Owarimonogatari: Volume 3 ~Brazilian Portuguese~/Inferno Mayoi/004

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004[edit]

"Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh!"

Eu grito. Eu guincho com todas as minhas forças.

"Inferno?! Inferno?! O Inferno Avicii?!

"Sim, isso mesmo. O Inferno Avicii. É o Raurava que é o inferno 'gritante', então eu gostaria que você parasse com isso. É um pouco barulhento."

"Você realmente esperou que eu não gritasse?! Eu sinto que pertenço ao inferno 'grandemente gritante' agora!"

"Como eu estive lhe dizendo, este é o Avicii. Você ficará encrencado se espalhar informações falsas."

"Você não tá ajudando!"

Inferno, sério...? E o Inferno Avicii, de todos os lugares!

A propósito, há uma curiosidade sobre os diferentes níveis do Inferno (fonte: Tsubasa Hanekawa).

Existe um conceito chamado de Os Oito Grandes Infernos — essencialmente, existem oito níveis de Inferno, e quanto mais você descer neles, piores eles ficam. Do nível mais alto ao mais baixo, são eles: 1) Sañjīva, o Inferno "ressuscitador"; 2) Kālasūtra, o Inferno do "fio negro"; 3) Samghāta, o Inferno "esmagador"; 4) Raurava, o Inferno "gritante"; 5) Mahāraurava, o Inferno "grandemente gritante"; 6) Tapana, o Inferno "ardente"; 7) Pratāpana, o Inferno "grandemente ardente"; e 8) Avicii, o Inferno "ininterrupto".

Existem outros Oito Infernos Frios em paralelo àqueles previamente mencionados, mas eu vou omitir essa parte da explicação agora. O nível mais baixo dos Infernos, Avicii, é dito como sendo mais horrível que os outros sete combinados — o Naraka final, o Inferno dos Infernos. Noutras palavras, entre todos os pecadores que são enviados ao Inferno, apenas os piores dos piores acabam lá. Você poderia chamar isso de a educação definitiva a ser encontrada no Inferno. Esse é o Avicii, em resumo.

"Ah, qual é! Eu não era exatamente alguém aprumado, e eu nunca pensei em mim mesmo como o tipo de cara que poderia ir ao Paraíso, mas eu não mereço o nível mais baixo do Inferno! Se você tem que me mandar pra aqui embaixo em algum lugar, pelo menos me deixe ao redor do Sañjīva! Isso quebra totalmente a suspensão de descrença!"

"Bem, eu acho que a suspensão de descrença já foi partida uma vez que o Inferno entrou em cena."

Hachikuji parece estar num bom humor. Ela deve estar se divertindo me vendo surtar — que garota perversa. Bem, eu já ouvi que quando as pessoas veem alguém mais entrando em pânico, é mais fácil para elas se distanciarem e olhar a situação objetivamente...

"Não, sério, não enlouqueça demais só porque é o último livro. Inferno? Quê? O nosso universo sequer deveria ter um Inferno; ou qualquer forma de uma vida após a morte?"

"Acho que é mais louco não existir nenhum Inferno em um mundo que tem esquisitices..."

"..."

Shinobu disse algo assim para mim uma vez. "Se existem esquisitices, então pode existir viagens no tempo". Pelo menos o Inferno faz mais sentido do que saltar por aí no tempo...

Ainda assim, é difícil negar que, hoje em dia, conceitos como o "Paraíso" e "Inferno" carregam um tom sobrenatural, ou melhor, fantástico. Claro, isso pode se aplicar somente ao Japão, em que muitas crenças religiosas se misturaram juntas...

"Embora eu imagino que esse tipo de coisa não seja incomum. Como um mundo em que mágica existe, mas ninguém acredita em adivinhação. Isso é mais um problema com o equilíbrio do cenário e do funcionamento do universo, mas também existem mundos em que animais falantes existem, mas as pessoas continuam a comer carne."

"Quero dizer, eu entendo o que você tá tentando dizer aqui... Mas ainda assim, se você só aparecer e me contar que eu tô no inferno, é um pouco difícil de acreditar. Afinal..."

