Kizumonogatari ~Brazilian Portuguese~/Koyomi Vamp/004

From Baka-Tsuki
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004[edit]

De repente, recobrei a consciência.

Sinto como se como se tivesse renascido.

Não, a melhor maneira de dizer seria 'sinto como se estivesse vivo de novo'.

“Ahh! Foi tudo um sonho!”

É o que eu gostaria de dizer.

Obviamente, não foi um sonho – pois, se fosse, o lugar onde eu acordaria seria o meu quarto.

Mas esse lugar não é meu quarto.

É um lugar que nunca vi antes.

Minhas irmãs, que me acordavam todo dia de manhã, também não estavam aqui.

“...”

Mas.

Tive vontade de voltar a dormir – dormir até acordar desse sonho.

Então... isso são... ruínas?

Eu percebi que estava dentro de alguma estrutura arquitetada pelo homem.... as janelas estavam todas cobertas com tábuas largas pregadas à parede, as lâmpadas fluorescentes do teto estavam todas quebradas.

E então eu percebi

Eu estava dormindo no chão.

O chão revestido de linóleo.

Repleto de rachaduras.

Movi minha cabeça, conferindo meus arredores – o que é aquilo pendurado na parede?

Um quadro-negro?

E...mesas?

Cadeiras?

....Uma sala de aula?

É uma escola – mas não o Colégio Naoetsu de Ensino Médio, pelo menos isso eu sei.

Só que – sinto também que isso não é uma escola normal.

Afinal, eu ainda sou um estudante do Ensino Médio.

E mesmo não sendo a minha escola, eu ainda consigo reconhecer se um prédio é ou não uma. E é por isso que consigo afirmar que esse prédio aqui é ou não uma escola.

Mas, dito isso, o que é este prédio?

Não é uma escola, mas ainda é um lugar onde há um quadro-negro e um grande número de mesas e cadeiras...?

Ah! Já sei!

Essa é o clima de uma sala de cursinho preparatório.

O prédio de um cursinho preparatório.

Mas, dito isso, independentemente de como eu veja, esse é um prédio de cursinho abandonado.

Janelas, lâmpadas fluorescentes.... parecem ser ruínas de um prédio de cursinho preparatório?

Provavelmente, porque está escuro demais, eu só consigo enxergar... – espera, escuro demais?

Hã?

Por que eu, mesmo dentro de uma sala com as janelas cobertas, onde não entra nem um pouco de luz, consigo enxergar com tanta clareza?

Eu sei que estava muito escuro.

Eu podia ver também que não havia nenhuma fonte de iluminação por perto.

De modo que eu não deveria ser capaz de ver nem meus próprios dedos – mas nesse breu total, eu ainda conseguia enxergar tudo.

E enxergava com muita clareza.

Não, mas... será que estou realmente vendo?

Provavelmente porque acabei de abrir os olhos, e meus sentidos ainda não estão em ordem?

Enquanto eu seguia essa linha de raciocínio bizarra, eu me levantei –

“...agh”.

Naquele instante, eu mordi a minha gengiva.

Hmm?

Por que meus dentes caninos estão tão compridos?

Coloco meu dedo dentro da boca para checar e...

Quando movo meu dedo, minha mão também acompanha, e, nesse instante, eu notei – dormindo em cima do braço que eu queria mover estava uma garotinha.

“......”

Hein?

Uma garotinha?

“.....ahhhhhhhhhhh!?”

É, realmente, uma garota.

Deve ter, aproximadamente, de 10 anos?

Com um vestido justo, uma garota loira – com pele tão branca que chegava a aparentar ser transparente.

Unf unf, respirando calmamente.

Ela estava dormindo.

Dormindo tranquilamente

“......”

Ok, não estou entendendo nada.

Por que estou aqui, aliás, onde é este lugar, e quem é essa menina loira? Eu não estou entendendo nada.... mas eu tenho certeza de que a situação em que me encontro não é nada boa.

Se fosse só uma garota, então tudo bem.

Mas, com uma menina tão nova que nunca vi antes, a situação já adquire nuances criminosas.

