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Revision as of 21:55, 19 August 2016
PRÓLOGO: Um caminho longo demais para ser percorrido apenas correndo
1. Presente: 0 km
Afinal, acabou não chovendo. Apesar do quanto rezei para que isso tivesse acontecido.
Minhas orações também não funcionaram no ano passado. Isso somente demonstra o quanto rezar para que chova é algo completamente inútil. Logo, ao compreender isso, suponho ser capaz de aceitar pacificamente as condições quando, de maneira inevitável, esse dia chegar novamente no ano seguinte. Não faço nada que não preciso fazer, e o que preciso fazer, faço rapidamente. Hoje, eu, Houtarou Oreki, aprendi como rezar para que chova é algo no qual definitivamente não preciso fazer.
Dos milhares ou mais estudantes do Colégio Kamiyama antes espalhados nos arredores da entrada, um terço já havia desaparecido. Haviam partido em uma jornada aos confins do distante horizonte. Eu sabia que isso não era nada além de uma atividade inútil, mesmo assim, não sentia nenhuma simpatia. Afinal, logo estaria passando pelo mesmo sofrimento.
Com um longo ruído de perfurar os tímpanos, o megafone foi ligado novamente e por meio dele foi proferido um comando.
“Desse modo, concluímos todas as classes do terceiro ano. Classe 2-A, a seus lugares.”
Colegas de classe, como se estivesse sendo arrastados, começaram a tomar suas respectivas posições. Entre eles haviam aqueles transbordando de entusiasmo, entretanto, a maior parte dos estudantes tinha uma aparência de conformação em seus rostos e a tranquilidade irradiada era quase serena. É provável que eu também tenha exatamente a mesma expressão no rosto.
Havia uma linha desenhada com giz no chão. Ao lado, estava posicionado um membro do Conselho Estudantil com uma pistola em mãos. Ele não irradiava nenhum pouco da sua severidade sem sentido, normalmente encontrada no cruel e frio exercer de sua função. Considerando seu rosto de estudante do ensino fundamental, deve ser alguém do primeiro ano. Estava focado em seu cronômetro, como se não fosse tolerar qualquer desordem, nem por um segundo sequer. E até o fim do dia, estaria apenas cumprindo ordens. O mais provável é que nem mesmo esteja considerando o tipo de significado especial que suas ações têm sobre nós. Se tiver pensado a respeito, deve ser no máximo algo como: “Não tomei essa decisão. Meus superiores disseram-me o que fazer, e devo fazer aquilo instruído a mim. Não é como se quisesse fazer, então não tenho responsabilidades em relação a isso.”.Era exatamente esse tipo de raciocínio que permitia a ele realizar tão incalculável crueldade sem nem mesmo uma mudança de expressão. Lentamente, levantou a pistola em sua mão.
Talvez agora, nesse exato momento, nós iremos testemunhar uma chuva tão violenta e repentina que irá transformar para sempre a meteorologia conhecida até os dias de hoje. Porém, o céu de julho permaneceu tão refrescantemente claro a ponto de me irritar. Nem mesmo raposas conseguiriam se casar em um dia como esse*.
(N.T: Dizer que uma raposa irá casar é uma expressão idiomática japonesa que se refere a chuvas de verão.)
“Preparar.”
Ah é. Não havia percebido isso um segundo atrás? O céu não responde nossas orações. Não tenho escolha a não ser fazer o esperado. Até o momento final, o membro do Conselho não tirou os olhos do cronômetro. Usando um dedo fino, ele puxou o gatilho. Um som explosivo soou e fumaça surgiu do cano da pistola.
Esse é Evento Hoshigaya organizado pelo Colégio Kamiyama. Finalmente, a Classe 2-A começou a correr. O Colégio Kamiyama é bastante conhecido pelo excesso de entusiasmo no campus quando se trata de atividades relacionadas aos clubes, sem falar que apenas tentar contabilizar a extensa quantidade de clubes existentes já é um saco por si só. Se me recordo bem, existem cerca de cinquenta esse ano. O Festival Cultural de Outono causou bastante agitação por cerca de três dias e o entusiasmo foi tão intenso que qualquer um que seja bom da cabeça concordaria que estávamos um pouco sobrecarregados.
