Zaregoto:Volume 1: Epílogo
Conto de fadas carmesim[edit]
Epílogo
Uma semana depois de voltar ao país.
Eu finalmente comecei a freqüentar a universidade, mas como eu cheguei atrasado, não consegui me enturmar, fiquei sem vontade de ver as aulas e decidindo não ver as aulas de manhã eu estava andando pela rua central oeste. Isso quer dizer que estou faltando aula por vontade própria. Se for dizer de maneira mais direta, estou gazeando aula.
“O que eu estou fazendo mesmo tendo voltado ao Japão...”
O que eu disse agora até que é o que eu realmente sinto, mas acho que isso não tenha muito significado. Não importa se eu esteja no ER3, em Kyoto ou na Ilha dos Corvos de Asas Molhadas, no fim, eu não vou mudar. Assim como o tempo de cinco anos não causou nenhuma mudança na Kunagisa Tomo.
“Isso também é um zaregoto...”
Depois de sussurrar mais isso, eu continuei a andar. Porque estava pensando em voltar para o meu apartamento velho e ler alguma coisa, estava me dirigindo para o sul, mas no meio do caminho eu lembrei que hoje era o dia que saía uma das revistas que a Kunagisa lê e por isso decidi aproveitar e comprá-la.
“... Kunagisa Tomo...”
Depois daquilo a Kunagisa ficou trancada em sua casa. Ela está ocupada arrumando os computadores, workstation, entre outros que a Akane-san destruiu. Ela estava dizendo que dessa vez iria construir com aço, mas pensando com o senso comum isso é impossível. Claro que cada um pode dizer o que quiser e por isso eu não disse nada.
Por falar nisso, a Kunagisa pesquisou depois na net sobre a Sonoyama Akane-san e o Sakaki Shinya-san. Ela provavelmente usou ajuda de algum dos seus velhos companheiros como o Chii-kun.
A Akane-san saiu do grupo dos Sete Tolos do ER3 e agora está tendo uma vida reclusa, embora ainda trabalhe como pesquisadora. O Shinya-san também continua ao lado dela. Como eles não foram denunciados, esse é o normal mesmo.
Entrei na livraria, comprei a revista que queria com um cupom que tinha, dei uma lida e sai. E na frente da livraria estava parado um carro extravagante, ou melhor, um chique conversível. Isso é um tipo de carro que mesmo em Kyoto não se costuma encontrar, como posso dizer é excêntrico, é acrobático, algo assim.
Um carro chique que se costuma ver em revistas. Como Anaconda, Mamushi ou Aodaishou1, acho que eram nomes como esse. Tenho certeza que não é Aodaishou, mas acho que era um nome parecido com uma espécie de cobra. Só que o que alguém faria com um carro desses nas ruas do Japão. Não, antes disso, enquanto eu tentava ver que tipo de pessoa usaria uma máquina como essa, a dona saiu do assento do motorista. Era uma mulher vestida de maneira tão chamativa quanto a máquina.
Com um terno vermelho vinho, que chama a atenção querendo ou não, e com uma camisa de manga comprida branca que pode ser vista na altura do peito. E por cima disso havia um spring coat, sem que ela tivesse passado seus braços por suas mangas. O cabelo que chega até a altura dos ombros deve ter sido tratado com produtos caros, afinal ele é brilhante a ponto de parecer bizarro. Óculos escuros de cor vermelha que cobrem completamente seus olhos. Ela possui proporções dignas de uma modelo e também é alta. Ela, com certeza, possui uma bela aparência, mas é uma bela mulher que dá a impressão de que seja difícil de se aproximar. Ela parece ter muitas manias e não deve ser alguém que todos gostem.
Como sendo uma anti-iyashi-kei ou o reverso de nagomi-kei2.
“Hee...”
Acabei soltando uma frase de admiração. Faz sentido um carro de estilo possuir uma pessoa de estilo. Enquanto eu a olhava e pensava em impressões aleatórias, ela começou a andar nessa direção. Pensei que ela iria em direção a livraria e por isso abri o caminho, mas parece que eu estava errado.
Ela parou na minha frente. E com um olhar que passava pelos óculos escuros começou a me observar. Acabei não conseguindo reagir em relação a esse clima opressor, absoluto e violento. Como um sapo sendo observado por uma cobra. Por isso—por isso que eu não consegui evitar.
Ela sem dar nenhum sinal, ergueu uma de suas pernas e com a ponta do seu pumps deu um chute nos meus órgãos internos. Sem agüentar eu acabei caindo para frente.
“Ughh...”
Dava a sensação que eu acabaria vomitando tudo que estava no meu estômago. Mas não tive nem tempo de gritar. Em relação a mim, que estava caído, ela, sem dó, sem piedade nenhuma começou a pisar nas minhas costas. Usando a ponta de trás do pumps e por isso doía bastante.
Em um momento ruim como esse eu não consigo ver mais ninguém na rua. Tem um ponto de ônibus aqui perto, mas parece que o ônibus acabou de passar e não ficou ninguém. Merda, mas que azar. Mas ao mesmo tempo eu também não queria gritar e pedir ajuda a alguém. Tentei fugir ao rolar o meu corpo, mas o adversário pegou o colar da minha camisa e isso acabou dando errado.
Ela, dessa maneira, me ergueu.
“Fun... Você realmente não fecha os olhos” e ela falou como se estivesse admirada. “Nossa, incrível, incrível... Haha. Que cool. Bem, é isso. Yo, bom dia.”
“... Bom dia.”
“Não me cumprimente tão amigavelmente assim!”
Quando eu pensei que ela havia dito algo sem nexo nenhum, ela apertou ainda mais meu pescoço. E me levando dessa maneira, ela me jogou no assento do acompanhante como se eu fosse uma bagagem qualquer. E ela sentou no assento do motorista. Ela tirou seus óculos escuros e pisou no acelerador. Parece que ela não fez idle reduction. È uma inimiga do meio ambiente.
“...”
Enquanto eu afagava minha barriga e minhas costas eu pensava.
Bem... O quê? O quê? É essa situação. É um seqüestro? Eu fui? O desenvolvimento foi rápido demais e por isso não consegui entendê-lo. Mesmo que eu seja um jovem de 19 anos que se deixa levar, eu quase nunca passei por alguma situação relâmpago como essa. Quem é? Essa mulher.
“... Quem é você?”
