Difference between revisions of "Toaru Majutsu no Index ~Brazilian Portuguese~:Volume1 Capitulo1"
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===Parte 7=== |
===Parte 7=== |
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− | Quando |
+ | Quando a fumaça e as chamas desapareceram, o lugar ficou parecendo com o inferno. |
− | + | Os corrimões de metal havia se contorcido como esculturas de açúcar e até mesmo os azulejos do piso haviam derretido em uma substância parecida com cola. A tinta nas paredes havia descascado e o concreto estava visível. |
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− | O garoto não |
+ | O garoto não estava à vista. |
− | + | Entretanto, Stiyl ouviu os passos de alguém correndo no corredor do andar de baixo. |
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− | "...Innocentius," ele |
+ | "...Innocentius," ele sussurrou e as chamas espalhadas pela área retomaram a forma humana, pularam o corrimão e seguiram os passos. |
− | Stiyl estava |
+ | Por dentro, Stiyl estava surpreso. Nada de mais havia acontecido. Logo antes da explosão, no instante em que Stiyl havia cortado através do gigante deus de chamas com as duas espadas de fogo, Kamijō havia largado a cruz e saltado por cima do corrimão. |
− | + | Enquanto ele caia, Kamijō havia agarrado o corrimão do andar inferior e se puxado para o corredor. Ele não tinha nenhuma garantia de sucesso e havia feito isso com pura coragem, então a ação havia sido bastante imprudente. |
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"Mas..." |
"Mas..." |
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− | Stiyl |
+ | Stiyl deu um sorriso gentil. Kamijō agora sabia a fraqueza das runas graças ao conhecimento dos 103.000 grimórios de Index. Como ela havia dito, a magia rúnica que Stiyl usava era ativada por gravuras cravadas. Isso também significava que se livrar das marcações também negaria sua magia mais poderosa. |
− | "E daí?" Stiyl não |
+ | "E daí?" A expressão de Stiyl não demonstrou nenhum sinal de preocupação. "Você não vai conseguir fazer isso. Pra você é completamente impossível remover as runas cravadas nesse prédio." |
+ | ::::::::::::::::::::::::::::::♦ |
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− | "Eu |
+ | "Eu! Eu realmente achei! Eu realmente achei que ia morrer lá trás!!" |
− | Após pular do |
+ | Após pular por cima do corrimão no sétimo andar sem garantias de sobrevivência, o coração de Kamijō ainda estava martelando em seu peito. |
− | + | Enquanto ele voava pelo corredor, ele olhou ao redor. Ele não acreditava completamente no que Index havia dito. Ele estava meramente tentando se afastar de Innocentius para poder ganhar tempo e se preparar. |
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− | " |
+ | "Porcaria! Mas que diabos é isso!?" |
− | Kamijō não |
+ | Kamijō não pode evitar gritar quando ele viu o que estava em sua frente. |
+ | Ele não precisava se perguntar onde as runas estavam cravadas naquele grande dormitório. Na verdade, ele já havia as encontrado. Elas estavam no chão, nas portas e nos extintores de incêndio. Pedaços de papel do tamanho de cartões telefônicos estavam coladas por todo o prédio como Hōichi, o Sem Orelhas.<ref>Hōichi, o Sem Orelhas (耳なし芳一, ''Miminashi Hōichi'') é o protagonista cego de uma lenda japonesa. Ele vivia no templo budista Amidaji e que era conhecido por ser muito bom em interpretar o Conto dos Heike, particularmente a parte da Batalha de Dan no Ura e a morte do Imperador Antoku. Uma noite Hōichi estava tocando seu biwa, instrumento de cordas, na porta do templo quando um samurai o visitou e exigiu que ele tocasse o Conto dos Heike para seu senhor e sua corte. O desempenho de Hōichi fez com que todos se emocionassem e o senhor pediu que Hōichi voltasse na noite seguinte e tocasse mais uma vez, mas que não revelasse a ninguém para onde ele estava indo. Após um tempo, o sumo sacerdote de Amidaji notou que Hōichi estava saindo todas as noites e ordenou que seus servos o seguissem. Os servos do templo encontraram Hōichi em um cemitério da família Heiki, onde viram o músico sentado diante do túmulo do Imperador Antoku, rodeado de hitodama (人魂, Alma Humana), bolas de fogo que representam os espíritos dos mortos, que dançavam ao som da música. Os servos, percebendo que Hōichi estava em perigo, correram e o levaram de volta para o templo onde o sumo sacerdote explicou para Hōichi que sua plateia eram os fantasmas daqueles que haviam perecido na Batalha de Dan no Ura, que eles não estavam felizes com sua performance e que iriam matá-lo e ficar com sua alma. Como medida protetora, o sumo sacerdote pintou o Sutra do Coração por todo o corpo de Hōichi para protegê-lo e torná-lo invisível para os fantasmas, apesar deles ainda poderem ouvi-lo. Na noite seguinte, o samurai fantasma procura Hōichi, mas ele só consegue ver o instrumento e as orelhas do músico, então ele decide levar as orelhas para seu mestre como prova de que ele fez o melhor que pode para levar o homem. De manhã, os servos do templo encontram Hōichi e o sumo sacerdote percebe que ele pintou todo o corpo de Hōichi, exceto suas orelhas, por isso elas permaneceram visíveis ao fantasma.</ref> |
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− | Ele não precisava se perguntar onde as runas estavam. Na verdade, ele já havia as encontrado. Elas estavam gravadas no chão, nas portas, e no extintor de incêndio. Pedaços de papel do tamanho de cartões telefônicos estavam espalhados por todas as partes. |
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− | + | Baseando-se no conselho de Index (ele não gostava de se lembrar daquele rosto mecânico), ele adivinhou que a magia era como um sinal de interferência chamado de barreira e as runas eram como as antenas enviando o sinal. Mas ele conseguiria arrancar aquelas dezenas de milhares de "antenas"? |
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− | Com o |
+ | Com o rugido de oxigênio sendo absorvido, um fogaréu em formato humano caiu no lado oposto do corrimão de metal. |
− | " |
+ | "Droga!!" |
− | + | Se ele fosse pego de novo, ele não seria capaz de se livrar. Kamijō imediatamente correu para a escadaria de emergência ao seu lado. Enquanto ele descia cada vez mais, ele podia ver pedaços de papel colados nos cantos da escadaria e pelo teto com símbolos estranhos que deviam ser as runas. |
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− | + | Elas claramente tinham sido produzidas em massa com uma copiadora. |
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− | Kamijō quase gritou |
+ | Kamijō quase gritou "Como é que uma cópia porca dessas funciona!?" mas então ele lembrou-se que brindes em mangás shōjo podiam ser usados como cartas de tarô e que até mesmo a bíblia era produzida em massa em gráficas. |
− | + | (Sabe...o oculto não é nada justo.) |
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− | Ele |
+ | Ele queria chorar. Provavelmente dezenas de milhares daquelas "gravuras rúnicas" estavam espalhadas por todo o prédio. Ele podia encontrar todas elas? Até onde ele sabia, Stiyl podia estar colando cópias novas neste exato momento. |
− | Como se |
+ | Como se ele quisesse cortar sua linha de raciocínio, Innocentius caiu ainda mais pela escadaria. |
+ | "Merda!" |
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− | “Merda!” |
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− | Kamijō desistiu de continuar |
+ | Kamijō desistiu de continuar descendo pela escadaria e saiu para o corredor ao lado. Quando o gigante deus de fogo atingiu o chão, chamas se espalharam na área e ele avançou pelo corredor como se tivesse quicado no chão. |
− | O corredor era reto, e |
+ | O corredor era reto, e Kamijō não tinha como escapar de Innocentius com pura velocidade. |
− | + | "...!" |
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− | Kamijō olhou para a entrada |
+ | Kamijō olhou para a entrada da escada de emergência. De acordo com a placa, ele estava no segundo andar. |
+ | Com um rugido, Innocentius lançou-se para prender a mão direita de Kamijō. |
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− | “Ah!!” |
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+ | "O-ooah!!" |
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− | Ao invés de usar sua mão direita ou continuar a correr, Kamijō pulou do segundo andar. |
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+ | Ao invés de usar sua mão direita ou continuar correndo, Kamijō pulou por cima do corrimão do segundo andar. |
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− | Após ter pulado, ele percebeu que o chão onde iria cair era de asfalto e algumas bicicletas estavam estacionadas ali. |
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+ | Foi só depois de pular que ele percebeu que o chão lá embaixo era asfaltado e que haviam algumas bicicletas estacionadas lá. |
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− | “Ahhhhhhh!!” |
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+ | "Hwaaaaaaaaaahhhh!!" |
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− | Por pouco, ele conseguiu aterrissar no espaço entre duas bicicletas, mas ainda havia caído no duro asfalto. Ele tentou dobrar seus joelhos para absorver melhor o impacto da queda, mas ouviu um estalo nada agradável vindo do seu tornozelo. |
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+ | Ele havia conseguido aterrissar entre duas bicicletas, mas ele ainda caiu no duro asfalto. Ele tentou dobrar seus joelhos para absorver o impacto, mas ele ouviu um som desagradável vindo de seu tornozelo. Ele só tinha pulado do segundo andar e ele não havia sentido ele quebrar, mas ele tinha machucado seu tornozelo do mesmo jeito. |
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− | Ele ouviu o rugido de chamas absorvendo o oxigênio acima. |
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+ | Ele ouviu o rugido de chamas queimando o oxigênio vindo de cima. |
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− | “?!” |
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+ | "!?" |
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− | Kamijō imediatamente rolou no chão, correu, tropeçou em algumas bicicletas... |
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+ | Kamijō se arrastou pelo chão, chutando bicicletas no processo, mas nada mais aconteceu. |
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− | Mas... nada aconteceu. |
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+ | "?" |
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− | “?!” |
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− | Kamijō olhou para cima com |
+ | Kamijō olhou para cima com curiosidade em seu rosto. |
− | + | Ainda rugindo, Innocentius estava se segurando no corrimão do segundo andar e encarando Kamijō, que estava no chão. Era quase como se houvesse uma parede invisível impedindo que ele seguisse Kamijō. |
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− | Aparentemente, as runas |
+ | Aparentemente, as runas haviam sido colocadas apenas no dormitório. Kamijō havia conseguido escapar das chamas de Stiyl ao sair do prédio. |
− | + | Ver este aspecto das runas fez com que ele sentisse que agora sabia um pouco sobre o sistema invisível da magia. Ele não estava lutando contra um oponente ridículo como os magos num RPG que podiam fazer qualquer coisa recitando feitiços. Ao invés disso, seu oponente agia baseado num conjunto de regras semelhantes aos usuários de habilidade que Kamijō conhecia. |
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Ele suspirou. |
Ele suspirou. |
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− | + | Tendo se libertado de qualquer ameaça direta a sua vida, a força fugiu do corpo de Kamijō. Ele sentou-se no chão sem nem pensar. Ele não estava com medo. Pelo contrário, ele foi atacado por um sentimento diferente que era mais parecido com uma exaustão apática. Ele começou a se perguntar se ele podia escapar de qualquer perigo se ele simplesmente corresse. |
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+ | "Já sei. Anti-Skill,"<ref>Em japonês, 警備員 (''Keibi'in'', Guarda) é escrito com a leitura ingles アンチスキル (''Anchisukiru''), então manteremos como "Anti-Skill".</ref> Kamijō murmurou. |
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− | “Já sei. A polícia.” Kamijō murmurou. |
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+ | Por que ele não tinha pensado nisso antes? A Anti-Skill da Cidade Acadêmica era como uma unidade especial anti-usuários de habilidade. Kamijō podia simplesmente ligar para eles ao invés de arriscar a própria vida. |
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− | Por que ele não havia pensado nisso antes? |
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+ | Kamijō procurou em seus bolsos da calça, mas seu celular havia sido esmagado debaixo de seu próprio pé naquela manhã. |
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− | A polícia da Academy City era como uma “unidade anti-esper”. Kamijō poderia simplesmente alertá-los ao invés de arriscar sua própria vida. |
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+ | Kamijō olhou para a rua. Ele estava procurando por um telefone público. |
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− | Kamijō verificou os bolsos de sua calça, mas seu celular havia sido quebrado naquela manhã. |
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+ | Ele não estava fugindo. |
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− | Kamijō então procurou por um telefone público na estrada. |
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− | Ele não estava |
+ | Ele não estava fugindo. |
+ | "—''Então você me seguiria até as profundezas do inferno?''" |
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− | Ele não estava querendo fugir. |
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+ | E ainda assim aquelas palavras pareciam apunhalar seu coração. |
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− | ''“...Então, você vai me seguir até as profundezas do inferno?”'' |
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+ | Ele não estava fazendo nada de errado. Ele não estava fazendo nada de errado, e ainda assim... |
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− | Estas palavras apunhalaram seu peito. |
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+ | Naquela mesma situação, Index havia voltado por Kamijō Tōma. Kamijō não conseguia pensar em ir até o inferno com uma estranha que ele conhecia por menos de meia hora. |
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− | Ele não estava fazendo nada de errado. Ele não estava fazendo nada de errado, mas... |
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+ | "Droga. É verdade. Se eu não quero te seguir até as profundezas do inferno," Kamijō sorriu, "então eu só tenho que te tirar das mãos deles." |
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− | Naquela mesma situação, Index havia escolhido voltar por Kamijō Tōma. Kamijō não seguiria uma estranha que ele conheceu a muito pouco tempo até as profundezas do inferno. |
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+ | Ele pensou que já era a hora de entender isso. |
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− | “Droga. É isso. Se eu não quero te seguir até as profundezas do inferno,” Kamijō sorriu. “Eu só preciso tirar você de lá.” |
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+ | Ele não sabia como mágica funcionava, mas ele não precisava saber o que acontecia por trás dos panos. Ele podia mandar um e-mail sem conhecer o diagrama dos circuitos de seu celular. |
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− | Ele pensou que já estava na hora de entender isso. |
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+ | "''...Hm. Quando você entende isso, realmente não parece tão complicado.''" |
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− | Ele não sabia como a magia funcionava direito, mas ele não precisava entender os detalhes do que ele não conseguia ver. Ele poderia, por exemplo, enviar um e-mail sem conhecer o diagrama de circuitos do seu celular. |
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+ | Ele sabia o que ele tinha que fazer, então agora ele só precisava tentar. |
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− | “Agora que eu entendi isso, não é tão complicado assim.” |
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+ | Mesmo se ele falhasse, ainda seria melhor do que não fazer nada. |
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− | Ele sabia o que tinha que fazer, ele só precisava tentar. |
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+ | Um brilhante e laranja corrimão de metal distorcido caiu e Kamijō rolou pelo chão desesperadamente. |
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− | Mesmo se ele falhasse, era melhor do que não ter feito nada. |
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+ | Ele podia ter se decidido, mas ele ainda tinha que fazer algo sobre Innocentius antes de salvar Index. O problema real eram as dezenas de milhares de runas. Mas ele podia mesmo rasgar todos os pedaços de papel colados no prédio? |
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− | Um pedaço do corrimão de metal derretido caiu. Kamijō rolou para o lado, desviando. |
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+ | "...Sabe, eu tô surpreso que o alarme de incêndio não tenha sido ativado com tudo isso acontecendo." |
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− | Ele ainda tinha que fazer algo em relação a Innocentius antes de poder salvar Index. O verdadeiro problema eram as dezenas de milhares de runas. Ele conseguiria destruir tantos pedaços de papel gravados naquele prédio? |
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+ | Tinha sido apenas um comentário solto, mas Kamijō Tōma congelou quando ele disse isso. |
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− | “O alarme de incêndio não ativou mesmo com tudo isso acontecendo?” |
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+ | O alarme de incêndio? |
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− | Havia sido apenas um comentário sem importância alguma, mas Kamijō congelou após dizer estas palavras. O alarme de incêndio? |
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+ | ::::::::::::::::::::::::::::::♦ |
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+ | Os alarmes de incêndio instalados por todo o prédio foram ativados de uma vez só. |
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− | O alarme de incêndio ativou. |
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+ | "!?" |
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− | “?!” |
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− | + | No meio daquela tempestade de barulhos estridentes que pareciam tão altos quanto alertas de bombardeio, Stiyl olhou para o teto. |
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− | + | Sem um segundo de atraso, os chuveiros automáticos dispararam uma chuva artificial semelhante a um tufão. Já que os bombeiros seriam um incômodo, Stiyl havia escrito ordens para que Innocentius não tocasse nos sensores de segurança. O que significava que Kamijō Tōma devia ter apertado o botão pro alarme de incêndio. |
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− | + | Ele achava que isso apagaria as chamas de Innocentius? |
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− | + | "..." |
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− | Essa ideia era |
+ | Essa ideia era quase ridiculamente risível, mas o mago pensou que as veias em sua cabeça fossem estourar quando ele pensou que estava ficando encharcado por um motivo tão idiota. |
− | Stiyl |
+ | Stiyl encarou o alarme de incêndio vermelho na parede com incômodo. |
− | + | Era fácil o suficiente ativar o alarme, mas ele não podia pará-lo. Como eram as férias de verão, a maioria dos moradores do dormitório estava fora, mas podia ser um incômodo se os bombeiros viessem. |
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− | + | "...Hm." |
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− | Stiyl olhou |
+ | Stiyl olhou ao redor e então pegou Index para sair. Seu objetivo era simplesmente recuperar Index, então não tinha motivos para ele se prender em matar Kamijō. Tendo em vista o quanto os bombeiros demorariam a chegar, ele podia deixar Innocentius no piloto-automático e o garoto seria abraçado por chamas que o transformariam em carvão preto ou cinzas brancas. |
+ | (Isso não quer dizer que o elevador parou, né?) |
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− | Não me diga que o alarme desligou o elevador? Stiyl pensou com irritação. |
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− | Ele |
+ | Ele havia ouvido dizer que elevadores eram feitos para parar durante emergências. Isso seria um tanto deprimente para Stiyl. Ele estava no sétimo andar. Mesmo que ela fosse uma garota, carregar uma pessoa inconsciente escadaria abaixo era cansativo. |
− | + | Foi por isso que Stiyl ficou inicialmente aliviado ao ouvir o ''ding'' vindo de trás dele. |
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+ | Mas então ele percebeu. |
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− | Espera... Quem era? Quem estava no elevador? |
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+ | Quem era? Quem estava no elevador? |
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− | Era a primeira noite das férias de verão e ele tinha certeza de que quase todos os estudantes haviam deixado seus quartos. Ele próprio havia confirmado isso. Então quem estava dentro do elevador? |
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+ | Era uma noite nas férias de verão e ele já tinha conferido para ter certeza que todos os estudantes tinham deixado o dormitório. Então quem era e por que ele precisava do elevador? |
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− | Ele ouviu as portas do elevador fazerem um som metálico ao abrirem. O som de passos no chão molhado pelos sprinklers ecoou no corredor. |
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+ | As portas do elevador bateram enquanto abriam. Um único passo no chão molhado por causa dos chuveiros ecoou por todo o corredor. |
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− | Ele lentamente se virou. |
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+ | Stiyl se virou lentamente. |
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− | Ele não tinha ideia por que seu corpo estava tremendo. |
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+ | Ele não fazia ideia do porque seu corpo estava tremendo por dentro. |
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− | Kamijō Tōma estava ali. |
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+ | Kamijō Tōma estava lá. |
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− | O quê? O que aconteceu com o Innocentius? Stiyl questionou. |
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+ | (O que? O que aconteceu com Innocentius?) |
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− | Pensamentos se reuniram caoticamente na cabeça de Stiyl. Innocentius era como o míssil de um avião de guerra disparado em um alvo travado. Não havia como escapar. |
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− | Não importa o quanto você corresse ou se escondesse, ele |
+ | Pensamentos dançaram caoticamente na cabeça de Stiyl. Innocentius era como um míssil de última geração carregado em um caça. Quando ele travava no alvo, ele não podia ser desviado. Não importa o quanto você corresse ou se escondesse, ele usaria suas chamas de três mil graus Celsius para derreter as paredes ou obstáculos, mesmo que eles fossem feitos de metal, e continuaria a persegui-lo. Ele não era algo que podia ser despistada ao correr por um prédio. |