"Você certamente gosta de se ater aos detalhes. Você não pode ser um pouco mais mente-aberta?"

Veja. Eu não vou ser enviado ao Inferno com uma mente aberta.

"Araragi-san, em vez de falar sem pensar e perder a sua cabeça em um pânico vergonhoso o tempo inteiro, você precisa da habilidade de se adaptar a novas situações. Certo, assim como um personagem de Izuki Kawahara."[1]

"Não dê um exemplo tão específico."

"O quê, você é uma dessas pessoas que negam a existência de uma vida após a morte? E mesmo após morrer de um modo tão exagerado também..."

"Não exatamente..."

Se eu parar para pensar nisso, não faz muito sentido negar a existência de uma vida após a morte após reconhecer a existência de um "fantasma" como Mayoi Hachikuji, ou mesmo um "zumbi" como Yotsugi Ononoki. Acho que eu deveria considrar isso como uma aceitação implícita.

Embora, quando o assunto é vampiros, pelo menos, ouvi falar que — falando estritamente — eles só vivem sem morrer em vez de voltarem dos mortos, então isso não contradiz nada...

"Mas, não sei, se tem outra vida após a morte, isso meio que confunde as coisas..."

"Hm? O que isso confunde?"

"Bem, o sentido da vida, eu acho... Faz parecer que a sua vida é só um prelúdio do que vem a seguir. Independente de se você acabará indo ao Paraíso ou ao Inferno, se existe mais vida após você morrer, existem menos motivos pra você viver com tudo que tem... Isso meio que, sabe, enfraquece a severidade da vida e da morte."

"E o que é tão ruim em enfraquecer a severidade da vida e da morte? Ou você é um fã de histórias escritas pelo pessoal 'Eu sei que o mundo não é um mar de rosas, moleques, é por isso que tô escrevendo'?

"..."

Isso parece mais um tipo de história. Ou eu deveria dizer, essa é uma maneira de se colocar isso.

"Oh, mas existem muitas histórias assim. Sabe, em que os personagens são mortos por uma dúzia, e garotas jovens sofrem, e as crianças são colocadas em um espremedor, e o mau puro descende sobre o mundo, e tudo é cruel e injustificável, tudo isso para tornar a história mais 'realista'. Esse tipo de história."

"Entendo o que você tá tentando dizer, mas o uso da palavra 'tipo' mostra um desdém tão óbvio que, pra ser perfeitamente sincero, não me faz querer realmente discutir com você sobre isso..."

"É uma classificação científica."

"Errado."

"Meu ponto é que, em vez de escrever sobre a verdade desprezível, nós também poderíamos escrever uma fantasia charmosa. Sonhar não faz mal."[2]

"Sério, pare de citar o Izumi Kawahara nisso."

"Nunca é tarde demais. Nós podemos, também, aspirar por esse tipo de mundo."

"Não vai rolar!"

É tarde demais! Não podemos fazer isso em apenas um volume! Nós não poderíamos nem mesmo fazer isso com mais cem volumes! Não importa o quanto lutemos, um mundo puro como esse está totalmente fora do nosso alcance!

"Acho que você está certo. Talvez a distinção entre puro e impura jaz em se uma garotinha como eu é descrita como uma 'colobockle' ou uma 'loli'."[3]

"De jeito nenhum."

"Ainda assim, podemos começar trabalhando nisso pouco a pouco? As épocas estão somente ficando mais duras."

"A gente já tá no fim, de qualquer jeito, então não tem sentido. Deixando isso de lado, vamos examinar o problema de eu ser enviado ao Inferno. Vamos cavar essa discussão um pouco mais a fundo."

"Tragicamente, não existe nenhum Inferno além deste para se cavar..."

Ela está exatamente certa. Este é o nível mais baixo do Inferno. O próprio fundo — Avicii.

"Você disse 'tragicamente', mas eu diria 'ironicamente'. Em pensar que o 'A' em 'Araragi' significava 'Avicii'... Nunca percebi que o prenúncio poderia ter sido armado tão longe em adiantamento, mas ele esteve desde o dia em que eu nasci."

