Difference between revisions of "Toaru Majutsu no Index ~Brazilian Portuguese~:Volume1 Capitulo1"
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− | "Eu acho que |
+ | "Eu acho que eu preciso começar com uma introdução." |
− | " |
+ | "Na verdade, eu iria preferir se você começasse explicando por que você tava pendurada lá fora." |
"Meu nome é Index." |
"Meu nome é Index." |
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− | "Esse |
+ | "Esse nome é claramente falso! Como assim Index!? Você é um índice ou algo do tipo!?" |
− | "Como você pode ver, eu sou da |
+ | "Como você pode ver, eu sou da Igreja. Isso é importante. Ah, mas não sou do Vaticano. Eu sou da Igreja Anglicana<ref>O termo usado é イギリス清教 (Igirisu Seikyō), que pode ser traduzido para "Igreja Puritana Inglesa". Essa tradução vai usar os nomes reais das igrejas pois elas eventualmente são escritas desse jeito em inglês em ilustrações futuras, portanto, Igreja Puritana Inglesa = Igreja Anglicana.</ref> |
− | "Eu não sei o que isso significa |
+ | "Eu não sei o que isso significa, e você vai ficar ignorando minhas perguntas!?" |
− | "Index não é o suficiente? Bom, meu nome mágico é Dedicatus545." |
+ | "Hmm, Index não é o suficiente? Bom, meu nome mágico é Dedicatus545." |
+ | "Alô, alô? Com que tipo de alienígena eu tô falando?" |
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− | [[Image:Index_v01_031.jpg|thumb]] |
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+ | Kamijou não entendeu então ele enfiou um dedo em sua orelha, e Index mordiscou a unha de seu polegar. Esse era um hábito dela? |
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− | "Olá? Olá? Com que tipo de alienígena eu estou falando?" |
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+ | Kamijou perguntou-se por que eles estavam sentados educadamente de frente um para o outro como em um omiai<ref>Omiai é um costume japonês onde um homem e uma mulher são apresentados um para o outro para considerarem a possibilidade de um casamento. Geralmente o encontro é feito pelos pais dos envolvidos, que tomam um papel semelhante ao dos casamenteiros na cultura ocidental.</ref>. |
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− | Kamijou não entendeu, então colocou seu dedo dentro de sua orelha, e Index mordeu a unha de seu polegar. Talvez seja um hábito dela. |
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+ | [[Image:Index_v01_031.jpg|thumb]] |
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− | Kamijou se perguntou por que eles estavam educadamente sentados de frente um para o outro como em um miai<ref>É um costume japonês de juntar duas pessoas solteiras para considerarem um possível casamento</ref>. |
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− | Se ele não saísse logo, iria se atrasar para suas aulas |
+ | Se ele não saísse logo, ele iria se atrasar para suas aulas de reforço, mas ele não poderia deixar essa pessoa estranha em seu quarto. Pra piorar as coisas, a garota misteriosa de cabelo prateado se chamando de Index parecia ter gostado o suficiente do quarto que ela parecia disposta a se deitar preguiçosamente no chão. |
− | + | Teria o azar de Kamijou atraído ela? Ele esperava que esse não fosse o caso. |
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− | " |
+ | "De qualquer forma, seria ótimo se você pudesse me alimentar o suficiente para eu ficar cheia." |
− | "Por que eu faria isso |
+ | "Por que eu faria isso!? Eu não quero aumentar seus parâmetros. Eu preferiria morrer do que ativar uma flag estranha e acabar preso na rota da Index!!"<ref>"Flag" e "rota" são termos comumente usados em visual novels. Pense em Fate/stay night: se você escolher os diálogos corretos, pontos serão atribuídos a "flags", e com pontos o suficiente, uma "flag" é ativada, travando a história numa "rota" específica.</ref> |
− | "Hm... isso é |
+ | "Hm... isso é uma gíria? Sinto muito, mas eu não faço ideia do que você tá falando." |
− | + | Como esperando de uma estrangeira, ela não entendia a cultura otaku do Japão. |
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− | "Mas se eu sair agora, vou desmaiar de |
+ | "Mas se eu sair agora, eu vou desmaiar depois de dar três passos." |
− | "Não |
+ | "...Não vem com essa de desmaio de novo." |
− | " |
+ | "E eu vou reunir minha força restante para deixar uma última mensagem antes de morrer. Vai ser uma imagem sua." |
− | "O |
+ | "O qu—?" |
− | "E |
+ | "E se, por acaso, alguém me salvar, eu vou dizer que eu fui aprisionada neste quarto e atormentada ao ponto de desmaiar. ...Eu vou dizer pra eles que você forçou seus gostos de cosplay em mim." |
− | "Não ouse dizer isso! |
+ | "Não ouse dizer isso! E você conhece uma coisa ou duas sobre a cultura otaku, né!?" |
"?" |
"?" |
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− | Ela inclinou sua cabeça para o lado como um gato se olhando |
+ | Ela inclinou sua cabeça para o lado como um gato se olhando pela primeira vez num espelho. |
+ | Ele se arrependeu de deixá-la irritá-lo. Ele sentiu como se só ele tivesse sido terrivelmente maculado. |
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− | Ele lamentou ter deixado ela irritá-lo, sentindo-se horrivelmente enganado. |
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− | + | (Ok, vamos nessa!) |
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− | + | Kamijou se encaminhou de forma barulhenta até a cozinha. Apenas restava lixo estragado em sua geladeira, então dar isso para ela não machucaria sua carteira. Ele decidiu que tudo ficaria bem desde que a comida fosse aquecida. Ele colocou tudo restante na frigideira e fez algo semelhante a vegetais salteados. |
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− | + | (Pensando nisso, de onde veio essa garota?) |
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− | + | Claro, haviam estrangeiros na Cidade Acadêmica. Entretanto, ela não tinha o "cheiro" característico de um habitante da cidade. Mas também era estranho que pessoas de fora entrassem na cidade. |
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− | A |
+ | A Cidade Acadêmica era tratada como uma cidade feita de centenas de escolas, mas seria mais correto pensar nela como um internato do tamanho de uma cidade. Ela era grande o suficiente para cobrir um terço de Tóquio, mas ela era cercada por uma muralha como a Grande Muralha da China. Ela não era tão estrita como uma prisão, mas ainda assim não era o tipo de lugar que você podia simplesmente entrar e sair. |
+ | ...Ou pelo menos era assim que parecia ser. Na realidade, três satélites lançados para experimentos de uma faculdade técnica estavam constantemente monitorando a cidade. Cada pessoa que entrava ou saía da cidade era completamente escaneada e se alguma pessoa suspeita que não estivesse no banco de dados no portão fosse detectada, membros da Anti-Skill ou da Judgement de todas as escolas iriam intervir imediatamente. |
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− | Não era estrita como uma prisão, mas não era um lugar onde qualquer um poderia entrar. |
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+ | (Mas aquela garota elétrica invocou aquela nuvem de raios ontem. Isso pode ter escondido ela dos satélites.) |
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− | ...Pelo menos era assim que deveria ser. Na verdade, três satélites experimentais lançados por uma escola técnica estavam constantemente monitorando a escola. Cada indivíduo que entrava ou saía da cidade era completamente escaneado e se alguma pessoa suspeita que não estivesse no banco de dados fosse detectada, a Anti-Skill e a Judgment iriam intervir imediatamente. |
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+ | "Então, por que você tava pendurada para secar na minha varanda?" Kamijou perguntou à garota enquanto colocava molho de soja no prato semelhante a vegetais salteados que ele estava fazendo com intenções puramente maliciosas. |
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− | O relâmpago de ontem deve ter atrapalhado a detecção dos satélites, ele considerou. |
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+ | "Eu não tava pendurada pra secar." |
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− | "Por que você estava pendurada para secar na minha varanda?" Kamijou perguntou enquanto colocava molho de soja naquela gororoba. |
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+ | "Então o que você tava fazendo? Foi pega pelo vento e veio parar aqui em cima ou algo do tipo?" |
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− | "Eu não estava pendurada para secar." |
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+ | "...Algo do tipo." |
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− | "Então o que você estava fazendo? Você estava voando e aterrissou lá?" |
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+ | Kamijou havia dito aquilo como uma piada e parou de mover a frigideira para encarar a garota. |
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− | "Algo assim." |
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+ | "Eu caí. Eu estava tentando de pular de um telhado para o outro." |
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− | Kamijou achou que era uma piada, parou de movimentar a frigideira e voltou a olhar para garota. |
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+ | (Telhado?) |
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− | "Eu caí. Eu estava tentando saltar de um prédio para outro." |
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+ | Kamijou olhou para o teto. |
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− | Prédio? |
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− | + | Dormitórios estudantis baratos estavam alinhados naquela área. Mais do mesmo tipo de prédios de oito andares estavam enfileirados e uma olhada para a varanda mostrava que existia um vão de dois metros entre os prédios. Era verdade que um pulo com impulso poderia te levar de um telhado para o outro, mas... |
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− | "Mas são oito andares |
+ | "Mas são oito andares? Um passo errado e você cai direto pro inferno." |
− | " |
+ | "É, e você nem consegue uma sepultura se você cometer suicídio," disse Index enigmaticamente. "Mas eu não tinha escolha. Não tinha outra maneira de escapar." |
"Escapar?" |
"Escapar?" |
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+ | Kamijou franziu a testa para aquela palavra sinistra. |
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− | "Sim." Disse Index como uma criança. "Eu estava sendo perseguida." |
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+ | |||
+ | "Sim," disse Index como uma criança. "Eu estava sendo perseguida." |
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"..." |
"..." |
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− | A mão de Kamijou que estava |
+ | A mão de Kamijou que estava balançando a frigideira quente parou de se mover mais uma vez. |
− | "Eu pulei corretamente, mas fui baleada |
+ | "Eu pulei corretamente, mas aí fui baleada nas costas no meio do ar." A garota que se chamava de Index parecia estar sorrindo. "Desculpa, parece que eu acabei caindo na sua varanda." |
− | Ela |
+ | Ela deu um sorriso puro na direção de Kamijou Touma sem mesmo um sinal de autodepreciação ou sarcasmo. |
"Você foi baleada...?" |
"Você foi baleada...?" |
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− | "Sim? Ah, |
+ | "Sim? Ah, você não precisa se preocupar com um ferimento. Essa roupa também funciona como uma barreira defensiva." |
− | + | O que ela queria dizer com "barreira defensiva"? Era à prova de balas? |
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− | A garota |
+ | A garota deu uma voltinha como estivesse mostrando suas roupas novas e ela certamente não parecia ferida. Kamijou teve de se perguntar se ela realmente havia sido baleada. A ideia de que ela estava delirando ou inventando essa história parecia ser mais realista. |
− | |||
− | O conceito de que ela estava delirando ou inventando tudo parecia mais realista. |
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Mas... |
Mas... |
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− | Havia o fato de que ela |
+ | Havia o fato de que ela realmente estava pendurada em sua varanda no sétimo andar. |
− | Se, hipoteticamente, tudo |
+ | Se, hipoteticamente, tudo que ela disse era verdade... |
− | Quem |
+ | Quem havia atirado nela? |
− | Kamijou |
+ | Kamijou pensou. |
− | Ele pensou sobre o |
+ | Ele pensou sobre o quão determinada uma pessoa precisaria estar para pular pelos telhados de prédios de oito andares. Ele também considerou o quão sortuda ela era por ter caído na sua varanda no sétimo andar. E ele pensou sobre o significado oculto do fato de que ela havia desmaiado. |
Ela disse que estava sendo perseguida. |
Ela disse que estava sendo perseguida. |
||
− | Ele |
+ | Ele pensou sobre o significado do sorriso no rosto de Index quando ela disse isso. |
− | + | Kamijou não sabia em que circunstâncias Index se encontrava e ele não havia entendido as poucas coisas que ela havia dito. Possivelmente, ele apenas entenderia metade das coisas se Index explicasse tudo do inicio ao fim e ele possivelmente não teria noção de como começar a entender a outra metade. |
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− | Mesmo assim, uma verdade |
+ | Mesmo assim, uma verdade permanecia. |
− | + | Com um aperto em seu peito, ele entendeu o fato de que ela havia caído em sua varanda no sétimo andar quando um passo em falso poderia tê-la mandado diretamente ao asfalto. |
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"Comida." |
"Comida." |
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− | + | A cabeça de Index surgiu por trás de Kamijou. Apesar de falar japonês, ela não devia estar acostumada a usar hashis, pois ela estava segurando eles como uma colher enquanto encarava excitadamente a frigideira. |
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+ | |||
+ | Seus olhos eram como os de um gatinho que havia sido resgatado de uma caixa de papelão em um dia chuvoso. |
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+ | "..................................................................Ah." |
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− | Os olhos dela pareciam os de um gato que foi resgatado de uma caixa de papelão em um dia chuvoso. |
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+ | Kamijou colocou a comida que não era nada além de lixo na frigideira para fazer algo como vegetais salteados (venenosos). |
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− | "Ah..." |
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− | + | Por alguma razão, o Kamijou Anjo dentro dele (que normalmente estava acompanhado do Kamijou Demônio) estava se contorcendo terrivelmente ao ver a garota faminta. |
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− | "J- |
+ | "Ahh! J-já sei! Se você realmente está faminta, que tal a gente ir pra um restaurante ao invés de comer essa refeição horrível feita por um cara com as sobras!? A gente pode até pedir por telefone!" |
− | " |
+ | "Eu não posso esperar tanto." |
− | "Ah..." |
+ | "... Ah...kh!" |
− | "E não é horrível. Você fez essa comida |
+ | "E ela não é horrível. Você fez essa comida pra mim sem cobrar nada por ela. Ela tem que ser boa." |
+ | Pela primeira vez, ela deu um sorriso brilhante digno de uma freira. |
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− | Enquanto a dor agredia Kamijou como se seu estômago estivesse sendo torcido como uma peça de roupa molhada, Index colocou o conteúdo da frigideira na sua boca. |
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+ | O estômago de Kamijou sentiu como se ele estivesse sendo espremido como um esfregão. Index o ignorou, usando os hashis em seu punho para colher os conteúdos da panela para sua boca. |
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− | Mastigando. |
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+ | Nhac nhac. |
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− | "Viu? Está bom." |
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+ | "Viu? Tá bom." |
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− | "Está?" |
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+ | "...Ah, tá?" |
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− | Mastigando. |
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+ | Nhoc nhoc. |
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− | "Foi legal você ter colocado um toque amargo para me ajudar a ganhar forças." |
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+ | "Foi legal você ter colocado um sabor azedinho pra me ajudar a recuperar as forças." |
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− | "Gah! Tá amargo?!" |
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+ | "Geh! Tá azedo!?" |
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− | Mastigando. |
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+ | Chomp chomp. |
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− | "Sim, mas não tem problema. Obrigada. Você é como um irmão maior ou algo assim." |
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+ | "É, mas tudo bem. Obrigada. Você é parece um irmão mais velho ou algo do tipo." |
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− | Ela soltou um grande sorriso enquanto comia com um coração tão puro. Um broto de feijão estava preso em sua bochecha. |
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+ | Ela apresentou um largo sorriso. Ela estava comendo com um coração tão puro que um caroço de feijão estava em sua bochecha. |
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− | "...Gh... Uwaaa!" |
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+ | "...Gh...Uuwhaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhh!" |
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− | Com uma velocidade assustadora, Kamijou pegou a frigideira enquanto Index parecia muito descontente. No entanto, Kamijou jurou em seu coração que ele seria o único a ir para o inferno. |
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+ | Na velocidade do som, Kamijou agarrou a panela. Index parecia incrivelmente descontente, mas Kamijou jurou em seu coração que ele seria o único a ir para o inferno. |
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− | "Você está com fome também?" |
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+ | "Você também tá com fome?" |
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− | "Hã?" |
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+ | "...Hã?" |
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− | "Se não estiver, eu gostaria de comer o resto." |
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+ | "Se não estiver, eu gostaria que você me deixasse comer o resto." |
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− | Enquanto ele observava Index olhando para ele com um olhar desgostoso, |
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− | Kamijou recebeu uma revelação divina. |
+ | Quando Kamijou viu Index olhando para ele com olhos levemente irritados enquanto mastigava na ponta de seus palitos, Kamijou recebeu uma revelação divina. |
− | Deus |
+ | Deus estava lhe dizendo para assumir a responsabilidade e comer tudo sozinho. |
− | Isso não tinha nada |
+ | Isso não tinha nada haver com azar, isso foi algo que ele mesmo provocou. |
===Parte 3=== |
===Parte 3=== |
Revision as of 02:49, 17 January 2024
Capítulo 1: O Mago Aterrissa na Torre — FAIR,_Occasionally_GIRL.
