Wazamonogatari ~Brazilian Portuguese~/Bom Apetite, Acerola 009

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009[edit]

De uma maneira ou de outra, parece que eu morri novamente.

Essencialmente, eu, o vampiro de que falam em lendas, conheci a Princesa Acerola, a "Princesa Beleza" de que falam em contos de fada, e logo após nós fecharmos o nosso negócio, eu morri por uma terceira vez.

Que terrível encontro ao almoço este é (mesmo que seja à noite).

Bem, em qualquer casa, nós certamente terminamos uma feliz e produtiva negociação, então isso há de ser visto como um sucesso — se essas três mortes minhas não foram inúteis, então eu não morri tal como um cão, em vão.

Se eu tivesse que dizer, podia ter sido a morte de um demônio.

Eu morri como um demônio.

E então, eu convidei Princesa Acerola ao Castelo Cadáver — mesmo sendo temporária, nós construímos uma relação cooperativa, então seria um incômodo se ela não estiver ao meu lado. Eu não quero permanecer nem mais um segundo nesta barraca, e não haveria sentido em continuar armazenando um alimento tão valoroso em um lugar como este.

Até mesmo "Princesa Beleza", que ostentava o que poderia ser somente descrito como defesas impregnáveis contra quaisquer ataques de malícia e hostilidade, não tinha meios de se defender de um soterramento de uma construção velha e decadente.

Contra um fenômeno natural, ela estaria posta contra a parede.

Como uma vagante, parecia que Princesa Acerola tornou viver a vida de maneira simples e frugal um princípio, então, embora fosse apenas temporário, ela estava prestes a firmemente recusar minha oferta com um "Não há como eu poder ficar em um castelo" (de modo humilde, é claro), mas, pensando na possibilidade improvável de haverem sobreviventes dentre as milhares de pessoas que ela aniquilou, eu tentei persuadi-la de que continuar neste lugar aleatoriamente escolhido pode ser perigoso.

Manobras persuasivas.

Eu não sou nada bom nisso.

Pessoas inocentes estão em perigo, não só Princesa Acerola; há a possibilidade de pessoas de outros países atravessarem a fronteira após ouvirem rumores sobre a "Princesa Beleza"... de toda forma, apesar de minha falta de habilidade, eu continuei a chacoalhar dessa maneira — se tu vieres comigo, meu Castelo Cadáver tem uma história negra, e pessoas com um senso ordinário não tentarão se aproximar, então, por ora, não haverá novas vítimas.

Se eu estava oferecendo um conselho sincero, ou se estava empregando uma doce adulação, bem, não posso julgar isso eu mesmo, mas, em retrospectiva, me tornei muito bom em temperar minha comida com favores.

Embora eu prefira que minha comida tenha um bom sabor, em vez de bons sentimentos.

Claro, após diminuir suas opções, Princesa Acerola aceitou meu convite — pergunto-me qual de nós dois realmente temperou o outro com favores.

É evidente que seria esperado de um vampiro de reputação tão ruim quanto a minha sequestrar essa beleza inigualável e confiná-la em meu castelo — porém, ela não era uma beleza inigualável tanto quanto era uma beleza destrutiva, então não havia como eu fazer isso. Eu podia somente tentar realizar um sequestro em seu significado original, atraindo ela com enganação.[1]

Tendo sido exposto à desgraça de morrer três vezes em sucessão, se eu não mostrar alguma dignidade, teremos dificuldades em nossa relação de agora em diante.

Eu sou tão incrível!

Eu possuo um castelo!

Contudo, Princesa Acerola não parecia estar completamente surpreendida pela majestade do castelo.

“Oh, céus, tu vives sozinho em um castelo tão grande assim?”

Foi essa a reação dela.

Como se ela pensasse em mim como um vampiro de alma bastante mísera.

Uau.

Minha imagem solitária se tornou cimentada.

“Não, não sozinho. Eu e o meu leal servo vivemos juntos aqui.” Eu expliquei, quase como se eu estivesse dando uma desculpa — e ao falar isso, lembrei-me de Tropicalesque, do qual esquecera-me completamente.

