tenho uma habilidade sobrenatural… É basicamente esforço e treino.”

“É sério?”

“Só que… Tenho idéia de onde surgiu esse rumor. Comparado com as outras pessoas eu tenho um pouco… ou melhor, um olfato e um paladar muito mais aguçados.”

Depois de dizer isso a Yayoi-san mostrou a sua língua. “Se for fazer uma comparação mais plausível…, deixa eu ver. A Helen Kellar era cega, mas conseguia diferenciar as outras pelo cheiro. Eu também sou parecida com isso… meu olfato não chega a isso, mas, por exemplo…”

A Yayoi-san segurou o meu braço e de repente lambeu o dorso da minha mão. Como eu nunca tinha nem ao menos sonhado que algo assim poderia acontecer, fiquei tão assustado que quase soltei a minha voz. Segurei de alguma maneira o “Uwaa!” dentro da minha garganta.

A Yayoi-san ainda com a língua de fora sorriu como o Einstein,

“Você é do tipo AB, né?”, e perguntou.

“Além disso, o Rh é negativo… Certo?”

Ouvindo isso, eu lembrei que essa era a resposta certa. Quando fui tirar meu passaporte lembro que o médico disse que <é realmente um tipo sanguíneo raro> ou algo do gênero. Por isso o que a Yayoi-san disse realmente está correto, mas–

“Tem como descobrir isso só lambendo a pele…?”

“Pra ser mais exato eu lambi o seu <suor>. A minha língua consegue distinguir vinte mil tipos de gostos e os divide em 12 escalas de força. O meu olfato é mais ou menos metade disso…”, a Yayoi-san inclinou levemente seu pescoço. Um gesto atraente. “Eu não sou esperta como a Sonoyama-san, ao contrário da Ibuki-san sou péssima em artes, não me dou bem comm máquinas como a Kunagisa-san, não tenho habilidades sobrenaturais como a Himena-san, não presto para nada, mas isso desde criança é o meu ponto forte. Para aproveitá-lo achei que só tinha a possibilidade de me tornar um cozinheira.”

Parece que é chamado de paladar absoluto.

Parece uma versão paladar da sensação de som absoluta, mas ao contrário da sensação de som absoluta, essa não pode ser conseguida com treino. Isso quer dizer que, sim, dá para dizer que a Sashirono Yayoi foi uma existência escolhida por deus. Existem dois tipos de pessoas com habilidades. As pessoas escolhidas e as pessoas que se escolheram. As pessoas que têm valor e as pessoas que criam seu valor. Claro que o esforço e o treino da Yayoi-san vieram depois, mas basicamente ela é um gênio que pertence à primeira classe.

Isso quer dizer que o caminho que a Yayoi-san está seguindo como <cozinheira> não foi algo que ela escolheu. Por ela já ter uma habilidade como essa que a Yayoi-san aprendeu gastronomia, foi para o ocidente e aproveitou ainda mais essa vantagem.

Gosto é definitivamente algo que é relacionado ao paladar de cada um. O quanto do seu gosto que você pode usar, aproveitar. Isso é algo que tem bastante influência na habilidade de um cozinheiro. Se você pensar dessa maneira dá para entender a habilidade de cozinheira da Yayoi-san.

E mesmo que eu fique juntando pequenos argumentos, isso acaba não tendo nenhum significado. No fim, a comida da Yayoi-san é gostosa.

Essa Sashirono Yayoi-san está, pensando na mesa redonda como um relógio e considerando a Iria-san na hora zero, exatamente na posição das três horas ao lado da Akari-san, Hikari-san.

Na posição das quatro horas está o Sakaki Shinya-san. Como ele sempre foi acompanhante da Kanami-san, mesmo estando em um lugar desses, ele se encontra bem calmo, está até se sentindo a vontade.

Ao lado dele na posição das cinco horas está a Ibuki Kanami-san. A cadeira de rodas que ela deve ter usado para chegar até aqui está da cadeira que ela está sentada agora. Ela não parecia estar de mau humor, mas também não dava impressão de que ela estava de bom humor.

Às seis horas está a Kunagisa Tomo. Isso quer dizer que a Kunagisa Tomo e a dona da mansão, a Iria-san, estão sentadas uma de frente para a outra. Não é algo de grande proporção, mas só por isso fico nervoso. Mesmo que eu esteja nervoso, isso não vai resolver nada. A própria Kunagisa parece não reconhecer a palavra japonesa referente à <nervosismo>.

E então–, na posição do meu número de sorte, às sete horas eu estou sentado.

A minha esquerda, na posição das oito horas, está sentada uma das <Sete Tolas>, a Sonoyama Akane-san. Parece que a Akane-san está concentrada em comer a comida da Yayoi-san. Ao contrário do que parece, ela gosta de comer bastante. Claro que a Akane-san é antes de ser uma pesquisadora uma humana—mesmo que ela possa negar isso—e por isso ela não conseguiria sobreviver se não se alimentasse, mas tirando isso ela realmente come muito. Ela come tanto que até quem vê se sente bem. Acho que esse é um dos objetivos da Yayoi-san, em poder ver pessoas que comem dessa maneira.

Ao lado da Akane-san, na posição das nove horas está a adivinhadora gênio ou esper, Himena Maki-san. Não sei quando, mas a Maki-san havia trocado de roupa e estava com um fashion diferente quando comparado com o da manhã. Uma camisa listrada da Halter Top, um cardigã rosa claro, um calção que tem em 70% dele uma estampa de ovelha. O seu cabelo estava em twintails. Ela percebeu que eu estava vendo ela e ao me ver sorriu maliciosamente e mordeu o carneiro assado. Com uma atitude do tipo de que <ela sabia de tudo e mesmo assim estava quieta>, fazendo com que eu ficasse preocupado.

Realmente.

Então na posição das dez horas está a pessoa que teoricamente tem os mesmos genes da Akari-san e da Hikari-san, a Chiga Teruko-san que está usando um óculos escuro. Sempre calada e praticamente não expressa emoções. Como se estivesse apenas eliminando, ela levava a comida para sua boca. Não ter nenhuma reação em frente a uma comida dessas, pode ser que a Teruko-san não tenha paladar.

Na posição das onze horas, está a Handa Rei-san, a empregada chefe e a mão direita da Iria-san, a superior da Akari-san, Hikari-san e Teruko-san. Ao contrário da aparência jovem que as outras três empregadas têm, a Iria-san dá a impressão de ser uma adulta do tipo que é rígida e é uma mulher de carreira. Não ouvi ela falar muito, mas como parece, ela é dona de um temperamento rígido, tanto que já ouvi isso algumas vezes da Hikari-san.

É isso.

“—Aí estão as doze pessoas.”

… Número da sorte?

Com esses membros?

É um zaregoto. O que tem de significado nisso. Obviamente eu era o único diferente. Estava no lugar errado. Ainda assim, nos meus 19 anos de vida não houve nenhum lugar onde eu estivesse no lugar correto, seja em Kobe, seja em Houston, seja em Kyoto e até nessa ilha.

Nesse mundo vasto só existe eu.

Tanto faz.

Gosto de solidão.

Não é uma falsa amostra de coragem.

Mesmo que seja uma falsa amostra de coragem.

“Mudando de assunto.”

A Iria-san disse isso trocando o assunto que estava em vigor até aqui. Quem está segurando o direito dessa mesa redonda é a Iria-san. Esse tipo de egoísmo é realmente algo de uma ojou-sama.

Com uma voz clara a Iria-san continua.

“Como já tem boatos sobre isso vou fazer um anúncio. Sobre o próximo convidado–, o próximo gênio.”

Todos ficam atentos a Iria-san. Não, tirando a Kunagisa que está comendo de forma porca a carne de baleia. Chamar a atenção dela de propósito é uma tarefa muito difícil.

“Declaro que a pessoa que vai vir daqui a uma semana é provavelmente comparado a todos que estão aqui, sem nenhuma sombra de dúvidas o dono de um grande talento. Quero recebê-lo bem, por isso espero a colaboração de todos.”

Cada um tem uma reação diferente. Principalmente na parte do . Enquanto cada um se comparava, alguém que não era um gênio, o Shinya-san levantou a mão e disse “Pergunta”.