− | + | Ainda assim, Kamijō Tōma estava lá. |
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− | Ele estava |
+ | Ele estava lá inabalado, imparável, inatacável e, acima de tudo, um inimigo natural inconfundível. |
− | + | "Parando pra pensar, as runas deviam ser cravadas nas paredes e tetos, né?" disse Kamijō enquanto a fria chuva artificial caía sobre ele. "Sério, você é incrível. Sendo sincero, eu não teria como vencer se você tivesse cravado elas com uma faca. Pode se gabar o quanto quiser." |
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− | Kamijō |
+ | Enquanto ele falava, Kamijō Tōma ergueu seu braço direito e apontou para cima. |
− | Ele apontou para o teto |
+ | Ele apontou para o teto. Para o chuveiro automático. |
− | + | "...Você não tá falando sério! Aquelas chamas de três mil graus Celsius não poderiam ser apagadas com isso!" |
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− | + | "Não seja idiota. Não foram as chamas. ''Como é que você pôde colocar aquelas coisas nas casas das pessoas''?" |
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− | Stiyl então se lembrou das dezenas de milhares de |
+ | Stiyl então se lembrou das dezenas de milhares de runas de papel que ele havia preparado no dormitório. |
− | Papel |
+ | Papel era fraco contra água. Até mesmo uma criança sabia disso. |
− | Ao |
+ | Ao jogar água em todo o prédio com os chuveiros automáticos, não importavam se eram dezenas de milhares de runas. Ele não precisava correr pelo prédio. Ao invés disso, ele podia apertar um único botão e destruir todos aqueles pedaços de papel. |
+ | Os músculos no rosto do mago tremeram. |
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− | O mago voltou a sorrir. |
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+ | "Innocentius!" |
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− | “Innocentius!” |
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− | No |
+ | ''No instante em que ele gritou, a porta do elevador atrás de Kamijō derreteu como uma escultura de açúcar e o gigante deus de fogo rastejou para o corredor.'' |
− | + | Sempre que as gotas da chuva artificial atingiam seu corpo de chamas, elas evaporavam com o som da respiração da besta. |
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− | + | "Ha ha ha. Ah ha ha ha ha ha! Incrível! Você tem o senso de batalha de um gênio! Mas lhe falta experiência. Papel ofício não é como papel higiênico. ''Molhar ele um pouco não vai dissolvê-lo completamente''!" O mago abriu seus braços enquanto uma gargalhada explodia de sua boca, e então ele gritou, "Mate-o!" |
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− | Innocentius |
+ | Innocentius balançou seu braço como um martelo. |
+ | "Desapareça." |
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− | “Fora do meu caminho.” |
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− | Kamijō Tōma apenas disse |
+ | Kamijō Tōma apenas disse isso. Ele nem ao menos se virou. |
− | + | As costas da mão direita de Kamijō tocou o gigante deus de chamas com um golpe e ele explodiu em todas as direções com um barulho incrivelmente patético. |
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+ | "O qu-!?" |
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− | “O quê?!” |
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− | O coração de Stiyl Magnus parou por um instante |
+ | O coração de Stiyl Magnus verdadeiramente parou por um instante por causa de choque. |
− | Após ser |
+ | Após ser apagado, Innocentius não reviveu. Óleo preto foi espalhado pela área como se fossem pedaços de carne e tudo que eles podiam fazer era tremer um pouquinho. |
− | + | "Im...possível... Como...Como!? Minhas runas ainda não foram destruídas!" |
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− | + | "E a tinta?" A voz de Kamijō Tōma pareceu demorar 5 anos para chegar aos ouvidos de Stiyl. "Mesmo que o papel ofício não tenha sido destruído, a água vai fazer a tinta escorrer." Kamijō falou de maneira preguiçosa. "Apesar de parecer que isso não destruiu todas elas." |
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+ | Os pedaços retorcidos de Innocentius desapareceram no ar um de cada vez enquanto a chuva artificial continuava a sair dos chuveiros automáticos. |
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− | Os restos de Innocentius que ainda estavam se contorcendo separadamente desapareciam aos poucos. Innocentius perdia o resto de seu poder lentamente, conforme a água apagava a tinta nos papéis. |
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+ | Era como se a tinta nos papéis por todo o prédio estivesse saindo com a chuva um por um, fazendo com que Innocentius perdesse seu poder pouco a pouco. |
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− | Os pedaços do corpo de Innocentius espalhados desapareceram um por um até o último se dissolver completamente. |
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+ | Os pedaços de "carne" desapareceram um a um até que finalmente o último se dissolveu e sumiu. |
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− | “Innocentius... Innocentius!” |
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+ | "Innocentius...Innocentius!" |
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− | Era como se Stiyl estivesse gritando no telefone o nome de uma pessoa que já havia desligado na sua cara. |
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+ | As palavras do mago eram como as de um homem gritando num telefone após desligarem na cara dele. |
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− | “Agora que aquilo se foi...” |
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+ | "Agora..." |
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− | Uma frase foi o suficiente para paralisar o corpo do mago. |
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+ | Essa única palavra foi o suficiente para fazer o corpo do mago tremer por inteiro. |
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− | Kamijō deu um passo em direção a Stiyl Magnus. |
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+ | Kamijō Tōma deu um passo na direção de Stiyl Magnus. |
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− | “Inno... centius...” O mago disse novamente, mas não houve resposta. |
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+ | "Inno...centius..." o mago disse...mas nada no mundo o respondeu. |
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− | Kamijō deu outro passo em direção a Stiyl Magnus. |
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+ | Kamijō Tōma deu outro passo na direção de Stiyl Magnus. |
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− | “Innocentius... Innocentius. Innocentius!” O mago gritou. Mas nada pareceu ter mudado. |
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+ | "Innocentius...Innocentius, Innocentius!" o mago gritou...mas nada no mundo mudou. |
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− | Kamijō Tōma finalmente começou a correr em direção a Stiyl Magnus. |
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+ | Kamijō Tōma finalmente começou a avançar na direção de Stiyl Magnus como uma bala. |
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− | “C-Cinzas para cinzas, pó para pó, Crucifixo Sangrento Suscetível!” Mas as espadas de fogo não apareceram. Muito menos o gigante de fogo. |
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+ | "A-Ash To Ash, Dust To Dust. Squeamish Bloody Rood!" o mago finalmente rugiu, mas nem ao menos uma espada de chamas apareceu, muito menos um gigante deus de fogo. |
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− | A distância entre Kamijō Tōma e Stiyl Magnus diminuía cada vez mais. |
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+ | Kamijō Tōma se aproximou de Stiyl Magnus e então continuou a se mover. |
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− | Ele fechou seu punho. |
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+ | Ele cerrou seu punho. |
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− | Ele fechou sua mão direita completamente normal. Ele fechou sua mão direita que era inútil em coisas que não eram relacionadas ao sobrenatural. Ele fechou sua mão direita que não derrotaria um único delinquente, que não iria aumentar suas notas nas provas, e que não iria torná-lo popular com as garotas. |
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+ | Ele fechou sua mão direita completamente normal. Ele fechou sua mão direita que não lhe seria útil se não fosse usada em um tipo de poder sobrenatural. Ele fechou a mão direita que não o ajudaria a derrotar nenhum delinquente, que não aumentaria suas notas nos testes e que não o faria popular com as garotas. |
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− | Mas ela podia ser bem útil hoje. |
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+ | Mas sua mão direita podia ser muito útil. |
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− | Afinal, ele podia usá-la para espancar o imbecil na frente dele. |
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+ | Afinal, ele podia usá-la para socar o bastardo parado na sua frente. |
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− | O punho de Kamijō afundou o rosto do mago. |
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+ | O punho de Kamijō Tōma atingiu o rosto do mago. |
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− | O corpo de Stiyl Magnus girou algumas vezes e sua nuca colidiu com o corrimão de metal. |
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+ | |||
+ | O corpo do mago girou como pirocóptero e sua nuca atingiu o corrimão de metal. |
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===Notas de tradução=== |
===Notas de tradução=== |
Revision as of 04:18, 7 November 2024
Capítulo 1: O Mago Aterrissa na Torre — FAIR,_Occasionally_GIRL.
Parte 1
"Se você é um Aquariano, nascido entre 20 de Janeiro e 18 de Fevereiro, você terá muita sorte no amor, ganhará muito dinheiro e terá sucesso nos negócios! Não importa o quão improváveis sejam as circunstâncias, apenas coisas boas virão para você. Vá jogar na loteria! Mas não importa o quão popular você seja não tente sair com três ou quatro garotas ao mesmo tempo. ♪"
"...Olha, eu sabia que ia ser algo desse tipo, mas ainda assim..."
Era 20 de Julho, o primeiro dia das férias de verão.
Kamijō Tōma estava sem palavras. Seu dormitório na Cidade Acadêmica havia sido transformado numa sauna por causa de um ar-condicionado quebrado. Aparentemente, um raio havia caído durante a noite e danificado oitenta por cento dos seus aparelhos elétricos. Isso também significava que os conteúdos dentro de sua geladeira haviam sido estragados. Quando ele tentou comer o copo de yakisoba que ele matinha guardado para emergências, ele derramou o macarrão na pia. Sem outras opções, ele decidiu comer fora, mas pisou em seu cartão bancário e o quebrou enquanto procurava por sua carteira. Quando ele rastejou pateticamente de volta à cama para chorar até dormir, ele foi acordado pelo toque de seu telefone. Era sua professora lhe entregando uma mensagem carinhosa: "Bom dia, Kamijō-chan, você é um idiota, então precisa de aulas de reforço. ♪"
Ele sempre sentiu que horóscopos exibidos na TV como previsões do tempo tendiam a ser apenas isso, previsões, mas ele foi incapaz de rir disso quando ela se mostrou tão diferente da realidade.
"...Eu entendo. Mas não consigo engolir sem falar em voz alta."
O horóscopo sempre estava errado e Kamijō nunca teve boa sorte. Assim era a vida diária para Kamijō Tōma. Ele havia pensado que a maneira extraordinária em que a sorte havia o abandonado era algo de família, mas seu pai havia conseguido um quarto lugar (cerca de 100.000 ienes[1]) na loteria e sua mãe havia conseguido bebidas gratuitas em máquinas de vendas diversas vezes. Era o suficiente para fazê-lo se perguntar se eles tinham alguma relação sanguínea. Mas como ele não tinha uma queda por uma irmã mais nova, nem era o próximo na linha de sucessão para a realeza, nada de bom viria ao descobrir que ele era adotado.
Em suma, Kamijō Tōma não vivenciava nada além de azar.
Ao ponto em que isso poderia ser facilmente chamado de uma piada recorrente.
Mas ele não tinha intenção de desistir por causa disso.
Kamijō não contava com a sorte. Em outras palavras, ele tinha muita determinação.
"...Certo. Os problemas imediatos são o meu cartão e a geladeira."
Kamijō coçou sua cabeça e olhou ao redor de seu quarto. Enquanto ele ainda tivesse sua caderneta bancária, ele conseguiria outro cartão facilmente. O problema real era a geladeira... ou melhor, o café da manhã. Eles chamavam de aulas de reforço, mas ele tinha certeza que seria forçado a tomar pílulas de Matusalina e pó de Elbrase[2] para o desenvolvimento de habilidades. Fazer isso com o estômago vazio não era uma boa ideia.
Trocando de roupa e colocando seu uniforme de verão, Kamijō considerou parar numa loja de conveniências no caminho para a escola. Fazendo jus a sua posição de estudante idiota, Kamijō havia ficado acordado a noite inteira enquanto as férias de verão se aproximavam então uma dor incômoda passava pela sua mente privada de sono. Entretanto, ele se forçou a pensar positivamente.
(Compensar quatro meses de aulas perdidas em uma única semana é um bom negócio.)
Seu humor se recuperou ao ponto em que ele repentinamente murmurou, "O clima tá legal. Talvez eu deva arejar o meu futon."
Kamijō abriu a porta de tela para a varanda. Ele esperava que o futon estivesse agradável e fofinho quando ele voltasse de suas aulas de reforço.
Mas naquela varanda do sétimo andar, a parede do prédio vizinho estava há menos de dois metros de distância.
"O céu é tão azul, e ainda assim o meu futuro é um breu. ♪"
Seu ânimo decaiu bruscamente. Se forçar a dizer isso de maneira alegra apenas teve o efeito oposto.
Não ter outra pessoa para agir como o escada[3] apenas o atormentou com um sentimento de solidão enquanto ele usava ambas as mãos para pegar seu futon em sua cama.
(Se o resto falhar, pelo menos eu vou deixar isso aqui suave e macio.)
Assim que ele pensou isso, ele sentiu algo macio ser esmagado pelo seu pé. Ele olhou para baixo e viu um pão de yakisoba ainda embrulhado. Ele estava na geladeira arruinada previamente mencionada, então certamente ele havia estragado.
"... Eu só espero que não comece a chover de repente essa tarde."
Expressando uma má premonição que ele teve, Kamijō saiu pela porta de tela aberta para a varanda...
...e viu um futon branco já pendurado lá.
"?"
Ele podia morar num dormitório estudantil, mas o formato era de um kitnet, então Kamijō vivia sozinho. Desse jeito, não havia ninguém além de Kamijō Tōma que fosse capaz de pendurar um futon no corrimão da varanda de seu quarto.
Quando ele olhou mais de perto, não era um futon pendurado.
Era uma garota vestindo roupas brancas.
"Hã!?"
O futon verdadeiro caiu de suas mãos.
Era um mistério. Na verdade, era algo sem sentido. Como se ela tivesse caído de exaustão numa vara de metal, a garota estava com sua cintura pressionada contra o parapeito da varanda e seu corpo estava dobrado de um jeito que seus braços e pernas estavam pendurados para baixo.
Ela tinha... cerca de quatorze ou quinze anos de idade. Ela parecia ser um ano ou dois mais nova que Kamijō. Ela devia ser uma estrangeira por que sua pele era de um branco imaculado, e seu cabelo era branco... não, prateado. Seu cabelo era um tanto longo, então ele cobria completamente seu rosto. Kamijō chutou que ele devia alcançar sua cintura se ela estivesse de pé.
E suas roupas...
"Nossa, é uma irmã... Uma irmã freira, não uma irmã irmã."
O termo para o que ela vestia era hábito? Era o tipo de roupa que você esperava ver em uma freira na igreja. Suas roupas pareciam um longo vestido que chegava até os tornozelos, e ela usava um capuz separado em sua cabeça, um tanto diferente de um chapéu. Entretanto, embora os hábitos normais das freiras fossem pretos, o dela era branco puro. Ele era feito de seda? Aliás, em todos os pontos importantes da roupa, bordados feitos de linhas douradas haviam sido costurados. Kamijō não podia acreditar no quanto a impressão dada pelo mesmo desenho de roupa podia mudar apenas alterando as cores. O que ele viu lembrou-lhe de uma xícara de porcelana.
As pontas dos dedos adoráveis da garota tremeram.
Sua cabeça levantou-se lentamente de sua posição pendurada. Seu cabelo prateado semelhante a seda partiu-se suavemente para os lados como uma cortina e o rosto da garota apareceu no meio do cabelo realmente longo.
(Ei, ei...!)
O rosto da garota era relativamente bonito. Sua pele branca e seus olhos verdes eram uma nova experiência para alguém que não tinha contato com o exterior como Kamijō e ela parecia, de certa forma, com uma boneca para ele.
Entretanto, não foi isso que deixou Kamijō tão envergonhado.
Ela era uma estrangeira e o professor de inglês de Kamijō Tōma havia sugerido que ele adotasse uma política vitalícia de evitar estrangeiros. Se alguém de um país estranho começasse a falar com ele, ele possivelmente acabaria comprando um edredom seu perceber.
"Eu..."
Os lábios fofos, mas levemente secos, da garota se moveram lentamente.
Kamijō deu um passo ou dois para trás sem perceber. Com um som amassado, ele pisou no pão de yakisoba mais uma vez.
"Eu tô com fome.”
"..........................................................................."
Por um instante, Kamijō pensou ser tão estúpido que sua mente tinha substituído automaticamente a língua estrangeira que ele ouviu com japonês. Como crianças estúpidas do fundamental que colocavam letras ridículas em músicas estrangeiras que elas não conheciam a letra real.
"Eu tô com fome."
"..."
"Eu tô com fome."
"......"
"Quantas vezes eu vou ter que te dizer que eu tô com fome?"
A garota de cabelo prateado pareceu ter ficado um pouco irritada com a maneira que Kamijō apenas ficou parado no mesmo lugar.
(Não. Isso é prova o suficiente. Isso não pode ser outra coisa além de japonês.)
"Ah, hmm..." ele disse enquanto encarava a garota pendurada no parapeito da varanda. "O que? Você tá querendo me dizer que desmaiou de cansaço ou algo do tipo?"
"Você também poderia dizer que eu caí e tô prestes a morrer."
"..."
A garota podia falar japonês muito bem.
"Seria ótimo se você pudesse me alimentar o suficiente pra eu ficar cheia."
Kamijō olhou para o pão de yakisoba amassado e possivelmente estragado ainda em sua embalagem debaixo de seu pé.
Ele não tinha ideia do que estava acontecendo, mas ele sabia que era melhor não se envolver. Na esperança de mandar a garota para um lugar distante, ele ergueu o pão de yakisoba amassado para sua boca. Ele tinha certeza que ela iria sair correndo quando sentisse o fedor azedo, então ele fez algo semelhante a oferecer chazuke à um convidado que você queira fora de sua casa em Quioto[4].
"Obrigada. Hora de comer."
Sua boca o engoliu, com embalagem e tudo. E a mão de Kamijō foi junto.
Mais uma vez, o dia de Kamijō começou com azar e um grito.
Parte 2
"Eu acho que eu preciso começar com uma introdução."
"Na verdade, eu iria preferir se você começasse explicando por que você tava pendurada lá fora."
"Meu nome é Index."
"Esse nome é claramente falso! Como assim Index!? Você é um índice ou algo do tipo!?"
"Como você pode ver, eu sou da Igreja. Isso é importante. Ah, mas não sou do Vaticano. Eu sou da Igreja Anglicana[5]."
"Eu não sei o que isso significa, e você vai ficar ignorando minhas perguntas!?"
"Hmm, Index não é o suficiente? Bom, meu nome mágico é Dedicatus545."
"Alô, alô? Com que tipo de alienígena eu tô falando?"
Kamijō não entendeu então ele enfiou um dedo em sua orelha, e Index mordiscou a unha de seu polegar. Esse era um hábito dela?
Kamijō perguntou-se por que eles estavam sentados educadamente de frente um para o outro como em um omiai[6].
Se ele não saísse logo, ele iria se atrasar para suas aulas de reforço, mas ele não poderia deixar essa pessoa estranha em seu quarto. Pra piorar as coisas, a garota misteriosa de cabelo prateado se chamando de Index parecia ter gostado o suficiente do quarto que ela parecia disposta a se deitar preguiçosamente no chão.
Teria o azar de Kamijō atraído ela? Ele esperava que esse não fosse o caso.
"De qualquer forma, seria ótimo se você pudesse me alimentar o suficiente para eu ficar cheia."
"Por que eu faria isso!? Eu não quero aumentar seus parâmetros. Eu preferiria morrer do que ativar uma flag estranha e acabar preso na rota da Index!!"[7]
"Hm... isso é uma gíria? Sinto muito, mas eu não faço ideia do que você tá falando."
Como esperando de uma estrangeira, ela não entendia a cultura otaku do Japão.
"Mas se eu sair agora, eu vou desmaiar depois de dar três passos."
"...Não vem com essa de desmaio de novo."
"E eu vou reunir minha força restante para deixar uma última mensagem antes de morrer. Vai ser uma imagem sua."
"O qu—?"
"E se, por acaso, alguém me salvar, eu vou dizer que eu fui aprisionada neste quarto e atormentada ao ponto de desmaiar. ...Eu vou dizer pra eles que você forçou seus gostos de cosplay em mim."
"Não ouse dizer isso! E você conhece uma coisa ou duas sobre a cultura otaku, né!?"
"?"
Ela inclinou sua cabeça para o lado como um gato se olhando pela primeira vez num espelho.
Ele se arrependeu de deixá-la irritá-lo. Ele sentiu como se só ele tivesse sido terrivelmente maculado.
(Ok, vamos nessa!)
Kamijō se encaminhou de forma barulhenta até a cozinha. Apenas restava lixo estragado em sua geladeira, então dar isso para ela não machucaria sua carteira. Ele decidiu que tudo ficaria bem desde que a comida fosse aquecida. Ele colocou tudo restante na frigideira e fez algo semelhante a vegetais salteados.
(Pensando nisso, de onde veio essa garota?)
Claro, haviam estrangeiros na Cidade Acadêmica. Entretanto, ela não tinha o "cheiro" característico de um habitante da cidade. Mas também era estranho que pessoas de fora entrassem na cidade.
A Cidade Acadêmica era tratada como uma cidade feita de centenas de escolas, mas seria mais correto pensar nela como um internato do tamanho de uma cidade. Ela era grande o suficiente para cobrir um terço de Tóquio, mas ela era cercada por uma muralha como a Grande Muralha da China. Ela não era tão estrita como uma prisão, mas ainda assim não era o tipo de lugar que você podia simplesmente entrar e sair.
...Ou pelo menos era assim que parecia ser. Na realidade, três satélites lançados para experimentos de uma faculdade técnica estavam constantemente monitorando a cidade. Cada pessoa que entrava ou saía da cidade era completamente escaneada e se alguma pessoa suspeita que não estivesse no banco de dados no portão fosse detectada, membros da Anti-Skill ou da Judgement de todas as escolas iriam intervir imediatamente.
(Mas aquela garota elétrica invocou aquela nuvem de raios ontem. Isso pode ter escondido ela dos satélites.)
"Então, por que você tava pendurada para secar na minha varanda?" Kamijō perguntou à garota enquanto colocava molho de soja no prato semelhante a vegetais salteados que ele estava fazendo com intenções puramente maliciosas.
"Eu não tava pendurada pra secar."
"Então o que você tava fazendo? Foi pega pelo vento e veio parar aqui em cima ou algo do tipo?"
"...Algo do tipo."
Kamijō havia dito aquilo como uma piada e parou de mover a frigideira para encarar a garota.
"Eu caí. Eu estava tentando de pular de um telhado para o outro."
(Telhado?)
Kamijō olhou para o teto.
Dormitórios estudantis baratos estavam alinhados naquela área. Mais do mesmo tipo de prédios de oito andares estavam enfileirados e uma olhada para a varanda mostrava que existia um vão de dois metros entre os prédios. Era verdade que um pulo com impulso poderia te levar de um telhado para o outro, mas...
