Toaru Majutsu no Index ~Brazilian Portuguese~:Volume GT12 Capitulo1

From Baka-Tsuki
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Capítulo 1: Uma Cena de Preto e Branco – the_DEATH.

1

Esta era uma escola de ensino médio perfeitamente normal no Distrito 7.

Ou deveria ser.

Todas as outras escolas já haviam feito suas cerimônias de abertura, mas não esta.

Um monte de pessoas estava entrando e saindo.

Os adultos eram mais chamativos, pois esta era uma escola.


"O florista acabou de chegar."

"Eu sei, mas e o sal!? Que idiota se esqueceu de pedir o sal!?"

"A loja de descontos que vende quase tudo não abre até as 10."

"Se pedir online não vai chegar a tempo pra a cerimônia. Corre até a loja de conveniência!"


Funcionários de todos os tipos de negócios estavam corriam de um lado pro outro: aluguel de roupas, grandes equipamentos de iluminação e som para o palco, e um bufê fornecendo lanches e bebidas para alimentação e descanso. O lugar tinha a atmosfera dos bastidores de algum tipo de evento. Ao invés de um locutor, o apresentador era um comediante bastante malsucedido segurando um microfone. Ele poderia ter usado um microfone pequeno de curto alcance na orelha, mas insistiu em um grande com um pedestal. Provavelmente preferência pessoal dele, e não algo que tivesse a ver com a cerimônia.

Azulão suspirou suavemente numa sala de aula nova.

"Por que essas pessoas parecem que montam shows no distrito comercial?"

"Provavelmente porque eles montam. Eles são animadores em primeiro lugar, mas estudaram umas coisas de templos budistas na faculdade. Então talvez isso conte como prática pra eles?"

Fukiyose Seiri tinha todas as informações.

Parando pra pensar, não era ela que normalmente se voluntariava nos comitês que faziam eventos escolares?

Azulão deu uma olhada na sala de aula depressiva.

"Vocês viram aquelas pessoas esquisitas lá no portão principal? Eles tavam todos com celulares, então os repórteres de hoje em dia não carregam mais aquelas câmeras pesadas?"

"É por isso que a escola abriu a porta dos fundos pros professores. O carro funerário, que é resfriado com gelo seco, deve chegar em breve."

Era por isso que as cortinas ainda estavam fechadas? Movimentos descuidados nas janelas provavelmente acabariam com drones se aproximando pra conseguir algumas imagens.

As estações de TV também tinham repórteres em cena.

Eles não podiam simplesmente ignorar isso. Como membros da turma em questão, isso os deixou nervosos.

Eles não sabiam exatamente o que havia acontecido, mas eles sabiam que havia sido algo grande.

Alguma coisa grande havia acontecido nas férias de inverno.

"Se pelo menos eles tivessem mandado aquela repórter sexy com uma minissaia."

"Sinceramente. Esse não é o tipo de trabalho pra ela. A gente não tá falando de uma reportagem culinária sobre soul food de regiões que você nunca nem ouviu falar sobre. Mas eu vi algo como o fantasma do Dia dos Pais andando por aí."

"Você tá falando daquela Senhora do Creme Bávaro do Mundo Educacional? Nossa, o Kami-yan tá recebendo o tratamento de histórias de interesses humanos matinal."

"É melhor do que um espiritualista autointitulado aparecendo pra cantar encantações budistas na cara dele, né? Aí quando você se dá conta, eles começam a dizer que o aluno que morreu na nossa escola era um guerreiro caído e que havia um túmulo aqui nos tempos antigos ou algo do tipo. Ainda bem que estamos na Cidade Acadêmica."

Não importa o quão depressivo o clima, as pessoas não conseguiam evitar as conversas com tanta gente reunida. Talvez essa fosse só a natureza humana.

Não.

Talvez a pressão do silêncio os assustasse mais.

Então eles estavam evitando-o subconscientemente.