“Ele é que tipo de pessoa? Eu só ouvi rumores, então não sei direito, mas parece que ele é um generalista, certo?”

“Isso mesmo. Só o encontrei uma vez, mas… Sim, só uma vez é suficiente. Se for dizer aquela pessoa é o meu herói.”

A Iria-san como se estivesse relembrando algo, olhou para o teto. “Para mim ele é uma existência heróica. Como o detetive de livros de raciocínio, o monstro de filmes de monstros.”

Monstro…?

Eu, naturalmente, senti as minhas sobrancelhas se aproximarem. A Iria-san disse com convicção <monstro>, mas será que essa comparação está correta? Essa não é uma palavra que se usa normalmente para se referir a pessoas e mesmo que seja usada não acho que sirva como um elogio.

“Ele tem realmente uma bela reputação. Parece que dá para esperar coisa boa”, o Shinya-san disse isso alegremente e riu exageradamente, kuhaha. “—Ouvi dizer que ele é um gênio geral, então ele é daquele tipo? Ele também consegue pintar?”

“Não vi isso, mas não acho que ele não consiga. Pintar para ele não deve ser nenhum problema.”

Isso realmente mexeu com o orgulho da Kanami-san. A Kanami-san estava com uma expressão um pouco…, não, muito severa e,

“Será que posso saber o nome dessa pessoa, Iria-san? Se for alguém desse nível ele deve ser alguém muito famoso.”

E disse isso de forma agressiva.

Já havia pensado isso de tarde, mas essa pessoa realmente é muito orgulhosa. Não é algo ruim, mas também não é algo que sempre é bom. Eu não posso dizer algo sobre o estilo de vida que ela escolheu, mas ao menos para mim, esse é um estilo de vida impossível.

A Iria-san estava com um rosto de surpresa por parecer não saber porque a Kanami-san estava com raiva (e provavelmente realmente não sabe) e respondeu normalmente, “Se chama Aikawa-san”.

De uma maneira que tirou o ar pesado de antes.

Assim, fazia parecer quem estava com raiva um idiota.

“Ele é uma pessoa muito ocupada e por isso o Aikawa-san vai ficar somente três dias e por isso espero que todos possam se dar bem com ele. Realmente gosto muito, muito dele. Quase que o amo.”

A Iria-san disse isso como se estivesse envergonhada e estava com as bochechas vermelhas. Esse gesto de criança realmente faz o ambiente ficar mais tranqüilo. Como posso dizer, parece que a Iria-san consegue instintivamente, fazer com que qualquer um a perdoe, mesmo que ela tenha dito algo ruim em relação à outra.

Será que isso também é da linhagem dela?

“—Ainda assim, Aikawa…”

Nunca ouvi esse nome. Pelo menos eu não tenho nem idéia. Quis perguntar isso para a Kunagisa, mas mesmo que ela saiba, ela continuava a comer. Em relação a assuntos que não interessam a ela, ela é sempre assim. Mais difícil de lidar do que com crianças, ainda mais do que com animais. Não, só por ela estar sentada assim já é melhor que nada.

“Ah, como estou ansiosa. Não imaginava que o Aikawa-san voltasse novamente para essa ilha. Valeu a pena pedir isso tantas vezes. Parece um sonho. O que eu farei se for realmente um sonho—“

A Iria-san disse isso fascinada. Vendo isso, dá para dizer que a Iria-san tem muito interesse nesse homem chamado de Aikawa. É como se ela estivesse falando do homem que ela ama faz anos.

Só chamar esse nome,

Faz parecer que ela o respeita.

“Ah—falando nisso, Kunagisa-san”, e a Iria-san começa a conversar com a Kunagisa, “A Kunagisa-san vai mesmo voltar antes?”

“Hm? Un. Sim, sim”, como conversaram com ela, a Kunagisa respondeu brevemente. Ainda assim não parou de mover o hashi que ela usava com as duas mãos. Bem, só pelo fato de que ela está usando hashi com as duas mãos mostra como ela não tem bons modos na hora das refeições. “Isso mesmo. Daqui a quatro dias.”

“È realmente uma pena. É uma oportunidade única. Queria muito que se encontrasse com o Aikawa-san. Quero muito apresentar ao Aikawa-san uma pessoa como a Kunagisa-san. Não tem algum jeito?”

“Não. Bokusama-chan é um tipo de pessoa que nunca muda o que planejou. Tanto que até sou chamada de Time Table vivo. Claro que o Ii-chan também é.”

Não me jogue na conversa assim. Além do mais, nos meus planos não havia algo como vir para essa ilha.

A Iria-san estava mesmo com pena disso e assentiu com um “Não sabia disso”. E depois disso decidiu fazer certa pergunta para a Kunagisa. “Bem…, será que a Kunagisa-san não está gostando muito da vida nessa ilha? Quase não a vejo sair do quarto.”

“É porque eu sou um tipo de pessoa que não costuma sair do quarto. Uun, é divertido. Muito divertido. Bokusama-chan sempre, em qualquer lugar estou me divertindo.”

“…”

Devido a essas palavras da Kunagisa eu fiquei um pouco paralisado. A frase da Kunagisa não estava sendo exagerada. Para uma pessoa que construiu seu próprio mundo dentro de sua cabeça, não há nenhum momento que não seja divertido. E assim, como é não ter qualquer emoção <fora essa>? Quão trágico é se divertir sempre, em qualquer lugar?

Eu sei muito bem sobre isso.

A Iria-san encolheu seus ombros.

“Mas Kunagisa-san. Acredito que haja um significado em você se encontrar com o Aikawa-san. Encontrar com aquela pessoa vai fazer com certeza você sentir inspiração.”

“Inspiração? Mas que trivial.”

Aí, como se estivesse esperando esse timing, a Kanami-san entrou na conversa.

“Eu acho que receber influência dos outros é prova de ser uma pessoa normal. Uma prova dos incompetentes. Que idiota. Não sei que tipo de pessoa é essa, mas não acho que tenha algum significado em encontrá-la.”

“Ei, ei, não é bem assim.”

A pessoa que reagiu às palavras da Kanami-san foi definitivamente, como poderíamos deduzir, a Sonoyama Akane-san.

“Eu, dentro do sistema ER3 vivi por mais de cinco anos cercada pelas maiores mentes do mundo e sem essa experiência eu não seria a mesma de agora. Estar junto com pessoas superiores tem ligação com o seu progresso.”

“ER3? Mas que idiota. Não, é idiotice mesmo. Ficar preso em um grupo desses é algo que eu nunca faria.”

“Não estamos presos não. Todos agem livremente e assim cada um melhora as suas habilidades.”

“Livres? Não use essa palavra tão facilmente assim. Um grupo sem limitações não é um grupo. Sonoyama-san, você não é só um membro dessa hierarquia? Realmente. Eu estou com você nessa ilha já faz algum tempo, mas não sinto meu valor aumentar. Muito pelo contrário, sinto que ele está diminuindo.”

As duas se encaram. Em frente a tantas pessoas assim, como elas não agem como adultas. Eu realmente fico sem reação.

As empregadas parecem querer parar com isso, mas como a dona Iria-san estava vendo isso com um sorriso, elas não podiam se intrometer. Eu não sirvo para essas coisas, a Yayoi-san não parece ter muito interesse, a Maki-san não está nem aí e o Shinya-san já havia desistido como sempre. Oh, com tantas pessoas assim, ninguém parar essa briga é algo que me surpreendeu.

“…”

Não… tem.

Só mais uma.

“Humanos são seres que só conseguem viver em grupos, Ibuki-san. Eu acho que pessoas como você que não confiam nos outros e se prendem a sua consciência especial, deveriam refletir e muito sobre sua vida.”

“Isso no fim, não é que todos tenham que acabar vivendo com os outros? As pessoas não são peixes migratórios. E eu não possuo consciência especial. Eu só não me humilho. O meu estilo de vida é ser alguém sincero que dá estimativas corretas sobre as coisas.”

“Será que é isso mesmo?”

“Será que é isso mesmo? A-a, isso de novo. E acha que transformar o problema em algo vago é bom. Acha que não falar sua opinião e ficar em uma posição vaga o faz parecer alguém sábia. A-a, sim, sim. Você é com certeza sábia. Será que é isso mesmo!”

