Zaregoto:Volume 1: Chapter 3.2

From Baka-Tsuki
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Mentira[edit]


Chiga Teruko – Empregada Trigêmea, Irmã Mais Nova

0


Você não tem outra coisa pra fazer?


1

A Hikari-san ficou livre de todas suas atividades pela Iria-san. Parece que foi dita para ela: “Em troca, ajude a Kunagisa-san e ele”, ou algo parecido. A maneira de dizer parecia ser tranqüila, mas isso também queria dizer que <por ser a principal suspeita não posso deixar trabalho com você> e mesmo que isso não fosse tudo, isso estava incluído.

Por isso, mesmo depois do almoço nós três continuamos agindo juntos.

“Será que não podem voltar na frente?”

No meio do caminho em direção ao quarto da Kunagisa eu disse isso para a Kunagisa e a Hikari-san.

“Eu vou dar uma passada no quarto da Iria-san. Ei Tomo, aqui, leve isso.”

Eu tirei do bolso uma pequena faca e entreguei para a Kunagisa. A Hikari-san como se estivesse assustada disse, “Você anda sempre com algo tão perigoso assim?”

“Um garoto sempre tem uma faca no seu coração.”

“E uma garota possui uma pistola.”

A Kunagisa disse isso com um tom de brincadeira e pegou a faca.

“Então, vamos indo Hikari-chan.”

“Mas—“

“Não se preocupe, não se preocupe. É só deixar com o Ii-chan.”

Quase que forçadamente a Kunagisa puxou a Hikari-san. Não importa de que forma, mas só pela Hikari-san estar junto, a Kunagisa vai conseguir subir as escadas. Ter formado times de três pessoas também tinha esse sentido.

“… Então, vamos indo.”

Eu mudo de direção e me dirijo para o quarto da Iria-san.

Segunda audiência.

Antes de tudo me preparo mentalmente.

Depois, respiro fundo.

Bato na porta grossa, espero a resposta e entro. Dentro do quarto estavam, como era de se esperar pelo fato de estarem no mesmo time, a Iria-san e a Rei-san, a Akari-san e a Teruko-san, todas estavam tomando chá de maneira elegante enquanto estavam sentadas no sofá.

A Akari-san ainda parecia incomodada e fugiu do meu olhar. Parece que ela considerou a ação dela hoje de manhã como sendo uma falha. Isso é óbvio, mas se ela agir tão claramente assim, eu fico sem idéia do que fazer.

A Iria-san me viu e sorriu levemente.

“—O que você quer? Bem… Como será que era? Você disse para agir em times e logo age sozinho? Isso é um problema, já que a Hikari também está no seu time…”

“Iria-san.”

Interrompendo a frase da Iria-san eu disse.

“Assim…, Iria-san. Você ainda não tem intenção de chamar a polícia?”

“Nenhuma.”

Resposta direta.

Como se eu não fosse digno de ser alguém para conversar com ela, de maneira fria ela respondeu. Realmente incrível.

Akagami Iria-san, você é realmente esplêndida.

“Eu não acho que isso seja muito bom.”

“Você também deseja tomar chá?”

Era a Rei-san. Sem esperar minha resposta a Rei-san se levantou e andou em direção ao bule. A Iria-san olhou para a Rei-san como se quisesse dizer algo, mas logo em seguida voltou a olhar na minha direção.

“Se a polícia vier agora, você também não vai ter problemas? A razão pela qual a Akane-san foi morta foi por causa de sua idéia.”

“Se eu vou mesmo ter problemas ou não, isso agora não importa… Até dá pra dizer que eu vivo para ter problemas. Mais do que isso. Você, Iria-san, Akagami Iria-san. O que você acha de uma situação na qual você pode ser morta?”

Devido ao oferecimento da Rei-san eu sentei no lugar aberto no sofá, ao lado da Teruko-san. A Teruko-san nem fez questão de me ver. Do outro lado dos óculos escuros, o que será que ela está olhando, o que aqueles olhos vazios enxergam. Pupilas que parecem não ter foco. Não… Não é que ela não tem foco. Ela não foca em mim.

“…”

O chá estava gostoso.

A Iria-san depois de um bom tempo, como se quisesse me apressar, respondeu a pergunta.

“O que eu acho? Dessa situação? É um grande evento. Obviamente não é só isso… E me deixe perguntar o mesmo para você. O que você acha?

“É uma situação perigosa. Não tenho nenhuma intenção de ficar no mesmo lugar que um assassino.”

Não tenho nenhuma intenção de deixar a Kunagisa no mesmo lugar que um assassino. Não sei o que ela acha dessa situação. Não entendo. Mas, pelo menos eu—

“Fun. Você acha que é errado matar os outros?”

“Sim”, eu respondi imediatamente. “Mas é claro que penso assim. Afirmo isso. Não importa a razão, uma pessoa que mata as outras é a pior de todas.”

“Fun… Então, se você ficar uma situação na qual pode ser morto, o que faria? O que você faria em uma situação na qual se você não matasse, você morreria? Ficaria quieto e morreria, então?”

“Provavelmente, mataria. Eu não sou um santo. Mas, nesse momento eu me consideraria como sendo o pior humano possível. Não importa que tipo de pessoa… que tipo de pessoa seja o outro.”

“Você tem um rosto de quem já tem experiência com isso.”

A Iria-san sorriu de maneira maléfica.

Um sorriso cheio de maldade de quem tem a vantagem absoluta, de quem está com uma vantagem absurda. Fiquei pensando com quem ela se parecia.

Sim, com a Kanami-san. “Não sabe nem isso?”, com esse tipo de sorriso. Mas, como a Iria-san que não é um gênio, conseguir sorrir da mesma maneira que a Ibuki Kanami…?

“Acha que um assassino merece punição? Mas você nunca ouviu falar disso? Fazer um esquema no qual tem uma ração na frente de um rato. Se o rato for comer a ração vai passar uma descarga elétrica. O que você acha que o rato faria?”

“O rato tem habilidade de aprendizado. Ele pararia de comer a ração, não é?”

“Não. Por ter habilidade de aprendizado, ele vai comer alguma ração que não passa descarga elétrica.”

“Pessoas não são ratos.”

“Ratos também não são pessoas.”

A Iria-san juntou as duas mãos.

“… Sabe, se você diz até aí, então poderia me responder? Porque não se pode matar as outras pessoas?”

A Iria-san me fez uma pergunta que parecia que alguém do primário faria. Não parece que ela está brincando.

“Porque isso é definido pela lei, porque se você vai viver na sociedade é melhor assim, porque se você não quiser ser morto, é melhor não matar os outros.”

“Tudo isso não tem poder de persuasão.”

“Eu também acho isso. Por isso eu vou responder dessa maneira… Não tem uma razão para isso. Para matar uma pessoa é necessária uma razão. Porque ficou bravo, porque queria matar, qualquer coisa, não existe assassinato sem razão. Mas isso não é algo que dá para escolher, certo? Escolher entre matar ou ser morto, isso não existe. É só um cara que tenta dar uma de Hamlet. Uma pessoa que chega a ter uma dúvida dessas é uma falha como humano.”

Eu que estou com dúvidas, não é magnífico?

Vai se ferrar.

Eu disse.

“Não se pode matar as pessoas. Definitivamente não se pode matar as pessoas. Não existe uma razão para isso.”

“Fun, é mesmo”. Era óbvio que a Iria-san estava concordando de qualquer maneira. “Até que é possível compreender seu pensamento. Mas esse é um problema que vai acabar se for descoberto quem é o culpado, certo? Logo, quando o Aikawa-san chegar, o culpado vai ser descoberto.”

“Eu não conheço esse tal de Aikawa.”

“Eu conheço. Isso não é suficiente? … Akari, diga para essa pessoa quando o Aikawa-san vai chegar.”

“Daqui a três dias”, a Akari-san respondeu, mas como era de se esperar ainda evitava meu olhar. “Adiantamos o compromisso. Por isso…”

“É como você acabou de ouvir. Se o culpado for descoberto, claro que você pode voltar. Você está nessa ilha somente porque é um <suspeito>. Você que não tem nenhum talento, nenhum charme, só está nessa ilha por causa disso. … Por falar nisso, tanto no caso da Ibuki-san como no da Sonoyama-san não possuía álibi, não é…”

Eu coloquei a xícara no prato ainda que houvesse mais que a metade. E depois de soltar um grande suspiro, me levantei lentamente.

“Vou me retirar. Ao que parece nós falamos línguas diferentes.”