“E, ei... ei, acorde”

Segurei a menina por lugares não problemáticos (como os braços), e comecei a sacudi-la.

“Hmmmm....”

Então a menina loira, morrendo de sono, disse:

“Mais cinco minutinhos....”

Uma menina loira dizendo uma frase tão clichê.

Ela voltou a dormir.

“Ei... Me escuta! Acorda!”

Eu não me importava com ela, então continuei sacudindo seu corpo.

“...Só mais um pouco.”

“Quanto mais você quer dormir?!”

“....Uns quatro milhões e seiscentos mil de anos?”

“Outra Terra iria surgir!”

Eu retruquei gritando, e depois cobri minha boca em pânico.

É verdade.

Pensando bem, seria uma má ideia acordá-la agora.

Enquanto ela está dormindo, eu vou encontrar uma maneira de resolver esse problema sozinho. Sem dúvidas, este é o melhor jeito. No entanto, embora eu tenha utilizado a palavra ‘resolver’, eu não sei nem mesmo por onde começar....

Antes de mais nada, olhei para o relógio no meu pulso esquerdo.

Então.

Agora são – 4:30.

Não, sendo um relógio analógico, eu não consigo definir se é da manhã ou da tarde.

Meu celular, meu celular.... achei!

O horário na tela é 16:36.

A data é... 28 de Março!?

Bem.... lembrando-me da última vez em que conferi meu celular... naquela hora... a data havia acabado de mudar ... e era 26 de Março.

Isso significa que... dois dias se passaram?

“....Não.”

Se isso, realmente, não for um sonho.... quanto disso é real?

Então.

Essa lembrança – até que ponto ela é verídica?

Desta vez, para não acordar a menina, eu, delicadamente, me retirei de debaixo de sua cabeça.

Primeiro, preciso confirmar o que exatamente é esse lugar....

Caminhei em direção à porta da sala de aula sem fazer barulho – a porta estava aberta.

Na verdade, a porta estava solta, meio caída, bastante insegura para uma porta. Mas possibilidade de estar confinado em uma instalação estranha evaporou com isso. (Sei que soa bobo, mas é, genuinamente, assustador).

Ah, antes de falarmos sobre a adorável garotinha loira dormindo logo ali, sequestrar um cara como eu não renderia nem um centavo no resgate...

Depois de sair pela porta, vi uma escadaria.

Havia um sinal no chão, em que se lia [2A].

Segundo andar?

As escadas subiam e desciam.

Pensei em que direção seguir – normalmente, seguiria-se para o primeiro andar.

Porque, em primeiro lugar, se não se pode sair do prédio, não se pode fazer mais nada.

Parece existir um elevador em frente à escadaria, mas, sem dúvida alguma, ele não funciona.

Desci as escadas.

“...Bem, a agenda do meu celular ainda tem o telefone e o e-mail da Hanekawa, isso confirma que meu encontro com ela depois da cerimônia de encerramento, de fato, aconteceu... então o passado além dessa memória deve ser real também”

As calcinhas não foram parte de um sonho.

Embora pareçam ter saído de um.

“O dinheiro dentro da minha carteira diminuiu, e o recibo está aqui.... isso quer dizer que a compra daquelas revistas de mulheres para jovens também foi real.”

Fingindo não notar meus eufemismos, continuei a falar.

“Mas, o que aconteceu depois disso... não pode ser real de jeito nenhum!”

Mesmo se não foi um sonho.

Será que entendi alguma coisa errado?

Por exemplo, digamos – uma mulher foi atingida por um carro... e então eu a encontrei.... e desmaiei logo depois?

Hm.

Mesmo que pareça forçado, ainda faz mais sentido do que o que eu, de fato, me lembro. Especialmente por ser meu primeiro desmaio.

E então... comigo inconsciente, alguém me trouxe até aqui... não, não tem como acontecer algo assim. Digo, seria muito mais fácil chamar uma ambulância.

Mas, o horário mostrado no meu celular estava certo.