“Está um pouco desagradável de se ouvir.”

Voz.

Era a Kunagisa.

Como uma criança de mau humor ela fez beicinho e olhou na direção da Kanami-san.

“Está machucando os meus ouvidos Kanami-chan, Akane-chan.”

Em um instante. Todos pararam.

Parece que ninguém achava que a Kunagisa fosse dizer algo assim.

Como eu já tenho experiência com isso, não é como se eu não pudesse ter previsto. Ela, a Kunagisa Tomo, odeia muito quando pessoas estão brigando na sua frente. Pensando na tranqüilidade normal dela isso pode parecer estranho, mas não é como se não desse para entender. Para a Kunagisa, que adora coisas divertidas, ela acaba não gostando de coisas que não são divertidas. Uma lógica simples.

“… Desculpa. Falei demais.”

Quem se desculpou primeiro foi surpreendentemente a Kanami-san. Assim, a Akane-san que é uma esplêndida adulta que tem boa reputação também não teve outra escolha. Ela, evitando olhar diretamente, disse: “Eu também exagerei, foi mal.”

E as duas abaixam suas cabeças. O ambiente ficou um pouco pesado, mas o primeiro conflito foi resolvido… E.

Parece que iria acabar assim, mas a Maki-san estragou isso no fim.

“Isso vai dar em um problema mesmo…”

A Maki-san sorrindo com confiança, sussurrou isso com uma voz fria. Agora que a paz finalmente voltou, o que essa adivinhadora veio falar. Em seguida os olhos da Iria-san estavam brilhando e ela perguntou a Maki-san: “Isso é uma premonição?”

“Que tipo de <primeiro problema> é, Himena-san? Eu tenho muito interesse. Será que não pode me dizer?”

“Não vou falar. Eu não vou, falar, nada. Deixa eu ver…”, A Himena Maki disse isso enquanto passava seus olhos sobre a Kunagisa. “Já que ela não tem um ideal tão arrogante a ponto de influenciar o mundo.”

“Isso quer dizer o quê?”, sem perceber eu tinha retrucado. Já a Kunagisa tinha voltado a se concentrar na sua refeição. Ao que parece só estava barulhento mesmo. “Maki-san, isso quer dizer o quê?”

“Não tem significado nenhum. Assim como as suas ações não tem significado nenhum. Você é bem…, olha…, alguém que consegue ficar bravo no lugar das outras. Não acho que isso seja algo muito bom. Não é ruim, mas também não é bom.”

“Porque não?”

A Iria-san entrou no meio de nossa conversa. Não, o correto é dizer que eu tinha entrado antes.

“Eu acredito que ficar bravo no lugar dos outros é algo maravilhoso. No mundo atual, não tem muitas pessoas que façam isso.”

“As pessoas que demonstram sentimentos no lugar de outras, são aquelas que em momentos ruins botam a culpa nas outras. Sabe, são pessoas como você que eu mais odeio.”

Fazia tempo que alguém não dizia algo assim de frente para mim. A Maki-san moveu seu olhar lentamente na minha direção.

“Você é uma pessoa que é levada pelas outras. Porque todos fazem, você é do tipo que ignora o sinal do semáforo. Você é uma pessoa que absurdamente faz as coisas pela metade. Dizem por aí que harmonizam, mas não concordam… mas no seu caso jovem, é mais como não harmonizar e concordar… Não vou dizer que isso é ruim. Não vou dizer que isso é ruim. Não vou. Não acredito que individualidade esteja ligada diretamente ao valor próprio de cada um. Trens que andam nos trilhos são melhores trens dos que não andam. Por isso sobre isso não vou dizer nada. Mas, eu odeio esse tipo de pessoa. Odeio. Afinal esse tipo de pessoa só põe a culpa nos outros e nunca mostra responsabilidade.”

Ser somente levado pelos outros.

Isso é com certeza o meu estilo de vida.

Mas.

“Por você—“

Porque eu não gostava disso.

Porque eu havia encontrado a Kunagisa e estava de saco cheio disso.

“Não me lembro de você ter direito de falar isso sobre mim, Himena Maki-san.”

“Ficou bravo? Seu ponto de ebulição é surpreendentemente baixo. Fácil de esquentar… esfriar?”

“Pa—“

Pare com isso.

Pare com isso pare com isso.

Pare com isso pare com isso pare com isso—

Pare com isso sua—


“Ii-chan.”


A Kunagisa puxou minha manga.

“Não pode ficar bravo com isso.”

Kunagisa Tomo.

“… Entendi.”

Sensação do meu corpo esfriando. Sinto minhas forças saindo do meu corpo. Mais do que abatido, eu estava me sentindo exausto. Eu fiz o meu tronco que estava de pé voltar para a cadeira.

A Maki-san estava sorrindo gentilmente para a Kunagisa e disse: “Desculpa, era só uma brincadeira, viu?”.

A janta desse dia como deu para ver foi agitada. Não é como se não houvesse acontecido nada nos dois dias anteriores, mas a existência do <generalista> fez algo mudar. Desse jeito só quero ver como vai ficar a situação quando o <Aikawa-san> chegar nessa ilha. Se bem que eu já vou estar fora dessa ilha, então realmente não tem nenhuma ligação comigo.

Ainda assim não consigo entender porque a Maki-san fica fazendo aquilo comigo. É claro que minha primeira impressão foi ruim, mas não acho que o problema seja só esse. A Maki-san, sem sombra de dúvidas me odeia, mas isso não é justificativa para agir daquela maneira.

O contrário do amor não é ódio e sim apatia. Se fosse somente porque ela me odeia não haveria razão para ela se esforçar e conversar comigo. Ainda se fosse com algum gênio, mas porque a Himena Maki criou uma conexão dessas com uma pessoa normal como eu? Entre nós dois, a princípio, não há nenhuma ligação.

Que mistério.

Estava pensando somente nisso e não tentei compreender o significado do <primeiro problema> que a profetiza Maki-san havia dito.

Se for para dizer que se eu tivesse pensado nisso algo teria mudado, isso é mentira, mas mesmo assim, depois vou me arrepender disso.

Não tinha jeito.

A única existência nessa ilha que podia ficar arrependida de algo que ainda iria acontecer é somente a Maki-san.

2


Depois de emprestar a banheira do quarto de Kunagisa e me refrescar, já tinha passado das dez horas. A Kunagisa estava sentada na cadeira giratória na frente dos três computadores, mas os três estavam desligados. Só estava girando a cadeira de brincadeira. Ela tem boa resistência nos canais semicirculares.

“Vai tomar banho também.”

“Não.”

“… Hoje não precisa, mas amanhã você vai.”

“Não.”

“Amanhã, mesmo que a força, tendo que amarrar os seus pés e mãos, vou fazer você tomar banho. Se não quiser isso, tome banho sozinha.”

“Fuin. Que trabalho.”

A Kunagisa levantou um pouco seu corpo e esticou as suas costas. “Bokusama-chan tenho inveja dos peixes. Já que eles não precisam tomar banho durante toda a vida deles. Mas no inverno deve ser um pouco frio. Hmm, falando nisso, Ii-chan já ouviu essa conversa? Sabe, você cria peixes em um aquário, certo? Aí você vai erguendo a temperatura do aquário lentamente. De uma maneira que os peixes não percebam você vai pouco a pouco, devagarinho deixando em uma alta temperatura. E no final a água começa a ferver, mas como o corpo dos peixes se acostumou a essa mudança lenta de temperatura, os peixes conseguem continuar nadando mesmo na água que está fervendo. Uma conversa que parece mentira, mas é verdade. Então, Ii-chan, o que se conclui dessa conversa?”

“Não há problema com o aquecimento global.”

“Pin Pon3!”

A Kunagisa ri alegremente. Enquanto eu pensava que ela era realmente uma garota feliz, de repente, do nada, a Kunagisa acabou caindo. Sem conseguir se proteger, de cabeça no chão.

Eu que estava só vendo, senti o choque.

“Que dor. Au-.”

Isso é óbvio.