"Acho que você pode estar esticando um pouco aí..."

"Ouvi falar que o Avicii é cheio de chamas que se estendem até onde a vista alcança, então talvez as Irmãs de Fogo contem como prenúncio também."

Hm?

Dito isso, este parque não parece particularmente envolto em chamas... A Hachikuji disse que ele era uma "recriação" também. Por que haveria uma recriação do Paraque "Rouhaku" no Inferno Avicii? Que tipo de pano de fundo este deveria ser?

... Não, isso não é tudo. Se este é o Inferno Avicii... há um grande problema que vem a mente.

"Um grande problema? Oh, você está se perguntando por que você foi enviado a um nível de Inferno tão baixo, não está? Acho que você pode descobrir essa se pensar um pouco nisso."

Uh, como era mesmo? Deixe-me puxar isso da minha enciclopédia — fonte: Tsubasa Hanekawa — um pouco mais.

O Inferno Avicii é onde os pecadores mais hediondos vão, mas que pecados específicos podem te levar a ser enviado para cá mesmo...? Não eram coisas do tipo matar os seus pais? Claro, eu me tornei um filho bem ruim após ter entrado no colegial e comecei a cair na trilha do fracasso, mas eu certamente nunca matei os meus pais, ou sequer pensei em fazer isso...

"Não isso. Pense nisso — você é um vampiro, não é?"

"Hm."

"Você foi e resgatou um vampiro. Você certamente tem muitos outros pecados pelos quais responder, mas esse é aquele que lhe aterrisou aqui no Avicii. Você salvou um demônio. Claro que isso seria uma passagem direta ao Inferno."

"Assim como Taro Urashima salvou uma tartaruga e foi levado para o Palácio do Deus Dragão, no fundo do mar,"[4] diz Hachikuji, mas tenho quase certeza de que esse foi um cenário completamente diferente. Que analogia horrível. "Isso não tem nada a ver com nada, mas é bem divertido trocar os gêneros da história e imaginar o conto de Hanako Urashima[5]. Ela teria um Deus Dragão alto e forte esperando por ela a suas mãos e pés."

"Não cite algo que não tem nada a ver com nada. Qualé, 'Deus Dragão'? Ele parece um poço de energia."

Entendo, então foi a minha vampirifação...

Oh, certo, acho que matar um santo era outra maneira de ser enviado ao Avicii... Tão indireto quando posso ter sido, eu estava envolvido nas mortes de Guillotine Cutter e Tadatsuru Teori, então eu terminar aqui pode ser justificado por essa lógica também. Não que eu realmente queira pensar nisso dessa maneira...

"Putz. Não importa o motivo, ser enviado ao Inferno com certeza é depressivo. Parece uma destituição de tudo que eu fiz com a minha vida..."

"Minhas condolências. Você verdadeiramente tem as minhas simpatias mais sinceras."

"..."

Espera, esqueça sobre se eu me sinto ou não depressivo agora. O grande problema que eu tinha não era sobre qual foi o meu próprio pecado. Vamos parar de pensar sobre mim por um segundo.

Era sobre a Hachikuji. Era sobre Mayoi Hachikuji, a garotinha de pé diante de mim, a garotinha com a qual eu havia acabado de me reunir. Chame-a de uma "loli" ou uma "colobockle", eu não ligo — mas o que ela está fazendo num lugar como este?

Espera, o quê?

Não, sério, o que você está fazendo aqui?!

"'O quê', você pergunta?" Hachikuji, que tinha alegremente me assistido surtar, parece um pouco irritada quando o assunto é voltado para ela mesma. Um pouco irritada, ou talvez apenas um pouco insolente.

"Bem, sabe, eu fui para o Inferno."

Mas ela sai bem disso com isso. Ela diz isso indiferentemente, sem nenhuma sombra de pesar em seu tom. E ainda assim, essa era quase a declaração mais pesada na qual eu poderia pensar...

"Eu fui para o Inferno."