Parte 1
"Se você é um Aquariano, nascido entre 20 de Janeiro e 18 de Fevereiro, você terá muita sorte no amor, ganhará muito dinheiro e terá sucesso nos negócios! Não importa o quão improváveis sejam as circunstâncias, apenas coisas boas virão para você. Vá jogar na loteria! Mas não importa o quão popular você seja não tente sair com três ou quatro garotas ao mesmo tempo. ♪"
"...Olha, eu sabia que ia ser algo desse tipo, mas ainda assim..." Era 20 de Julho, o primeiro dia das férias de verão.
Kamijou Touma estava sem palavras. Seu dormitório na Cidade Acadêmica havia sido transformado numa sauna por causa de um ar-condicionado quebrado. Aparentemente, um raio havia caído durante a noite e danificado oitenta por cento dos seus aparelhos elétricos. Isso também significava que os conteúdos dentro de sua geladeira haviam sido estragados. Quando ele tentou comer o copo de yakisoba que ele matinha guardado para emergências, ele derramou o macarrão na pia. Sem outras opções, ele decidiu comer fora, mas pisou em seu cartão bancário e o quebrou enquanto procurava por sua carteira. Quando ele rastejou pateticamente de volta à cama para chorar até dormir, ele foi acordado pelo toque de seu telefone. Era sua professora lhe entregando uma mensagem carinhosa: "Bom dia, Kamijou-chan, você é um idiota, então precisa de aulas de reforço. ♪"
Ele sempre sentiu que horóscopos exibidos na TV como previsões do tempo tendiam a ser apenas isso, previsões, mas ele foi incapaz de rir disso quando ela se mostrou tão diferente da realidade.
"...Eu entendo. Mas não consigo engolir sem falar em voz alta."
O horóscopo sempre estava errado e Kamijou nunca teve boa sorte. Assim era a vida diária para Kamijou Touma. Ele havia pensado que a maneira extraordinária em que a sorte havia o abandonado era algo de família, mas seu pai havia conseguido um quarto lugar (cerca de 100.000 ienes[1]) na loteria e sua mãe havia conseguido bebidas gratuitas em máquinas de vendas diversas vezes. Era o suficiente para fazê-lo se perguntar se eles tinham alguma relação sanguínea. Mas como ele não tinha uma queda por uma irmã mais nova, nem era o próximo na linha de sucessão para a realeza, nada de bom viria ao descobrir que ele era adotado.
Em suma, Kamijou Touma não vivenciava nada além de azar.
Ao ponto em que isso poderia ser facilmente chamado de uma piada recorrente.
Mas ele não tinha intenção de desistir por causa disso.
Kamijou não contava com a sorte. Em outras palavras, ele tinha muita determinação.
"...Certo. Os problemas imediatos são o meu cartão e a geladeira."
Kamijou coçou sua cabeça e olhou ao redor de seu quarto. Enquanto ele ainda tivesse sua caderneta bancária, ele conseguiria outro cartão facilmente. O problema real era a geladeira... ou melhor, o café da manhã. Eles chamavam de aulas de reforço, mas ele tinha certeza que seria forçado a tomar pílulas de Matusalina e pó de Elbrase[2] para o desenvolvimento de habilidades. Fazer isso com o estômago vazio não era uma boa ideia.
Trocando de roupa e colocando seu uniforme de verão, Kamijou considerou parar numa loja de conveniências no caminho para a escola. Fazendo jus a sua posição de estudante idiota, Kamijou havia ficado acordado a noite inteira enquanto as férias de verão se aproximavam então uma dor incômoda passava pela sua mente privada de sono. Entretanto, ele se forçou a pensar positivamente.
(Compensar quatro meses de aulas perdidas em uma única semana é um bom negócio.)
Seu humor se recuperou ao ponto em que ele repentinamente murmurou, "O clima tá legal. Talvez eu deva arejar o meu futon."
Kamijou abriu a porta de tela para a varanda. Ele esperava que o futon estivesse agradável e fofinho quando ele voltasse de suas aulas de reforço.
Mas naquela varanda do sétimo andar, a parede do prédio vizinho estava há menos de dois metros de distância.
"O céu é tão azul, e ainda assim o meu futuro é um breu. ♪"
Seu ânimo decaiu bruscamente. Se forçar a dizer isso de maneira alegra apenas teve o efeito oposto.
Não ter outra pessoa para agir como o escada[3] apenas o atormentou com um sentimento de solidão enquanto ele usava ambas as mãos para pegar seu futon em sua cama.
(Se o resto falhar, pelo menos eu vou deixar isso aqui suave e macio.)
Assim que ele pensou isso, ele sentiu algo macio ser esmagado pelo seu pé. Ele olhou para baixo e viu um pão de yakisoba ainda embrulhado. Ele estava na geladeira arruinada previamente mencionada, então certamente ele havia estragado.
"... Eu só espero que não comece a chover de repente essa tarde."
Expressando uma má premonição que ele teve, Kamijou saiu pela porta de tela aberta para a varanda...
...e viu um futon branco já pendurado lá.
"?"
Ele podia morar num dormitório estudantil, mas o formato era de um kitnet, então Kamijou vivia sozinho. Desse jeito, não havia ninguém além de Kamijou Touma que fosse capaz de pendurar um futon no corrimão da varanda de seu quarto.
Quando ele olhou mais de perto, não era um futon pendurado.
Era uma garota vestindo roupas brancas.
"Hã!?"
O futon verdadeiro caiu de suas mãos.
Era um mistério. Na verdade, era algo sem sentido. Como se ela tivesse caído de exaustão numa vara de metal, a garota estava com sua cintura pressionada contra o parapeito da varanda e seu corpo estava dobrado de um jeito que seus braços e pernas estavam pendurados para baixo.
Ela tinha... cerca de quatorze ou quinze anos de idade. Ela parecia ser um ano ou dois mais nova que Kamijou. Ela devia ser uma estrangeira por que sua pele era de um branco imaculado, e seu cabelo era branco... não, prateado. Seu cabelo era um tanto longo, então ele cobria completamente seu rosto. Kamijou chutou que ele devia alcançar sua cintura se ela estivesse de pé.
E suas roupas...
"Nossa, é uma irmã... Uma irmã freira, não uma irmã irmã."
O termo para o que ela vestia era hábito? Era o tipo de roupa que você esperava ver em uma freira na igreja. Suas roupas pareciam um longo vestido que chegava até os tornozelos, e ela usava um capuz separado em sua cabeça, um tanto diferente de um chapéu. Entretanto, embora os hábitos normais das freiras fossem pretos, o dela era branco puro. Ele era feito de seda? Aliás, em todos os pontos importantes da roupa, bordados feitos de linhas douradas haviam sido costurados. Kamijou não podia acreditar no quanto a impressão dada pelo mesmo desenho de roupa podia mudar apenas alterando as cores. O que ele viu lembrou-lhe de uma xícara de porcelana.
As pontas dos dedos adoráveis da garota tremeram.
Sua cabeça levantou-se lentamente de sua posição pendurada. Seu cabelo prateado semelhante a seda partiu-se suavemente para os lados como uma cortina e o rosto da garota apareceu no meio do cabelo realmente longo.
(Ei, ei...!)
O rosto da garota era relativamente bonito. Sua pele branca e seus olhos verdes eram uma nova experiência para alguém que não tinha contato com o exterior como Kamijou e ela parecia, de certa forma, com uma boneca para ele.
Entretanto, não foi isso que deixou Kamijou tão envergonhado.
Ela era uma estrangeira e o professor de inglês de Kamijou Touma havia sugerido que ele adotasse uma política vitalícia de evitar estrangeiros. Se alguém de um país estranho começasse a falar com ele, ele possivelmente acabaria comprando um edredom seu perceber.
"Eu..."
Os lábios fofos, mas levemente secos, da garota se moveram lentamente.
Kamijou deu um passo ou dois para trás sem perceber. Com um som amassado, ele pisou no pão de yakisoba mais uma vez.
"Eu tô com fome.”
"..........................................................................."
Por um instante, Kamijou pensou ser tão estúpido que sua mente tinha substituído automaticamente a língua estrangeira que ele ouviu com japonês. Como crianças estúpidas do fundamental que colocavam letras ridículas em músicas estrangeiras que elas não conheciam a letra real.
"Eu tô com fome."
"..."
"Eu tô com fome."
"......"
"Quantas vezes eu vou ter que te dizer que eu tô com fome?"
A garota de cabelo prateado pareceu ter ficado um pouco irritada com a maneira que Kamijou apenas ficou parado no mesmo lugar.
(Não. Isso é prova o suficiente. Isso não pode ser outra coisa além de japonês.)
"Ah, hmm..." ele disse enquanto encarava a garota pendurada no parapeito da varanda. "O que? Você tá querendo me dizer que desmaiou de cansaço ou algo do tipo?"
"Você também poderia dizer que eu caí e tô prestes a morrer."
"..."
A garota podia falar japonês muito bem.
"Seria ótimo se você pudesse me alimentar o suficiente pra eu ficar cheia."
Kamijou olhou para o pão de yakisoba amassado e possivelmente estragado ainda em sua embalagem debaixo de seu pé.
Ele não tinha ideia do que estava acontecendo, mas ele sabia que era melhor não se envolver. Na esperança de mandar a garota para um lugar distante, ele ergueu o pão de yakisoba amassado para sua boca. Ele tinha certeza que ela iria sair correndo quando sentisse o fedor azedo, então ele fez algo semelhante a oferecer chazuke à um convidado que você queira fora de sua casa em Quioto[4].
"Obrigada. Hora de comer."
Sua boca o engoliu, com embalagem e tudo. E a mão de Kamijou foi junto.
Mais uma vez, o dia de Kamijou começou com azar e um grito.
Parte 2
"Eu acho que eu preciso começar com uma introdução."
"Na verdade, eu iria preferir se você começasse explicando por que você tava pendurada lá fora."
"Meu nome é Index."
"Esse nome é claramente falso! Como assim Index!? Você é um índice ou algo do tipo!?"
"Como você pode ver, eu sou da Igreja. Isso é importante. Ah, mas não sou do Vaticano. Eu sou da Igreja Anglicana[5]
"Eu não sei o que isso significa, e você vai ficar ignorando minhas perguntas!?"
"Hmm, Index não é o suficiente? Bom, meu nome mágico é Dedicatus545."
"Alô, alô? Com que tipo de alienígena eu tô falando?"
Kamijou não entendeu então ele enfiou um dedo em sua orelha, e Index mordiscou a unha de seu polegar. Esse era um hábito dela?
Kamijou perguntou-se por que eles estavam sentados educadamente de frente um para o outro como em um omiai[6].
Se ele não saísse logo, ele iria se atrasar para suas aulas de reforço, mas ele não poderia deixar essa pessoa estranha em seu quarto. Pra piorar as coisas, a garota misteriosa de cabelo prateado se chamando de Index parecia ter gostado o suficiente do quarto que ela parecia disposta a se deitar preguiçosamente no chão.
Teria o azar de Kamijou atraído ela? Ele esperava que esse não fosse o caso.
"De qualquer forma, seria ótimo se você pudesse me alimentar o suficiente para eu ficar cheia."
"Por que eu faria isso!? Eu não quero aumentar seus parâmetros. Eu preferiria morrer do que ativar uma flag estranha e acabar preso na rota da Index!!"[7]
"Hm... isso é uma gíria? Sinto muito, mas eu não faço ideia do que você tá falando."
Como esperando de uma estrangeira, ela não entendia a cultura otaku do Japão.
"Mas se eu sair agora, eu vou desmaiar depois de dar três passos."
"...Não vem com essa de desmaio de novo."
"E eu vou reunir minha força restante para deixar uma última mensagem antes de morrer. Vai ser uma imagem sua."
"O qu—?"
"E se, por acaso, alguém me salvar, eu vou dizer que eu fui aprisionada neste quarto e atormentada ao ponto de desmaiar. ...Eu vou dizer pra eles que você forçou seus gostos de cosplay em mim."
"Não ouse dizer isso! E você conhece uma coisa ou duas sobre a cultura otaku, né!?"
"?"
Ela inclinou sua cabeça para o lado como um gato se olhando pela primeira vez num espelho.
Ele se arrependeu de deixá-la irritá-lo. Ele sentiu como se só ele tivesse sido terrivelmente maculado.
(Ok, vamos nessa!)
Kamijou se encaminhou de forma barulhenta até a cozinha. Apenas restava lixo estragado em sua geladeira, então dar isso para ela não machucaria sua carteira. Ele decidiu que tudo ficaria bem desde que a comida fosse aquecida. Ele colocou tudo restante na frigideira e fez algo semelhante a vegetais salteados.
(Pensando nisso, de onde veio essa garota?)
Claro, haviam estrangeiros na Cidade Acadêmica. Entretanto, ela não tinha o "cheiro" característico de um habitante da cidade. Mas também era estranho que pessoas de fora entrassem na cidade.
A Cidade Acadêmica era tratada como uma cidade feita de centenas de escolas, mas seria mais correto pensar nela como um internato do tamanho de uma cidade. Ela era grande o suficiente para cobrir um terço de Tóquio, mas ela era cercada por uma muralha como a Grande Muralha da China. Ela não era tão estrita como uma prisão, mas ainda assim não era o tipo de lugar que você podia simplesmente entrar e sair.
...Ou pelo menos era assim que parecia ser. Na realidade, três satélites lançados para experimentos de uma faculdade técnica estavam constantemente monitorando a cidade. Cada pessoa que entrava ou saía da cidade era completamente escaneada e se alguma pessoa suspeita que não estivesse no banco de dados no portão fosse detectada, membros da Anti-Skill ou da Judgement de todas as escolas iriam intervir imediatamente.
(Mas aquela garota elétrica invocou aquela nuvem de raios ontem. Isso pode ter escondido ela dos satélites.)
"Então, por que você tava pendurada para secar na minha varanda?" Kamijou perguntou à garota enquanto colocava molho de soja no prato semelhante a vegetais salteados que ele estava fazendo com intenções puramente maliciosas.
"Eu não tava pendurada pra secar."
"Então o que você tava fazendo? Foi pega pelo vento e veio parar aqui em cima ou algo do tipo?"
"...Algo do tipo."
Kamijou havia dito aquilo como uma piada e parou de mover a frigideira para encarar a garota.
"Eu caí. Eu estava tentando de pular de um telhado para o outro."
(Telhado?)
Kamijou olhou para o teto.
Dormitórios estudantis baratos estavam alinhados naquela área. Mais do mesmo tipo de prédios de oito andares estavam enfileirados e uma olhada para a varanda mostrava que existia um vão de dois metros entre os prédios. Era verdade que um pulo com impulso poderia te levar de um telhado para o outro, mas...
"Mas são oito andares? Um passo errado e você cai direto pro inferno."
"É, e você nem consegue uma sepultura se você cometer suicídio," disse Index enigmaticamente. "Mas eu não tinha escolha. Não tinha outra maneira de escapar."
"Escapar?"
Kamijou franziu a testa para aquela palavra sinistra.
"Sim," disse Index como uma criança. "Eu estava sendo perseguida."
"..."
A mão de Kamijou que estava balançando a frigideira quente parou de se mover mais uma vez.
"Eu pulei corretamente, mas aí fui baleada nas costas no meio do ar." A garota que se chamava de Index parecia estar sorrindo. "Desculpa, parece que eu acabei caindo na sua varanda."
Ela deu um sorriso puro na direção de Kamijou Touma sem mesmo um sinal de autodepreciação ou sarcasmo.
"Você foi baleada...?"
"Sim? Ah, você não precisa se preocupar com um ferimento. Essa roupa também funciona como uma barreira defensiva."
O que ela queria dizer com "barreira defensiva"? Era à prova de balas?
A garota deu uma voltinha como estivesse mostrando suas roupas novas e ela certamente não parecia ferida. Kamijou teve de se perguntar se ela realmente havia sido baleada. A ideia de que ela estava delirando ou inventando essa história parecia ser mais realista.
Mas...
Havia o fato de que ela realmente estava pendurada em sua varanda no sétimo andar.
Se, hipoteticamente, tudo que ela disse era verdade...
Quem havia atirado nela?
Kamijou pensou.
Ele pensou sobre o quão determinada uma pessoa precisaria estar para pular pelos telhados de prédios de oito andares. Ele também considerou o quão sortuda ela era por ter caído na sua varanda no sétimo andar. E ele pensou sobre o significado oculto do fato de que ela havia desmaiado.
Ela disse que estava sendo perseguida.
Ele pensou sobre o significado do sorriso no rosto de Index quando ela disse isso.
Kamijou não sabia em que circunstâncias Index se encontrava e ele não havia entendido as poucas coisas que ela havia dito. Possivelmente, ele apenas entenderia metade das coisas se Index explicasse tudo do inicio ao fim e ele possivelmente não teria noção de como começar a entender a outra metade.
Mesmo assim, uma verdade permanecia.