“O que você está fazendo…”

“To com fome-.“

“Você acabou de comer tudo aquilo agora pouco.”

“Isso não importa-. Como hoje eu não tomei café, nem almocei com certeza deve ter faltado. Mesmo que hoje tenha dormido bem de tarde e não precise dormir até amanhã. Os humanos realmente precisam comer e dormir direito-.”

“O corpo dos humanos não é feito dessa maneira.”

“Então Bokusama-chan não sou um humano. Então Ii-chan vamos comer algo. Antes disso amarra meu cabelo?”

“A Yayoi-san já deve ter voltado pro quarto dela. Como ela sempre acorda cedo, será que ela já não está dormindo?”

Não é muito bom acordar ela só para fazê-la preparar uma refeição a essa hora. Não dá para esquecer que a Yayoi-san também é uma das convidadas.

“Será que a Hikari-chan não tá acordada? A comida da Hikari-chan ao estilo da comida da Hikari-chan é boa como a comida Hikari-chan. Se a Hikari-chan estiver dormindo, é só o Ii-chan, Ii-chan cozinhar alguma coisa.”

“Porque eu?”

“É porque ver o Ii-chan cozinhando é unyoimon4.”

Ehehehe-, a Kunagisa ria enquanto ainda estava caída.

“… Sim, sim, sim, sim. Entendi. Entendi. Vou amarrar o seu cabelo então vem pra cá.”

“Vai logo-.“

Depois de desamarrar uma vez o cabelo azul da Kunagisa, o arrumei um pouco. Então, nós dois saímos em direção a sala de estar.

“Ah, falando nisso, foi mal antes.”

“O quê? Ah, aquilo com a Maki-chan, né? Un, sem problema. Te perdôo. Ainda assim o Ii-chan comparado ao passado está bem mais calmo-. Bokusama-chan não achou que fosse parar só depois de ouvir uma frase minha. A vida em Houston mudou um pouco isso?”

“Bem…, viver naquele deserto por cinco anos faz você mudar um pouco como você vê as coisas. –Mesmo que não tenha muito a ver com deserto.”

“Um dia quero que você me conte isso. O que aconteceu lá.”

“… Você também mudou. Deixando de lado a aparência exterior, pelo menos a sua personalidade.”

“Não existe nada que não mude nesse mundo. É a Panda Rei.”

“Handa Rei?”

“É o fato de que está tudo em constante mudança. … É pro Ii-chan ter uma cabeça boa, mas não sabe de nada, né?”

“Isso é porque eu tenho memória ruim. Eu também queria uma memória do nível das pessoas normais.”

Pelo menos uma memória que não me faça esquecer as coisas divertidas.

Pra que ao menos eu possa distinguir que a vida tem várias coisas divertidas.

“Ah, achei a Akari-chan.”

Depois de falar isso, a Kunagisa saiu correndo. Deu para ver que mais a frente estava a Akari-san. Não, mesmo com essa distância não sei dizer se ela é a Akari-san ou a Hikari-san. Pode ser que seja a Teruko-san sem óculos também. Mas como a Kunagisa disse que ela era a Akari-san, então deve ser mesmo.

A Kunagisa e a Akari-san, até eu chegar, trocaram algumas palavras e a Kunagisa voltou para onde eu estava. A Akari-san foi na direção contrário do corredor. Será que a Akari-san mesmo nesse horário ainda tem algo pra fazer? Se for, ela estava fazendo mesmo um bom trabalho, e assim eu pensava sobre coisas aleatórias.

“Sobre o que conversaram?”

“A Hikari-chan está na sala de estar agora.”

“Ah, é… Isso é bom.”

Mas claro que o mundo não tem só coisas boas.

Na sala de estar estava não só a Hikari-san como o Sakaki Shinya-san e a minha inimiga natural a Himena Maki-san. Os três estavam no formato da letra ko (コ) sentados no sofá rindo e conversando.

Em cima da mesa havia copos, álcool e como acompanhamento um grande prato com queijo. A Hikari-san percebeu a nossa presença e levantando a mão, “Ah, Tomo-san!”. Se nos perceberam, não tem jeito. Assim eu fui andando e me sentei no sofá.

Para o meu azar, a Kunagisa se sentou rapidamente ao lado da Hikari-san, fazendo com que eu tivesse que me sentar ao lado da Maki-san. Se eu saísse, pareceria que eu tinha fugido e isso não me agradava. Fugir do inimigo a sua frente é falta de preparação. Com um rosto de como se soubesse tudo que eu estava sentindo, “Bem vindo ao meu clube” ela disse isso como se estivesse fingindo.

“Foi mal por antes…, como posso dizer, por ter falado sobre seu ponto fraco.”

A Maki-san se desculpa de propósito. “Realmente me sinto mal por ter dito aquilo. Qualquer um ficaria bravo se ouvisse algo sobre um dos seus pontos fracos.”

“Não é algo assim.”

“É mesmo? Realmente era um ponto fraco…”

A Maki-san sorri como se estivesse tirando da minha cara. Será que ela está bêbada? Não, essa pessoa não está bêbada. Ela é sempre assim. Pode ser que seja melhor se ela estiver bêbada. A Maki-san depois de tomar um gole de vinho, moveu seu copo na minha frente.

“Bem, beba jovem. Álcool é bom. Você esquece de todas as coisas ruins.”

“Não tenho memórias ruins que me façam querer esquecê-las.”

“E também não tem memórias divertidas que você quer se lembrar”, A Maki-san ria disso com a cabeça inclinada, hihihi. “Não acho que você não se lembre de coisas divertidas porque você tenha uma memória ruim. Na sua vida você não tem um monte de memórias divertidas, assim como não tem um monte de memórias ruins. Não tem na~da. Vazio, vazio.Não ter nada dá mais medo que a própria escuridão… Ahaha, como a vida é divertida.”

Visão do passado e telepatia.

Ao que parece isso não é propaganda. De brinde ela ainda vem com clarividência.

“… Maki-san pare com isso. Aí já está exagerando.”

“Eu estou o atormentando. Vai, beba.”

“Não posso beber álcool. Porque sou de menor.”

“Que exemplar. A-a, que feio, Agindo friamente assim. Uwa- Ii-chan que cool!, quer que eu diga algo assim? Estranho. Vou te chamar de garoto frio mesmo no verão.”

Sem achar graça nisso a Maki-san fez seu copo voltar a sua frente.

A Kunagisa realmente estava com fome, tanto que ela estava devorando o queijo que estava de acompanhamento. Usando as duas mãos, com péssimos modos. Não é como se não desse vontade de avisar ela que isso não é efetivo.

“É Supreme, valencay, maroille.”

A Hikari-san explicou isso gentilmente. Ao que parece são todos queijos que combinam com vinho. Comi um pedaço e achei gostoso, mas comer isso em grande quantidade sem tomar água é algo que só a Kunagisa consegue.

“Como foi com a Kanami?”

Depois de um tempo o Shinya-san que tinha pegado queijo com uma de suas mãos, perguntou. Como se estivesse se divertindo com aquilo.

“Deu tudo certo ser modelo?”

“Sim, isso deu certo. Não teve nenhum problema.”

“Ela não tem uma personalidade ruim?”

O Shinya-san disse isso de sua chefe audaciosamente.

“Não, isso é…”

“Será? Pelo menos eu não conheço outra mulher que tenha uma personalidade pior que a dela.”

Eu conheço.

Ela está do meu lado tomando vinho.

“Não aconteceu nada do tipo… Ah, mas me assustei quando ela quebrou um quadro.”

O Shinya-san sorriu levemente depois de ouvir isso.

“Ah, isso… Sim, sim. Quando eu fui ao atelier <Shinya, jogue fora esse lixo>. Você é por acaso Picasso? … Foi mal. Aquilo é como se fosse uma pose, então não dê muita importância. Ela é do tipo que conseguiu fazer sucesso sem fazer praticamente nenhum esforço e por isso ela é obstinada. Ela não consegue viver a não ser dessa forma.”

“Pose?”

“Sim. Se ela fizer algo assim, não parece que ela é uma artista de primeira classe? Ela também não disse coisas típicas de artista? Ela disse coisas assim, não? Já que estamos falando dela.”