“É mesmo”, a Iria-san sorri. “A saída é por ali.”

“Teruko, leve essa pessoa até o quarto”, a Rei-san disse isso para a Teruko-san que está do meu lado. “Afinal é melhor não ficar sozinho… Teruko, se for você está tudo bem, certo?”

Depois de assentir a Teruko-san se levantou do sofá. Eu fiquei sem entender esse “está tudo bem” e por isso demorei para reagir. A Teruko-san sem ligar para isso começou a andar sozinha na frente. Eu me apressei na direção das costas dela e sai do quarto da Iria-san.

Quando eu entrei no corredor a Teruko-san já estava bem à frente. Realmente, como alguém que vai levar a outra sai antes do quarto? Como sempre não consigo ler os pensamentos da Teruko-san. Mas ela não parece ser do tipo que tem seu próprio ritmo também. Eu andei com um passo largo e logo alcancei a Teruko-san.

Mesmo assim.

É… Realmente, realmente não teve conversa nenhuma. Entrei com a premissa de que não daria certo, mas foi pior do que eu imaginava. Ao que parece a Iria-san realmente confia nesse <Aikawa-san>. Só que, será que existe mesmo um detetive tão incrível assim?

Se existir é bom.

Realmente penso nisso.

Não, desejo por isso.

Oro por isso.

“Esse é um zaregoto também…”

Eu suspirei mais uma vez. De qualquer jeito vou ter que fazer isso de novo. Não tem como progredir com a situação sem o apoio da dona dessa mansão que é a Iria-san. Não quero me gabar, mas eu até que sou insistente. Sou um mau perdedor que não sabe quando desistir. É o pior. Nunca que vou desistir tão facilmente assim.

“É melhor você morrer uma vez ”

Hm?

Agora, alguém, disse alguma coisa? Sinto que ouvi alguma voz agora. Vendo o corredor, confirmo que não tem mais ninguém fora eu e a Teruko-san. Então, deve ter sido engano meu. Ouvir algo do nada…, parece que eu estou realmente mal psicologicamente para estar ouvindo coisas assim.

Hm…

Não.

Eu ouvi a voz vindo da minha frente.

Então.

Ainda há uma possibilidade, ela é muito improvável, mas ainda está sobrando uma. Eu sei que isso logicamente é impossível, mas pode ser que, mas pode ser que não, pode ser que seja mesmo.

“Teruko-san, você disse alguma coisa?”

Como esperado.

Ouvindo as minhas palavras, a Teruko-san parou.

“Eu disse que era melhor você morrer uma vez.”

Fiquei sem palavras.

Essa foi a primeira vez que ouvi a Teruko-san falar e ainda por cima como sua primeira frase veio “É melhor você morrer”. Não importa como, isso é um exagero. Pode algo como isso acontecer?

Então, a Teruko-san se virou para mim e começou a me olhar através das pupilas que se encontravam no fundo de seus óculos. Um olhar como se estivesse me repreendendo e por isso eu acabei recuando um pouco.

Depois de continuar assim por um tempo, sofrendo com esse olhar ameaçador vindo da Teruko-san, eu percebi que não tinha nenhuma chance de vitória e por isso decidi ignorar ela e seguir em frente. Fazendo isso, a Teruko-san segurou meu braço. Com muita força.

E parecia que uma corrente elétrica tinha passado pelo meu braço.

A Teruko-san continuou segurando meu braço, me levou para um quarto próximo e fechou a porta dele com sua outra mão. E me forçou a sentar no sofá.

Então, a Teruko-san se sentou na minha frente e tirou os seus óculos escuros.

“… É só pra enfeite, é?”

“É porque fica mais fácil distinguir.”

E a Teruko-san ergue seu rosto.

Sua voz é a mesma que a da Akari-san e da Hikari-san.

Uma voz clara e bonita.

“… É mesmo.”

“É uma mentira. Só queria ver seu rosto.”

“…”

“É uma mentira. Só queria ver esse rosto que você fez agora.”

“… Tem algo para falar comigo?”

Eu não consegui ter nem idéia do que a Teruko-san quer e como percebi que seria ruim se eu continuasse a seguir o ritmo dela, fiz uma pergunta tentando conseguir o controle dessa conversa. Mas, a Teruko-san não respondeu e apenas ficou olhando para o redor atentamente.

“Vou te dar um aviso”, a Teruko-san ignorou minha pergunta e começou a falar do nada. Como se estivesse conversando com algum fantasma que estivesse atrás de mim. “É melhor você viver sozinho. Se você ficar com as outras, você só causará problemas para elas.”

“…”

Tem algo que me incomoda muito, e isso é o fato de que a Teruko-san sem os seus óculos é praticamente igual a Akari-san e a Hikari-san. Se fosse pela Maki-san ainda dava, mas ouvir isso dessa pessoa é, sinceramente, chocante.

É como se eu tivesse sido traído.

“Uma pessoa que só sabe causar problemas para os outros deve deixar de ser uma pessoa. Se não consegue fazer isso é melhor que vá viver sozinha. É assim que eu penso.”

“Porque você está falando isso?”

“Porque eu sou assim.”

Uma resposta clara.

Não há mudanças na feição da Teruko-san.

Nem um mínimo de mudança.

“Mas, você está morando aqui com outras…”

“É por isso que nós deixamos de ser pessoas.” Nós.

Isso é.

Essa palavra inclui mais quem?

“… De manhã, a Akari fez algo rude. Peço desculpas por isso.”

A Teruko-san mudou de assunto de repente. Mas, a sua expressão e o seu jeito de falar não mudam nem um pouco.

“… Porque você está se desculpando?”

“Ela era eu.”

“…? Eh…?”

A Teruko-san sem dar bola para minha confusão, continuou.

“Não foi meu corpo, mas fui eu. Nós três dividimos três corpos. Nós três somos três personalidades distintas e cada personalidade tem sua própria memória. Por isso, de manhã quem te xingou foi a Akari, mas o corpo era meu.”

“É uma mentira, certo?”

“Sim.”

E a Teruko-san diz isso tranquilamente. Que tipo de pessoa é essa? Assim é mesmo uma bola que some. Não dá pra saber onde a bola vai chegar.

“Então, vamos terminar com esse bate-papo.”

E ainda por cima era um bate-papo.

“Entrando no assunto principal: é melhor não ficar falando muito sobre polícia, polícia para a ojou-sama. A ojou-sama tem uma personalidade que tem paciência, mas essa capacidade não é ilimitada.”

“… Porque a Iria-san é tão teimosa assim? Não acho que só porque a paz da ilha cairá em desordem seja uma boa razão.”

Além disso, essa paz já caiu em desordem.

Mais do que isso, ela provavelmente não quer nada de paz.

“Quer saber?”

“Quero saber.”

A Teruko-san se levantou.

E se moveu para o meu lado.

E como se estivesse se apoiando em mim.

Ela ficou grudada a mim.

Seu corpo se aproximava.

“É porque não existe criminosos que gostem da polícia—“, a Teruko-san disse isso sem nem um pouco de entonação. “—É por isso”. Por um instante fiquei sem entender o que as palavras da Teruko-san significavam e por isso fiquei sem palavras.

“O fato da ojou-sama estar morando sozinha nessa ilha é algo que até você achou estranho, não é? Porque você acha que isso aconteceu?”

“Se depender daquela personalidade…”

“Ela falhou.”

A Teruko-san fala tão desconexamente que é difícil ver uma linha de raciocínio. Porque trigêmeas, irmãs, que foram criadas em ambientes próximos possuem personalidades tão diferentes assim? Assim, até parece que é um caso de múltiplas (três) personalidades.

“Hah. Ela falhou… No que?”

“A Kunagisa-san não consegue se mover verticalmente sozinha. É por isso que você está ao lado dela. Não é?”

“… Sim, é isso.”, essa pessoa não pensa em escutar os outros, é? “O que isso tem a ver?”

“O caso da ojou-sama é o contrário disso.”

De forma simples, sem hesitação, disse a Teruko-san.

Como se isso estivesse escrito em algum cenário.

E ainda por cima sem nenhuma emoção.

“É por isso que não tem ninguém ao lado dela.”

“…?”

Sem nenhuma pausa a Teruko-san continuou.

“Você já viu o braço esquerdo da ojou-sama? Se você ver a ferida no pulso, até você vai entender.”

“…”

Uma ferida… No pulso?

A Teruko-san sem nenhuma emoção continuava a falar seriamente.

“É conhecida como síndrome letal… Se for você, conhece não é?”