“Hm? Nome? Onii-chan3, você perguntou meu nome?”
Ela olhou para mim. O olhar dela depois que havia tirado os óculos escuros era tão assustador a ponto de parecer de algum vilão. Poderia até comparar com um olhar que parecia que <iria atravessar o meu coração>. Que tipo de vida alguém deve passar para conseguir um olhar como esse?
“—Meu nome é Aikawa Jun.”
“...”
Aikawa?
Aikawa, Aikawa...
Tenho a impressão de que já ouvi esse nome em algum lugar.
“... Aikawa-san”
“Pode me chamar de Jun.”
Ela disse isso com um jeito de falar grosseiro. Como ela é bonita, achei que era um pouco de desperdício, mas acabei achando que esse jeito de falar combinava mais com ela.
“... Bem, Jun-san. Eu e a Jun-san já nos encontramos antes? Assim, eu tenho uma péssima memória para lembrar das outras pessoas..., mas não tenho confiança de que somos conhecidos.”
“É a primeira vez.”
“... Como imaginava.”
Não tem como eu esquecer uma pessoa com um impacto tão grande como esse.
“O que foi? Ué? Não ouviu da Iria?”
“Iria-san...?” esse também era um nome que já ouvi em algum lugar. “Bem, Iria-san, Iria-san...”
Ah.
Finalmente os circuitos no meu cérebro se conectaram.
Sim... Eu lembrei.
“Então você é o <detetive>... <Aikawa-san>?”
“O correto é contratante” e a Aikawa-san diz cinicamente. “Parece que se lembrou de mim.”
“... Não achei que era uma mulher.”
“Obrigado. Esse é o melhor elogio de todos.”
E a Aikawa-san bate no meu ombro. Eu me assustei ao descobrir que o <Aikawa-san> que eu achava que era um homem, na verdade era uma mulher e alguém bonita assim. Só que se for pensar melhor, a Iria-san chamava, tirando acompanhantes como eu e o Shinya-san, somente mulheres relativamente jovens. Se levar isso em conta, eu deveria ter percebido que a Aikawa-san era uma mulher.
É porque a Iria-san diz coisas confusas como <herói>...
“Pensei em ir até sua universidade...” enquanto a Aikawa-san mostra um sorriso leve, ela diz. “Quando fui ver, você estava lendo alguma coisa na livraria. Achei que foi uma grande coincidência e por isso decidi chamar você.”
“... Quer dizer que estava me procurando?”
“Sim. Pensei em ver com meus próprios olhos o cara que roubou o meu trabalho. Por sua causa eu não tive a chance de aparecer. Como você pensa em compensar isso?”
A Aikawa-san me encara. Sinto como se meu coração estivesse sendo literalmente segurado. Dentro de mim, aquele incidente na ilha já acabou e por isso esse desenvolvimento é algo completamente inesperado.
“Por sua causa, fiquei sem trabalho. Sem perigo de vida, quando era um trabalho simples em que só precisava pensar bem pouco.”
“Hah, assim...” e sem saber o que fazer, eu decidi me desculpar. “Bem, peço desculpas. Perdão.”
Ouvindo isso, a Aikawa-san riu “Hahah!”
“Não precisa se desculpar. Até estou agradecida por poder ter ficado tranqüila lá.”
É qual dos dois! Eu me acalmei um pouco e comecei a ficar um pouco preocupado. Então, que tipo de situação é essa? Não consigo ter idéia nenhuma. O que essa contratante, chamada de Aikawa Jun, quer fazer, qual é seu objetivo, não consigo ter idéia nenhuma.
“... Para onde estamos indo?”
“Paraíso. Não, ou era o inferno? Já me esqueci.”
“... Os dois são completamente diferentes...”
“Sim, são completamente diferentes. Absolutamente diferentes. Por isso em algum dos dois nós vamos chegar.”
Que aleatório.
E a Aikawa-san continua a dirigir tranquilamente. Para onde será que ela está indo... Vai que é o inferno mesmo. É bem possível. Pode ser que a minha vida termine aqui. Afinal, o fim sempre surge de repente.
“... Então. Como te vi, um dos meus trabalhos já acabou. Agora só falta mais um.”
Sem reservas, ela aproximou o seu rosto atraente. Em relação a esse gesto familiar, meu corpo se enrijeceu. Eu não estou acostumado a ter contato com os outros, exceto a Kunagisa.
“Bem..., mais um... O que será que é?”
“Não. Eu decidi resolver um de seus problemas” e a Aikawa-san diz. “Eu sou uma contratante. O meu trabalho é resolver os problemas trabalhosos que as outras pessoas possuem. Meu trabalho é ajudar pessoas que não tem nem idéia de como resolver seus problemas.”
“... Isso quer dizer que uma contratante é isso...”
Isso quer dizer que ela aceitou o “trabalho” de detetive como sendo uma parte do todo4. “Mas, o que seria meu problema?”
“De vez em quando eu faço trabalhos voluntariamente. Não importam o que digam, eu faço as coisas conforme tenho vontade. É uma recompensa a você por ter resolvido muito bem o incidente no meu lugar.”
“Recompensa...”
“Não fique tão nervoso assim. Eu posso parecer assim, mas até que eu sou uma boa pessoa.”
Uma boa pessoa não chuta a outra com seu pumps no seu primeiro encontro.
“Então, preocupado-chan. Quer segurar minha mão?” dizendo isso a Aikawa-san estendeu sua mão na minha direção. “O que vai fazer? A decisão é sua.”
“...”
Que pessoa estranha. Muito estranha. Estranha em todos os sentidos. Considerando o grupo de pessoas excêntricas que estava naquela ilha isolada como uma média, ela está ainda acima como pessoa estranha. Mas, eu segurei a mão dela, quase que sem nenhuma hesitação.
Essa pessoa peculiar.
Seria uma pena deixá-la ir.
“Okay, onii-chan.”
A Aikawa-san sorriu maleficamente.
Pensei que eu tinha me precipitado.
“Bem..., antes disso. Primeiramente, qual é o meu problema?”
“Isso você sabe muito melhor que eu, não é? Beem melhor. Tem idéia, certo? Eu vim te encontrar, sabe? Essa eu aqui. Por isso é óbvio que se trata da Ilha de Corvos de Asas Molhadas, não é?”
“... Então, é sobre o incidente.”
Eu disse.