"Mas são oito andares? Um passo errado e você cai direto pro inferno."
"É, e você nem consegue uma sepultura se você cometer suicídio," disse Index enigmaticamente. "Mas eu não tinha escolha. Não tinha outra maneira de escapar."
"Escapar?"
Kamijō franziu a testa para aquela palavra sinistra.
"Sim," disse Index como uma criança. "Eu estava sendo perseguida."
"..."
A mão de Kamijō que estava balançando a frigideira quente parou de se mover mais uma vez.
"Eu pulei corretamente, mas aí fui baleada nas costas no meio do ar." A garota que se chamava de Index parecia estar sorrindo. "Desculpa, parece que eu acabei caindo na sua varanda."
Ela deu um sorriso puro na direção de Kamijō Tōma sem mesmo um sinal de autodepreciação ou sarcasmo.
"Você foi baleada...?"
"Sim? Ah, você não precisa se preocupar com um ferimento. Essa roupa também funciona como uma barreira defensiva."
O que ela queria dizer com "barreira defensiva"? Era à prova de balas?
A garota deu uma voltinha como estivesse mostrando suas roupas novas e ela certamente não parecia ferida. Kamijō teve de se perguntar se ela realmente havia sido baleada. A ideia de que ela estava delirando ou inventando essa história parecia ser mais realista.
Mas...
Havia o fato de que ela realmente estava pendurada em sua varanda no sétimo andar.
Se, hipoteticamente, tudo que ela disse era verdade...
Quem havia atirado nela?
Kamijō pensou.
Ele pensou sobre o quão determinada uma pessoa precisaria estar para pular pelos telhados de prédios de oito andares. Ele também considerou o quão sortuda ela era por ter caído na sua varanda no sétimo andar. E ele pensou sobre o significado oculto do fato de que ela havia desmaiado.
Ela disse que estava sendo perseguida.
Ele pensou sobre o significado do sorriso no rosto de Index quando ela disse isso.
Kamijō não sabia em que circunstâncias Index se encontrava e ele não havia entendido as poucas coisas que ela havia dito. Possivelmente, ele apenas entenderia metade das coisas se Index explicasse tudo do inicio ao fim e ele possivelmente não teria noção de como começar a entender a outra metade.
Mesmo assim, uma verdade permanecia.
Com um aperto em seu peito, ele entendeu o fato de que ela havia caído em sua varanda no sétimo andar quando um passo em falso poderia tê-la mandado diretamente ao asfalto.
"Comida."
A cabeça de Index surgiu por trás de Kamijō. Apesar de falar japonês, ela não devia estar acostumada a usar hashis, pois ela estava segurando eles como uma colher enquanto encarava excitadamente a frigideira.
Seus olhos eram como os de um gatinho que havia sido resgatado de uma caixa de papelão em um dia chuvoso.
"..................................................................Ah."
Kamijō colocou a comida que não era nada além de lixo na frigideira para fazer algo como vegetais salteados (venenosos).
Por alguma razão, o Kamijō Anjo dentro dele (que normalmente estava acompanhado do Kamijō Demônio) estava se contorcendo terrivelmente ao ver a garota faminta.
"Ahh! J-já sei! Se você realmente está faminta, que tal a gente ir pra um restaurante ao invés de comer essa refeição horrível feita por um cara com as sobras!? A gente pode até pedir por telefone!"
"Eu não posso esperar tanto."
"... Ah...kh!"
"E ela não é horrível. Você fez essa comida pra mim sem cobrar nada por ela. Ela tem que ser boa."
Pela primeira vez, ela deu um sorriso brilhante digno de uma freira.
O estômago de Kamijō sentiu como se ele estivesse sendo espremido como um esfregão. Index o ignorou, usando os hashis em seu punho para colher os conteúdos da panela para sua boca.
Nhac nhac.
"Viu? Tá bom."
"...Ah, tá?"
Nhoc nhoc.
"Foi legal você ter colocado um sabor azedinho pra me ajudar a recuperar as forças."
"Geh! Tá azedo!?"
Chomp chomp.
"É, mas tudo bem. Obrigada. Você é parece um irmão mais velho ou algo do tipo."
Ela apresentou um largo sorriso. Ela estava comendo com um coração tão puro que um caroço de feijão estava em sua bochecha.
"...Gh...Uuwhaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhh!"
Na velocidade do som, Kamijō agarrou a panela. Index parecia incrivelmente descontente, mas Kamijō jurou em seu coração que ele seria o único a ir para o inferno.
"Você também tá com fome?"
"...Hã?"
"Se não estiver, eu gostaria que você me deixasse comer o resto."
Quando Kamijō viu Index olhando para ele com olhos levemente irritados enquanto mastigava na ponta de seus palitos, Kamijō recebeu uma revelação divina.
Deus estava lhe dizendo para assumir a responsabilidade e comer tudo sozinho.
Isso não tinha nada haver com azar, isso foi algo que ele mesmo provocou.
Parte 3
Kamijō Tōma encheu a boca com o lixo aquecido e sorriu.
"Mhh," murmurou a garota se chamando de Index com reclamação em seu rosto enquanto ela mordiscava um biscoito. A maneira que ela segurava o pequeno biscoito com ambas as mãos fez com que ela parecesse um pouco com um esquilo.
"Ok, você disse que estava sendo caçada. Caçada por quem?"
Tendo retornado do Nirvana, Kamijō mais uma vez perguntou sobre o maior problema na história da garota.
Ele não ia seguir uma garota que ele havia acabado de conhecer há menos de trinta minutos até as profundezas do inferno. Entretanto, era provável que já fosse tarde demais para nada acontecer com ele.
(Acabou que eu vou ter que fazer teatrinho,) Kamijō pensou, usando seu termo pessoal pra fingir ser legal.
Ele sabia que isso não ia levar a lugar algum, mas ele ainda queria se confortar dizendo que "pelo menos ele tentou".
"Ah..." ela começou com a garganta levemente seca. "Quem era...? Talvez tenha sido a Rosacruz ou a S∴M∴ conhecida também como Stella Matutina. Eu acho que era um grupo desses, mas eu ainda não sei qual. ...Eles não são do tipo que se anunciam por aí."
"Eles?" Kamijō perguntou fracamente.
Aparentemente, ela estava sendo caçada por um grupo ou uma organização.
"Sim," Index respondeu de uma maneira surpreendentemente calma. "Uma sociedade mágica."
..............................................................................
"Ahn? Mágica? Ah... Que!? Isso é loucura!!"
"Ah? M-meu japonês saiu errado? Eu quis dizer mágica. Uma Cabalá Mágica."[8]
"..." Ouvir em inglês não ajudou muito. "O que? Você tá falando de algum culto perigoso que diz que aqueles que não acreditam no líder do culto vai receber uma punição divina e aí eles te dão LSD pra fazer lavagem cerebral? Isso é ruim em mais de uma maneira."
"...Você tá tirando sarro da minha cara?"
"...Foi mal mas não dá, eu simplesmente não consigo aceitar que mágica seja real. Eu posso conhecer todos os tipos de poderes sobrenaturais como Pirocinese e Clarividência, mas eu não consigo aceitar a existência de magia."
"...?"
Index parecia confusa.
Ela possivelmente esperava que um crente na ciência iria negar qualquer coisa sobrenatural existisse nesse mundo.
Entretanto, a mão direita de Kamijō carregava um poder sobrenatural.
Ele se chamava Imagine Breaker e ele podia negar até mesmo os sistemas de deuses que eram vistos em mitos em um único golpe, contanto que fosse um poder que excedesse as regras naturais do mundo.
"Habilidades especiais são bem comuns aqui. O seu cérebro pode ser 'desenvolvido' com a injeção de drogas nas suas veias, com estímulos de eletrodos fixados no seu pescoço e ao ouvir ritmos tocados através de fones de ouvido. Tudo pode ser explicado com a ciência, então é natural aceitar isso, né?"
"...Eu não entendi."
"É normal! É completamente normal e é perfeitamente normal. Dizer três vezes é o suficiente!?"
"...Mas e mágica? Mágica é normal..."
Index murmurou como se alguém tivesse insultado seu gato de estimação.
"Hmm... Olha o janken, por exemplo... Pera, janken é conhecido no mundo todo?"
"...Eu acho que isso se chama pedra-papel-tesoura no lugar de onde eu venho, mas eu sei o que é isso."
"Ok, se você jogar janken dez vezes seguidas e perder todas as vezes, teria algum motivo por trás disso?"
"...Mh."
"Não teria, né? Mas é da natureza humana achar que tem," disse Kamijō de forma desinteressada. "Você iria pensar que não tem como você continuar perdendo desse jeito. Você assumiria que tem alguma regra por trás disso que você não consegue ver. E assim que você começa a pensar desse jeito, o que acontece quando você começa a adicionar coisas como horóscopos?"
"...Algo do tipo: 'se você é de Câncer, então você está com azar e não deveria tentar entrar em competições'?"
"Isso. Essa é a verdadeira identidade do oculto. Sorte é só a gente sonhando sobre essas regras invisíveis. Enquanto a realidade é algo patético como coincidência, nossos corações inventam algum tipo de inevitabilidade grandiosa. Assim é o oculto."
Por um momento, Index franziu o cenho como um gato incomodado, mas então ela disse, "Então você não negou magia sem pensar."
"Isso. E é por que eu pensei nisso seriamente que eu posso ver que essas historinhas pra boi dormir são pura balela. Eu não posso acreditar em magos de um livrinho infantil. Se a gente pudesse reviver os mortos com o custo de de um pouco de PM[9], ninguém estaria desenvolvendo esses poderes científicos. Eu simplesmente não consigo acreditar no oculto que não tem conexão com a realidade da ciência."
Ele sentiu que as pessoas apenas viam as habilidades como estranhas e misteriosas por que elas eram idiotas.
O fato de que aqueles poderes podiam ser explicados cientificamente era senso comum naquela cidade.
"...Mas mágica existe," Index disse fazendo beicinho.
Provavelmente, isso era como um pilar apoiando seu coração. Semelhante ao Imagine Breaker de Kamijō.
"Que seja, por que eles estão te caçando?"
"Mágica existe."
"..."
"Mágica existe!"
Ela parecia decidida em querer que ele aceitasse isso.
"E-então, o que é mágica? Você pode soltar fogo das suas mãos sem passar pelo Curriculum? Se for isso, eu gostaria de ver. Assim eu acreditaria em você."
"Eu não tenho poderes mágicos, então eu não posso usar magia."
"..."
Kamijō sentiu que ele tinha se deparado com um daqueles usuários de habilidade que diziam não poder dobrar uma colher com seus poderes por que a câmera presente estava sendo distrativa.
Ao mesmo tempo, um sentimento um tanto quanto complexo preencheu seu coração.
Ele estava insistindo que o oculto não existia e que mágica era algo ridículo, mas ele não sabia nada sobre o Imagine Breaker que morava em sua mão direita. Como ele funcionava e o que estava acontecendo que ele não podia ver? A Cidade Acadêmica era o ápice do desenvolvimento de habilidades do mundo, mas até mesmo o System Scan[10] não podia analisar seu poder, então ele havia sido marcado como um Level 0.
Ele era um poder que ele possuía desde o nascimento, não um que ele havia obtido através do Curriculum.
Ele estava insistindo que o oculto não existia e ainda assim, ele era parte do oculto que ignorava as regras.
Mas ainda assim, ele não ia aceitar a lógica ridícula de que mágica podia existir só por que havia coisas estranhas no mundo.
"...Mágica existe."
Kamijō suspirou.
"Ok. Vamos supor que mágica existe."
"Supor?"
"Se isso existe," Kamijō continuou a falar, ignorando a garota. "Por que eles estão atrás de você? Tem alguma coisa haver com o jeito que você está vestida?"
Kamijō estava se referindo ao hábito extravagante que Index estava vestindo, feito de seda branca e bordados de linhas douradas. Em outras palavras... "Isso tem haver com a igreja?"
"...É por que eu sou o Index.[11]"
"Hein?"
"Eles possivelmente estão atrás dos 103.000 grimórios que eu carrego."
..............................................................................
"...De novo, eu não entendi nada."
"Por que você parece perder toda motivação sempre que eu explico algo? Você é uma pessoa volúvel?"
"Hm, bora revisar. Eu não tenho certeza o que são esses grimórios que você mencionou, mas eu imagino que seja como um livro. Algo como um dicionário?"
"É. O Livro de Eibon, a Chave Menor, Cultos Indescritíveis, Cultos de Carniçais, e o Livro dos Mortos[12] são bons exemplos. O Necronomicon é tão famoso que tem vários tipos de imitações e falsificações, então ele não é muito confiável."[13].
"Eu não me importo muito com o conteúdo."
Ele queria adicionar, "por que, no fim das contas, é tudo baboseira inventada", mas ele se conteve.
Ao invés disso, ele perguntou, "E aí? Cadê esses 100.000 livros?"
Ele se recusou a recuar nesse ponto. Cento e três mil livros eram o suficiente para encher uma biblioteca inteira.
"Você quer dizer que tem a chave pra o lugar onde eles estão guardados?"
"Não." Index balançou a cabeça. "Eu tenho cada um dos 103.000 grimórios comigo."
"Hein?" Kamijō franziu o cenho. "Pessoas burras não conseguem ver eles ou algo do gênero?"
"Mesmo que você não fosse estúpido, você não poderia ver eles. Qual seria o ponto se você pudesse vê-los sempre que quisesse?"
As palavras de Index eram tão removidas da realidade que Kamijō sentiu que ele era o alvo de uma piada. Ele olhou ao redor, mas não podia ver nenhum livro velho e empoeirado que poderia ser um grimório. Tudo que ele viu espalhado no chão eram revistas de jogos, mangás e o dever de casa do verão que ele havia jogado num canto.
"Que...?"
Até agora ele havia se forçado a escutar aquela história, mas agora ele não conseguia aguentar ela.
Ele começou a se perguntar se ela estava meramente imaginando que estava sendo perseguida por alguém. Se ela havia saltado do telhado do oitavo andar, calculado errado e caído na sua varanda por causa de um delírio, ela não era alguém que ele queria envolvimento.
"Acreditar em habilidades mas não acreditar em mágica não faz sentido" Index disse fazendo beicinho. "Essas habilidades são tão boas assim? Não tá certo caçoar das pessoas só por que você tem algum tipo de poder especial."
...
"É..." Kamijō deu um pequeno suspiro. "É, você tem razão. É errado achar que você é melhor que os outros só por que você consegue fazer uns truquezinhos."
O olhar de Kamijō caiu para sua mão direita.
Fogo e raios não sairiam dali. Ela não iria criar nenhum raio de luz ou explosões, e nenhuma marca estranha iria aparecer em seu pulso.
Entretanto, sua mão direita ainda podia negar todos os tipos de poderes sobrenaturais. Não importava se o poder fosse bom ou mal ou até mesmo os sistemas de deuses vistos em mitos.
"Olha, pra as pessoas que vivem nessa cidade, o poder que eles têm é como uma parte de suas personalidades, então você provavelmente deveria ser um pouco compreensiva sobre isso. Na verdade, eu também sou um desses usuários de habilidades."
"É mesmo, idiota? Hmpf. Vocês poderiam simplesmente dobrar colheres com suas mãos ao invés de sair por aí bagunçando os cérebros das pessoas."
"..."
"Hmpf, hmpf. O que tem demais num cara que rejeitou seu lado natural pra se pintar artificialmente? Hmpf."
"...Você não se importaria se eu calasse a sua boca e esse seu orgulho ridículo, né?"
"E-eu não me rendo a terrorismo. Hmpf," Index disse como se fosse um gato incomodado. "D-de qualquer forma, você disse que é um usuário de habilidade, mas o que você faz?"
"Erh... Bem, quando você coloca desse jeito..."
Kamijō não tinha certeza do que dizer.
Ele não tinha que explicar seu Imagine Breaker para as pessoas com frequência. Aliás, já que ele só reagia a poderes sobrenaturais, ele não podia ser explicado sem o conhecimento do sobrenatural ou de habilidades.
"É essa minha mão direita, saca? Ah, e no meu caso não foi através de drogas; Eu tenho isso desde o meu nascimento."
"Entendi."
"Se eu tocar nele com a minha mão direita, qualquer tipo de poder sobrenatural vai ser negado. Isso vale pra bolas de fogo no nível de bombas atômicas, canhões eletromagnéticos táticos ou até mesmo os sistemas de Deus."
"Ah?"
"Por que você tá com uma cara de quem viu uma pedra milagrosa que trás boa sorte em uma revista?"
"Mas você nem mesmo sabe o nome de Deus e ainda assim acabou de dizer que poderia negar Seus milagres." Em surpresa, Index cutucou o ouvido com o dedo mindinho e deu uma risada de escárnio.
"...Kh. I-isso é irritante. Eu odeio quando uma garota mágica falsa que diz que mágica existe mas não consegue provar fica rindo de mim."
Esse murmúrio da alma de Kamijō Tōma pareceu ter incomodado Index.
"E-eu não sou falsa! Mágica realmente existe!"
"Então me mostra alguma coisa, garota fantasiada! Você não vai acreditar no meu Imagine Breaker até eu destruir sua magia com a minha mão direita de qualquer jeito. Cai dentro, sua lunática!"
"Tá, aí vou eu!" Index jogou as mãos pra cima de maneira agitada. "Aqui! Essas roupas! Elas são a barreira defensiva de maior qualidade conhecida como Igreja Ambulante!"
Index abriu os braços para mostrar o hábito de freira branco como uma xícara de porcelana.
"Igreja Ambulante? Que? Você não tá fazendo sentido algum! Não é muito legal da sua parte ficar usando esses termos técnicos incompreensíveis como Index e barreira defensiva, sabia? Explicar as coisas significa contar as coisas a alguém que não entende elas de um jeito simples o suficiente para as pessoas entenderem. Você não entende isso!?"
"Qu-? Como você ousa dizer isso quando você nem tá tentando entender!?" Index balançou seus braços com raiva. "Tá, só acredita vendo, né? Pega uma faca lá na cozinha e me apunhala na barriga!!"
"Te apunhalar!? Isso vai acabar nos jornais com a chamada 'isso tudo começou com uma discussão trivial' ou algo do tipo?"
"Ah, você não acredita em mim." Os ombros de Index subiram e desceram enquanto ela respirava pesadamente. "Essa roupa tem o mínimo de componentes necessários para formar uma igreja, para que sejam uma igreja em forma de roupas. A forma como o pano é tecido, a forma como os fios são são costurados, a forma como os bordados a enfeitam... É tudo calculado. Uma faca não vai nem arranhá-la."
"É, tá bom. Que tipo de idiota iria concordar em te esfaquear? Ele teria que ser um tipo sem precedentes de criminoso juvenil."
"Você vai parar de zombar de mim? Isso é uma cópia exata do Sudário de Turim, o pano que cobriu o santo que foi perfurado pela Lança de Longuinho,[14] então sua força é da classe papal. Eu acho que você diria que isso é como um abrigo nuclear. Ele desvia ou absorve qualquer ataque, seja ele físico ou mágico. Eu te disse que eu caí na sua varanda depois de ser baleada, não foi? Eu teria um buraco gigante em mim se não fosse pela Igreja Ambulante. Você entende agora?"
(Cala a boca, idiota.)
O medidor de apreciação de Kamijō em relação a Index caiu rapidamente e ele encarou suas roupas brancas com desprezo.
"...Hmm. Então se isso realmente é um poder sobrenatural, então ela seria despedaçada se eu a tocasse com minha mão direita?"
"Sim, mas só se o seu poder for real. Heh heh heh."
"Perfeito!!" gritou Kamijō enquanto ele agarrava o ombro de Index.
Como se ele tivesse agarrado uma nuvem, ele sentiu um sensação estranha como se o impacto estivesse sendo absorvido por uma esponja macia.
"Espera... Hein?"
Kamijō esfriou a cabeça e pensou.
E se tudo que Index estivesse dizendo fosse verdade (mesmo que isso fosse improvável) e essa Igreja Ambulante fosse costurada com poderes sobrenaturais?
Negar o poder sobrenatural iria desfazer a roupa?
"Hãããããããããããhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!?"
Kamijō gritou instintivamente por causa da premonição repentina que ele teve sobre ele estar prestes a subir alguns degraus na escadaria para a vida adulta. Mas...
...
...
...?
"Ahhhhhhh? ...Huh?"
Nada aconteceu. Nada mesmo.
(Ah, qual é? Não faz eu me preocupar desse jeito.)
Kamijō simplesmente não podia aguentar.
"Viu? O que foi aquilo tudo sobre o seu Imagine Breaker mesmo? Nada aconteceu. Heh heh."
Index colocou as mãos nos quadris e estufou seu peito pequeno com orgulho.
Mas no instante seguinte, suas roupas se despedaçaram como os laços de um presente.
Todos os fios que costuravam seu hábito de freira se desfizeram de maneira fluida, transformando tudo em meros pedaços de pano.
O capuz devia ser um item isolado por que ele permaneceu intacto. Ter apenas a cabeça coberta parecia ter tornado tudo mais doloroso.
A garota congelou, ainda com as mãos nos quadris e seu pequeno peito estufado com orgulho.
Resumindo, ela estava completamente nua.
Parte 4
Aparentemente, a garota se chamando de Index tinha o costume de morder as pessoas quando ela estava irritada.
"Ai... Eu tô todo mordido. Você é algum tipo de mosquito?"
"..."
Ele não teve resposta.