Era vergonhoso voltar tão abatidamente sem ter comido nada depois de eu ter saído prazerosamente, declarando que minha refeição começara, porém eu não tinha nenhuma escolha além de fingir compostura diante do meu escravo.

“Ah. Tu tens um colega de casa, então... Neste caso, não deveríamos procurar a aprovação dessa pessoa em relação a minha estadia aqui?”

Minha nossa, essa brutalidade dela. O modo como ela considera toda e qualquer preocupação é contraditório à sua beleza brutal, não é — ela até mesmo toma o escravo de um vampiro em consideração.

Eu expliquei a ela que o meu leal servo nunca expressaria oposição à decisão de seu mestre e que não há nenhum problema em receber sua aprovação após o fato.

“Eu oponho-me completamente. Em que estais pensando, Mestre? Que tu convidarias uma humana inferior para entrar neste castelo, não consigo acreditar nisso.”

....... Ele fortemente se opôs.

Deixando Princesa Acerola no salão por ora, eu retornei ao meu trono e dei uma simples explicação das circunstâncias para Tropicalesque, que estava no meio de utilizar seus poderes e habilidades de construção para reparar o piso. Assim que eu o fiz, no entanto, sem ajoelhar-se ou nem mesmo esperar que eu me sentasse, meu leal servo repudiou o meu plano bem em minha face.

“Estás instruindo-me a cuidar não somente de ti, Mestre, mas de uma humana inferior também? Isto é demais.”

“Tu estavas tentando cuidar de mim...?”

Uma mentalidade bastante profissional.

Talvez isso seja a força de vontade de um escravo.

Vendo Tropicalesque como se pudesse debulhar-se em lágrimas, eu fui por pouco convencido, mas ligeiramente consegui declarar:

“Isto foi decidido. Eu não tinha intenções de pedir a tua opinião. E não me chames de nomes comuns como Mestre.”

“I-isso foi erro meu, Suicide-Master.”

Lembrando-se disto, Tropicalesque se ajoelhou — entretanto, ele não baixou o seu rosto e olhou para mim com severidade.

Podia ser a força de vontade de um escravo, mas era uma força de vontade e tanto, de fato.

Eu debochei desse aspecto dele — olhando-o de cima.

Eu pensava que ele fosse somente um idiota leal, mas parecia que eu estava errado.

Não era hora, nem lugar para isso, mas eu me senti um pouco feliz por descobrir um lado inesperado do meu servo, tarde como era.

“Não te preocupas. Não é minha intenção fazê-lo cuidar de uma humana — ou melhor, na verdade, eu queria avisá-lo para se manter longe de Princesa Acerola por enquanto.”

“Princesa Acerola... tu se comprometestes a memorizar o nome de uma humana inferior, de todas as coisas, Suicide-Master?”

Disse Tropicalesque, em espanto.

O que tu pensas da memória do teu mestre?

Eu posso, ao menos, lembrar-me de um título apropriado.

Além disto, para um ex-humano como tu, tu tens o nervo de chamá-la de “humana inferior” sem o menor embaraço?

Ou, talvez.

É por ele ser um ex-humano que ele tem tamanho desgosto por eles.

Desgosto por sua própria espécie — desgosto por sua antiga espécie?

Bem, é verdade que mesmo um vampiro como eu foi nascido do ódio dos humanos, e eu basicamente concordo com ele em que humanos são todos inferiores, em sua maior parte.

Não há necessidade para que eu me dê o trabalho de distingui-los individualmente.

Porém, essa mulher é diferente.

Princesa Acerola não é — “Princesa Beleza” não é uma humana inferior.

Ela é uma humana excepcionalmente superior, com carne de qualidade excepcionalmente alta.

Ela merece ser lembrada.

E é por isso que eu tenho de avisar Tropicalesque.