Síndrome letal… Síndrome D.L.L.R.

Com certeza, se for sobre isso eu sei. Um tipo de automatismo no qual você tem que ferir a si e os outros. Não, é melhor dizer que se trata do ápice dos automatismos. Seja como for é o pior, um problema tão grande de péssima natureza, uma doença mental das mais perversas possíveis…

Quando eu estava no programa eu tive a chance de ler alguns documentos relacionados a isso, mas nunca vi uma pessoa com essa síndrome. Mas, conheço pessoas que já viram. De acordo com ele, <Pessoas que matam as outras sem nenhum sentimento de culpa, realmente me dão medo.>

Realmente dão medo.

Quer dizer que a Iria-san é uma delas?

Mas a existência da síndrome D.L.L.R é algo incerto devido a sua raridade como doença mental. Além disso, como se trata de uma doença psicogênica compulsiva as chances dos sintomas aparecerem são muito baixas. Pelo que ouvi falar não há nenhum caso no Japão e mesmo nos States só existem uns poucos exemplos… Não, isso também é um exemplo da Lei dos Grandes Números?

“Teruko-san… Isso é.”

“Assim como nós somos trigêmeas, a ojou-sama possuía uma irmã gêmea. Uma ojou-sama com o nome de Odette…”

Ilias e Odisséia.

Faz sentido…

“É mesmo. E o que essa irmã mais nova está fazendo agora?”

“Ela morreu.”

“… É verdade?”

“Sim”, e respondeu a Teruko-san. “E quem matou a Odette ojou-sama foi nem mais nem menos a Iria ojou-sama. Entendeu? O significado. Disso? Essa lógica. Você falou mal da ojou-sama com essa sua boca suja. Que as pessoas, que matam as outras não importa a razão, são as piores.”

“… Eu não tinha essa intenção.”

“Não importa se você tinha essa intenção ou não. Mas agora você entende a razão pela qual a polícia não é chamada, certo? Se entendeu, então volte para o seu quarto. … Não fique trazendo ainda mais problemas.”

Logo depois de falar isso, a Teruko-san se levantou do sofá. Com uma atitude to tipo que parecia dizer que ela já não tinha mais nada comigo porque ela havia falado tudo.

Só que. Mas, Teruko-san.

Não fique trazendo mais problemas.

Essa é…

Essa é a minha frase.

“… Teruko-san!”

Eu, sem pensar.

Sem pensar acabei chamando a Teruko-san.

Eu estava sem nenhuma, com nem um pouco de expectativas, mas a Teruko-san que já se encontrava perto da porta, parou.

“… O que foi?”

“… Por exemplo…”

Por exemplo.

Por exemplo—

“… Desde que nasceu, por 10 anos, sem conversar com ninguém, nem com seus próprios pais… Você conseguiria imaginar, como uma criança que foi criada assim, trancada em um porão, em que tipo de pessoa ela se tornaria?”

A Teruko-san não respondeu.

É claro que eu não desejo a resposta em si da Teruko-san.

Só queria experimentar perguntar para a Teruko-san.

Essa pessoa.

Essa pessoa que vive quietamente, de forma simples.

Essa pessoa é, provavelmente, para mim a única—

“Nós somos completamente diferentes um do outro.”

A Teruko-san disse isso de maneira um pouco agressiva.

Como se tivesse visto todo o meu coração.

Sem se virar, disse isso.

“Não fique achando que somos parecidos. É nojento, tenho vontade de vomitar, é um incômodo.”

“—Isso é bem, desculpa.”

“Não tem ninguém como você nesse mundo. Não só aqui, mas como em nenhum outro mundo. Se for falar de maneira simples, você é anormal.”

“… Não me lembro de haver alguma razão para eu ter que escutar isso. Especialmente vindo de você.”

“É porque sou eu que estou falando isso. Não falaria se fosse qualquer outra”, a Teruko-san não se vira. Sem se virar, ela continua. “… Parece que você não entende porque a Himena-san fica provocando você, mas—a razão é clara. A Himena-san consegue ver o que tem dentro do seu coração. … Ninguém gosta de ver algo sujo.”

“…”

“Estou dizendo que você é sujo.”


“Não precisa repetir, isso… Eu sei disso, eu sei o que tem dentro de mim.”

“Então você sabe. E mesmo assim continua a viver. Mas que ousadia, que grande força de vontade. Até merece ser respeitado por isso. Ou você acha que mostrando o que você tem dentro de si, vai existir alguma existência que mesmo assim vai gostar de você? E você acredita que existe alguma existência capaz de te escolher? Isso sim é anormal.”

Não tenho palavras.

Ressoam.

Essas palavras são muito pesadas para mim.

Parece que vou quebrar.

Fragilmente.

Em pedaços.

“Achar que é possível interagir com os outros tendo um monstro desses dentro do seu corpo é—ser muito egoísta. Tem um limite para quanto sem vergonha alguém pode ser. O mundo não te perdoou até esse ponto. Não ache que pensar assim… É por isso que você—“

A Teruko-san abriu a porta.

E por um pequeno instante se virou na minha direção.

Isso era.

Como se estivesse vendo uma existência com ódio vindo do fundo do coração. Um olhar frio assim.

“—Deve morrer uma vez.”

Batan.

Um som mecânico.

A porta fechou.

“…”

E aos poucos perco as forças.

Me sinto como se tivesse conseguido desamarrar as cordas que me prendiam.

Mas não sinto nem um pouco dessa sensação de liberdade.

“… Eita…”

Mas, que palhaço.

É como se eu tivesse apanhado.

É realmente um sentimento de como se eu tivesse sido apanhado completamente.

“… É mesmo um zaregoto dentro de um zaregoto…”

Deixado sozinho, eu penso.

O que será que foi aquilo… Relembro… Cada palavra que a Teruko-san disse. Muito diferente da resposta da Akane-san de ontem, não havia nenhuma lógica… Mas, exatamente por isso, sem nenhuma lógica, sem nenhuma explicação, só ouvindo a verdade.

“Ah… Dessa vez o estrago foi grande…”

Eu balanço a cabeça.

Não pense nisso.

Agora não é hora de pensar nisso.

Eu me levantei do sofá e saí do quarto. Vendo o corredor, deu para ver que a Teruko-san não estava mais ali. Uma pessoa com pés muito leves. Até nisso, eu acho que ela é parecida comigo…

De qualquer jeito, o importante agora é a informação que eu consegui da Teruko-san.

A ferida no pulso.

O background da Iria-san.

Que ela matou a sua irmã…

E por isso veio parar nessa ilha.

Síndrome D.L.L.R.

Automatismo.

Se pensar nisso, se pensar em tudo isso, com certeza dá para entender porque ela não quer chamar a polícia—

“… Ei. Espera um pouco.”

Então eu percebo. Ontem eu vi a Iria-san se trocando. Na minha primeira audiência. Mas não havia nenhuma ferida no pulso dela. Não é como se eu tivesse ficado observando todo o corpo dela, mas se houvesse mesmo uma ferida tão marcante assim, eu teria percebido.

“… Eieieieiei…”, eu paro de andar e coço a minha cabeça. “Realmente… O que foi aquilo…”

Isso quer dizer que.

A Teruko-san é uma grande mentirosa.

Igual a mim.

2

No meio do caminho para o quarto da Kunagisa eu encontrei com o time da Maki-san, do Shinya-san e da Yayoi-san. Ao que parece os três vão almoçar agora. Estando no time da Yayoi-san dá para comer bem e por isso tenho um pouco de inveja. Mas é claro que não tenho nenhuma reclamação em relação à comida da Hikari-san.

“Ahaha, jovem. Ahahahahahahaha. Ahahaha.”

Logo, ao me ver a Maki-san começou a soltar gargalhadas. Agora já não acho isso mais uma falta de respeito. È como ver a mudança ente uma estação e outra.

“O que foi… Maki-san. Você está sempre em alta tensão, hein…”

“Ahaha. Jovem. Parece que foi detonado pela Teruko-san, né. Ah, meu. Que estranho. Yay. Yay. Se ferrou.”

“… Porque sabe disso?”

“Ainda vai me perguntar isso? Até que foi um programa divertido indeciso-kun. Você não tem uma vida entediante, não é? Que inveja.”

Mas é claro que a Maki-san tem uma vide entediante. Já que ela sabe tudo que aconteceu até agora, tudo que vai acontecer a partir de agora, sabe de tudo. É como ver infinitamente um filme que você já sabe a história, não tem nada da diversão, surpresa, porcaria nenhuma desse tipo.