Index estava nua e enrolada em um lençol. Ela estava estava sentada com as pernas dobradas para os lados enquanto (inutilmente) tentava consertar sua roupa arruinada, prendendo pinos de segurança nos pedaços do hábito de freira.
O efeito sonoro "dooon" parecia preencher o lugar.
E não era porque de um usuário de Stand[15] havia atacado.
"...Hm, princesa? Talvez seja pretensioso da minha parte, mas eu tenho uma camisa e calças que você pode vestir."
"..."
Ela o encarou com violência em seus olhos.
"...Hm, princesa?"
(Que tipo de personagem ela tá interpretando?)
"...Que foi?" ela respondeu quando ele a chamou de novo.
"A culpa é toda minha."
A única resposta que ele recebeu foi o seu relógio sendo arremessado em sua direção.
"Ih!" Kamijō gritou enquanto seu travesseiro também voava em sua direção.
Pra tornar as coisas ainda mais ridículas, seu videogame e um pequeno rádio também foram arremessados.
"Como você pode falar normalmente comigo depois de ter feito algo como aquilo!?"
"Ahh, não! Foi um evento chocante pra mim também. Mas assim é a juventude!"
"Você tá zombando de mim... Uuuuuuuuhhhhhh!!"
"Ok... Desculpa, desculpa! Não morde esse DVD alugado como se ele fosse feito de pano, sua idiota!"
Kamijō Tōma se ajoelhou no chão, colocou suas mãos em sua frente e curvou-se, encostando a testa nas costas das mãos, como se isso fosse um tipo de piada.
Lá no fundo, Kamijō sentiu como se seu coração estivesse sendo esmagado pelas mãos de alguém por ter visto uma garota sem roupas pela primeira vez.
Entretanto, Kamijō Tōma não era o tipo de pessoa que mostrava suas emoções em seu rosto.
...Ou pelo menos foi o que ele pensou, mas ele ficaria bem surpreso com o que ele veria se olhasse num espelho.
"Terminei."
Soprando pelo nariz de forma triunfante, Index mostrou o branco hábito de freira que, de alguma forma, havia retomado sua forma original depois daquele infernal trabalho no estilo "faça você mesmo".
Dezenas de pinos de segurança brilharam ao longo do hábito.
"...............................................................(suor)"
"Hm... Você vai vestir isso?"
"...............................................................(silêncio)"
"Você vai vestir essa dama de ferro?"[16]
"...............................................................(lágrimas)"
"Em japonês, a gente chama isso de virgem de ferro."[17]
"...Uuuuuuhhhhhh!!"
"Tá bom, tá bom!" Kamijō pediu desculpas dando uma cabeçada no chão com toda a sua força.
Enquanto isso, Index o encarava como uma criança intimidada e estava prestes a mastigar o cabo de força da televisão. Ela era algum tipo de gato malcriado?
"Eu vou vestir isso! Eu sou uma freira!!"
Kamijō não tinha certeza se isso fazia algum sentido, mas Index começou a se trocar por baixo do cobertor enrolado, a fazendo parecer uma lagarta num casulo. Sua cabeça era a única coisa visível para Kamijō, e o rosto da garota estava tão vermelho quanto uma bomba.
"Ahh, isso me lembra de quando a gente tem que se trocar pra as aulas na piscina da escola."
"...Por que você tá olhando pra mim? Pelo menos olha pro outro lado."
"E faz diferença? Comparado com o que aconteceu antes, ver você se trocando não é tão excitante assim."
".................................................................."
Index parou de se mover repentinamente, mas quando Kamijō não pareceu notar, ela desistiu e continuou a se trocar dentro do cobertor. Ela estava tão focada no que estava acontecendo lá dentro que ela não notou que seu capuz caiu de sua cabeça.
A atmosfera constrangedora de um elevador silencioso tomou o quarto.
A mente de Kamijō começou a fugir da realidade, mas então o termo "aulas de reforço" flutuou em sua mente.
"Ah! É mesmo! Eu tenho aulas de reforço!" Kamijō olhou as horas em seu celular. "Hm... Eu tenho que ir pra a escola, então o que você vai fazer? Se você vai ficar por aqui, eu posso te dar uma chave."
A opção de simplesmente expulsar ela do seu apartamento havia desaparecido de sua mente.
Já que a Igreja Ambulante do hábito de freira da Index havia reagido ao Imagine Breaker, ela claramente tinha alguma conexão com o sobrenatural. Isso significava que nem tudo que ela havia dito para ele era mentira.
Era possível que ela realmente tivesse caído do telhado porque estava sendo perseguida por magos.
Era possível que ela realmente continuaria participando de um jogo mortal de pega-pega.
Era possível que feiticeiros de um livro infantil, ou algo insano desse jeito, realmente estavam correndo soltos pela cidade da ciência onde teorias sobre usuários de habilidade existiam.
E mesmo que essas coisas não fossem verdade, ele não queria simplesmente abandonar Index.
"...Tá certo. Eu vou embora."
Entretanto, Index levantou-se e fez um anúncio dramático. Ela então passou pelo lado de Kamijō como um fantasma. Ela não pareceu ter notado que seu capuz havia caído. Mas se Kamijō tentasse pegá-lo, ele provavelmente seria rasgado em pedaços.
"E-ei..."
"Hm? Não, não é que eu não queria ficar." Index se virou. "Se eu ficar, eles possivelmente virão atrás de mim. Você não quer que esse quarto exploda, quer?"
Aquela resposta entregue de forma suave deixou Kamijō sem fala.
Enquanto Index saia pela porta da frente lentamente, Kamijō correu desajeitadamente atrás dela. Ele queria fazer algo, então ele olhou em sua carteira e descobriu que ele apenas tinha 320 ienes[18] sobrando. Ele correu atrás de Index para dar o pouco que ele tinha, mas seu dedo mindinho do pé bateu na quina da porta na velocidade do som enquanto ele tentava sair do apartamento.
"Bh...yah! Gyaahhh!!"
Enquanto Kamijō segurava seu pé e gritava de maneira esquisita, Index se virou em choque. Enquanto Kamijō se contorcia de dor, seu celular caiu de seu bolso. No exato momento em que ele percebeu isso, a tela de LCD do aparelho atingiu o chão e ele ouviu o crack de um golpe fatal.
"Uuuuhhhh! Q-que azar."
"Eu diria que isso foi falta de cuidado, não azar," Index disse com um leve sorriso. "Mas se esse Imagine Breaker é real, isso pode acabar sendo inevitável."
"...Como assim?"
"Isso é relacionado ao mundo da magia, então eu duvido que você acredite em mim," Index disse com uma risadinha. "Mas se a proteção divina de Deus e o fio vermelho do destino[19] realmente existem, sua mão direita não negaria todas essas coisas também?" Index sacudiu seu hábito de freira coberto de pinos de segurança e adicionou, "Afinal, o poder dessa Igreja Ambulante era uma benção de Deus."
"Espera. O que a gente chama de sorte e azar são apenas uma questão de probabilidade e estatísticas. Isso que você tá falando é completamente—!"
No segundo em que ele disse isso, o dedo de Kamijō tocou a maçaneta da porta e ele tomou um choque de estática elétrica.
"Que—!?" ele gritou enquanto seu corpo contraiu-se por reflexo.
O jeito incomum em que seus músculos se moveram resultaram em uma cãibra em sua panturrilha direita.
"~ ~!!"
A agonia o deixou incapacitado por aproximadamente seiscentos segundos.
".................................Hm, irmã?"
"Sim?"
".................................Explica, por favor."
"Não tem muito pra ser explicado," disse Index como se isso fosse óbvio. "Se o que você diz sobre sua mão direita é verdade, então simplesmente ter ela é o suficiente para negar continuamente o poder da sorte."
".................................Isso quer dizer o que eu acho que isso quer dizer?"
"Simplesmente por estar presa ao seu corpo, sua mão direita está te causando azar todos os dias♪"
"Gyaaaaaaaaahhhhhhhhh!! M-mas que azaaaaaaaaaaaaaaaar!!"
Kamijō não acreditava no oculto, mas as coisas eram diferentes quando se tratava do seu azar. Independente do seu esforço, tudo que Kamijō tentava fazer dava errado, ao ponto dele sentir que o próprio universo estava jogando contra ele.
Enquanto isso, uma freira de branco olhava para ele com o sorriso da Virgem Maria.
Em seus olhos estava o que as pessoas chamavam de "olhar convidativo".
"O azar de verdade não seria ter nascido com esse poder?♪"
A freira sorridente trouxe lágrimas aos olhos de Kamijō e ele finalmente percebeu que a conversa havia se desviado do tema principal.
"E-ei, deixa isso pra lá! Você tem algum lugar pra ir depois daqui? Eu não sei qual é a sua situação, mas você pode se esconder aqui se esses magos ou o que quer que eles sejam estiverem por perto."
"Se eu ficar aqui, os inimigos virão."
"Como você pode ter certeza? Se você ficar no meu quarto e não chamar atenção, eles não devem te achar."
"Não é verdade." Index puxou a roupa em seu peito. "Essa Igreja Ambulante funciona usando poder mágico. Parece que a igreja chama isso de 'poder divino', mas é a mesma coisa. Resumindo, o inimigo parece estar procurando pelo poder mágico da Igreja Ambulante."
"Então por que você tá usando isso se essa roupa é um tipo de rastreador?"
"Eu te disse que o poder defensivo dela é da classe papal, lembra? ...Mas a sua mão direita rasgou ela toda."
"..."
"Mas você rasgou ela inteirinha."
"Eu pedi desculpas, então não me olha com essa cara de choro! ...Mas o Imagine Breaker destruiu essa Igreja Ambulante, né? Essa função de rastreador não deveria ter sido destruída junto?"
"Mesmo que tenha sido, eles vão saber que a Igreja Ambulante foi destruída. Como eu disse antes, seu poder defensivo é da classe papal. Resumindo, é tipo uma fortaleza. Se eu fosse o inimigo, eu apareceria quando essa fortaleza fosse destruída, seja lá qual for a razão."
"Espera um segundo. Isso aí é mais um motivo pra eu não te deixar ir. Eu ainda não acredito no oculto, mas se alguém está atrás de você, eu não posso permitir que você vá."
Index olhou para ele fixamente.
Daquele jeito, ela verdadeiramente parecia uma garota completamente normal.
"...Então você me seguiria até as profundezas do inferno?"
Ela sorriu.
Era um sorriso tão triste que Kamijō ficou sem palavras por um instante.
Index havia usado palavras gentis para implicitamente dizer: "Não venha atrás de mim."
"Não se preocupe. Eu não estou só. Se eu puder chegar até a igreja, eles vão me acolher."
"...Hmm. E onde é que tá essa igreja?"
"Em Londres."
"Isso é longe demais! Como é que você vai chegar até lá!?"
"Hm? Ah, não se preocupe. Eu acho que tem algumas filiais no Japão," Index respondeu enquanto seu hábito de freira que parecia o resultado do trabalho de uma esposa injustiçada balançou com o vento.
"Uma igreja, hm? Deve ter uma aqui na cidade."
Para Kamijō, o termo "igreja" invocava o imaginário de um grande salão para casamentos, mas os exemplos no Japão eram um tanto patéticos. Pra começo de conversa, a cultura tinha pouco haver com o Cristianismo e um país com terremotos frequentes tinha poucos prédios históricos. As igrejas que Kamijō tinha visto pelas janelas de trens eram pequenas construções pré-fabricadas com uma cruz no telhado. Ele tinha a sensação de que ele estava errado em pensar que aquelas eram igrejas propriamente ditas.
"Ah, mas não pode ser qualquer igreja. Tem que ser uma na vertente britânica que eu faço parte."
"???"
"Hm, tem vários tipos diferentes de Cristianismo," Index disse com um sorriso amargo. "Primeiro, tem a distinção entre os estilos antigos no Catolicismo e os estilos novos no Protestantismo. E aí, enquanto eu pertenço a um estilo Católico, tem vários tipos deles também. Por exemplo, tem a Igreja Católica Romana[20] centralizada no Vaticano, a Igreja Ortodoxa Russa[21] sediada na Rússia, e a Igreja Anglicana com o núcleo na Catedral de São Jorge em Londres.
"...E o que acontece se você acidentalmente ir pra a igreja errada?"
"Eles me rejeitariam," Index disse com o mesmo sorriso amargo. "A Igreja Ortodoxa Russa e a Igreja Anglicana existem primariamente dentro de seus respectivos países, então igrejas Anglicanas são raras no Japão."
"..."
As coisas não pareciam estar indo numa boa direção.
Era possível que Index havia tentado ir de igreja em igreja antes de cair de fome? Como ela havia se sentido enquanto fugia e fugia enquanto era rejeitada em cada igreja em que ela buscava abrigo?
"Não se preocupe, eu só tenho que continuar correndo até encontrar uma igreja na vertente britânica."
"..."
Por um instante, Kamijō pensou no poder em sua mão direita.
"Ei! ...Se você tiver qualquer problema, você pode voltar pra cá."
Era tudo que ele podia dizer.
Ele tinha o poder de matar até mesmo Deus, e ainda assim isso era tudo que ele podia dizer.
"Tá. Eu volto se eu senti fome."
Seu sorriso brilhante era tão perfeito que Kamijō não pode dizer nada em resposta.
E então, um robô de limpeza passou por eles, tendo que sair de sua rota para não bater em Index.
"Hyah!?"
Aquele sorriso perfeito foi desfeito em um instante. Index pulou como se ela tivesse uma cãibra em sua perna e tropeçou para trás. Com o som de uma pancada terrível, sua cabeça bateu na parede atrás dela.
"~ ~ ~ ~! E-esse treco esquisito apareceu do nada!"
Os olhos de Index estavam marejados, mas ela esqueceu completamente de colocar as mãos no machucado, preocupando-se apenas com a coisa em sua frente.
"Não fica apontando e chamando isso de esquisito. É só um robô de limpeza."
Kamijō deu um suspiro.
Seu tamanho e formato eram semelhantes ao de um tambor de óleo. Ele tinha três pequenos pneus no fundo e um esfregão circular que girava ao seu redor similar àqueles limpadores de estrada. Ele tinha câmeras para poder evitar as pessoas e outros obstáculos, então eles eram um tanto odiados pelas garotas vestindo mini-saias.
"...Entendi. Eu tinha ouvido falar que o Japão era o líder em desenvolvimento tecnológico, mas eu não sabia que vocês tinham feito Agathions mecanizados."[22]
"Oi?" Kamijō estava um pouco assustado com o quão impressionada Index parecia. "Essa é a Cidade Acadêmica. Você pode encontrar essas coisas em todos os lugares da cidade."
"Cidade Acadêmica?"
"Sim. É uma cidade que foi feita depois de comprarem toda a área ocidental de Tóquio onde o desenvolvimento tinha desacelerado. O nome vem do fato de que tem dezenas de universidades e centenas de escolas nela." Kamijō suspirou. "Oitenta por cento dos moradores são estudantes, então todos os prédios de apartamentos que você encontrar são dormitórios estudantis."
Ele omitiu o fato de que a cidade tinha uma face oculta onde habilidades e corpos sobrenaturais eram desenvolvidos juntamente aos estudos.
"É por isso que a cidade é um pouco estranha. A cidade tá cheia de experimentos de universidades como o descarte automatizado de resíduos de cozinha, as turbinas eólicas que funcionam bem o suficiente para serem práticas e os robôs de limpeza como esse aqui. Graças a tudo isso, o nosso nível de cultura tá cerca de vinte anos à frente de qualquer outro lugar do mundo."
"Hm." Index cuidadosamente examinou o robô de limpeza. "Então todos os prédios aqui são parte da Cidade Acadêmica?"
"É, eu acho que seria melhor você sair dessa cidade se você estiver procurando por uma igreja Anglicana. Todas as igrejas daqui provavelmente são instituições de ensino para Teologia ou Psicologia Jungiana."
"Hm."
Index acenou e finalmente levou uma mão à nuca, onde ela havia batido na parede.
"Hyah!? Q-que? Meu capuz sumiu!?"
"Ah, você só percebeu agora? Ele caiu mais cedo."
"Hyah?"
Com "mais cedo", Kamijō queria dizer "quando você estava se trocando", mas Index pareceu ter interpretado isso como "quando você tropeçou por causa do susto com o robô de limpeza". Ela começou a procurar no chão ao seu redor e um sinal de interrogação surgiu em cima de sua cabeça.
"Ah, já sei! Aquele Agathion elétrico!"
Ainda confundindo as coisas, ela correu atrás do robô de limpeza e desapareceu na curva do corredor.
"...Ah, o que é que tá acontecendo?"
Kamijō olhou para a porta do seu quarto onde o capuz de Index estava e então para o corredor. Index havia sumido de vista. Não havia ocorrido nenhuma despedida, seja ela triste ou de outro tipo.
(Desse jeito, eu sinto que ela vai sobreviver mesmo que o mundo seja destruído.)
Ele não tinha nenhuma prova disso, mas, de qualquer forma, esse foi o pensamento que lhe ocorreu.
Parte 5
"Ok, eu tenho uma apostila para vocês. Sigam por ela enquanto a gente participa dessas aulas de reforço."
Mesmo depois de passar um trimestre inteiro naquela turma, Kamijō ainda não conseguia acreditar.
A professora da sala da Turma 7 do 1º Ano, Tsukuyomi Komoe, era um professora ridícula que era tão baixa que apenas sua cabeça podia ser vista quando ela ficava atrás da própria mesa.[23] A professora "criança" era um dos sete mistérios da escola, ela tinha 1,35m de altura, havia uma lenda sobre ela ter sido impedida de entrar numa montanha-russa por causa de regras de segurança, e ela era idêntica a uma garotinha de 12 anos que deveria carregar uma flauta doce, usar um capacete amarelo e se equipar com um randoseru[24] vermelho.
"Eu não vou impedir que vocês conversem entre si, mas vocês precisam me ouvir também. Eu me esforcei muito pra fazer esse questionário, então quem se sair mal vai ter que passar por um teste de Pôquer Vendado."
"Sensei, esse não é aquele que você joga pôquer com uma venda!? Isso é parte do Curriculum pra Clairvoyance![25] E eu ouvi dizer que você não pode ir embora a não ser que você vença dez vezes seguidas mesmo sem poder ver as cartas, então a gente não ficaria preso aqui até amanhã de manhã!?" protestou Kamijō Tōma.
"Ah, mas Kamijō-chan, você não tem pontos de desenvolvimento o suficiente, então você vai fazer o teste de Pôquer Vendado de todo jeito."
"Ugh," Kamijō ficou sem palavras quando encarado com o sorriso de vendedor de sua professora.
"...Mhh. Saquei. Komoe-chan te acha tão fofo que ela não pode se segurar, Kami-yan," disse o representante de classe (masculino) de cabelo azul e com um brinco[26] que estava sentado ao lado de Kamijō.
"...Você não sente a malícia vindo das costas daquela professora enquanto ela se estica pra alcançar o quadro-negro?"
"Que foi? Qual o problema em ter uma professora tão fofa quanto ela te dando um esporro por errar todo o questionário? Ser abusado fisicamente por uma criancinha como ela te dá muitos pontos de experiência, Kami-yan."
"Eu sabia que você era um lolicon,[27] mas você também é um masoquista!? Você não tem salvação!!"
"Ah hah! Não é que eu gosto de lolis! Eu também gosto de lolis!!"
Kamijō quase gritou "Você é onívoro!?", mas ele foi interrompido.
"Vocês dois aí! Se vocês disserem mais uma palavra, vocês vão ter que jogar o Ovo de Colombo."
Como esperado, o Ovo de Colombo envolvia equilibrar um ovo de ponta-cabeça numa mesa sem usar suportes. Aqueles especializados em Telekinesis[28] podiam impedir que o ovo virasse quando eles se esforçavam ao ponto de quase romper os vasos sanguíneos em seus cérebros. (Era um desafio extremamente difícil porque o ovo podia quebrar se a Telekinesis fosse muito poderosa.) Como no exemplo anterior, você ficaria preso lá até a manhã do dia seguinte se não pudesse completar a tarefa.
Kamijō e Azulão encararam Tsukuyomi Komoe enquanto se esqueciam como se respirava.
"Ok?"
Seu sorriso era bastante assustador.
Enquanto Komoe-sensei amava ser chamada de "fofa", ela ficava incrivelmente zangada quando chamada de "pequena".
Entretanto, ela não parecia se importar com alunos a olhando de cima para baixo. Parte disso era algo que ocorria naturalmente na Cidade Acadêmica. A cidade era uma verdadeira Terra do Nunca onde mais de oitenta por cento da população era composta de estudantes. A oposição aos professores era dura mesmo quando comparada com uma escola normal e, acima de tudo, a "força" de um aluno era baseada tanto em sua habilidade acadêmica quanto no seu poder.
Os professores eram aqueles que desenvolviam os alunos, mas os próprios professores não tinham poderes. Alguns, como os professores de Educação Física e orientadores, pareciam fazer parte de uma equipe estrangeira por que eles tinham que treinar monstros do Level 3[29] com seus próprios punhos, mas seria cruel esperar isso de uma professora de química como Komoe.
"...Ei, Kami-yan."
"Que é?"
"Você ficaria excitado recebendo uma bronca da Komoe-sensei?"
"Eu não sou você! Só cala a boca, seu idiota! Se a gente tiver que brincar com um ovo cru apesar de não ter Telekinesis, a gente vai ficar as férias de verão inteiras aqui! Se você entendeu, fica de bico fechado com esse teu dialeto de Kansai[30] falso!"