“Eu sou o vampiro preparado para a morte, a inevitável morte, a certa morte, então os muros de defesa daquela princesa não são nada para mim, mas um vampiro como tu facilmente se tornará vítima dela — no momento em que tu a ver, tu serás feito em pedaços.”

Sou eu que fui feito em pedaços no momento em que a encontrei, e não importa como se veja isso, dizer que isso “não foi nada para mim” é pretensão demais, porém, se eu não der um aviso bruto a ele aqui, ele iria querer confirmar que “Princesa Beleza” era encantadora o bastante para passar como um ser sobrenatural com os seus próprios olhos.

“Se... se este é o caso, é tarde demais... é tarde demais, Suicide-Master. Colocar uma personagem perigosa dessas no castelo... Como o supervisor da gerência deste castelo, eu não posso ignorar o estado destes negócios.”

É claro que ele o gerencia, mas ele pretendia ser o supervisor dele? Acho que se tu constróis uma relação de um-a-um, descobrirás alguns lados novos de uma pessoa.

Nesse sentido, pode valer a pena cultivar esta parte dele.

“Pare de resmungar, Tropicalesque. Tu estás fora de linha. Por acaso eu já reverti uma decisão que fiz?”

“B-bem, eu creio que sim...”

Hmph.

É mesmo?

Eu suponho que sim.

Tendo saído decidido a comer a princesa do conto de fadas, eu retornei acompanhado por essa princesa, então não há o que se fazer sobre as dúvidas quanto à minha determinação e a força das minhas convicções — mas, mesmo assim, eu sempre pretendi realizar minhas decisões com o máximo da minha habilidade.

Em minha própria capacidade, em me próprio estilo.

E não é como se eu tivesse convidado a princesa a algum tipo de festa de jantar no castelo — em vez disso, eu a convidei para estar no menu para uma festa de jantar.

É mais como se eu estivesse armazenando comida.

Nesse caso, o escravo não deveria estar aplaudindo o seu mestre por ser um trabalhador tão esforçado?

“Tal como tu disseste, é uma comida bastante difícil de preparar — não pareço ser capaz de engoli-la sem nenhuma consideração. Eu decidi que preciso fazer algumas preparações cuidadosas de antemão a fim de comê-la. Então não faça essa cara. É claro que serei eu que cuidará dela.”

“Ah, tu podes cuidar de um alimento? E se eu acabar fazendo isso...?”

“É claro que eu posso.”

Eu pensei que soava como uma criança pedindo permissão aos seus pais para adotar um cão de rua, mas essa pode ser uma comparação inesperadamente precisa.

Essas situações realmente são semelhantes.

A diferença é que eu vejo a humana que estou tomando como comida.

“Eu decidi que posso fazer isso. Em outras palavras, foi decidido. Portanto, não há problema algum — minha resposta é que não deve haver algum problema. O que, eu não pretendo fazê-la ficar aqui por muito tempo. Apenas pelo tempo que leve para derrubar os muros de beleza da princesa e matá-la — não levará muito tempo.”

“... Entendido.”

Afinal, eu não saberei o que está acontecendo, de toda forma — assim, muito relutantemente, até mesmo de má vontade, talvez até mesmo amargamente, Tropicalesque finalmente deu sua permissão para “Princesa Beleza” ficar no castelo.

Vindo a pensar nisto, foi estranho de mim ir atrás da permissão do meu subordinado quando se tratava do meu castelo, mas até mesmo a relação mestre-escravo não é tão direta.

De qualquer forma, minhas tentativas até então haviam sido confrontadas com inesperadas dificuldades, mas é o problema real é de agora em diante.

“Então, Tropicalesque. Eu quero pedir a tua opinião.”

Tendo acabado de declarar que eu não tinha nenhuma intenção de pedir sua opinião, eu fiz uma pergunta ao meu servo.

“Como tu achas que ‘Princesa Beleza’ pode ser morta?”

Notas do Tradutor[edit]

  1. O significado original ao qual é referido aqui é o significado da palavra japonesa 誘拐 (yuukai), que combina os caracteres para “convidar, atrair” e “falsificar, abduzir”.


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