Isso é pesado pra caramba!

"De fato, faz uma gag bem engraçada."

"Não é engraçado, é só sombrio!"

"Este foi o prenúncio que eu fiz quando eu mencionei o um milhão de graus de bolas de fogo do Z-ton antes, logo no início."

"Agora isso sim é esticar! O quêeee? Você deve tá de brincadeira comigo! Você foi para o Inferno depois de fazer uma mostra tão tocante de passagem?! Sério?! Tá tudo arruinado agora! Que diabos você acha que tá fazendo?! Isso é inacreditável!"

"Se você pensa que é inacreditável ou não, aqui estou eu. Se você agirá como alguém que fez um festa de despedidas para um veterano com o sonho de se tornar um músico, apenas para encontrá-lo novamente dez anos depois e descobrir que ele na verdade se tornou um empresário trabalhador, temo que estou tão sem resposta quanto um empresário estaria."

"Você indo pro Inferno não é um cenário tão crível quanto esse! O que você quer dizer, negócios?! Que tipo de mudança de carreira é essa?! Eu nunca poderia ter visto isso vindo! Isso está no nível de um aristocrata falido — como poderia alguém cuja inocência era tão desempenhada quanto a sua ser enviado ao Inferno?! Você cometeu algum tipo de crime terrível enquanto esteve viva do qual eu nunca ouvi falar sobre até agora?!"

Os onze anos que ela passou vagando por nossa cidade como uma criança perdida não deveriam contar. Isso tudo aconteceu após ela morrer, e são somente os pecados que você cometeu durante a sua vida que são julgados no Inferno.

Mas como uma garota de dez anos de idade poderia cometer um crime terrível o suficiente para enviá-la ao Inferno? Embora, espere, aparentemente é possível acabar no Inferno por conta de pecados surpreendentemente triviais, ou por motivos completamente insondáveis. Claro, essa é só outra coisa que eu aprendi da fonte: Tsubasa Hanekawa.

"Imagino que você poderia chamar isso de um crime terrível," diz Hachikuji, enquanto tenta me pacificar. "Eu não sabia disso até acabar aqui eu mesma, mas se uma criança morre antes de seus pais, elas são atiradas direto ao Inferno, sem exceções."

"Ah..."

Desrespeito aos pais por deixar o mundo antes deles... não é? Certo, certo, é aquela coisa toda de empilhar pedras ao leito de rio Sai no Kawara.[6]

A Hachikuji deixou a casa de seu pai no Dia das Mães para ver sua mãe... e após se aventurar sozinha, deparou-se com um acidente automobilístico e perdeu sua vida antes de alguma vez chegar ao seu destino. Isso aconteceu 11 anos atrás, então não tenho certeza de qual é o estado dos pais de Mayoi Hachikuji no presente, mas eles estavam, pelo menos, ainda vivos quando ela morreu. Noutras palavras, Hachikuji faleceu antes de tanto sua mãe quanto seu pai.

Logo. Ela acabou no Inferno — ela foi enviada ao Inferno.

"... Você deve tá de brincadeira comigo."

E ainda assim, essas foram as únicas palavras que consegui pronunciar.

Eu posso ter elaborado o motivo, mas é difícil aceitá-lo logicamente — é impossível aceitar.

No passado, poderia ter existido uma tendência de se considerar morrer antes dos pais como sendo uma forma de desobediência — e talvez ainda exista mesmo agora — mas essa maneira de se pensar não leva nenhuma consideração para os arrependimentos da criança que morreu. Não é como se a Hachikuji tivesse morrido antes de seus pais porque ela queria. Ser forçada a empilhar pedras todos os dias é uma penalidade muito bruta para isso... Mesmo que você pudesse considerar isso um tipo de pecado, o fato de que ela morreu deveria ser considerado uma punição mais do que suficiente por si só.

"..."

"Hm? O que tem de errado, Araragi-san?"

"Bem, eu tava tremendo de raiva por conta da injustiça inacreditável disso tudo... mas pra perceber, apesar disso, que tem algo mais de errado aqui é o meu trágico destino como um detetive mestre."