Com um aperto em seu peito, ele entendeu o fato de que ela havia caído em sua varanda no sétimo andar quando um passo em falso poderia tê-la mandado diretamente ao asfalto.
"Comida."
A cabeça de Index surgiu por trás de Kamijou. Apesar de falar japonês, ela não devia estar acostumada a usar hashis, pois ela estava segurando eles como uma colher enquanto encarava excitadamente a frigideira.
Seus olhos eram como os de um gatinho que havia sido resgatado de uma caixa de papelão em um dia chuvoso.
"..................................................................Ah."
Kamijou colocou a comida que não era nada além de lixo na frigideira para fazer algo como vegetais salteados (venenosos).
Por alguma razão, o Kamijou Anjo dentro dele (que normalmente estava acompanhado do Kamijou Demônio) estava se contorcendo terrivelmente ao ver a garota faminta.
"Ahh! J-já sei! Se você realmente está faminta, que tal a gente ir pra um restaurante ao invés de comer essa refeição horrível feita por um cara com as sobras!? A gente pode até pedir por telefone!"
"Eu não posso esperar tanto."
"... Ah...kh!"
"E ela não é horrível. Você fez essa comida pra mim sem cobrar nada por ela. Ela tem que ser boa."
Pela primeira vez, ela deu um sorriso brilhante digno de uma freira.
O estômago de Kamijou sentiu como se ele estivesse sendo espremido como um esfregão. Index o ignorou, usando os hashis em seu punho para colher os conteúdos da panela para sua boca.
Nhac nhac.
"Viu? Tá bom."
"...Ah, tá?"
Nhoc nhoc.
"Foi legal você ter colocado um sabor azedinho pra me ajudar a recuperar as forças."
"Geh! Tá azedo!?"
Chomp chomp.
"É, mas tudo bem. Obrigada. Você é parece um irmão mais velho ou algo do tipo."
Ela apresentou um largo sorriso. Ela estava comendo com um coração tão puro que um caroço de feijão estava em sua bochecha.
"...Gh...Uuwhaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhh!"
Na velocidade do som, Kamijou agarrou a panela. Index parecia incrivelmente descontente, mas Kamijou jurou em seu coração que ele seria o único a ir para o inferno.
"Você também tá com fome?"
"...Hã?"
"Se não estiver, eu gostaria que você me deixasse comer o resto."
Quando Kamijou viu Index olhando para ele com olhos levemente irritados enquanto mastigava na ponta de seus palitos, Kamijou recebeu uma revelação divina.
Deus estava lhe dizendo para assumir a responsabilidade e comer tudo sozinho.
Isso não tinha nada haver com azar, isso foi algo que ele mesmo provocou.
Parte 3
Kamijou Touma encheu sua boca com lixo frito e sorriu.
"Mhh," resmungou a garota que chamava a si mesma de Index com um olhar de reclamação enquanto mordia um biscoito. A maneira que ela segurava o biscoito em ambas as mãos a fez parecer um esquilo.
"Tudo bem, você disse que estava sendo perseguida. Perseguida por quem?"
Após retornar de seu Nirvana, Kamijou perguntou mais uma vez sobre sua maior dúvida na história dela.
Ele não estava disposto a acolher uma garota que ele conheceu a menos de 30 minutos. Mas provavelmente já era tarde demais para deixar isso passar.
No fim, eu vou ter seguir as palavras da raposa, pensou Kamijou, usando um termo pessoal para manter sua bondade fingida.
Ele sabia que não iria resolver nada, mas ainda gostaria de confortar a si mesmo com com a sensação de que ele havia feito algo para ajudar.
"Hmm..." ela disse com a garganta seca. "Quem eles eram mesmo? Talvez os Rosacrucianos ou um grupo da Stella Matutina. Eu acho que era um desses grupos, mas eu não sei o nome deles ainda. Eles não são do tipo que se importam com nomes."
"Eles...?" Kamijou perguntou timidamente.
Aparentemente, ela estava sendo perseguida por um grupo ou organização.
"Sim," disse Index calmamente. "Uma sociedade de feiticeiros."
...
...
...
"Hã? Feiticeiros? Hã? O quê?! Isso é loucura!"
"Hã? Eu falei algo errado? Eu quis dizer magia. Uma associação mágica."
...
"O quê? Você quer dizer alguma seita? Tipo, uma seita que diz que quem não acreditar no líder irá receber uma punição divina e aí eles te dão LSD para fazer uma lavagem cerebral? Isso é bem ruim."
"...Tá brincando comigo?"
"...Foi mal, eu simplesmente não consigo aceitar essa coisa de magia. Eu posso conhecer vários tipos de poderes psíquicos como pirocinese e clarividência, mas eu não consigo aceitar magia."
"...?"
Index parecia estar confusa.
Ela provavelmente esperava que alguém do lado da ciência não acreditaria nas coisas que Kamijou citou.
Entretanto, a mão direita de Kamijou possuía um poder sobrenatural.
Era chamado de Imagine Breaker e poderia negar até poderes divinos vistos em mitos em um instante desde que fosse um poder com origem sobrenatural.
"Você pode não saber, mas poderes psíquicos é algo normal por aqui. Qualquer um pode desenvolver poderes recebendo uma injeção de 'esperina' nas veias, colocando eletrodos no pescoço e ouvindo alguns sons por fones de ouvido. Tudo pode ser explicado cientificamente, então é natural aceitar isso, certo?"
"...Eu realmente não entendo."
"É normal! Completamente normal! Inteiramente normal! Três vezes não é o suficiente?!"
"...Magia também é algo normal."
Index emburrou como se alguém houvesse insultado seu gato de estimação.
"Hmm... Tá, vamos pegar pedra, papel e tesoura como exemplo. Espera, você conhece esse jogo?"
"...Eu acho que é da cultura japonesa, mas eu conheço sim."
"Beleza. Se você jogasse pedra, papel e tesoura dez vezes e perdesse todas, haveria algo influenciando a sua derrota no jogo?"
"...Hm."
"Não haveria, certo? Mas é da natureza humana achar que há algo por trás." disse Kamijou com pouco interesse. "Você pensaria que não haveria como perder dessa maneira. Você provavelmente iria achar que há uma regra, uma força invisível ou algo do tipo. E uma vez que você pensa assim, o que acontece quando você começa a fatorar coisas como o horóscopo?"
"...Tipo, 'vocês cancerianos são azarados, então não devem jogar pedra, papel e tesoura'?"
"Exato. Nós vemos nossa sorte como algo que é manipulado por forças e regras invisíveis. E nós constantemente sonhamos para que estas forças joguem do nosso lado. Enquanto a realidade é uma patética e pura coincidência, nossos corações confundem essa coincidência com algo inevitavelmente manipulado por uma força ou regra invisível. Isso é o ocultismo."
Index franziu a testa, mas então disse, "Então você não simplesmente negou tudo isso sem pensar."
"Sim. E é por eu ter pensado seriamente sobre esses assuntos que eu não consigo acreditar em magos de um livro infantil. Se nós pudéssemos ressucitar os mortos gastando um pouco de MP como em um RPG, ninguém estaria desenvolvendo outros poderes. Eu simplesmente não consigo acreditar no sobrenatural que não possui conexão com a ciência."
Ele achava que as pessoas achavam poderes psíquicos estranhos e misteriosos porque eram ignorantes sobre o assunto. O fato de que estes poderes poderiam ser explicados cientificamente era comum naquela cidade.
"...Mas magia existe."
Muito provavelmente a magia era como um pilar sustentando o coração dela, parecido com o Imagine Breaker de Kamijou.
"Tá, tanto faz. Então, por que eles estavam te perseguindo?"
"Magia existe."
"..."
"Magia existe!"
Parecia que ela queria forçá-lo a acreditar nisso.
"Tá, o que é 'magia', então? Você consegue disparar fogo de suas mãos sem ter passado pelo nosso Curriculum? Se sim, eu gostaria de ver. Talvez eu acredite em você."
"Eu não tenho poderes mágicos, não posso fazer isso."
"..."
Kamijou se sentiu como se ele tivesse encontrado um esper que afirmou que não conseguiu dobrar uma colher no Curriculum porque a câmera de segurança do local onde se aplicam os testes havia o distraído.
Mas um sentimento complexo preenchia o coração de Kamijou.
Ele insistia que o oculto não existia e que magia era algo ridículo, mas ele não sabia absolutamente nada sobre o Imagine Breaker que residia na sua mão direita. Como o poder funcionava, e como seu poder age sobre outro poder? A Academy City estava no topo do mundo no desenvolvimento de poderes, mas até seu System Scan falhou em analisar o poder de Kamijou. Consequentemente, ele foi classificado como Level 0.
Além disso, esse poder não apareceu como resultado de uma intervenção científica. Ele possui este poder desde seu nascimento.
Ele insistia que o oculto não existia e mesmo assim, ele era uma parte do sobrenatural que ignorava as regras.
Mas ele não acreditava em magia só porque acontecem coisas sem explicação no mundo o tempo inteiro.
"...Magia existe."
Kamijou suspirou.
"Tá certo. Em prol do seu argumento, vamos supor que magia exista."
"Em prol do argumento?"
"Se existe mesmo," continuou Kamijou, ignorando-a. "Por que eles estão atrás de você? Tem algo a ver com a maneira que você está vestida?"
Kamijou estava se referindo ao hábito extravagante que ela estava vestindo, feito de seda pura e com bordados dourados. Em outras palavras, "É algo relacionado a igreja?"
"...É porque eu sou a Index."
"Hein?"
"Eles devem estar atrás dos 103,000 grimórios que eu possuo."
...
...
...
"...Eu não entendi."
"Por que você parece perder a motivação sempre que eu explico algo?"
"Hm, vamos continuar. Eu não sei o que grimórios são, mas eu imagino que sejam livros, como dicionários."
"Sim. O Livro de Eibon, A Chave Menor de Salomão, Unaussprechlichen Kulten, Cultes des Goules, e o Livro dos Mortos são bons exemplos. O Necronomicon é tão famoso que possui várias falsificações, então não é muito confiável."
"Não, na verdade eu não me importo com os conteúdos."
Ele queria complementar dizendo, "porque tudo é um monte de besteiras mesmo", mas segurou sua língua.
Ele então perguntou, "Onde estão esses 100,000 livros?"
Ele queria insistir nesse ponto, cem mil livros eram o suficiente para encher uma biblioteca.
"Você quer dizer que você tem a chave para o depósito onde eles estão armazenados?"
"Não." Index balançou sua cabeça. "Todos os 103,000 grimórios estão comigo."
"Como é? Você não vai me dizer que esses livros não podem ser vistos por idiotas, não é?"
"Você não poderia os ver mesmo se não fosse um idiota. Não teria sentido se qualquer pessoa pudesse vê-los."
As palavras de Index eram tão irreais que Kamijou pensou que ele estava sendo ridicularizado. Ele olhou em volta, mas não viu nenhum livro velho que pudesse ser um grimório. Haviam apenas revistas de jogos, mangás, e o seu dever de casa que ele havia jogado em um canto.
"...Ahhh."
Ele tentou de verdade escutá-la, mas Kamijou já estava no seu limite.
Ele começou a se perguntar se ela estava imaginando tudo. Se ela pulou de um prédio de oito andares, escorregou, e caiu na varanda dele por causa de um delírio, ela não era alguém com quem Kamijou gostaria de se envolver.
"Acreditar em poderes psíquicos mas não acreditar em magia não faz sentido." Index disse com um beicinho. "Esses poderes científicos são tão bons assim? Não é certo zombar das pessoas só porque você possui um poder especial."
...
"Bom, sim." Kamijou deu um pequeno suspiro. "Eu concordo. Não é certo. É errado pensar que você está acima dos outros só porque consegue fazer uns truques."
Kamijou olhou para sua mão direita.
Raios ou fogo não iriam sair dela. Não iria disparar nenhum raio de luz ou causar uma explosão, e nenhuma marca estranha iria aparecer no seu pulso.
Entretando, sua mão direita poderia negar qualquer tipo de poder sobrenatural, desprezando sua origem ou tipo.
"Bem, para as pessoas que vivem nessa cidade, os poderes que elas têm são parte de suas personalidades, então você deveria ser um pouco mais tolerante em relação a algumas delas. Na verdade, eu sou um esper, também."
"É mesmo, idiota? Hmph. Você pode dobrar uma colher com sua mão ao invés de deixarem bagunçar o seu cérebro para esse fim."
"..."
"Hmph, hmph. O que há de tão ótimo sobre um cara que pôs de lado seu tom natural para colorir-se artificialmente? Hmph."
...
"...Você se importa se eu calar sua boca junto com essa sua arrogância ridícula?
"D-De qualquer modo, você disse que é um esper, mas o que você pode fazer?"
"Hmm, bem..."
Kamijou não tinha certeza do que dizer.
Era incomum Kamijou explicar sobre sua mão direita para os outros. Além do mais, por ser relacionado a poderes sobrenaturais, não poderia ser explicado se o outro lado não conhecesse o sobrenatural ou o psíquico.
"É essa minha mão direita. E no meu caso, não foi doping. Eu tenho esse poder desde que nasci."
"Entendo..."
"Se eu tocar com a minha mão direita, qualquer tipo de poder sobrenatural será negado. Desde bolas de fogo, Railguns, ou até mesmo poderes divinos."
"Ahn?"
"Por que sua expressão parece a de uma pessoa que viu uma pedra milagrosa em uma revista?"
"Mas... você nunca ouviu a palavra de Deus, ainda sim afirma que pode negar os milagres Dele." Index colocou o dedo em seu ouvido enquanto ria com desdém.
"Kh... I-Isso é idiotice. Pelo menos eu não sou garota mágica falsa que diz que magia existe mas não consegue provar."
Os murmúrios da alma de Kamijou chatearam Index.
"E-Eu não sou falsa! Magia existe!"
"Então me mostre algo, Halloween girl! Você não vai acreditar no meu Imagine Breaker até eu destruir algo com a minha mão direita mesmo. Vamos lá!"
"Tudo bem, eu irei!" Index jogou suas mãos para o alto em sinal de aborrecimento. "Aqui! Estas roupas! É uma barreira defensiva de alta qualidade chamada Walking Chuch!"
Index abriu seus braços para mostrar o hábito.
"Walking Church? O quê? Isso não faz sentido! Não é legal ficar usando esses termos incompreensíveis como 'Index' e 'barreira defensiva', sabe?! Explicar algo significa tornar esse 'algo' entendível para uma pessoa de uma forma simples. Você não entende isso?!"
"O quê?! Como ousa dizer isso se você nem faz questão de tentar entender o que eu falo?!" Index balançou seus braços demonstrando raiva. "Certo, ver para crer, não é? Pegue uma faca na cozinha e me acerte no estômago!"
"Te acertar?! Eu não quero acabar nos jornais com uma manchete dizendo 'tudo começou com uma discussão banal'!"
"Ah, você não acredita em mim." Os ombros de Index subiram e desceram enquanto ela respirava fundo. "Essa roupa possui os requerimentos mínimos para criar uma igreja, ou seja, é uma igreja em forma de roupa. A forma como a roupa é tecida, a forma como os fios são costurados, a forma como os bordados a decoram... É tudo calculado. Uma faca não irá conseguir causar um arranhão."
"Tá certo. Que idiota iria concordar em te esfaquear? Eu teria que ser um delinquente juvenil sem precedentes pra fazer isso."
"Dá pra parar de tirar sarro de mim? Essa é uma cópia exata do Sudário de Turim, um tipo de tecido usado pelo santo que foi apunhalado pela Lança de Longino. É algo parecido com um abrigo nuclear. Ela reflete ou absorve qualquer ataque, seja ele físico ou mágico. Eu te disse que fui baleada, certo? Bem, haveria um buraco gigante em mim se não fosse a Walking Church. Entende agora?"
Cala a boca, idiota, Kamijou pensou furiosamente.
Os valores que mediam a apreciação de Kamijou por Index caíram rapidamente enquanto ele observava as roupas dela com menosprezo.
"...Hmm. Então ele seria dizimado se eu tocasse com a minha mão direita?"
"Sim, mas apenas se esse seu poder for real. Hahaha!"
"Perfeito!!" gritou Kamijou segurando o ombro de Index.
Como se ele tivesse segurado uma nuvem, parecia que o impacto foi estranhamente absorvido por uma esponja macia.
"Espera... hã?"
Kamijou esfriou sua cabeça e pensou.
E se tudo o que Index disse fosse verdade, mesmo sendo altamente improvável, e essa Walking Church foi mesmo costurada com poder sobrenatural?
Negar esse poder sobrenatural iria rasgar as roupas dela?
"Haaaaaaaaaa?!"
Kamijou gritou por causa de sua repentina premonição de que ele pudesse estar finalmente subindo alguns degraus em direção a fase adulta. Mas...