"Falso... N-n-n-n-n-não chama ele de falso! Eu realmente sou de Osaka!"
"Xiu. Eu sei que você é de uma região de arroz.[31] Eu tô mal-humorado, então não me faz ter que bancar o escada."
"E-e-eu não sou de uma região de arroz! Ah. A-ahhh! Como eu amo takoyaki."[32]
"Para de se forçar nesse papel de morador da região de Kansai! Você vai ficar trazendo takoyaki pro lanche também?"
"Do que você tá falando? Nem todo mundo de Osaka só come takoyaki, né?"
"..."
"Né? Eu acho que isso tá certo... Não! Pera! Mas...mas, é... mas... hein? Eu esqueci?"
"Você tá saindo do personagem, Sr. Kansai Falso," Kamijō disse antes de suspirar e olhar pela janela.
Ele sentiu que deveria estar ao lado de Index neste momento, ao invés de lidar com essa aula de reforço sem sentido.
A Igreja Ambulante que a freira vestia realmente tinha reagido à mão direita de Kamijō (apesar de que "reagir" possa ser um eufemismo), mas isso não significava que ele acreditava em mágica. Provavelmente, a maioria das coisas que Index contou era mentira, e mesmo que ela não estivesse mentindo, ela podia ter simplesmente se pensado que alguns fenômenos naturais eram na verdade parte do oculto.
Mesmo assim...
(Eu acho que o peixe que escapa sempre parece grande.)
Kamijō suspirou mais uma vez. Se a alternativa era ficar preso nessa mesa numa sala de aula que mais parecia uma sauna sem ar-condicionado, se aventurar numa fantasia de espadas e mágica parecia melhor. E ele até tinha uma heroína fofa (ele estava um pouco hesitante em chamá-la de linda) pra o acompanhar.
"..."
Kamijō lembrou-se do capuz que Index havia esquecido em seu quarto.
No fim das contas, ele não o devolveu. Ele não viu aquela situação como ele sendo incapaz de devolver o capuz. Mesmo que Index tivesse desaparecido, ele provavelmente a encontraria se ele começasse a procurar. E mesmo que ele não tivesse devolvido o capuz, ele ainda podia correr pela cidade procurando por ela com ele em uma das mãos.
Pensando nisso, ele percebeu que ele queria algum tipo de conexão. Ele sentiu que ela podia voltar um dia.
Por que aquela garota branca havia lhe mostrado um sorriso tão perfeito...
Ele sentia que ela poderia desaparecer como uma ilusão se ele não criasse um tipo de conexão.
Ele teve medo.
(...Ah, então era isso.)
Após passar por aqueles pensamentos levemente poéticos, Kamijō finalmente percebeu algo.
No fim das contas, ele não havia odiado a garota que havia caído em sua varanda. Ele tinha gostado dela o suficiente pra a ideia de nunca mais vê-la deixá-lo com uma leve pontada de arrependimento.
"...Ah, droga."
Ele estalou a língua. Com o tanto que ela estava pesando em sua mente, ele desejou ter impedido que ela fosse embora.
(Parando pra pensar, o que foi aquilo sobre 103.000 grimórios?)
Index havia dito que a cabalá mágica que estava perseguindo ela (cabalá era algum tipo de corporação?) parecia estar a caçando porque eles queriam aqueles 103.000 grimórios. E aparentemente, Index estava fugindo com aqueles 103.000 grimórios em sua posse.
Não era uma chave ou um mapa para o local de armazenamento de todos esses livros.
Quando Kamijō havia perguntado onde estavam todos aqueles livros, ela simplesmente respondeu: "Eu tenho cada um deles comigo." Entretanto, depois de tudo que Kamijō viu, ela não carregava um único livro. De qualquer forma, o quarto de Kamijō não era grande o suficiente para guardar cem mil livros.
"...O que é que foi tudo aquilo?"
Kamijō inclinou a cabeça para o lado em indagação. Já que a Igreja Ambulante de Index havia reagido ao Imagine Breaker, o que ela estava falando não era puramente um delírio. Mas...
"Sensei? Kamijō-kun tá observando as saias das garotas do time de tênis pela janela."
O dialeto de Kansai forçado de Azulão imediatamente trouxe o foco de Kamijō de volta para a sala de aula.
"..."
Komoe-sensei se calou.
Ela parecia ter ficado bastante chocada pelo fato de que Kamijō Tōma-kun não estava focado na aula. Ela tinha a mesma expressão que uma garotinha de doze anos que acabou de descobrir a verdade sobre o Papai Noel.
Assim que esse pensamento o atingiu, Kamijō Tōma foi perfurado pelos olhares hostis de seus colegas de classe que desejavam proteger os direitos humanos daquela "criança".
- ♦
Apesar de elas serem chamadas de aulas de reforço, eles ficaram presos lá até o horário em que todos os estudantes deveriam ir para casa.
"...Que azar," murmurou Kamijō ao olhar para as três pás de uma turbina de vento brilhando no por do sol. Qualquer tipo de vida noturna na cidade era proibida, então os últimos ônibus e trens da Cidade Acadêmica estavam programados para sair quando os alunos estivessem saindo de suas escolas.
Kamijō havia perdido o último ônibus, então ele estava caminhando penosamente ao longo do escaldante distrito comercial que parecia nunca acabar. Um robô de segurança passou por ele enquanto isso. Ele também era um tambor com rodas e ele funcionava como uma espécie de câmera de segurança móvel. Originalmente eles eram como cães robôs melhorados, mas crianças costumavam fazer aglomerações ao redor deles, bloqueando seu caminho. Por esse motivo, todos os robôs de trabalho haviam sido transformados em tambores de todos os tamanhos.
"Ah, maldito, aí está você! Espera aí...pera! Você! Eu tô falando com você! Para!!"
O calor do verão havia fritado Kamijō, então ele apenas encarou o lento robô de segurança e pensou sobre como Index havia corrido atrás de um robô de limpeza. Finalmente, ele percebeu que aquela voz estava chamando-o.
Ele se virou para entender o que estava acontecendo.
Era a garota do ensino fundamental. Seu cabelo castanho na altura dos ombros brilhava como vermelho-fogo no por do sol e seu rosto estava ainda mais vermelho. Ela vestia uma saia plissada cinza, uma blusa de manga curta e um suéter de verão... Aí, ele repentinamente percebeu quem ela era.
"...Ah, é você de novo, Biribiri[33] do fundamental."
"Não me chama de Biribiri! Eu tenho um nome! É Misaka Mikoto! Por que você não aprende isso de uma vez!? Você tá me chamando de Biribiri desde que a gente se conheceu!"
(Desde que a gente se conheceu...?) Kamijō tentou se lembrar. (Ah, sim.)
Quando eles se conheceram, ela estava cercada de delinquentes assim como ontem. Enquanto os rapazes aproximavam-se dela, ele pensou que eles estavam tentando roubá-la e então resolveu dar uma de Urashima Tarō.[34] Entretanto, por algum motivo, foi a garota que se irritou, dizendo, "Cala a boca! Não vai se metendo nas brigas dos outros! Biribiri!" Quando Kamijō bloqueou o Biribiri dela com sua mão direita e ela respondeu com um "Hein? Por que isso não funcionou? E que tal isso? Hein?" uma coisa levou à outra, e as coisas terminaram no estado atual.
"...Hã? Quê? Eu não tô triste, então por que estou chorando, mãe?"
"Por que você tá com esse olhar distante?"
Kamijō estava exausto por causa da aula de reforço, então ele decidiu não pensar muito em como lidar com a garota Biribiri.
"A garota encarando Kamijō com uma expressão atordoada é a garota Railgun de ontem. Ela ficou tão frustrada por perder uma lutinha que ela continuou aparecendo de novo e de novo, chamando Kamijō para uma revanche."
"...Pra quem você tá explicando isso?"
"Ela é obstinada e odeia perder, mas na verdade ela é uma pessoa solitária que está encarregada em cuidar da mascote da turma."
"Não vai colocando coisas estranhas no cenário!!"
A garota, Misaka Mikoto, sacudiu seus braços e todo foco na rua foi atraído para ela. Isso não era tão surpreendente. O uniforme de verão completamente normal que ela vestia era o uniforme da Escola Tokiwadai de Ensino Fundamental,[35] uma das cinco escolas de elite mais prestigiadas da Cidade Acadêmica. Por algum motivo, as garotas explosivamente refinadas de Tokiwadai pareciam se destacar até mesmo numa estação de trem na hora do rush, então qualquer um ficaria surpreso ao ver uma delas sentada no chão mexendo no celular como uma pessoa normal.
"E o que você quer, Biribiri? Na verdade, por que você tá usando seu uniforme durante as férias de verão? Você tem aulas de reforço?"
"Gh...Ca-cala a boca."
"Você ficou preocupada com o coelho da turma?"
"Eu disse pra você parar de colocar essas coisas de animais! Aliás, hoje eu vou fazer você se contorcer como pernas de sapos ligados em eletrodos, então vai preparando seu testamento e sua herança!"
"Acho que não vai rolar."
"Por que não!?"
"Por que eu não tô encarregado em cuidar da mascote da minha turma."
"Ora seu... Para de tirar onda com a minha cara!!"
A garota do fundamental pisou forte nos ladrilhos da calçada.
Ao mesmo tempo, um barulho imenso saiu dos celulares das pessoas andando na área. Além disso, a transmissão dos telões do distrito comercial também foi cortada e um barulho terrível veio dos robôs de segurança.
O som crepitante de estática elétrica veio do cabelo da garota.
Aquela garota Level 5 que podia usar uma Railgun com nada além de seu próprio corpo sorriu tanto que seus caninos ficaram a mostra como se ela fosse uma fera.
"Hmf. O que achou? Isso mudou sua opinião covarde? ...Mgh!"
Numa tentativa desesperada de cobrir a boca dela, a mão de Kamijō cobriu o rosto inteiro de Misaka Mikoto.
(Si-silêncio. Por favor, cala a boca! Os celulares de todo mundo foram fritados e eles não parecem felizes!! Se ele descobrirem que foi a gente, eles vão fazer a gente pagar e eu não faço ideia do quanto custa um telão!!)
Devido seu encontro recente com aquela freira de cabelo prateado, Kamijō rezou com todas as suas forças ao deus em quem ele normalmente só pensava na época do Natal.
Suas preces devem ter chegado ao céu, pois ninguém se aproximou de Kamijō e Mikoto.
(Graças a deus.)
Kamijō deu um suspiro de alívio (enquanto continuava a sufocar Mikoto).
"Mensagem, mensagem. Erro Nº 100231-YF. Ondas eletromagnéticas ofensivas em violação às leis de rádio detectadas. Mau funcionamento do sistema detectado. Como isso é um possível terrorismo cibernético, evite usar aparelhos eletrônicos."
Imagine Breaker e Railgun se viraram hesitantemente.
Um tambor estava virado de lado na calçada, esfumaçando enquanto falava para si mesmo de maneira incoerente.
Logo em seguida, o robô de segurança começou a soar um alarme agudo.
Naturalmente, eles correram.
Eles entraram num beco, chutaram um balde de plástico e assustaram um gato preto enquanto continuavam sua corrida.
(Parando pra pensar, eu nem fiz nada errado. Por que eu tô fugindo com ela?)
Mesmo depois de pensar isso, ele continuou correndo. Afinal, ele havia visto num talk show que esses robôs de segurança custavam 1,2 milhões de ienes[36] cada.
"Uuhh...Mas que azar. Por que eu sempre me envolvo nos problemas dela?"
"O que você tá querendo dizer!? E meu nome é Misaka Mikoto!"
Os dois finalmente tinham parado num beco de um beco de um beco. Um dos prédios enfileirados devia ter sido demolido pois uma área retangular havia aparecido ali. Parecia um lugar bom para jogar basquete.
"Ah, cala essa boca, Biribiri! Você já destruiu todos os meus aparelhos eletrônicos com aquele raio de ontem! O que mais você quer!?"
"É culpa sua por me irritar!"
"Eu nem sei do que você tá com raiva! Eu nunca nem toquei em você!"
Depois daquilo, Mikoto havia atacado Kamijō com tudo que ela tinha, e Kamijō havia bloqueado tudo com sua mão direita. O arsenal dela não acabava com aquela Railgun. Ela podia manipular pó de ferro para criar um espada de metal que também funcionava como um chicote, mandar poderosas ondas eletromagnéticas para bagunçar seus órgãos internos, e ela podia acabar com tudo puxando um verdadeiro raio diretamente dos céus.
Mas nada disso era páreo para Kamijō Tōma.
Contanto que fosse um poder sobrenatural, Kamijō Tōma podia negar.
"Você continuou vindo com tudo pra cima de mim e se cansou! Não use seus poderes demais e depois me culpe quando não tiver força o suficiente pra continuar, Biribiri!"
"~~!!" Mikoto rangeu os dentes. "A-aquilo não valeu. Não pode valer! Você nunca me atacou! Foi um empate!!"
"Ah...Tá, tá. Você venceu. Te socar não vai consertar meu ar-condicionado."
"Gah...! P-pera! Leva isso a sério!!" Mikoto gritou enquanto sacudia os braços.
Kamijō suspirou.
"Você tem certeza que quer que eu leve isso a sério?"
"Ah..." Mikoto se interrompeu.
Kamijō cerrou levemente o punho direito e então o abriu novamente. Um suor frio começou a escorrer pelo corpo de Misaka Mikoto por causa daquela simples ação. Ela congelou, incapaz de sequer recuar.
Mikoto não sabia qual era o verdadeiro poder de Kamijō, então Kamijō era verdadeiramente um terror desconhecido para ela por ter selado todos os seus trunfos sem nem mesmo suar a camisa.
Não era tão surpreendente. Kamijō Tōma havia recebido os ataques de Misaka Mikoto por mais de duas horas seguidas sem receber um único arranhão. Era natural da parte dela questionar o que aconteceria se ele levasse as coisas a sério.
Kamijō suspirou e desviou o olhar.
Como se as cordas prendendo-a tivessem sido cortadas, Mikoto finalmente deu alguns passos tortos para trás.
"...Do que mais eu posso chamar isso além de azar?" Kamijō estava chocado com o quão assustada ela estava. "Primeiro os meus eletrodomésticos foram fritados, depois apareceu aquela suposta maga, e agora eu encontro a usuária de habilidade Biribiri de tarde."
"Maga? Hein?"
"..." Kamijō parou por um momento. "É... É isso que eu quero saber."
Normalmente, Mikoto teria gritado "Você tá me zoando!? Sua cabeça é tão confusa quanto seu poder!?" e então feito Biribiri. No entanto, ela estava pulando de susto toda vez que ele olhava em sua direção.
Tinha sido um blefe para enganar ela, mas ele havia se sentido mal com o quão efetivo ele tinha sido.
(Afinal, o que era aquela história de magos?)
Kamijō havia se lembrado dos eventos daquela manhã. Aquela freira branca havia usado aquela palavra com naturalidade, mas agora que ele pensava nisso, o termo era definitivamente algo removido da realidade.
(Eu me pergunto por que não pareceu tão estranho quando Index estava por perto.)
Havia algo misterioso ali que havia feito aquilo parecer mais crível?
"...Pera, no que eu tô pensando?" murmurou Kamijō ignorando completamente aquela Biribiri chamada Misaka Mikoto que estava tremendo de medo como um cachorrinho.
Ele tinha cortado laços com Index e o mundo em que ela vivia. O mundo era um lugar grande, então era improvável que ele esbarrasse com ela de novo por mera coincidência. Pensar sobre magos não tinha sentido.
Apesar disso, ele não conseguia tirar aquilo da cabeça.
Ele ainda tinha aquele capuz branco que ela havia esquecido em seu quarto.
Aquela conexão restante continuou a cutucar irritantemente os cantos de sua mente.
Nem mesmo Kamijō Tōma sabia por que ele estava pensando tanto nisso.
Afinal, ele tinha o poder para matar até mesmo Deus.
Parte 6
Nos tempos modernos, não dava pra comprar um gyūdon[37] grande com apenas 320 ienes.
".............................................Normal, eh?"
As garotas que alegremente comiam um bentō[38] do tamanho de uma light novel provavelmente não entenderiam, mas um garoto em fase de crescimento não conseguia ver um bentō de tamanho normal como algo além de um lanchinho.
Depois de se livrar da garota Biribiri, Kamijō tinha ido para um restaurante de gyūdon para comer seu "lanche". Com apenas trinta ienes[39] sobrando (incluindo impostos), ele se aproximou do prédio de seu dormitório após o por do sol.
O lugar parecia deserto.
Era o primeiro dia das férias de verão, então todo mundo devia estar se divertindo na cidade.
O prédio parecia com um prédio padrão de kitnets. Fileiras de portas se alinhavam ao longo de corredores numa das paredes. O corrimão de metal não tinha coberturas de plástico impedindo que pessoas espiassem debaixo da saia de garotas, pois este era um dormitório masculino.
As portas de entrada encaravam a rua e as sacadas eram construídas no lado oposto, em outras palavras, nos vãos entre os prédios.
A entrada do prédio tinha uma trava automática, mas a distância entre prédios era de apenas dois metros. Qualquer um podia invadir o dormitório pulando de telhado para telhado como Index havia feito naquela manhã.
Kamijō passou pela entrada com trava automática, passou pelo depósito conhecido como o quarto do supervisor do dormitório e entrou no elevador. O elevador era mais apertado e sujo do que um elevador de carga de uma fábrica, e o botão "C", indicando a cobertura, estava bloqueado com uma pequena placa de metal para impedir os Romeus e as Julietas de passarem as noites lá.
Com um ding parecido com o de um forno micro-ondas, o elevador parou no sétimo andar.
Kamijō empurrou a porta que travou ao abrir e saiu para o corredor. Ele estava no sétimo andar, mas não tinha vento e parecia estar mais quente e abafado do que antes.
"Hm?"
Kamijō finalmente percebeu algo. Seguindo o corredor, bem na frente de sua porta, três robôs de limpeza estavam reunidos. Ver três deles era raro. Pra começo de conversa, ele tinha quase certeza que apenas cinco deles trabalhavam naquele dormitório.
Do jeito em que eles estavam tremendo para frente e para trás, eles pareciam estar limpando uma bagunça terrível.
Por algum motivo, Kamijō teve uma intensa premonição de azar.
Cada um daqueles robôs tinha poder o suficiente para arrancar chiclete mascado preso ao chão, então o que estava sendo trabalhoso para três? Kamijō estremeceu ao pensar na possibilidade de seu vizinho, Tsuchimikado Motoharu, ter ficado bêbado enquanto agia feito um delinquente para perder a virgindade e então vomitado em quantidades absurdas, usando a porta de Kamijō como um poste telefônico.
"O que aconteceu...?"
As pessoas tinham uma tendência infeliz de querer ver coisas terríveis.
Depois de dar alguns passos para frente no automático, ele finalmente viu.
A misteriosa garota chamada Index havia desmaiado de fome.
"...............................................................Ahh."
Ele não conseguia ver ela por inteiro por causa dos robôs, mas alguém vestindo um hábito de freira branco coberto em pinos de segurança estava claramente deitado com a cara no chão.
Mesmo que os robôs de limpeza estivessem se chocando contra ela, Index não estava se mexendo. Fazia-a parecer ainda mais patética, como se ela estivesse sendo bicada por corvos da cidade. Pra início de conversa, os robôs de limpeza eram programados pra evitar as pessoas e outros obstáculos, então por que ela estava sendo tratada como lixo por aquelas máquinas?
"...Eu acho que isso também é azar."
Kamijō Tōma teria se surpreendido se visse seu próprio rosto num espelho naquele momento. Ele tinha um grande sorriso em seu rosto.
No fundo ele esteve preocupado. Ele podia não ter acreditado naquela história sobre magos, mas era possível que um culto estivesse caçando a garota por aí.
Ele estava feliz em ver ela em seu estado natural(?).
E mesmo ignorando essas preocupações, ele simplesmente estava feliz em vê-la de novo.
Kamijō então se lembrou daquilo que ela tinha esquecido: o capuz branco que ele não havia devolvido. Ele achou estranho ver aquele capuz como um tipo de amuleto.
"Ei! O que você tá fazendo aqui?"
Ele a chamou e correu até ela.
(Por que correr até lá tá fazendo eu me sentir como uma criancinha que não consegue dormir na noite anterior a uma viagem? Por que cada passo que eu dou me passa a sensação de que eu tô indo pra uma loja no dia de lançamento de um RPG dos grandes?)
Index ainda não tinha percebido ele.
Kamijō Tōma se impediu de sorrir por aquilo ser muito "a cara da Index".
E então ele finalmente notou que Index estava deitada em uma poça de sangue.
"...Ah...?"
A primeira coisa que ele sentiu foi confusão, não choque.
Ele não tinha visto antes por causa dos robôs de limpeza no caminho. Como ela estava deitada com a cara no chão, ele conseguia ver um corte horizontal na parte inferior das suas costas. O ferimento era de uma lâmina, mas ele era tão reto que parecia que alguém havia usado uma régua e um estilete. As pontas de seu cabelo prateado que caia à altura da cintura haviam sido cortadas e aquele cabelo prateado havia sido tingido de vermelho pela substância vermelha saindo da ferida.
Por um momento, Kamijō foi incapaz de compreender que aquilo era sangue humano.