Ah, não! Fiquei longe de casa por dois dias! Talvez até três.

Embora essa não tenha sido a primeira vez que durmo fora de casa sem nenhum motivo, três dias quase transpõe a linha do perigo. Mesmo que, comparado à conduta excêntrica das minhas irmãs ficar alguns dias longe de casa é quase irrelevante... eu, ainda assim, preciso dar notícias!

Neste momento, eu, mais uma vez, pensei em eufemismos.

Mas esse pensamento, no instante em que pus meu pé fora do prédio, vaporizou-se por completo. Desviei das tralhas espalhadas próximas dos meus pés, pedaços de metal, de vidro, latas, de papelão, latas e placas que não consigo ler (mas, como eu consigo enxergar em um lugar tão escuro?). Do lado de fora do prédio, no momento em que eu cheguei à grama densa onde não havia ninguém.

Neste instante.

Meu corpo.

Meu corpo inteiro.

Entrou em combustão.

Eu devia ter notado.

O sol da tarde – por que ele ainda está tão ofuscante mesmo a essa hora?

Mas era tarde demais – meu corpo entrou em combustão.

“Giahahahhahahahahahaha”

Dei um grito bem diferente de um choro.

Não posso dizer que dói.

Cabelo, pele, carne, osso, tudo – pegou fogo.

Eu estava queimando.

Em uma velocidade incrível – carbonizando.

“Ahahahahahhahaha”

Vampiro.

Fraco contra o sol?

O vampiro, como um ser da escuridão, é impotente contra o sol?

É por isso que eu disse – sem sombra.

Mas por que eu –

“Idiota!”

Na minha direção, enquanto eu estava tentando extinguir as chamas do meu corpo usando o conhecimento sobre rolar no chão (acho que li em algum lugar que você consegue extinguir as chamas ateadas a seu corpo dessa maneira), veio um som de dentro do prédio.

Olhei para cima.

Enquanto eu queimava, sem qualquer umidade na pele, usando esses olhos, olhei para o lugar de onde o som estava vindo – e lá estava a garotinha loira que dormia há pouco.

A menina olhou para mim com olhos nobres e

“Volte para cá! Já!”

Gritou isso.

Dito isto, devido à dor dilacerante, meu corpo não conseguia se mexer de acordo com a minha vontade – me vendo assim, a menina se decidiu e, de repente, saiu correndo para a parte de fora do edifício.

Naquele momento.

Como eu – o corpo dela pegou fogo também.

Mas, sem se importar consigo própria, continuou correndo em minha direção. Então, me segurando, caído no chão, simplesmente arrastou.

As chamas aumentavam conforme queimavam.

E ela continuava a me arrastar.

Eu senti a força dela.

Uma força muito maior do que uma criança devia ter.

Braços tão pequenos deveriam receber uma medalha por ter tanta força – mas não tinha poder o suficiente para me carregar.

Só me arrastaram.

Enquanto continuavam a queimar.

Queimando e ainda sendo capaz de usar tanta força, uma determinação gigantesca – e mesmo com todas as dificuldades, a menina me arrastou até dentro do prédio, longe da luz do sol, onde queimávamos ambos.

A surpresa maior ocorreu depois.

As chamas

As chamas que castigavam o meu corpo e o corpo da garotinha loira, no instante em que nos abrigamos na sombra – desapareceram, como por mágica. Não somente isso – nem ficamos com marcas de queimaduras.

Depois de termos sido consumidos pelo fogo.

Nem mesmo as nossas roupas estavam queimadas.

Meu moletom com capuz e minhas calças camufladas.

Como se nada tivesse acontecido.

O vestidinho macio da menina estava no mesma situação, também.

“Eh, eh, eheh...?”

“Francamente.”

Para um eu muito atordoado – a garotinha falou.

“Que espécie de imbecil simplesmente sai a caminhar diretamente debaixo do sol? – eu tiro meus olhos de ti por um segundo e tu fazes algo assim. Tens por acaso vontade de morrer? Um vampiro comum evaporaria em um instante.”

“...Hein?”