“Sim” e a Aikawa-san assentiu levemente. “No fim, eu acabei visitando a ilha. Meu objetivo lá era descansar, então ajudou bastante o incidente já ter sido resolvido. Isso é o que eu realmente sinto... De qualquer jeito, eu ouvi a conversa da Iria e da Hikari, Akari e da Rei. Por sinal, a Teruko não disse nada. Como sempre ela estava calada. Eu também ouvi a voz dela uma vez só... Por falar nisso também tinha uma cozinheira que dava pro gasto e uma sinistra adivinhadora..., ah, não quero lembrar. Que diabos é aquela mulher!”
Ela se irritou de repente e sem virar o volante, ela bateu nele. Parece que naquela ilha muita coisa aconteceu entre as duas... O que ela acabou aprontando lá...? Com certeza, só de ver a Aikawa-san e a Maki-san dá para perceber que as duas não devem se dar bem...
Fun, e depois da Aikawa-san se acalmar um pouco, ela continuou.
“De qualquer jeito, eu consegui informações delas sobre o incidente. Tudo sobre ele.”
“Possui alguma insatisfação?” e eu perguntei. “Aikawa-san?”
“É Jun” e a Aikawa-san diz isso com uma voz baixa. “Não me chame pelo sobrenome. Quem me chama pelo sobrenome é meu inimigo.”
“... A Jun-san possui alguma insatisfação?”
Eu refaço a pergunta da maneira correta. Assim está bom, e a Aikawa-san ri. Ela muda muito de humor. Pensei que podia considerá-la como alguém temperamental, mas nem o tempo da uma montanha muda tanto assim5.
“Não, não..., onii-chan. Eu não tenho insatisfação nenhuma. Eu não tenho. Onii-chan, quem tem alguma insatisfação é você, não é? Você resolveu o incidente. Resolveu magnificamente. Você o resolveu de maneira que ninguém poderia sequer tentar retrucar. Mas só que você sentiu que estava faltando algo, certo? Você não está satisfeito com sua lógica, certo?”
Eu fico sem palavras. Sem levar isso em conta a Aikawa-san continua.
“Não é? Você que resolveu aquele incidente em um pouco mais de três dias, alguém com o seu cérebro, não tem como não ficar incomodado com aquilo. Estou errada?”
Em relação às palavras da Aikawa-san, eu não tenho nada a dizer. Claro que o que ela está falando não está errado. Porque é exatamente o que ela está dizendo que eu não tenho o que dizer.
É isso mesmo.
Eu—eu e a Kunagisa levamos como prioridade máxima resolver o incidente e deixamos no canto o que nos incomodava. Trancamos no fundo do coração o que não podíamos aceitar.
E a Aikawa-san sorri.
“A razão de sua insatisfação, a razão que o incomodava, a razão que você não aceitava. Sabe o que é?”
“Isso é—bem”
“Porque o Shinya matou a Ibuki? Porque o Shinya e a Sonoyama eram cúmplices?” a Aikawa-san mostrou sua língua vermelha como se estivesse me desafiando. “Não é isso?”
“—... Sim” sem mais escolhas eu assenti. “Mas isso é problema deles, e no fim não passa de um problema deles, não é? Como é um problema em relação ao motivo—em relação às relações anteriores a esse incidente, não tem como eu...”
“Somos parecidos” e a Aikawa-san disse. “Não achou isso? Você também ouviu isso do próprio Shinya, certo? Você e o Sakaki Shinya são <parecidos>. Então, porque ele mataria a Ibuki Kanami que é a existência mais preciosa para ele, que no seu caso seria a <garota de cabelo azul>?”
“... Deve ter sido algum engano. Se não for isso... É mesmo, a mais <preciosa> para o Shinya era a Akane-san. Deve ser isso.”
“E você aceita isso?” a Aikawa-san pergunta com um pouco de ironia. “Claro que não. Não tem como você aceitar isso. Você entende isso mais do que ninguém. Eu entendo bem os seus sentimentos.”
“Que enrolação... É verdade que eu não consigo aceitar isso. Mas, Aikawa-san”
“É Jun. Já falei para não me chamar pelo sobrenome.”
Ela me encarou de novo. É muito assustador.
“... Jun-san. Com certeza eu não aceito isso, mas como não tem outra probabilidade, não tem jeito a não ser aceitar. Não importa quão impossível possa parecer uma possibilidade, se ela é a única possibilidade que resta, não importa quão impossível ela possa parecer, ela é a verdade.”
“Isso é uma superstição... Então você levou a sério a razão dos crimes ter sido algo ilusório como: para comer os seus cérebros?”
Uh, e eu não tenho como retrucar.
A Aikawa-san continuava a se divertir vendo minha reação.
“Ei, ei, ei, ei, fique firme. Fique firme onii-chan. Você acha que existe um idiota nesse mundo a ponto de acreditar nessa idéia ilusória de que se comer o cérebro de um gênio vai virar um gênio ou ficar mais inteligente? Claro que não é ruim que tenha. Cada um pensa no que quiser. Todos têm seus direitos. Não é nem um pouco ruim. É livre para cada um ter um ideal ou querer continuar como um idiota. Mas, você acha que pessoas como aquela que pensam em usar cadáveres como degraus, que vêem as outras pessoas como inimigas pensariam nisso? E então, onii-chan?”
Isso é.
Com certeza, isso é exatamente dessa maneira.
“Então..., então o que aconteceu? Eu tenho confiança em minha habilidade de enrolar, mas não tanto quanto você.”
“Isso é porque você está abaixo de mim. Sim, o que você não sabe, eu sei. Isso não quer dizer que você seja incapaz.”
“Quer dizer que você é capaz?”
“Eu sou onipotente.”
E a Aikawa-san complementa com, se não for assim não tem como eu ser uma contratante. Ela é uma narcisista até a alma.
“... Então, o que a Jun-san acha sobre isso? A Jun-san vai dizer que sabe sobre tudo, certo? Então me diga, por favor.”
“Se você tivesse sido sincero desde o começo eu também não teria feito todo esse discurso” e a Aikawa-san ri. “Então, onii-chan. Com o seu cérebro, você sentiu algo anormal, certo? Ouvi isso da Hikari. Você tinha percebido, não é? A pintura que tinha você como modelo. Porque o seu relógio de pulso tinha sido pintado?”
...
Estou muito surpreso.
Relógio de pulso...?