“Não é bem assim, né.”

A Maki-san disse isso como se estivesse me fazendo de bobo, enquanto encolhia seus ombros. Até parece que ela bebeu, já que ela está bem high agora.

Será que o que tem dentro da cabeça dela não virou um mentaiko?

Ah, ela me olhou com raiva.

“Você, … Você pode mesmo estar aqui agora, sozinho numa hora dessas?”

O Shinya-san ainda parecia cansado, mas já estava mais calmo e por isso parecia estar melhor. Pode parecer meio cruel, mas o tempo é gentil para todo mundo.

“A Kunagisa-chan e a Hikari-san, mesmo que elas sejam garotas pequenas, isso dá um pouco de preocupação, certo? Sem contar que a Hikari-san é a principal suspeita agora, não é? A sua querida Kunagisa-chan pode estar em perigo.”

O Shinya-san disse isso com um tom de brincadeira, mas dava para perceber que ele esta preocupado mesmo comigo. Eu, agradeço pelo conselho, e abaixei minha cabeça.

“Ufufu. Então a gente vai na frente, deixa tudo pela metade-kun. Se esforce e pense muito.”

A Maki-san disse isso de forma maldosa e virou as costas para mim. O Shinya-san depois de olhar para ela,

“Se você estiver se sentindo culpado pelo que aconteceu com a Sonoyama-san, Eu não acho que você deva sentir isso. Você fez tudo que podia. Por isso, você não fez nem mais, nem menos que aquilo. Você deu o seu melhor.”

E disse para mim.

“… Muito obrigado.”

Eu abaixei minha cabeça e agradeci.

“Então… Até mais.”

O Shinya-san também se virou de costas para mim.

A Yayoi-san me olhou algumas vezes de maneira meio significativa, mas abaixou sua cabeça e dessa mesma maneira foi junto com os dois para a sala de jantar.

“… O que foi aquilo…”

Não dá para dizer que chega a ser suspeito.

Mas é misterioso.

“Bem, não acho que seja algo realmente, realmente importante…”

Ao voltar para o quarto, a Kunagisa estava de frente para as peças do computador e a Hikari-san estava limpando o quarto. Pelo que ouvi falar a Hikari-san tem a mania de limpar quando vê algo sujo. Falando nisso, a Hikari-san estava sempre limpando algo. É um tipo de vício de trabalho, mas hmm, será que não tem ninguém normal nessa ilha?

“Oh, Ii-chan, bem na hora certa.”

“Que foi?”

“Amarra o cabelo.”

Entendi, e eu me aproximei das costas da Kunagisa. Pensei em fazer várias tranças de três vertentes e por isso peguei só um pouco do cabelo dela e comecei a fazer com cuidado as tranças. Durante isso a Kunagisa parecia estar distraída “Au-“, e ficou com um rosto encantado.

“Tomo-san. Posso arrumar essas bagatelas?”

“Não chame elas de bagatelas. Ainda tem peças que dá para usar, por isso estou guardando elas. Tem que reciclar, né-. Pelo bem da terra recycle, recycle. Reciclar é importante. Un. Mas o que será que faço. Será que faço uma arma secreta pra derrotar o criminoso?”

É alguém que não perde a alegria. Não quero me tornar assim, mas o positive thinking da Kunagisa sempre me deixa admirado. Mesmo que isso seja, somente, porque ela não conhece sentimentos negativos. Suspiro.

“… Ah sim. Hikari-san, tem algo como um bloco de notas? E algo para escrever também.”

“Tem dentro desse gabinete. O que vai fazer?”

“Agrupar tudo de importante até agora.”

Ontem tínhamos feito uma lista de álibis, mas todos esses dados foram destruídos juntos com o computador. Por isso, decidi refazer isso mais uma vez somando a isso os novos dados conseguidos.

Entendi, e a Hikari-san foi até o gabinete.

“Ah, é mesmo. Tomo, esqueci de falar, mas sobre o desenho. Descobri o que tinha de estranho.”

“Hm? Ah, pior que o Ii-chan tinha mesmo falado sobre isso, né. E então, o que tinha de estranho?”

Sim e eu assinto.

“É o relógio, o relógio.”

“Relógio?”

Sim, é o relógio. Quando eu fui ficar de modelo para a Kanami-san no atelier dela, eu não estava usando meu relógio de pulso. Como estava quebrado deixei para a Kunagisa consertar. Por isso naquela hora eu não estava usando o relógio.

Ainda assim.

Naquele quadro estava desenhado um relógio no meu braço.

“Fun. Será que não pintou por engano?”, a Kunagisa fez um rosto estranho só por um instante e depois de voltar a ficar séria falou a opinião mais comum. “Pra Bokusama-chan isso não é grande coisa…”

“Sim, pode ser que seja assim, mas…”

“Pra qual que era?”

“… Defina o objetivo e o subjetivo.”

“O display do relógio. Não tava mostrando nada? Ou tava mostrando o display depois que Bokusama-chan consertou?”

“Ah… Não, olha, como eu deixo a parte do display pra parte de dentro. Não tem como saber disso.”

Fun e a Kunagisa assentiu. Depois de pensar por um tempo, “Acho que isso foi só um erro” e disse.

“Mais do que isso Ii-chan, Bokusama-chan como Bokusama-chan também tem coisas que me chamam a atenção. Assim, como posso dizer, o incidente em que a Akane-chan foi morta ou o cadáver decapitado da Akane-chan… Como posso dizer…”

“Como posso dizer, o quê?”

“É a mão.”

A Kunagisa inclinou seu pescoço, cruzou seus braços e disse.

“Mais do que a mão, são os dedos… Parece que tinha algo estranho, algo muito estranho neles… Hmm, parece que o peak da memória da Bokusama-chan já passou. Parece que tem mosaicos dentro da minha cabeça. Hikari-chan, tem algo que chamou a atenção com a mão ou os dedos?”

“Não faço idéia…”

A Hikari-san que voltou não sei quando se sentou do lado da Kunagisa, na minha frente, em cima do tapete.

“Desculpa a demora. Folhas e uma caneta.”

“Obrigado.”

Eu peguei o bloco de notas da Hikari-san e enquanto me lembrava do que já estava feito, comecei a fazer uma lista dos álibis de todos nessa ilha dos assassinatos da Ibuki Kanami e da Sonoyama Akane.


Ibuki Kanami – Assassinada

Sonoyama Akane – Antes do terremoto X

                                    Depois do terremoto X
                                    Assassinada

Kunagisa Tomo – Antes do terremoto (Ii-chan, Hikari, Maki, Shinya)

                                 Depois do terremoto X
                                O (Não consegue descer as escadas sozinha)

Sashirono Yayoi – Antes do terremoto O (Iria, Rei)

                                  Depois do terremoto X
                                  X (Dormindo)

Chiga Akari – Antes do terremoto Δ (Teruko)

                         Depois do terremoto X
                         O (Estava no continente)

Chiga Hikari – Antes do terremoto O (Ii-chan, Tomo, Maki, Shinya)

                          Depois do terremoto X
                          X

Chiga Teruko – Antes do terremoto Δ (Akari)

                            Depois do terremoto X
                           O (Estava no continente)

Sakaki Shinya – Antes do terremoto O (Ii-chan, Tomo, Maki, Hikari)

                             Depois do terremoto O (Maki)
                             O (Maki)

Handa Rei – Antes do terremoto O (Iria, Yayoi)

                      Depois do terremoto Δ (Iria)
                      Δ (Iria)

Himena Maki – Antes do terremoto O (Ii-chan, Tomo, Hikari, Shinya)

                            Depois do terremoto O (Shinya)
                           O (Shinya)

Akagami Iria – Antes do terremoto O (Rei, Yayoi)

                           Depois do terremoto Δ (Rei)
                           Δ (Rei)

Fumu.

Deve ser algo assim.

Depois de olhar para a lista eu suspirei.

“… Álibis, né… Mas que isso não tem muito significado não tem mesmo. Não estávamos levando isso em conta até agora, mas se pensar em cúmplices, isso praticamente não tem sentido nenhum, não é? Principalmente para álibis de duas, três pessoas.”

Não tem como confiar completamente nessas informações porque há a possibilidade de alguém que não é o culpado ter mentido por não querer ser considerado suspeito.

Mesmo achando isso meio improdutivo eu decidi listar os principais fatos sobre os incidentes também.