...
...
...?
"Eh? ...Hã?"
Não aconteceu nada.
Ainda bem, ele pensou aliviado.
Kamijou não conseguiu aguentar.
"Viu? Onde está esse tal de Imagine Breaker? Nada aconteceu. Ha! Ha!"
Index colocou suas mãos na cintura e inchou seu peito de satisfação.
Mas logo após, as roupas dela caíram como o laço de um embrulho de presente.
O hábito dela rasgou completamente, se tornando simples pedaços de pano separados.
O capuz permaneceu intacto, ele deve ser um item isolado. Ficar apenas com a cabeça coberta fez tudo parecer ainda mais doloroso.
A garota congelou, ainda com suas mãos na cintura e seu peito inchado com satisfação.
Para resumir, ela estava completamente nua.
Parte 4
Aparentemente, a garota que chamava a si mesma de Index tinha o hábito de morder as pessoas quando estava irritada.
"Ai... Você me mordeu todo. Você é um mosquito?"
"..."
Ele não recebeu nenhuma resposta.
Index estava nua e enrolada em um cobertor. Ela sentou com suas pernas dobradas para trás enquanto tentava, inutilmente, retornar suas roupas à sua forma original unindo as peças do hábito com alfinetes.
"...Hm, princesa? Talvez eu esteja sendo um pouco presunçoso, mas eu tenho uma camisa de botões e uma calça que você pode vestir."
"..."
Ela olhou para ele com olhos de cobra.
"...Hm, princesa?"
"O quê?" Ela respondeu quando ele a chamou mais uma vez.
"Eu não tive culpa por isso ter acontecido."
A resposta que ele recebeu foi um despertador voando na sua direção.
"Ah!" Kamijou gritou logo antes de um travesseiro gigante também ser arremessado em sua direção.
Para deixar a situação ainda mais ridícula, um videogame portátil e um rádio pequeno também foram jogados.
"Como você consegue falar normalmente comigo após aquilo ter acontecido?!"
"Ah, não! Foi um evento que mudou a vida deste velho, também. Mas você, por outro lado, é jovem!"
"Você está brincando comigo... Uhhhh!!"
"Beleza... Desculpa, desculpa! Não morda o vídeo que eu aluguei, sua idiota!"
Kamijou Touma curvou-se com ambas as mãos para a frente como se fosse uma parte de alguma brincadeira.
No fundo, Kamijou sentiu um aperto que esmagava seu coração após ter visto uma garota nua pela primeira vez.
Entretanto, Kamijou Touma não demonstrava isso.
...Era o que ele pensava, mas ele se surpreenderia se visse sua expressão no espelho.
"Acabei."
Enquanto triunfantemente soprou o ar pelo seu nariz, Index exibiu o hábito de freira que ganhou sua forma original após aquele trabalho de "faça você mesmo" infernal.
Dezenas de alfinetes brilhavam no hábito de freira.
"..." Suor.
"Ahn, você vai vestir isso?"
"..." Silêncio.
"Você vai vestir essa coisa estranha?"
"..." Lágrimas.
"No Japão, nós chamamos isso de 'cama de agulhas'."
"...Uuuuhhhhh!!"
"Tá, eu entendi!" Kamijou se desculpou enquanto curvou-se para frente com força.
Enquanto isso, Index olhava para ele como uma criança que sofreu Bullying e estava prestes a morder o cabo de alimentação da televisão. Seria ela um gato desobediente?
"É claro que eu vou vestir! Eu sou uma freira!!"
Enquanto Kamijou estava incerto se isso fazia sentido, Index começou a se vestir dentro do cobertor. A cabeça dela era a única coisa visível e seu rosto estava vermelho como uma dinamite.
"Ah, isso me lembra de quando nós tínhamos que nos trocar na escola para a natação."
"...Por que você está me olhando? Pelo menos vire-se para o outro lado."
"Isso importa? Comparado ao que aconteceu antes, ver você se trocando não é tão provocante."
"... ... ..."
Index parou de se mover, mas Kamijou não pareceu ter notado, então ela voltou a se movimentar dentro do cobertor. Ela estava tão concentrada no que estava acontecendo lá dentro que não notou o chapéu parecido com um capuz cair de sua cabeça.
O quarto ficou com uma atmosfera desagradável, como o interior de um elevador em silêncio.
A mente de Kamijou estava distraída, mas o termo "aulas suplementares" surgiu.
"Ah! É mesmo! As aulas suplementares!" Kamijou olhou para o relógio em seu celular. "Hm... eu tenho que ir para a escola, o que você vai fazer? Se você ficar aqui, eu posso te dar a chave."
A opção de simplesmente chutá-la do quarto desapareceu da mente dele. Já que o hábito de Index, a Walking Church, reagiu ao Imagine Breaker, ela claramente possuía alguma conexão com o sobrenatural. Isso significa que nem tudo o que ela disse era mentira.
Era possível que ela havia caído da cobertura do prédio porque estava sendo perseguida por magos. Era possível que ela realmente teria que continuar com esse pega-pega mortal.
Era possível que feiticeiros de um livro infantil ou algo tão louco quanto isto estivessem realmente na cidade onde poderes científicos eram desenvolvidos.
E, mesmo se tudo isso se fosse falso, ele simplesmente não queria abandonar Index.
"...Tudo bem. Eu vou embora."
Contudo, Index levantou-se e fez um anúncio dramático. Ela então passou por Kamijou como se fosse um fantasma e não pareceu ter notado que o capuz dela havia caído. Mas, se ele tentasse pegá-lo, o capuz iria ser rasgado em pedacinhos.
"A-Ah..."
"Hm? Não, não é isso. Se eu ficar, eles virão atrás de mim. Você não quer que seu quarto seja destruído, não é?"
Essa resposta o deixou sem palavras.
No momento em que Index lentamente saiu pela porta, Kamijou foi atrás dela. Ele queria fazer algo, então verificou sua carteira e encontrou apenas 320 ienes. Ele correu atrás de Index para dar a ela o pouco que tinha, mas seu dedo menor do pé golpeou a moldura da porta enquanto tentava sair.
"Bh... Ah! Ahhhh!!"
Kamijou segurou seu pé e deixou escapar um grito estranho. Index virou-se assustada. Conforme Kamijou se contorcia por causa da dor, seu celular caiu de seu bolso. Quando ele percebeu isso, a tela de LCD do celular atingiu o chão e rachou. Ele só conseguiu ouvir o estalo fatal.
"Uhhh! Que azar!"
"Eu diria que foi falta de jeito, não azar," disse Index com um pequeno sorriso. "Mas se esse Imagine Breaker é real, talvez seja inevitável."
"...O que você quer dizer?"
"Isso é relacionado ao mundo da magia, então eu duvido que você irá acreditar em mim," disse Index. "Mas se a proteção divina de Deus e o fio vermelho do destino existem, então essa sua mão direita negaria tudo isso, certo?" Index exibiu o hábito de freira cheio de alfinetes e adicionou, "O poder da Walking Church era uma bênção de Deus, apesar de tudo."
"Espera. Sorte e azar são questões determinadas por probabilidades e estatísticas. O que você está falando é completament-...!"
Logo que disse isso, o dedo de Kamijou tocou a maçaneta, levando um choque pela eletricidade estática.
"O quê?!" ele gritou enquanto seu corpo se contraiu reflexivamente.
O movimento estranho que seus músculos fizeram causou uma cãibra em sua panturrilha direita.
"...!!"
A agonia o deixou incapacitado por 600 segundos.
"...Irmã?"
"Sim?"
"...Explique."
"Não ha muito a explicar," disse Index como se isso fosse óbvio. "Se o que você disse sobre sua mão direita é real, meramente possuí-la já é o suficiente para negar o poder da sorte continuamente."
"...Você quer dizer o que eu acho que você quer dizer?"
"Apenas por tocar o ar, sua mão direita continua te dando mais e mais azar♪."
"Aaaaaaaahhhh!! Q-Que azaaaaaar!!" Kamijou não acreditava no oculto, mas coisas que eram relacionadas ao seu azar eram diferentes. Em todo caso, nada que havia relação com o acaso acabava bem para Kamijou Touma. Chegava ao ponto de ele ter sentido que o universo inteiro conspirava contra ele.
Enquanto isso, uma freira branca pura olhava para ele com o sorriso da Virgem Maria. Nos olhos dela estava o que as pessoas chamam de "olhar convidativo".
"Talvez o seu azar tenha nascido encravado neste poder♪?" A freira sorridente trouxe lágrimas aos olhos de Kamijou e ele finalmente percebeu que essa conversa não o levaria a lugar algum.
"E-Espera! Você tem para onde ir? Eu não sei em que situação você está, mas você pode se esconder aqui se esses magos estiverem por perto."
"Se eu ficar aqui, os inimigos virão."
"Como você pode ter tanta certeza? Se você ficar no meu quarto e não chamar a atenção, acho que não terá nenhum problema."
"Isso não é verdade." Index apontou para suas roupas. "A Walking Church funciona com poderes mágicos. A igreja chama de 'poderes divinos', mas é a mesma energia. Simplificando, o inimigo parece está procurando pelo poder mágico na Walking Church."
"Por que você usa essa coisa se ela pode ser rastreada?"
"Eu já te disse, é uma barreira defensiva de alto nível, lembra? Embora sua mão direita tenha a rasgado em pedaços."
"..."
"Embora sua mão direita tenha a rasgado em pedaços."
"..."
"Embora sua mão direita tenha a rasgado em pedaços!!"
"Não comece a chorar, eu já pedi desculpas. Mas o Imagine Breaker destruiu essa Walking Church, certo? Não significa que ela não pode mais ser rastreada?"
"Mesmo se esse fosse o caso, eles iriam saber que a Walking Church foi destruída. Como eu disse antes, é uma barreira de alto nível. É como uma fortaleza. Se eu fosse o inimigo, eu iria aparecer quando essa fortaleza fosse destruída."
"Espera um segundo. É mais uma razão para eu não deixar você ir. Eu ainda não acredito nessa história, mas se alguém está atrás de você, eu não posso deixar você simplesmente ir." Index olhava para ele fixamente. Com aquele olhar, ela realmente parecia uma garota normal.
"...Então, você vai me seguir até as profundezas do inferno?"
Ela deu um sorriso desolador que deixou Kamijou sem palavras por um instante. Index usou palavras gentis para deixar implícito, "Não venha comigo."
"Não se preocupe. Eu não estou sozinha. Se eu escapar até a igreja, eles irão me acolher."
"...Hmm. Onde fica essa igreja?"
"Em Londres."
"É muito longe!"
"Hm? Ah, não se preocupe. Acho que há algumas filiais no Japão." Ela respondeu enquanto a extremidade de seu hábito flutuava.
"Uma igreja? Acho que há uma na cidade."
O termo "igreja" fazia lembrar um grande salão para casamento, mas os exemplos no Japão eram bem pobres. Primeiramente, a cultura japonesa tinha pouco a ver com o Cristianismo. Além disso, um país propenso a tantos terremotos carecia de construções históricas. As igrejas que Kamijou havia visto eram edifícios pré-fabricados com cruzes no topo.
"Ah, mas não pode ser qualquer igreja. Tem que ser a vertente britânica da qual eu pertenço."
"?"
"Hm, há vários tipos de Cristianismo." Disse Index com um sorriso. "Primeiro, há a distinção entre os Católicos antigos e os Protestantes. E embora eu esteja do lado dos Católicos, há várias versões deles, também. Por exemplo: a Igreja Católica Romana no Vaticano, a Igreja Ortodoxa Russa sediada na Russia, e a Igreja Anglicana com sua sede na Catedral de São Jorge, na Inglaterra."
"...O que acontece se você acidentalmente ir para a igreja errada?"
"Eles iriam me rejeitar." Disse Index ainda sorrindo. "A Igreja Ortodoxa Russa e a Igreja Anglicana existem principalmente dentro de seus próprios países. Igrejas Anglicanas são raras no Japão."
"..."
As coisas estavam sombrias.
Seria possível que Index havia tentado ir de igreja em igreja antes de desmaiar de fome? Como ela deve ter se sentido após ter sido rejeitada por cada igreja que visitou?
"Não se preocupe. Eu só preciso continuar até achar uma Igreja Britânica."
"..."
Por um instante, Kamijou pensou sobre o poder na sua mão direita.
"Ei! Se você estiver com problemas, pode aparecer por aqui se quiser."
Isso era tudo o que ele podia dizer.
Ele tinha o poder para matar até mesmo Deus e isso era tudo o que ele podia dizer.
"Claro. Eu virei se estiver com fome."
O sorriso dela era tão perfeito que Kamijou não podia dizer nada em resposta.
Em seguida, um robô de limpeza passou perto de Index.
"Hyah?!"
Aquele sorriso perfeito sumiu em um instante. Index pulou e tropeçou para trás. Com um som de baque, sua cabeça bateu na parede atrás dela.
"Uma coisa estranha apareceu de repente!"
Index estava com lágrimas nos olhos, mas esqueceu completamente de passar a mão na parte de trás de sua cabeça que foi atingida.
"Não é nada estranho. É apenas um robô de limpeza."
Kamijou suspirou.
Seu tamanho e forma eram similares aos de uma lata de lixo grande. Tinha pneus pequenos na parte inferior e um esfregão circular rotativo similar aos limpadores de rua. Também possuía câmeras para desviar de pessoas e outros obstáculos. Eles eram odiados por garotas que usavam minissaias.
"...Eu vejo. Eu ouvi falar que o Japão era uma nação líder em tecnologia, mas eu não sabia que vocês conseguiram criar Agathions mecanizados."
"Olá?" Kamijou pareceu estar um pouco assustado com a impressão errada que Index teve. "Essa é a Academy City. Essas coisas estão por toda a cidade."
"Academy City?"
"Sim. É uma cidade criada na região oeste de Tóquio, onde o desenvolvimento havia diminuído. Ela tem esse nome porque há centenas de escolas de ensino fundamental, médio e superior por aqui." Kamijou suspirou. "Oitenta por cento dos habitantes são estudantes, todos os edifícios de apartamentos que você vê são dormitórios estudantis."
Ele omitiu o fato de que poderes eram desenvolvidos juntamente com os estudos.
"É por isso que essa cidade é um pouco estranha. A cidade está cheia de experimentos de universidades, como a eliminação automática de resíduos de cozinha, as turbinas eólicas, e os robôs de limpeza como este. Graças a tudo isso, nosso nível de cultura tecnológica está 20 anos a frente de qualquer outro lugar."
"Hmm." Index cuidadosamente examinou o robô. "Então todas essas construções são parte da Academy City?"
"Sim. Eu acho que é melhor você sair da cidade se você está procurando por uma Igreja Anglicana. Todas as igrejas por aqui são provavelmente instituições de ensino de teologia ou psicologia analítica."
"Hm."
Index acenou e colocou a mão em sua cabeça.
"Ah! Meu capuz sumiu?!"
"Você finalmente notou? Ele caiu agora a pouco."
"Ahn?!"
Por "a pouco", Kamijou quis dizer quando ela estava se vestindo no cobertor, mas Index pareceu ter confundido com quando ela tropeçou para trás após ser surpreendida pelo robô de limpeza.
"Ah, eu sabia! Aquele Agathion elétrico!" Ainda enganada, ela correu atrás do robô de limpeza.
"...Ah, o que está acontecendo?"
Kamijou olhou para a porta de seu quarto onde o capuz de Index estava e então para o corredor. Index não podia mais ser vista. Não houve despedidas.
Com aquele olhar, eu tenho a sensação que ela sobreviverá mesmo se o mundo for destruído, ele pensou.
Ele não tinha provas disso, era apenas a sensação que ele tinha.
Parte 5
"Certo, eu fiz um folheto para vocês. Vocês devem segui-lo nas aulas suplementares."
Mesmo após ter passado muito tempo naquela classe, Kamijou ainda não acreditava.
A professora da Classe 7 do primeiro ano, Tsukuyomi Komoe, era uma professora ridícula que era tão baixinha que apenas a cabeça dela podia ser vista quando ela ficava atrás de sua mesa.
Aquela garotinha era um dos sete mistérios da escola: com 1,35m de altura, havia uma lenda dizendo que não foi permitida a entrada dela em uma montanha-russa por segurança.
"Eu não vou pedir para vocês pararem de conversar, mas eu preciso que vocês escutem o que eu digo. Eu me esforcei bastante fazendo um questionário, se vocês não se saírem bem, serão punidos com a lição de Adivinhação."
"Sensei, você não joga poker vendado nessa lição?! Isso é parte do Curriculum para Clarividência! Eu ouvi falar que você não pode ir embora até vencer 10 vezes seguidas, apesar de não conseguir ver suas próprias cartas. Nós não ficaríamos aqui até amanhã de manhã jogando?!" protestou Kamijou.