Alguém estava morto, mas os professores não haviam explicado nada.

E tinha uma tonelada de repórteres lá fora.

Era tudo muito preocupante pra passar batido. Isso, naturalmente, criava rumores. Baseados em absolutamente nada, é claro.

"Sinais de crime e circunstâncias misteriosas, né?"

"Parece a Cidade Acadêmica pra mim," foi tudo que Fukiyose disse.

Por mais que fosse plausível, eles não tinham nenhuma evidência.

Era uma conversa vazia. Se eles soubessem a verdade, eles provavelmente não teriam conseguido dizer nada.

Azulão suspirou mais uma vez.

"Eu ouvi que vamos ser liberados lá pra meio-dia."

"As outras turmas também vão. A gente vai de ônibus até o crematório, então é um dia completo pra a gente."

"E o almoço? Eu tô um pouco preocupado com isso. Tava tão ocupado de manhã que perdi o café da manhã."

"Você tava ocupado demais pra ver a mensagem enviada pra a sala toda? Ela dizia pra trazer seu próprio almoço hoje."

A programação do dia havia sido alterada de última hora pra isso, mas hoje deveria ser apenas a cerimônia de abertura. Os professores, aparentemente, não achavam que isso fosse afetar as aulas deles. O que fez os alunos se perguntarem qual era a razão por trás das cerimônias de abertura: isso não significava que eles estariam desperdiçando um dia de suas férias de inverno?

Um olhar de compreensão tardia atingiu Azulão.

"Hm? Peraí. Quer dizer que eu não posso usar o refeitório ou a loja da escola?"

"Eu acho que você só encontraria salas vazias e solitárias. A cerimônia de abertura devia terminar de meio-dia e não tinham atividades de clubes marcadas. Eles não teriam os ingredientes pra o almoço disponíveis."

"E-E-E-Eu- espera aí, eu tenho que ir até a loja de conveniência!!"

"Você pode tentar se quiser, mas a mais próxima deve estar cheia com os repórteres menos motivados batendo um papo na lanchonete. Tem certeza de que quer ir lá? Sua cara vai tá nas capas dos tabloides como o colega de classe de luto."

"Ei, pera, ah!! A sensei chegou. O evento já vai começar!"

O horário livre deles havia acabado.

Enquanto a classe conversava, a porta ao lado do quadro negro deslizou e Tsukuyomi Komoe, a professora da sala, entrou. Com 135cm, ela era uma professora muito compacta e ela havia escolhido roupas de feltro grossas pra se manter aquecida no frio. Se não fosse o véu cobrindo sua cabeça, ele podia parecer um uniforme de uma escola privada do ensino fundamental.

Ela falou com apenas a cabeça passando por cima do púlpito.

E ainda assim, ela devia estar nas pontas dos pés.

"Himegami-chan, Fukiyose-chan, e o resto de vocês. Antes das turmas irem pro auditório uma por vez, eu quero fazer a chamada, então vão para seus lugares. Os primeiros anos vão primeiro, então não temos muito tempo."

"Pra que mandar a gente de um a um?"

"Alguém designou o auditório errado, então a entrada é muito estreita. Se todos tentassem entrar de uma vez, acho que ficaríamos presos," Fukiyose explicou soando irritada.

Uma professora de educação física chamou por eles do lado de fora. A peituda que sempre tava com roupa de treino.

Os alunos preencheram o corredor.

Este era o primeiro dia de seu terceiro trimestre, mas não haveria uma cerimônia de abertura.


Hoje era um dia especial.

Era o funeral de Kamijou Touma.

2

Dentro de um dormitório estudantil no Distrito 7.

Especificamente, dentro de um quarto no sétimo andar.

Othinus, a deusa de 15cm, estava de pé na mesa de vidro. O kotatsu havia sido guardado por consumir energia.

Elas tinham que arrumar suas coisas.

"Deixa a chave do lado do telefone."

"Eu sei. Eu tenho memorização perfeita."