“Nunca mais repita esse teu procedimento de agora. Por ter poderes imortais, vais queimar, regenerar-te, queimar, e regenerar-te novamente num ciclo infinito. Seja quando o poder regenerativo parar de funcionar ou quando o sol desaparecer – ainda assim tu vais acabar por saborear o que é o inferno. É isto que significa ser um vampiro imortal –“

“Ahn -- -- -- -- Ahn?”

Vamp -- -- -- -- iro?

Então, de fato – isso não foi um sonho ou um equívoco.

“Então, então você é?”

Cabelo loiro, vestido

E esses olhos frios

Não, a idade é muito diferente – a vampira agonizante que encontrei, mesmo sendo incapaz de determinar precisamente a idade dela, só pelas aparências, devia ter pelo menos 27 anos de idade.

É completamente diferente de uma menina de 10 anos.

E além disso, os membros.

Braço esquerdo, braço direito, perna esquerda, perna direita – a menina loira tem todos eles.

A menina de 10 anos tem todos esses membros, como gravetos cobertos por carne.

Comparada à mulher com os membros decepados – é muito diferente.

Mas –

Mas existem semelhanças.

Por exemplo, no interior da boca dela, quando ela fala, eu vejo dentes brancos – e tudo mais.

“Hum, hum”

Ela acenou a cabeça.

Repentinamente, com uma confiança absurda, ela inflou o peito e disse.

“Sou eu, Kissshot Acerolaorion Heartunderblade. Tu podes chamar-me de Heartunder-Blade.”

E então ela continuou com esse chocante discurso.

“Eu criei somente dois subordinados dentro de quatrocentos anos – hm, considerando os teus poderes de regeneração, parece que foste afortunado. Não foste tomado pela fúria ensandecida, também. Somente preocupei-me quando vi que não abrias os teus olhos.”

“Su- subordinado?”

“Sim, és tu – hm. Acho que penso sobre isso, não sei teu nome. Uhm, bem. O nome que possuías anteriormente já não é adequado a quem te tornaste agora. De qualquer modo, servo.”

Ela riu.

Riu exageradamente.

“Seja bem-vindo ao Mundo Noturno.”

“......”

A vida de Araragi Koyomi, que tem um pouco mais de 17 anos, devia ter acabado.

Mas não ocorreu desta maneira.

Eu senti que o significado havia mudado um pouco.

Eu – como já foi escrito com palavras, havia renascido.

O vampiro.

Em mangás, filmes, vídeo-games, como veias que se espalham sem fim – para mais da metade da população, é um ser antigo.

Mas, para mim, um estudante do Ensino Médio dessa geração, vampiros são assunto raro.

Você poderia dizer que já foram quase esquecidos.

Como a sonoridade do nome sugere, eles são demônios que se alimentam de sangue.

Na melhor das hipóteses, eles não gostam do sol, não têm sombra – e disso eu já sei, alem disso também foi algo que Hanekawa havia me contado.

E então – o que mais? Ah, é, eles não gostam de alho, né?

Não tenho certeza.

É por isso que eu disse – Eu não sei de nada.

Quando um vampiro bebe sangue – aquele lance sobre quem está tendo o sangue sugado se transformar em vampiro.

Se sangue for sugado, você se torna um companheiro.

Se sangue for sugado, você se torna um subordinado.

Isso de forçar seres humanos a desistirem da humanidade – eu não tinha a menor ideia.

Companheiro.

Subordinado.

Eu pensei que eu iria ter morrido com certeza!

Se uma pessoa oferecer sua porção inteira de sangue, é claro que ela vai morrer – e é porque eu estava determinado a morrer que eu ofereci meu pescoço pra ela.

Mas – e quem poderia imaginar?

Eu não tinha vontade alguma de ter me tornado um vampiro.

Mas não adianta dizer isso agora – seria um arrependimento irremediável.

Eu, depois de ter meu sangue sugado por ela, de maneira completamente absurda, me tornei um vampiro.

Nem preciso provar.

Esse corpo que entra em combustão debaixo do sol.