"Ah, mas Kamijou-chan, você não tem créditos de desenvolvimento o suficiente. Fará a lição de Adivinhação de qualquer jeito."
"Uh," Kamijou perdeu as palavras quando encarou o sorriso de vendedor da professora.
"...Hm. Entendo. A Komoe-chan acha você tão fofo que ela não consegue se conter, Kami-yan." disse o representante de classe Aogami Pierce, que estava sentado ao lado de Kamijou.
"...Você não sente a malícia vindo das costas daquela professora enquanto ela alegremente se estica toda para conseguir escrever na lousa?"
"O quê? Qual o problema em ser repreendido por uma professora tão fofa por falhar em um questionário? Ser fisicamente abusado por uma criancinha como essa te garante altos pontos de experiência, Kami-yan."
"Eu sabia que você era um lolicon, mas você é um masoquista também?! Você não tem salvação!!"
"Haha! Não é que eu goste de lolis! É que eu 'também' gosto de lolis!"
Kamijou quase gritou "Você é onívoro?!", mas foi interrompido.
"Vocês dois aí! Se disserem mais uma palavra, irão participar do Ovo de Colombo."
O Ovo de Colombo se tratava em manter um ovo de pé em uma mesa sem nenhum apoio. Os espers especializados em psicocinese conseguiam realizar a tarefa após se concentrarem ao ponto de suas veias do cérebro quase explodirem. Era um desafio extremamente difícil pois o ovo iria quebrar se a psicocinese fosse forte demais. Se você não pudesse completá-lo, iria ficar preso na escola até o sol nascer.
Kamijou e Aogami Pierce olharam para Tsukuromi Komoe sem respirar.
"Tudo bem?"
O sorriso dela era assustador.
Embora Komoe-sensei amasse ser chamada de "fofa", ela ficaria incrivelmente irritada se fosse chamada de "pequena".
Entretanto, ela não se importava em ser desprezada pelos outros estudantes. Isso era algo quase inevitável na Academy City. A cidade era uma verdadeira Terra do Nunca onde mais de 80% da população eram estudantes. A oposição aos professores era dura. E mais importante, a "força" de um estudante era baseada em suas habilidades acadêmicas e seu poder.
Os professores eram aqueles que "desenvolviam" os estudantes, mas os professores em si não possuíam poderes. Alguns, como os professores de Educação Física e orientadores pareciam ser de exércitos estrangeiros, pois conseguiam treinar monstros de Level 3 com seus próprios punhos. Mas seria cruel esperar isso de uma professora de Química igual a Komoe.
"...Ei, Kami-yan."
"O que foi?"
"Você ficaria excitado se fosse repreendido pela Komoe-sensei?"
"Eu não sou você! E cala essa boca, idiota! Se nós formos obrigados a fazer aquela parada do ovo sendo que nós não temos psicocinese, vamos ficar as férias de verão inteiras aqui! Então cala essa boca cheia de dialeto de Kansai falso!"
"Falso... N-N-Não é falso! Eu sou realmente de Osaka!"
"Fica quieto. Eu sei que você vem de uma região cultivadora de arroz. Eu estou de mau humor, não me irrite."
"E-Eu não sou não! A-Ahhh! Eu amo takoyaki."
"Pare de tentar fingir! Não me diga que você irá começar a trazer takoyaki para o lanche só por causa disso?"
"Do que você está falando? Nem todas as pessoas de Osaka comem apenas takoyaki, certo?"
"..."
"Certo? Acho que sim... não, espera... é, eu acho. O que foi, Kami-yan?"
"Sua máscara está caindo, sr. Kansai Falso." disse Kamijou antes de suspirar e olhar para fora da janela.
Ele sentiu que deveria estar ao lado de Index ao invés de estar nessa aula suplementar sem sentido algum.
A Walking Church que ela vestia reagiu à mão direita de Kamijou. Mas isso não significava que ele tinha que acreditar. Provavelmente a maioria das coisas que Index disse eram mentiras. E mesmo se não fossem, ela deve ter confundido algum fenômeno natural com o oculto.
Mesmo assim...
Eu acho que o peixe que foge sempre parece ser grande, ele ponderou.
Kamijou suspirou novemente. Se a alternativa era ficar preso em uma sala de aula sem ar-condicionado, entrar em um mundo de mágica, fantasia e espadas era melhor. E de brinde ainda haveria uma heroína bonitinha.
"..."
Kamijou lembrou do capuz que Index havia esquecido em seu quarto.
Ele não conseguiu devolvê-lo para ela. Mas ele não achava que era incapaz de devolvê-lo. Mesmo se Index tivesse desaparecido, ele provavelmente iria encontrá-la se ele seriamente procurasse por ela. E mesmo se ele não fizesse isso, ele ainda poderia sair pela cidade procurando por ela com o capuz na mão esquerda.
Quando ele pensou sobre isso, percebeu que ele queria algum tipo de conexão. Ele havia sentido que ela iria voltar para pegá-lo um dia.
Pois aquela garota branca havia mostrado a ele um sorriso tão perfeito...
Ele sentiu que ela iria desaparecer como uma ilusão se ele não deixasse alguma conexão com ela.
Ele estava com medo.
...Ah, então é isso, ele concluiu.
Após pensar bastante poeticamente, Kamijou finalmente percebeu algo. Ele não odiava a garota que caiu na sua varanda. Ele gostava dela o suficiente para que a ideia de nunca mais a vê-la o deixasse com uma pontada de arrependimento.
"...Ah, droga."
Ele estalou sua língua. Ele não queria deixá-la partir.
Pensando bem, o que eram esses 103,000 grimórios que ela mencionou?
Index havia dito que o grupo, uma associação mágica (algo como uma corporação), estava atrás dela porque queria esses 103,000 grimórios. E aparentemente, Index fugiu com esses 103,000 grimórios em sua posse.
Não era uma chave ou um mapa para onde estes livros estão armazenados.
Quando Kamijou perguntou onde estes livros estavam, ela simplesmente disse, "Bem aqui." Mas Kamijou percebeu que não havia nenhum livro com ela. Mesmo se houvesse, o quarto de Kamijou não era grande o suficiente para conter 100,000 livros.
"...O que está acontecendo?"
Kamijou inclinou a cabeça para o lado, confuso. A Walking Church de Index reagiu ao Imagine Breaker, portanto suas palavras não eram um completo delírio. Mas...
"Sensei? Kamijou-kun está olhando as saias esvoaçantes das garotas do time de tênis pela janela!"
O dialeto de Kansai forçado de Aogami Pierce revirou o foco de Kamijou para a sala de aula.
"..."
Komoe-sensei ficou em silêncio.
Ela deve estar em choque por "aquele" Kamijou Touma-kun não estar prestando atenção na lição. Ela parecia uma garota de 12 anos de idade que descobriu a verdade sobre o Papai Noel.
Logo que esse pensamento chegou a sua mente, Kamijou Touma foi o alvo de olhares hostis de seus colegas de classe que desejavam proteger os direitos humanos daquela criança.
Embora sejam aulas suplementares, eles ficaram presos lá até o horário em que todos os estudantes deveriam sair da escola.
"...Que azar." Kamijou resmungou olhando as turbinas eólicas que brilhavam ao pôr do sol.
Qualquer tipo de vida noturna era proibida, então o último ônibus e trem na Academy City partiam logo após os estudantes saírem das escolas.
Kamijou perdeu o último ônibus. Ele estava caminhando no distrito comercial que não parecia terminar nunca. Um robô de segurança passou por ele enquanto isso. Também era uma lata grande com rodas e funcionava como uma câmera de segurança ambulante. Eles originalmente eram versões melhoradas de cães robóticos, mas crianças iriam começar a persegui-los se continuassem naquela forma. Por essa simples razão, os robôs da cidade tinham o formato de tambor.
"Ah, aí você está, seu imbecil! Espera... espera! Você! Eu estou falando com você! Pare!!"
Kamijou estava olhando para o robô de segurança. Ele estava se lembrando de como Index correu atrás do robô de limpeza, e finalmente percebeu que uma voz estava chamando por ele.
Ele se virou para ver o que estava acontecendo.
Ela era uma garota que estava na escola secundária, com cabelos castanhos à altura dos ombros que brilhavam como uma chama vermelha ao pôr do sol, mas sua face estava ainda mais vermelha. Ela vestia uma saia cinza plissada, uma blusa de manga curta e um suéter de verão. De repente, ele percebeu quem ela era.
"Ah, é você de novo, Biri Biri."
"Não me chame de Biri Biri! Eu tenho um nome! É Misaka Mikoto! Por que você não aprende ele?! Você me chama de Biri Biri desde que nós nos vimos pela primeira vez!"
Desde que nós nos vimos pela primeira vez...? Kamijou tentou relembrar. Ah, sim!
Quando eles se encontraram pela primeira vez, ela estava cercada por delinquentes como no outro dia. Ele tinha pensado que eles estavam atrás da carteira dela e firmemente bancou o Urashima Tarou.
Mas, por algum motivo, a garota foi quem ficou irritada, dizendo, "Cala a boca! Não se intrometa na luta dos outros! Biri Biri!" Kamijou bloqueou as faíscas dela com sua mão direita e ela respondeu com, "Hã? Por que não funcionou? E que tal isso? Hã?" Uma coisa levou a outra, e assim a relação atual deles se concretizou.
"...Hã? O quê? Eu não estou triste, então por que estou chorando, mãe?"
"Por que você está com um olhar tão distante?"
Kamijou estava exausto das aulas suplementares e decidiu não pensar muito em como lidar com a Biri Biri.
"A garota perplexa olhando para Kamijou é a garota Railgun de ontem. Ela está tão frustrada por perder uma luta que voltou até Kamijou para pedir revanche."
"Para quem você está explicando isso?"
"Ela tem muita determinação e odeia perder, mas na verdade é uma pessoa solitária e está encarregada de cuidar do animal de estimação da classe."
"Não adicione coisas estranhas ao cenário!!"
A garota, Misaka Mikoto, agitou seus braços e toda a atenção foi chamada para ela. Não era tão surpreendente, o uniforme de verão que ela vestia era o uniforme da Escola Secundária Towiwadai, uma das 5 escolas mais prestigiadas na Academy City. Por algum motivo, as garotas explosivas e refinadas da Tokiwadai pareciam se destacar mesmo em uma estação de trem na hora do rush.
"O que você quer, Biri Biri? E por que você está usando seu uniforme durante as férias de verão? Você precisa de aulas suplementares?"
"Ah... Cala a boca."
"Você ficou preocupada com o coelho de estimação da classe?"
"Eu já te disse para parar com isso! Hoje eu vou fazer você se contorcer como pernas de sapo com eletrodos ligados! Prepare-se!"
"Eu acho que não."
"Por que não?!"
"Porque eu não sou responsável pelo animal de estimação da minha classe."
"Você... Chega de zombar de mim!"
A garota pisou forte no chão.
Nesse exato momento, um ruído violento veio dos celulares das pessoas passando por ali. A transmissão a cabo do distrito comercial foi cortada e um barulho horrível saiu do robô de segurança.
O som crepitante de eletricidade estática saiu do cabelo da garota. Aquela Level 5, que disparava Railguns com seu poder, sorriu como uma besta.
"Hmph. Que tal isso? Será que mudou essa sua mente covarde? ...Mgh!"
Para tentar cobrir sua boca, a mão de Kamijou Touma cobriu totalmente o rosto dela. "C-Cala a boca." ele sussurou. "Por favor, fica quieta! Os celulares de todas as pessoas aqui foram fritos e elas não parecem felizes! Se descobrirem que a gente fez isso, eles irão nos fazer pagar, e eu não tenho ideia de quanto isso vai custar!"
Devido ao seu encontro recente com a freira de cabelo prateado, Kamijou rezou com todas suas forças para o Deus cujo Kamijou só pensava sobre no Natal.
Suas preces devem ter sido ouvidas, pois ninguém se aproximou de Kamijou e Mikoto.
Graças a Deus, ele disse, diminuindo sua apreensão.
Kamijou soltou um suspiro de alívio... enquanto continuava a sufocar Mikoto.
"Mensagem. Erro Nº 100231-YF. Ondas eletromagnéticas ofensivas detectadas. Defeito no sistema detectado. Por se tratar de um possível terrorismo cibernético, evite usar aparelhos eletrônicos."
Imagine Breaker e Railgun hesitantemente se viraram.
Um segundo depois, o robô de segurança disparou um alarme altíssimo.
Naturalmente, eles fugiram.
Ambos entraram em um beco, chutaram um balde de plástico sujo, e assustaram um gato negro enquanto continuavam a correr.
Pensando bem, eu não fiz nada de errado, ele pensou. Por que eu estou correndo com ela?
Mesmo pensando assim, ele continuou correndo. Apesar de tudo, ele ouviu falar que esses robôs de segurança custam 1.2 milhões de ienes cada (aprox. R$30,000).
"Uhhh, que azar. Por que eu sempre sou pego em coisas relacionadas a ela?"
"O que você quer dizer com isso?! E o meu nome é Misaka Mikoto!"
Eles finalmente pararam de correr em um beco longe do local do evento anterior. Um dos prédios alinhados deve ter sido demolido pois havia uma área retangular aberta ali. Parecia um bom lugar para jogar basquete.
"Cale-se, Biri Biri! Você destruiu todos os meus eletrônicos com aquele ataque ontem! O que você quer após isso ter acontecido?!"
"Foi sua culpa por ter me irritado!"
"Eu não entendo por que você ficou tão brava! Eu não encostei um dedo em você!"
Após isso, Mikoto atacou Kamijou com seu arsenal completo, mas Kamijou negou tudo com sua mão direita. Desta vez, os ataques dela não terminaram com uma Railgun. Suas investidas variaram, reunindo areia de ferro para criar uma espada de ferro parecida com um chicote, enviando ondas eletromagnéticas poderosas para danificar orgãos internos ou até mesmo atrair um relâmpago do céu para atacar.
Mas nada disso foi páreo para Kamijou Touma.
Desde que houvesse uma origem sobrenatural, Kamijou Touma poderia negar.
"Você continua atacando e se cansando! Não use seus poderes tanto para depois me culpar por você não ter energia o suficiente para continuar, Biri Biri!"
"...!" Mikoto começou a ranger seus dentes. "Isso não contou. Não contou! Você não me atacou, então é um empate!!"
...
"...Tá. Você venceu. Te socar não vai consertar meu ar-condicionado."
"Ahh...! Espera! Leve isso a sério!!" Mikoto gritou enquanto agitava seu braço.
Kamijou suspirou.
"Você quer mesmo que eu leve isso a sério?"
"Ah..." Mikoto congelou.
Kamijou abriu e fechou seu punho. Misaka Mikoto começou a soar frio com essa simples ação. Ela congelou, não conseguiu nem mesmo dar um passo para trás.
Mikoto não sabia o que o poder de Kamijou era. Então, para ela, Kamijou era um terror desconhecido que selava todas as cartas da sua manga sem nem mesmo ofegar.
Não era surpreendente. Kamijou Touma resistiu os ataques de Misaka Mikoto por duas horas seguidas sem sofrer um arranhão. Era natural para ela se perguntar se ele estava levando a sério.
Kamijou suspirou e desviou seu olhar.
Mikoto finalmente deu alguns passos para trás.
"...O que seria isso se não azar?" Kamijou ficou chocado ao ver o quão assustada ela estava. "Primeiro os eletrônicos do meu quarto foram dizimados, depois uma garota afirmando ser uma maga apareceu, e agora essa esper Biri Biri."
"Maga...? O quê?"
"..." Kamijou pensou por um momento. "É... É isso o que eu queria saber."
Normalmente, Mikoto gritaria, "Você tá brincando comigo?! Seu cérebro é tão estranho quanto esse poder?!" e então iria "Biri Birizar". Mas naquele dia, ela só poderia pular de susto.
O que era toda essa coisa de magia? Kamijou se perguntou.
Kamijou se lembrou do que aconteceu naquela manhã. A freira branca realmente usou aquela palavra, mas agora que ele pensou novamente, aquele termo era realmente removido da realidade.
Eu me pergunto por que eu não senti isso quando Index estava por perto, ele considerou.
Havia algo misterioso que fez magia se tornar algo mais acreditável?
"...O que eu estou pensando?" murmurou Kamijou enquanto ignorava completamente Misaka Mikoto que estava tremendo como um cachorrinho.
Ele cortou seus laços com Index e o mundo em que ela vivia. O mundo era bem grande e era improvável encontrá-la em uma coincidência. Pensar sobre magos não tinha sentido.
Apesar disso, ele não conseguia tirar aquilo da sua mente.
Ele ainda tinha o capuz que ela havia esquecido de manhã.
Essa conexão continuava irritando seu cérebro
Nem mesmo Kamijou sabia por que ele estava pensando nisso.
