Wazamonogatari ~Brazilian Portuguese~/Bom Apetite, Acerola 012

From Baka-Tsuki
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012[edit]

“Como a ‘Princesa Beleza’ é afligida por uma maldição que faz as pessoas não serem seduzidas por sua beleza exterior, tentar torná-la exteriormente feia não é tão paradoxal quanto é irônico, não é?”

Eu acordei com a voz de Tropicalesque — tendo terminado de reunir informações, ele retornou ao Castelo Cadáver pela primeira vez em um tempo.

De uma maneira ou de outra, parece que eu morri novamente.

Parece ter sido uma morte leve por fome.

Não há nada leve ou pesado sobre passar forme, no entanto.

Tecnicamente, eu suponho que eu me tornei mais leve porque meu estômago está vazio — tudo que eu comi são pedaços do meu próprio corpo, então o meu estômago já está vazio por um bom tempo.

Se eu comesse alguma coisa agora, provavelmente me sentiria pesado independente do que fosse — embora isso realmente não importe.

“Suicide-Master?”

A julgar pelo seu tom curioso, parece que o meu leal servo ainda não se apercebeu quanto a minha última morte — as coisas provavelmente ficariam sérias se ele descobrisse (ele poderia tentar me forçar a comer algo), então eu ignorei isso.

“Ironia, hein”. Eu me juntei à conversa sem compromissos. “Tudo bem se for assim. Sério, a inteira existência daquela princesa é um pouco irônica.”

“Oh? O que queres dizer?”

Tropicalesque se inclinou para frente como se transbordasse com curiosidade quanto as palavras de seu mestre.

Querer receber lições de seu mestre é louvável, porém tudo que eu quis fazer com essa fala foi indicar que eu estava o escutando — não há nenhum “O que queres dizer?” sobre ela; eu não quis dizer qualquer coisa além do que falei.

Eu apenas tentei dizer algo.

Mas seria difícil dizer isso a ele.

Então, a fim de tanto esconder o fato de que eu havia morrido de fome e de que eu estava simplesmente sendo vago, eu comecei a elaborar — será isso outra questão de pretensão?

“Pense nisto. No sistema de valores dos humanos, Princesa Acerola há de ser o bem absoluto, e tu e eu há de sermos o mal absoluto, porém, ela abateu muito mais humanos do que nós; essa situação não é irônica por si só em primeiro lugar? Uma certa ironia de caráter. É quase satírico que o resultado dessa mulher perseguir seus elevados ideais seja a ruína de tantos reinos.”

“Dizem que peixes não podem viver em água que seja pura em demasia... Embora seja minha conjectura de que os humanos que sacrificaram suas vidas à ‘Princesa Beleza’ certamente tenham o feito com felicidade e satisfação.”

Isso não é irônico ainda?

Bem, é a verdade.

Mesmo que Princesa Acerola se preocupasse, entristecesse e gemesse, em certo sentido, não haveria nenhum significado nisso para as pessoas que sacrificaram — não importa o quanto ela os implorasse para parar, seria muito provavelmente inútil.

Isso não é tão irônico quanto é ignorante.

Ela não pode parar aquele instinto extremamente eficiente de sacrificar a vida de alguém pelo bem da justiça e da beleza. Por quê? Porque ela a pura e nobre “Princesa Beleza” é o sistema de valores das pessoas comuns.

Consequentemente, ela não pode verdadeiramente entender esses sentimentos — e porque ela não pode entender, a princesa é digna de ser uma princesa.

Já que ela não entende os sentimentos de filisteus e pessoas comuns, ela é a “Princesa Beleza”.

Uma mente nobre.

Ou talvez tu possas pensar nisto desta maneira.

Princesa Acerola está trazendo salvação às pessoas através de suas mortes — o ato de testemunhá-la aperfeiçoa suas vidas.

Perfeição — e conclusão.

Bem, de qualquer forma, Princesa Acerola não é uma pessoa tão simples para ser convencida por um argumento do tipo “As pessoas que morrem pelo teu bem estão satisfeitas, então não se preocupe com isso”.

Se isso a convencesse, ela não teria problema algum.

Eu não teria problema algum também.

