ZaregotoVolume 1: Chapter 2.2

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Sonoyama Akane – Uma das Sete Tolas gênio


0


O que você realmente queria fazer?


1

O almoço foi feito pela Hikari-san. Ao que parece a Yayoi-san não está se sentindo bem e por isso está descansando no quarto. Quando vi ela antes no corredor, realmente, ela não parecia estar bem.

“Comparado com a Yayoi-san não é grande coisa, mas espero que aproveitem.”

Com esse sorriso meio envergonhado a Hikari-san saiu da sala de jantar. E quem sobrou foram eu, a Kunagisa–e, a Maki-san. A Maki-san também está almoçando. Ignorei ela com todas minhas forças e comecei a comer a refeição feita pela Hikari-san. A Kunagisa parecia estar sem fome e por isso só veio me acompanhar, e no fim só está andando por aí.

“Hei, jovem.”

Como esperado a Maki-san me chamou.

“Está fazendo algo divertido, não é? Hm? Hm? Hm?”

“—Era sobre isso, não é Maki-san.”

“Hm? O quê?”

“O <primeiro problema>. Ontem de noite na janta, você mesmo disse. Foi uma bela precognição mesmo.”

“Sinto que tem uma forte ironia misturada, mas vou aceitar isso como um elogio.”

“—Se você consegue prever essa situação, não tem como pará-la também?”

“Não consigo. A única coisa que consigo fazer é ouvir e ver. Será que você não está um pouco enganado? ESP não é uma habilidade tão prática assim. Não disse? É igual a assistir televisão. Você consegue interferir no conteúdo que está passando?”

A Maki-san com um sorriso tranqüilo prossegue com a sua refeição.

Essa pessoa é meio parecida com a Kunagisa. A idade mental parece ser de alguém bem mais nova, mas mesmo assim, dá a impressão de que ela já compreende tudo. Estamos no meio de um assassinato e ela não parece nem dar bola para esse assunto. Não, por acaso essa pessoa tem algo com que ela <se interesse>?

“… Então, faça uma predição sobre o que vai acontecer daqui em diante sobre esse incidente.”

“Pode ser. Mas desde que me pague.”

De repente a Maki-san ficou de mau humor se levantou e rapidamente saiu da sala de jantar. Parece que ela ficou brava, mas porque será.

“Uni-. Ii-chan que insensível.”

“O quê?”

“Não se-i. Se já comeu vamos voltar pro quarto. Temos coisas pra fazer.”

“Ah… É mesmo.”

A Maki-san deve ser uma pessoa temperamental. O eu desse momento decidiu isso pensando positivamente e decidiu parar de pensar nisso. Não tem como eu compreender a escuridão do coração de uma pessoa que sabe de tudo.

E então voltamos ao quarto da Kunagisa. Primeiramente a Kunagisa transferiu os dados da câmera digital para o computador através de um fio USB. Depois ligou o workstation e inseriu um disquete.

“O que tem nesse disquete?”

“Um tool. Claro que é original do Bokusama-chan. Tem a configuração de que só pode ser lido nesse workstation, então não tem problemas mesmo que baixem. Então, vamos terminar logo com isso.”

O que a Kunagisa está querendo fazer agora é um ato ilegal.

De maneira simples, seria uma <pesquisa>.

Como planejado sobre as pessoas que moram nessa mansão, as doze pessoas incluindo a Kanami-san. Tirando eu e a Kunagisa, dez pessoas. Pesquisar sobre o passado dessas pessoas e ver se não existe alguma conexão entre elas.

A Kanami-san foi morta. Se ela foi morta, então tem que haver uma razão para isso. Claro que existem pessoas que matam sem nenhum benefício pessoal, mas na realidade os casos que não são assim são predominantemente, certamente e desesperadamente em maior número. As pessoas que estão reunidas aqui, todos, podem ter se encontrado pela primeira vez aqui, mas pode ser que não seja bem assim. Pensar sobre possibilidades não tem limites, então nem adianta pensar.

E por isso é a vez da líder do

“E, o que vai fazer?”

“Primeiro vou acessar a máquina de alta especificação que está na casa do Bokusama-chan. Com esse não tem como agüentar direito.”

“Mesmo que seja tera?”

“Nesse caso memória não importa. Ii-chan, Ii-chan realmente não sabe nada, né.”

“Não é pra tanto assim. Não sei tanto quanto você, mas até eu sei alguma coisa. Em Houston, eu tive algumas aulas de eletrônica.”

“Será? Parece mentira. Não teve uma vez que eu pedi <Pode copiar esse disquete?>, e <Deixa comigo>, você foi pra um mercado de conveniência com 10 yen?”

“Isso foi antes de eu ir pra Houston.”

Por isso não gosto de gente que tem boa memória.

“Bem, deixa quieto. É o Ii-chan mesmo”, e disse a Kunagisa. “De qualquer jeito vou usar uns dez servers do tipo UG para poder entrar em contato com o Chii-kun.”

“Chii-kun? É a primeira vez que ouço esse nome.”

Mas tenho idéia de que ele deve ser um dos membros do

“O trabalho do Chii-kun é principalmente o de seeker. Não tem nada que esteja acontecendo na galáxia que o Chii-kun não possa descobrir.”

Na galáxia, hein?

Porque esse pessoal sempre usa unidades diferentes.

“A personalidade é muito ruim, mas é uma boa pessoa.”

“Fun… Esse é diferente do que criou o OS, não? Senão me engano era o <Acchan>. E, esse <Chii-kun> está onde e fazendo o que agora?”

“Tá na prisão. Sentença de 150 anos. Ah, não… Plus 8 anos. 158 anos. Depois que o time se dispersou ele continuou com sua atividade… E quando foi tentar hackear o database do G8 das Nações Unidas acabou sendo preso. Foi até uma boa linha, mas foi pego na linha de defesa número 87. Se você for muito experiente, acaba não percebendo armadilhas simples, né… Ahaha.”

“Sabe bem sobre isso, não?”

“Isso é. Quem fez essa linha de defesa foi Bokusama-chan.”

“…”

“Ouvi que o Chii-kun estava atrás de informações top secret das Nações Unidas. Como não tinha como deixar as coisas assim, falei com alguns amigos e criamos todos juntos essa defesa. Mesmo assim foi perigoso, então o Chii-kun é mesmo incrível.”

“E por isso foi pra prisão? Será que ele vai ajudar… Antes disso, se ele está na prisão como ele vai conseguir ajudar? Não tem como ele entrar na net.”

“Pra tudo tem uma exceção. No caso do Chii-kun é melhor dizer que é especial, né… E sobre a questão da ajuda, não precisa se preocupar. O Chii-kun tem uma personalidade que não liga pra essas coisas pequenas.”

A Kunagisa disse isso enquanto avançava no seu trabalho. Já não tenho idéia do que a Kunagisa está fazendo.

“… Porque ele se chama Chii-kun?”

“Porque o handle name dele é cheetah (chiitaa-), por isso Chii-kun.”

“Que handle name mais banal.”

“É. É alguém rápido e parece que ele já bateu num carro. Por isso é cheetah.”

“Bateu…? Não é que foi batido?”

“Bateu. Em um acidente entre uma pessoa e um carro ele teve pagar pelas despesas e por isso acho que o Chii-kun foi o primeiro japonês a fazer isso.”

Que excêntrico…

Rui wa tomo wo yobu1.

Não, ou deveria dizer que é a Tomo que atrai os outros (Tomo wa rui wo yobu).

“Nunca me apresente esse cara…”

É um tipo de homem que quero observar em silêncio de longe.

Não se preocupe e assentiu a Kunagisa.

“Dentro de nós também haviam regras. Uma regra que não podia apresentar os amigos não importa a situação. Já que amigos não são informações, né… Ii-chan também não pode apresentar Bokusama-chan para os outros.”

“Entendi. Então vou deixar esse trabalho com você. Se vai entrar em contato com um cara desses é melhor que eu não esteja por perto, não é? Eu tenho que ir pra um lugar.”

A Kunagisa soltou um Oissu, e fez um gesto de continência.

Eu sai do quarto e desci as escadas em forma de espiral. Aí respirei fundo uma vez e voltei a andar pelo corredor. Meu objetivo é o quarto da Iria-san. Já tinha ouvido onde era pela Hikari-san, então não me perdi no caminho.

Em uma mansão que tem uma construção chique, é a porta que tem um ar maior de refinamento. Dá até a dúvida de que se o som da batida nessa porta grossa chegaria até o outro lado. Ainda assim, depois de uma batida, parece que a onda do som chegou e como resposta ouvi um “Sim”.

Girei a maçaneta e entrei. É ainda maior que o quarto da Kunagisa. Mais do que parece um quarto que saiu dos filmes, é completamente um mundo dentro dos filmes. Deu a impressão que virei Urashima Tarou.

Audiência.

Essa palavra veio na minha mente.

Quem está sentado no sofá é a empregada chefe Rei-san e ao lado dela a Iria-san está de pé. Parece que estavam conversando.

A Iria-san inclinou seu pescoço, “Aconteceu alguma coisa? Bem…”, e olhou misteriosamente para o meu rosto. Parece que ela não lembra meu nome. Não, falando nisso desde que eu cheguei a essa ilha não me lembro de ter me apresentado.

