Nekomonogatari Branco ~Brazilian Portuguese~/Tigre Tsubasa/058

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058[edit]

Eu estava sentada num banco de certo parque quando liguei para a Senjougahara-san — parque esse, aliás, que foi onde Araragi-kun e Mayoi-chan se encontraram pela primeira vez.

Falando nisso, esse também foi o parque onde Araragi-kun e Senjougahara-san se tornaram um casal, então a eles, esse lugar era mais memorável do que uma escola infantil.

Claro, para mim, esse não era o lugar de nenhuma memória digno de menção, era simplesmente um parque que se localizava perto da minha casa, e ao longo de minha rota de devaneio, o que significava que não avia um motivo profundo ou significante para eu ter parado aqui para fazer a ligação.

Pensando em ir dar uma olhada aos resquícios da incendiada casa dos Hanekawa, mas, perdendo minha paciência enquanto me aproximava, decidi ligar para a Senjougahara-san primeiro.

Ou talvez eu não tenho perdido a paciência e só tenha desviado os olhos dali, mas a essa altura, eu não mais entendia completamente o que 'desviar meus olhos' significava.

Eu não estava confusa.

Ao invés disso, eu estava perplexa.

Na verdade, Senjougahara-san me mostrou uma coisa que nunca passou pela minha cabeça — mas, como ela disse, era certamente algo que eu deveria ter percebido mesmo sem ela falar nada.

Embora fosse necessário um salto de imaginação para considerar a casa dos Hanekawa como 'um lugar que eu tinha acabado de dormir' (por ser minha casa, dormir lá era um fato muito óbvio e eu teria dificuldade em encontrar essa definição), pelo menos, eu deverita ter pensado nas ruinas da escola como 'um lugar onde acabei dormir ontem'.

Ele queimou porque eu tinha ficado — embora não tenha sido algo que considerei, se as datas estivessem adiantadas por só um dia eu seria queimada até a morte — era esse o medo que eu deveria ter sentido.

E ainda assim essa possibilidade nunca entrou em minha mente, nem um pouco, o que parecia menos ainda que faltou imaginação —

— e mais que eu estava desviando os olhos.

Eu retornei à realidade.

Isso é o que pelo jeito aconteceu.

Isso é o que provavelmente aconteceu.

Claro, ainda assim, eu não poderia aceitar a sugestão da Senjougahara-san — não poderia aceitar de fé, por ter um vazio muito grande de informações para apoiar essa ideia.

Uma conclusão lógica não poderia ser tirada por meramente dois exemplos.

Mas ainda assim, dificilmente poderíamos esperar por um terceiro ou quarto.

Terminando a chamada com a Senjougahara-san, uma vez mais eu me levantei e fui em direção à minha casa em cinzas — porém, contrário ao que eu pensava, não havia nada ali.

Uma vez mais,

havia um aterrador vazio de qualquer coisa.

Estava agora desprovido de espectadores, mas não era só um lugar queimado, parecendo como se estivesse desse jeito pelos últimos quinze anos, nem parecia uma cena de crime, enlaçada em fitas e cercas — estava, como qualquer um chamaria, um lote vazio.

Não havia nada — e nada poderia ser sentido.

Embora, nesse momento, eu não pudesse acreditar completamente na sensação de 'não sentir nada' — porém eu não havia simplesmente vivido nesse terreno, mas sim na casa que havia aqui, então eu podia pelo jeito aceitar metade da sensação como verdade.

Sim, certamente,

não havia nada aqui.

"......"

Percebendo que eu chamaria atenção indevida se eu ficasse ali por muito tempo, eu fiquei ali por um pouco mais de um minuto e então me apressei para sair.

Os lugares que você dormiu não estão sendo incendiados um após o outro? — Em outras palavras, se isso continuar, meu apartamento e a casa dos Araragi não pegarão fogo em alguma hora hoje a noite?

Mesmo depois daquelas cinzas, eu não poderia negar que essa apreensão da Senjougahara-san parecia meio forçada — porém, aquelas palavras fizeram outro precedente vir à mente.

Era a história de Yaoya Oshichi.

Após se apaixonar por um garoto que ela conheceu durante um grande incêndio, ela tentou colocar fogo em sua própria casa a fim de encontrar seu amado uma vez mais — embora fosse um pensamento terrível, um que não te faz arrepiar em entusiasmo mas sim tremer de medo, não pude não pensar que sentimentos como esse eram também bem típicos do amor.

Oshichi nasceu no ano da Hinoe Uma, o Cavalo de Fogo, e o pensamento que mulheres que nascem nesse ano tenderem a ser fortes de espírito se tornou um mito folclórico, uma superstição, ou ainda, simples preconceito.

Afinal, essas emoções podem ser possuídas por qualquer de forma igual.

Era um horóscopo onde qualquer um poderia se encaixar.

Ainda assim — nesse caso, o termo 'Cavalo de Fogo' tinha um significado mais profundo.

Bem, pra ser honesta, eu sabia que não realmente significava nada.

—'Uma'.

Significava 'cavalo'.

Foi bem vergonhoso permitir que a palavra 'trauma' ficasse em minha cabeça desse jeito, assim como ficou a Senjougahara-san com sua piada, mas quase todos contos folclóricos eram feitos brincando com palavras, como no caso em que Hinoe Uma veio de como 'um fogo deixa um cavalo louco'.

O tigre e o cavalo — juntos, 'trauma'.

Dano psicológico.

"Ao que posso supor, isso me dá muito o que pensar — mas não posso fazer conclusões ainda."

Porém, eu tenho a sensação de que estarei vendo uma em breve.

O problema, então, era se eu podia encarar essa conclusão — por mais forçados que os palpites pareciam, eu não pude deixar de me sentir aflita com a possibilidade do apartamento da Senjougahara-san ou da casa do Araragi-kun serem queimados.