A diferença na realidade entre o momento anterior e o momento seguinte mandou seus pensamentos para o espaço. Vermelho...vermelho...ketchup? Teria Index usado o restante de suas forças para beber ketchup antes de desmaiar de fome? Com essa figura agradável em mente, Kamijō quase sorriu.
Ele quase sorriu, mas ele no fim não conseguiu.
Não tinha como ele sorrir.
Os três robôs de limpeza continuaram a se mover pra frente e pra trás, fazendo ruídos metálicos a cada colisão. Eles estavam limpando a mancha no chão. Eles estavam limpando a substância vermelha que se espalhava no chão. Eles estavam limpando a substância vermelha que saía do corpo de Index. Como o ato de limpar uma ferida com um trapo sujo, eles estavam drenando tudo de dentro do corpo de Index.
"Pa...rem. Parem! Droga!!"
Os olhos de Kamijō finalmente retomaram foco na realidade. Ele desesperadamente agarrou um dos robôs de limpeza reunidos ao redor da Index gravemente ferida. Os robôs foram construídos com um peso inacreditável e desnecessário para prevenir roubos e eles tinham bastante potência de locomoção, então ele falhou em afastá-los dela.
Claro, os robôs de limpeza estavam apenas limpando a mancha que continuava a se espalhar no chão, então eles não estavam tocando o ferimento de Index. Ainda assim, Kamijō viu eles como insetos reunidos em volta de uma ferida podre.
E ainda assim, ele estava tendo dificuldades em mover um daqueles robôs pesados e poderosos, quem dirá três? Enquanto seu foco estava em um deles, os outros dois iriam se livrar da mancha.
Ele devia ter o poder capaz de matar até mesmo deus.
E ainda assim, ele era incapaz de tirar esses brinquedos do caminho.
Index não disse nada.
Seus lábios roxos e pálidos estavam tão imóveis que ele não tinha certeza se ela estava respirando.
"Droga, droga!!" Kamijō gritou em confusão. "O que aconteceu? O que aconteceu, porra!? Caralho! Quem foi o desgraçado que fez isso com você!?"
"Hm? Fomos nós, os magos."
A voz que vinha detrás dele não era de Index.
E foi exatamente por isso que Kamijō girou o corpo inteiro como se ele fosse socar a pessoa. Um homem estava parado lá, ele tinha vindo do...não, não do elevador. Parecia que ele tinha vindo da escadaria de emergência próxima ao elevador.
O homem branco tinha mais de dois metros de altura, mas seu rosto parecia mais jovem que o de Kamijō.
Sua idade era...provavelmente quatorze ou quinze anos, assim como Index. Sua altura era característica de estrangeiros. Suas roupas eram...uma versão completamente preta dos hábitos vestidos por padres nas igrejas. Entretanto, era improvável que você encontrasse alguém que chamaria aquele homem de padre, mesmo que você rodasse o mundo inteiro.
Podia ser por que ele estava contra o vento, mas Kamijō conseguia sentir o cheiro do perfume nauseantemente doce dele apesar dele estar a mais de quinze metros de distância. Seu cabelo loiro na altura dos ombros havia sido tingido de vermelho como o por do sol, anéis prateados brilhavam em seus dez dedos como se ele estivesse usando um soco-inglês, ele tinha brincos venenosos em suas orelhas, uma alça de celular podia ser vista em um de seus bolsos, um cigarro aceso movia-se no canto de sua boca, e pra finalizar, ele tinha uma tatuagem semelhante a um código de barras debaixo de seu olho direito.
Não dava pra o chamar de padre, mas também não dava pra o chamar de delinquente, para ser preciso.
O ar ao redor de onde aquele homem estava parado no corredor era claramente estranho.
Era como se a área estivesse sendo governada por regras completamente diferentes das que Kamijō havia usado até aquele ponto. Aquela sensação estranha se espalhou na área como tentáculos gelados.
O que Kamijō sentiu primeiro não foi medo nem raiva.
Foi confusão e desconforto. Era uma solidão desesperadora, como se sua carteira tivesse sido roubada em um país no qual ele não conhecia a língua. O a sensação de "tentáculos gelados" se espalhou pelo seu corpo e congelou seu coração, mas então Kamijō percebeu algo.
Isso é um mago.
Este se tornou um mundo diferente onde coisas estranhas como magos existem.
Ele podia dizer com confiança.
Ele ainda não acreditava em magos...
Mas ele podia dizer que este era definitivamente um habitante de um lugar além do mundo em que ele vivia.
"Hm? Hm, hm, hm. Ela pegou ela de jeito." O mago olhou ao redor e o cigarro no canto de sua boca balançou enquanto ele falava. "Eu soube que a Kanzaki cortou ela, mas isso... Eu achei que não havia motivos para me preocupar pois não tinha um rastro de sangue..."
O mago olhou para os robôs de limpeza reunidos atrás de Kamijō Tōma.
Possivelmente, Index havia sido "cortada" em outro lugar e conseguido escapar até aqui com vida antes de desmaiar. Ela devia ter deixado um rastro de sangue fresco no caminho, mas os robôs de limpeza haviam coberto seu rastro.
"Mas...por que?"
"Hm? Você pergunta por que ela voltou pra cá? Quem sabe. Talvez ela tenha esquecido algo. Parando pra pensar, ela estava com seu capuz quando eu atirei nela ontem. Ela o perdeu em algum lugar?"
O mago parado na frente de Kamijō havia dito "voltou".
Em outras palavras, ele havia seguido os passos de Index durante todo o dia. E ele sabia que ela havia perdido o capuz de sua Igreja Ambulante.
Index havia dito algo sobre os magos procurando o poder mágico da Igreja Ambulante.
Isso significava que os magos estavam seguindo Index ao detectar o poder sobrenatural de sua Igreja Ambulante. Eles saberiam que a Igreja Ambulante havia sido destruída quando o "sinal" desapareceu...Index havia mencionado isso também.
Mas Index também deveria saber disso.
Ela tinha que saber, mas parece que ainda assim ela contou com os poderes defensivos da Igreja Ambulante.
Mas por que voltar, então? Por que ela precisava recuperar uma porção da destruída, e portanto inútil, Igreja Ambulante? A mão direita de Kamijō havia inutilizado toda a Igreja Ambulante, então não fazia sentido recuperar o capuz.
"—Então você me seguiria até as profundezas do inferno?"
De repente, tudo se encaixou.
Kamijō lembrou-se de algo. Ele nunca tocou no capuz da Igreja Ambulante que havia sido deixado em seu quarto. Em outras palavras, o capuz ainda tinha poder mágico. Ela deve ter pensado que os magos poderiam detectá-lo e ir até lá.
E então Index havia enfrentado o perigo para "voltar".
"...Sua idiota."
Não havia necessidade para fazer isso. Tinha sido a falta de tato de Kamijō que destruiu sua Igreja Ambulante, e ele havia percebido que ela havia deixado seu capuz no seu quarto e ainda assim ele o deixou lá. E acima de tudo, Index não tinha nenhuma obrigação, dever ou direito de proteger Kamijō.
Mesmo assim, ela não conseguiu evitar e voltou.
Kamijō Tōma era um completo estranho que ela conhecia há menos de meia hora.
E ainda assim ela não pode evitar, arriscou sua vida e voltou para impedi-lo de se envolver naquela luta com magos.
"Sua idiota!!"
As costas imóveis de Index o irritou por algum motivo estranho.
Index havia dito a Kamijō que seu azar era por causa de sua mão direita.
Aparentemente, sua mão direita estava negando inconscientemente até mesmo os leves poderes sobrenaturais em coisas como a proteção divina de deus e o fio vermelho do destino.
E se Kamijō não tivesse a tocado tão desleixadamente e destruído sua Igreja Ambulante, ao menos ela não teria voltado.
(Não. Essas desculpinhas não importam.)
Sua mão direita e a destruição de sua Igreja Ambulante não era a razão pela qual ela havia voltado.
Se Kamijō não tivesse desejado por aquela conexão...
Se ele tivesse devolvido o capuz caído dela naquele momento...
"Hm? Hm, hm, hm? Vamos, não olhe pra mim desse jeito." O cigarro no canto da boca do mago balançou quando ele falou. "Não fui eu que cortei ela, e eu duvido que a Kanzaki tenha planejado que isso virasse algo sangrento. A Igreja Ambulante devia ser uma defesa absoluta, afinal. Sério, ela não devia ter sido ferida por aquilo. ...Sinceramente, que tipo de reviravolta do destino fez com que aquilo fosse destruído? A não ser que o Dragão de São Jorge tenha retornado, eu não vejo como uma barreira de classe papal poderia ser destruída."
Aquela última parte ele falou para si mesmo e seu sorriso desapareceu.
Entretanto, isso foi por apenas um instante. O cigarro no canto de sua boca moveu-se para cima como se ele tivesse repentinamente lembrado-se de sorrir.
"Por que?" Kamijō perguntou apesar de não esperar uma resposta. "Por que? Eu não acredito na magia dos contos de fadas e eu não entendo magos ou o que quer que você seja. Mas não existem os tipos bons e maus entre vocês? Não existem magos que protegem coisas e pessoas?"
Ele sabia muito bem que ele não tinha o direito de ser moralista.
Quando Index saiu, Kamijō Tōma havia a deixado ir e voltou para sua vida ordinária.
E mesmo assim ele não pode evitar que as palavras escapassem de sua garganta.
"Vocês encurralaram essa garotinha, caçaram ela por todos os lugares, e então feriram ela desse jeito. Você pode dizer que é justo com essa realidade te encarando!?"
"Como eu disse, foi a Kanzaki que fez isso, não eu." O mago parou por um segundo. As palavras de Kamijō não tinham o afetado de jeito algum. "E ferida ou não, nós temos que recuperá-la."
"Recuperá-la?"
Kamijō não entendeu o que o mago quis dizer.
"Hm? Ah, entendi. Você conhecia a palavra ‘mago’, então eu assumi que você tinha sido bem informado sobre a situação. Acho que ela teve medo de te envolver." O mago exalou fumaça do cigarro. "É, temos que recuperá-la. Se bem que, tecnicamente, não é dela que precisamos; é dos 103.000 grimórios que ela possui."
...Lá estavam aqueles 103.000 grimórios de novo.
"Eu entendo. Esse país não é muito religioso, então eu acho que você não compreende," disse o mago numa voz que parecia entediada apesar dele estar sorrindo. "O Index-Librorum-Prohibitorum[40] é a lista criada pela Igreja com todos os livros malignos que vão manchar sua alma ao serem lidos. Mesmo que você anuncie que esses livros estão por aí, as pessoas ainda podem conseguir um por acidente se elas não souberem seus títulos. Então, ela se tornou algo parecido com um cadinho de livros venenosos com 103.000 desses livros. Ah, e cuidado. Ler apenas um desses livros que ela possui transformaria alguém de uma nação irreligiosa como essa num vegetal."
Apesar do que ele disse, Index não tinha consigo nenhum livro. As linhas de seu corpo eram bem visíveis naquele hábito de freira, então estaria na cara se ela estivesse escondendo algo dentro de suas vestes. Sem levar em conta que ninguém poderia andar por aí carregando cem mil livros. Isso era o equivalente a uma livraria inteira.
"D-deixa de palhaçada! E onde é que estão todos esses livros!?"
"Ah, eles estão ali. Na memória dela," o mago disse como se isso fosse óbvio. "Você sabe o que é uma Memorização Perfeita?[41] Parece ser a capacidade de memorizar tudo que você vê num instante e nunca esquecer uma única frase ou letra. Em termos leigos, ela te transforma numa escaneadora humana." O mago sorriu de maneira desinteressada. "Não tem nada a ver com o nosso oculto ou a sua ficção científica. É uma condição natural. Ela esteve no Museu Britânico, no Museu do Louvre, na Biblioteca Apostólica Vaticana, as ruinas de Pātaliputra,[42] o Castelo de Compiègne, a Abadia do Monte Saint-Michel e todos os outros lugares com grimórios que não podem ser retirados de onde estão selados. Ela roubou eles com seus olhos e armazenou eles como uma biblioteca de grimórios."
Kamijō simplesmente não podia acreditar.
Ele não conseguia acreditar na existência desses grimórios, ou que ela tinha uma Memorização Perfeita.
Mas o que importava não era se isso era correto. O que importava era que alguém acreditava que isso era verdade e havia aberto as costas de uma garota.
"Bem, ela não tem a capacidade de refinar poder mágico, então ela é inofensiva." O cigarro no canto da boca do mago moveu-se alegremente. "Mas já que essa trava foi colocada, a Igreja deve ter suas preocupações. Não que isso tenha a ver com um mago como eu. De qualquer forma, esses 103.000 grimórios são bem perigosos, então eu vim proteger ela antes que alguém que possa usá-los venha pegá-la."
"Proteger...ela?"
Kamijō Tōma estava abismado. O que aquele homem havia acabado de dizer na frente de uma cena tão sangrenta?
"É, isso mesmo. Proteger ela. Não importa o quão sensível e gentil ela seja, ela não pode resistir torturas e drogas. O mero pensamento de entregar uma garota para pessoas como eles faz meu coração doer, sabe?"
"..."
O corpo de Kamijō estava tremendo.
Não era puramente raiva. Arrepios percorreram seu braço. O homem na sua frente via suas ações como corretas. Ele vivia ignorando os próprios erros. Tudo isso combinado mandou calafrios pelo corpo de Kamijō como se ele tivesse sido enfiado numa banheira com dezenas de milhares de lesmas.
O termo "culto insano" preencheu seu cérebro.
A ideia de magos que caçavam pessoas baseados em crenças sem fundamento fez com que ele sentisse como se as terminações nervosas em seu cérebro fossem explodir.
"Porra, quem você pensa que é!?"
Sua mão direita parecia ter esquentado em resposta a sua raiva.
Seus pés que estavam plantados no chão moveram-se antes que ele sequer pensasse em mexê-los. Seu corpo espesso cheio de carne e sangue avançou contra o mago como uma bala. Ele cerrou seu punho direito com tanta força que ele sentiu que quebraria seus próprios dedos.
Sua mão direita era inútil. Ela não o ajudaria a derrotar nenhum delinquente, ela não aumentaria suas notas nos testes e ela não o faria popular com as garotas.
Mas sua mão direita podia ser muito útil. Afinal, ele podia usá-la para socar o desgraçado em sua frente.
"Eu preferiria me introduzir como Stiyl Magnus, mas pelo visto terei que ir com Fortis931."
Entretanto, o mago estava completamente imóvel com exceção do cigarro balançando no canto de sua boca.
Após murmurar algo para si, ele falou para Kamijō como se estivesse introduzindo um gato preto de estimação no qual ele tinha orgulho.
"Este é o meu nome mágico. Não está familiarizado? Parece que nós, magos, não podemos usar nosso verdadeiro nome quando usamos magia. É uma tradição antiga, então eu mesmo não a entendo."
Havia 15 metros entre eles.
Kamijō Tōma cobriu metade dessa distância com apenas três passos.
"Fortis...Eu acho que em japonês, isso seria 'o forte'. Bem, a etimologia não importa tanto assim. O que importa é que eu lhe dei o nome. Para nós, magos, isso não é exatamente um nome que usamos para praticar magia, tá mais pra..."
Kamijō Tōma deu mais dois passos no corredor.
Ainda assim, o sorriso do mago não se desfez. Ele parecia dizer que Kamijō não era um oponente digno a altura dele.
"...um nome de assassinato, eu acho."
O mago chamado Stiyl Magnus pegou o cigarro em sua boca e o jogou para o lado.
O cigarro aceso voou horizontalmente, sobre o corrimão de metal, e atingiu a parede do prédio vizinho.
Uma linha laranja se formou no caminho trilhado pelo cigarro e faíscas voaram quando ele atingiu a parede.
"Kenaz."[43]
No instante que Stiyl murmurou isso, a linha laranja explodiu.
Uma espada de fogo apareceu numa linha reta como se alguém tivesse ateado fogo numa mangueira de incêndio cheia de gasolina.
A tinta na parede lentamente mudou de cor, como uma foto sendo queimada por um isqueiro.
Ele não estava tocando as chamas, mas parecia que seus olhos estavam sendo queimados só de ver tudo isso, então Kamijō parou de correr instintivamente e ergueu suas mãos para proteger seu rosto.
Kamijō parou tão abruptamente que parecia que seus pés haviam sido pregados no chão.
Uma dúvida repentina entrou em sua mente.
Imagine Breaker podia negar qualquer tipo de poder sobrenatural com um toque. Nem mesmo a Railgun daquela Biribiri Level 5 que podia destruir um abrigo nuclear numa tacada só era uma exceção.
Mas...
Kamijō ainda não tinha visto um poder sobrenatural que não era de origem científica.
Em outras palavras, ele nunca tinha testado.
Ele nunca tinha testado o Imagine Breaker em magia.
Sua mão direita funcionaria no poder estranho conhecido como magia?
"Purisaz Naupiz Gebo."[44]
Além das mãos cobrindo seu rosto, Kamijō pôde ver o mago sorrindo.
Enquanto sorria, Stiyl Magnus brandiu a espada de chamas ardentes horizontalmente na direção de Kamijō Tōma.
No instante em que ela o tocou, ela perdeu sua forma e explodiu em todas as direções como um vulcão em erupção.
Ondas de calor, flashes de luz, barulhos explosivos e fumaça negra espalharam-se em todas as direções.
"Talvez eu tenha exagerado."
Stiyl coçou a cabeça diante do que lhe parecia o resultado de um bombardeio. Apenas para ter certeza, ele olhou ao redor para ver se alguém havia aparecido para ver o que estava acontecendo. Era o primeiro dia das férias de verão, então a maioria dos residentes do dormitório daquele garoto estariam fora. Entretanto, seria ruim se um recluso sem amigos estivesse em um dos quartos.
Ele não podia ver muito bem o que estava a sua frente por causa de uma cortina de chamas e fumaça.
Entretanto, ele não precisava checar. Aquele golpe havia criado chamas infernais de três mil graus Celsius. Em temperaturas acima de dois mil graus Celsius, o corpo humano derreteria antes mesmo de queimar, então o garoto possivelmente pareceria com um corrimão de metal que havia derretido como uma escultura de açúcar. Ele provavelmente estava espalhado pela parede do dormitório como um pedaço de chiclete.
Stiyl deu um suspiro enquanto refletia sobre sua decisão de afastar aquele garoto de Index. As coisas teriam sido um pouco mais complicadas se o garoto houvesse usado o corpo de Index como um escudo.
Mas ele não podia recuperar Index desse jeito.
Stiyl suspirou mais uma vez. A parede de chamas bloqueava seu caminho para o outro lado do corredor onde Index se encontrava. Se houvesse outra escadaria de emergência do outro lado do corredor, ele poderia chegar lá, mas a situação dificilmente seria engraçada se Index pegasse fogo enquanto ele dava a volta.
Stiyl, incomodado, balançou a cabeça e falou enquanto encarava a fumaça uma última vez como se pudesse ver além dela.
"Obrigado, ótimo trabalho, e que pena. Bem, nesse nível você não venceria nem se tentasse mil vezes."
"Você tem certeza que eu não posso vencer não importa quantas vezes eu tente?"
Por um momento, o mago congelou ao som daquela voz saindo das chamas infernais.
Com um rugido, a parede de chamas e fumaça rodou e desapareceu.
Era como se um tornado tivesse aparecido no meio das chamas e da fumaça e soprado elas para longe.
Kamijō Tōma estava lá.
O corrimão de metal havia sido derretido como uma escultura de açúcar, a tinta no chão e nas paredes havia descascado, e as lâmpadas fluorescentes haviam derretido e estavam pingando com o calor intenso, mas aquele garoto permanecia intacto no meio daquelas chamas infernais e do calor ardente.
"Sinceramente, do que eu tinha tanto medo?" disse Kamijō com os cantos de sua boca torcidos em desinteresse. "Essa é a mesma mão direita que destruiu a Igreja Ambulante da Index."
Kamijō verdadeiramente não entendia nada sobre o que era conhecido como mágica.
Ele não sabia como ela funcionava ou as mecânicas por trás dos panos. Provavelmente, ele apenas entenderia metade dela se tudo lhe fosse explicado do começo ao fim.
Mas tinha algo que até um idiota como ele sabia.
No fim, ela era apenas um poder sobrenatural.
A chama carmesim que ele havia dissipado não havia sido completamente extinguida.
Em um círculo perfeito em volta de Kamijō, as chamas ardentes continuavam a queimar. Mas...
"Sai da minha frente."
Com uma frase, Kamijō tocou nas chamas mágicas de três mil graus Celsius com sua mão direita e o resto das chamas desapareceu.
Era como se as velas de um bolo de aniversário tivessem sido apagadas de uma só vez.
Kamijō Tōma olhou para o mago parado na sua frente.
O mago ficou tão nervoso quanto qualquer ser humano normal diante essa reviravolta inesperada estaria.
Na verdade, ele era um ser humano normal.
Se você o socasse, ele sentiria dor, e se você o cortasse com uma faca barata, ele sangraria vermelho.
Ele era um mero ser humano.
As pernas de Kamijō não estavam mais travadas de medo e seu corpo não estava mais congelado de nervosismo.
Seus braços e pernas se moveram normalmente.
Ele se moveu!
"...Quê-?"
Enquanto isso, Stiyl quase deu um passo para trás em choque diante daquele fenômeno incompreensível a sua frente.