Primeiro incidente

Vítima: Ibuki Kanami Situação: Quarto fechado; Rio de tinta. (Resolvido) Horário do crime: Noite. Deduz-se que foi depois do terremoto. Outros: Cadáver decapitado. Culpado ainda não identificado.

Segundo incidente

Vítima: Sonoyama Akane Situação: Quarto fechado; Janela aberta em uma altura muito alta. (Não resolvido) Horário do crime: Entre as duas horas e às nove horas da manhã. Outros: Cadáver decapitado.


“E culpado ainda não identificado…”

Depois de escrever eu soltei a caneta.

“Ta se esquecendo do terceiro incidente Ii-chan”, imediatamente a Kunagisa ergueu sua voz. “Olha, o incidente triste da Bokusama-chan.”

“Ah, é mesmo. Não chama muito a atenção, mas que é um mistério, é.”

“Não pode dizer que não chama muito a atenção! Pra Bokusama-chan é pior do que ser decapitada! Se fosse fazer aquilo era melhor que tivesse decapitado Bokusama-chan!”

“Entendi, entendi” e eu pego a caneta novamente.

Terceiro incidente

Vítima: Kunagisa Tomo (Computadores entre outros) Situação: Quarto não fechado; Não tem chave, qualquer um poderia ter entrado. Horário do crime: Das dez horas da manhã até o término do almoço. Só que nesse horário todos que estão na mansão estavam reunidos. Um quarto fechado em relação ao tempo? Outros: É deduzido que o objetivo do destruidor eram as fotos da cena do crime da Ibuki Kanami.

“Um quarto fechado em relação ao tempo, hein…”

O primeiro quarto fechado é um quarto fechado em relação a uma área através do rio de tinta. O segundo quarto fechado é um quarto fechado em relação à altura muito grande de uma janela. O terceiro quarto fechado é em relação ao tempo…

“2, 3 e 4 dimensões, né.”

“Só ouvindo isso faz parecer um incidente de enormes proporções… Hikari-san. Perguntar isso agora pode fazer com que todas as nossas idéias iniciais vão por água abaixo, mas… Há alguma possibilidade de haver alguém nessa ilha, além de nós?”

“Não” afirmou a Hikari-san. “Só há um lugar para navios atracarem nessa ilha. Nós sempre moramos aqui, por isso em relação a isso tenho certeza absoluta.”

“É mesmo…”

Mas se não pensar assim, destruir os computadores da Kunagisa é completamente impossível. Em relação a áreas e alturas é possível fazer alguma coisa com conhecimento e experiência, mas o tempo é uma região impossível de ser alcançada por humanos.

“Não é por isso mesmo que tem algum truque? Como um algum dispositivo que funciona a lona distância. Hmm, mas não importa como se veja é óbvio que isso foi uma destruição feita por alguma pessoa, né.”

“… Hikari-san. Será que naquela hora uma ou duas pessoas não saíram? Afinal na frente de um cadáver decapitado, se uma pessoa sair é difícil perceber. Pode ter que isso tenha sido aproveitado…”

“Não acho que… Isso tenha acontecido…”

Parece que a Hikari-san não acredita nessa possibilidade. Fui eu mesmo que disse, mas essa idéia me faz mesmo inclinar minha cabeça. Se alguém tivesse saído, daria para perceber.

“Primeiro incidente: Qualquer um pode ter feito. Isso se levar em conta cúmplices, mas já sabemos somente o método e por isso não dá para dizer que é um quarto fechado. E então o segundo incidente: Ainda não temos nem idéia desse método,”

“Mas só eu posso ter feito” e a Hikari-san continuou. Eu assenti. “E o terceiro incidente: Ninguém pode ter feito. Além disso, não existe algum método de realizá-lo.”

Pouco a pouco a dificuldade do incidente vai aumentando. Desse jeito só de pensar no próximo incidente já me dá dor de cabeça.

“Realmente… Mas que cycle é esse…”

“Hmm. Não acho que seja algo planejado… Mas também não acho que seja uma coincidência.”

“Seja como for, que tal pararmos de pensar nesse assunto deprimente” e eu disse. “Álibis. Quarto fechado. Truques e artifícios, armadilhas e fake.

Qualquer coisa serve. Vamos pensar que nós sabemos o que é essa coisa, que nós nem temos idéia do que é, que esse criminoso usou.”

“Uma máquina virtual, né.”

“É bem isso.”

Embora eu não entenda direito.

Uma coisa bem usada em livros de detetive é que criar um quebra-cabeça é muito mais difícil do que resolvê-lo, mas eu não acho isso. Criar um truque ou um quebra-cabeça é muito mais simples. Na hora de construir um quebra-cabeça você consegue deixar tudo do ângulo que você mais gosta, que mais te favorece. E só é possível resolver esse quebra-cabeça a partir desse ângulo.

É por isso que por enquanto o problema fica pra depois.

“Mas no fim, não é melhor levar em consideração ao menos os álibis? Afinal é uma das poucas informações que temos” e a Hikari-san disse. “Se começar a pensar nas relações pessoais, qualquer um se torna suspeito… Não foi porque as duas se davam mal que a Sonoyama-san foi considerada suspeita quando a Ibuki-san morreu? Mas, por isso que acabou assim.”

“Mas sabe… Bem, com certeza era mais claro considerar a Akane-san como culpada pela morte da Kanami-san…”

E essa mesma Akane-san foi morta.

“Que tal, quem matou a Ibuki-san foi a Sonoyama-san e a Sonoyama-san foi morta por vingança?”

“Se for assim, quem matou a Akane-san foi… É, seria o Shinya-san. O acompanhante e a pessoa mais íntima a ela.”

“Mas o Shinya-chan tem álibi. E mesmo que não se leve isso em conta, porque que o Shinya-chan seria o culpado?”

“Não precisa saber, é só haver alguma razão. Não vou dizer que é comum se vingar por causa de algum engano, mas não é como se não acontecesse. …Se for falar isso, não acha? O Shinya-san e a Maki-san. Por dois dias seguidos eles tem álibis. E durante a noite ainda. Ter álibi nesse caso seja até dá a impressão contrária de que é estranho.”

“Estranho… Que a Himena-san pode estar ajudando ele por trás é possível. Mas, assim, não acho que a Himena-san seja esse tipo de pessoa.”

Himena Maki. Uma adivinhadora que não pode ser descrita por palavras e é uma esper. Uma pessoa que consegue olhar tudo que existe na mente das outras, alguém absoluta que sabe de tudo e de todos. Chega a parecer um pouco com a Kunagisa, um pouco misteriosa…

“Que foi? Se apaixonou por ela, Ii-chan?”

“Não diga isso. Mas esperar senso comum de pessoas loucas como ela é um pouco difícil…”

É realmente sinistro. É como se já tudo que pudesse ser pensado já tivesse acabado. Como se tivesse chego num beco sem saída. Tem mesmo algo a mais para ser pensado?

“… Tem a teoria de que a Akane-san tinha previsto que ela podia ser morta…”

“Eh?”, a Hikari-san um pouco assustada levantou seu corpo. “O que isso quer dizer?”

“Desse jeito mesmo. Assim, ontem de noite, eu conversei com ela e nessa hora…, parecia que ela já tinha decidido tudo. Não parecia ela mesma, até estava citando obras do Ryokan.”

“Hmm. Pode ser que a Akane-chan sabia quem era o culpado, né.”

A Kunagisa disse isso de maneira um pouco gentil.

Com certeza, não é como se isso não fosse possível. Sistema ER3, Uma das Sete Tolas, Sonoyama Akane. Eu não duvidaria da pessoa que a Akane-san apontasse como sendo a culpada mesmo que ela não tivesse feito nenhuma investigação.

“… Por falar nisso, Hikari-san. Agora pouco eu conversei com a Teruko-san.”

“Eeh!?”, a Hikari-san levantou seu corpo assustada como se isso fosse algo surpreendente. Não, mais do que assustada, dá a impressão de que ela quer dizer que <não sei porque ele está contando uma mentira como essa>. “A Teruko, aquela Teruko falou, é isso?”

“… Hah. Claro que eu também me assustei, mas…, o problema foi o conteúdo.”

Eu contei para a Hikari-san e a Kunagisa sobre minha conversa com a Teruko-san. Claro que a metade final foi completamente cortada. Eu não tenho um mau gosto suficiente para contar sobre minhas más lembranças.

“… Então foi isso, Hikari-san. Até onde isso é verdade?”

Vendo a Hikari-san, deu para ver que ela estava falando de forma vaga. “Bem… É que bem. Assim.”