Sobre isso, eu bem, tinha... Esquecido completamente.
“Não vai me dizer que esqueceu?” e a Aikawa-san pergunta. “Onii-chan, não vai me dizer que você conseguiu esquecer algo tão importante assim?”
“Claro que não. Eu não me esqueci. Mas, sobre aquilo... Ela pintou errado? Como a Kanami-san pinta dependendo de sua memória, ela deve ter se confundido e...”
“Impossível. Uma pessoa que é capaz de afirmar que a memória e reconhecimento são a mesma coisa, não cometeria um erro assim. Pode até ser possível, mas onii-chan, não acredita que haja outra razão?”
“Então, Ai—Jun-san, o que você acha?”
“Eu não sei o que os outros acham, mas eu, a contratante mais forte da humanidade, essa Aikawa Jun afirma que—quem fez aquela pintura não foi a Ibuki Kanami.”
“...”
“Não é? Só é possível pensar assim. Pense usando o reductio ad absurdum. Vamos considerar que a Ibuki foi quem pintou. Então seria estranho que o relógio tivesse sido pintado. Não é? Quando você estava sentado na frente da Ibuki, você estava sem o relógio. Então, quem pintou não foi a Ibuki.”
“... Por quê?”
“Como assim porque, não é como se você tivesse visto ela pintando, certo? Uma artista que não pinta na frente dos outros. Existem pessoas assim, mas eu não acho que a Ibuki fosse desse tipo. Eu acredito que—a Ibuki não conseguia pintar.”
“Não conseguia...? ... A Kanami-san é uma pintora. É famosa. Não tem como ela não conseguir pintar.”
“Por quê? Existem inúmeros pintores falsos que usam ghost painters por aí” e a Aikawa-san diz isso como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. “Existem 50 mil. 50 mil, viu? Não é estranho que a Ibuki seja um deles. Nem um pouco.”
“Então... Então, a Kanami-san é uma dessas pintoras falsas?”
Pense um pouco, diz a Aikawa-san.
“Você, por acaso não pinta?”
“Não sou muito bom na área de artes...”
“Fun. Como é você, é bem possível que tenha pensado que a Ibuki Kanami é <uma artista até a ponta dos seus ossos>, não é?”
“...”
Como essa pessoa consegue saber com exatidão o que as outras pensam. Achei que ela parecia com a Maki-san, mas se eu falar isso a Aikawa-san deve ficar de mau humor e por isso decidi não comentar sobre isso.
“Não me coloque junto com aquela mulher suspeita.”
“...”
Ei, ei.
A Aikawa-san mostrou um sorriso ‘niilistico’ e ao olhar para mim disse, “Não fique quieto.”
“Essa é uma técnica básica de ler mentes. É só uma técnica. Se treinar qualquer um pode usar. Deixando isso de lado..., afinal, porque você achou que a Ibuki era uma artista?”
“Isso é... Bem, assim”
Quando eu fui responder, acabei ficando sem palavras.
“Não é como se você tivesse visto ela pintando, certo? Você, onii-chan, só ouviu o que a Ibuki falou. Ouviu a conversa dela... E, só com isso acreditou que ela era uma artista.”
“... Também vi algumas pinturas. Como a da cerejeira.”
“Não viu ela pintando, não é? Onii-chan, apesar de você não confiar em ninguém, você até que é ingênuo. Como posso dizer, você não confia em ninguém, mas também não duvida de ninguém, deixa para decidir depois... E por isso acabou acreditando no blefe da Ibuki.”
Blefe...?
Foi um blefe? Vai me dizer que toda aquela conversa da Kanami-san, foi tudo um blefe? Isso. Não tem como eu saber dis—
“Não tem como você saber disso?” a Aikawa-san termina a minha frase antes de mim. “Será? Será mesmo onii-chan?”
“... Se tiver algo a dizer, fique a vontade.”
“Sabe, tem um jeito de pedir as coisas.”
“Por favor.”
Yosh e a Aikawa-san sorriu e assentiu.
Pode ser que ela seja mais criança do que imaginava.
“Por exemplo, a conversa sobre o vestido. Sim, você... O que você disse quando viu a Ibuki de vestido? Algo como <Você pinta com esse tipo de roupa mesmo?>, não é?”
Não sei de quem ela ouviu isso (é bem provável que tenha sido da Maki-san), mas foi isso mesmo.
“Um bom pintor não suja suas roupas com tinta...”
A Aikawa-san sussurrou isso com uma voz baixa. E então,
“Até parece que existe alguém assim!”
E gritou. “Até parece que isso é possível! Mesmo que não suje a roupa, o vestido vai ficar com cheiro! Antes de ser possível ou não, ninguém faz isso! Perceba idiota!”
Não foi uma encenação, a Aikawa-san estava realmente furiosa. Eu também acabo me contraindo a sério. De maneira que parece que ela pode bater em mim a qualquer momento. Faz sentido—agora entendo que a Hikari-san queria dizer.
<Pessoa agressiva>...
“... De qualquer jeito, na hora de pintar, é óbvio que pelo menos um avental é usado. Mesmo que não seja bom nisso, é só usar o senso comum.”
“Hah. Mas, então...”
Então, o quê? A Kanami-san mentiu para mim? Não, isso é mais do que uma mentira, apenas se tratava de...
Falta de conhecimento sobre pintura?
A pintora gênio, Ibuki Kanami... Não tinha como ela não saber disso. Afinal, isso é algo que qualquer um com um pouco de experiência saberia...
Então...
“Sim, falta de conhecimento” e a Aikawa-san falou ironicamente. “A pintora gênio que não sabe pintar, Ibuki Kanami... O que você faria em relação a esse paradoxo?”
“Então... A Kanami-san é uma pintora falsa como a Jun-san disse?”
“Não isso. Pense um pouco. E perceba onii-chan. Por isso, aquela pintura não foi feita pela Ibuki. Mas a Ibuki é uma pintora. Então, é uma lógica simples de três passos—aquela Ibuki é falsa. Por isso, é claro que ela não consegue pintar.”
“... Falsa? Mas, falsa... Por quê? Bem... Desculpa, estou ficando confuso” eu seguro a minha cabeça e penso. “Então..., isso quer dizer..., que a falsa Kanami-san foi morta e a verdadeira Kanami-san não foi?”
“Sim. E a verdadeira Sonoyama Akane foi morta.”