Essa era a verdade de Index, uma garota vestindo um hábito de freira branco com bordados dourados que a fazia parecer uma xícara de porcelana, mas Othinus não podia confiar na precisão da garota por um motivo muito diferente. Lembrar-se de tudo que ela via e ouvia era muito bom, mas como ela explicava o cenário onde a disseram claramente que o pacote de tamanho industrial de bolachas de arroz era para todos comerem de pouquinho em pouquinho ao longo do mês de Janeiro e então ela não deixou nada além de um pacote vazio na primeira oportunidade que teve?

Um gato miou.

"Ah, claro. Ele."

"Não podemos deixar o Sphinx aqui, né?"

Index pegou o gato malhado.

Como ela sempre fazia.

O gato não parecia entender as circunstâncias humanas.

Othinus não queria ficar presa com ele, então ela olhou pra longe da besta feroz apenas para se deparar com o olhar de um pombo se abrigando da chuva no estreito corrimão da varanda.

O símbolo da paz a encarou no olho e inclinou a cabeça. A coisa emplumada não parecia se importar com o frio de Janeiro.

"Tá tudo bem?"

"Deve estar."

Index estava carregando o gato em suas mãos. Ela não havia dito nada, mas Othinus já estava subindo em seu ombro.

Othinus cruzou as pernas de forma arrogante e sussurrou com um baixo tom.

"Então você está pronta?"

"...Sim."

"O gato é realmente a única coisa que você vai levar do quarto?"

"É porque esse é o quarto do Touma."

"Isso ele é."

Suas circunstâncias eram diferentes, mas ambas moravam aqui de favor.

O quarto pertencia a outra pessoa.

E olhando para ele agora, elas conseguiam enxergar o quanto aquele garoto havia compartilhado com elas. Mesmo que ele não tivesse a menor obrigação de fazer isso. Ele não estava exatamente bem na vida e constantemente reclamava por ser um aluno pobre, mas quando as aceitou, ele não havia pensado duas vezes.

Index calçou seus sapatos na porta da frente.

Ela nunca faria esta simples ação de novo?

Ela não disse nada por um tempo.

Após bater as pontas dos pés no chão para ajustar os sapatos, a freira branca abriu a porta da frente. Index olhou para o quarto mais uma vez, mas apenas viu um espaço vazio.


"..."


A fina porta do quarto de dormitório estudantil fechou e o estalo de sua fechadura soou alto.

3

A excitação do início do terceiro trimestre não estava em lugar algum.

"Isso tá certo?" perguntou Misaka Mikoto.

Eram 8 da manhã.

Apenas lojas de conveniência e restaurantes casuais estariam abertos a essa hora, mas Mikoto estava dentro de uma loja de quimono num shopping gigante. Ela havia amarrado seu cabelo curto e não estava vestindo seu blazer habitual da Escola Tokiwadai. Ela estava vestindo um quimono preto, que ficava estranho numa garota de 14 anos. Os padrões de pente em forma de meia lua era o brasão da família Misaka.

Estas eram roupas de luto.

É claro que ela não iria à cerimônia de abertura de sua escola vestida desse jeito.

(Isso não é nada parecido com um furisode do Ano Novo. É mais pesado.)

"Misaka-saaan, você tá pronta?"

Um rosto familiar apareceu.

Shokuhou Misaki parecia ter escolhido roupas de luto ocidentais.

Mas por que elas eram tão transparentes e reveladoras?

Aquilo parecia mais com um vestido preto de festa.

Especificamente, era um belíssimo vestido preto com um véu, mas ele tinha fendas por todos os lados com acessórios de pérola brilhando aqui e ali. Aquela garota nunca parava de se exibir?

Por algum motivo, a garota estranha olhou Mikoto de forma estranha.

"Roupas japonesas é uma escolha terrível pra quem não sabe como vesti-las. Minha escolha definitivamente vai ser mais fácil."