“A Akari-san também falou algo estranho hoje de manhã. Algo como <estou cheia disso>. Hikari-san, o que isso quer dizer?”

Novamente a Hikari-san fica sem saber o que responder. Mas, ela ergueu seu rosto como se tivesse se preparado. Ainda assim, ela ficou por um tempo meio perdida, olhando para os lados, até que no fim ela abriu sua boca.

“… É tudo verdade.”

Isso é.

Uma resposta que eu não esperava.

Agora foi minha vez de ficar sem palavras, tanto que fiquei por instantes sem poder falar nada. Tudo…? O quê…? Essa pessoa acabou de dizer…?

“… Agora que chegou a esse ponto…, vou falar confiando em você, afinal você me salvou…” a Hikari-san abaixou mais uma vez sua cabeça, ficou quieta e depois de parecer sem confiança por mais um tempo, ela finalmente continuou. “Sim, a ojou-sama é uma criminosa perante a lei. Nós sabemos disso e mesmo assim servimos a ela.”

“… È por isso que não chamam a polícia?”

“Nós só servimos a ela. Não fazemos nada mais do que isso. Desde que chegamos a essa ilha aconteceu muita coisa. Foi por isso que conhecemos o Aikawa-san também…”

Muita coisa? O que tem…, nesse muita coisa?

Um incidente que aconteceu nessa ilha.

Por falar nisso.

Por falar nisso, senão me engano, anteontem de noite—

“Ei, Tomo.”

“O quê, Ii-chan?”

“Eu tenho a impressão de que aquela noite você disse algo como <tenho interesse em um incidente que aconteceu nessa ilha>, mas por acaso isso é engano meu?”

“Não.”

“Então, você sabia?”

A Kunagisa sorriu levemente e assentiu. “Até que é uma informação famosa, né. Tem muita gente que sabe, mas ninguém fala. Não tem muitas pessoas que querem se tornar inimigas da Fundação Akagami, né.”

Faz sentido. Esse hobby da Kunagisa não mudou nem um pouco comparado com o passado. Não é o suficiente para me fazer retirar o que eu já disse, mas esses cinco anos que passaram não foram o suficiente para mudar algo internamente na Kunagisa.

“Nas informações que consegui do Chii-kun também tinha isso no meio, mas achei que era melhor não falar pro Ii-chan.”

“Por quê?”

“Porque você faz essa cara.”

Isso, também faz sentido.

Eita…

Me sinto exausto.

A Hikari-san continuou a falar cada vez menos, ou melhor, cada vez mais triste.

“Depois que esse salão ficou pronto, a ojou-sama ficou um pouco mais calma, mas…, dá para entender porque a Akari-san se sente cheia disso. Mas, como esse é o nosso trabalho…”

Trabalho—né. Se for por isso mesmo, é algo de respeito. Eu fiquei admirado genuinamente. Eu respeito as pessoas que vivem por causa do sua função, não importa qual seja. Afinal, isso é algo que eu não consigo fazer.

A Hikari-san com certeza já tem essa resposta no fundo do fundo do lugar mais fundo dentro dela.

“É isso… Então é isso…”

Mas, se for assim… Então o que acontece? Se o culpado souber sobre isso…, que a Iria-san não pode chamar a polícia por causa de certas circunstâncias…,

Isso significa que.

A atitude ousada, perfeita, arrogante do culpado faz sentido.

“… Então, Hikari-san…”

Bem na hora que eu ia perguntar sobre esse incidente do passado, sobre a Iria-san com mais detalhes, alguém bateu na porta.

Quem estava ali era a Yayoi-san.

3


Eu vou ao banheiro. Dizendo isso, a Yayoi-san se separou do resto do seu time durante o almoço. Era óbvio que era uma mentira banal e clichê, sendo que obviamente a Maki-san que consegue ler mentes e também o Shinya-san sabiam disso, mas com um rosto pálido como esse, mesmo que se ela tivesse dito que iria a uma ilha de demônios montada numa tartaruga, não teria como eles dizerem que isso era uma mentira.

A Yayoi-san se sentou no sofá e ficou em silêncio. Parece que ela está incomodada com a presença da Hikari-san. Pode ser que a Yayoi-san também ache que a Hikari-san seja a culpada. Se for isso, dá pra entender.

“… Já que você veio até aqui, Yayoi-san, posso assumir que você tem algo para contar para nós, certo?”

Essa situação parecia que iria continuar em um impasse então eu perguntei.

Sim e a Yayoi-san respondeu sem muita força em sua voz.

“Vocês dois… Estão tentando desvendar o que aconteceu nesses incidentes, certo?”

“Temos essa intenção. Tanto que agora até temos um motivo pessoal também” e eu olho para o computador no canto do quarto. Não, o que já havia sido um computador. “O que tem isso?”

“… Já que vocês estão pensando sobre isso, o melhor é que todas as informações sejam corretas, não?”

“Hah, isso é. Com certeza.”

“Se ficar dançando com as duas pernas por causa de informações falsas, pode ser que um terceiro incidente aconteça, certo?”

“Quarto” e a objeção da Kunagisa foi ignorada.

“Sim, é isso mesmo Yayoi-san. Então, Yayoi-san, não estou conseguindo entender muito bem o que você quer dizer. Eu achei que você tinha vindo para nos ajudar, mas por acaso estou errado? Foi porque não queria mais ficar no time do Shinya-san e da Maki-san que veio para cá?”

“Não é, isso” e a Yayoi-san responde pausadamente. Realmente parece que ela está incomodada com a presença da Hikari-san. “… É que, eu… Disse uma mentira muito grave… E então…”

“Mentira? … No sentido de dizer algo falso?”

“—Sim. Naquela noite…, eu estava mesmo conversando com a Iria-san. Foi até o terremoto acontecer, mas até aí não havia nenhuma mentira.”

A Yayoi-san disse.

“Só que nesse lugar… Nesse lugar a Handa-san não estava.”

A expressão da Hikari-san ficou dura.

Handa-san—Handa rei.

Agora eu finalmente entendi porque a Yayoi-san estava incomodada com a presença da Hikari-san, porque desde aquele dia ela estava agindo de forma estranha, tinha ficado trancada no quarto.

Fim da suspeita…

Então era isso.

Naquela investigação de álibis no café da manhã, a Iria-san disse por si mesma que ela estava junto com a Rei-san e a Yayoi-san. Para todos os outros ela perguntou, mas só para a Yayoi-san ela mesma respondeu. Eu tinha achado que era porque ela estava junta, mas não parece que foi isso.

A Iria-san—

A Akagami Iria protegeu a Handa Rei.

A Yayoi-san estava de cabeça baixa e com os ombros caídos. Como se estivesse sido libertada de um peso que estava carregando nas costas ou estivesse livre depois de ser amarrada.

“… Porque—”

Porque não disse nada até agora—foi algo que, eu não pude dizer da posição em que eu me encontrava. Quem é a dona da ilha é a Iria-san, essa mansão também é da Iria-san, quem manda aqui é a Iria-san, quem convidou a Yayoi-san foi a Iria-san e essa Iria-san é a Akagami Iria. Essa Iria-san disse que, <Eu estava junto com a Yayoi-san e a Rei-san>. Como você pode negar isso? Tem como dizer, não minta?

Claro que não.

Até parece que isso é possível.

“Nessa hora, não achei que fosse grande coisa.”

Então, a Yayoi-san disse.

“Achei que a Iria-san só tivesse protegido alguém que era próxima a ela, no caso a Rei-san. Mas…, por causa disso só a Akane-san ficou sem álibi, foi isolada… E morta.”

Como se ela tivesse se livrado de tudo que a prendia, a Yayoi-san começou a falar. Em relação a isso eu só fiquei em silêncio, ouvindo com atenção. A Kunagisa e a Hikari-san também ficaram assim.”

“… E ontem de noite a Iria-san disse de novo que a Rei-san tinha um álibi. Que elas ficaram juntas a noite inteira. Mas, como confiar nisso? Mesmo que elas tenham conversado sobre o que fazer daqui para frente, isso duraria uma noite inteira?”

“… Não sei. Pode ser que dure.”

“Eu não acho isso. A possibilidade uma pessoa que já mentiu uma vez, mentir uma segunda vez é muito maior do que ela falar a verdade na segunda vez, certo? Além disso, Hikari-san” a Yayoi-san encarou a Hikari-san. “Porque a Hikari-san que também é alguém próxima da Iria-san não foi protegida por ela? Por quê? Qual é a razão pela qual ela protege a Rei-san, mas não protege a Hikari-san? Não é porque é desnecessário proteger a Hikari-san? Se for falar o contrário, não é porque ela conhece o verdadeiro culpado que—”

“Quer dizer que Rei-san é a culpada, então?”

