Toaru Majutsu no Index ~Brazilian Portuguese~:Volume GT12 Capitulo2
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Capítulo 2: Funeral – Good_Bye_Bad.
1
A chuva gelada que não podia se tornar neve caiu de cinzentas nuvens grossas.
Ela estava mais fraca do que antes.
Mas isso também a fazia parecer mais estável, sugerindo que iria durar por mais tempo.
Um funeral estava em andamento.
Ele havia começado no auditório da escola.
O corpo estudantil inteiro estava reunido lá, então eles tiveram que se enfileirar num sistema para se encaixar. ...Exceto que Azulão e Fukiyose Seiri haviam congelado ali perto. Aparentemente Komoe-sensei havia entrado em pânico, então a orientação daquela turma estava uma bagunça. Mas talvez aquele garoto tivesse apreciado uma resposta humana como aquela.
O espaço era grande o suficiente para acomodar centenas de pessoas.
Isso significava que o aquecimento só era eficiente até certo ponto. Mesmo com o ar-condicionado e os aquecedores halógenos, o frio não pode ser banido completamente.
Era a presença da morte.
Algo que normalmente você não sentia, mas que acontecia com todos.
Azulão sentiu como se até o mundo estivesse o dizendo que uma tentativa de agir de maneira otimista não iria mudar fundamentalmente o motivo de sua presença ali.
Aquilo era um funeral.
Um membro de sua classe estava morto.
"Obrigado a todos por virem apesar do clima ruim. Talvez até mesmo os céus estejam chorando pelo morto. Também me dói perder alguém tão jovem."
Um jovem monge budista havia começado com um microfone em sua mão. Fukiyose Seiri estava familiarizada com o termo "abade" como um título pra um monge budista, mas ela não tinha certeza se existia uma hierarquia concreta lá.
"O abade é o chefe de um templo," Azulão explicou. "São eles que lideram os outros monges do templo. Mas tem alguns templos onde o abade é o único monge por causa de uma população envelhecida ou pela falta de pessoal, então muita gente confunde monge e abade. É incomum que alguém tão jovem seja um abade."
"Por que você sabe tanto sobre isso?"
"Que foi? Você não tá lendo aquele mangá de comédia nas redes sociais que estourou no Ano Novo? Se chama 'Eu Reencarnei E Consegui Uma Moeda De 5 Ienes Hipnotizante Que Faz As Pessoas Me Obedecerem, Mas Acabei Num Templo Budista Cheio De Monges Másculos'. A incompatibilidade inesperada!! Que destino aguarda nossa heroína depressiva depois que a vida ascética e a comida vegetariana limparem seu corpo e alma!?"
"Por que não conseguem banir a tua existência?" perguntou uma Fukiyose irritada.
Mas seus sentidos haviam enferrujado nas férias de inverno? Ela parecia ter esquecido que insultos assim não eram nada além de uma recompensa. Ela podia ser duas ou três vezes mais severa e ele ainda agradeceria.
O telão na parede atrás do palco do auditório ganhou vida.
"Eu estou verdadeiramente grato que vocês tenham se reunido aqui pelo nosso filho hoje."
Os comentários remotos dos pais de Kamijou Touma tocaram na tela. Aparentemente, eles usavam mais do que simples telegramas hoje em dia.
Uma pancada alta veio do fundo do auditório.
Alguém foi incapaz de se conter e saiu correndo enquanto cobria a boca. Por um breve momento, a luz externa brilhou no auditório escuro. Surpreendentemente, aquela pessoa não era da sala deles. Do local em que ela estava, devia ser uma estudante de outro ano.
"Kami-yan certamente era amado."
"Ele tinha conexões bem estranhas. Eu o via falando com uma garota veterana às vezes."
Teve algum tipo de acidente que levou à gritaria, mas o funeral em si continuou sem problemas.
Azulão disse algumas palavras enquanto olhava para frente.
"Por que...?"
"Hm?"
"Por que as pessoas morrem tão facilmente?"
Isso era um tanto diferente de antes.
Morte.
A palavra agora carregava muito mais peso. Ao invés da emoção leve e vazia de perder uma vida num jogo, isso carregava um peso enorme de realidade.
Talvez essa fosse a finalidade de um funeral.
Era pra dizer adeus.
Mas de uma forma diferente da de um colega de classe se mudando.
Ao invés de não vê-lo novamente no seu dia-a-dia após isso, eles realmente nunca mais poderiam revê-lo As pessoas não podiam aceitar isso tão rapidamente, então elas precisavam de uma maneira de suavizar o peso da realidade ou então a pequena sociedade de uma escola poderia desmoronar.
Era como colocar as coisas em foco.
Uh, oh.