Pon, e a Aikawa-san bate no meu ombro novamente.
Por um instante fiquei sem conseguir pensar.
Mas, logo a surpresa apareceu no meu rosto.
“... O quê? A Akane-san?”
“Sim, a Sonoyama Akane. Se pensar assim, a dúvida inicial também faz sentido, não é? Porque o Shinya matou a Ibuki? É simples. Ele não a matou. Porque o Shinya e a Akane eram cúmplices? É simples. Eles não eram cúmplices. A parceira dele era a Ibuki Kanami. A sua mais preciosa existência.”
“... Isso quer dizer que a Kanami-san e a Akane-san tinham trocado de lugar? Mas, quando? Espera um pouco. Eu convivi com a Kanami-san e com a Akane-san por três dias na mesma ilha. Mesmo que a minha memória seja ruim, eu perceberia que elas haviam trocado de lugar.”
“Por isso que as duas haviam trocado de lugar antes disso. Antes de chegar a ilha. Não sei quando a Ibuki Kanami e a Sonoyama Akane chegaram naquela ilha, mas foi antes disso.”
“... Loira de olhos azuis. A outra possui cabelos escuros e é intelectual. Como fazer essas diferenças sumi...”
“Dá para pintar o cabelo. Se usar lente de contato é possível trocar a cor dos olhos. É fácil imitar os outros se quiser. Se possuir características marcantes como essas é mais fácil ainda. Não é?”
“Mas, então, aquela pintura...”
“Então, não foi a Sonoyama que pintou? Nesse dia quando você apareceu na frente da Sonoyama, você estava de relógio, não é? Por isso, quem pintou foi a Sonoyama. Sonoyama... Na verdade, a Ibuki.”
Sonoyama Akane... Na verdade, Ibuki Kanami. Por falar nisso, onde a Akane-san estava naquela manhã? Quer dizer que ela estava no atelier pintando aquele quadro da cerejeira? Quer dizer que naquela noite ela estava pintando o meu quadro?
“Porque, uma coisa dessas...”
“Foi para fazer com que você confirmasse que a Ibuki a qual estava sendo encenada pela Sonoyama, fosse mesmo a <Ibuki>. Não teria como você acreditar que alguém além da Ibuki pudesse pintar algo como aquele, não é?”, só que, e a Aikawa-san continuou. “A questão do relógio de pulso foi um erro não típico deles.”
“Mas... Mas, a Iria-san... A Iria-san que convidou as duas não perceberia isso?”
“Por quê?”
“Afinal... Pelo menos alguma foto ela deveria ter visto...”
“Foto? Ei, ei. Ei, ei, ei, ei, ei, ei. Não me faça rir, onii-chan. Quer que eu morra de tanto rir? Me poupe disso. Você acha que o rosto de uma foto e o verdadeiro são o mesmo? A impressão que você tem quando vê uma foto e a pessoa real é completamente diferente, não é? É por isso que não acham suspeitos por retratos falados. Uma foto é uma imagem parada e o verdadeiro está se movimentando. E as pessoas olham para as coisas de maneira arbitrária. É isso. É óbvio que eles vão dar prioridade ao verdadeiro quando comparando os dois.”
É mesmo. Isso é algo que a própria Kanami-san disse. Estou tendo uma sensação estranha, muito estranha de como se eu fosse o verdadeiro culpado e a Aikawa-san fosse a detetive.
“Porque, ... Porque fazer isso?”
“Uma travessura. Trocaram para fazer uma travessura. A Iria e a Rei também fizeram, não é? Quando você perguntou a ela porque ela fazia isso, ela deve ter respondido que era uma travessura. É o mesmo. Quem será que vai perceber? Quem dos chamados gênios vai perceber? Será que a ojou-sama que criou esse salão e já chamou vários gênios vai perceber?”
“...”
“—E isso foi o que pelo menos a Sonoyama deveria ter acreditado. Ah, isso é sobre a verdadeira. O Shinya, a Ibuki e a Sonoyama se encontraram e criaram esse plano. A Sonoyama aceitou. Deve ter achado que seria divertido. Afinal, pesquisadores devem gostar de se divertir sendo o centro das atenções. Principalmente o pessoal do sistema ER3. Até você sabe disso, não é? Afinal você já esteve lá.”
A informação do <Chii-kun>.
A Ibuki Kanami e a Sonoyama Akane se encontraram em Chicago... As duas já se conheciam..., a ponto de criarem um plano desses. A Kanami-san e a Akane-san viviam discutindo. Aquelas discussões já estavam pré-estabelecidas para que a troca delas não fosse descoberta...?
“E... Então, o que aconteceu?”
“Ficou assim. A Ibuki e a Sonoyama trocaram de lugar. A Ibuki virou a Sonoyama e a Sonoyama virou a Ibuki. E uma delas foi morta. Quem sobrou foi a Sonoyama. A Sonoyama trocada.”
“...”
“Ei. Quem pensaria que alguém que já morreu, mas que na verdade era a própria assassina seria na verdade outra pessoa?”
“... Isso quer dizer que a Kanami-san tomou o lugar da Akane-san.”
A Akane-san saiu do grupo dos Sete Tolos do ER3 e agora está tendo uma vida reclusa, embora ainda trabalhe como pesquisadora. O Shinya-san também continua ao lado dela.
“Como eles não foram denunciados, esse é o normal mesmo.”
A Aikawa-san diz isso cinicamente.
“O motivo... Era esse, então? Mas, porque fazer algo as...”
“Hah!”, a Aikawa-san fechou seus olhos como se estivesse tirando sarro de mim e balançou seu corpo. “Realmente não tem palavras para descrever como a sua pergunta é chata, onii-chan. Hey, onii-chan, se perguntarem para você, qual é a razão pela qual você vive, o que você responderia?”
“...”
“Onii-chan. Provavelmente alguém como você nunca deve ter pensado nisso. Você nunca pensou em querer ser alguma coisa, não é? Nunca pensou em ser como alguém, não é? Então não importa o quanto eu explique é impossível para você entender os sentimentos da Ibuki Kanami. Pessoas como você que já definiram seu estilo, mesmo que vão para 3000 mundos diferentes nunca vão conseguir entendê-la.”
Eu percebo que é como uma máquina virtual.
Fake...
Engana o software para fazer funcionar.
“... Do jeito que a Jun-san fala até parece que consegue entender.”