Afinal, ele possuía o poder para matar até mesmo Deus.
Parte 6
Não dava para comprar um gyuudon grande com apenas 320 ienes, na Academy City.
"... ... ...Tamanho regular, hm?"
As garotas que alegremente comiam um bento do tamanho de uma light novel não iriam entender, mas um garoto cansado e em fase de crescimento considerava o tamanho regular apenas um lanchinho.
Após se despedir da garota Biri Biri, Kamijou foi a um restaurante de gyuudon para comer seu "lanchinho". Com apenas 30 ienes sobrando, ele chegou ao seu dormitório após o pôr do sol.
O lugar parecia deserto.
Era o primeiro dia das férias de verão e a maioria das pessoas saíram para se divertir. A construção parecia um típico edifício de apartamentos. Fileiras de portas se estendiam ao longo dos corredores. Por ser um dormitório masculino, não havia nenhuma proteção no corrimão para proteger as garotas de eventuais espiadelas por baixo de suas saias.
As portas dianteiras e as sacadas ao fundo eram construídas nas partes laterais da construção.
A entrada para o prédio possuía auto-travamento, mas a distância entre este e os prédios vizinhos era de apenas dois metros. Qualquer um poderia invadir o dormitório pulando de um prédio para outro, como Index havia feito naquela manhã.
Kamijou entrou, passou pela despensa (também conhecida como "quarto do administrador do dormitório") e pegou o elevador. O elevador era desagradável, sujo e estreito. Parecia um daqueles pequenos elevadores de carga utilizados nas construções. O botão com a letra "R", indicando acesso ao terraço estava bloqueado com uma pequena placa de metal para que os Romeus e Julietas não passassem a noite lá.
Com o soar de um "ding", o elevador parou no sétimo andar.
Kamijou forçou a porta que lentamente abria com um som metálico e entrou no corredor. Ele estava no sétimo andar, mas não havia vento. Por isso, o clima parecia mais quente e abafado do que de costume.
"Hm?"
Kamijou finalmente percebeu algo. Na frente da porta de seu quarto, estavam três robôs de limpeza. Era algo raro ver três deles juntos. Ele tinha certeza de que apenas cinco estavam designados para aquele dormitório.
Pela maneira que estavam se movendo para frente e para trás, eles pareciam estar limpando uma tremenda sujeira. Por alguma razão desconhecida, Kamijou sentiu o cheiro do azar retornar.
Os robôs conseguiam arrancar até mesmo chiclete grudado no chão. Era difícil imaginar algum tipo de sujeira que daria problemas a três deles.
Kamijou estremeceu ao pensar que talvez seu vizinho Tsuchimikado Motoharu tenha se embebedado tentando agir como um delinquente para perder sua virgindade e acabou vomitando em absurdas quantidades, utilizando a porta de Kamijou como poste telefônico.
"O que aconteceu...?"
As pessoas possuem uma tendência desgraçada de querer ver coisas horríveis.
Após dar alguns passos para frente, ele finalmente viu.
A garota misteriosa chamada Index havia desmaiado de fome.
"... ... ...Ah!"
Ela não estava inteiramente visível por causa dos robôs, mas alguém vestindo um hábito de freira coberto por alfinetes estava desmaiada.
Embora os três robôs constantemente batiam nela, Index não estava se movendo. Parecia que ela estava sendo bicada por corvos.
Os robôs foram feitos para desviar das pessoas e outros obstáculos. Por que as máquinas falharam em confirmá-la como "humana"?
"...Que azar."
Se Kamijou Touma tivesse visto seu rosto no espelho, ele se surpreenderia ao ver um sorriso. No fundo, ele estava preocupado. Ele não acreditava nos magos, mas era possível que alguma seita estivesse perseguindo a garota.
Ele estava feliz por vê-la em seu estado habitual: faminta.
Na verdade, ele estava feliz por simplesmente vê-la novamente.
Kamijou então se lembrou do que ela havia esquecido: o capuz branco que estava em seu quarto. Ele achou estranho, mas Kamijou via aquele capuz como um amuleto.
"Ei! O que você está fazendo aqui?"
Ele a chamou e foi até ela.
Por que a simples ação de ir até ela me faz sentir como um estudante do ensino fundamental que não consegue dormir a noite anterior a uma viagem escolar? Por que a cada passo que dou eu me sinto como se estivesse indo a uma loja para comprar o lançamento de um RPG aguardado? Era o que ele pensava naquele momento.
Index ainda não o notou.
Kamijou Touma forçou um sorriso ao ver como Index se adequava naquela situação.
E então, ele notou que Index estava caída em uma poça de sangue.
"...Ah...?"
A primeira coisa que ele sentiu foi confusão, não surpresa.
Ele não conseguiu ver isso antes porque os robôs estavam na frente. Index tinha um corte horizontal na parte inferior das suas costas. A ferida foi causada por uma espada, mas era muito reta. Parecia que alguém havia usado uma régua e um estilete para feri-la. A ponta de seu cabelo prateado, que caía à altura da cintura, foi cortada e estava no chão, encharcado com o líquido vermelho.
Por um instante, Kamijou não havia compreendido que aquilo era sangue humano.
A diferença na realidade entre o momento anterior e o momento após deixou a mente de Kamijou um completo caos. Ketchup...? Será que Index estava com tanta fome que tomou ketchup antes de desmaiar? Com essa imagem agradável e errada da situação, Kamijou quase sorriu.
Ele quase sorriu, mas não o fez.
Não haveria como ele fazer isso.
Os três robôs de limpeza continuavam a se movimentar, criando um ruído metálico. Eles estavam limpando a mancha no chão. Eles estavam limpando a substância vermelha espalhada no chão. Eles estavam limpando a substância vermelha que emanava do corpo de Index. Eles estavam sugando o sangue de Index.
"Parem... Parem! Merda!!"
Enfim, os olhos de Kamijou voltaram à realidade. Ele tentou retirar dali os robôs que estavam próximos a Index. Ele falhou, pois os robôs eram pesados justamente para previnir roubos. Além disso, os robôs de limpeza possuíam uma força considerável.
Na realidade, os robôs de limpeza estavam apenas limpando o sangue no chão. Não haviam tocado na ferida de Index. Mesmo assim, Kamijou os viu como insetos em volta de uma ferida podre.
Ele tinha dificuldades em tentar movimentar um desses robôs pesados, imagine três. Enquanto ele tentava afastar um, os outros dois continuavam limpando o sangue.
Ele tinha o poder para matar até mesmo Deus.
Mas era incapaz de tirar esses brinquedos do caminho.
Index estava em silêncio.
Seus lábios pálidos estavam imóveis, ele não tinha certeza se ela estava respirando.
"Merda! Merda!!" Kamijou gritou, confuso. "O que aconteceu? Que porra aconteceu?! Droga! Quem foi o desgraçado que te fez isso?!"
"Hm? Nós, os magos."
Uma voz surgiu. Ela não pertencia a Index.
Kamijou virou-se freneticamente. Um homem estava parado ali. Ele pareceu ter chegado lá pelas escadas de emergência, próximas ao elevador.
Ele era branco, tinha dois metros de altura, mas sua face dava a impressão de que ele era mais jovem que Kamijou.
Ele tinha... 14 ou 15 anos de idade. Parecia ser estrangeiro, suas roupas... eram iguais aos hábitos dos padres. Mas julgando pela sua aparência, ele não tinha nada a ver com um padre.
Kamijou sentia o odor horrível de seu perfume doce mesmo estando a 15 metros de distância dele. Seu cabelo loiro na altura do ombro era tingido de vermelho, anéis prateados brilhavam em todos os seus dedos, brincos estavam pendurados em suas orelhas, a ponta de seu celular podia ser vista em seu bolso, um cigarro aceso movia-se em sua boca, e, para completar, ele tinha uma tatuagem de código de barras embaixo de seu olho direito.
No corredor, a atmosfera em torno daquele homem era estranha.
Era como se a área estivesse sendo controlada por forças diferentes das que Kamijou estava acostumado. Esse estranho sentimento se espalhou pela área como tentáculos gelados.
O que Kamijou sentia não era medo ou raiva...
...Mas sim confusão e mal-estar. Era uma solidão desesperadora, semelhante a ter sua carteira roubada em um país estrangeiro. Esses tentáculos gelados entraram em seu corpo e congelaram seu coração. Foi quando Kamijou percebeu algo.
Um mago.
Este é um mundo diferente, onde coisas estranhas como magos existem.
Ele podia dizer isso à primeira vista.
Ele ainda não acreditava em magos...
Mas, ele podia dizer que esse sujeito era residente de um lugar que estava além do mundo em que ele vivia.
"Hm? Hm... hm... hm. Ela pegou ela de jeito." O mago olhou em volta e balançou o cigarro no canto de sua boca enquanto falava. "Eu sabia que Kanzaki havia cortado ela, mas isto é... Eu achei que não havia nada para me preocupar pois não havia nenhum rastro de sangue..."
O mago observou os robôs de limpeza que estavam atrás de Kamijou Touma.
Provavelmente, Index foi "cortada" em outro lugar e conseguiu chegar lá com vida antes de desmaiar. Ela certamente havia deixado um rastro de sangue, mas os robôs de limpeza apagaram qualquer marca.
"Mas... por quê?"
"Hã? Você quer dizer por que ela voltou para cá? Quem sabe? Talvez ela tenha esquecido algo. Pensando bem, ela estava com seu capuz quando eu atirei nela ontem. Será que ela perdeu em algum lugar por aqui?"
O mago usou a palavra "voltou".
Em outras palavras, ele estava seguindo as ações de Index o dia inteiro. E ele sabia que ela havia perdido o capuz de sua Walking Church.
Index havia falado algo sobre os magos estarem rastreando o poder mágico na sua Walking Church.
Isso significa que os magos estavam seguindo Index detectando o poder sobrenatural na sua Walking Church. Eles saberiam que a Walking Church foi destruída quando o "sinal" cortasse. Index havia mencionado isso também.
Index sabia que ficaria vulnerável.
Ela sabia, mas pareceu ter contado com os poderes defensivos da Walking Church.
Mas por que ela voltou? Por que ela precisiva recuperar uma parte da Walking Church que foi destruída e era inútil? A mão direita de Kamijou havia inutilizado inteiramente a Walking Church, não havia sentido em recuperar o capuz.
"...Então, você vai me seguir até as profundezas do inferno?"
De repente, ele entendeu.
Ele nunca tocou no capuz da Walking Church que estava em seu quarto. Em outras palavras, o capuz ainda possuía poder mágico. Ela deve ter pensado que os magos poderiam rastreá-lo até o quarto de Kamijou.
E então, Index encarou o perigo e decidiu "voltar".
"...Sua idiota."
Não havia necessidade de fazer isso. Foi a falta de jeito de Kamijou que havia destruído sua Walking Church, foi ele que percebeu que ela havia esquecido seu capuz no seu quarto e deixou por assim mesmo. E mais importante, Index não tinha o dever, obrigação, ou direito de proteger Kamijou.
Mesmo assim, ela voltou.
Kamijou Touma era um completo estranho que ela conheceu a muito pouco tempo.
Mesmo assim, ela arriscou sua vida para impedir que ele se envolvesse em uma luta entre magos.
"Sua idiota!!"
O estado imóvel de Index o irritou por alguma razão.
Antes, Index havia dito que a causa do azar de Kamijou era sua mão direita.
Aparentemente, sua mão direita estava subconscientemente negando os poderes sobrenaturais como a proteção divina de Deus e a linha vermelha do destino.
Se Kamijou não houvesse tocado e destruído sua Walking Church, não haveria motivo para ela retornar.
Não. Essas desculpas não importam, ele considerou.
Sua mão direita e a destruição da Walking Church não eram a razão para ela sentir que deveria voltar.
Se Kamijou não tivesse desejado por uma conexão... Se ele tivesse devolvido o capuz dela naquela hora.
"Hm? Hm... hm... hm? Vamos, não me olhe assim." O cigarro no canto da boca do mago se movia enquanto ele falava. "Não fui eu que fiz isso e eu duvido que Kanzaki tenha feito isso de propósito. A Walking Church deveria ser uma defesa absoluta, ela não deveria ter sido ferida. Honestamente, o que aconteceu para aquilo ter sido destruído? A menos que o Dragão de São Jorge tenha atacado, eu não vejo como uma barreira de um nível tão alto poderia ser quebrada."
Ele falou para si mesmo esta última parte e seu sorriso desapareceu quando ele o fez.
Porém, durou apenas um instante. O cigarro no canto de sua boca se contorceu novamente, como se repentinamente ele tivesse se lembrado de como sorrir.
"Por quê?" Kamijou perguntou mesmo não esperando uma resposta. "Por quê? Eu não acredito em magia de contos de fadas e eu não entendo os magos ou seja lá o que vocês são. Mas não há vilões e mocinhos entre vocês? Não há magos que protegem as pessoas?"
Ele sabia muito bem que não tinha o direito de ser moralista.
Quando Index foi embora, Kamijou Touma a deixou ir e voltou para sua vida normal.
Mas ele não conseguiu suprimir estas palavras na sua garganta.
"Você encurralou essa garota, a perseguiu por todos os lugares, e depois a machucou desse jeito. Você consegue mesmo dizer que você é justo com essa realidade na sua frente?!"
"Como eu disse antes, Kanzaki fez isso, não eu." O mago pausou por um segundo. As palavras de Kamijou não o atingiram em nada. "E não importa se ela está ferida ou não, nós temos que recuperá-la."
"Recuperá-la?"
Kamijou não entendeu o que o mago quis dizer.
"Hm? Ah, entendo. Você conhecia a palavra 'mago', então pensei que você entendia a situação. Acho que ela estava com medo de te envolver nisso." O mago exalou fumaça de cigarro. "Sim, nós precisamos recuperá-la. Tecnicamente, não é ela que nós precisamos recuperar, e sim os 103,000 grimórios que ela possui."
...Esses 103,000 grimórios de novo.
"Sim, sim. Esse país não é muito religioso, então acho que você não entende," disse o mago em um tom entediado apesar de estar sorrindo. "A Index Librorum Prohibitorum é uma lista criada pela igreja de todos os livros malígnos que sujam sua alma apenas por lê-los. Mesmo se você anunciasse a existência desses livros perigosos, as pessoas, sem saberem, ainda poderiam comprá-los se não souberem os títulos dos livros. Portanto, ela se tornou algo como a prova severa de 103,000 livros deste tipo. Mas cuidado, ler um dos livros que ela possui tornaria alguém de uma nação irreligiosa como esta em um vegetal."
Desconsiderando as palavras dele, Index não possuía um único livro. As linhas do corpo dela eram bem visíveis naquele hábito e seria óbvio se ela estivesse escondendo algum livro dentro de suas roupas. Não é nem mesmo necessário mencionar que seria impossível para uma pessoa carregar 100,000 livros por aí.
"N-Não seja ridículo! Onde exatamente estão esses livros?!"
"Ah, eles estão bem ali, na memória dela," o mago complementou como se fosse algo óbvio. "Você sabe o que é memória fotográfica perfeita? É a habilidade de memorizar tudo o que você vê em um instante e nunca esquecer um detalhe, frase ou letra. É como ser um escaneador humano." O mago sorriu, desinteressado. "Não está relacionado com o nosso oculto ou sua ficção científica. É uma condição natural. Ela esteve no Museu Britânico, no Museu do Louvre, na biblioteca do Vaticano, nas ruinas de Pataliputra, no Castelo de Compiègne, no Monastério do Monte Saint-Michel, e em qualquer outro lugar que continha grimórios que não poderiam ser retirados de onde estavam selados. Ela os roubou com seus olhos."
Ele não conseguia.
Ele não conseguia acreditar na existência desse grimórios ou que ela tem uma memória perfeita.
Entretanto, o que importava não era se isso era verdade ou mentira, mas o fato de que alguém acreditava que isso era verdade, resultando em um ferimento de corte nas costas de uma garota.
"Bem, ela não tem capacidade para refinar poder mágico, portanto, ela é inofensiva." O cigarro no canto da boca do mago se moveu. "Mas eu acho que a igreja deve ter suas preocupações. Bom, isso não tem nada a ver com um reles mago como eu. De qualquer maneira, esses 103,000 grimórios são bem poderosos, então eu estou aqui para proteger ela antes que alguém que possa usá-los a leve."
"Proteger... ela?"
Kamijou estava perplexo. O que aquele homem acabou de dizer diante de uma cena tão sangrenta?
"Exatamente. Proteger ela. Não importa o quão sensível ou gentil ela seja, ela é suscetível à drogas e tortura. Apenas pensar em entregar uma garota para pessoas que fariam tudo para ler um grimório faz doer o meu coração, sabe?"
"..."
O corpo de Kamijou tremeu.