“Quero conversar um pouco com a Iria-san.”

“Tudo bem. Então se sente aí.”

Ela aceitou sem problemas e por isso fiquei surpreso. Como foi dito eu sentei no sofá. É ainda mais chique que o do quarto da Kunagisa e dá a sensação de que estou sentado no ar.

“Ontem passei a noite em claro e por isso estou com sono…, estou pensando em dormir agora, por isso seja o mais breve possível.”

Enquanto dizia isso a Iria-san estava tirando o seu vestido. Parece que vai trocar para o pijama. A Rei-san que estava sentada na minha frente, se levantou, mas ao ficar em dúvida se deveria reclamar do comportamento da dona que é a Iria-san, acabou não falando nada.

Enfim. É o que se esperava de uma ojou-sama de sangue puro. Ela nem liga para a visão de um cidadão qualquer. É realmente um zaregoto.

“Iria-san. Porque não chama a polícia?”

“…”, ouvindo a minha pergunta a Iria-san parou de se mover. “… Eu já expliquei isso antes. Se chamar a polícia a Sonoyama-san vai ser considerada como culpada…”

“Mas, isso não está acontecendo agora também? Eu disse aquilo e por isso a Akane-san está confinada. Iria-san, o que nós estamos fazendo agora é um ato criminoso, sabe?”

“Proteção de suspeito, confinamento e ocultação de cadáveres?”, a Iria-san recomeça a trocar de roupa. “Tem algum problema? Crime é assassinato, roubo, coisas desse tipo. Não é como se a Sonoyama-san estivesse confinada. Ela própria aceitou isso. Além disso, quem deu essa idéia foi você.”

Isso é, dessa forma mesmo.

Não tenho palavras.

A Iria-san continua.

“Todos que estão reunidos aqui são existências VIP do mundo atual. Não vou deixar que elas se tornem ração para os políticos deselegantes. Ninguém gosta de se tornar suspeito, sabe? Além disso–“

Ela sorri.

“—Mesmo que alguém seja o culpado, eu não tenho a intenção de entregar essa pessoa para debaixo da lei. Se for necessário usarei o poder da Fundação Akagami para colocá-lo sob minha proteção.”

“—Por quê?”

“Gênios não merecem ser tratados como iguais perante a lei.”

De maneira clara e precisa. Se ouvir algo dessa maneira, não tem nem como eu tentar retrucar. Então, se eu ou o Shinya-san formos o culpado, nessa hora com certeza não seremos protegidos.

Que sensação ruim.

Tenho uma sensação muito ruim.

“Como você define os gênios?”

Uma pergunta que veio de repente da Iria-san.

Eu pensei um pouco, “Kretschemer disse que <Pessoas raras que conseguem fortemente transmitir seus valores a um grande número de pessoas de forma contínua e direta>”, e respondi.

“Estou perguntando a sua opinião.”

Realmente, que sensação ruim.

Não, mas dessa vez quem está certa é a Iria-san. Depois de pensar um pouco respondi de novo.

“… Pessoas distantes, eu acho.”

Sim, e a Iria-san disse.

“Essa é uma resposta certeira.”

“… Acho que você não chama a polícia por outra razão…”

“Isso quer dizer o que?”

“Só experimentei falar. Não tem significado nenhum.”

“Então, já está satisfeito? Eu quero dormir.”

Que improdutivo. É como se eu estivesse fazendo um debate contra uma harmonia preestabelecida. Eu balancei meus ombros “Com licença”, e levantei do sofá. A Rei-san se levantou junto comigo “Vou o acompanhar”, e disse.

“Não precisa fazer isso Rei.”

“Não. Isso também é parte do trabalho… Então ojou-sama, com licença.”

Eu e a Rei-san andando um do lado do outro saímos do quarto da Iria-san. Não tive muita chance de conversar e acabou de forma unilateral, mas bem, acho que no começo é assim mesmo. Eu achei que convencer aquela pessoa através de esforços comuns seria impossível.

“Não leve muito em conta o que a ojou-sama disse”, no meio do caminho a Rei-san disse isso com uma voz baixa e contida. “Não é uma pessoa que é boa em se importar com os outros.”

“… Hah.”

Falando nisso, desde que vim para essa mansão essa é a primeira vez que converso com a Rei-san.

“Não estou ligando muito…”

“A ojou-sama realmente gosta muito do Aikawa-san. Por isso que também não quer chamar a polícia.”

“Aikawa? Ah…, ele que vai vir daqui a seis dias.”

“… Para a ojou-sama esse é um evento de boas vindas para o Aikawa-san. O Aikawa-san tem uma personalidade que combina com esse tipo de incidente… Por isso o fato da ojou-sama comparar ele com um detetive não é uma coincidência.”

Faz sentido. Esse assassinato tem o significado de presente para o <Aikawa-san>. Se isso for mesmo verdade, ela é uma pessoa inacreditável.

Não.

Se for de falar de maneira mais clara esse incidente para a Iria-san é a maneira perfeita de passar o tempo. A neta da Fundação Akagami que foi mandada para essa ilha. O que não falta é dinheiro e tédio. … Chamar os gênios também é um passatempo, e esse incidente é um evento… Perfeito?

É exagero, e eu balanço minha cabeça. Não importa como, não deve existir uma pessoa assim. Não tem como uma pessoa dessas existir nesse mundo.

“E então, com licença.”

A Rei-san depois de chegar na frente do quarto da Kunagisa, me cumprimentou e voltou pelo mesmo caminho. Conversando com a Rei-san deu para ver que ela aparenta ser uma pessoa boa e por isso fiquei um pouco surpreso. Pela conversa da Hikari-san era pra ela ser uma pessoa rígida…

Achando isso um pouco misterioso, tendo uma sensação de que algo está errado, eu abri a porta. Dentro do quarto estava a Kunagisa de frente para o computador e mais uma… Ah, a minha inimiga natural adivinhadora estava aqui. Mas por quê?

A Maki-san estava fumando, mas ao perceber que eu tinha entrado no quarto, apagou o cigarro com a ponta do dedo indicador. E ao levantar do sofá passaria em silêncio ao meu lado. Mas parece que ela mudou de idéia e colocando a sua cabeça no meu peito, continuou andando até me empurrar para o corredor. E ao sair fechou a porta.

Eu olhei severamente para a Maki-san.

Hehehe, e a Maki-san ri como uma criança. Mas ela só ri e não diz nada.

“… Seu humor já melhorou?”

“Não foi o humor que melhorou. Ufufu. Você é descuidado. Ou imprudente?”

“… O que você quer dizer?”

“Você, tem algum autor de livros que você gosta?”

A conversa mudou e muito.

“Não.”

“Artista?”

“Não.”

“Mas que homem mais chato… Vamos supor que existe uma pessoa que admira certo gênio. Mas existem três tipos sobre isso. Essa pessoa realmente gosta ou admira ou respeita e quer se tornar como ela. É algo puro. O segundo é parecido com o primeiro, mas o eu está completamente fora, considera o outro como sendo incrível e dá mais importância para esse lado do que para si mesmo. E o outro tipo é um grupo que ao gostar dessa <pessoa incrível>, sobe na maravilha que é essa pessoa e aumenta seu valor através disso. Um grupo de pessoas que possuem uma cabeça e estômagos podres que usam os outros para viver. Então, se for assim, você é que tipo de pessoa?”

“… Segundo tipo, eu acho.”

“Sim. Mesmo que seja distorcido, o fato de você querer servir a Kunagisa é algo que até eu fico admirada.”, e a Maki-san sorri. “Mas se é assim não é meio descuidado? Deixar a Kunagisa-chan sozinha no quarto assim. Se eu fosse a assassina o que você faria?”

“…”

“Se você realmente deseja proteger o que é precioso pra você, é melhor não tirar os olhos dela nem por um segundo. Se lembre disso, jovem.”

Ponpon.

Depois de bater no meu ombro duas vezes a Maki-san saiu enquanto cantava.

Eu fiquei sozinho no corredor.

“… Hah…”

Merda.

Enquanto eu me amaldiçoava, abri a porta e entrei.

2

Aquela regra ainda parecia estar valendo e por isso na hora da janta quase todas as pessoas dessa ilha estavam reunidas.

Quase.

Obviamente a Kanami-san não estava e a Akane-san que estava confinada também não. Fora elas, a Akari-san e a Teruko-san também estavam ausentes. Elas duas foram para o continente. Parece que foram entrar em contato com o tal do detetive <Aikawa-san>.

“Não pode ser por telefone ou e-mail?”

Quem respondeu a minha pergunta foi a Hikari-san, “Não pode”.

“Ele é famoso por ser difícil entrar em contato. Só isso mostra como ele está ocupado com o trabalho…, parece que agora está na província de Aichi fazendo alguma coisa. Por isso as duas não voltam até amanhã.”

“Ocupado com o trabalho… Afinal o que essa pessoa faz? Esse Aikawa-san.”

“Contratante.”

O que é isso.

Nunca ouvi essa palavra antes.

Por falar nisso a janta de hoje é comida chinesa. Se for falar pelo gênio do gosto Sashirono Yayoi a comida chinesa é a que mais demora e mais dá trabalho para cozinhar. Claro que isso é baseado na habilidade e no paladar da Yayoi-san e assim, isso não serve de referência pra mim.