"Eu não teria tanta certeza. Isso aí não é uma fantasia – aposto que isso é mais complicado do que fechar o zíper nas costas."

"Parando pra pensar, você nunca usa meias longas, usa?"

"Eu digo não pra qualquer coisa que fique parecida com queijo derretido quando exposta à correntes de alta voltagem."

E assim ela havia escolhido vestir roupas japonesas.

Misaka Mikoto não queria chegar nem perto de cintas-ligas ou meias-calças.

...Ainda assim, ela estava feliz por ter a ajuda da rainha ardilosa já que ela sabia como alugar um quimono numa loja antes que ela abrisse. A qualidade dessa loja era fenomenal mesmo com um trabalho tão urgente. Mas talvez essa fosse sempre a demanda para roupas de luto. Sozinha, Mikoto não tinha certeza se teria considerado conseguir roupas de luto. Dito isso, o uniforme de Tokiwadai era muito vibrante para uma cerimônia tão triste quanto esta então ela queria vestir outra coisa.

Ela não tinha o costume de carregar bolsas pequenas consigo. Apesar de toda a burocracia irritante relacionada ao seguro, ela havia concordado com todas as recomendações do funcionário e então pago com cartão.

As duas saíram da loja juntas.

Shokuhou Misaki imediatamente segurou seus ombros e tremeu. Ela estava tentando acentuar seus peitos?

"Brr!! É Janeiro mesmo, né? Eu pensei que todas as fendas e rendas transparentes seriam sexy, mas o frio do inverno tá passando direto por elas."

"Huh, quem podia imaginar?"

"Pera, por que você não me entende? Misaka-san, a sua roupa de luto é habilidosamente estufada com algodão fofinho ou algo do tipo!?"

"Aí, para com isso, não vai se agarrando em mim, você tomou suas próprias escolhas, sua exibicionista idiota, agora lide com as consequências sozinha."

Sério, era pra ser uma roupa de luto de inverno, então por que a pele dela estava tão visível?

E normalmente você não devia, pelo menos, amarrar um xale ou uma estola por cima dos ombros pra se manter aquecida quando estivesse do lado de fora?

Mikoto olhou para longe e murmurou para si.

"Eles dizem que crianças não sentem frio. Ou o ditado que eu tô procurando é que idiotas não pegam nem resfriado?"

"Eu não quero ouvir isso da garota que usa shorts independente do clima."

Shokuhou tinha sorte de não estar usando um xale. Porque Mikoto teria estrangulado ela com ele.

Quando o Ás e a Rainha de Tokiwadai estavam prestes a brigar numa passagem externa do segundo andar, algo piscou no canto da visão de Mikoto.

Veio de um terminal aberto no interior do grande shopping em formato de C.

Era o farol de um táxi.

O táxi leve de teto alto foi inspirado nos de Londres. Era bem redondo e bonitinho.

Shokuhou Misaki estava usando seu telefone enquanto andava.

Ela parecia ter usado um aplicativo de chamada de táxi.

"A gente não pode andar pela cidade toda vestidas assim, né?"

"Não, não podemos," Mikoto admitiu sinceramente.

Sim...

"Você está vestida de maneira tão provocativa que parece uma criadora de conteúdo desesperada por inscritos. Se você estivesse andando assim por aí, a Anti-Skill apareceria num piscar de olhos mesmo estando cedo."

"Ah. Eu não quero ouvir isso de uma garota marchando por aí numa combinação muito mais bizarra de uma garota de 14 anos e uma roupa de lu- gbhbhbhbhbhbhbbh!?"

Ah, pelo visto a corrente na bolsa dela também podia ser usada em estrangulamentos.

O shopping ainda não tinha aberto oficialmente, então a escada rolante não estava funcionando. Após descerem por ela manualmente para chegar ao térreo, Mikoto e Shokuhou entraram no banco de trás do táxi.

A motorista era uma mulher. Talvez isso fosse algo que o aplicativo deixasse pedir.