Porém, se esse é o caso, eu não tenho que quebrá-la.

Não se pode fazer omelete sem quebrar alguns ovos — é o que dizem. Mas tu ainda podes fazer um ovo cozido.

Essa é a habilidade de um chef.

“Tu não estás privando-a de sua beleza, mas sim fazendo com que ela não pareça bonita — se é assim, encantos contra o mal podem ser usados como referência.”

“Encantos contra o mal? Hein? O que é isso? Feitiçaria?”

“Não, não pode ser bem chamado de feitiçaria. É um tipo de folclore, coisas que pais realizam para que criaturas sobrenaturais como nós não roubem suas crianças — deliberadamente dando nomes que soam malignos a seus bebês para que eles não sejam discernidos por demônios, coisas assim.”

Eu pensei que nomes malignos seriam mais prováveis de atrair demônios, mas acho que ele tem razão.

É um sabor peculiar — um pouco diferente.

Esse risco não é limitado à Princesa Beleza em particular; pode ser aplicado à beleza em geral — se tu tentares fazer essa beleza se tornar tua, tu podes muito bem ser visitado pelo desastre.

Então, mesmo que tu não vás tão longe quanto dar nomes excêntricos aos teus filhos para afastar o mal, tu podes fazê-los parecer simples, ou até estranhos, para que eles não se tornem alvos de algum desastre — isso é uma sabedoria humana.

Por conta de sua beleza, Princesa Acerola se tornou o alvo de minha aquisição; eu posso pensar em algumas lições a mais a partir disso, mas eu não sou uma criatura que dá lições.

Eu sou um monstro que devora humanos.

Mato e como. Mato para comer.

... Mas parece que esse tópico pode me ajudar a pensar em um novo nome para Princesa Acerola. Foi uma inspiração súbita que me fez decidir em fazê-lo, mas se estou lhe dando um novo nome, não posso dar um nome que é simplesmente maligno ou um nome que é simplesmente estranho. Se eu fazê-lo, tenho que fazê-lo pensando com cuidado.

“...? Algum problema, Suicide-Master?”

“Não, não é nada.”

Atualmente, estou escondendo o fato de que estou criando um novo nome para Princesa Acerola de Tropicalesque — desde que ele fez um escândalo por eu empenhar o nome de uma “humana inferior” à memória, esse leal subordinado pode muito bem ficar histérico novamente se ele descobrisse que eu estava pensando em nomeá-la.

Isso seria um problema.

Não quero ser selado por mais incômodos.

Levaria a uma perda de apetite.

“Porém, enquanto há aqueles que tentam se tornar vampiros em busca de beleza física, eu não penso que seja comum para humanos perseguirem tais empreitadas”.

“Tu estás absolutamente correto. Humanos são miseráveis e incorrigíveis tolos”.

Tropicalesque deu de ombros, concordando com algo completamente diferente do que eu pretendia dizer — isso está começando a ir além da minha impressão de que ele é bruto com humanos porque ele costumava ser um.

Talvez ele até mesmo odiasse humanos enquanto ainda era um.

Olhando para Tropicalesque, eu subitamente percebi — não, se eu disser que percebi isso ao olhar para Tropicalesque, significaria que eu não presto atenção o suficiente nesse escravo trabalhador, então digamos que eu subitamente percebi sem contexto algum — porém, a verdade é que humanos que tiveram seu sangue sugado para se tornar servos tiveram seus corpos optimizados.

Isso possui a mesma significância que a ideia expressada por “embelezar a aparência de alguém”.

Claro, não é ao nível de poder destruir nações, mas, porque eu suguei o sangue de Tropicalesque, ele foi abençoado com uma aparência ainda melhor do que aquela que tinha quando era humano.

Ele se tornou musculoso, e ele pode até mesmo ter ficado mais alto — se sua condição física é imune a doenças, isso é natural.

É isso que significa nunca envelhecer, nunca morrer.

Esse é o significado da imortalidade.

Porém, se permito-me parar aqui e pensar, se tornar-se um vampiro significa adquirir tanto vida eterna quanto beleza física, o que se faz quanto à beleza mental?

Pode-se até mesmo dizer que isso não é o significado da imortalidade, mas sim a conclusão da imortalidade.