Eu fiquei bem assustado com isso. Não achei que essa conversa fosse tomar esse rumo. Só que a Yayoi-san estava séria.

“… Claro que os álibis ficam mais suspeitos. Isso se a sua conversa for verdadeira.”

“É verdade. Pode ser que não acreditem em mim, mas é verdade.”

A Yayoi-san afirmou isso com força. A Hikari-san parecia querer dizer algo, mas no fim ela não disse nada. Ela mordeu seus lábios e ficou com uma expressão de como estivesse tendo que conter sua dor.

“… Espera um pouco…”

Supondo que naquela noite a Rei-san não tenha um álibi, como a situação ficaria? Ela não mudaria muito, mas o fato de que a Iria-san mentiu me parece ser algo muito importante.

Naquela noite a Rei-san não estava no quarto da Iria-san. Então isso quer dizer que depois do terremoto ela também não estava. Então—

“Uni-. Yayoi-chan.”

“… O que foi, Kunagisa-san?”

“Porque acha que a Rei-chan é a culpada? Afinal a Rei-chan é a empregada-chefe, é o braço direito dela, é importante. Ela ta numa posição mais próxima que a Hikari-chan por exemplo. Por isso, pode ser que ela tenha a protegido porque tenha um apego emocional maior. E só porque ela mentiu no primeiro incidente, isso não implica que ela tenha mentido no segundo também. E se caso a Rei-chan seja a culpada, a Iria-chan sabe disso, né? Porque a Iria-chan iria proteger a Rei-ch—”

“E se a Iria-san tivesse a ordem para ela de matar alguém?”

Gulp, deu para ouvir o som de alguém engolindo saliva. Não sei de quem foi e pode ter sido eu mesmo que tenha feito isso.

“… Não acho isso. Afinal, a Kanami-chan e a Akane-chan foram chamadas como convidadas, né? Não consigo entender porque ela as chamaria e ainda por cima as mataria.”

“Não consegue pensar que ela as chamou para matá-las?” a Yayoi-san respondeu para a Kunagisa como se estivesse a pressionando. “A Iria-san chamou pessoas para cá. E essas pessoas foram mortas. Então não é tão estranho pensar assim, certo?”

Será que a Iria-san está usando a Rei-san para matar duas e então três, quatro, cinco pessoas? Eu achei que essa idéia era muito irreal, mas não tinha nenhuma prova para dizer o contrário.

Sim. Mais do que isso, eu não acabei de ouvir da Teruko-san e agora da Hikari-san provas que me fariam aceitar esse fato?

Handa Rei.

Empregada chefe.

A superior da Hikari-san, da Akari-san e da Teruko-san, além de ser a pessoa mais próxima da Iria-san—. Como será que é? Será essa a resposta? Esse é realmente o ponto final?

Akagami Iria.

Esse nome vem de uma história escrita por Homero, a maior e mais antiga épica: Ilíada. Uma obra que contou sobre a Helena e a Guerra de Tróia. Nessa épica, todos os personagens acreditavam estarem sendo controlados pelos deuses. Isso. Se essa for a resposta—

Enquanto eu pensava, a Yayoi-san continuava.

“—Sabem porque eu fui chamada aqui?”

“Isso é… Porque você é um gênio?”

Ha, e a Yayoi-san sorri.

“Sabe, a Ibuki-san era uma pintora. Uma bela artista. A Sonoyama-san era uma pesquisadora. Certo. A Himena-san é uma adivinhadora. Não ligo. A Kunagisa-san é uma engenheira, certo? Muito bom. Mas eu sou uma cozinheira. Porque alguém vai me chamar se nem é uma gourmet? Eu não acho que haja tanto valor assim para o ato de cozinhar.”

Eu fiquei quieto. Se a própria Yayoi-san diz isso, não tem porque eu falar algo a mais.

“—E, sabem porque a cabeça da Ibuki-san e da Sonoyama-san foram cortadas?”

“… A conversa mudou bastante, hein.”

“Não” a Yayoi-san com uma expressão e um jeito de falar muito sério continuou. “Canibalismo. Na culinária chinesa há um pensamento assim: Se o seu fígado estiver ruim, basta comer fígado. Se o seu estômago estiver ruim, basta comer estômago.

Seja como for, se você quiser melhorar seus órgãos internos é só você comer do mesmo. Sabem pelo menos disso?”

“… Espera—Yayoi-san, isso é—”

Isso é. Essa idéia é.

“Quem! Quem chamou a Ibuki-san e a Sonoyama-san para essa ilha!”

A Yayoi-san gritou de raiva. Essa voz ressoou por todo o quarto. Só o eco continuou no meu ouvido. Mas, eu estava tão confuso que isso nem me incomodava.

Espera… Espera um pouco. Isso é, quer dizer, que é isso? Espera um pouco. Espera um pouco. Por favor, me dê um pouco de tempo pra mim.

“Vou dizer mais uma vez. Não, quantas vezes forem necessárias. Porque o culpado cortou as cabeças da Ibuki-san e da Sonoyama-san? Porque o culpado levou as cabeças da Ibuki-san e da Sonoyama-san? Aonde elas foram parar? E, quem foi que as chamou para essa ilha? Quem foi que as chamou consideradas como gênios para essa ilha? O que tem dentro das cabeças que foram levadas?”

Se do lugar do crime uma jóia foi roubada, isso quer dizer que o criminoso queria a jóia. Se for dinheiro, é porque com certeza ele queria o dinheiro.

Pensar assim é o senso comum e é óbvio.

E dessa vez o que foi levado foram as cabeças das vítimas.

A Yayoi-san continua.

“Porque eu fui chamada até aqui? Porque eu, que sou só uma cozinheira e não uma artista, uma pesquisadora, uma adivinhadora ou uma engenheira, fui chamada até aqui? Estou sendo tratada de forma especial e vou poder ficar o quanto quiser?”

Essa era uma voz que saía a força.

Uma voz pedindo ajuda.

Ela deve ter pensado. Desde aquele testemunho falso na janta, ela deve ter pensado. Antes da Sonoyama-san ser morta, e passado mais 12 horas depois de morta, ela ainda estava pensando.

A Yayoi-san se virou para a Hikari-san e, de novo, gritou.

“O que eu—vou ser forçada a fazer?”

Gulp, som de saliva sendo engolida.

Dessa vez foi com certeza a minha.

Pode algo como isso? Um negócio desses. Uma idéia dessas… Ter uma idéia dessas que não deveria ser algo imperdoável?

Se for assim, então porque <agora>? O plano desse salão não começou faz pouco tempo. Se essa era a idéia, então porque não fazer isso desde o começo…

Não.

<Agora>, as cinco gênios que estão nessa ilha <agora> são pessoas de top class no mundo, o ápice dos especialistas. A Iria-san estava esperando por um momento como esse…?

“Isso é impossível!”

Quem disse isso de forma mais forte foi a Hikari-san. Deu a sensação de que ela “explodiu” depois de agüentar por muito tempo.

“Não tem como a ojou-sama fazer algo assim agora, algo tão cruel assim, pensar em algo tão cruel assim…”

Agora.

Já estou cheia.

Passado.

Muitas coisas. Cheia. Agora. Porque agora. Já estou cheia disso. Não fique trazendo mais problemas. Cheia e cheia e cheia. Já estou cheia disso.

Mas, a Yayoi-san não recuou.

“Desde ontem de manhã eu estou vendo a Handa-san. Sabe, quando uma pessoa observa outra por um tempo, mesmo que no começo não sinta nada, com o passar do tempo ela passa a ver pontos em comum, ações humanas, sentir que ela também é uma pessoa, certo? Começa a sentir afinidade. Começa a pensar coisas como <Ah, essa pessoa é uma pessoa assim como eu sou>. Em relação a Iria-san eu senti isso. Ela mente, mas é uma pessoa assim como eu. Mas, a Handa-san é—, eu tenho medo dela. Eu sinto medo em relação a aquela pessoa que vive como se estivesse atuando.”

“Isso…” a Hikari-san depois de dizer isso abaixou sua cabeça. “Isso, isso, isso—”

Mas, essa frase não teve continuação. Mesmo assim a Hikari-san estava desesperadamente tentando retrucar. Para a sua chefe, realizando seu trabalho.

Era uma visão muito dolorosa. Era tão dolorosa que até parecia que dava para rir.