Sim, certamente.

Era ora de por um fim nisso.

A essa história de fogo — a essa história minha.

"...Hum, com licença."

A distância entre a casa dos Hanekawa (destroços) e a do Araragi-kun era tal que eu poderia ter pego um ônibus, mas no final, acabei indo a pé mesmo sem usar nenhum tipo de transporte público.

Por terem me dado uma cópia da chave, eu podia entrar sem usar o interfone (confiavam bastante em mim) mas eu estava naturalmente nervosa sobre isso. Eu não poderia agir dessa maneira mesmo após dizerem para eu tratar esse lugar como minha própria casa.

Afinal — 'minha própria casa'?

Eu nem mesmo conhecia o que era isso.

Pior ainda,

eu não sabia nem conhecia a mim mesma.

E também, vendo os lugares onde durmo sendo queimados um após o outro, eu duvido que deveria retornar à casa do Araragi-kun, mas tendo ficado aqui por uma noite, pelo jeito já era tarde demais — o que torna tudo bem eu voltar, essa lógica retorcida que se apoderou dentro de mim disse.

...Mas,

o fato de que eu precisava de um motivo lógico para retornar ao meu alojamento, a miséria do meu coração, me fez querer morrer um pouco por dentro.

"Bem vinda de volta, Tsubasa-san. Você está bem atrasada! Aonde você foi?"

Enquanto estava tirando meu sapatos, Karen-chan apareceu da sala para me receber. Porém, eu me sentia meio incomodada por não ter palavras para responder ao seu 'Bem vinda de volta'.[1]

"Numa praça perto daqui. Fui lá um pouco."

"Aah."

"Teve algum contato por parte do Araragi-kun?"

"Não, nada. Ele realmente não sabe quando parar de jogar sua vida fora. Quando ele voltar eu vou dar uma surra nele. Ele vai voar."

Enquanto ela dizia isso, Karen-chan realmente fez um gesto de chute.

Foi um desnecessariamente esplêndido chute duplo.

Parece que mesmo que o Araragi-kun resolvesse seu caso atual e voltasse para casa são e salvo, haveria um ou dois problemas aqui para ele resolver.

Bem, não posso falar como se não tivesse nada a ver comigo.

Eu também — gostaria muito de colocar em palavras minhas reclamações a ele,

algo que eu só conseguiria fazer se eu conseguisse resolver meus próprios problemas antes.

Eu, também,

queria oferecer um problema para ele resolver.

"Bem, quem se importa com aquele irmão que ninguém se importa, de qualquer forma? Eu estava te esperando, Tsubasa-san. Poderia dizer até que estava ficando cansada de esperar. Ou talvez eu estivesse ficando exausta de esperar."

"As duas coisas parecem a mesma coisa pra mim, na verdade."

"Tsukihi-chan também voltou, então vamos jogar alguma coisa! Nós já temos um baralho na mesa da sala."

"Cartas?"

"Não jogos de videogames?"

Isso foi bem inesperado.

"Ah, mas me desculpe, Karen-chan, eu tenho algumas coisas para pensar sozinha, em meu quarto —"

"Vamos, esqueça isso."

Quando acenei com minha mão em uma tentativa de recusar seu convite, Karen-chan pegou meu braço à força e começou a me arrastar para a sala de estar.

"Mas, eu não posso só —"

"É melhor para as pessoas se elas não pensa em nada, sabe?"

"Que tipo de lógica é essa?!"

"Logica e tal, tudo só faz sua cabeça doer não? E daí que 'o homem é uma relva que pensa'[2]? E se nós formos relvas que não pensam?"

"Essa é uma opinião muito forte!"

Mas 'gramas que não pensam'?! Isso não faria de você só uma relva qualquer?

Você está contente com isso?!

"Ah, vamos, depressa. Não pense que pode resistir a mim!"

"Espere, certo, entendi, entendi, deixe, só deixe eu tirar meus sapatos! Nós jogaremos, nós jogaremos cartas!"

"Yay!"

Karen-chan festejou.

Quão inocente era ela.

Realmente não havia tempo para eu brincar com cartas, não quando haviam coisas nas quais eu queria pensar, ou melhor, coisas que eu tinha que pensar — então talvez eu deveria ter recusado a ela de qualquer forma, independente do quão forçado foi o convite.

Porém, eu não o fiz, porque eu descobri a insignificância de pensar sozinha — não, obviamente, que eu concordasse com a teoria da perspectiva "relva que não pensa" da Karen-chan.

Seria horrível, ser só uma grama.

Mas — da mesmíssima forma, era horrível que eu estaria exatamente da mesma forma seja pensando ou não.

Afinal, não importa o quanto eu pensasse sobre,

o quanto eu fosse pensar, ou o que quer que eu fosse perceber — quando esse algo fosse inconveniente para mim, eu simplesmente poderia desviar os olhos, cortar do meu coração, acabar esquecendo, e depois me tornando incapaz até mesmo de lembrá-la.

Nesse caso, assim como Senjougahara-san fez por mim — eu poderia me aproximar disso com uma cabeça limpa, esperando captar algo em meio a uma conversação ou diálogo.

A sensibilidade me dizia que eu não deveria envolver colegiais como Karen-chan ou Tsukihi-chan, mas vendo como eu já estava sendo inconveniente neste exato momento, qualquer timidez esquisita agora seria contrária ao esforço — e mais que tudo, se estávamos para discutir sobre fogo, então de certa forma, não haveria ninguém mais viável.

Elas eram as Irmãs do Fogo de Tsuganoki Nº2.

Estava em seus nomes.


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  1. Provável consequência da conversa com a mãe de Araragi, há alguns capítulos.
  2. Frase do filósofo Pascal