Esse corpo que queima e depois se regenera instantaneamente.

Esses olhos que conseguem enxergar na escuridão completa.

Os dentes caninos alongados dentro da minha boca – presas.

Só com isso, já tenho evidências suficientes.

Coisas como ter sombra ou não – pra quê confirmar isso?

“Onde.... Onde estamos?”

Mas.

Para o imbecil do Araragi Koyomi, que vos fala, é melhor não encarar essa realidade logo de cara, é melhor perguntar para ela tudo, a partir daí.

O segundo andar.

O lugar onde readquiri minha consciência, o lugar para onde nós dois retornamos.

Pelo menos esse lugar é, com certeza, abandonado, nesse prédio de quatro andares com janelas cobertas por pedaços de madeira – em outras palavras, uma sala onde a luz do sol não entra, é o que isso parece ser.

Uhm.

Embora eu possa regenerar, é melhor se eu evitar pegar fogo.

Ela não utilizou o termo ‘evaporar’?

“Hmm...”

Enquanto brincava com seu cabelo loiro, a vampira começou a falar.

“De fato, embora esse lugar tenha sido um edifício de curso preparatório, há alguns anos eles fecharam o curso e o prédio foi abandonado. Eu o chamo de ‘escola abandonada’. Agora, o lugar está em ruínas. Sendo desocupado e esquecido, acabou por tornar-se um bom esconderijo.”

“Hfff”

Então era um prédio de cursinho!

E depois ficou em ruínas.

Mas, esconderijo? Que palavra esquisita.

Como se tivéssemos que nos esconder.

Será que para cuidar de mim, ela escolheu um lugar deserto?

“Então, Kissshot, a próxima pergunta – “

“Espera.”

Ela,

Kissshot, me mandou esperar.

“Eu não disse para que me chamasses de Heartunder-Blade?”

“Muito longo. Heartunder-Blade? Eu mordi minha língua duas vezes tentando dizer isso. Como pode um nome fazer com que você se morda? Então, Kissshot é menor.... Eu não posso chamar você assim?

“... Não”

Kissshot parecia querer dizer algo mais, mas continuou só balançando a cabeça.

Seus cabelos loiros acompanharam o movimento delicadamente.

“Ora, tudo bem, podes me chamar do que bem entender – não tenho razão para recusar.”

Que frase intrigante.

Ah, o sobrenome de um estrangeiro. Seria Kissshot ou Acerolaorion? Com isto dito, será que tudo bem chamar ela sem honoríficos? ...Mas será que lógica humana se aplica a vampiros?

“E então? Qual é tua próxima pergunta?”

“Bem, eu me tornei.... um vampiro?”

A segunda questão – a questão que eu mais precisava perguntar.

Para me adequar à minha realidade, é uma pergunta muito importante. Se não for desse jeito, não vou conseguir aceitar minha posição com seriedade.

Mas a questão que mais quero fazer é outra.

“Mas é claro.”

Kissshot respondeu, clara e secamente.

“Não há necessidade de explicar agora – tu és meu subordinado, meu servo. Sinta-se honrado.”

“Servo...”

Embora recém tenha sido dito.

Hm... servo.

Inesperadamente, eu não odeio o termo.

“Então – por que você está num corpo infantil? Na noite passada.... não, há duas noites atrás? Quando eu conheci você – você parecia ser uma adulta –“

“Peço perdão por parecer uma criança.”

“Não, não era isso que eu queria dizer”

Exatamente como uma adulta.

Ainda que com os membros todos arrancados.

É isso que eu quero dizer.

“Teu sangue, eu o bebi por inteiro.”

Ela me mostrou seus dentes – e então riu.

Não é como se isso fosse motivo pra riso....

“Mas este grau não foi o suficiente – é por isso que estamos conectados. Mesmo com isso eu só fui capaz de manter a minha vida. Ou seja, eu mantive o nível mais fraco de imortalidade, a maior parte dos meus poderes vampirescos se tornaram limitados – que inconveniência.”

Mesmo com isso.