“Por falar nisso, Kunagisa-san”, e depois de terminada a refeição a Iria-san disse. “Parece que de tarde você estava agindo por trás das cenas e então; descobriu alguma coisa? Eu achei que a sua especialidade era só com máquinas, mas também consegue fazer esse tipo de coisa?”

“Bokusama-chan faço de tudo”, a Kunagisa respondeu enquanto mastigava a carne de porco. “Não tenho intenção de ficar presa a minha especialidade.”

Já ouvi isso em algum lugar.

Ah… É mesmo. Palavras da Kanami-san.

Não ficar presa a um estilo, palavras daquela artista.

Ter facilidade ou não, ser bom ou não, mesmo que essas coisas possam existir, a especialização não deveria existir. Esse é um ideal básico do programa ER. Mas se não houver divisão, viver nesse mundo cruel é bem, muito complicado. Só serve para pessoas com talento do nível da Kunagisa Tomo ou da Ibuki Kanami ou da Sonoyama Akane.

Eu não consegui.

“E então, descobriu alguma coisa? Como o truque por trás do quarto fechado ou o culpado…”

Pelo jeito que a Iria-san estava falando, dava a impressão de que ela não queria que a Kunagisa soubesse de nada. Lembro da frase que a Rei-san disse antes. Com certeza não é interessante para a Iria-san que o incidente seja resolvido antes do <Aikawa-san> chegar.

“Bokusama-chan sei de tudo. Sei tanto, que demoro certo tempo para escolher qual é a melhor.”

Em relação as palavras da Kunagisa, parece que ninguém entendeu e todos ficaram com expressão severas, mas acabaram não reagindo.

“Himena-san”, a Iria-san mudou de foco da engenheira para a adivinhadora. “Você, desde que chegou nessa ilha, só ficou tirando sarro de vários convidados e parece que não fez nenhuma adivinhação ou algo do tipo. Que tal adivinhar o que vai acontecer daqui em diante.”

“Vou querer dinheiro.”

Essa pessoa está vivendo de graça, ainda por cima recebendo dinheiro e no fim quer ainda mais. Aqui está uma versão contrária e má do pão-duro. Nunca vi pessoa pior. Parece um oni.

“Não me lembro de você ter direito de falar até esse ponto.”

A Maki-san me olha fixamente.

Então, eu nem falei nada.

“Eu escuto da mesma maneira. Eu faço negócios vendendo a minha habilidade. Não sou mais nova a ponto de ficar trabalhando só por compaixão. Principalmente a minha idade mental.”

Entendo o que ela quer dizer. Mas, ela deve ter milhares de notas que são o suficiente para encher dez Tokyo Domes, então, o que mais ela precisa? Acho que de vez em quando dá pra ela adivinhar de graça.

“Pense o que quiser.”

Pui, e a Maki-san se vira na direção da Iria-san.

“Claro que vou pagar”, a Iria-san junta suas duas mãos. “Então, por favor.”

“Logo vai acabar.”

A Maki-san sem trocar seu estilo de falar, disse isso. Todos estavam esperando a continuação, mas a Maki-san começou a se concentrar ao comer o Hoiko-ro-2. Ao que parece era só aquilo.

“… É só isso?”, parece que não foi o que ela esperava e por isso a Iria-san olhou com uma expressão estranha para a Maki-san e perguntou. “Isso é um tanto…”

“O de agora foi voluntário. Tem alguém aqui que só sabe reclamar e por isso fiz um pouco de service. Não precisa se preocupar. Não tem nenhuma importância a história principal.”

“…”

Himena Maki.

Como será que é a sensação de saber de tudo e mesmo assim ficar em silêncio. Eu que não sei de nada, não tenho a menor idéia de como seria. Nesse sentido, nessa ilha, a existência mais misteriosa pode ser a Himena-san. Isso sim, seria algo capaz de superar o rio de tinta que causou o quarto fechado ou o corpo sem pescoço.

No fim, a Maki-san não disse mais nada e assim a janta do quarto dia acabou sem nenhum progresso. Como sempre a Kunagisa e a Maki-san falaram algumas coisas estranhas e acabou.

Mas nesse momento eu fiquei um pouco curioso em relação a outras coisas. Durante a janta não falaram sequer uma palavra e nem ao menos pareciam estar ouvindo a conversa, os dois: o Shinya-san e a Yayoi-san. Os dois estavam em silêncio e de uma maneira que pareciam estar levando a comida à boca somente porque estava na frente deles. Não é que isso seja estranho, mas os dois pareciam estar diferentes do normal. Dá para entender o Shinya-san, já que a Kanami-san foi morta, mas porque a Yayoi-san também? Senão me engano ela não parecia estar muito bem, mas—

3

Passado das nove horas da noite.

Eu estava sozinho no quarto da Kunagisa, usando o máximo das minhas habilidades para ligar o computador e olhar as imagens da cena do crime tiradas pela câmera digital. Não tinha mouse e por isso era difícil controlar, mas não era impossível.

O cadáver da Kanami-san. Foco no tronco e o corpo inteiro. Pescoço cortado e o rio de tinta. No rio tem um casaco flutuando. Ficou seco e endureceu e por isso não deu para tirá-lo. Até dava para tirar a força, mas como já estava completamente sujo de tinta não dava mais para usar.

E.

E, a obra póstuma que teve a mim como modelo…

Quando eu estava com a Kunagisa na cena do crime, senti algo não natural ao ver o quadro.

Sensação de desconforto.

Anormalidade…

É um instinto, mas…

“Ah—é isso. Entendi.”

Eu sussurrei sozinho.

Faz sentido. Agora que entendi é algo bem simples. É um tipo simples de erro no qual você não entende porque não tinha conseguido entender até agora. É uma resposta clara e simples.

“Fun…”

Mas, se é assim, vem a próxima pergunta.

Porque isso aconteceu…? Não tem como isso ter acontecido. Uma pintora do nível da Kanami-san não pode ter cometido um erro tão simples assim.

Enquanto pensava isso, alguém bateu na porta.

“… Aff.”

Eu me levantei achando que era com certeza a Maki-san querendo me provocar e por isso deu uma vontade enorme de me sentir alegre. Só que quando abri a porta, quem apareceu foi a Hikari-san. Por causa do gap que surgiu com o que eu estava imaginando, eu fiquei com uma sensação de inconsistência e meu cérebro parou de funcionar por uns dois, três segundos.

“Ah… Bem vinda Hikari-san”, eu consegui falar de alguma maneira. “… Bem, entre, por favor”.

“Com licença”, com um gesto formal a Hikari-san entrou no quarto. E ao dar uma olhada geral pelo quarto perguntou para mim. “Onde está a Tomo-san?”

“Ah, a Kunagisa. Se for a Kunagisa eu agora pouco amarrei as mãos e os pés dela e a deixei na banheira.”

“Hah?”

“É igual a um gato. Não gosta de tomar banho… A cor do cabelo dela, é na verdade um azul bem mais claro…, como não costuma lavar o cabelo acaba parecendo um azul bem mais escuro. Ela é péssima para escapar e por isso se molhar uma vez já desiste. Por isso vai ser um banho longo.”

“Hah… Ah, a Tomo-san parece mesmo um russian blue, não é?”

A Hikari-san fez uma cara de quem entendeu e disse algo que não entendi. Não, realmente não faz sentido nenhum. Fingir que não ouvi.

“Bem. Se tiver algum compromisso com a Kunagisa, foi mal, mas é melhor deixar para…”, e eu pensei. Se for ver essa é uma boa oportunidade. “… Ah sim. Hikari-san você está livre agora?”

“Sim? Sim. Já terminei todo o meu trabalho por hoje.”

“Então, por favor, cuide um pouco dela. Já que pode ser meio perigoso deixar a Kunagisa sozinha”, eu disse isso lembrando o que a Maki-san disse de tarde. “É por isso que criamos a situação de proteção e acho que está tudo bem, mas… Só por prevenção posso contar com você?”

“Não me importo…”, e a Hikari-san respondeu um pouco perturbada. “Claro que não me importo. Mas, tem certeza? Assim… Por confiar em mim…”

“Não tem nenhum cara que vai atacar se tiver duas pessoas.”

“Não, não nesse sentido… Não é muito descuidado?”

Ah, esse sentido.

Eu disse “Tudo bem”, e assenti levemente.

“Se fosse a Maki-san seria outra história, mas eu confio em você.”

Depois de falar isso me despedi da Hikari-san, fechei a porta e comecei a andar pelo corredor. Desci as escadas e cheguei ao primeiro andar.

“… Mas”, e eu sussurrei de forma auto-depreciativa. “<Confio>, hein…”

Desde quando consigo falar essa palavra, falar essa palavra tão exagerada? Eu.

Problema.

O que é confiar?

Resposta.

Achar que não tem problemas se for traído.

Não se arrepender, mesmo se trair.

“Seja como for é um zaregoto…”

O meu objetivo é o meu ex-quarto, atualmente o quarto de confinamento da Sonoyama Akane.

Depois de bater levemente eu disse: “Sou eu”.