Enquanto humanos hoje em dia são sua comida, Tropicalesque continua repetindo declarações discriminatórias para aqueles de sua antiga raça, então seria honestamente difícil afirmar que ele possui uma mente bela.

Bem, não estou dizendo que seu espírito leal a mim não é belo, porém essa é a única coisa que é — e certamente há alguma discussão a ser feita quanto a se esse espírito leal, em outras palavras, esse temperamento escravo deva ter um valor alto em primeiro lugar.

E claro, olhando sobre Tropicalesque do meu trono, soando todo alto e poderoso, não posso dizer exatamente que sou o dono de uma nobre mente também.

Eu sou a existência vulgar que Princesa Acerola aspira ser.

Isso não é algo único ao mestre e servo aqui, Deathtopia Virtuoso Suicide-Master e Tropicalesque Home-A-Wave Dog-Strings; não penso que vampiros são elegantes ou seres dignificados em geral.

Claro, já que nossas aparências estão em ordem, vampiros são comumente vistos como cavalheiros de alta classe e damas por dentro e por fora e têm expressões colocadas como residentes de uma sociedade de classe superior; contudo, porque eles são vampiros, longe de uma sociedade de classe superior, eles são cidadãos de uma sociedade acobertada.

Nós não somos criaturas sociáveis, em primeiro lugar.

Nós simplesmente reinamos em nossas comunidades reclusas e isoladas.

Quanto a mim, embora eu resida neste Castelo Cadáver, não é como se eu fosse capaz de governar qualquer coisa, e eu certamente não comando — sou simplesmente um gourmet, eu não tenho esse tipo de conhecimento.

Eu sou certamente arrogante e carismático, mas isso não enche a minha barriga.

Fico satisfeito se posso matar e comer coisas deliciosas; eu poderia até mesmo dizer algo autodepreciativo como “Eu sou ainda mais vazio por dentro do que os humanos” — embora, claro, essa autodepreciação também seja um tipo de complacência.

Complacência em estar acima dos humanos na cadeia alimentar.

Essa complacência é muito diferente da atitude humilde da “Princesa Beleza”.

“Bem... suponho que algo como beleza interior não seja necessário para a longa vida”.

Eu concluí.

Isso mesmo.

Uma visão de mundo ética e um senso de justiça, um espírito de afeição aos fracos e uma atitude de tentar ajudar até mesmo outras raças — o que tu possas chamar de “beleza interior” é, em toda probabilidade, absolutamente inconveniente quando se trata de uma longa vida.

Bem, “absolutamente” é ir longe demais.

Não tenho dúvidas de que as habilidades comunicativas para simpatizar com qualquer um e se dar bem com todos são segredos para a longevidade — porém há um limite.

Há algo chamado “moderação”.

Se queres viver, há vezes em que tu tens que usar de métodos vulgares — por exemplo, se tu se tornas um vampiro e possui tanto corpo quanto mente saudáveis, não é improvável que tu tirarás tua própria vida, incapaz de suportar a culpa por usar dos humanos, sua antiga raça, como comida.

Então a mentalidade dos vampiros pode ser muito essencialmente vulgar — talvez seja esse o preço da vida eterna.

Talvez humanos sejam capazes de viver belamente porque suas expectativas de vida são curtas.

Bem, nesse caso, pode ser muito bem lógico que bactérias de vidas curtas e coisas parecidas são as coisas mais belas no mundo, mas deixemos isso de lado.

Mesmo que nós façamos uso do nosso “charme” ao máximo, nunca chegaremos ao nível de “Princesa Beleza” enquanto vivermos.

Isso não é particularmente triste, mas talvez pensar que não seja triste é uma limitação de ser um vampiro — bem, eu posso servir de modelo para Princesa Acerola precisamente porque é assim que eu sou, então talvez eu hei de pensar nisso como algo bom.

“Sério, qual é o problema, Suicide-Master? Faz algum tempo agora que tu tens estado em pensamento profundo... Não pode ser que tu tenhas morrido de fome enquanto eu falhei em notar isso, certamente?”

Um comentário aguçado.

“Não é nada, realmente. Eu disse que não é nada, então não é nada”.