A vida foi mantida – ela disse.

Não quero morrer.

A imagem dela chorando e suplicando – repentinamente apareceu na minha cabeça.

E neste instante, com esse discurso dela, eu não consigo enxergar essa imagem de maneira alguma.

Agora eu percebi.

Agora eu acabei de perceber.

Eu realmente – ajudei esta mulher.

Ajudei.... uma vampira..

Sacrifiquei minha própria vida –

“Meus membros ficaram assim, só o formato cresceu novamente. Bem, o interior está vazio. Ou seja, não há nenhum problema.... Porém, essa relação de mestre e servo precisa ser esclarecida, servo. Mesmo que eu esteja assim, eu sou uma vampira que viveu por 500 anos. A nossa relação deve estar clara, já que te tornaste vampiro recentemente, não deves jamais falar do mesmo modo que teus superiores.”

“Ha, haa.”

“Ahn, uma resposta ambígua – tu realmente entendes?”

“Uhum – eu entendo.”

“Então, como sinal de obediência, esfregue a minha cabeça!”

Ela disse, majestosa.

...

Esfregar a cabeça.

Uau, o cabelo dela é realmente muito macio.

Embora haja muito cabelo, é muito liso.

“Isso é o suficiente”

“....Isso é um sinal de obediência?”

“Tu não sabias disso?”

Ela me mirou com desdém.

Vampiros têm regras diferentes.

“Tão ignorante. Mas, independentemente da tua ignorância, tu és sábio por me obedeceres – eu realmente fiz um bom servo. Contudo, servo.”

Kissshot continuou falando.

Me encarando com olhos frios.

“Tu salvaste minha vida. Eu, pobre e enfraquecida, fui salva por ti. Portanto, permitirei que tu uses essa tua linguagem mal-educada, e que me chames de Kissshot.”

“Chamar você desta maneira –“

Então, ter chamado ela de Acerolaorion teria sido melhor?

Não é uma frase ruim.... mas, olhando pra ela, não vejo necessidade de desenvolver outro apelido.

Mas.

Eu prestei atenção ao que ela disse.

-- Os membros ficaram assim

-- Só o formato cresceu de novo

De fato, embora o corpo de alguém com 10 anos seja pequeno, a Kissshot de agora tem os quatro membros.

Só o formato?

Por dentro está – vazio?

“Além disso.... no futuro, eu posso precisar utilizar os teus poderes.”

“Ahn?”

O que foi isso?

Ela respondeu aos meus pensamentos?

“Ei,... basicamente.”

“Não, não deves ficar tão animado, servo. Já que és um servo é evidente que irás servir ao teu mestre. Se tu esfregaste minha cabeça, não significa que és obediente a mim?”

Ela disse isso projetando o peito para a frente.

Só que, quando eu digo projetando o peito, é só o peito de uma menina de dez anos. Sem nada de peitos.

Embora eu tenha dito que ela projetou o peito para a frente, parecia mais que ela estava só esticando as costas.

Além disso, ‘projetar o peito’, essa frase dá a entender que ela mudou a entonação de voz e procurou parecer maior do que é, e não foi bem isso que eu quis dar a entender.

Mas... não adianta o quanto eu a repreendesse.

Eu não consegui nenhuma resposta comum.

Vou deixar essa parte pra depois – já é hora de fazer a pergunta que mais quero perguntar. A preparação para essa questão já está pronta.

“Por que... me transformar em vampiro?”

“Hmm?”

“Eu estava determinado a ser morto quando você sugou meu sangue”

E a luz do semáforo havia mudado.

Rostos de todas as pessoas que eu conhecera passaram pela minha cabeça – embora fossem só quatro pessoas.

Ah, não eram cinco?

Não consigo me lembrar.

“... Não foi por nada, sem nenhuma razão. Depois que um vampiro suga o teu sangue, não adianta fazer nada – tu vais virar um vampiro. É só isso.”

“Ah, então é assim.”

É assim.

Eu – ofereci meu pescoço pra ela?

Com a determinação de dar todo meu sangue

E de morrer.