“… Ah, é você”, depois de um tempo veio uma resposta. Uma voz mais calma do que imaginava. “O que foi? Tudo bem em não ficar ao lado da Kunagisa-chan? Não é seu estilo fazer isso.”

“Bem…, fiquei meio indeciso, mas…, decidi pedir desculpas para a Akane-san.”

“Porque você precisa se desculpar para mim?”, de repente a voz que ouvi do outro lado da porta começou a ter um tom de mau humor. “Você me protegeu, não foi? E já que é assim, se você ainda vier pedindo desculpas, isso quer dizer que estou sendo humilhada como sendo uma pessoa tola que não tem um mínimo de coração. Agora é para eu agradecer você e é só isso.”

“…”

“Eu poderia ter dado essa idéia. Mas isso não seria muito bom. Por isso quando você deu essa idéia eu fiquei agradecida. Deixe-me dizer agora essas palavras de agradecimento.”

Depois de um tempo, a Akane-san disse.

“Obrigado.”

“… De nada.”

Realmente faz sentido essa pessoa ser uma das Sete Tolas do ER3. Aquele não é um lugar simples que só pessoas que se dão bem em estudos conseguem se dar bem.

“Falando nisso. Ouvi da Hikari-san que trouxe a janta, mas parece que você está agindo, não é? Junto com a Kunagisa-chan. Vamos ouvir seus resultados. Como está indo?”

“Eu ainda não sei quem é o culpado.”

“Eu, né? Fufun, que significativo. Eu gosto desse estilo. Então, vamos ver. Vou mudar de pergunta. Como está o seu raciocínio sobre o quarto fechado?”

“Como está para a Akane-san?”

“É post hoc fallacy.”

“… Inglês?”

“É latim. Não sei como é em japonês. Como será? Acho que era parecido com jigoujitoku3.”

Ah…

Eu solto um suspiro.

É mesmo. Se for assim, essa pessoa já entendeu completamente o quarto fechado. Mesmo sabendo a resposta para o mistério do quarto fechado, essa pessoa continua aqui somente para manter a situação de proteção. Eu realmente acho que essa é uma grande pessoa.

Fufufu, e a Akane-san ri.

“O favorito da Iria-san… O <Aikawa-san>? Até essa pessoa chegar o melhor é deixar nessa situação de proteção, não é…, não esquente, não é tão ruim assim. Quando era mais nova fiz muito isso de ficar em um quarto apertado lendo livros. Se comparar com esse quarto, aqui é bem mais espaçoso.”

“… A Akane-san já sabe quem é o culpado?”

“Isso eu não sei. Não é mentira, é verdade. Eu não sou uma especialista nessa área e não é como se eu não lesse livros de raciocínio, mas isso é só pra se divertir… Você, lê Mushanokouji Saneatsu?”

A Akane-san do nada mudou de assunto. Será que o Mushanokouji Saneatsu era autor de livros de raciocínio? Mesmo inclinando minha cabeça, respondi a pergunta da Akane-san.

“Só li as antologias dele.”

“Então conhece <Shinri Sensei4>?”

Conhecer, eu conheço.

“No começo eu achava que era Mari-sensei e achei que era uma mulher muito audaciosa… Mas isso não importa. Não posso falar dos outros. Naquele livro no prólogo o Shinri-sensei faz referência à <As razões pelas quais as pessoas não podem matar>. Se lembra?”

“Sim…, <Você tem algum momento no qual você pode ser morta por outra? Deixe-me ouvir quais são essas condições para a qual você pode ser morta. Se não tem nenhum momento no qual você pode ser morta, então ao menos você não pode matar outras pessoas>, não é?”

Mesmo que minha memória seja ruim, disso eu lembro.

Exatamente isso, disse a Akane-san.

“Então, eu vou fazer uma pergunta igual ao Shinri-sensei. Você, tem alguma condição para a qual você possa ser morta?”

“… Não.”

“Por exemplo, qual você daria mais importância, a vida da Kunagisa-chan ou a sua vida?”

“Não quero nem pensar nisso.”

Imagino, e a Akane-san ri alegremente.

“No fim das contas você é isso. Você odeia escolher as coisas, não? Não tenta nem fazer o ato de <escolher>. Ontem, a Himena-san disse algo parecido e aquilo foi algo bem próximo da verdade, certo? Ser levado pelos outros. Você odeia competir. Odeia deixar as coisas claras. Princípio de deixar as coisas vagas.”

“Não vou negar.”

“Não vai negar, nem afirmar. Você só jogou shougi comigo somente porque você tinha certeza de que iria perder, certo? Se não for assim, você nunca aceitaria disputar ou jogar algo.”

Odeio não o fato de perder, mas a disputa em si.

Eu odeio e muito disputar com alguém.

Não gosto de brigar e por isso não faço amigos.

“Odeia os outros?”

“Não.”

“Então você gosta?”

“Isso com certeza não.”

“Deve ser mesmo. A base do seu valor é <as pessoas devem viver sozinhas>; essa opinião, não, essa vontade. Está feita por essa vontade absoluta. Fazendo o máximo para não se envolver com os outros, não se ferir. Claro que a alegria e a felicidade podem ser compartilhadas, mas você pensa que não é necessário agir juntos nos momentos de tristeza ou sofrimento.”

Acho idiota o casal de namorados que brigam inúmeras vezes e ainda assim mantêm seu relacionamento.

Porque conseguem se dar bem?

Porque não se dão bem?

Porque não conseguem se dar bem?

“—Desde quando se tornou uma filósofa, Akane-san?”

“Infelizmente sou uma das pesquisadoras do Centro Geral Generalizado de Pesquisas. Essas divisões não tem significado para mim. Fufufu. Deixa eu ver… Sem exageros, você realmente gosta de ficar sozinho, certo?”

“E como. Não importa o que digam é o meu amigo de mais longa data.”

“É mesmo. Não só para mim, como para qualquer um, o melhor amigo de cada um é você mesmo. … Então, e a Kunagisa-chan, como é? Mesmo juntando tudo, a relação entre vocês não dá nem um ano, certo?”

“…”

Você gosta da Kunagisa-chan?”

Uma pergunta direta.

Já ouvi isso há cinco anos também.

Quem perguntou isso daquela vez foi o irmão da Kunagisa.

Mas,

A resposta é a mesma.

“—Não. Não tem nada disso.”

Essa é realmente a minha voz,

Respondi com uma voz desesperadamente fria.

Por quê?

Porque eu—

Desse jeito.

“Fun. É mesmo…”, a Akane-san parecia estar um pouco impressionada. “Mas a Kunagisa-chan gosta de você. Isso é mais do que certo.”

“É. Já ouvi isso várias vezes da boca dela.”

“…, não gosto muito de falar sobre esse assunto, mas. Você já pensou porque nesse mundo existem tantos casais, tantos namorados?”

“…”

“Afinal, não é estranho? Não tem como uma situação perfeita como a de você gostar de uma pessoa e essa pessoa gostar de você existir. Não é um mangá shoujo…, mas falando seriamente, de dentro de 100 pessoas vão existir o mesmo número de romances. Porque isso acontece?”

“… Não faço idéia. Nunca pensei nisso. Não é coincidência? Como a lei dos grandes números?”

“Não, essa coincidência não é possível. A resposta que eu cheguei foi essa—a outra pessoa gosta de você. Porque isso é muito feliz. Só porque a outra gosta de você, você pode acabar gostando dela.”

A Akane-san disse isso como se estivesse afirmando. Deu para imaginar ela sorrindo do outro lado da porta. Aos poucos eu fui ficando com uma sensação de que não iria agüentar mais. Um pressentimento de que eu iria ser esmagado, ser morto por esmagamento.

“… E o que isso tem a ver?”

“Não, não, não…, Só estava pensando porque você não se dobra para a Kunagisa-chan…, ainda assim sou uma pesquisadora e quando encontro algo que não entendo dá raiva.”

“Ela gosta de qualquer um. Realmente de qualquer um. Não tem necessidade da pessoa ao lado dela ser eu.”

As palavras saem fracas da minha boca.

É mesmo, e a Akane-san disse.

“Será que você não quer que a Kunagisa-chan goste de você? Você não deseja por isso. Você quer ser escolhido pela Kunagisa-chan. Como a única pessoa.”

“…”

Não consegui,

Negar.

“Fun—Mas porque será que é a Kunagisa-chan… O que eu não consigo entender é isso. Tenho a sensação de que não há uma razão clara para isso. Não é como se fosse só com a Kunagisa-chan que você teria alguns momentos ruins, caso começassem a sair um com o outro. Não, aquele tipo de mulher odiosa (onnen) é o tipo que você mais recusaria.”

Mulher odiosa?

Quem é essa?

“Espontânea (tennen), né.”

“Isso. De qualquer jeito, com aquele tipo de mulher—quero dizer, você sair com <alguém superior que possui uma idade mental baixa> é algo que, para alguém com a sua personalidade, seria muito difícil de agüentar. Além disso, você é um homem.”

“Eu gosto de ficar junto com ela. Não… Não é isso…”, eu escolho melhor as palavras. “Não é isso, sim, eu, gosto de ficar ao lado dela.”

O lugar que eu mais gosto é,

Ao lado da Kunagisa Tomo.