"Pra onde?"

"Pra a escola do ensino médio do Distrito 7 que foi reconstruída recentemente. Aquela que hoje precisa de roupas pretas como essa pra entrar."

"Certo."

Foi tudo que a motorista disse.

O táxi entrou na rua suavemente.

A motorista desligou o anúncio excessivamente brilhante no LCD.

A roupa japonesa quente de Mikoto era fofa o suficiente para transformar o simples ato de colocar o cinto em um desafio. Após garantir que o ouviu prender, ela suspirou.

"E aí, a gente vai dividir a passagem meio a meio?"

"Sinto muito, mas esse é um carro alugado com um contrato que atualiza a cada seis meses, então a distância de uma corrida assim quase não tem um preço. Ou você tá oferecendo pagar pelo ano inteiro?"

"Vai pro inferno."

O contexto rico delas tinha seus prós e contras. Ostentar com veículos assim costumava causar em qualquer lugar, mas em Tokiwadai algumas garotas contratavam até helicópteros. E diferente de filmes, eles não podiam pousar em qualquer lugar telhado de prédio, o que os tornava muito inconvenientes para navegar a cidade.

O táxi...ou era um carro de aluguel, tecnicamente? O que quer que fosse, o carro viajava suavemente.

A cidade tinha uma sensação única de manhã cedo.

Alguns dos restaurantes estavam servindo seu cardápio matinal, mas a maioria dos outros estabelecimentos do setor de serviços mantinham as portas de metal fechadas. A cidade ainda não tinha acordado de seu sono. Em alguns lugares, ambos os lados da rua principal rejeitavam seus clientes.

Não.

Era algo além disso?

"..."

Já que ela não tinha nada para discutir com a rainha ardilosa, Mikoto olhou pela janela.

A Cidade Acadêmica estava destruída.

Prédios aqui e ali estavam cobertos por placas de isolamento acústico, e equipamentos de construção, como escavadeiras e caminhões betoneira, circulavam por todas as direções nas ruas da manhã. Em alguns cruzamentos, os semáforos estavam apagados e adultos direcionavam o trânsito. Eles deviam estar usando uma tecnologia de cancelamento de ruído, mas uma inspeção mais detalhada revelou o brilho da solda sendo feita tão cedo pela manhã.

Anna Sprengel, Christian Rosenkreutz e Alice Anotherbible. Os reparos da cidade haviam sido atrasados por um incidente atrás do outro.

(E eu nem estive envolvida em tudo.)

O resultado seria diferente se ela estivesse?

Mikoto não tinha certeza de que poderia sobreviver a um incidente que nem mesmo aquele idiota conseguiu superar.

Ela não sentia como se ela tivesse sobrevivido.

Ela havia sido deixada para trás.

Aquilo resumia seus sentimentos com precisão.

Aqueles que perderam suas vidas podiam ter ficado furiosos ao a ouvir dizer isso.

Ela viu uma cidade de preto, branco e cinza.

O exterior bonito havia sido arrancado.

Só de olhar pra aquilo, uma tristeza a abateu como cinzas vulcânicas.

Ela murmurou algumas palavras com seus olhos ainda direcionados à janela.

"...Falta muito?"

"Estamos quase lá."

4

No aeroporto internacional em Haneda.

Kanzaki Kaori era japonesa, então ela sabia se misturar com a multidão facilmente (a katana de 2m que ela escondeu em sua bagagem também). Ela sabia que tinha sido escolhido para este papel por causa disso.

Os Amakusa estavam sendo protegidos pela Igreja Anglicana atualmente.

Isso naturalmente afetava suas ações.

(Mas...)

Ela estava chamando muita atenção.

E não era porque ela estava vestindo uma blusa que exibia sua barriga e jeans com uma perna cortada na base da coxa.

"Por quanto tempo você vai continuar chorando?"

"Mas...mas..."

Ela estava com Itsuwa.