Vendo o que havia acontecido com os arredores, aquele ataque não podia ter fracassado. Isso queria dizer que aquele garoto era poderoso o suficiente para suportar três mil graus Celsius? Não, sendo esse o caso ele não seria mais humano.
Kamijō Tōma não ligou para a confusão de Stiyl.
Ele cerrou seu punho direito aquecido tão forte quanto uma pedra e deu um passo na direção de Stiyl que estava com as pernas bambas.
"Tch!!"
Stiyl balançou sua mão direita na horizontal. A espada de chamas que apareceu voou com força na direção de Kamijō.
Ela explodiu. Chamas e fumaça voaram.
Mas após as chamas e a fumaça desaparecerem, Kamijō Tōma continuava lá.
"...Ele está usando mágica?" Stiyl murmurou para si, mas imediatamente rejeitou a ideia.
Não podia haver magos naquele país que conhecia mais sobre o Natal do que sobre mágica e que apenas conhecia o Natal como um dia de encontros e sexo.
E... E também, se Index, que não tinha poderes mágicos, tivesse se unido a um mago, ela não teria precisado fugir. As memórias de Index eram perigosas desse jeito.
Aqueles 103.000 grimórios estavam num nível completamente diferente de possuir uma bomba nuclear.
Todas as criaturas vivas eventualmente morreriam, uma maçã largada de cima cairia para baixo, e 1+1=2. Você poderia pegar essas regras naturais e imutáveis do mundo, destruí-las, reescrevê-las e criar novas. Você poderia fazer com que 1+1=3, com que uma maçã largada de baixo caísse para cima e com que todas as criaturas mortas eventualmente vivessem.
Magos chamavam um ser assim de Deus Mágico.
Não o deus do reino dos demônios,[45] mas um mago que havia dominado a magia ao ponto de entrar nos domínios de um deus.
Um Deus Mágico.
Mas Stiyl não conseguia sentir nenhum poder mágico vindo do garoto em sua frente.
Ele saberia com um olhar se ele fosse um mago. O garoto não tinha o "cheiro" de alguém do mesmo mundo que ele.
Mas então por que?
"!!"
Pra esconder o tremor se espalhando por seu corpo, Stiyl criou outra espada de chamas e atacou Kamijō.
Dessa vez, ela nem ao menos explodiu.
Kamijō golpeou a espada de chamas com sua mão direita como se ela fosse uma mosca e a espada de chamas se quebrou como se fosse vidro e desapareceu no ar.
Ele estilhaçou aquela espada de chamas de três mil graus Celsius com uma mão direita que não tinha nenhum tipo de reforço mágico.
"...Ah."
Repentinamente, verdadeiramente repentinamente, algo surgiu no fundo da mente de Stiyl Magnus.
O hábito de freira de Index, a Igreja Ambulante, era de classe papal e sua proteção rivalizava uma catedral de Londres em poder. Era absolutamente impossível destruí-la a não ser que o lendário Dragão de São Jorge aparecesse.
Mas a Igreja Ambulante de Index claramente havia sido destruída já que Kanzaki havia sido capaz de corta-la.
Quem havia a destruído? E como?
"........................................................."
A essa altura, Kamijō Tōma já havia andado até Stiyl.
Com mais um passo, ele estaria perto o suficiente para socar o mago.
"MTWOTFFTO. (És a chama do grande início.) IIGOIIOF. (Um dos cinco elementos que constroem o mundo.)"[46]
Um suor desagradável começou a fluir por todo o corpo de Stiyl. Era por causa da criatura vestindo um uniforme de verão diante dele havia tomado a forma de um humano. A coluna de Stiyl tremeu com a sensação de que abaixo da pele daquele garoto não havia carne e sangue, mas algo estranho e pegajoso.
"IIBOLAIIOAE. (És a luz da graça que nutre a vida e a luz do julgamento que pune o mal.) IIMHAIIBOD. (Trazes uma felicidade serena, mas ao mesmo tempo destrói a escuridão fria.) IINFIIMS. (Teu nome é Fogo, seu papel é uma Espada.) ICRMMBGP! (Apareça, devore meu corpo e use-o como poder!)"
O hábito de padre de Stiyl estufou-se e o poder dentro dele estourou os botões em seu peito.
Com um rugido de chamas queimando o oxigênio, uma grande massa de fogo saiu de suas vestes.
Não era uma mera massa de chamas.
As ardentes chamas carmesins tinham algo preto e derretido, como óleo, em seu núcleo. Sua forma era a de um humano, mas a coisa parecia uma ave que havia sido coberta de petróleo após um incidente numa plataforma e que queimava eternamente.
Seu nome era "Innocentius".[47] Seu significado era "morte certa".
Aquele gigante deus de chamas que carregava o significado de morte certa abriu seus braços e avançou na direção de Kamijō Tōma como uma bala.
"Saia do meu caminho."
Kamijō golpeou com as costas da mão, com a atitude incomodada de quem afasta uma teia de aranha em seu caminho.
Kamijō Tōma estourou a última carta na manga de Stiyl Magnus. Como se ele tivesse furado um balão de água com uma agulha, o óleo preto em formato de humano que representava o gigante deus de chamas explodiu e se espalhou pela área.
"...?"
Kamijō Tōma não tinha um motivo real para não avançar naquele momento.
Era simplesmente por que Stiyl ainda estava parado e sorrindo apesar de sua carta na manga ter sido destruída. Aquela expressão era o suficiente para fazê-lo hesitar antes de dar um último passo descuidado.
O som de um líquido viscoso se movendo pode ser ouvido ao seu redor.
"Que—!?"
Kamijō deu um passo para trás em surpresa, as manchas pretas voltaram de todas as direções, reuniram-se no ar e então reconstruíram o formato humano.
Se Kamijō tivesse dado aquele último passo, ele certamente teria sido coberto pelas chamas em todas as direções.
A mente de Kamijō entrou em confusão por causa da cena diante de seus olhos. Se sua mão direita podia fazer o que ele sempre disse que ela podia, ela podia negar até mesmo os sistemas de deuses vistos em mitos com um único golpe. Se aquilo era o poder sobrenatural conhecido como mágica, ele devia ter sido capaz de negá-lo com aquele único toque. E ainda assim...
O óleo dentro das chamas se contorceu, mudou de forma e agora parecia estar segurando uma espada com ambas as mãos.
Não, não era uma espada. Era uma cruz gigante com mais de dois metros de comprimento, do tipo usado para crucificar pessoas.
Ele ergueu a cruz com ambas as mãos e balançou-a contra a cabeça de Kamijō como se ela fosse uma picareta.
"...!!"
Kamijō imediatamente ergueu sua mão direita para receber o impacto. Sem contar com sua mão direita, Kamijō era um simples estudante do ensino médio. Ele não tinha as habilidades de combate necessárias para ler o ataque e desviar dele.
A cruz e sua mão direita se chocaram.
Dessa vez, ela nem ao menos desapareceu. Como se ele estivesse segurando numa massa de borracha, Kamijō sentiu que iria ser o perdedor naquele confronto. Seu oponente estava usando ambas as mãos enquanto ele podia apenas usar sua mão direita. A cruz flamejante se aproximava do rosto de Kamijō, milímetro por milímetro.
Apesar de sua confusão, Kamijō conseguiu perceber uma coisa. O conjunto de chamas conhecido como Innocentius estava definitivamente reagindo ao seu Imagine Breaker. Entretanto, ele estava sendo revivido assim que era aniquilado. Possivelmente, o atraso entre a aniquilação e a ressurreição era menos do que um décimo de segundo.
Sua mão direita havia sido selada.
Se ele largasse aquela cruz, ele provavelmente seria transformado em cinzas por Innocentius no mesmo instante.
"Runas."
Kamijō Tōma ouviu algo.
Devido o perigo em sua frente, ele não pode se virar, mas ele certamente ouviu a voz de alguém.
"Os vinte e quatro caracteres usados para indicar mistérios e segredos tem sido usados como um idioma mágico por tribos germânicas desde o segundo século e são encontradas nas raízes do Inglês Antigo."
Entretanto, Kamijō não podia acreditar que aquela era a voz de Index apesar de saber que era ela.
"O qu—?"
Estando tão machucada e ensanguentada, como ela conseguia falar de maneira tão tranquila?
"Atacar Innocentius não trará resultados. A não ser que as runas cravadas nas paredes, chão e teto sejam eliminadas, ele será revivido quantas vezes forem necessárias."
Kamijō Tōma agarrou seu pulso direito com sua mão esquerda e, de alguma forma, conseguiu impedir que a cruz avançasse mais ainda.
Kamijō timidamente virou a cabeça.
De fato, a garota estava caída lá. Mas Kamijō era incapaz de chamar "aquilo" de Index. Como uma máquina, seus olhos não tinham nenhum traço de emoção.
Com cada palavra que ela falava, mais sangue saía da ferida em suas costas.
Ela ignorou isso e parecia não passar de um sistema criado para explicar magia.
"Você é... Index, né?"
"Sim. Eu sou a biblioteca de grimórios que pertence à Necessarius[48], 0ª Paróquia da Igreja Anglicana. Adequadamente, meu nome é Index-Librorum-Prohibitorum, mas isso pode ser abreviado para Index."
Com o jeito que a biblioteca de grimórios chamada Index estava agindo, Kamijō quase se esqueceu do gigante de chamas tentando matá-lo. Ele sentiu um frio vindo dela.
"Com minha introdução completa, eu vou retomar minha explicação de magia rúnica. De maneira simplificada, é como um reflexo da lua num lago durante a noite. Não importa quantas vezes você atinja a superfície do lago com uma espada, nada acontecerá. Se você quer atingir a lua na superfície do lago, você deve primeiro apontar sua espada para a lua real flutuando no céu noturno."
Após ouvir aquela explicação, Kamijō finalmente se lembrou do inimigo em sua frente.
Ela queria dizer que o que estava diante dele não era a forma verdadeira daquele poder sobrenatural? Era como uma foto e seu negativo, e que ele continuaria a se reconstruir até que ele destruísse um poder sobrenatural diferente que estava criando o deus de chamas gigante?
Mesmo assim, Kamijō não acreditou completamente nas palavras que Index estava dizendo.
O que estava acontecendo ao seu redor não importava, o senso comum de que mágica não existe se recusava a deixá-lo.
Mas com Innocentius selando sua mão direita e o impedindo de se mover, ele não podia testar nada. E seria difícil pedir a ajuda de Index devido o estado ensanguentado dela.
"Ash To Ash..."[49]
Kamijō olhou para cima em choque. De trás do gigante deus de chamas, uma espada de fogo apareceu na mão direita de Stiyl.
"...Dust To Dust..."[50]
E outra. Uma espada flamejante branco-azulada se estendeu silenciosamente de sua mão esquerda.
"...Squeamish Bloody Rood!"[51]
Com aquelas palavras cheias de poder, ele balançou as duas espadas de chamas horizontalmente para que elas cortassem o gigante deus de chamas pelos lados como uma tesoura gigante. Com sua mão direita selada por Innocentius, Kamijō não podia bloquear mais nada.
(Droga... Eu preciso fugir!!)
Antes mesmo que Kamijō Tōma pudesse gritar, as duas espadas de fogo atingiram o deus gigante de chamas e tudo virou uma enorme bomba que explodiu.
Parte 7
Quando a fumaça e as chamas desapareceram, o lugar ficou parecendo com o inferno.
Os corrimões de metal havia se contorcido como esculturas de açúcar e até mesmo os azulejos do piso haviam derretido em uma substância parecida com cola. A tinta nas paredes havia descascado e o concreto estava visível.
O garoto não estava à vista.
Entretanto, Stiyl ouviu os passos de alguém correndo no corredor do andar de baixo.
"...Innocentius," ele sussurrou e as chamas espalhadas pela área retomaram a forma humana, pularam o corrimão e seguiram os passos.
Por dentro, Stiyl estava surpreso. Nada de mais havia acontecido. Logo antes da explosão, no instante em que Stiyl havia cortado através do gigante deus de chamas com as duas espadas de fogo, Kamijō havia largado a cruz e saltado por cima do corrimão.
Enquanto ele caia, Kamijō havia agarrado o corrimão do andar inferior e se puxado para o corredor. Ele não tinha nenhuma garantia de sucesso e havia feito isso com pura coragem, então a ação havia sido bastante imprudente.
"Mas..."
Stiyl deu um sorriso gentil. Kamijō agora sabia a fraqueza das runas graças ao conhecimento dos 103.000 grimórios de Index. Como ela havia dito, a magia rúnica que Stiyl usava era ativada por gravuras cravadas. Isso também significava que se livrar das marcações também negaria sua magia mais poderosa.
"E daí?" A expressão de Stiyl não demonstrou nenhum sinal de preocupação. "Você não vai conseguir fazer isso. Pra você é completamente impossível remover as runas cravadas nesse prédio."
- ♦
"Eu! Eu realmente achei! Eu realmente achei que ia morrer lá trás!!"
Após pular por cima do corrimão no sétimo andar sem garantias de sobrevivência, o coração de Kamijō ainda estava martelando em seu peito.
Enquanto ele voava pelo corredor, ele olhou ao redor. Ele não acreditava completamente no que Index havia dito. Ele estava meramente tentando se afastar de Innocentius para poder ganhar tempo e se preparar.
"Porcaria! Mas que diabos é isso!?"
Kamijō não pode evitar gritar quando ele viu o que estava em sua frente.
Ele não precisava se perguntar onde as runas estavam cravadas naquele grande dormitório. Na verdade, ele já havia as encontrado. Elas estavam no chão, nas portas e nos extintores de incêndio. Pedaços de papel do tamanho de cartões telefônicos estavam coladas por todo o prédio como Hōichi, o Sem Orelhas.[52]
Baseando-se no conselho de Index (ele não gostava de se lembrar daquele rosto mecânico), ele adivinhou que a magia era como um sinal de interferência chamado de barreira e as runas eram como as antenas enviando o sinal. Mas ele conseguiria arrancar aquelas dezenas de milhares de "antenas"?
Com o rugido de oxigênio sendo absorvido, um fogaréu em formato humano caiu no lado oposto do corrimão de metal.
"Droga!!"
Se ele fosse pego de novo, ele não seria capaz de se livrar. Kamijō imediatamente correu para a escadaria de emergência ao seu lado. Enquanto ele descia cada vez mais, ele podia ver pedaços de papel colados nos cantos da escadaria e pelo teto com símbolos estranhos que deviam ser as runas.
Elas claramente tinham sido produzidas em massa com uma copiadora.
Kamijō quase gritou "Como é que uma cópia porca dessas funciona!?" mas então ele lembrou-se que brindes em mangás shōjo podiam ser usados como cartas de tarô e que até mesmo a bíblia era produzida em massa em gráficas.
(Sabe...o oculto não é nada justo.)
Ele queria chorar. Provavelmente dezenas de milhares daquelas "gravuras rúnicas" estavam espalhadas por todo o prédio. Ele podia encontrar todas elas? Até onde ele sabia, Stiyl podia estar colando cópias novas neste exato momento.
Como se ele quisesse cortar sua linha de raciocínio, Innocentius caiu ainda mais pela escadaria.
"Merda!"
Kamijō desistiu de continuar descendo pela escadaria e saiu para o corredor ao lado. Quando o gigante deus de fogo atingiu o chão, chamas se espalharam na área e ele avançou pelo corredor como se tivesse quicado no chão.
O corredor era reto, e Kamijō não tinha como escapar de Innocentius com pura velocidade.
"...!"
Kamijō olhou para a entrada da escada de emergência. De acordo com a placa, ele estava no segundo andar.
Com um rugido, Innocentius lançou-se para prender a mão direita de Kamijō.
"O-ooah!!"
Ao invés de usar sua mão direita ou continuar correndo, Kamijō pulou por cima do corrimão do segundo andar.
Foi só depois de pular que ele percebeu que o chão lá embaixo era asfaltado e que haviam algumas bicicletas estacionadas lá.
"Hwaaaaaaaaaahhhh!!"
Ele havia conseguido aterrissar entre duas bicicletas, mas ele ainda caiu no duro asfalto. Ele tentou dobrar seus joelhos para absorver o impacto, mas ele ouviu um som desagradável vindo de seu tornozelo. Ele só tinha pulado do segundo andar e ele não havia sentido ele quebrar, mas ele tinha machucado seu tornozelo do mesmo jeito.
Ele ouviu o rugido de chamas queimando o oxigênio vindo de cima.
"!?"
Kamijō se arrastou pelo chão, chutando bicicletas no processo, mas nada mais aconteceu.
"?"
Kamijō olhou para cima com curiosidade em seu rosto.
Ainda rugindo, Innocentius estava se segurando no corrimão do segundo andar e encarando Kamijō, que estava no chão. Era quase como se houvesse uma parede invisível impedindo que ele seguisse Kamijō.
Aparentemente, as runas haviam sido colocadas apenas no dormitório. Kamijō havia conseguido escapar das chamas de Stiyl ao sair do prédio.
Ver este aspecto das runas fez com que ele sentisse que agora sabia um pouco sobre o sistema invisível da magia. Ele não estava lutando contra um oponente ridículo como os magos num RPG que podiam fazer qualquer coisa recitando feitiços. Ao invés disso, seu oponente agia baseado num conjunto de regras semelhantes aos usuários de habilidade que Kamijō conhecia.
Ele suspirou.
Tendo se libertado de qualquer ameaça direta a sua vida, a força fugiu do corpo de Kamijō. Ele sentou-se no chão sem nem pensar. Ele não estava com medo. Pelo contrário, ele foi atacado por um sentimento diferente que era mais parecido com uma exaustão apática. Ele começou a se perguntar se ele podia escapar de qualquer perigo se ele simplesmente corresse.
"Já sei. Anti-Skill,"[53] Kamijō murmurou.
Por que ele não tinha pensado nisso antes? A Anti-Skill da Cidade Acadêmica era como uma unidade especial anti-usuários de habilidade. Kamijō podia simplesmente ligar para eles ao invés de arriscar a própria vida.
Kamijō procurou em seus bolsos da calça, mas seu celular havia sido esmagado debaixo de seu próprio pé naquela manhã.
Kamijō olhou para a rua. Ele estava procurando por um telefone público.
Ele não estava fugindo.
Ele não estava fugindo.
"—Então você me seguiria até as profundezas do inferno?"
E ainda assim aquelas palavras pareciam apunhalar seu coração.
Ele não estava fazendo nada de errado. Ele não estava fazendo nada de errado, e ainda assim...
Naquela mesma situação, Index havia voltado por Kamijō Tōma. Kamijō não conseguia pensar em ir até o inferno com uma estranha que ele conhecia por menos de meia hora.
"Droga. É verdade. Se eu não quero te seguir até as profundezas do inferno," Kamijō sorriu, "então eu só tenho que te tirar das mãos deles."
Ele pensou que já era a hora de entender isso.
Ele não sabia como mágica funcionava, mas ele não precisava saber o que acontecia por trás dos panos. Ele podia mandar um e-mail sem conhecer o diagrama dos circuitos de seu celular.
"...Hm. Quando você entende isso, realmente não parece tão complicado."
Ele sabia o que ele tinha que fazer, então agora ele só precisava tentar.
Mesmo se ele falhasse, ainda seria melhor do que não fazer nada.
Um brilhante e laranja corrimão de metal distorcido caiu e Kamijō rolou pelo chão desesperadamente.
Ele podia ter se decidido, mas ele ainda tinha que fazer algo sobre Innocentius antes de salvar Index. O problema real eram as dezenas de milhares de runas. Mas ele podia mesmo rasgar todos os pedaços de papel colados no prédio?
"...Sabe, eu tô surpreso que o alarme de incêndio não tenha sido ativado com tudo isso acontecendo."
Tinha sido apenas um comentário solto, mas Kamijō Tōma congelou quando ele disse isso.
O alarme de incêndio?
- ♦
Os alarmes de incêndio instalados por todo o prédio foram ativados de uma vez só.
"!?"
No meio daquela tempestade de barulhos estridentes que pareciam tão altos quanto alertas de bombardeio, Stiyl olhou para o teto.
Sem um segundo de atraso, os chuveiros automáticos dispararam uma chuva artificial semelhante a um tufão. Já que os bombeiros seriam um incômodo, Stiyl havia escrito ordens para que Innocentius não tocasse nos sensores de segurança. O que significava que Kamijō Tōma devia ter apertado o botão pro alarme de incêndio.
Ele achava que isso apagaria as chamas de Innocentius?
"..."
Essa ideia era quase ridiculamente risível, mas o mago pensou que as veias em sua cabeça fossem estourar quando ele pensou que estava ficando encharcado por um motivo tão idiota.
Stiyl encarou o alarme de incêndio vermelho na parede com incômodo.
Era fácil o suficiente ativar o alarme, mas ele não podia pará-lo. Como eram as férias de verão, a maioria dos moradores do dormitório estava fora, mas podia ser um incômodo se os bombeiros viessem.
"...Hm."
Stiyl olhou ao redor e então pegou Index para sair. Seu objetivo era simplesmente recuperar Index, então não tinha motivos para ele se prender em matar Kamijō. Tendo em vista o quanto os bombeiros demorariam a chegar, ele podia deixar Innocentius no piloto-automático e o garoto seria abraçado por chamas que o transformariam em carvão preto ou cinzas brancas.
(Isso não quer dizer que o elevador parou, né?)
Ele havia ouvido dizer que elevadores eram feitos para parar durante emergências. Isso seria um tanto deprimente para Stiyl. Ele estava no sétimo andar. Mesmo que ela fosse uma garota, carregar uma pessoa inconsciente escadaria abaixo era cansativo.