“Não consigo. Até parece que vou saber o que os outros sentem. Mas, se tem uma cabeça para pensar é possível imaginar. Sim. Quarto fechado é brincadeira de criança, não passa de uma pequena brincadeira para eles. É só uma camuflagem para não descobrirem o verdadeiro objetivo deles. Vocês também ficaram tão focados em quartos fechados, cadáveres decapitados que nunca imaginariam que havia alguém que tivesse trocado de lugar desde o começo, não é?”
É como a Aikawa-san disse.
Mas. Mesmo assim, isso é.
“É um pouco... Assim, é meio difícil de acreditar nisso...”
“Sim. Com certeza é. É tão indireto que não dá para acreditar. É tão indireto que nem a minha conversa, nem a sua personalidade problemática chegam perto. Mas, isso tem o mesmo tanto de significado. Ela matou a sua carapaça antiga chamada de <Ibuki> e renasceu como a <Sonoyama>. Conseguindo até manter o currículo da Sonoyama Akane para si mesma.”
“Mas... Não vão descobrir?”
“Não. Ela devia estar se preparando há muuito tempo. Afinal, não foi porque elas já eram parecidas de rosto que ela teve essa idéia de tomar o lugar da outra?”
“Tomar o lugar da outra... Isso quer dizer que ela a matou por isso? Com certeza se for tomar o lugar da outra é melhor que a original esteja morta, mas...”
Para que ela suma, a maneira mais rápida e simples é matá-la. Como lugar para matá-la uma ilha isolada na qual a polícia não pode intervir é ideal mesmo.
“... Então no momento em que ela matou a Ibuki-san, já podia ter acabado. Não havia necessidade de ela ter todo o trabalho de fingir que era uma vítima também.”
“Fique firme onii-chan. Mas que inconfiável. Sobre isso, é porque toda a conversa se focaria em porque somente a Ibuki foi morta, não é? É por isso que foi necessário fingir que era um assassinato em série. Matando que eles conseguem esconder o verdadeiro objetivo deles. Havia necessidade deles fingirem que eram assassinos reais que queriam matar a todos. A razão de comer os cérebros deve ter vindo porque ela ouviu a conversa de vocês. É mesmo. Mas, mesmo que eu diga matando, não é necessário envolver alguém inocente, não é? Por isso que ela fingiu que era uma vítima. Não é claro? Não é claro ao ponto de ficar de cara com isso?”
“... Assassinos chegam a pensar nesse tipo de coisa?”
“Não é como se todo assassino fosse como eles. Assim como um macaco não é igual a outro. É óbvio que para conseguir realizar o objetivo é melhor tomar o caminho menos perigoso. À medida que mais incidentes vão ocorrendo, a quantidade de pistas vai aumentando. Não foi assim?”
O Shinya-san disse que eles tinham a intenção de matar a todos. E nós acreditamos nisso. Porque acreditamos que os dois eram existências que não hesitariam em matar, afinal houve a tentativa de assassinato para a Yayoi-san e para mim.
Mas...
“Mas, tentaram matar a Yayoi-san.”
“Mas não mataram” e a Aikawa-san corta completamente o que eu tinha em mente. “Você que admitiu isso por conta própria. Você que admitiu que a <Sonoyama Akane>, que até reciclou um cadáver para se esconder, seria capaz de matar a mais alguém. Por isso que usou a Sashirono para criar aquela armadilha. Aquela foi uma armadilha que só funcionou porque aquele era para ser o fim. Mas, isso está errado. Isso é um preconceito.”
“...”
“Pense. E perceba, onii-chan. Você estava dançando em cima da palma da mão da Ibuki e do Shinya. Porque o Shinya mostrou o saco de dormir para você? Porque a Ibuki destruiu os computadores justamente no horário em que todos tinham álibi?”
“... Até isso...”
Quer dizer que tudo isso estava incluído nos planos deles? Sem contar com coincidências, tudo isso, até nossas ações estavam sendo previstas, não, estavam sendo controladas? A luta no quarto da Yayoi-san, o sofrimento da Kunagisa Tomo, tudo isso, tudo estava sobre o controle deles? Um plano tão bem montado a ponto de não haver espaço para outras possibilidades, como se todos nós fôssemos peças de xadrez? Enquanto eu estava pensando que estava dando o cheque-mate, na verdade eu só estava sendo controlado?
Não importa como, isso é impossível—embora eu queira achar isso, não tenho provas o suficiente. Mas, isso não é algo insano demais—?
Só que.
Aquela sensação de instabilidade que eu tinha antes sumiu.
A Aikawa-san estendeu a sua mão direita na frente dos meus olhos e com seu dedo indicador branco, longo e fino afagou meus lábios. Nunca tive uma experiência como essa e por isso parece que estou sendo violentado.
“Isso sim encaixou perfeito na pintura feita por ela. Aconteceu exatamente como a pintura da Ibuki Kanami, como se o relógio de pulso e todo o resto não chegassem nem a ser pequenas distorções. Grande pintora... E experimentei falar algo do gênero. Haha, talvez eles estivessem esperando eu que <viria daqui a uma semana> para ajudá-los. Na verdade poderia ser qualquer um. Desde que alguém desvendasse o mistério dos quartos fechados estava bom. E caso alguém tivesse descoberto toda a verdade e dito que a culpada era a <Sonoyama Akane>, <ela> simplesmente reviveria e assim também não teria problemas.”
E assim, ela se tomou o lugar da outra sem problemas.
Com o nome de uma das pesquisadoras do Centro Geral Generalizado de Pesquisas—
“... É mesmo. Mesmo que ela tenha conseguido o currículo dela, tenha conseguido tomar o lugar dela, tem algo chamado talento. Ela, a Akane-san, mesmo tendo saído do grupo dos Sete Tolos, continua como pesquisadora do Centro Geral Generalizado de Pesquisas. Se as duas realmente trocaram de lugar—“
“Se, né” e a Aikawa-san riu. “Ainda está dizendo isso, onii-chan. Realmente não gosta de mudanças, né.”
“—De acordo com a explicação da Jun-san a Akane-san de agora é na verdade a Kanami-san. Mas pelo que a Kunagisa pesquisou aquela pessoa realmente continua como uma <pesquisadora>.”
“Claro que ela consegue. Consegue pintar, estudar, óbvio que consegue matar, trocar de lugar com outras. Não chamam esse tipo de pessoa de—gênio?”