“Bem, isso é… Mas, aquilo não é o que a Kanami-san realmente pensa? Eu achei isso pelo menos.”

“Claro que é. É com certeza o que ela pensa. Mas, não precisa realmente ter que ficar falando isso, certo? Verdadeiros artistas não dizem isso. A Kanami é um gênio, mas está longe de ser uma artista. Aquilo é só se achar. Pelo menos é o que eu penso. Por isso por mim eu queria que a Kanami mudasse um pouco, mas…”

O Shinya-san fez uma cara um pouco triste. E depois de tomar um gole de vinho continuou, “Realmente”. Não tem relação nenhuma, mas ele é uma pessoa que combina com um copo de vinho. Sinto um pouco de inveja.

“Na verdade eu pedi pra que você se tornasse modelo com esse objetivo. Ela quase não pinta quadros de pessoas.”

“É mesmo? Ela disse que não escolhia seus temas.”

“Não escolhe, né…, é mais um problema de gosto. Ela odeia pessoas. Porque não importa como ela faça, elas reclamam. Antigamente ela era cega, ela ainda tem problema com suas pernas e pra finalizar temos aquela personalidade. Ela não se dá bem ao se relacionar com as outras.”

“Gênios não são assim?”

Único gênio que ouvi falar que se dava bem com os outros foi o Gauss. O Michelangelo, por exemplo, era muito odiado. Ah, mas o próprio Michelangelo odiava as pessoas e por isso era odiado.

“Não é necessário ser gênio, já que tem caras que não se dão bem com as outras mesmo assim.”

A Maki-san disse isso com um rosto cheio de ironia.

Ah, você tem razão.

“Ela tem orgulho de ter conseguido fazer tudo sozinha…, deve ser por isso que ela não se dá bem com a Sonoyama-san.”

Com certeza a Akane-san que evoluiu seu talento dentro de um grupo no sistema ER3 e a Kanami-san que é o extremo de uma ideologia individual são gênios de tipos completamente diferentes. É até óbvio que elas acabem não se dando bem.

“Fui eu que ensinei a Kanami a pintar.”

O Shinya-san disse.

“A visão dela melhorou…, mas ela não conseguia fazer nada. Não tinha família nem educação. Por isso eu dei o pincel a ela. Dei isso com a intenção de confortá-la… Mas depois de só um mês ela já tinha me superado.”

“… O Shinya-san também pinta?”

É a primeira vez que ouço isso.

O Shinya-san ergueu somente o ombro direito como se ele estivesse envergonhado.

“Depois de ser ultrapassado pela Kanami, eu parei. Quando o Verrochio percebeu que foi passado pelo Da Vinci ele quebrou o seu pincel com suas próprias mãos. Naquela hora eu entendi essa sensação. Se tem alguém com um talento desses ao meu lado, não é mais necessário eu pintar.”

Hoje de manhã o Shinya-san disse para mim que <nós dois somos parecidos>. Naquele momento eu não tinha entendido o que ele queria dizer, mas, faz sentido, agora eu entendo.

O que o Sakaki Shinya sente em relação à Ibuki Kanami.

Isso é parecido com que o que eu sinto em relação à Kunagisa Tomo.

Suas palavras podem parecer ter más intenções, mas agora entendi que o Shinya-san tem afeto total pela Kanami-san.

“O Shinya-san também é do tipo que age pelas outras, né?”

A Maki-san disse isso com se estivesse lendo meus pensamentos (realmente, que comparação). “Bem, ao contrário de alguém-san eu gosto dessa atitude do Shinya-san.”

“Por quê?”

“Porque ele não coloca a culpa nos outros.”

Que pessoa que gosta de falar exatamente o que não quero ouvir.

“Co, com licença”, a Hikari-san sem saber direito o que fazer interrompeu a conversa entre eu e a Maki-san. “O que você gostaria de beber?”

“… Se for suco, pode ser qualquer um.”

“Sim, imediatamente.”

A Hikari-san tirou do frigobar que se encontrava no canto da sala de estar uma pequena garrafa de ginger ale e voltou rapidamente. Sorridente, ela chegou ao meu lado.

“Se sirva a vontade.”

“…”

Essa pessoa é mesmo esforçada. Como eu achei que ficar discutindo com a Maki-san não seria bom para ela, decidi forçar a me acalmar.

Ah… Eu estou colocando a culpa nos outros, não?

Merda…

Parece que estou na palma da mão dela.

“Hikari-chan, Bokusama-chan também quero suco.”

“Sim, entendi.”

E agora a Hikari-san vai à direção da Kunagisa. Vendo isso a Maki-san disse: “Falando nisso a Kunagisa-chan também era de menor, né?”

“Mas isso não importa muito, certo? Que tal? Pelo menos um gole?”

“Não ofereça a ela.”

“Olha, agora vai dar uma de guardião?” A Maki-san ri estranhamente. “Que bom. Que bom. Como é maravilhoso ser jovem.”

“A Maki-san também é bem jovem, não?”

“Eu já tenho 29 anos.”

A Maki-san disse isso como se fosse nada, mas eu me assustei um pouco. Como ela só usava fashion parecida com a de crianças, tinha certeza que ela tinha mais ou menos a mesma idade da Iria-san.

“Heh. Então tem a mesma idade da Kanami. Não, Maki-san se for assim você ainda é jovem. Eu, por exemplo, já tenho 32 anos. Passando dos 30 finalmente você começa a sentir sua idade. Correr se torna algo complicado.”

“A Hikari-san tem quantos anos?”

Como eu não podia perder essa chance, perguntei isso para a Hikari-san.

“Eu tenho 27 anos.”

“…, Isso quer dizer que… A Akari-san também tem 27 anos?”

“Hah. Isso é bem, afinal somos trigêmeas.”

27… Repito esse número inúmeras vezes dentro da minha cabeça. 27 anos. A Akari-san e a Hikari-san tem 27 anos… Isso pode ser rude, mas não dá essa impressão. Por acaso essa ilha tem um ambiente que faz as pessoas pararem de crescer?

“…”

Capaz.

Não é uma ilha Pantena.

“A Akane-chan senão me engano tem 30 anos. A Yayoi-chan também tem por aí. Vendo assim, todas são jovens. A Iria-chan com certeza gosta de mulheres gênios jovens.”

“Isso é um tanto quanto um hobby ruim…”

É mesmo, a Kunagisa assentiu e jogou alguns pedaços de queijo na sua boca. Parece que ela comeu queijos muito salgados e rapidamente ela tomou o ginger ale. Mas parece que isso entrou no duto respiratório e em seguida ela começou a tossir. O que ela está querendo fazer?

O Shinya-san soltou um “Fuu” e disse com um ar calmo.

“Achei que a Kanami podia mudar um pouco se eu a trouxesse para essa ilha e convivesse isoladamente… Sabe, com o mesmo intuito de levar uma criança que nunca foi a aula para um acampamento. Mas, esse plano não deu muito certo. Essa era praticamente a minha última alternativa… Ela vai ter que viver daquela maneira pro resto da vida…”

Sem ser compreendida por ninguém.

Sem querer ser compreendida por alguém.

Sem depender dos outros e dependendo só de si mesma.

Viver enquanto você devora e destrói a si mesmo.

“… Esse também é um estilo de vida.”

“Você está falando sobre quem?”

Não preciso nem dizer quem foi que disse essa frase sem misericórdia.

“… Falando nisso, porque a Himena-san veio para essa ilha?”, o Shinya-san perguntou isso para a Maki-san. “Estava curioso faz algum tempo. Não é por causa de férias, certo?”

“Não, são férias mesmo. Afinal é muito tranqüilo. Viver de graça recebendo dinheiro. É quase um paraíso. Dá para fazer adivinhação usando a internet. É um mundo conveniente. É divertido, muito divertido, estou muito happy-.”

Que adulta que não presta.

Além disso, ela é de um alto nível.

“Não lembro de você ter direito de falar isso sobre mim”, a Maki-san retrucou isso para eu que estava em silêncio. “Se for assim, porque você veio para essa ilha? Não vai me dizer que é por uma razão idiota como a de que você veio somente porque a Kunagisa-chan disse que viria.”