Foi por isso que Stiyl ficou inicialmente aliviado ao ouvir o ding vindo de trás dele.
Mas então ele percebeu.
Quem era? Quem estava no elevador?
Era uma noite nas férias de verão e ele já tinha conferido para ter certeza que todos os estudantes tinham deixado o dormitório. Então quem era e por que ele precisava do elevador?
As portas do elevador bateram enquanto abriam. Um único passo no chão molhado por causa dos chuveiros ecoou por todo o corredor.
Stiyl se virou lentamente.
Ele não fazia ideia do porque seu corpo estava tremendo por dentro.
Kamijō Tōma estava lá.
(O que? O que aconteceu com Innocentius?)
Pensamentos dançaram caoticamente na cabeça de Stiyl. Innocentius era como um míssil de última geração carregado em um caça. Quando ele travava no alvo, ele não podia ser desviado. Não importa o quanto você corresse ou se escondesse, ele usaria suas chamas de três mil graus Celsius para derreter as paredes ou obstáculos, mesmo que eles fossem feitos de metal, e continuaria a persegui-lo. Ele não era algo que podia ser despistada ao correr por um prédio.
Ainda assim, Kamijō Tōma estava lá.
Ele estava lá inabalado, imparável, inatacável e, acima de tudo, um inimigo natural inconfundível.
"Parando pra pensar, as runas deviam ser cravadas nas paredes e tetos, né?" disse Kamijō enquanto a fria chuva artificial caía sobre ele. "Sério, você é incrível. Sendo sincero, eu não teria como vencer se você tivesse cravado elas com uma faca. Pode se gabar o quanto quiser."
Enquanto ele falava, Kamijō Tōma ergueu seu braço direito e apontou para cima.
Ele apontou para o teto. Para o chuveiro automático.
"...Você não tá falando sério! Aquelas chamas de três mil graus Celsius não poderiam ser apagadas com isso!"
"Não seja idiota. Não foram as chamas. Como é que você pôde colocar aquelas coisas nas casas das pessoas?"
Stiyl então se lembrou das dezenas de milhares de runas de papel que ele havia preparado no dormitório.
Papel era fraco contra água. Até mesmo uma criança sabia disso.
Ao jogar água em todo o prédio com os chuveiros automáticos, não importavam se eram dezenas de milhares de runas. Ele não precisava correr pelo prédio. Ao invés disso, ele podia apertar um único botão e destruir todos aqueles pedaços de papel.
Os músculos no rosto do mago tremeram.
"Innocentius!"
No instante em que ele gritou, a porta do elevador atrás de Kamijō derreteu como uma escultura de açúcar e o gigante deus de fogo rastejou para o corredor.
Sempre que as gotas da chuva artificial atingiam seu corpo de chamas, elas evaporavam com o som da respiração da besta.
"Ha ha ha. Ah ha ha ha ha ha! Incrível! Você tem o senso de batalha de um gênio! Mas lhe falta experiência. Papel ofício não é como papel higiênico. Molhar ele um pouco não vai dissolvê-lo completamente!" O mago abriu seus braços enquanto uma gargalhada explodia de sua boca, e então ele gritou, "Mate-o!"
Innocentius balançou seu braço como um martelo.
"Desapareça."
Kamijō Tōma apenas disse isso. Ele nem ao menos se virou.
As costas da mão direita de Kamijō tocou o gigante deus de chamas com um golpe e ele explodiu em todas as direções com um barulho incrivelmente patético.
"O qu-!?"
O coração de Stiyl Magnus verdadeiramente parou por um instante por causa de choque.
Após ser apagado, Innocentius não reviveu. Óleo preto foi espalhado pela área como se fossem pedaços de carne e tudo que eles podiam fazer era tremer um pouquinho.
"Im...possível... Como...Como!? Minhas runas ainda não foram destruídas!"
"E a tinta?" A voz de Kamijō Tōma pareceu demorar 5 anos para chegar aos ouvidos de Stiyl. "Mesmo que o papel ofício não tenha sido destruído, a água vai fazer a tinta escorrer." Kamijō falou de maneira preguiçosa. "Apesar de parecer que isso não destruiu todas elas."
Os pedaços retorcidos de Innocentius desapareceram no ar um de cada vez enquanto a chuva artificial continuava a sair dos chuveiros automáticos.
Era como se a tinta nos papéis por todo o prédio estivesse saindo com a chuva um por um, fazendo com que Innocentius perdesse seu poder pouco a pouco.
Os pedaços de "carne" desapareceram um a um até que finalmente o último se dissolveu e sumiu.
"Innocentius...Innocentius!"
As palavras do mago eram como as de um homem gritando num telefone após desligarem na cara dele.
"Agora..."
Essa única palavra foi o suficiente para fazer o corpo do mago tremer por inteiro.
Kamijō Tōma deu um passo na direção de Stiyl Magnus.
"Inno...centius..." o mago disse...mas nada no mundo o respondeu.
Kamijō Tōma deu outro passo na direção de Stiyl Magnus.
"Innocentius...Innocentius, Innocentius!" o mago gritou...mas nada no mundo mudou.
Kamijō Tōma finalmente começou a avançar na direção de Stiyl Magnus como uma bala.
"A-Ash To Ash, Dust To Dust. Squeamish Bloody Rood!" o mago finalmente rugiu, mas nem ao menos uma espada de chamas apareceu, muito menos um gigante deus de fogo.
Kamijō Tōma se aproximou de Stiyl Magnus e então continuou a se mover.
Ele cerrou seu punho.
Ele fechou sua mão direita completamente normal. Ele fechou sua mão direita que não lhe seria útil se não fosse usada em um tipo de poder sobrenatural. Ele fechou a mão direita que não o ajudaria a derrotar nenhum delinquente, que não aumentaria suas notas nos testes e que não o faria popular com as garotas.
Mas sua mão direita podia ser muito útil.
Afinal, ele podia usá-la para socar o bastardo parado na sua frente.
O punho de Kamijō Tōma atingiu o rosto do mago.
O corpo do mago girou como pirocóptero e sua nuca atingiu o corrimão de metal.
Notas de tradução
- ↑ R$2.712,80 em Abril de 2004.
- ↑ O katakana usado para Matusalina (メトセリン, Metoserin) compartilha semelhanças com o katakana usado para o personagem bíblico Matusalém (メトシェラ, Metoshera). O "Elbr" em Elbrase (エルブラゼ, Eruburaze) possivelmente também possui alguma associação mitológica.
- ↑ Na comédia, "escada" é um personagem que completa a piada para outro personagem, geralmente sendo mais sério e posturado. Pense no Dedé em "Os Trapalhões", considerado o maior "escada" do humor Brasileiro.
- ↑ Quando um nativo de Quioto pergunta se um convidado quer comer chazuke, ele pode estar querendo dizer que a pessoa já passou tempo demais lá e está sendo convidada a se retirar educadamente.
- ↑ O termo usado é イギリス清教 (Igirisu Seikyō, lit. Igreja Puritana Britânica). Essa tradução vai usar os nomes reais das igrejas pois elas eventualmente são escritas desse jeito em inglês em ilustrações futuras, portanto, Igreja Puritana Inglesa = Igreja Anglicana.
- ↑ Omiai é um costume japonês onde um homem e uma mulher são apresentados um para o outro para considerarem a possibilidade de um casamento. Geralmente o encontro é feito pelos pais dos envolvidos, que tomam um papel semelhante ao dos casamenteiros na cultura ocidental.
- ↑ "Flag" e "rota" são termos comumente usados em visual novels. Pense em Fate/stay night: se você escolher os diálogos corretos, pontos serão atribuídos a "flags", e com pontos o suficiente, uma "flag" é ativada, travando a história numa "rota" específica.
- ↑ Enquanto "sociedade mágica" foi escrito em japonês, "Cabalá Mágica" foi escrita em inglês.
- ↑ Em role-playing games, PM é a sigla para "Pontos de Magia".
- ↑ Em japonês, 身体検査 (Shintai Kensa, Exame Físico) é exibido com a pronuncia estrangeira システムスキャン (Shisutemu Sukyan), então manteremos o termo estrangeiro "System Scan".
- ↑ Diferente do nome da personagem, que é escrito como インデックス (Indekkusu, Index), aqui インデックス é apenas a pronúncia estrangeira de 禁書目録 (Kinsho Mokuroku, Índice de Livros Proibidos), possivelmente indicando que a personagem Index e o Índice são a mesma coisa, então manteremos o termo estrangeiro "Index".
- ↑ Originalmente, "The Book of Eibon", "Lemegeton", "Unaussprechlichen Kulten", "Cultes de Goules", e "rw nw prt m hrw" ou "ru nu peret em heru"
- ↑ Dos livros mencionados, O Livro de Eibon, Cultos Indescritíveis, Cultos de Carniçais e o Necronomicon são todos partes da literatura arcana nos Mitos de Cthulhu de H.P. Lovecraft. A "Lemegeton" se refere à "Lemegeton Clavicula Salomonis", ou "A Chave Menor de Salomão", um grimório de autoria anônima que foi baseado no "Testamento de Salomão" da mitologia judaico-cristã. Finalmente, o "Livro dos Mortos" é um antigo texto funerário egípcio que também pode ser traduzido como "Livro do Surgimento do Dia".
- ↑ Em japonês, 神様殺しの槍 (Kami-sama Goroshi no Yari, Lança Assassina de Deus) é exibida com a leitura alternativa de ロンギヌスの槍 (Ronginusu no Yari), então manteremos a leitura alternativa "Lança de Longuinho".
- ↑ Uma referência ao mangá JoJo no Kimyō na Bōken (As Aventuras Bizarras de JoJo) de Araki Hirohiko.
- ↑ A dama de ferro é o nome de um instrumento de tortura e execução medieval que consiste em um armário de ferro ou madeira com uma única porta e um interior coberto de espinhos e objetos cortantes, alto o suficiente para abrigar um ser humano.
- ↑ Em japonês, 鉄の処女 (Tetsu no Shojo, lit. Virgem de Ferro).
- ↑ R$8,68 em Abril de 2004.
- ↑ Originalmente em Chinês, 姻緣紅線 (Yīnyuán hóngxiàn, lit. Fio Vermelho do Destino), a lenda diz que Yuè Lǎo, um Deus do Amor e do Casamento, toma a forma de um fio vermelho invisível e amarra os calcanhares de duas pessoas. As duas pessoas conectadas pelo fio vermelho estão destinadas a ser amantes, independente do lugar, era ou circunstâncias em que elas se encontram, pois esse cordão mágico pode se esticar ou se enrolar, mas ele nunca se quebra. Na crença popular japonesa, o 運命の赤い糸 (Unmei no Akai-ito, lit. Fio Vermelho do Destino) está amarrado no polegar do homem e no mindinho da mulher, ambos na mão direita.
- ↑ Como com a Igreja Anglicana/Puritana Inglesa, o termo usado é ローマ正教 (Rōma Seikyō, lit. Igreja Ortodoxa Romana) mas iremos manter o nome real da igreja.
- ↑ Assim como as outras Igrejas, apesar do termo usado ser ロシア成教 (Roshia Seikyō, lit. Igreja de Realização Russa), iremos com o nome real da igreja.
- ↑ Um Agathion é um espírito familiar que aparece apenas no meio-dia na forma de um humano ou um animal, ou até mesmo dentro de um talismã, de uma garrafa ou de um anel mágico.
- ↑ Em algumas escolas de países estrangeiros existe um conceito chamado "homeroom", que é um breve período administrativo que acontece numa sala de aula designada para um grupo de alunos pela duração de suas vidas escolares. Cada homeroom tem o seu próprio "homeroom teacher", ou "professor da sala", que assume uma turma durante toda a sua vida escolar em determinada escola.
- ↑ ランドセル (Randoseru) é uma espécie de mochila rígida feita de couro ou de couro sintético, comumente usada por crianças do Ensino Fundamental, tradicionalmente sendo usadas por elas até o 6º ano.
- ↑ Anteriormente, "clarividência" foi escrito como 千里眼 (Senrigan), mas aqui temos, em japonês, 透視能力 (Tōshi Nōryoku, Habilidade de Enxergar Além) com a pronúncia estrangeira クレアボイアンス (Kureaboiansu), então manteremos o termo estrangeiro "Clairvoyance".
- ↑ Em japonês, esse personagem é sempre referido como 青髪ピアス (Aogami Piasu, lit. Cabelo Azul e Brinco). Ficar escrevendo "rapaz de cabelo azul e brinco" seria muito trabalhoso e monótono, então usaremos "Azulão" enquanto um nome oficial não é revelado.
- ↑ Lolicon é uma abreviação de lolita complex, complexo de lolita, e envolve a atração à garotas fictícias, geralmente de animes e mangás, na faixa de 6 à 14 anos (lolis).
- ↑ Em japonês, 念動力 (Nendōryoku, Habilidade de Telecinesia) é exibido com a pronúncia estrangeira テレキネシス (Terekineshisu), então manteremos o termo estrangeiro "Telekinesis".
- ↑ Em japonês, 強能力者 (Kyōnōryokusha, Pessoa com Poderes Fortes) é exibido com a pronúncia estrangeira レベル3 (Reberu Surii), então manteremos o termo estrangeiro "Level 3".
- ↑ Semelhante aos sotaques regionais aqui no Brasil, algumas regiões do Japão usam dialetos próprios, "Olá" no japonês padrão é "こんにちは" (kon'nichiwa), mas alguém da região de Kansai diria "まいど" (maido); algumas pessoas que não são da região tentam imitar esse dialeto por n motivos. A região de Kansai é composta de Nara, Wakayama, Quioto, Osaka, Hyogo e Shiga, portanto, um morador da Cidade Acadêmica, situada em Tóquio, não usaria esse dialeto.
- ↑ Regiões de arroz são... Regiões do Japão notórias por produzirem arroz, geralmente no norte do país. O ponto feito por Kamijō aqui é que Azulão vem de uma região na direção oposta de Kansai, localizada mais ao sul do país.
- ↑ Takoyaki é um lanche japonês feito de massa à base de farinha de trigo e cozido em uma panela moldada especial. Normalmente ele é recheado com polvo (tako) picado ou em cubos e algumas verduras. É um lanche típico de Osaka.
- ↑ Biribiri é uma onomatopeia japonesa para eletricidade. A alternativa aqui era chamar ela de "zapzap", mas pra conservar o legado desse apelido, manteremos "Biribiri".
- ↑ Urashima Tarō (浦島 太郎) é o protagonista de uma lenda japonesa. Ele é um pescador que salva uma tartaruga de agressores e é levado até o Ryūgū-jō (竜吾城 ou 龍宮城, Palácio do Dragão) debaixo do mar. Lá ele é entretido pela princesa Otohime, a segunda filha de Ryūjin (龍神, Deus Dragão), como recompensa. Ele passa alguns dias com a princesa e então decide voltar para sua vila. Otohime lhe entrega tamatebako, uma caixa adornada com jóias que ele não deve abrir, como presente de despedida. Quando ele retorna para sua vila, ele descobre que passou 300 anos no Palácio. Quando ele abre tamatebako ele se transforma num velho e a voz de Otohime ecoa dizendo que a abertura da caixa era proibida, pois nela estavam contidos todos os seus anos de vida.
- ↑ Tokiwadai Chūgaku (常盤台中学, Escola Média Tokiwadai) no original. Estabelecemos anteriormente que "Escola Média" (e "Escola Primária") é o equivalente do nosso Fundamental, portanto ficamos com "Escola Tokiwadai de Ensino Fundamental", ou "Escola Tokiwadai" pra facilitar o ritmo de leitura.
- ↑ R$32.520,00 em Abril de 2004.
- ↑ Um prato japonês que consiste em uma tigela de arroz coberta de bife e cebola cozidos com um molho levemente adocicado feito de dashi (peixe e algas), shōyu (molho de soja) e mirin (vinho de arroz doce). As vezes vem com ovo cru ou cozido, negi (alho-poró), queijo ralado e/ou kimchi. Popularmente no Japão é acompanhado de beni shōga (gengibre picado), shichimi (pimentas amassadas), e um prato de sopa misoshiru (sopa de missô).
- ↑ Também chamado de "obentō" (お弁当), é um tipo de marmita japonesa para uma pessoa.
- ↑ R$0,81 em Abril de 2004
- ↑ Em japonês, isso está escrito desta maneira, ao invés do uso de kana. Do latim, Índice de Livros Proibidos.
- ↑ Em japonês, 完全記憶能力 (Kanzen Kioku Nōryoku, Habilidade de Memorização Perfeita); é, de alguma forma, diferente de 映像記憶 (Eizō Kioku, Memória Eidética), 写真記憶 (Shashin Kioku, Memória Fotográfica) e 直観像記憶 (Chokkan-zō Kioku, Memória de Imagem Intuitiva). Como "habilidade" é uma palavra normalmente associada ao Lado da Ciência, resolvemos ocultar ela por ser mencionada por um personagem do Lado da Magia.
- ↑ Pāṭaliputra(पाटलिपुत्र, Paataliputr) foi uma cidade da Índia Antiga, atualmente é a cidade Patná, capital do estado de Bihar.
- ↑ Aqui Stiyl diz "炎よ" (Honō yo, Chamas), mas a pronúncia apresentada é ケナズ (Kenazu).
- ↑ Mais uma vez, em japonês é dito 巨人に苦痛の贈り物を (Kyojin ni kutsū no okurimono o, Dê o presente da dor aos gigantes), mas a leitura é プリサズ・ナウピス・ゲボ (Purisazu Naupisu Gebo).
- ↑ Em japonês, 魔神 (Majin, Deus Mágico) pode ser escrito como 間神 (Majin, Deus Demônio).
- ↑ Aqui, o autor pega sentenças escritas em japonês, traduz para outro idioma (desconhecido, muitas vezes inglês) e pega as iniciais de cada palavra pra construir um "notariqon": um método de derivação de uma palavra, usando cada uma das suas letras inicial ou letras finais para dar suporte a outra, para formarem uma frase ou ideia ausente na sentença.
- ↑ Em japonês, 魔女狩りの王 (Majogari no Ō, Rei da Caça às Bruxas) possui a leitura イノケンティウス (Inokentiusu) que é baseada na tradução japonesa nome latino Innocentius (インノケンティウス, In'nokentiusu), portanto manteremos o nome como "Innocentius". É provável que o nome seja uma referência ao Papa Inocêncio VIII, que intensificou a caça às bruxas no Século XV.
- ↑ Em japonês, 必要悪の教会 (Hitsuyōaku no Kyōkai, Igreja do Mal Necessário) possui a leitura latina ネセサリウス (Nesesariusu), então manteremos como Necessarius.
- ↑ Em japonês, 灰は灰に (Hai ha hai ni, Cinzas às cinzas) é escrito em inglês com letras ao invés de kana.
- ↑ Em japonês, 塵は塵に (Chiri ha chiri ni, Pó ao pó) é escrito em inglês com letras ao invés de kana.
- ↑ Em japonês, 吸血殺しの紅十字 (Kyūketsu-goroshi no Kurenai Jūji, Cruz Vermelha Assassina de Vampiros) é escrito em inglês com letras ao invés de kana.
- ↑ Hōichi, o Sem Orelhas (耳なし芳一, Miminashi Hōichi) é o protagonista cego de uma lenda japonesa. Ele vivia no templo budista Amidaji e que era conhecido por ser muito bom em interpretar o Conto dos Heike, particularmente a parte da Batalha de Dan no Ura e a morte do Imperador Antoku. Uma noite Hōichi estava tocando seu biwa, instrumento de cordas, na porta do templo quando um samurai o visitou e exigiu que ele tocasse o Conto dos Heike para seu senhor e sua corte. O desempenho de Hōichi fez com que todos se emocionassem e o senhor pediu que Hōichi voltasse na noite seguinte e tocasse mais uma vez, mas que não revelasse a ninguém para onde ele estava indo. Após um tempo, o sumo sacerdote de Amidaji notou que Hōichi estava saindo todas as noites e ordenou que seus servos o seguissem. Os servos do templo encontraram Hōichi em um cemitério da família Heiki, onde viram o músico sentado diante do túmulo do Imperador Antoku, rodeado de hitodama (人魂, Alma Humana), bolas de fogo que representam os espíritos dos mortos, que dançavam ao som da música. Os servos, percebendo que Hōichi estava em perigo, correram e o levaram de volta para o templo onde o sumo sacerdote explicou para Hōichi que sua plateia eram os fantasmas daqueles que haviam perecido na Batalha de Dan no Ura, que eles não estavam felizes com sua performance e que iriam matá-lo e ficar com sua alma. Como medida protetora, o sumo sacerdote pintou o Sutra do Coração por todo o corpo de Hōichi para protegê-lo e torná-lo invisível para os fantasmas, apesar deles ainda poderem ouvi-lo. Na noite seguinte, o samurai fantasma procura Hōichi, mas ele só consegue ver o instrumento e as orelhas do músico, então ele decide levar as orelhas para seu mestre como prova de que ele fez o melhor que pode para levar o homem. De manhã, os servos do templo encontram Hōichi e o sumo sacerdote percebe que ele pintou todo o corpo de Hōichi, exceto suas orelhas, por isso elas permaneceram visíveis ao fantasma.
- ↑ Em japonês, 警備員 (Keibi'in, Guarda) é escrito com a leitura ingles アンチスキル (Anchisukiru), então manteremos como "Anti-Skill".