Por outro lado, isso também significa uma abundância em relação a eventos esportivos. Embora não haja atletas em nossa escola com capacidade suficiente para participar dos intercolegiais, ouvi dizer que o Clube de Artes Marciais possui um histórico bem impressionante. Assim que as coisas começaram a se acalmar e o Festival Cultural foi encerrado, o Festival Esportivo iniciou logo em seguida e conjuntamente, uma gama de torneios esportivos tomou seu lugar no começo do novo ano acadêmico. Devo dizer que não considero tudo isso tão exaustivo quanto parece. Não é como se eu estivesse explodindo de vontade de participar, mas no mínimo posso concordar em jogar vôlei na posição de líbero ou correr a maratona de 200 metros. Como sou obrigado a participar, no mínimo posso encontrar algo que possa me fazer suar um pouco a camisa e mostrar a todos um sorrisinho.
Mas, acho que realmente não vou conseguir sorrir nem uma vez sequer enquanto me fazem correr dessa forma... Especificamente quando se é dito para correr por cerca de 20.000 metros.
A corrida de longa distância do Colégio Kamiyama acontece todos os anos durante o final de maio. Aparentemente, a nomeação atual é “Evento Hoshigaya”. Mesmo que o evento tenha supostamente sido nomeado dessa maneira em homenagem a um ex-aluno que se estabilizou no Japão como um habilidoso corredor de longas distâncias, ninguém usa esse título. Em contraste em relação a como o Festival Cultural é nomeado com algo enigmático como “Festival Kanya” mesmo não possuindo um nome específico, o Evento Hoshigaya costuma ser normalmente conhecido apenas como “o dia da maratona”. No meu caso, por conta de meu amigo Satoshi Fukube apenas se referir a ele como Evento Hoshigaya, acabei me acostumando a chamá-lo dessa forma.
Agora, sei como deveria estar contente considerando que essa maratona é mais curta do que uma maratona de verdade. Contudo, no fim das contas, realmente esperava que houvesse chovido hoje. De acordo com Satoshi, o regulamento sobre o uso de ruas públicas indica que, em caso de chuva, a maratona deveria ser interrompida imediatamente e permaneceria sem previsão de retorno pelo resto do dia.
De qualquer modo, ele também acrescentou, “Mas é estranho, não é? Pelo o que pude ver de todas as edições passadas, o Evento Hoshigaya não foi interrompido nem uma vez sequer”.
Deve existir um deus em algum lugar que zela pelos atletas do Evento Hoshigaya. Esse deus não deve ter coisa melhor para fazer.
Eu usava uma camisa branca de mangas curtas e shorts de uma cor entre o vermelho e o roxo, algo como carmesim. As garotas usavam shorts justos da mesma cor. O emblema do colégio estava bordado no peito da camisa e ao lado estava visível uma etiqueta informando o nome do aluno e sua classe. O fio de costura que mantinha minha etiqueta “Classe 2-A / Oreki” no lugar estava começando a descosturar. Fazer isso já foi um saco e eu ainda acabei por não fazer um bom trabalho. Nada bom.
Atualmente estamos no final de maio, então não chove tanto quanto na temporada que está por vir*. Parece que a maratona não poderia ocorrer no dia seguinte por conta do final de semana se fosse de fato cancelada na sexta. Acho esse o mínimo de consideração dada em relação a isso tudo. Devido ainda ser por volta das nove da manhã, estava desagradavelmente frio. Assim que o sol ficar mais forte, tenho quase certeza que logo começarei a suar.
(N.T: A temporada de chuvas japonesa, Tsuyu, tipicamente começa no início de junho e segue até o meio de julho).
Existe outro portão no campus, ao lado dos portões principais, e toda a Classe 2-A o atravessou ao começar a correr. Até logo, Colégio Kamiyama. Devemos nos encontrar novamente daqui a 20 km.
O trajeto do Evento Hoshigaya não era muito bem definido e sua única instrução específica era “dê uma volta nos arredores do colégio”. Entretanto, isso se resume a toda a área montanhosa por detrás do colégio que prossegue até distante e nevada Cordilheira Kamikakiuchi. Então, na realidade, a “corrida de longa distância” era mais algo como uma trilha de longa distância.
Eu conhecia muito bem o trajeto.