Como se você já não soubesse. Realmente, essa pessoa.

Realmente porque ela fica se metendo comigo. Pode ser que sem nenhum objetivo, sem nenhuma razão, só para ficar brincando comigo que ela veio pra cá. Uma conversa realista.

“Errado.”

A Maki-san depois de dizer isso para mim, agora olhou para a Kunagisa.

“Então, deixando de lado um cara como você, Kunagisa-chan, Kunagisa-chan o que você veio fazer aqui?”

“Deu vontade, só isso. Bokusama-chan não preciso de uma razão para todas as minhas ações.”

“Será?”

Maki-san disse isso com um sorriso que tinha algo a mais. Com uma personalidade dessas, não sei como, mas a Maki-san, incluindo a Kunagisa e me excluindo, se dá bem com o restante do pessoal.

“Ao contrário de você, elas têm uma boa essência.”

“Surpreso? Ah, desistiu… Ufufu, mas eu não vou parar. Até eu enjoar vou brincar com você.”

É praticamente um sorriso de alguém sadista.

É como se eu estivesse preso como uma vítima.

“Telepatia. Como sempre é incrível, Himena-san. Mas pega leve com ele”, o Shinya-san sem escolha decidiu me apoiar. “Porque você diz coisas assim, que vários gênios já saíram dessa ilha. Ele já vai voltar, então não precisa apressar isso, certo?”

“Sempre que eu quero brincar, ninguém acaba gostando. Discriminação contra espers.”

Habilidades sobrenaturais…

Todos falam isso como se fosse o óbvio, mas será que isso realmente existe? No sistema ER3 conhecido como <Centro Geral Generalizado de Pesquisas>, obviamente também é realizado pesquisas sobre parapsicologia, sobre habilidades sobrenaturais. Psicocinese, ESP, DOP, levitação e teleporte. Quando estava participando do programa ER acabei vendo algumas teorias, experiências e explicações sobre essas coisas impossíveis e até já encontrei alguém que era assim (mesmo que no fim ele tenha sido um impostor).

Mas a decisão que eu acabei chegando foi a de que <não importa o que se pense isso é falso>. Era possível ver que para esses <eventos inexplicáveis> existiam teorias que forçavam alguma explicação sobre os resultados.

Como dizem, é dry love. As teorias que continham o amor seco de vários pesquisadores eram obviamente interessantes, mas eram somente interessantes. Para convencer os outros ainda faltava algo mais concreto.

“Isso não é porque seu valor pessoal é muito limitado?”

“… Por acaso você não conhece o conceito de privacidade?”

“Não tem jeito. O que eu posso ver, acabo vendo, o que posso ouvir, acabo ouvindo. A propósito não adianta fugir. Não importa onde você esteja, vou acabar entendendo como se fosse comigo mesmo.”

“Se é assim, a Maki-chan também tem a habilidade de Remote Viewing e Audição Infernal5, né?”, disse a Kunagisa. “Tenho vários conhecidos que tem habilidades sobrenaturais, mas é a primeira vez que conheço alguém que tem várias habilidades. Multimulti-. Incrível.”

A Kunagisa estava despreocupada mesmo que agora alguém pudesse estar observando o seu passado, seu futuro, seus pensamentos, mesmo que tudo isso possa estar sendo observado. Ou será que a Kunagisa não tem com que se preocupar mesmo que isso aconteça?

“Eu preferia ter psicocinese… Ser especializada só em ESP… né? Teleporte parece ser bem prático.”

Psicocinese é dividido cientificamente como uma habilidade completamente diferente de PK ou ESP. Até agora de acordo com a parapsicologia, deixando de lado a existência do PK, se tratando somente sobre ESP, é dito que não há nenhuma prova de que essas habilidades sobrenaturais possam existir. PK é uma habilidade completamente exterior ao corpo humano, mas pela razão de que o ESP é no máximo um conceito de expandir a sensação dos humanos.

“Com ESP só dá para trabalhar como adivinhadora… habilidade imprestável.”

A Maki-san suspira enquanto diz isso.

Com certeza para conseguir viver só dá para usar ESP para adivinhação, mas eu estou cético em relação a isso.

“Maki-san, tem como provar que você tem habilidades sobrenaturais?”

“Não acho que seja necessário provar… Sabe, como você provaria que <você é você mesmo>? Vai me mostrar sua carteira de motorista? Se eu tiver uma licença de esper você acreditaria? Isso não tem nenhuma importância e mesmo que isso fosse verdade ou fosse mentira ou fosse qualquer outra coisa, isso não mudaria em nada. Assim como eu não mudarei mesmo sabendo de tudo.”

“É mesmo.”

“Você gosta mesmo de duvidar… É isso. Você, que tal eu adivinhar mais uma vez?”

A Maki-san disse isso de repente e sorriu para mim.

Isso é ruim. Não esperava por isso.

“No primeiro dia não foi bem uma adivinhação mesmo… Un, vamos fazer isso mesmo. É uma boa oportunidade. Quase não faço isso de graça.”

“Recuso.”

“Resposta direta… Não está gostando mesmo? Ufufu, como eu aprendi do meu mestre que é para <avançar no que as pessoas não gostam>, vou continuar.”

“Na minha opinião isso não quer dizer o que você quer fazer agora.”

“Você mente bastante, né?” sem se importar a Maki-san continuou. “Você é do tipo que não gosta de demonstrar emoções, mas é péssimo em controlá-las. Por isso se arrepende muito. É levado pelos outros em muitas ocasiões, mas isso conflite com sua individualidade. Se encontrar alguma dificuldade, você foge, mas tem uma cabeça boa. Un, por isso você não gosta de competir com as outras, né?”

“Isso é cold reading”, eu experimentei retrucar. “Nisso você pode falar qualquer coisa. De certo modo, isso vale para qualquer um.”

“Será? Pode ser isso mesmo. Então vamos experimentar ler sobre a Kunagisa-chan. É como um horóscopo de compatibilidade. … Você e a Kunagisa são do tipo de pessoas que não precisam de amigos. Mas por alguma razão estão juntos. E essa razão seria…? Olha só, isso é bem distorcido. Você está do lado da Kunagisa-chan porque você tem muita, mas muita inveja dela. Por um lado você sente muita inveja da Kunagisa-chan que consegue demonstrar seus sentimentos sem nenhum problema, mas mesmo assim, a Kunagisa-chan não parece nem um pouco feliz. Você se sente aliviado por ver que a Kunagisa-chan que tem tudo o que você quer, consegue fazer tudo que você não consegue ainda assim não é feliz. Ah, mesmo que o seu desejo não se realize, isso não importa.”

“É mesmo?”

A Kunagisa inclinou seu pescoço.

Mesmo que isso seja verdade, mesmo que isso não seja verdade, não acho que se deva falar sobre isso na frente da Kunagisa. Eu balancei minha cabeça e respondi que “Não”.

“Maki-san. Você está completamente enganada, já que eu não tenho uma personalidade tão complexa assim. O meu mecanismo é simples.”

“Será mesmo… Pode ser que seja assim, pode ser que não seja.”

“Maki-chan” e a Kunagisa se move ao lado da Maki-san. “Se for assim, então porque Bokusama-chan está ao lado do Ii-chan?”

“Foi mal, mas eu não consigo ler o passado e os pensamentos da Kunagisa-chan.”

A Maki-san encolhe seus ombros lentamente.

“De vez em quando tem essas pessoas. Deve ser por má compatibilidade, mas…, por isso as presenças ao redor ficam meio vagas e isso complica um pouco. Acabo ficando meio preocupada como se estivesse meio escuro. Por isso estou de mau humor.”

Por isso você fica se aproveitando de mim?

Que horrível.

“Himena-san. Aproveitando essa conversa, deixe-me fazer uma pergunta também…, Como é conseguir ver o futuro e os pensamentos das outras?”

O Shinya-san perguntou.

“Essa é só uma curiosidade que eu tenho.”

“Hmm. Essa é uma pergunta parecida com a de como a aranha com seus oito olhos vê o mundo. Se for dar uma explicação, vamos ver, é como assistir TV. Como um quarto completamente cheio de televisões no qual você não tem o controle delas. Não tem como desligar e como não tem outra coisa para fazer, só resta ficar assistindo. Se eu dizer que é como possuir vários cérebros, daria para entender?”