Eles haviam recebido a notícia da morte do garoto há algum tempo. Ainda assim, Itsuwa esteve desse jeito o voo inteiro. A comissária de bordo olhava preocupada pra ela e a criança num assento próximo havia rido, provavelmente porque achou que ela estava sendo dramática por causa de um filme.

No entanto, ela deveria ser um membro da Igreja Amakusa e permanecer fiel à sua fé, mesmo que isso significasse se esconder.

Quando Itsuwa finalmente respondeu, seus olhos estavam vermelhos de tanto ela esfregá-los.

Tatemiya, Tsushima e os outros conseguiram se conter, mas Itsuwa não.

"Isso não te incomoda, Alta Sacerdotisa? Quero dizer...podemos nunca...nunca mais vê-lo outra vez."

"..."

Kanzaki havia falhado em salvar alguém.

Ela sempre insistiu que iria salvar a todos, ainda assim este era um sentimento familiar para a Santa Kanzaki Kaori. Ela sempre era a única a sobreviver e o mundo nunca mudou.

Ele estava morto, mas o tempo não para.

Impiedosamente.

Não, ela não podia apenas deixar a morte acontecer e seguir em frente. Havia muito a ser feito porque alguém morreu.

Kanzaki suspirou levemente.

O cheiro do curry matutino flutuava no ar, possivelmente vindo do saguão. Era só um dia como todos os outros.

O Distrito 23 da Cidade Acadêmica era um aeroporto internacional. Havia voos diretos para lá da Inglaterra. Então por que a Amakusa havia entrado no Japão através de Haneda, que era fora da cidade?

Kanzaki Kaori silenciosamente pediu por confirmação.

"Você sabe o que temos que fazer, não sabe?"

"Shim..."

5

A Cidade Acadêmica cinzenta estava caindo aos pedaços após tantas batalhas consecutivas.

Um carro longo e polido dirigiu lentamente pela cidade, destacado demais entre todo o dano que havia ocorrido rápido demais para ser reparado.

Ele era preto e dourado.

Era um carro fúnebre.

Devia haver algum entendimento tácito por que os trabalhadores direcionando o trânsito giravam seus bastões vermelhos pra manter o carro em movimento.

A Cidade Acadêmica tinha o diferencial de uma população onde 80% das pessoas eram estudantes. Os alojamentos eram majoritariamente dormitórios estudantis. Isso mudou bastante os métodos de velórios e funerais quando comparados à cidades comuns. Por exemplo, a maioria das pessoas não tinham parentes consanguíneos na cidade, então o corpo não era levado pra casa para o velório após a confirmação da morte num hospital. O velório ocorria num salão de cerimônias ou o corpo era mantido no necrotério por mais um tempo.

Aliás, os funerais normalmente ocorriam na escola do estudante.

Isso tinha vários motivos: ajudava a reduzir o impacto da morte nos professores e estudantes, quaisquer instalações especializadas para esse propósito seriam muito poucas para cobrir todos os mortos da cidade, e acima de tudo, fazia uma declaração clara de quem tinha jurisdição sobre um corpo que passava pelo programa de desenvolvimento de habilidades.

Como um todo, isso significava que não tinha como esconder a data de um funeral.

Por este motivo, se você soubesse o ponto de partida e a destinação final – o hospital do doutor com cara de sapo e uma escola do ensino médio comum, neste caso – você poderia prever qual rota o carro fúnebre tomaria. Ajudava que o comprimento incomum de um carro funerário limitava quais ruas ele podia usar.

Um prédio estava inclinado após sua reconstrução ser adiada.

No seu teto, o Humano Aleister agarrou o corrimão retorcido e encarou intensamente o chão.

O carro fúnebre não podia estar mais vulnerável.

Ele podia imaginar que eles não estavam cientes do valor do que carregavam.

O golden retriever do seu lado falou azedamente.

"Não faça isso."

"Mas essa é a última chance."