Você corre um pouco ao longo do rio que flui em frente ao colégio e então sobre a ladeira à direita na primeira interseção. Ela parece suave no início, porém, rapidamente a inclinação se torna maior. Assim que se aproxima do topo, ela se torna tão impiedosa que acaba com o corpo de qualquer um.
Uma vez que você a tenha subido, a estrada imediatamente se torna uma descida. Assim como na subida, a descida é muito mais longa e violenta do que o esperado e seus joelhos sobrecarregados pelo esforço irão gemer de dor.
O fim da descida nos levará a uma larga expansão da zona rural da cidade. Você vai poder enxergar ocasionalmente uma casa aqui e ali. Como há pouca inclinação nesse ponto da estrada, ela segue numa linha reta como se fosse durar por toda a eternidade, por isso esse trecho tende a causar o maior impacto psicológico possível.
Uma vez que alcance o fim dessa planície, terá de subir outra ladeira, porém, diferente da anterior, essa não é tão violenta. O problema é, na verdade, que o vento nessa estrada é extremamente forte e as constantes curvas surgindo uma após a outra tendem a acabar com o ritmo de qualquer um.
Acima reside a região nordeste da cidade de Kamiyama chamada Jinde, o local onde a casa de Chitanda fica localizada. Nesse ponto, você segue por um estreito rio colina acima.
Continue seguindo o caminho através do vale dessa forma e eventualmente você retornará a área urbana. Porém, embora diga isso, não é como se nós fossemos correr pelo meio das principais avenidas, então, como resultado, usamos rotas alternativas. Uma vez que você passe em frente ao Santuário Arekusa e do estereotipadamente branco Hospital Rengou, você começará a poder ver o Colégio Kamiyama.
Como sei disso tudo? Bem, sabe, eu participei no ano passado. Conheço cada trecho do início ao fim. Mas possuir esse conhecimento não vai fazer encurtar a distância nem um pouquinho sequer. Enquanto compreendi por onde tínhamos de ir, sinto que é necessário omitir o processo para se chegar até lá. Mesmo embora isso seja provavelmente impossível, ao mesmo tempo é provável que seja também a estratégia mais favorável. Em outras palavras, quando é necessário percorrer uma distância de 20 km, no mínimo deveria ser permitido à pessoa escolher entre pegar um ônibus ou ir de bicicleta. Contudo, infelizmente, esse meu raciocínio extremamente lógico parecia não estar sendo levado em consideração.
Enquanto subimos o rio em frente ao colégio, os problemas já estavam começando a surgir subitamente. A maior parte do trajeto ocorria em áreas de pouco tráfego, todavia, as ruas principais são conectadas a essas rotas alternativas, então havia uma quantidade considerável de carros trafegando. Ademais, não havia nada como um meio-fio separando os corredores dos veículos – apenas uma única linha branca. A única razão para estarmos correndo tão cedo era para não causarmos nenhum congestionamento nas ruas.
Os estudantes da Classe 2-A corriam em uma fila única dentro da área demarcada pela linha branca. Esse era o único ponto por todo o perímetro de 20 km onde ambos os alunos velozes e lentos precisavam correr ao mesmo passo. Caso contrário, eles poderiam acabar sendo empurrados em direção à pista. No ano passado, foi “mais ou menos” permitido nos expandirmos um pouco da linha demarcada, porém, esse ano isso é estritamente proibido. É uma precaução tomada pela escola em busca de prevenir possíveis acidentes como o de um aluno do terceiro ano que foi atingido por um carro ontem. Graças a isso, nos foi permitido esse imenso prazer de ficarmos prensados em uma fila no qual era difícil correr.
Então, acho que não poderei ficar caminhando por esse trecho. A fila se mantinha correndo em um passo leve e ocioso. A estrada em minha frente era longa. Se ficar imaginando que se correr nesse perímetro, no próximo poderei permanecer caminhando, suponho poder tolerar isso.
Nós finalizamos o quilômetro, antes parecendo tão longo, e o rumo da corrida seguiu em direção a uma ampla estrada à direita. Nós nos afastamos da estrada principal vinda da área urbana e começamos a nos aproximarmos da parte posterior do colégio. É quando inicia a subida da ladeira.
Os corredores enfileirados começaram a se dispersar. Como se impelidos pela crescente frustração de não serem permitidos correrem em seu próprio ritmo, aqueles que possuem um melhor condicionamento físico imediatamente tomaram a dianteira do grupo. Vários grupos de garotas começaram a se mover, provavelmente motivadas por alguma promessa de alegremente correrem lado a lado umas das outras.