Porque eu queria estar ao lado dela,

Que eu voltei ao Japão.

“Fumu”, e a Akane-san pensa. “Parece que você gosta de sofrer um pouco.”

“É que judiaram bastante de mim no primário. Basicamente sou um masoquista.”

“Judiaram? Isso está errado. Você foi provavelmente alienado. Alienação e crueldade são coisas distintas. As crianças são cruéis com os fracos e mentirosos e alienam os anormais. Mas eu consigo entender bem os seus sentimentos. Eu também, quando estava no colegial achava que estava junto com extraterrestres na minha classe. Um pessoal que nas provas almejava não a nota máxima, mas a média. Nas corridas diziam <vamos correr juntos>. Não consideram alguma falha nas notas das provas. … Princípio da igualdade, por bem ou por mal. Aí é claro que o valor do Pi vira três. Os outros seis dos Sete Tolos também têm experiências parecidas. Tragédia dos 0,14. Era um completo princípio de igualdade, mas quem não conseguiu entrar aí acabou se sentindo alienado. Gênios surgem dos anormais. … Mas, nem todos os anormais são gênios.”

“É uma condição necessária, mas não é uma condição suficiente—certo? Eu não sou um gênio.”

“We are not genius. É por aí mesmo… Eu acredito que você seja uma pessoa que consegue distinguir entre um aviso e uma obrigação, então vou te dar um aviso por bondade. Se você quer ser escolhido pela Kunagisa-chan aconselho que a empurre5 o mais rápido possível. Com certeza a Kunagisa-chan não vai reagir. Mesmo que você seja uma pessoa que tenha uma personalidade melancólica que não conhece juventude, nem a época de rebeldia, tenha um caráter que é escuro e introvertido, pelo menos coragem para isso deve ter.”

“Não tenho.”

“É um leopardo negro (Kurobyou?)“

Quem é esse?

O Chii-kun?

“… Bem, não tenho confiança, mas é covarde (okubyou)?”

“Ah, me desculpa. Ufufufu. … Eu gostei de você. Seria bom se você fosse uma mulher.”

Porque acaba assim?

Não estou mais conseguindo entender o que a Akane-san quer dizer. Não, está errado. É simplesmente pelo fato de que estou ouvindo tanto sobre meu ponto fraco que minha mente já não está mais em uma condição normal.

Se continuar assim. Se continuar assim—

“—Mas que seja. Afinal—afinal logo essa resposta vai sair. Não é bom apressar. E então. No meio da conversa de antes, saiu a palavra shougi… Você conhece a teoria de jogos que em jogos como xadrez ou shougi do tipo zero sum game, tem sempre um lance ideal?”

“Teoria de jogos…, é como o dilema do prisioneiro?”

“Sim é bem isso. O movimento das peças de shougi é limitado matematicamente. Por isso, sempre existe um <lance ideal>. Falando de maneira mais simples, no momento em que a primeira peça moveu a partida já está definida. –Só que essa teoria só funciona quando o adversário está na sua condição ideal e eu também estou nessa condição. Então, esse incidente, o culpado, estaria nesse caso? E em relação ao <Aikawa-san> como será que é—isso é algo bem interessante. Mas seja como for esse incidente é mais do que um tabuleiro de xadrez, um labirinto.”

“Um labirinto. Mas se for um labirinto é simples. Se for andando com uma das mãos na parede uma hora se chega na saída. Claro que vai demorar certo tempo.”

“Isso só no caso de ser um labirinto conectado de maneira simples. Se for um labirinto conectado de múltiplas maneiras não funciona. Eu acredito que esse incidente é do tipo de um labirinto conectado de múltiplas maneiras. Mas mesmo que seja um labirinto assim, tem uma maneira infalível para ganhar… Como é ruim explicar por palavras, em uma próxima oportunidade te explico melhor. Mas sabe…, você não quer algo assim? Um jogo que não tem uma maneira infalível para ganhar?”

Um jogo sem maneira infalível para ganhar.

Maneira infalível para ganhar…

Então.

Esse incidente não é assim?

Sensação de instabilidade.

Uma sensação de instabilidade como se meus pés estivessem tremendo.

Mas que,

Nojento.

“Pensando melhor—“

A Akane-san quer continuar.

Quer continuar essa conversa nojenta.

É nojento, mas ela quer continuar.

“Ah, Akane-san.”

Finalmente.

Sem conseguir mais agüentar, eu disse.

“… Eu gostaria de continuar conversando aqui, mas… Tem alguém me esperando no quarto, então,”

De maneira forçada eu vou falando.

Agüentando a sensação de vômito.

“… Logo eu tenho que voltar…”

“Ah, é mesmo. Foi mal.”

A Akane-san aceitou isso rapidamente.

Foi algo que não esperava.

“Então, venha mais tarde. Foi uma boa maneira de passar o tempo.”

“Que é isso. Então até…”

E, no momento em que eu iria sair do armazém, acabei ficando muito curioso e bati mais uma vez na porta.

“Bem, sobre aquela primeira pergunta.”

“—Hm? Sobre o que?”

“A Akane-san possui? Um momento no qual você pode ser morta.”

“Momento? Você disse momento? Eu, sempre, assim”, claramente a Akane-san respondeu. “O momento em que eu tiver que morrer, é o momento no qual vou morrer. Eu, Sonoyama Akane, não importa quando, onde, por quem, de que forma, por quaisquer razões pela qual eu seja morta, não pretendo reclamar.”

Centro Geral Generalizado de Pesquisas, uma das Sete Tolas do sistema ER3, na posição mais alta e de maior fama entre as pesquisadoras japonesas, uma pesquisadora que foi escolhida como sendo um gênio dentre os gênios, Sonoyama Akane. Eu voltei ao quarto sem saber que essas seriam as últimas palavras que eu trocaria com ela.

4

“Ii-chan, bem vindo.”

A Kunagisa estava com um roupão de banho branco sentada em cima da cama. A Hikari-san estava no sofá. Vendo a minha chegada, ela soltou um suspiro como se estivesse aliviada. Consigo entender bem como a Hikari-san se sentiu ao ter que conversar com a Kunagisa em high tension quando ela saiu do banho.

“Ii-chan, olha, lavei meu cabelo. Elogia, elogia.”

“Ficou bonito.”

A cor do cabelo da Kunagisa virou um claro cobalt blue. Essa que é a cor original. De acordo com a própria parece que “Quem tem genes recessivos sofre-“.

“Porque o Ii-chan também não toma banho? Pode ser que surja alguma boa idéia. Como o Arquimedes. E daí você sai pelado correndo pela mansão.”

“Isso complica… um pouco.”

A Hikari-san respondeu seriamente. Parece que ela acha que eu sou um tipo de pessoa que poderia fazer isso. Não me lembro de ter uma imagem assim.

“… Mesmo assim o Arquimedes era realmente uma pessoa estranha, não é? Será que todos os gênios são assim?”

A Hikari-san inclinou sua cabeça e começou a pensar seriamente. Na cabeça dela, quais das pessoas dessa ilha ela deve estar imaginando? Dá a impressão de que pode ser qualquer um, mas também dá a impressão de que não é ninguém.

“Hikari-san, naquela época era normal fazer exercícios sem roupas. Não é como se o Arquimedes fosse uma pessoa estranha.”

“Uni. Ii-chan é um erudito, né.”

“Ah, com certeza sou um erudito. E então Hikari-san, o que você queria?”

“Ah, sim. A ojou-sama deu a ordem de ver como está a situação com a Tomo-san.”

Que pessoa sincera. Não acho que isso tenha significado se não deixar isso escondido. Depois de falar isso, a Hikari-san sorriu como se estivesse envergonhada.

“Sim. Na verdade quem está mais apta para esse tipo de trabalho é a Akari. A Akari vai pousar no continente hoje de noite. Ela não vai voltar até amanhã de manhã.”

“Foi chamar o detetive, não?”, como eu tinha um pouco de interesse resolvi perguntar. “Que tipo de pessoa é esse detetive? A Hikari-san fala dele como se já o tivesse encontrado. Conhece bem ele?”

“Sim… É mesmo. Há algum tempo fiquei aos cuidados dele. Teve, um, incidente e… Nesse momento.”

A Hikari-san falava de forma vaga. Não parece ser algum segredo, mas também não é algo que ela quer falar muito.

“Fun. Incidente. Nessa ilha?”

“Sim. Assim, quando a ojou-sama tinha acabado de ser exilada e ainda não havia um salão com esse… Então chamamos o Aikawa-san. … O Aikawa-san resolveu esse incidente em um piscar de olhos”, a Hikari-san disse isso seriamente. “Sobre o próprio Aikawa-san dá para dizer que ele é uma pessoa de temperamento agressivo. Gosta de ironizar, demonstra bem as emoções e não parece gostar muito do mundo. Como se tivesse resolvido o incidente deixando pra raiva que ele tinha.”

“Hah.”

A Hikari-san parece estar escolhendo as palavras, mas essas escolhas não estão fazendo muito sucesso. Não consigo criar nenhuma imagem sobre esse <Aikawa-san>.

“Isso quer dizer que é uma pessoa que fica brava facilmente?”