“... Gênio.”
Porque razão a Ibuki-san foi chamada para aquela ilha? Não foi porque ela possuía um talento único? Os escolhidos entre os escolhidos. Os melhores dentre os melhores. Aqueles que estão do outro lado daquela região. Sim, é isso, é isso mesmo a—
“Como o onii-chan definiu os gênios? Como <pessoas distantes>. Ouvi isso da Iria. Só que isso está errado. Na realidade é um vetor... Uma pessoa que gasta o tempo de sua vida em apenas uma direção e assim consegue resultados. As pessoas conseguem fazer muitas coisas. Só que ao invés de fazer muitas delas, se ela se concentrar em só uma, ela consegue mostrar um poder enorme. Isso ao ponto de fazer com que elas pareçam pessoas distantes.”
Uma função aperfeiçoada.
Direção do vetor.
Bias limitado.
Sem dividir para várias direções,
Se apontar essa seta para somente uma direção...
Concentração.
Síndrome de Savant.
Simples e pura ganância.
“...”
Ponpon e a Aikawa-san bate novamente no meu ombro.
“Você fez bem onii-chan. Mas ainda é um amador. Se for falar em termos de baseball é a little league, número quatro pitcher-kun. Se for comparar você achou que o adversário também era da little league, mas na verdade o adversário era o Dome-kun. Conhece? O Dome-kun? Será que a geração é diferente.”
Enquanto ela movia sua mão no meu braço amigavelmente a Aikawa-san disse. “Onii-chan para acabar com a história antes do detetive aparecer ainda faltou um pouco. Precisa treinar mais.”
“Mas..., espere um pouco. E a cadeira de rodas da Kanami-san?”
“Uma pessoa com pernas saudáveis pode sentar em uma cadeira de rodas” e a Aikawa-san disse cinicamente. “É só isso. A Ibuki Kanami também não disse? Que pernas são enfeites. Serviu para chutar você um pouco, mas só para isso.”
“Sobre a Akane-san consigo entender. É só ela sentar na cadeira de rodas. Mas a Kanami-san tinha problema de nascença nas suas pernas. Não tem como ela conseguir andar daque—”
“A Ibuki Kanami que tentou tomou o lugar da Sonoyama Akane. A Ibuki Kanami que deseja se tornar outra pessoa. Eu não vou me assustar se essa Ibuki Kanami já havia tomado o lugar de outra pessoa antes.”
Desde quando o Shinya-san estava servindo a Ibuki-san?
Ele disse que era uma relação antiga.
Desde quando—
E ainda continua ao lado da Akane-san.
Até quando...?
Máquina virtual.
Ajustando da mesma maneira para várias máquinas...
Sem manter um estilo.
Sem possuir algum estilo.
“Uma coisa—dessas.”
A Maki-san.
A esper chamada Himena Maki <sabia> até disso, até dessa verdade? Sabia e ficou só sorrindo, sorrindo, apenas, apenas observando a situação... Não, apenas deixando acontecer?
O que é verdade,
E o que é mentira.
Quem é verdadeiro...
E quem é falso?
“Não pode perguntar isso.”
Kukuku e a Aikawa-san começa a rir.
Até que ela estacionou o carro.
“Dust the dust6... Quer dizer isso. Você fez bem onii-chan. Realmente fez bem. Deixe me elogiá-lo. Mas, se esforce só um pouco, um pouquinho mesmo. Se estiver insatisfeito com alguma coisa não finja que ela não existe. Estabilize o que estiver instável. Jogue o que não faz sentido dentro das coisas que fazem sentido. Não ache que o que você pensa é algum tipo de sentimentalismo. Okay?”
“... Okay.”
É uma boa resposta e a Aikawa-san mostra sua língua vermelha.
“Então, é isso e desculpa incomodá-lo. É porque existem pessoas como vocês no mundo que vale a pena viver. Eu acho isso. Mas onii-chan, você está folgado demais. Sabe, as pessoas são seres incríveis. Leve as coisas a sério, a sério.”
E acabo quase inclinando minha cabeça.
“—Então por hoje é só. Até. Vai logo, desce logo, está me atrapalhando.”
Ela que me trouxe aqui e agora sou eu que estou atrapalhando, é. Mas é claro que eu não resisti, eu abri a porta e sai.
Quando fui olhar em volta para saber onde estava,
Percebi que estava bem na frente do apartamento da Kunagisa.
A região que menos parece ser de Kyoto, o conjunto habitacional para os ricos chamado de Shirosaki. Em lugar como esse, até o carro vermelho da Aikawa-san não vai chamar tanto a atenção.
“Faz sentido...” eu olhei para o andar mais alto do prédio e assinto. “Aqui é mesmo o paraíso.”
“Ou o inferno, né. Haha. Você viria mesmo pra cá, não é?”
“... Como descobriu?”
A Aikawa-san apontou para a sacola da livraria que estava levando comigo. Por falar nisso o que tem dentro é a revista que eu estava pensando em entregar para a Kunagisa. Mas, só com isso ela descobriu? Isso é como—como, aquele personagem que surge em livros antigos de mistérios, é como—
Como um detetive.
Hah e a Aikawa-san ri.
“Então, se o destino permitir, nos encontraremos novamente7. Se bem que... Um cara estranho como você e essa Aikawa Jun não devem ter um destino em comum.”
A Aikawa-san sorriu não de maneira cínica e por último bateu com um pon em cada um dos meus ombros e apontou para o andar mais alto do prédio.
“Diga que eu mandei um abraço para a Kunagisa.”
E a Aikawa-san disse.
E aqui surge uma pergunta. Não é como se eu tivesse sido o único trabalhador desse incidente, a Kunagisa merece mais que a metade dos créditos pelo trabalho. Levando isso em conta, porque a Aikawa-san só veio se encontrar comigo? Será que ela está pensando em encontrar com ela depois?
Pensei nisso e resolvi perguntar: “Não vai encontrar com a Kunagisa?”
“Já que está aqui, que tal encontrá-la?”
“Não precisa não. Já fiz isso ontem.”
“...”
Eu que fiquei por último.
Sinto as minhas forças sumindo.
Hah..., e acabo suspirando.
“... Jun-san.”
Por último, eu perguntei.
“Então... Então, por qual razão a Jun-san vive?”
“Isso é óbvio. Pela mesma razão que você Ii-tan.”