"Você não tem uma única qualidade de um detetive mestre. Toda vez em que um quebra-cabeça tinha sido apresentado a você, alguém mais sempre tem achado a solução para o mistério para você."

Isso é bruto. Mas ela está exatamente certa.

"Então, o que você percebeu?"

"Eu ainda quero enfatizar as minhas preocupações quanto a você acabar no Inferno depois de toda aquela despedida emocional, mas se eu generosamente, além de generosamente, conceder esse ponto e deixar isso de lado por enquanto, esse ainda não é um pecado grave o suficiente pra deixar você aqui comigo no Avicii, é? Você deveria tá empilhando pedras no leito de rio Sai no Kawara... certo?"

Eu não sei muito sobre isso eu mesmo, mas se eu alongar a minha memória ao seus limites e me lembrar do que a Hanekawa disse, é assim que deveria funcionar. Sai no Kawara é o leito do Rio Sanzu e um lugar que você poderia chamar de a entrada para a entrada do Inferno. As criançaças constroem torres de pedra em honra aos seus pais, e cada vez que elas fazem isso, um demônio — um ogro, não um vampiro — vem e os destrói. Claro, é um Inferno bem severo pelo qual fazer uma criança passar, mas o Jizo Bodhisattva as resgata antes de ser tarde demais, então você poderia dizer que é um inferno sem um plano de resgate. Uma versão diluída do Inferno. Quando comparado à crueldade do Sañjīva, em que as pessoas experimentam a tortura de serem mortas por demônios do Inferno e trazidas de volta à vida de novo e de novo, é amenizado o suficiente para ser igualada a uma mera repreensão.

Eu já suportei uma batalha de brutalmente morrer e reviver como um vampiro, então eu entendo isso nesse sentido, Sañjīva pode ser um Inferno morno demais para o qual me atirar, mas não é estranho que Mayoi Hachikuji, cujo único pecado é "morrer antes de seus pais", esteja aqui, no Inferno Avicii?

"Impressionante. Você é bem afiado, Araragi-san. Acabei de dizer que você não tem nenhuma das qualidades de um detetive mestre, mas você pode realmente ser Sherlock Holmes renascido."

"Eu tô morto, no entanto."

Além disso, eu não sou tão afiado. Qualquer um poderia perceber isso após pensar um pouco nisso. Por exemplo, tenho certeza de que a própria fonte do meu conhecimento, Tsubasa Hanekawa, perceberia isso no momento em que ela viesse a ficar cara-a-cara com a Hachikuji.

Bem, acho que não teria como a Hanekawa acabar no Inferno, em primeiro lugar... Ou, espera, talvez eu não devesse ter tanta certeza disso? Se a Hachikuji e eu fomos enviados para cá sem nenhum espaço para discussão, é difícil dizer se ela mesma reservou um ingresso para o Paraíso após todas as coisas que ela fez como Black Hanekawa.

"Talvez chamar aqui de Avicii foi só uma piada ruim sua, e meu pecado foi na verdade só ter morrido antes dos meus pais, que nem você, então aqui realmente é o Sai no Kawara?"

Claro, aqui é um parque, não o leito de um rio — mas com certeza também não parece ser um turbilhão de chamas.

"Por favor, não tente rastejar seu caminho para fora de sua situação na primeira oportunidade que vê. Avicii é o Inferno no qual você pertence."

"Quando você enfatiza isso tão fortemente, faz parecer que já era óbvio que eu iria pro Inferno..."

Eu era tão ruim assim? Não consigo imaginar uma conclusão tão depressiva para se chegar após 17 volumes.

"Sim, isso mesmo, Araragi-san," diz Hachikuji mais uma vez. "Eu sabia que era aqui você acabaria — vi isso vindo antes do tempo. Era óbvio. Então eu fiz uma viagem de negócios para longe de Sai no Kawara, onde eu deveria estar, para vir lhe pegar."

"M... me pegar?"