“Mas do que fica brava facilmente… Parece que está <sempre brava>. Mesmo quando está rindo, parece que está sempre olhando para algum inimigo… Desculpa, mas não consigo expressar muito bem. De qualquer jeito aquela pessoa parece ser um tipo de que <não consegue perdoar o mundo>.”

“Faz sentido”, eu assenti mesmo sem ter entendido direito. “Os detetives dos livros que eu li até agora eram sempre frios e calculistas. Dizem coisas como <Você não sabe nem isso?>. Se você trocar 80% das frases por <Você é idiota?> a conversa ainda faria sentido. Mas pelo que a Hikari-san falou parece que o Aikawa-san é do tipo de sangue quente, um aliado da justiça, não é? Do tipo que não consegue perdoar os criminosos.”

“Ah, não, não é bem assim. Não é que aquela pessoa não consiga perdoar os criminosos… Não consegue perdoar o mundo. Vivia falando coisas como <O mundo, as pessoas deveriam ser muito, muito, mas muito mais incríveis, mas porque vocês estão aí descansando!”.

É realmente uma pessoa agressiva. Atualmente é um tipo raro de pessoa. É completamente o contrário de uma pessoa com o princípio de deixar as coisas vagas, um Zaregoto Zukai como eu.

“Por isso não consegue perdoar o mundo e por isso vive de mau humor, mas porque não combina ficar de mau humor por causa de pessoas que são preguiçosas até em relação aos seus valores, fica sorrindo ironicamente. É um tipo de pessoa assim. Pelo menos comparado a você e a Tomo-san é um tipo completamente diferente.”

A Hikari-san, quando falava sobre esse detetive, parecia um pouco feliz. Como se estivesse apresentando o seu melhor amigo, algo assim. Não, mais do que o melhor amigo… Um herói. Assim como a Iria-san apresentou essa pessoa.

“É mesmo… Bem, na verdade é esse tipo de pessoa que é melhor”, e eu concordei de forma aleatória. “É alguém confiável?”

“Sim, e muito.”

“Ouvindo isso fiquei tranqüilo. Se mesmo daqui a seis dias, nós não tivermos resolvido esse incidente, ele com certeza vai.”

“… Pessimista, não é?”

“Estou sendo realista. Não, ou é covardia? Seja como for, na verdade tanto faz.”

“Tanto, faz”, ouvindo as minhas palavras a Hikari-san fez uma cara complicada. “… Porque … Isso pode parecer estranho vindo de mim, mas…, porque todos mesmo em uma situação como essa, estão calmos assim?”

“… Essa é uma pergunta bem direta ao ponto, não é?”

“Desculpa. Mas, assim, uma pessoa morreu, foi assassinada, e todos, todos, assim…”

“… Não é porque estão acostumadas?”

Pelo menos eu sou algo assim.

Mesmo que não saiba qual é a diferença entre estar acostumado e paralisado.

“Uni. Mas o Shinya-chan e a Yayoi-chan estão reagindo bem assim, né?”

“É mesmo… Mas se for falar assim, a Hikari-san e as outras também estão bem calmas, não? Não acho que possam falar dos outros.”

“Nós fomos treinadas dessa maneira, então…”

A Hikari-san disse isso um pouco triste.

Uma vida de 27 anos. Não parece que foi tudo conforme o previsto.

“… Ah, quase que me esqueci”, a Hikari-san quebra o silêncio batendo suas mãos. “Isso é algo que a ojou-sama pediu para perguntar de certeza. Sobre o truque do quarto fechado. Que a Tomo-san disse algo vago como <Sei demais e por isso não sei>, mas que com certeza ela sabe.”

Truque do quarto fechado.

O espaço trancado pelo rio de tinta…

Fun.

Aquela ojou-sama não conhece direito o mundo, mas ao menos tem uma boa intuição.

“Não é como se fosse grande coisa. É um truque simples que qualquer maníaco por livros de raciocínio saberia resolver. Só que, encontrando com isso de verdade, a gente fica mais confuso que o esperado. Deve ser porque ficamos afogados sob o cheiro de sangue e gosto da morte.”

“Ahaha, Ii-chan, que expressão estranha- parece um idiota-.”

A Kunagisa ri.

Com um sorriso inocente e despreocupado.

Vendo isso, meu pensamento acaba se desviando só um pouco.

Eu,

quero ser escolhido,

Por ela…?

“…? Bem, Tomo-san”, depois de olhar suspeitamente para mim depois de eu ter ficado em silêncio de repente a Hikari-san se virou na direção da Kunagisa e disse. “Se sabe mesmo, então gostaria que me dissessem…”

“Un, sem problemas. Foi difícil diminuir as alternativas, mas finalmente entendi”, a Kunagisa assentiu em relação a isso duas vezes. “A-ssim, por onde será que começo.”

“… Antes disso. Pode ser desnecessário, mas o que isso significa? Saber demais e não saber…”

“É a diferença entre o bottom up e o top down”, eu achei que a Kunagisa não conseguiria explicar isso muito bem e por isso entrei no meio da conversa das duas. “Por exemplo, Hikari-san. Se essa mesa fosse um lugar cheio de areia, o que você faria se fosse fazer uma montanha de areia mais alta possível?”

“… Juntar por baixo e ir aumentando aos poucos.”

“Sim. Eu também faria assim. Só que a Kunagisa não faria assim. Ela derramaria uma grande quantidade de areia sobre a mesa. A forma dessa montanha é igual a que nós construímos. Nós juntamos pouco a pouco e criamos a forma final. A Kunagisa tira, tira e cria a forma final. Essa é a maneira da Kunagisa entender… Não é, Tomo?”

“Não consigo entender a comparação do Ii-chan.”

Se você diz isso não posso fazer mais nada.

Só que a Hikari-san parece que entendeu “Faz sentido”, e assentiu várias vezes.

“Então, se realmente sabe qual é o truque poderia me dizer, Tomo-san?”

“Pode ser. Desde que a Hikari-san responda uma pergunta do Bokusama-chan também.”

Ouvindo essa frase a Hikari-san ficou desorientada. Parece que ela não conseguiu entender o que a Kunagisa queria dizer, mas obviamente a Kunagisa não deu bola e voltou a olhar para a tela do computador. Ela aponta a tela para a Hikari-san, exatamente sobre o computador que eu tinha ligado antes.

“Então, primeiro vamos fazer uma revisão sobre a cena do crime. Dada-n. Esse é o atelier.”

Usando um software de imagens a Kunagisa mostra o quarto inteiro. Um rio de tinta de cor mármore que parecia o Sanzu e do outro lado da margem um cadáver sem o pescoço… Uma imagem que lembrava muito bem as memórias dessa manhã. A Kunagisa sem nem dar bola para essas coisas continuou com sua explicação.

“O que atrapalha é… A princípio a tinta, né. O terremoto aconteceu às uma da manhã e nesse instante as prateleiras caíram e ficou desse jeito. Isso é óbvio. A largura é muito longa para conseguir pular. É muito difícil conseguir atravessar. Se a Kanami-chan foi morta depois do terremoto não tem como definir qual foi o caminho usado pelo culpado. Se não for assim, pelo menos o caminho de volta fica indefinido, né. Conseguiu acompanhar até aqui?”

“Até aqui, sim.”

“É fácil considerar o Youkai Tenagaashinaga como o culpado, mas uma resposta como essa é com certeza uma mentira.”

A Hikari-san sorriu de forma vaga. Pode ser que ela não conheça o Youkai Tenagaashinaga, ou pode ser que mesmo sabendo está sorrindo dessa maneira. Seja qual for, isso é o mesmo.

“Por isso é inevitável pensar que o crime aconteceu antes do terremoto. Assim, dá para imaginar a invasão e a fuga do culpado. Não vai ficar nenhuma marca, já que o atelier não tem chave. Aí considerar a Akane-chan como a culpada pelo fato dela não ter nenhum tipo de álibi é o mais correto e parece a verdade, mas é aqui que entra o testemunho do Shinya-chan. Depois do terremoto o Shinya-chan ligou para a Kanami-chan e ouviu a voz dela. Isso quer dizer que nem que seja por alguns minutos depois do terremoto a Kanami-chan ainda estava viva. Então, Hikari-chan, o que fazer agora?”

“Não sei…”, a Hikari-san inclina sua cabeça. Mas que gesto mais atraente.

“… Pela janela? Não acho que haja outra maneira. Mas pode estar trancado…”

“Pela janela. Pode ser que seja assim. O vidro é teoricamente mais do que um sólido, um líquido, então pode ser que seja errado desconsiderar essa alternativa. Ou pode ser que o efeito túnel possa ocorrer nesse caso.”

Claro que não.

“Então, já disse até aqui. Já sabe, não é, Hikari-chan?”

“Não tenho nem idéia.”

“Hikari-san, é o post hoc fallacy.”

Eu dou uma ajuda. Ver a Hikari-san confusa estava divertido até agora, mas já chegou em um ponto que deu pena dela.

A Kunagisa assentiu.

“Sim. <post hoc ergo propter hoc>. Em japonês seria <Inga no Ayamari6>. É um silogismo errado. É a causa, causa. Isso significa que o mundo não é feito de forma que respeita alguma ordem, né.”