“—Faz sentido. Yayoi-san, eu consegui entender boa parte do que você queria dizer. No fim, o que você queria dizer era que…”

Eu tentei entrar por força no meio das duas, mas não deu certo. A Yayoi-san continuou a dar em cima da Hikari-san.

“A Akari-san e a Teruko-san foram para o continente chamar o detetive? Mas quem pode provar isso? Quem não deixa ligar para a polícia? Quem não deixa sair dessa ilha? Hikari-san, tem como você provar que não é a única fora da gaiola? Você foi considerada como suspeita pela Iria-san. Tem provas de que você não vai ser um scapegoat para deixar essa situação ainda mais confusa? Não, pode ser que você esteja junto com a Iria-san tentando confundir a Kunagisa-san e ele—”

“Por favor, pare. Yayoi-san é até aí” eu disse silenciosamente. “Só não insulte nossa amiga. Eu e a Kunagisa não gostamos de brigar. Mas não é por causa disso, que não façamos isso quando necessário.”

Provavelmente meu olhar e minha atitude foram tão frias que a Yayoi-san tremeu por um instante e logo em seguida se encolheu. Voltou a ficar preocupada assim como quanto tinha acabado de entrar no quarto.

“—Estou com medo. Com medo. Com medo. Eu só estou com medo.”

“Sim…, isso eu entendo.”

“… Essa é uma ilha solitária e isolada. Não tem para onde fugir. Se for como eu estou pensando pode ser que eu não seja morta. Você também, como você não foi chamado como um gênio pode ser que não seja morto. Mas a sua preciosa amiga, a Kunagisa está em perigo. Não tem algum deus que possa garantir que os ombros da Kunagisa-san não fiquem planos. Já não é mais hora de ficar brincando de tentar resolver isso… Eu acho que é necessário fazer algo em relação a isso o mais rápido possível. Eu não vim até aqui para culpar a Hikari-san. Vim porque a Kungisa-san é uma engenheira. Será que ela não sabe dirigir barcos? Se for assim, dá para fugir usando…”

“… Espera um pouco.”

Eu mostrei minha mão direita e parei a Yayoi-san. A Yayoi-san olha para mim com um rosto surpreso. A Hikari-san olha para mim com dúvidas. Só a Kunagisa não estava olhando para mim e sim para o lado oposto com um rosto um pouco surpreso. Provavelmente eu estou com o mesmo tipo de expressão que a Kunagisa.

Err… O que era mesmo? Porque eu interrompi a Yayoi-san?

Sim, senão me engano—

“Por favor, diga mais uma vez.”

“… Sim?”

“A frase que você disse antes. Diga mais uma vez.”

A Yayoi-san inclinou levemente sua cabeça.

“Se for assim, dá para fugir usando…”

“Não essa.”

“Será que ela não sabe dirigir barcos—”

“Não, essa também não.”

“… Deixa eu ver. Eu não vim até aqui…, é essa?”

“Não. Não é essa. Tinha algo que me chamou a atenção, mas não é essa. Foi antes disso.”

“Não lembro mais.”

“Então tente lembrar. Antes disso, o que a Yayoi-san disse?”

“… É necessário fazer algo em relação a isso o mais rápido possível… Já não é mais hora de tentar ficar brincando de resol…”

“Não. Isso é óbvio. Fazer algo em relação a isso o mais rápido possível? Isso não passa de um catchphrase. Não importa essas coisas que eu já sei. Yayoi-san, foi provavelmente logo antes disso.”


“… Não dá. Só consigo lembrar até aqui.”

“Tomo!” eu olho para a Kunagisa. “Você lembra, certo?”

“Un” e a Kunagisa assentiu levemente.

“Então, ela, levou sua mão até a frente de seu pescoço.

“O lugar dos ombros da Bokusama-chan vai ficar plano.”

“—Bingo.”

Sim—, é isso. Isso que me chamou a atenção. Isso me chamou a atenção porque foi uma frase que me fez imaginar um futuro que eu não desejo? Não é isso.

Não é por uma razão clichê como essa. É completamente diferente.

Essa sim. É a verdadeira chave.

Rosetta Stone.

“Com licença, mas—”

“Silêncio, por favor. Vou pensar. Provavelmente esse é o caminho correto. Não tem erro. Chegando até aqui é mais fácil que a geografia de Tokyo ou de Sapporo. Agora que a hipótese e a resposta foram dadas, só falta provar.”

Eu pensei.

A Kunagisa também estava pensando.

Provavelmente todos os ingredientes estão na mesa. Eu tinha essa impressão. Não, os ingredientes em si já estavam todos reunidos. Desde o momento em que os computadores da Kunagisa foram destruídos, já não era mais tão estranho chegar na verdade, afinal os ingredientes já estavam aqui. O terceiro incidente não era a chave, mas somente mais um ingrediente.

E agora, consegui a chave.

Agora sim, consegui.

E logo eu devo chegar à resposta, assim como se abre uma porta usando uma chave. Como um Zero Sum Game. Como um simples labirinto que possui uma maneira infalível—

A Kunagisa também deve estar assim.

A montanha de areia já está completa.

“—Realmente, isso sim é um zaregoto—”

Então.

Depois de um tempo. “—É isso…?”

Eu sussurro.

Mas, isso é…

“—Não está errado…? Não pode ser assim, certo…?”

Não pode ser assim.

Não tem razão para isso.

Até parece que existe uma lógica dessas.

Está completo, não tem contradições, faz sentido, tem lógica. Só resta essa possibilidade, mas… Já não tem mais como juntar mais areia…

Tenho um pouco de preocupação. Tem algo instável. Como a última pergunta de uma prova, não importa quantas vezes eu a revise, algo não faz sentido. É essa sensação. Sei que não está errado, mas não consigo deixar de me preocupar. Essa sensação. Essa sensação não me deixa.

Que é isso… Essa vaga sensação ruim.

“Tomo…, o que acha?”

Uni-, e a Kunagisa diz.

“Não tem nem mais nem menos que isso. Só consigo ver uma resposta. Foi por isso que os dedos me chamaram a atenção, né… Mas, assim…”

A Kunagisa também parece estar assim como eu sentindo algo imensamente instável. A Hikari-san e a Yayoi-san olham para nós como se estivessem vendo marcianos. Não, pode ser que sejam ‘jupiterianos’. Não importa qual seja, esse é um problema desprezível.

“… Mas, só tem isso né” a Kunagisa aceitou isso como verdade antes do que eu. “Só dá para pensar nisso, então só pode ser isso.”

“… É mesmo. Se só existir uma possibilidade, não importa o quão impossível ela possa parecer, ela é a verdade.”

No fim, é necessário depender do método de exclusão. Se a Akane-san ouvisse isso ela se sentiria mal, mas isso já não importa mais. Pelo menos em relação ao fato de que só há um culpado para esse assassinato em série, só existe uma possibilidade. Se só existe uma possibilidade, isso quer dizer que é 100% de certeza.

Okay.

Vamos aceitar.

Eu não gostei nem um pouco, mas essa é a realidade e essa deve ser a verdade.

No fim, isso não passa de sentimentalismo parecido com um zaregoto.

“Parece que chegou a uma conclusão, né Ii-chan” e a Kunagisa disse. “Então, o que vamos fazer a partir de agora?”

“O que fazer… Aqui é muito espaçoso. Deixa eu ver…” eu pensei ainda mais. Para esse tipo de coisa, eu sou muito mais apto do que a Kunagisa. Posso ser ruim no shougi, mas sou forte em finais de partida de shougi[1]. “Então…, Yayoi-san, Hikari-san, podem nos ajudar só um pouco?”

“Eh…?”

As duas soltaram essa pergunta como um dueto.

Eu me levanto.

“… Agora finalmente uma rodada terminou. Estamos alguns pontos atrás, mas está longe ser um call the game[2]. Agora, finalmente conseguimos o terceiro out e então, chegou nossa vez de atacar.”

“Número um first[3] é a Yayoi-chan. Número dois center é a Hikari-chan. Terceiro catcher é Bokusama-chan e o número quatro pitcher é o Ii-chan, né.”

Pyon, e a Kunagisa desceu da cama com um sorriso tão aberto quanto o céu azul.

“É hora do contra-ataque, né.”

  1. Como saber dar um cheque-mate no xadrez.
  2. Call the game significa desistir do jogo. É o que se faz quando percebe que não existe mais possibilidade de vitória
  3. Posições de baseball, não conheço muito também, então não posso dizer muita coisa.