Não era puramente raiva, o braço de Kamijou arrepiou completamente. O homem em sua frente via-se como o único que tem a razão. Ele vivia ignorando seus próprios erros. O corpo de Kamijou encheu-se de calafrios, como se estivesse sendo mergulhado em uma banheira cheia de lesmas.
O termo "seita religiosa" surgiu.
A ideia de magos caçando pessoas baseando-se em crenças infundadas o deixou irado.
"Quem você pensa que é?!"
Ele sentiu sua mão direita esquentar, como se estivesse respondendo à sua raiva.
Seus dois pés que estavam plantados no chão começaram a se movimentar antes mesmo de seu cérebro pensar em fazer isso. Seu corpo espesso, de carne e sangue, foi em direção ao mago como uma bala. Ele cerrou seu punho direito com tanta força que parecia que seus dedos seriam esmagados.
Sua mão direita não ajudaria contra um delinquente, não ajudaria a aumentar suas notas nas provas, e não ajudaria a torná-lo popular com as garotas.
Mas ela poderia ser bem útil hoje. Afinal, ele poderia usá-la para espancar o imbecil na frente dele.
"Meu nome é Stiyl Magnus, mas acho que neste momento devo me apresentar como Fortis931."
O mago estava completamente imóvel, exceto pelo cigarro que se movimentava no canto de sua boca.
Após murmurar algo, ele falou para Kamijou como se estivesse apresentando o gato negro de estimação de que ele tinha tanto orgulho.
"Esse é o meu nome mágico. Não conhece? Parece que nós magos não podemos usar nossos nomes reais. É uma tradição bem antiga, então eu não sei o porquê disto."
Havia uma distância de 15 metros entre eles.
Em três passos, Kamijou bateu metade desta distância.
"Fortis... Eu acho que significa 'o forte' em japonês. Bem, isso não importa. Para nós magos, não é apenas um aviso que iremos usar magia, mas sim..."
Apesar de Kamijou ter avançado mais dois passos em sua direção, o sorriso do mago não se desfez. Era como se ele estivesse certo de que Kamijou não era um oponente à altura.
"...um aviso de que sangue será derramado, eu acho."
O mago chamado Stiyl Magnus jogou o cigarro de sua boca para o lado.
O cigarro aceso voou horizontalmente, sobre o corrimão de metal, e acertou na parede do prédio vizinho.
Uma linha laranja seguiu o caminho percorrido pelo cigarro e faíscas surgiram quando a mesma atingiu a parede.
"Kenaz (Chamas)."
No momento em que Stiyl sussurou, a linha laranja explodiu.
Uma espada de chamas surgiu em uma linha reta, como se alguém tivesse colocado fogo em uma mangueira de incêndio cheia de gasolina. A tinta da parede mudou de cor como uma pintura sendo chamuscada por um isqueiro.
Kamijou sentiu que seus olhos estavam sendo queimados apenas por ver tudo isso. Ele instintivamente parou e elevou suas mãos para cobrir sua face.
Parecia que seus pés haviam sido cravados no chão. Uma questão entrou em sua mente.
O Imagine Breaker poderia negar qualquer tipo de poder sobrenatural em um segundo. Nem mesmo a Railgun da Biri Biri Level 5, que poderia destruir um abrigo nuclear facilmente, era uma exceção.
Mas...
Kamijou ainda não havia visto poderes sobrenaturais cuja natureza não era psíquica.
Ou seja, ele ainda não havia testado.
Ele ainda não havia testado seu poder em magia.
Sua mão direita iria funcionar contra um poder desconhecido?
"Purisaz Naupiz Gebo (Um presente de dor para o gigante)."
Apesar de suas mãos estarem cobrindo seu rosto, Kamijou conseguia ver o mago sorrindo.
Sorridente, Stiyl Magnus movimentou a espada de fogo horizontalmente em direção a Kamijou Touma.
No momento em que o tocou, ela perdeu sua forma e o fogo explodiu em todas as direções como um vulcão em erupção.
As ondas de calor, as luzes, o ruído explosivo e a fumaça negra irromperam em todas as direções.
"Talvez eu tenha exagerado."
Stiyl coçou sua cabeça. Parecia que aquele local havia sido bombardeado. Só para ter certeza, ele olhou em volta para ver se alguém estava saindo para ver o que estava acontecendo. Era o primeiro dia das férias de verão, então a maioria dos residentes do dormitório daquele garoto saíram. Mas seria ruim se algum inútil sem amigos estivesse dentro de um dos quartos.
Havia muito fogo e fumaça na sua frente, ele não conseguia ver nada.
Mas ele não precisava verificar o estado de Kamijou. Aquele golpe criou chamas infernais de 3000 graus Celsius. Em temperaturas acima de 2000 graus, o corpo humano iria derretar antes mesmo de queimar. Isso significa que o corpo do garoto derreteu como uma escultura de açucar. Era provável que ele estivesse espalhado na parede do dormitório como um chiclete mastigado.
Stiyl suspirou refletindo na precisão de seus atos para irritar o garoto e fazer com que ele se afastasse de Index. As coisas complicariam se ele usasse Index como escudo ou se ela fosse atingida pela explosão.
Mas ele não podia recuperar Index agora.
Stiyl suspirou novamente. A parede de chamas o bloqueava, impedindo-o ir até onde Index estava. Se houvesse uma escada de emergência no outro lado do corredor, ele conseguiria. Mas haveria o risco de Index ser pega pelas chamas se ele fizesse isso.
Stiyl, aborrecido, balançou sua cabeça e falou olhando para a fumaça como se ele pudesse ver através dela.
"Obrigado. Excelente trabalho. Mas no seu nível, você não conseguiria vencer nem se lutasse comigo mil vezes."
"Você tem certeza de que eu não posso vencer não importa o quanto eu tente?"
Por um instante, o mago congelou ao ouvir a voz que vinha das chamas infernais.
Com um rugido, a parede de fogo e fumaça girou em torno de si e se desintegrou.
Era como se um tornado aparecesse no centro das chamas.
Kamijou Touma estava ali.
O corrimão de metal havia derretido, a tinta do chão e das paredes havia descascado, as lâmpadas fluorescentes haviam derretido e estavam escorrendo, mas aquele garoto estava completamente ileso no meio destas chamas sobrenaturais e calor desesperador.
"Honestamente, por que eu estava com medo?" perguntou Kamijou com desinteresse. "Esta é a mesma mão direita que destruiu a Walking Church da Index."
Na realidade, Kamijou não sabia nada sobre magia.
Ele não sabia como funcionava e provavelmente entenderia a metade se explicassem para ele desde o começo.
Mas havia uma coisa que até um idiota como ele entenderia: aquilo era apenas um poder sobrenatural.
As chamas escarlates não foram completamente extintas.
"Fora do meu caminho."
Com esta frase, Kamijou tocou as chamas mágicas de 3000 graus com sua mão direita e o resto do fogo desapareceu.
Era como se as velas de um bolo de aniversário fossem assopradas.
Kamijou Touma observou o mago parado na sua frente.
O mago estava perturbado com esta série de eventos inesperados, como um ser humano normal.
De fato, ele era um ser humano normal.
Se você atingisse um soco, ele sentiria dor, e se você o cortasse com uma faca qualquer, ele iria sangrar.
Ele era um mero ser humano.
As pernas de Kamijou não tremiam mais de medo.
Seus braços e pernas começaram a se mover normalmente.
Ele se movimentou!
"O quê?"
Enquanto isso, Stiyl deu um passo para trás, chocado com o fenômeno incompreensível diante dele.
O ataque o atingiu, o dano nas redondezas confirma isso. Isso significa que aquele garoto era poderoso o suficiente para aguentar um golpe certeiro de 3000 graus Celsius? Impossível. Se esse fosse o caso, ele não seria humano.
Kamijou não prestou atenção na confusão de Stiyl.
Ele cerrou seu punho direito e avançou em direção ao mago.
"Tch!!"
Stiyl movimentou sua mão horizontalmente. Uma espada de fogo surgiu e atingiu Kamijou.
Chamas e fumaça voaram.
Mas após ambos cederem, Kamijou Touma continuava lá, parado.
"...Será que ele... está usando magia?" Stiyl murmurou, mas imediatamente rejeitou essa ideia.
Não haveria nenhuma chance de ter algum mago naquele país que considerava o Natal um dia para marcar encontros e fazer sexo.
Além disso, se Index, que não possui poderes mágicos, unisse suas forças com um mago, ela não teria motivos para fugir. As memórias de Index eram perigosas assim.
Ter sob controle os 103,000 grimórios é mais perigoso do que possuir uma bomba nuclear.
Todos os seres vivos eventualmente morrem, uma maçã que está em cima sempre cairá para baixo, e um mais um é dois. Estes grimórios poderiam facilmente modificar a natureza e as regras imutáveis do mundo, destruí-las, reescrevê-las, e criar novas. Você poderia fazer com que um mais um seja três, fazer uma maçã cair para cima, e fazer todas as criaturas mortas eventualmente ressuscitarem. Um mago capaz de fazer tudo isso é classificado como Deus Mágico.
Um mago que dominou a magia completamente, rivalizando Deus.
Deus Mágico.
Mas Stiyl não sentia nenhum poder mágico no garoto.
Ele poderia dizer se alguém é um mago ou não com apenas um olhar. O garoto não tinha o 'cheiro' de alguém que pertencia ao mesmo mundo que ele.
Então, por quê?
"!!"
Para camuflar a tremência de seu corpo, Stiyl criou outra espada de fogo e atacou Kamijou. Desta vez, ela nem mesmo explodiu.
A espada quebrou como vidro e as chamas desapareceram no ar.
Ele destruiu uma espada de fogo de 3000 graus com uma mão direita que não possui poderes mágicos de qualquer natureza.
"...Ah."
De repente, algo surgiu na mente de Stiyl Magnus.
A Walking Church de Index era de altíssimo nível, seu poder mágico defensivo equiparava-se à Catedral de Londres inteira. Era absolutamente impossível destruí-la, a menos que o lendário dragão de São Jorge aparecesse novamente.
Mas a Walking Church de Index foi claramente destruída. Kanzaki nunca teria conseguido feri-la se ela estivesse intacta.
Quem fez isso? E como?
"... ... ..."
Kamijou Touma havia caminhado até Stiyl.
Se ele desse mais um passo, estaria perto o suficiente para atingir o mago com um soco.
"M T W O T F F T O (Um dos cinco elementos que constitui o mundo). I I G O I I O F (A grande chama inicial)."
Stiyl começou a suar desagradavelmente pelo corpo inteiro. Isso porque a criatura na frente dele tinha a forma humana. Ele sentia que o garoto era formado por um poder estranho, e não por carne e sangue.
"I I B O L A I I A O E (É a luz da bênção que cria a vida e a luz do julgamento que pune o mal). I I M H A I I B O D (Contém a graça pura e calma, e o infortúnio congelante que esmaga as trevas). I I N F I I M S (Seu nome é fogo e a espada é o seu exercício). I C R M M B G P (Manifesta-te e torna-te o poder que come em minha carne)!"
Partes do hábito de padre de Stiyl rasgaram e os botões de sua roupa se soltaram.
Com um rugido de chamas sugando o oxigênio, uma gigantesca quantidade de fogo saiu de suas roupas.
Não eram chamas comuns.
Havia algo negro parecido com óleo no meio das chamas. Tinha a forma humana.
Seu nome era Innocentius, que significava, "Eu certamente irei te matar."
O gigante deus de fogo abriu seus braços e voou na direção de Kamijou como uma bala.
"Fora do meu caminho."
Kamijou tapeou aquelas chamas que possuíam a forma humana como se estivesse retirando teia de aranha de seu rosto.
Kamijou acabou com a carta na manga de Stiyl. Como se ele tivesse explodido um balão d'água com um prego, as chamas com óleo com forma humana simbolizando o grande deus do fogo perderam sua forma e se espalharam pela área.
"...?"
Kamijou Touma não tinha motivos para não dar seu último passo em direção a Stiyl.
Mas Stiyl estava sorrindo apesar de ter sua carta na manga destruída. Esta expressão era o suficiente para ele hesitar antes de dar este último passo.
O som de um líquido viscoso se movendo podia ser ouvido.
"Mas o... quê?!"
Kamijou, surpreso, deu um passo para trás. As chamas e aquela matéria negra que haviam se espalhado reuniram-se no ar, ganhando novamente a forma humana.
Se Kamijou tivesse avançado aquele último passo, ele seria atingido pelas chamas.
Kamijou ficou confuso. Se sua mão direita pudesse fazer o que ele sempre afirmava, ele poderia negar até mesmo os poderes divinos descritos nos mitos. Se aquilo fosse um poder sobrenatural, ele deveria ter sido capaz de negá-lo com um toque. Mesmo assim...
A coisa negra no meio das chamas parecida com óleo mudou de forma. Agora, parecia estar segurando uma espada em ambas as mãos.
Não... não era uma espada, mas sim uma cruz gigante, com mais de dois metros de comprimento.
Aquela coisa flamejante elevou a cruz com ambas as mãos e golpeou Kamijou como se a cruz fosse um machado.
"...!!"
Kamijou imediatamente moveu sua mão direita para cima para receber o golpe. Apesar de sua mão direita, Kamijou era um simples estudante. Ele não possuía as habilidades de luta necessárias para desviar daquele ataque.
A cruz e a mão direita dele se chocaram.
Desta vez, o gigante nem mesmo desapareceu. Como se ele estivesse apertando um pedaço grande de borracha, Kamijou sentiu que iria perder se continuasse assim. Seu oponente usava ambas as mãos, enquanto ele poderia usar apenas sua mão direita. A cruz ardente se aproximava do rosto de Kamijou milímetro por milímetro.
Apesar de estar confuso, Kamijou percebeu uma coisa: aquele monte de chamas que se chamava Innocentius estava reagindo ao seu Imagine Breaker, mas estava revivendo logo após ser dissipado. Provavelmente, o tempo entre a destruição e a ressureição das chamas era menor do que um décimo de segundo.
Sua mão direita havia sido selada.
Se ele perdesse, seria transformado em cinzas pelo Innocentius em um instante.
"Runas."
Kamijou Touma ouviu algo.
Devido ao perigo que encarava, ele não podia olhar para trás, mas ele certamente ouviu a voz de alguém.
"São vinte e quatro carácteres usados para indicar mistérios e segredos que foram usados como linguagem mágica pelas tribos Germânicas no século II. Fazem parte das raízes do inglês antigo."
Era a voz de Index, mas Kamijou não conseguia acreditar.
"O quê?"
Ela está gravemente ferida, como pode estar falando tão tranquilamente? Ele pensou.
"Atacar o Innocentius não terá efeito algum. A menos que as gravuras das runas sejam eliminadas, ele irá continuar revivendo."
Kamijou Touma apoiou seu pulso direito com sua mão esquerda para evitar que a cruz avance ainda mais.
Kamijou timidamente olhou para trás;
A garota estava mesmo deitada ali, mas Kamijou não considerava aquilo Index. Faltava emoção em seus olhos.
Quanto mais ela falava, mais sangue fluía de sua ferida nas costas.
Ela parecia um sistema feito para explicar coisas relacionadas à magia.
"Você é... a Index, não é?"
"Sim. Eu sou a biblioteca de grimórios pertencente a Necessarius, a paróquia número 0 da Igreja Anglicana. Meu nome completo é Index Librorum Prohibitorum, mas pode ser abreviado para Index."
Kamijou quase esqueceu do gigante que estava tentando matá-lo ao ouvir Index. Ele ficou com calafrios ao ouvi-la.
"Após me introduzir, voltarei a explicar sobre as runas. Basicamente, é como o reflexo da lua em um lago. Não importa quantas vezes você atingir a superfície do lago com uma espada, você não irá atingir a lua. Se você quiser atingir o reflexo da lua no lago, deverá golpear a lua no céu noturno."
Após ouvir esta explicação, Kamijou finalmente se lembrou do inimigo que está na sua frente.
Isso significa que o que estava diante dele não era a forma verdadeira do poder sobrenatural? Era algo como uma fotografia e sua figura? Iria continuar a reviver a não ser que ele destruísse o poder sobrenatural que estava criando o gigante de fogo?
Mesmo assim, Kamijou não acreditava completamente no que Index estava dizendo.
Não importa o que estava acontecendo em volta dele, magia não existia e não havia como contrariar isso.
Mas Innocentius estava bloqueando sua mão direita, impedindo seus movimentos. Não haveria como ele testar a sugestão dela. Além disso, seria complicado pedir ajuda para ela, já que Index estava sangrando bastante.
"Cinzas para cinzas..."
Kamijou olhou para Stiyl. Uma espada de fogo havia se formado na mão direita dele.
"...Pó para pó..."
Outra. Uma espada de fogo branco-azulada surgiu em sua mão esquerda.
"...Crucifixo Sangrento Suscetível!"