“Não sei latim…”

“Você sabe que é latim, não?”

“Isso é, porque tem ergo no meio…”

Penso, logo existo.

Surpreendentemente a Hikari-san pensa rápido.

“Por exemplo, Hikari-chan; Aqui tem uma moeda de 100 yen. Bokusama-chan digo assim. <Vai dar cara>. Disse, certo? E então jogo. …Sim, deu cara. O que você acha? Que é coincidência certo? Isso é o normal. Só que tem pessoas que vão entender errado. Bokusama-chan disse que ia dar cara. Então deu cara. Por isso deu cara por causa de alguma habilidade supernatural do Bokusama-chan.”

Na verdade não é nenhum dos dois, a Kunagisa usou uma moeda viciada. Só por prevenção.

“Tomou sake, a gripe melhorou, logo a gripe melhorou porque tomou sake. Ligou o computador e em seguida veio uma visita, logo o computador tem poder de chamar visitas, um homem olhou para uma mulher, nesse momento ela estava olhando para ele, logo a mulher gosta dele. Um bagre pulou, um terremoto aconteceu, logo o terremoto aconteceu por causa do bagre. … Isso não é verdade, né Hikari-chan. Isso significa que se depois de A aconteceu B, não é certo dizer que existe uma relação de causa e efeito entre A e B. Se as coisas acontecem obviamente de acordo com o tempo, de acordo com uma ordem, isso não implica que haja uma relação de causa e efeito. Então Hikari-chan, vamos pensar um pouco agora. Um terremoto aconteceu, um rio de tinta apareceu, logo aí há uma relação de causa e efeito?”

“Ah…”

Era isso.

A Hikari-san parece que compreendeu.

“… Isso quer dizer que aquele rio não foi formado por causa do terremoto…?”

“Uni, a estante deve ter caído mesmo. Aí deve ter caído um pouco de tinta. Porque a Kanami-chan afirmou isso no telefone, né. Mas isso não quer dizer que formou um rio daquela largura. As latas de tinta se espalharam e só um pouco de tinta saiu. Se pensar bem as latas de tinta são bem reforçadas e por isso só porque caíram por causa de um terremoto não tem como tudo, mas tudo ter saído. E se esse fosse o caso a Kanami-chan que estava de cadeira de rodas não conseguiria sair do atelier.”

“Faz sentido… A partir daqui consegui entender”, e disse a Hikari-san. “Também depois disso, né. Depois disso o <culpado>-san entrou no quarto da Ibuki-san depois do terremoto e a matou. E na hora de sair ele derramou de propósito o conteúdo das latas de tinta no chão. Se fizer devagar, com cuidado dá para criar aquele rio sem deixar nenhum vestígio.”

A Hikari-san disse isso enquanto estava com um rosto meio distraído, talvez porque ela estivesse imaginando o culpado andando de costas enquanto derramava a tinta.

Sim. Nós estávamos considerando que o rio de tinta foi feito por causa do terremoto e considerando isso como algo óbvio. Derramar tinta, desenhar aquele rio é algo que não é necessário que um desastre natural como um terremoto ou um gênio como a Kanami-san fizesse, afinal qualquer amador consegue.

Nisso não é necessário nem um pingo de dom artístico.

Como um trabalho, não seria necessário tanto tempo.

“Mas, porque o culpado faria algo assim…”

“Para fazer com que o crime parecesse que foi feito antes do terremoto”, e eu disse. “O culpado provavelmente não sabia que a Kanami-san tinha conversado com o Shinya-san depois do terremoto por telefone. Por isso criando um rio desses o culpado pensou naturalmente que o crime seria deduzido como sendo antes do terremoto. … Mas é claro que há a possibilidade dele ter feito isso para mostrar exatamente o contrário.”

“E isso quer dizer que…”

“Sim. Não importa qual seja…”, depois de bater as duas mãos eu disse de forma exagerada. “O número de suspeitos aumenta consideravelmente.”

Depois do terremoto só quatro pessoas tinham álibis. Só a Iria-san e a Rei-san e o Shinya-san e a Maki-san. Não há mais razão para não suspeitar das outras sete pessoas.

“Então, não tem mais significado deixar a Akane-san confinada, não é?”, e a Hikari-san mostra um rosto alegre. “Não é? Afinal, já não é mais uma situação na qual somente uma pessoa é suspeita… Então.”

Parece que a Hikari-san não estava se sentindo bem ao deixar uma convidada presa. Essa pessoa é realmente alguém que não consegue ver as outras como simples números.

Em compensação a pessoa chamada de Sonoyama Akane é muito racional. Eu decidi falar isso para a Hikari-san.

“… A Akane-san já percebeu o truque do quarto fechado. Mesmo sabendo disso, ela fingiu não saber.”

“… Por quê?”, a Hikari-san disse isso com um rosto de quem realmente não entendeu. “Isso não é estranho? Porque fazer algo assim?”

“Para manter a situação de proteção. Realmente é alguém que pensa rápido…”

Para criar a melhor situação, ela não liga em ficar na pior posição. Esse é um tipo de pensamento que foge um pouco dos princípios pessoais, mas ainda assim é com certeza algo digno de respeito.

“Então, é melhor deixar isso em segredo não é…”

“Sim. Como ainda não dá para saber quem é o culpado… Eu acho que não é muito bom deixar a situação ainda mais confusa. Bem, a Iria-san tem direito de saber disso. Sobre isso deixo que a Hikari-san faça como quiser.”

Não tenho a intenção de me intrometer aí.

Hmm, e a Hikari-san pensa.

“… Mas, é mesmo. O rio de tinta não foi criado pelo terremoto e isso é algo tão simples que dá a sensação de <Ah, era isso>.”

“Eu também tenho a vontade de dizer <Espera aí>. Mas, depois que você descobre o truque é assim mesmo. Eu já vi vários truques mais sem graça e comparado com eles, esse é decente”, como a Hikari-san disse aquilo de forma entediada eu acabei favorecendo o culpado nesse sentido. “… Além disso, se falar assim quase tudo está acabado não é?”

“Mas…, depois de um terremoto será que existe alguma pessoa que consegue pensar rapidamente em um truque assim?”, a Hikari-san perguntou isso enquanto parecia não estar satisfeita. “Afinal um terremoto acontecer justo na hora… Não é uma grande coincidência? Princípio da boa sorte?”

“Essa é a lei dos grandes números, Hikari-chan.”

“… O quê é isso?”, a Hikari-san ficou com dúvidas depois de ouvir a resposta característica da Kunagisa. “Lei dos grandes… Números?”

“Un. Tem o significado de que quando algo que parece ser uma grande coincidência na verdade não é grande coisa. Por exemplo, se a Hikari-chan ver alguém ganhar na loteria, vai ficar surpresa, certo? Afinal dizem que ganhar o primeiro prêmio da loteria é mais difícil do que ser atingido por um meteorito. Mas, se pensar melhor, isso só vale pra quando essa pessoa só comprou um bilhete, né? É muito raro encontrar alguém que apostou só uma vez e só com um bilhete. Se 23 pessoas se reunirem a possibilidade de haver duas pessoas com o mesmo aniversário é de 50%. Mas, se você ouvir isso, acaba achando que é uma grande coincidência, não é? Chama-se isso de <Lei dos Grandes Números>. O terremoto aconteceu hoje, mas mesmo que isso acontecesse amanhã, não faria diferença. Além disso, não acho que o culpado só tenha pensado em truques para caso um terremoto acontecesse. Acho que o culpado-kun pensava sobre essas coisas normalmente. É isso.”

“Não dá para saber o método só vendo o resultado…”

“Sim, sim, bem isso. Isso que é o <Erro da causa e efeito>.”

Depois de falar isso a Kunagisa apontou o indicador para a Hikari-san.

“Então, Hikari-chan! Agora é a pergunta do Bokusama-chan.”

“Ah, sim. É mesmo. Foi esse o acordo”, a Hikari-san se arrumou e assentiu. “Pode pergunte o que quiser.”

“Porque a Iria-chan tá nessa ilha?”

Uma pergunta que parecia ter o poder de mudar o clima.

Aqui.

Nessa ilha.

Corvo de Asas Molhadas.

Porque a Akagami Iria está aqui.

Em um instante a expressão da Hikari-san que costuma ser sempre alegre e calma, ficou rígida. Ficou completamente paralisada e é claro ver que ela está tremendo. Isso é mais do que confusão, simplesmente, apenas simplesmente, apenas um medo puro.

É algo desse nível…?

“Ah. Bem, isso é…”, com uma voz trêmula a Hikari-san tenta juntar as palavras. “… Isso é… Bem, isso é…”

“Não vai me responder Hikari-chan?”

“Por favor, mas só isso… Não posso, Tomo-san.”, a Hikari-san com muito sofrimento, caiu e escondeu seu rosto. Até parecia que não seria estranho se ela desmaiasse. “Se for qualquer outra coisa, eu respondo…”

Ver a Hikari-san desse jeito, dessa forma é muito doloroso. Até parece que nós somos demônios e fizemos um acordo ilegal. Em troca me dê sua alma. Vou pegar o que é mais importante para você… Um zaregoto sem noção.