Eu bruscamente desviei da pergunta.

“Esqueça-se disso, Tropicalesque. Sua procura de informações deu algum fruto? Não tenho certeza de se meu plano será um sucesso ou não — se tu tens uma sugestão com um nível mais alto de certeza, vamos ouvi-la”.

“Não, eu sinto muito, Suicide-Master. Lamentavelmente, não tenho nada a reportar. Tentei reunir informações, mas todos os cidadãos do reino foram aniquilados, afinal de contas”.

Está em tal estado que eu sequer pude andar livremente, disse Tropicalesque.

Eu pensei que ele pode ter voado pelo céu, mas, pensando nisso, Tropicalesque ainda não é bem capaz de crescer asas — então ele teve que ir a pé.

Marchando seu caminho através dos cadáveres.

Isso deve ter sido terrível.

Eu queria recompensá-lo de alguma forma, mas é difícil fazer tal dado sua falta de sucesso — não gosto de recompensar pessoas que não produzem resultados.

“Ao tempo em que os corpos começaram a se decompor, eu me dispus deles com quaisquer meios disponíveis para mim; comendo, enterrando, queimando e coisas assim”.

“Isso é maravilhoso. Bom trabalho”.

“?”

Tentei me forçar a elogiá-lo, mas Tropicalesque apenas olhou para mim curiosamente — bem, ele provavelmente não pode dizer algo como “Suas palavras são demais para mim” quando ele recebe elogios indevidos.

Eu realmente não sou um mestre adequado.

“Eu retornei ao castelo por enquanto, porém, como criei um caminho, uma vez que eu terminar a limpeza, planejo expandir o escopo da minha busca por informações para países estrangeiros — é minha humilde ideia visitar o país nativo de Princesa Beleza”.

“O país nativo dela. Tu o identificou?”

“Não, todo o meu conhecimento provém do conto de fadas. Entretanto, conheço vários países arruinados que podem servir como candidatos”.

“Compreendo. Tu pareces ter algum prospecto”.

Embora, tendo dito isso, não parece que ele produziu algo a partir desta linha de raciocínio até agora — suponho que tudo que eu possa fazer é deixar isso com Tropicalesque e realizar o meu próprio plano.

Isto é, o plano de fazer Princesa Acerola “agir pior do que ela é” — falando em termos gerais, esses casos de “uma boa pessoa no fundo” na verdade são só “uma boa pessoa ocasionalmente”, mas tenho certeza de que aquela princesa terá sucesso apesar de seu caráter.

Ela não será negligente em nosso esforço de preservar seu sabor e fazê-la comestível para mim — não tenho dúvidas de que ela está praticando comportamentos vulgares sozinha em seu quarto agora mesmo.

“É infeliz que eu não possa mais esperar por um arranjo refinado, mas simples refinamento não é tudo na cozinha — o que importa é o sabor. O sabor por dentro. Vindo a pensar nisso, até mesmo humanos têm um ditado de que aparências não são o que importam”.

“Estou ciente disso. É certamente verdade... Contudo, o que a própria ‘Princesa Beleza’ pretende fazer?”

“Hein? O que quer dizer?”

“Bem, o seu plano pode seguir como desejas, Mestre — seu apetite pode ser saciado. Mesmo que esse plano produza um resultado ruim no final, poderás pensar em um outro. Porém, para ‘Princesa Beleza’, o momento em que seu plano ter sucesso é o momento em que tu afundará suas presas nela. Sendo tal, falho em compreender o objetivo de ‘Princesa Beleza’ — não pensas o mesmo?”

“......”

Certamente.

Já que eu somente penso de maneira egocêntrica da minha própria posição, sou passível a ter a ideia errada, porém não é como se ela realmente deseja ser devorada por mim — ela simplesmente não quer aniquilar os humanos; ela simplesmente não quer destruir nações.

Porém, se ela for devorada por mim no mesmo momento em que esse objetivo for realizado, não significa que as prioridades dela estão embaralhadas?

Levando isso em consideração, mesmo que ela tenha se juntado a uma criatura sobrenatural como eu em uma aliança e entrado neste Castelo Cadáver...

Desde ponto em diante, afinal, o que a princesa pretende fazer?


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