"Sim. É um pouco como uma recepção de boas-vindas. Eu estava até mesmo planejando lhe trazer uma grinalda assim como um havaiano faria, mas eu desisti porque parecia ser trabalhoso demais."

"Foi um motivo psicológico desses que te parou?"

Bem, acho que eu não saberia que cara fazer se eu fosse recepcionado no Inferno com uma grinalda de flores. Se ela me fizesse uma grinalda de lírios-da-aranha-vermelha, seria trabalhoso demais para eu vir com uma reação.[7]

"Eu consegui escapar explicando que um amigo estava ficando por perto, então eu estaria tirando um dia de folga de empilhar pedras."

"Sai no Kawara é tão folgada assim?!"

"Nesses dias as pessoas começaram a surgir para uma visita casual durante suas experiências de quase-morte, então se tornou em algo como um ponto turístico."

"Você não pode tá séria."

"Eu tenho um bocado de influência entre os demônios do Inferno. Eles me deixam sair em vista. Oh, opas, este é o Inferno, então eu imagino que deveria dizer que eles me deixam sair em batida."

"Eu não tive aqui por tempo o suficiente pra pegar as piadas do Inferno, então, por favor, pare de fazer elas."

Eu não sei o quanto do que ela está dizendo é uma piada... mas a declaração de ela saber antes do tempo chama a minha atenção. Claro, ela não poderia ter vindo me pegar se não soubesse antes que eu estava vindo... mas ela realmente viu isso vindo?

"Sim", diz Hachikuji. "Embora, talvez não seja certo dizer que eu vi isso vindo — eu 'sabia' disso."

"Sabia?"

"Sim. Eu sabia que você seria morto pela Gaen-san e acabaria aqui embaixo."

"... Você... sabia disso tudo?"

"Não, mais especificamente, é a pessoa que me contou disso que sabia."

"A pessoa que sabe de tudo — aparentemente."

Mayoi Hachikuji diz isso como se estivesse retraçando memórias do passado.

Notas do Tradutor[edit]

  1. Izumi Kawahara é uma mangaka famosa dos anos 80. As obras dela geralmente são muito emotivas e idealistas, grandemente cheias de personagens doces e bem intencionados.
  2. Essa é mais uma referência a Izumi Kawahara. "Sonhar não faz mal" (ou, em japonês, "Yume datte ii ja nai") é o subtítulo de uma história spin-off de seu mangá mais famoso, "Warau Michael".
  3. No mangá de Izumi Kawahara previamente mencionado, "Warau Michael", um dos três personagens principais é uma garota baixa que é apelidada de "a Colobockle". Os Colobockles são uma raça de pessoas pequenos no folclore da tribo Ainu do nordeste das ilhas japonesas.
  4. A história de Taro Urashima é uma lenda japonesa muito famosa. É o conto de um pescador que resgata uma pequena tartaruga. Acaba que a tartaruga na verdade era a filha do Imperador do Mar, que quer vê-lo e agradecê-lo, então Taro é trazido ao seu castelo (o Palácio do Deus Dragão) no fundo do mar. Lá, ele passa seu tempo com Otohime, a tartaruga que ele salvou, que agora é uma linda princesa. Enquanto ele acredita que passou apenas três dias lá embaixo, quando ele retorna à superfícia, descobre que 300 anos se passaram e todos que ele conhecia já morreram há muito tempo.
  5. "Taro" é um nome masculino extremamente genérico no Japão (pense em algo como "João da Silva"), e "Hanako" é seu equivalente feminino.
  6. Sai no Kawara é o "Limbo das Crianças" na cultura japonesa. É o leito do Rio Sanzu, o rio em que os mortos cruzam em seu caminho para a vida após a morte. As crianças devem empilhar uma torre de pedras a cada dia como penitência, apenas para os demônios do Inferno virem e destruir o trabalho delas antes dele ser completado. O ciclio continua até o Jizo Boddhisatva, conhecido como o guardião das crianças, vir e resgatar as crianças dos demônios.
  7. O lírio-da-aranha-vermelha — ou, em japonês, "higanbana" — é comumente associado ao Inferno na cultura japonesa.


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