“Não, não tem problemas. Não faz mal”, eu disse isso entrando entre as duas. “Tomo, você também está satisfeita, certo?”

“… Un, sim Ii-chan. Nesse tipo de caso não tem jeito.”

A Kunagisa, aquela mimada Kunagisa, acabou aceitando isso facilmente.

“Desculpa, Hikari-chan.”

“Não, eu é que deveria, afinal só eu acabei perguntando…”

A Hikari-san se levantou “Com licença”, e tentou sair. Aí, parou, “Ah, falando nisso”, e se virou. Parecia um detetive Colombo, mas se essa empregada linda faz isso, não é ruim. Muito pelo contrário, é algo que faz você sorrir.

“Isso é, algo que não tem relação com a ojou-sama, é uma pergunta pessoal minha… Vocês acreditam na <habilidade sobrenatural> da Himena-san?”

Acreditam?

No ESP da… Maki-san.

Aquela esper que já sabe de tudo.

Depois de pensar um tempo “Agora não vejo razões para duvidar disso”, e respondi. A Kunagisa também “Tendo ou não tendo, isso não me incomoda-“, e respondeu o mesmo que ontem.

“É mesmo…, é assim mesmo, não é.”

A Hikari-san depois de aceitar nossas respostas, assentiu, e saiu do quarto. Eu, por um tempo, fiquei parado olhando para a direção da porta. Enquanto lembrava como a Hikari-san mudou quando foi perguntada sobre a Iria-san.

“… Bem, deixa quieto…”

Isso é provavelmente, algo que não tem relação com esse incidente. Não acredito que a razão pela qual a Iria-san foi exilada possa ter relação com a morte da Kanami-san. Eu parei de olhar para a porta e me virei na direção da Kunagisa. E nesse momento, do workstation deu para ouvir uma melodia estranha <Boyoyon Boyoyon>. Quando fui ver o que era, a Kunagisa já tinha começado a fazer algum trabalho.

“O que foi? Aconteceu alguma coisa?”

“É um e-mail. Chegou um e-mail. Do Chii-kun… É o que se espera de alguém que trabalha rápido. Dá para entende porque chamam ele de homem que ignora a teoria da relatividade.”

Como foi pedido para fazer a pesquisa de tarde, com certeza não demorou. Além disso, o <Chii-kun> está na cadeia.

“… He, o nome verdadeiro da Himena-san é Himena Shinari. Surpresa. Esse nome é melhor. Porque será que tá usando o nome de trabalho?”

“Nome verdadeiro da Maki-san? Ei, ei, porque foi pesquisado algo sem utilidade assim? Esse Chii-kun.”

“Uni. Só era pra ter pesquisado se havia alguma conexão entre alguém…, realmente tem uma personalidade ruim. É mesmo necessário educá-lo direito. O Chii-kun não sabe mesmo como é ter relações com as pessoas… Ah, mas…, aqui. Ii-chan. Achou uma conexão.”

Eu me aproximo da Kunagisa. Só que como todo o texto que aparecia na tela era em inglês, não consegui entender nada.

“… Porque não sabe inglês, Ii-chan… Pra onde você foi estudar? Hm? Pólo Sul? Marte?”

“Já me esqueci. Como é que vou lembrar de algo que não uso por uns três, quatro meses. Além disso, falar até que eu me dava bem, mas eu não era muito bom pra ler não.”

“Para fazer a prova de seleção do programa ER é necessário saber ou inglês ou russo ou chinês. Como é que fez? Propina?”

“Então, nessa hora eu ainda lembrava.”

“Parece mentira… Então, vou traduzir. , e está escrito assim. Faz meio ano. Tinha uma testemunha… Hmm. <Almoçaram juntas>. Porque será? A Kanami-chan e a Akane-chan não se davam mal?”

“Almoçaram juntas…”

Como esperado foi achado uma conexão. Mas, porque a Kanami-san e a Akane-san? A área de trabalho da Akane-san é nos States e a Kanami-san é uma pintora de escala mundial, então não é estranho que tenham se encontrado ali, mas a Kanami-san e a Akane-san não parecem ser pessoas do tipo que saem para comer juntas, caso tenham se encontrado ao acaso.

“Hm. E não parece que foi um almoço qualquer. Ali é um incrível clube secreto.”

“Clube secreto?”

Tem uma sonoridade que dá a impressão de ser uma mentira.

Un, e a Kunagisa assentiu.

“É mesmo. Mas existe. No Japão têm poucos, mas existe esse tipo de lugar. Um lugar utilizado por políticos, artistas, pessoas famosas ou os seus filhos. Será que é melhor dizer que é um clube caro? A segurança é bem rígida.”

Então como conseguiu essa informação, é algo que não vou perguntar. No mundo existem lugares para lá do túnel que é melhor não saber.

“… Não tem erro?”

O Chii-kun não mente. Se bem que de vez em quando não conta a verdade. Nesse sentido é igual ao Ii-chan.”

“Fun… Eu minto mesmo, mas…”

Bem, deixando isso de lado.

A conexão entre a Sonoyama Akane e a Ibuki Kanami.

Deixando de lado se isso é importante ou não, que é interessante é. Acho que é melhor confirmar isso com a Akane-san amanhã. Eu pensei dessa forma. Sem pensar que isso seria um compromisso impossível de ser realizado.

“Fora isso tem várias informações sobre os outros, né… Nacchan continua a mesma de sempre… Ah, o Sacchan parece estar mal. O Hii-chan está… Desaparecido. Nenhuma novidade-. O Teitoku7 conseguiu um trabalho. Um bom trabalho, né. O Acchan é… ai, ai, ai. Hmm, os outros também parecem bem. Chii-kun também parece estar bem. Que alívio. Tinha um pouco de sentimento de culpa.”

A Kunagisa começou a relembrar várias coisas e como eu me senti meio alienado “Vou dormir”, sussurrei e me deitei no sofá. Como cedi o armazém para a Akane-san, agora eu estou sem quarto. Por isso decidi dormir aqui, mas…

“Yotto.”

A Kunagisa que terminou de conferir o e-mail do Chii-kun, desligou o workstation, desceu da cadeira e se jogou na cama. E de joelhos “Ii-chan hoje sim, vamos dormir juntos”, disse.

“Recuso.”

“De noite fica frio e se dormir aí, vai pegar uma gripe, sabe? Como essa cama é king size, tem espaço de sobra.”

“Recuso.”

“Prometo que não vou fazer nada! É só dormir juntos. Só isso. Nem encostar. Pode até ser que fiquemos de costas um pro outro. Pode, né?”

“Recuso.”

“Por favor. To triste.”

… Essa garota.

Dessa vez está sendo realmente ativa.

Eu levantei meu corpo do sofá e fiquei de frente para a Kunagisa.

“… Promete que não vai fazer nada?”

“Un.”

“É uma promessa, viu? Vou confiar, viu?”

Está tudo bem, e a Kunagisa assentiu alegremente.

“Com certeza não vou te trair.”

E então, nessa noite eu dormi numa cama, algo que não fazia há muito tempo, há muito tempo mesmo. Não é como se estivesse esperando algo, mas parece que a Kunagisa decidiu manter sua promessa e dá para escutar ela respirando atrás de mim. Como estou de costas, não tenho como saber se a Kunagisa está mesmo dormindo ou não.

“…”

Então eu relembro.

Sobre o passado.

Sobre aquela época.

Cinco anos atrás.

Cinco anos atrás, hein…

<Ii-chan>.

Desde aquela época a Kunagisa me chamava desse jeito íntimo…

A Kunagisa, como se não desse pra sentir o vazio dos cinco anos, age comigo de forma aberta.

Completamente aberta, clara e transparente.

Cinco anos.

Não gosto mesmo de encontrar conhecidos antigos.

Tenham eles mudado ou não.

Porque isso é triste.

Mas eu, sem hesitar, quando voltei ao Japão, antes mesmo de voltar pra casa fui visitar a Kunagisa.

Garota de cabelo azul.

Mantendo a imagem daquela época.

Como se esses cinco anos não tivessem existido.

Fecho os olhos.

Dormir do lado dela é, provavelmente, algo que não faço há muito tempo.

A Akane-san disse para eu empurrá-la.

Se eu quiser o único da Kunagisa Tomo.

Não querer ser gostado,

Mas escolhido.

“… É mesmo um zaregoto…”

Se…

Se,

Eu tivesse dito que já a empurrei,

A Akane-san iria me desprezar?

E, além disso, não por amor,

E somente com desejo de destruição.

“…”

Mas Akane-san.

Isso não teve significado nenhum.

Realmente.

Realmente não teve significado nenhum.

Então…

Então, o que eu deveria fazer?

Por favor, me diga.


1 - Significado parecido com o de Farinha do mesmo saco. Literalmente é que as pessoas parecidas atraem uma a outra.

2 - Hoiko-ro- (ホイコーロー) - Literalmente seria carne de porco cozinhada duas vezes. Se quiserem saber com mais detalhes procura usando a expressão em jap mesmo, já que imagens valem mais do que mil palavras.

3 - Você colhe o que você planta.

4 - Uma das obras do Mushanokouji Saneatsu.

5 - Empurrar na cama, o resto acho que não é necessário explicar.

6 - Erro da causa e efeito.

7 - Almirante