E eu, comecei a diminuir o passo...
E a diminuir ainda mais.
Nesse ponto, já estava basicamente caminhando, no entanto me mantive tentando parecer estar correndo de modo indiferente. Desculpe a todos os atletas aqui no Evento Hoshigaya, mas não posso me dispor a parecer tão entusiasmado quanto vocês. No meio desse breve trecho de 20 km, há algo do qual absolutamente preciso descobrir, e apenas disponho de 19 km restantes para fazer isso. Depois de percorridos uns grosseiros 100 m da ladeira, ouvi uma voz vinda de algum lugar atrás de mim.
“Ah, aqui está ele”.
Não me virei para olhar, porém, o portador da voz apareceu na minha frente de qualquer forma. Ele, Satoshi Fukube, desceu da bicicleta do qual pedalava antes.
Observando a distância, pensei que ele parecesse um tanto quanto andrógeno, mas ao verificar seu rosto a curta distância, ele parece muito mais diferente do que você poderia ter esperado ao olhar no anuário do ensino fundamental - como era o seu antigo eu - e isso ainda me impressiona. É claro, o problema não está no fato do rosto dele ter mudado tanto assim, mas por conta de, no decorrer do ano passado, ele ter guardado dentro de si todas as suas emoções por detrás daquela fachada. Eu ainda não havia percebido isso porque não o via há quase três dias.
Esse ano, Satoshi se tornou vice-presidente do Conselho Estudantil. Como era o Conselho quem estava organizando o Evento Hoshigaya, seus membros não precisam participar da corrida. Afinal, eles partiram antes do início da maratona e é esperado que estejam distribuídos por todo o percurso. Satoshi está usando um capacete amarelo e empurra sua usual mountain bike. Olhei para ele pelo canto do olho e disse, “Tem certeza que não tem problema deixar de lado suas tarefas?”
“Não, não. Tudo bem. Já confirmei com certeza que a maratona começou sem nenhum problema e não vou voltar até que o último corredor atravesse a linha de chegada.”
“Parece cansativo.”
Entendo que o Conselho Estudantil não precise participar da maratona graças aos seus esforços em supervisionar cada detalhe do Evento Hoshigaya. Em controvérsia, esse cara vai precisar cobrir todo o percurso por cerca de 20 km em sua mountain bike para relatar quaisquer problemas que possam vir a ocorrer.
Satoshi deu de ombros.
“Bem, não é como se eu odiasse pedalar porque isso realmente não é algo ruim, mas não precisaria me desgastar tanto se pudesse pelo menos estar carregando o meu celular.”
“E você não pode fazer algo sobre isso?”
“Não é permitido o uso de celulares a nenhum dos estudantes no campus. Mas, na verdade, se alguém se machucar eu poderia usar o celular pra pedir ajuda, não é? Eles precisam seriamente reavaliar suas regras. Sério.”
Com isso, ele também lamentou a inflexível estrutura organizacional do Conselho Estudantil, mas de repente uma expressão muita séria pairou sobre ele.
“Então, você acha que já tem uma ideia...?”
Como estava caminhando devagar, respondi cautelosamente.
“Ainda não.”
“Acho que a Mayaka...”
Ele começou a falar, mas logo parou. Tinha ideia do que ele pretendia dizer então logo comecei a dizer.
“É obvio que ela suspeita de mim.”
“Não, não acho que seja esse o caso. Parece que agora ela imagina que não tenha sido por sua causa. Isso foi o que me disseram, mas aparentemente ela disse: Não acho que o Houtarou tenha feito alguma coisa. Afinal, ele literalmente não fez nada.”
Um sorriso amargo se espalhou em meu rosto. Não somente isso soa definitivamente como algo que Ibara diria como também é a realidade. Não fiz absolutamente nada ontem.
Entretanto, se é dessa maneira que ela realmente pensa, as coisas podem vir a se tornar um pouco problemáticas.
“Se não foi eu...”
“Exatamente”, prosseguiu Satoshi com um suspiro profundo.
Se não fui eu, existe apenas uma única outra pessoa que poderia ter sido o responsável. Comecei a pensar sobre o que aconteceu ontem.
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