Com estas palavras cheias de poder, ele movimentou as duas espadas de fogo horizontalmente para cortar através do gigante de fogo como um par de tesouras. Com sua mão direita selada pelo Innocentius,
Kamijou não conseguiria bloquear outro ataque.
Merda... eu preciso fugir!! Ele desesperadamente pensou.
Mas antes que Kamijou Touma pudesse gritar, as duas espadas atingiram o gigante de fogo, criando uma enorme explosão.
Parte 7
Quando as chamas e a fumaça cederam, a área inteira parecia um inferno.
O corrimão de metal estava deformado pelo calor e até os azulejos no chão haviam derretido. A tinta nas paredes havia descascado, tornando visível o concreto.
O garoto não podia ser visto.
Mas Stiyl ouviu os passos de alguém correndo.
"...Innocentius," ele sussurou e as chamas se reuniram novamente para seguir o ruído.
Stiyl estava perplexo. Logo antes da explosão, no instante em que Stiyl havia atingido o gigante de fogo com as duas espadas, Kamijou afastou sua mão direita e pulou o corrimão do corredor.
Na queda, Kamijou se segurou no corrimão do andar debaixo e conseguiu sair pelo corredor. Ele não tinha nenhuma corda de segurança ou algo do tipo. Conseguiu fazê-lo apenas com coragem.
"Mas..."
Stiyl sorriu gentilmente. Agora Kamijou sabia a fraqueza das runas graças ao conhecimento dos 103,000 grimórios de Index. Como ela havia dito, a magia que Stiyl havia usado seria destruída apenas se as gravuras das runas fossem eliminadas. Qualquer magia, não importa o quão forte, seria negada se suas runas fossem destruídas.
"E daí?" Stiyl não estava nada preocupado. "Você não pode fazer isso. Eliminar completamente as runas gravadas nesse dormitório é algo impossível para você."
"Eu...! Eu realmente...! Eu realmente achei que iria morrer!!"
Após pular do 7º andar, o coração de Kamijou batia forte em seu peito.
Ele olhou para trás enquanto corria pelo corredor. De alguma forma, ele duvidava das palavras de Index. Ele estava tentando fugir da próxima investida de Innocentius.
"Droga! O que tá acontecendo?!"
Kamijou não conseguiu se conter e gritou ao notar a situação em que ele estava.
Ele não precisava se perguntar onde as runas estavam. Na verdade, ele já havia as encontrado. Elas estavam gravadas no chão, nas portas, e no extintor de incêndio. Pedaços de papel do tamanho de cartões telefônicos estavam espalhados por todas as partes.
De acordo com o conselho de Index, ele tinha pensado que essas runas eram como "antenas" enviando um sinal mágico para um receptor. Mas como ele iria destruir cada uma das dezenas de milhares de antenas?
Com o som de fogo sugando o oxigênio, a chama com formato humano desceu até o andar onde Kamijou estava.
"Merda!!"
Destruir as runas seria impossível se ele fosse pego pelo Innocentius novamente. Kamijou imediatamente correu para a escada de emergência. Conforme corria, ele podia ver pedaços de papel espalhados em todos os lugares.
Foram claramente feitos com uma copiadora.
Kamijou quase gritou “Como uma cópia ridícula dessas pode funciona assim?!” mas ele então se lembrou que os cartões de tarô que geralmente vinham de brinde dos mangás shoujo também poderiam ser usados para adivinhação e até mesmo a Bíblia era produzida em massa.
O oculto não é justo, ele pensou.
Ele achou que iria chorar. Dezenas de milhares dessas “gravuras de runas” estavam espalhadas por todo o dormitório. Haveria como ele encontrar cada uma delas? Além disso, Stiyl poderia simplesmente gravar mais runas.
Como se tivesse feito isso para impedi-lo de raciocinar, Innocentius surge de cima, para continuar a perseguir Kamijou.
“Merda!”
Kamijou desistiu de continuar a descer as escadas e entrou no corredor. Quando o gigante de fogo chegou naquele andar, chamas se espalharam pela área, e ele disparou em direção ao corredor.
O corredor era reto, e Innocentius era mais rápido. Kamijou não conseguiria escapar se a situação permanecesse assim.
“...!”
Kamijou olhou para a entrada das escadas de emergência. De acordo com a placa, ele estava no 2º andar. Com um rugido, Innocentius jogou-se na direção de Kamijou para reprimir sua mão direita.
“Ah!!”
Ao invés de usar sua mão direita ou continuar a correr, Kamijou pulou do segundo andar.
Após ter pulado, ele percebeu que o chão onde iria cair era de asfalto e algumas bicicletas estavam estacionadas ali.
“Ahhhhhhh!!”
Por pouco, ele conseguiu aterrissar no espaço entre duas bicicletas, mas ainda havia caído no duro asfalto. Ele tentou dobrar seus joelhos para absorver melhor o impacto da queda, mas ouviu um estalo nada agradável vindo do seu tornozelo.
Ele ouviu o rugido de chamas absorvendo o oxigênio acima.
“?!”
Kamijou imediatamente rolou no chão, correu, tropeçou em algumas bicicletas...
Mas... nada aconteceu.
“?!”
Kamijou olhou para cima com um olhar confuso.
Innocentius ainda estava rugindo no segundo andar, olhando fixamente para Kamijou. Era como se houvesse uma barreira invisível impedindo-o de seguir Kamijou.
Aparentemente, as runas foram apenas colocadas no dormitório. Kamijou conseguiu escapar das chamas de Stiyl saindo do prédio.
Agora que ele sabia um pouco mais sobre o “sistema invisível” da magia, ele viu que não estava lutando contra um oponente ridículo que poderia fazer tudo apenas lendo um feitiço, como em um RPG. Ao contrário, parece que a magia também possui regras estabelecidas. Não era diferente dos poderes psíquicos dos espers, dos quais Kamijou conhecia bem.
Ele suspirou.
Após escapar de qualquer ameaça imediata, o corpo de Kamijou perdeu sua força. Ele se sentou no chão. Ele não estava com medo, mas seu corpo foi agredido com uma sensação de exaustão forte. Ele começou a se perguntar se poderia escapar de todo o perigo apenas correndo.
“Já sei. A polícia.” Kamijou murmurou.
Por que ele não havia pensado nisso antes?
A polícia da Academy City era como uma “unidade anti-esper”. Kamijou poderia simplesmente alertá-los ao invés de arriscar sua própria vida.
Kamijou verificou os bolsos de sua calça, mas seu celular havia sido quebrado naquela manhã.
Kamijou então procurou por um telefone público na estrada.
Ele não estava querendo fugir.
Ele não estava querendo fugir.
“...Então, você vai me seguir até as profundezas do inferno?”
Estas palavras apunhalaram seu peito.
Ele não estava fazendo nada de errado. Ele não estava fazendo nada de errado, mas...
Naquela mesma situação, Index havia escolhido voltar por Kamijou Touma. Kamijou não seguiria uma estranha que ele conheceu a muito pouco tempo até as profundezas do inferno.
“Droga. É isso. Se eu não quero te seguir até as profundezas do inferno,” Kamijou sorriu. “Eu só preciso tirar você de lá.”
Ele pensou que já estava na hora de entender isso.
Ele não sabia como a magia funcionava direito, mas ele não precisava entender os detalhes do que ele não conseguia ver. Ele poderia, por exemplo, enviar um e-mail sem conhecer o diagrama de circuitos do seu celular.
“Agora que eu entendi isso, não é tão complicado assim.”
Ele sabia o que tinha que fazer, ele só precisava tentar.
Mesmo se ele falhasse, era melhor do que não ter feito nada.
Um pedaço do corrimão de metal derretido caiu. Kamijou rolou para o lado, desviando.
Ele ainda tinha que fazer algo em relação a Innocentius antes de poder salvar Index. O verdadeiro problema eram as dezenas de milhares de runas. Ele conseguiria destruir tantos pedaços de papel gravados naquele prédio?
“O alarme de incêndio não ativou mesmo com tudo isso acontecendo?”
Havia sido apenas um comentário sem importância alguma, mas Kamijou congelou após dizer estas palavras. O alarme de incêndio?
O alarme de incêndio ativou.
“?!”
Em meio a essa tempestade de ruído ensurdecedor que soava tão alto quanto um bombardeio, Stiyl olhou para o teto.
No mesmo instante, os sprinklers do teto soltaram água criando uma chuva artificial no dormitório. As coisas complicariam se os bombeiros chegassem ao local, então Stiyl havia anteriormente ordenado Innocentius para que evitasse a detecção do sistema de emergência. Isso significa que Kamijou Touma havia acionado o alarme de incêndio.
Será que ele achou que os sprinklers iriam conseguir apagar as chamas de Innocentius?
“...”
Essa ideia era ridícula. Mas o mago achou que as veias da sua cabela iriam explodir quando pensou na possibilidade de ter ficado encharcado por um motivo tão besta.
Stiyl olhou para o alarme de incêndio na parede.
Por estarem nas férias de verão, a maioria dos estudantes saíram para se divertir, mas a situação poderia complicar se os bombeiros chegassem.
“Hm...”
Stiyl olhou em volta e decidiu levar Index logo. Seu objetivo era simplesmente recuperá-la, não havia motivos para matar Kamijou. Devido ao tempo que iria levar para os bombeiros chegarem ao local, ele poderia deixar Innocentius lá e o garoto iria ganhar um belo abraço caloroso que iria o transformar em cinzas.
Não me diga que o alarme desligou o elevador? Stiyl pensou com irritação.
Ele tinha ouvido falar que os elevadores eram feitos para parar durante situações de emergência. Pensar nisso deixou Stiyl um pouco deprimido. Ele estava no 7º, descer pelas escadas carregando uma pessoa inconsciente iria ser cansativo.
Mas ele ficou aliviado ao ouvir o barulho de “ding” vindo do elevador atrás dele.
Espera... Quem era? Quem estava no elevador?
Era a primeira noite das férias de verão e ele tinha certeza de que quase todos os estudantes haviam deixado seus quartos. Ele próprio havia confirmado isso. Então quem estava dentro do elevador?
Ele ouviu as portas do elevador fazerem um som metálico ao abrirem. O som de passos no chão molhado pelos sprinklers ecoou no corredor.
Ele lentamente se virou.
Ele não tinha ideia por que seu corpo estava tremendo.
Kamijou Touma estava ali.
O quê? O que aconteceu com o Innocentius? Stiyl questionou.
Pensamentos se reuniram caoticamente na cabeça de Stiyl. Innocentius era como o míssil de um avião de guerra disparado em um alvo travado. Não havia como escapar.
Não importa o quanto você corresse ou se escondesse, ele iria usar suas chamas de 3000 graus para derreter seus obstáculos, não importam quais sejam, e continuaria sua caça. Era ridícula a ideia de que alguém poderia escapar dele correndo por aí dentro de um prédio.
Mesmo assim, ele estava ali.
Ele estava ali, imperturbável, imparável, inatacável.
“Essas runas devem ser gravadas nas paredes e no chão, certo?” disse Kamijou enquanto a chuva artificial caía. “Sério, você é incrível. Para ser honesto, não haveria como eu vencer se você tivesse encravado os símbolos com uma faca.”
Kamijou levantou seu braço direito.
Ele apontou para o teto... para os sprinklers.
“Não pode ser! Essas chamas de 3000 graus não podem ser apagadas por isso!”
“Não seja estúpido. Não estou falando das chamas. Estou falando dessas coisas que você colocou nas casas de todo mundo.”
Stiyl então se lembrou das dezenas de milhares de papéis que ele havia gravado no dormitório.
Papel tinha fraqueza à água. Até uma criancinha sabia disso.
Ao espalhar água por todo o dormitório, não importava se havia dezenas de milhares de runas. Ele não precisava correr pelo prédio, arrancando runa por runa. Tudo o que ele precisava fazer era pressionar um botão e danificar todos os pedaços de papel.
O mago voltou a sorrir.
“Innocentius!”
No momento em que ele gritou, a porta do elevador derreteu e o gigante de fogo surgiu no corredor.
As gotas de água imediatamente evaporavam ao tocar o corpo de chamas do gigante. Com o som do vapor subindo, parecia que ele estava respirando.
“Hahahahahahahahaha!! Impressionante! Você tem o senso de batalha de um gênio! Mas ainda falta experiência. Papel de impressão não é a mesma coisa que papel higiênico. Molhá-lo um pouco não irá dissolvê-lo completamente!” O mago abriu seus braços enquanto sua boca explodia em gargalhadas. Ele gritou, “Mate-o!”
Innocentius atacou como se seu braço fosse um martelo.
“Fora do meu caminho.”
Kamijou Touma apenas disse esta frase. Ele nem mesmo se virou.
Sua mão direita tapeou o gigante de fogo e Innocentius explodiu em todas as direções com um ruído comicamente patético.
“O quê?!”
O coração de Stiyl Magnus parou por um instante após este choque.
Após ser dissipado, Innocentius não reviveu. Seu núcleo negro, parecido com óleo de combustível foi espalhado por todos os cantos. Seus restos ainda se contorciam debilmente.
“Im... possível... Como... Como?! Minhas runas não foram destruídas ainda!”
“E a tinta?” Pareceu ter levado uma eternidade para a voz de Kamijou Touma chegar aos ouvidos de Stiyl. “Apesar do papel não ter sido destruído, a água fez a tinta sair.” Kamijou disse em um tom calmo. “Mas parece que a água não acabou com todas as runas.”
Os restos de Innocentius que ainda estavam se contorcendo separadamente desapareciam aos poucos. Innocentius perdia o resto de seu poder lentamente, conforme a água apagava a tinta nos papéis.
Os pedaços do corpo de Innocentius espalhados desapareceram um por um até o último se dissolver completamente.
“Innocentius... Innocentius!”
Era como se Stiyl estivesse gritando no telefone o nome de uma pessoa que já havia desligado na sua cara.
“Agora que aquilo se foi...”
Uma frase foi o suficiente para paralisar o corpo do mago.
Kamijou deu um passo em direção a Stiyl Magnus.
“Inno... centius...” O mago disse novamente, mas não houve resposta.
Kamijou deu outro passo em direção a Stiyl Magnus.
“Innocentius... Innocentius. Innocentius!” O mago gritou. Mas nada pareceu ter mudado.
Kamijou Touma finalmente começou a correr em direção a Stiyl Magnus.
“C-Cinzas para cinzas, pó para pó, Crucifixo Sangrento Suscetível!” Mas as espadas de fogo não apareceram. Muito menos o gigante de fogo.
A distância entre Kamijou Touma e Stiyl Magnus diminuía cada vez mais.
Ele fechou seu punho.
Ele fechou sua mão direita completamente normal. Ele fechou sua mão direita que era inútil em coisas que não eram relacionadas ao sobrenatural. Ele fechou sua mão direita que não derrotaria um único delinquente, que não iria aumentar suas notas nas provas, e que não iria torná-lo popular com as garotas.
Mas ela podia ser bem útil hoje.
Afinal, ele podia usá-la para espancar o imbecil na frente dele.
O punho de Kamijou afundou o rosto do mago.
O corpo de Stiyl Magnus girou algumas vezes e sua nuca colidiu com o corrimão de metal.
Notas de tradução
- ↑ 2.710 reais em Abril de 2004.
- ↑ O katakana usado para Matusalina (メトセリン, Metoserin) compartilha semelhanças com o katakana usado para o personagem bíblico Matusalém (メトシェラ, Metoshera). O "Elbr" em Elbrase (エルブラゼ, Eruburaze) possivelmente também possui alguma associação mitológica.
- ↑ Na comédia, "escada" é um personagem que completa a piada para outro personagem, geralmente sendo mais sério e posturado. Pense no Dedé em "Os Trapalhões", considerado o maior "escada" do humor Brasileiro.
- ↑ Quando um nativo de Quioto pergunta se um convidado quer comer chazuke, ele pode estar querendo dizer que a pessoa já passou tempo demais lá e está sendo convidada a se retirar educadamente.
- ↑ O termo usado é イギリス清教 (Igirisu Seikyō), que pode ser traduzido para "Igreja Puritana Inglesa". Essa tradução vai usar os nomes reais das igrejas pois elas eventualmente são escritas desse jeito em inglês em ilustrações futuras, portanto, Igreja Puritana Inglesa = Igreja Anglicana.
- ↑ Omiai é um costume japonês onde um homem e uma mulher são apresentados um para o outro para considerarem a possibilidade de um casamento. Geralmente o encontro é feito pelos pais dos envolvidos, que tomam um papel semelhante ao dos casamenteiros na cultura ocidental.
- ↑ "Flag" e "rota" são termos comumente usados em visual novels. Pense em Fate/stay night: se você escolher os diálogos corretos, pontos serão atribuídos a "flags", e com pontos o suficiente, uma "flag" é ativada, travando a história numa "rota" específica.