Não.

“Continuando. Por causa de um idiota-san que atrapalhou minha conversa. Kunagisa-chan, eu ainda não tinha perguntado por que você tinha vindo para essa ilha, né?”

“Já disse que foi porque deu vontade.”

“Não é isso. Eu não consigo ler você, mas eu sei que pelo menos isso está errado.”

Uni-, e a Kunagisa solta um suspiro estranho. Parece que ela está com um pouco de problemas. Não gostei como a Maki-san fez essa pergunta, mas ao mesmo isso é algo que eu tenho interesse. O que faria a Kunagisa vir para a Ilha dos Corvos de Asas Molhadas? Já que ela é o extremo e o absoluto da definição de hikikomori.

“Então vou falar.”

Então a Kunagisa enquanto tinha um pedaço de queijo em cima da sua língua disse.

“Tenho interesse em um incidente que aconteceu nessa ilha.”

3


Só que depois da frase da Kunagisa não deu para ouvir mais nada.

“Incidente? Sobre o que você está falando?”

Quase que eu mordi minha língua quando fui tentar falar isso. Por isso não consegui dizer nada e mesmo que conseguisse isso milagrosamente, isso não alcançaria a Kunagisa, não alcançaria os outros e nem ao menos conseguiria me alcançar.

Por causa de um som maior que o apagaria.

Foi um tremor.

Entendi rapidamente que era um terremoto.

“Uwa!”

Quem ergueu a voz foi o Shinya-san.

Como o trabalho de empregada exige que não importa a situação elas devem se manter calmas, a Hikari-san rapidamente, “Se acalmem!” deu esse aviso, mas é difícil dizer que isso teve algum efeito.

A Maki-san como se já soubesse de antemão que o terremoto iria acontecer estava sem nenhum sinal de pressa colocando todo o seu peso no sofá.

Lembrei do que tinha aprendido em situações de terremoto quando eu ainda estava na sétima série no Japão. Primeiro vem um tremor menor e depois vem um tremor maior. Meu cérebro não conseguiu distinguir o que era a onda S ou era a onda P, o que era tremor vertical ou era tremor horizontal, mas isso agora não importa.

De qualquer jeito, logo em seguida veio um tremor algumas vezes mais forte que o anterior. Eu me apressei e empurrei a Kunagisa, que estava com uma expressão de “não tem nem idéia do que está acontecendo”, no sofá e a cobri com meu corpo. Acima da Kunagisa tem um lustre. Caso aquilo caía o pequeno corpo da Kunagisa não agüentaria. É uma ação tendo isso em mente.

Só que parece que essa preocupação foi exagerada, já que logo depois o tremor parou. Se bem que o <logo> é o tempo absoluto e como eu passei esse tempo com a sensação de que <é um pouco melhor do que deixar a mão em cima do fogão>, acabei sentindo que o terremoto tinha durado uns cinco minutos.

O tempo que realmente tremeu deve ter sido por alguns segundos.

“—Parou?”

Eu que ainda estava em cima da Kunagisa perguntei.

“Parou.”

Quem respondeu foi a Maki-san. Como é algo que uma profetiza disse dá para confiar. Como a Kunagisa estava com o rosto enterrado no sofá e parecia estar sofrendo “Ugu-“, eu, por enquanto, decidi me levantar.

“Um terremoto… Até que foi forte. Quantos graus será que foi?”

O Shinya-san disse isso enquanto olhava ao redor. Os copos e as garrafas estavam caídos em cima da mesa e a Hikari-san já estava arrumando isso.

“Com licença Hikari-san. Vou emprestar um pouco o telefone. Estou preocupado com a Kanami.”

O Shinya-san indica o telefone de uso interno. A Hikari-san assentiu. O Shinya-san se dirigiu para ao lado do gabinete branco, onde estava o telefone.

“Hikari-san, tem rádio ou algo do tipo? Queria ver quantos graus… Tomo consegue ver isso pela net?”

“Já deve ter saído informação… Deixa eu ver, aqui é a prefeitura de Kyoto, né? Ou tá errado?”

“Nessa ilha foi de três a quatro graus. Como a posição é meio vaga, não dá para dizer com certeza, mas o epicentro foi perto de Maizuru. Ali foi cinco graus”, a Maki-san diz isso como se fosse o óbvio. “Parece que mesmo por essa região não houve muitas vítimas.”

“… Como você sabe?”

Não sentia que havia muito sentido em perguntar, mas pelo senso comum tive que fazer isso. A Maki-san depois de dizer “Como é que pode”, respondeu.

“Não é nada demais. Por isso eu acabo entendendo. A cabeça é boa, mas não tem capacidade de compreensão, né? Também não tem boa memória. Ué? Isso não quer dizer que você tem uma cabeça ruim? Enfim, se for comparar com algo seria como <é mais claro que ver o fogo>. A Ibuki-san e as outras também parecem estar bem.”

“… Ah, Remote Viewing e Audição Infernal…”

Então a distância não importa. Ela consegue ver isso em qualquer televisão do outro lado do mar e nessa posição só precisa prever o que vai passar. É uma técnica combinada de ESP.

Mesmo que nesse caso a Maki-san esteja falando alguma coisa aleatória, não tem como eu confirmar isso. A Maki-san não disse nada mais do que uma explicação lógica.

E o fato de que dentro dessa mansão não houve nenhuma vítima também deve ser verdade. Saber isso é o que importa.

O Shinya-san estava voltando depois de ter telefonado e disse: “A Kanami está bem.”

“Parece que está no atelier. As tintas que estavam na estante caíram e acabaram derramando, a situação parece um pouco difícil, mas ela em si está bem.”

“Não precisa ir lá?”

A princípio o Shinya-san é o acompanhante da Kanami e mesmo sem levar isso conta, será que ele não está preocupado com ela, já que ela tem problema nas pernas? Ainda assim o Shinya-san ergueu as duas mãos e “Não preciso ir lá.”

“Se eu for ela não vai gostar.”

“Porque você acha isso?”

“Porque ela me disse para eu não ir”, Shinya-san disse isso sorrindo. “A Kanami parece que está trabalhando. Sabe, na sua pintura. Como ela está acabando a sua obra-prima, ela não quer que ninguém a atrapalhe.”

“Mesmo que a Kanami-san tenha uma ótima habilidade com um modelo ruim como esse…”

“… Você, realmente me odeia, não?”

“Sim.”

A Maki-san assentiu com um rosto sério.

Realmente…

Bem, que seja. A Minha vida é mais ou menos assim.

Eu olhei na direção da Hikari-san.

“Tem bastante nessa ilha? Terremotos?”

“Não é freqüente, mas… o Shinya-san já deve ter vivenciado isso algumas vezes.”

“Sim. Mas dessa vez até que foi forte.”

“Será que não caiu algum móvel? Estou um pouco preocupada.”

“Se for arrumar, eu ajudo.”

“Não, isso não pode acontecer. Amanhã pelas ordens da Rei-san nós vamos arrumar, por isso não se preocupe.”

A Hikari-san sorriu. Se ela se tornar uma mãe seus filhos devem crescer da maneira correta. Se eu não tivesse encontrado ela aqui, dessa maneira, poderia ser que eu realmente tivesse gostado dela. Acabei pensando isso. Pensei isso mesmo sabendo que isso não poderia ter acontecido.

“Unini. Faz tempo que não sinto algum terremoto”, a Kunagisa finalmente se levantou do sofá e sussurrou isso enquanto tocava agitadamente no seu cabelo. “Hmm. Será que os computadores que estão no quarto da Bokusama-chan estão be-m? Acho que estão bem. Se o epicentro foi em Maizuru, então o meu apartamento também deve estar bem. Falando nisso, que nostálgico o grande terremoto. O Ii-chan é aquilo, né? Já estava em Houston?”

“Sim. Com certeza.”

No quarto apertado de lá acho que vi ou não vi essa notícia.

“Daquela vez Bokusama-chan tive muito trabalho-. Naquela época Bokusama-chan ainda morava em Kobe. Quase todo tipo de computador tiveram Real Crash. Me assustei.”