"Despeça-se dele. Como um verdadeiro amigo faria."

"Eu sei!! Mas essa é a única chance para roubar o corpo intacto!" ele rugiu.

Qualquer um podia escolher fazer a coisa certa. Mas havia caminhos que não podiam ser alcançados desse jeito. Ao longo da história deste humano, ele havia sido desprezado por trilhar estes caminhos.

Ele não pediu pela compreensão dos outros.

Ele havia aprendido muito bem ao longo de sua vida que alguém que fingia intelectualismo fazendo críticas de uma posição de segurança nunca poderia direcionar a história para um rumo positivo.

Se ele ia mudar as coisas, tinha que ser agora.

Chances eram escorregadias. Elas se reduziam em tempo real.

E elas nunca aumentavam.

"Ela vai estar no crematório em algumas horas!! Quando seus ossos forem queimados e não sobrar nem um fio de cabelo pra recuperar o mapa do DNA, estará tudo acabado. Aí eu realmente ficarei impotente. ...Fazer a coisa certa? Besteira. De que adianta isso além de um bálsamo para aliviar as dores do fracasso??? É assim que sempre funciona na minha vida! É tarde demais para se arrepender das suas ações quando tudo acaba!!"

A morte do garoto já havia sido confirmada.

Ele já não podia mais ser revivido com choques elétricos ou uma massagem cardíaca.

Por quê?

Por que ficar obcecado com a presença do corpo a essa altura?

Por que ele deve roubá-lo intacto?

A opinião de Aleister era simples.

Ele simplesmente não podia aceitar isso.

Ele havia visto o momento da morte mais vezes do que ele podia contar.

Mas isso não significava que ele havia se acostumado.

"A Cidade Acadêmica possui tecnologia de clonagem."

Qualquer um se sentiria desse jeito.

Se havia um meio de anular a morte, qual era o problema de confiar nele?

Essa realmente podia ser a última chance. Então lute. Ele não tinha a obrigação de desistir honradamente e proteger a ordem natural.

Ele gritou.

Com todas as suas forças.

"E os trajes motorizados com dispositivos de suporte de vida, tecnologia cibernética, fantasmas artificiais ou até mesmo dar ao cadáver preservado dele movimento autônomo!? É, ele está morto, mas e daí? A morte não é motivo para desistir!! Se eu cometer todos os erros eu mesmo, então ele pode sorrir de novo neste mundo!!!"

O golden retriever não disse nada.

Aleister tinha que saber que ele estava errado.

Mas Kihara Noukan entendia o quão tolo era rejeitar as emoções de alguém baseado naquilo que era logicamente correto. Além disso, a família Kihara não via importância no que o público considerava ser "correto".

Aleister era um humano de ponta a ponta.

Pro melhor ou pro pior.

Kihara Noukan, na verdade, gostava desse lado mais bagunçado dele. Isso era um fato.

"Mas."

O golden retriever usou um fino braço mecânico para colocar um charuto em sua boca.

E ele preparou um isqueiro especial para acendê-lo.

"Nem todos vão entender sua ideia de romance."

Sem aviso e de maneira tão barata quanto o drama de uma TV, uma chuva fria começou a cair.

Kihara Noukan encarou o seu charuto cubano de maior qualidade de maneira desapontada.

Os tetos eram propriedade privada, então o regulamento sobre não fumar da Cidade Acadêmica não deviam se aplicar neles.

"..."

Não haviam sinais de sua chegada.

Aquela chuva era simplesmente anormal.

Mas também, talvez fosse errado procurar por alguma coisa normal dentro da Cidade Acadêmica pra começo de conversa.

Uma voz falou de dentro da chuva torrencial.


"Fica frio aí."


Ele não estava lá de verdade, é claro.

A voz familiar não estava sendo reproduzida por um alto-falante. Até mesmo um pesquisador com o nome Kihara estava levemente impressionado.