Mas –

A determinação para não ser humano, será que eu tenho?

“Ah, eu acho isso muito certo, e sabes por quê?”

Kissshot, é claro, não havia se alterado – ela até falava em um tom arrogante.

“Para ti, isso é algo que tu tens de fazer.”

“....Como você disse, para emprestar o meu poder?”

-- Aquilo que ela falou sobre eu emprestar o meu poder para ela.

“Correto. Embora o teu sangue tenha permitido que meu corpo se recuperasse, – em meu estado atual, estou longe de ter meus poderes plenos. Então, de agora em diante, tu tens de tomar as ações.”

De—de agora em diante?

“É claro. Terminar meu trabalho inacabado e então seguir em frente. É assim que sou, a vampira do sangue de ferro, do sangue quente, do sangue frio, Kissshot Acerolaorion Heartunderblade.”

“....”

Que título longo.

Com o nome dela junto, quantas letras isso soma?

Acho que só a parte ‘do sangue frio’ se encaixa.

“Eu deveria –“

Inadvertidamente, eu queria perguntar – mas se for assim, o tópico vai ir numa direção que eu não quero. Se Kissshot quisesse fazer isso, acho que tudo bem – mas, eu tenho coisas mais importantes para perguntar para ela.

Como as respostas para outra perguntas que eu devo fazer.

Mas acabei perguntando o que eu mais queria – perguntar.

O que eu precisava saber.

“Eu”

A decisão é final, foi isso que eu disse.

Encarei-a com firmeza

E fiz a pergunta – quando encontrei minha determinação.

“Eu – não posso voltar a ser humano?”

“Hm”

Daí.

Kissshot – não respondeu da maneira que eu esperava.

Pensei que ela fosse ficar brava, ou achar estranho, ou ficar confusa – essas eram as reações que eu havia previsto, mas, para me responder, ela simplesmente acenou com a cabeça.

“Era – como eu pensava.”

Ela disse isso desse jeito.

A minha previsão estava errada, e a dela estava correta.

Até o assunto sobre o qual eu perguntaria.

Ela sabia o que eu iria dizer desde o princípio.

“Eu posso entender por que tu teria esses sentimentos.”

“Pode entender?”

Um ser superior.

É exatamente como a Hanekawa disse, pelo menos. Desde o início, esta vampira, de fato, enxergava os seres humanos como inferiores se comparados aos vampiros.

De acordo com ela – os humanos são seres inferiores.

Então –

Por que se sentir infeliz por ter se tornado um vampiro, e esse tipo de coisa

E sobre o porquê de eu querer voltar a ser humano, coisas desse tipo

Achei que ela argumentaria com esse tipo de tópico, mas –

“Eu entendo.”

A Kissshot disse isso.

“Eu também fui convidada a ser deus, mas recusei a oferta”

“D- Deus?”

“São águas passadas.”

Bem, foi o que ela disse.

Embora estejamos de volta ao tópico original, parece ser um assunto no qual eu não devo tocar.

“Querer voltar a ser humano – em outras palavras ‘voltar a ser o que tu eras originalmente’. É isso que penso. Mesmo que eu tenha dito ‘Seja bem-vindo ao Mundo Noturno’, eu não esperava que tu fosses aceitar participar dele.”

“Ah, então é assim –“

Mais uma vez, eu percebi que não escutei resposta para a minha pergunta.

“Então, o que eu posso fazer? Eu –“

“...podes voltar.”

Kissshot disse, calmamente.

Com os olhos me encarando, ainda frios.

Com esse olhar penetrante.

“Voltar.”

Mas – olhando para mim com esses olhos, ela disse “podes voltar”, e isso ela declarou de forma clara.

“Eu juro pelo meu próprio nome.”

“.....”

“É claro,....servo. Para isto, tu precisas escutar-me, como meu servo não precisas ser tímido, mas, e isso não é uma ordem – mas uma ameaça --, se tu queres voltar a ser humano, então é melhor que me obedeças.”

E daí, é claro – ela riu. Exageradamente.


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