Isso é algo que faz você ter um choque de tanto susto?

“… Então, não está preocupada com os computadores que estão no quarto? Se já comeu tudo isso de queijo, já está satisfeita, certo? Vamos logo voltar para o quarto.”

Achei que esse era um bom momento e decidi sair da sala de estar. Não tenho confiança o suficiente em me manter calmo enquanto converso com a Maki-san. Agora é o melhor momento para se fazer isso.

O olhar sem piedade da Maki-san jogado nas minhas costas, como se ela soubesse o meu pensamento clichê, não foi agradável, mas gastei todas as minhas forças para ignorá-lo e puxando o braço da Kunagisa voltei para o quarto.

No quarto da Kunagisa os três computadores (não era assim, os dois computadores e um workstation) estavam bem fixos e por isso estavam bem.

Fuwaa, a Kunagisa bocejou e se esticou.

“Hoje já vou dormir. Ficar com barriga cheia dá sono mesmo-. Ii-chan deixa meu cabelo solto-.”

“Faça isso você mesma.”

“É difícil de eu desamarrar quando está assim. Bokusama-chan tenho um corpo rígido. Não é como se não desse para fazer isso, mas vai doer. Teve uma vez que até quebrei um osso fazendo isso.”

“Entendi, entendi… Você é mesmo uma garota linda.”

Eu tirei o elástico do cabelo e o deixei em cima da mesa. Ufufu-, e a Kunagisa mostra um sorriso malvado. E depois que isso acabou ela mergulhou na cama. Seu corpo afundou no colchão branco e começou a girar de maneira que parecia ser agradável.

“… Tire esse casaco. Quantas vezes, mas quantas vezes eu vou ter que dizer isso…, você não sente calor com isso?”

“Esse é um casaco de lembranças, então não pode.”

“Ah, é… Lembranças, hein?”

Que tipo de lembrança será que é? Aquela adivinhadora ESP Himena Maki disse que não conseguia ler o passado e os pensamentos da Kunagisa, mas… Deve ser uma lembrança da época do

“Ainda assim. A Kanami-chan e a Akane-chan brigam bastante, mas o Ii-chan e a Maki-chan também não se dão bem, né?”

“Mais do que a gente não se dá bem, é ela que vem encher o meu saco”, eu disse isso lembrando que a Kanami-san tinha dito algo parecido. “Pelo menos por mim eu não odeio a Maki-san.”

“Deve ser mesmo-. O Ii-chan não costuma ter sentimentos ativos como odiar ou detestar, né? O máximo que tem é algo como <irritante>?”

“Oh? Até que você diz coisas interessantes.”

“É uma brincadeira”, a Kunagisa continua com um sorriso meio desagradável, nii-. “Mas o Ii-chan nunca gostou ou amou alguém de verdade até agora, certo?”

“Não mesmo.”

“Bokusama-chan adoro esse lado do Ii-chan.”

E continua sorrindo.

“…”

Estranho. A Kunagisa ultimamente vive agindo assim. Será que ela confundiu vinho com ginger ale? Eu nunca vi a Kunagisa bebendo álcool e também não tenho nem idéia que aconteceria.

“… Falando nisso, Tomo.”

“O que foi?”

“Você acredita mesmo em habilidades sobrenaturais?”

“Hmm. Mesmo que exista Bokusama-chan não teria nenhum problema.”, a Kunagisa diz isso enquanto continua sorrindo. “Não quero ter, mas acho bom que existam sonhos. É melhor que o Papai Noel exista do que não. É a mesma coisa.”

“Você é realmente otimista…”

Veio com que não teria nenhum problema se existisse.

Bem… Pior que é verdade. No fim, é isso mesmo. Se esse tipo de coisa existe ou não, isso não acabaria afetando a minha vida cotidiana. É que agora é um caso especial.

Porque estou nessa ilha…

Porque estou nessa ilha.

“… Eu já vou voltar pro quarto e dormir. Então, até amanhã. Se for dormir agora, amanhã eu venho te acordar pra tomarmos café juntos.”

“E-i, Ii-chan.”

A Kunagisa que estava deitada para cima na cama me chamou.

“Vamos fazer algo ecchi.”

Ela disse isso enquanto me chamava com a mão.

Depois de esperar um segundo eu respondi: “Não.”

“Seu incompetente-! Seu covarde-! Chicken Chicken!”

Sim, sim eu fechei a porta, desci as escadas e me dirigi ao meu quarto que é originalmente um armazém. Fiquei pensando como seria ruim encontrar com a Maki-san no corredor, mas felizmente isso não aconteceu. Pode ser que a Maki-san tenha a intenção de passar a noite conversando com o Shinya-san.

Na frente do quarto percebi que a porta estava trancada. Bem, como isso é um armazém é óbvio que tenha algo assim, e acabei pensando em como eu não conseguiria sair do quarto se alguém trancasse a porta enquanto eu estivesse dormindo. Dentro do armazém tem uma janela que não dá para alcançar mesmo com a ajuda de uma cadeira, e isso o tornaria realmente como uma prisão. Só que como ninguém ganharia nada me trancando aqui dentro, não acho que tenha que me preocupar com isso.

Entrei no quarto, me deitei e enquanto olhava para o teto comecei a pensar.

“…”

O que eu vou pensar é obviamente o que a Maki-san tinha dito antes.

Olha só, isso é bem distorcido. Você está do lado da Kunagisa-chan porque você tem muita, mas muita inveja dela. Por um lado você sente muita inveja da Kunagisa-chan que consegue demonstrar seus sentimentos sem nenhum problema, mas mesmo assim, a Kunagisa-chan não parece nem um pouco feliz. Você se sente aliviado por ver que a Kunagisa-chan que tem tudo o que você quer, consegue fazer tudo que você não consegue ainda assim não é feliz. Ah, mesmo que o seu desejo não se realize, isso não importa.

“—Hah…”

Merda.

“É isso mesmo…”

A Akane-san que é uma das Sete tolas disse que nossa relação é parecida com uma <codependência>, mas a opinião da Maki-san está mais perto da verdade.

Para mim a Kunagisa Tomo é,

Pode ser que ela seja o que eu mais queria ser.

Não, não é isso. Não é isso, mas para mim a Kunagisa Tomo é, por isso…

E?

“E o que isso tem a ver…”

Eu escolhi uma universidade Kyoto ao invés de Kobe porque a Kunagisa tinha se mudado para lá. Não tenho como negar que essa é uma das razões pela qual eu voltei de Houston.

Mas porque eu faço tanto por ela?

Como a Kunagisa disse, eu não tenho sentimentos ativos como gostar ou odiar. Não importa quem me atrapalhe, para mim isso não passa de uma chuva que caiu e não sinto nada. Não importa o quanto a Maki-san demonstre que me odeia, ou que a Kanami-san diga várias coisas que tem a intenção de me machucar, nenhum sentimento acaba surgindo daí.

Isso me força a pensar.

Eu sou realmente um humano?

Não consigo entender nenhum sentimento dos outros.

Se isso realmente existe.

Se as habilidades sobrenaturais que a Maki-san usa realmente existem, pode ser que eu também as quisesse.

“Não…, não ia querer.”

Eu penso novamente.

Saber os sentimentos dos outros seria irritante só de compreendê-los.

Viver com uma caixa de pandora aberta é algo que definitivamente não quero. Eu não tenho uma sensibilidade suficiente para agüentar algo assim.

“É realmente um zaregoto…”

Viagem é ruim. Sempre acabo pensando em coisas desnecessárias. Não sei se isso é mesmo desnecessário ou não, mas… De qualquer jeito acabo pensando em coisas perigosas, em coisas que tentam destruir o eu.

Mais quatro dias.

Não é como se não desse para agüentar…

Não odeio ficar agüentando.

Pelo menos estou acostumado.

Sofrimento e dor.

Estou muito acostumado com essas coisas.

“Mesmo que isso… Não seja uma sensação muito boa.”

Quero logo voltar ao meu cotidiano do outro lado do mar. Pensando nisso eu cai no sono.

Só que na manhã do dia seguinte eu vou perceber.

Que esses três dias tinham sido bem tranqüilos.