"Esse é o som da chuva caindo. Então você está sobrepondo sua voz nas vibrações das gotas em si?"

Enquanto isso, o humano falou em baixo tom.

Como se estivesse murmurando uma poderosa maldição.

"O novo Presidente do Conselho, é?"

"E se liga. Você não tem uma escolha aqui. Aquele merda esgotou todas as suas opções naquele dia. É só isso. Nenhum de nós pode aparecer depois do fato e começar a bagunçar as coisas."

Aquela chuva não apenas parecia ser artificial.

Ela verdadeiramente era uma chuva artificial criada pela tecnologia da Cidade Acadêmica.

Ele podia controlar livremente o clima e ambiente do mundo inteiro, mas a vida de uma única pessoa estava além de seu alcance. Controlar tanto conhecimento grandioso não era o suficiente para fazer alguém feliz.

Mas isso não foi o suficiente para extinguir a obsessão de Aleister, que queimava tanto quanto lava ardente.

Como vapor, uma emoção incrível subiu de seus ombros.

"Você não pode deixar isso acontecer, né? Você deve entender. Ele não precisava morrer. Anna Sprengel, Christian Rosenkreutz e Alice Anotherbible – esses são os problemas que deveríamos ter resolvido! Mas ele carregou isso tudo em seus ombros quando ele não precisava!! E agora você vai desistir? Certamente você entenderia! Se nós seguirmos a moralidade ordinária que todos entendem, nós vamos o perder para sempre!!"

"Sim," admitiu Accelerator.

Ele aceitou a possibilidade de que algo que deveria ter acabado podia ser forçado a continuar usando um método cruel e grotesco.

Se tudo que você quisesse era fazer com que a carne e ossos chamados de Kamijou Touma continuassem a operar, isso podia ser feito.

Você podia remontar o cérebro parado e mandar sinais elétricos por ele outra vez. Mas era só isso.

Entretanto.

Mesmo assim...

"Mas essa não é mais a sua cidade."

"Kh."

"Eu não a roubei de você. Você me deu as chaves pois estava satisfeito. Voltar agora e tentar pegar ela de volta é só triste."

Ele não estava com a cabeça no lugar.

Ele sabia o que isso significava.

Ele tinha suas próprias opiniões no assunto. Mas Accelerator parecia estar lutando contra suas próprias emoções. E o Nº 1 sabia o que acontecia quando suas emoções e sua razão lutavam e as emoções venciam. Após rastejar pela escuridão daquela cidade, ele sabia muito bem.

E ele sabia aquele caminho sangrento não levava a lugar algum.

Então ele mostraria que seu desejo de não voltar atrás e de manter seu caminho como uma via de mão única era mais do que um mero jogo de palavras.

"Eu sei," disse o novo Presidente do Conselho. Sua voz estava firme. "Após participar daquele experimento para matar 20 mil clones, eu sei o que significa morrer. Os vivos estão livres para resistir à morte. E eu acho que eles deveriam. Mas alguém mexendo com outra pessoa que já morreu é algo totalmente diferente. É semelhante mas tão diferente, Aleister."

A quantidade de 20 mil clones havia sido reduzida para menos de 10 mil.

Ele podia pagar por seus pecados usando as mesmas células para produzir outras 10 mil garotas com o mesmo rosto?

Nem fodendo.

...Aquelas palavras não dias deixaram Aleister atordoado.

Mesmo um idiota podia compreender isso.

Accelerator estava indiscutivelmente correto aqui.

O charuto molhado e apagado de Kihara Noukan se mexeu inutilmente em sua boca.

(Os clones militares, é? Aquele experimento devia evoluir o Nº 1. Ou pelo menos essa era a história oficial. Ele o levou a um crescimento numa direção inesperada, mas você ainda é aquele que deu o empurrão, Aleister.)

"As pessoas não devem profanar a morte dos outros. A questão não é se isso é possível. O fato de que é tecnologicamente possível é a razão pela qual devemos mostrar moderação."