Depois de responder, a contratante vermelha pisou no acelerador e logo sumiu da minha vista. Eu fiquei por um tempo nesse lugar sem conseguir pensar. Não dava vontade de pensar.
Eita...
“... Dá a impressão de que fui interrogado pela polícia...”
Essa é com certeza uma comparação válida. Eu senti uma sensação de vazio como quando você joga a sua mala no chão.
No fim... Quem era aquela pessoa? Afinal, que intenção ela tinha quando me chutou? Ela queria confirmar a conversa que ela ouviu da Teruko-san? Ou foi só porque ela estava brava?
O mesmo vale para o fato dela querer se encontrar comigo. Isso também foi porque ela estava brava? Brava porque eu tomei o lugar dela...? Pode ser que seja isso ou não, assim como pode ter sido simplesmente ela teve vontade de fazer isso ou como a própria disse, isso foi uma recompensa.
Mas, mesmo isso não tem sentido nenhum. Pelo menos ela não parecia ser uma pessoa com uma boa personalidade e mesmo que fosse, não importa o que eu ache dela, isso deve ser um erro tão grande a ponto de ser impossível corrigi-lo.
Realmente...,
O que foi tudo isso...
Ela e ela também.
Realmente.
“Realmente..., isso não passa de mais um zaregoto.”
Por exemplo, a Akagami Iria.
Ela juntou vários gênios, brincou com os gênios, fingiu que era um gênio e só age para a sua satisfação, para o bem do seu próprio mundo. Foi assim até agora e vai continuar assim.
Por exemplo, as trigêmeas Chiga.
As três são distorcidas e ao mesmo tempo em que elas são iguais, elas são diferentes, mas assim como o triângulo de Sierpinski o todo e cada parte possuem características próprias e mesmo sendo diferentes, são iguais e é impossível para que alguém consiga olhar para o seu final que é infinito.
Por exemplo, a Himena Maki.
Para ela que já tem seu fim definido daqui a dois anos, mesmo sabendo de toda a verdade, sabendo de todas as verdades, ela simplesmente ri, boceja como um gato e dorme.
Por exemplo, a Aikawa Jun.
A detetive de cor vermelha que se diz como sendo a contratante mais forte da humanidade, mesmo depois que o incidente acabou, ela sem nenhum razão resolveu o incidente completamente, sem deixar nada sobrando e ainda por cima, saiu cinicamente.
Por exemplo, ela que eu não sei o nome.
Ela é..., sem sombra de dúvidas um gênio.
“... E.”
E.
E por exemplo, a Kunagisa Tomo.
“...”
Eu não ligo para nada.
O mundo não age conforme deveria e mesmo que agisse, isso não teria importância para mim e mesmo que tivesse, eu não teria interesse.
Eu nunca pensei no que eu quero ser e também nunca pensei no que eu deveria fazer. Penso que talvez isso possa ser bom, mas mesmo isso não tem nenhuma importância para mim.
Em algum lugar eu estou congelado.
Não, não é isso.
Eu, provavelmente, estou seco em algum lugar.
Cansado e desinteressado.
A Kunagisa Tomo é para mim,
É por isso que não consigo molhá-la.
“Molhar8, né...”
... O Shinya-san também é assim? Ele, o Sakaki Shinya que serve a ela como sua sombra também se sente assim? Se for o caso, então eu e ele somos realmente da mesma espécie.
“Hah—”
Eita.
Não sei se o nosso mundo gira em torno de alguma pessoa, mas a terra gira em torno do sol. Isso quer dizer que não passa disso e não é nada além disso. Não importa quem seja.
A verdade está sempre em algum lugar que não alcanço.
Sem contar que eu não a quero.
Pode ser que esse seja o problema. Devo ser o cara vadio como a Aikawa-san disse.
“... Tanto faz, essas coisas. Não é como se normalmente eu vivesse pensando nessas coisas, não é como se eu quisesse controlar o mundo por vontade própria, não é como se eu quisesse desvendar o mistério do mundo. Ter um quebra-cabeça na minha frente só dá trabalho. Se eu conseguir viver como estou vivendo hoje já está bom.”
Depois de terminar de falar sozinho eu comecei a andar.
Pensar mais do que isso é trabalhoso demais. Agora que os caras que querem pensar que pensem por conta própria. Pode ser rude para a Aikawa-san, mas não é como se eu vivesse para dar valor ao mundo.
Por exemplo, se você perguntar por qual razão eu vivo, eu devo responder que é só para garantir que estou vivo. No fim, a razão pela qual as pessoas vivem é algo assim, a minha razão de vida é algo assim e o mesmo vale para a maioria das pessoas.
Mas.
Mas, a Kunagisa é diferente.
Se for colocar em palavras é algo assim.
“—Tanto faz.”
Eu, mesmo estando na frente do prédio da Kunagisa, pensei em voltar por hoje. A razão é porque eu queria fazer com que a previsão daquela contratante de conversível chique estivesse errada. Só isso.
Mesmo que eu não a encontre hoje, amanhã eu posso.
Se eu quiser encontrá-la, posso fazer quando quiser.
É só isso.
É isso, mas...
O meu pé pára mais uma vez.
E eu penso.
Cinco anos atrás.
Eu acho que eu não tinha nada antes de encontrar com a Kunagisa Tomo. Mas, mesmo depois de nos reencontrarmos, mesmo estando junto dela, eu, ainda, não tenho nada.
Estou vazio.
É como...,
Um trabalho de rotina sem sentido algum.
Como se só estivesse movendo, vivendo.
“... Ah... Merda.”
O sorriso irônico da contratante me vem a cabeça.
Lembro do que a profetiza disse.
Também das palavras das trigêmeas mentirosas.
E então,
Do aviso dela que não sei quem é.
“... É só eu ir, não é, é só eu ir...”
Isso me deixa ofendido, mas minha vida é ser levado pelos outros. Vou ser controlado do jeito que desejarem, da forma que queiram, de acordo com a vontade dos outros.
Como um boneco.
Uma máquina sem coração.
Mesmo que isso não esteja sendo levado a sério.
E assim.
Essa indecisão aleatória, vaga, mecânica, mundana que não traz mudanças, que segue uma certeza fútil de maneira estranha e por cima confusa, termina como um conto de fadas vermelho.
Eu pensei em ir ao lado da Kunagisa.
<Alred marchen> is the END !!9