Não era tão ruim quando a imagem diante dos olhos de Azulão estava borrada. Ele podia suportá-la assim. Mas quando as linhas entraram em foco, os cantos de seus olhos podiam estar em apuros.
Apuros?
Quem foi que disse que era errado chorar? Não era uma competição, e com quem ele pensava que estava competindo? Aparentemente, a rebelião adolescente podia ferrar com a vida das pessoas mesmo aqui.
"..."
Ele percebeu que não escutava a voz de Fukiyose há algum tempo.
Quando ele focou, ele pode ouvir algumas respirações aparentemente sendo cobertas por uma mão não vista.
Ou talvez ela tivesse um lenço.
Mas ele não ia dar uma espiada no assento ao lado.
Ele tinha inveja das pessoas que podiam se deixar chorar aqui. Ele sempre estava gritando na sala de aula, mas ele sentiu algum tipo de barreira o forçando a se segurar aqui.
Azulão não era um aluno aplicado.
Mesmo nas aulas normais, ele olhava para a janela e tinha devaneios sobre enfrentar terroristas.
Ele sempre achou que Kamijou Touma sobreviveria até o fim.
Ele sempre podia fazer tudo em suas fantasias, mas por algum motivo aquele garoto sempre sobrevivia por mais tempo que o próprio Azulão. Às vezes, Azulão salvava o mundo e terminava com um harém, mas era dramaticamente baleado e morria, mas Kamijou Touma, não importava o cenário, sempre sobreviveria no fim, não importa o quão ferido.
Mas.
A realidade era completamente diferente.
Ele podia pensar em um milhão de coisas para dizer se ele tivesse morrido, mas ele não conseguia pensar numa única palavra quando foi Kamijou Touma que morreu.
"Eu sou tão idiota," ele murmurou para si.
Ele não esperava por isso.
Algo havia acontecido que ele não tinha percebido.
Talvez, ele pensou, todas as pessoas ali pensassem essas coisas enquanto viviam com arrependimentos.
"Agora, se vocês puderem vir aqui para ascender o incenso. Sim, vai ajudar se vocês subirem pela escada na direita e descerem pela escada na esquerda. Podem começar."
2
Enquanto isso, duas garotas experienciaram isso de um ponto de vista diferente.
Distrito 7.
Uma escola do ensino médio comum.
O corpo estudantil inteiro estava reunido no auditório. Mas mesmo com o calor de centenas de corpos, o ar frio não pode ser banido completamente pelo ar-condicionado fraco demais pra o tamanho do lugar e os aquecedores halógenos foram preparados nas pressas.
Aquilo agia como o bafo da morte em contraste com o calor humano.
Uma grande foto estava em cima do palco.
O rosto pertencia a Kamijou Touma.
Elas não deviam ter esperado isso. Ele parecia vil no retrato forçadamente esticado de sua carteira de estudante. Mas talvez qualquer um ficaria assim numa foto 3x4 inexpressiva tirada de frente.
Um monge de meio-período, que aparentemente era um animador mal sucedido que fazia isso como bico, segurava um microfone.
Sua voz estranhamente animada devia ser por causa da mistura de seus dois trabalhos.
"Obrigado a todos por virem apesar do clima ruim. Talvez até mesmo os céus estejam chorando pelo morto. Também me dói perder alguém tão jovem."
Em adição ao corpo estudantil, um espaço para convidados havia sido preparado em um lado.
Mikoto e Shokuhou estavam sentadas lá.
Uma delas estava tremendo.
"Brrrrrr. Misa-Misaka-sa-Misaka-san, tá tão fr-fr-frio, você precisa me a-a-a-aquecer."
"Cê tá vestida?"
Mikoto suspirou enquanto usava uma mão para afastar o rosto da rainha idiota – que Mikoto estava começando a suspeitar que ela pudesse estar "vestindo" pintura corporal – enquanto ela se tremia toda e tentava se agarrar à Mikoto pelo lado.
Esta era uma escola do ensino médio.
Para uma aluna do fundamental, era como um mundo completamente diferente.
Mas a tensão que ela normalmente sentiria não estava presente.
Na verdade, ela já esteve aqui antes, mas...
(Eu nunca pensei que iria visitar a escola daquele idiota pra isso.)
Seus suspiros pesados não paravam.
Entretanto, ela não viu ninguém que podiam ser os pais dele na sessão para convidados.
Não era surpresa.
Considerando toda a papelada e permissões necessárias, não houve tempo para convidar alguém para a Cidade Acadêmica.
"?"
"Que foi, rainha ardilosa?"
"Ah, eu estava me perguntando quem é o enlutado principal. Ainn, aquecedor halógeno☆"
Os olhos de Shokuhou Misaki derreteram-se ao ver a máquina que era como um "ventilador quente" que um organizador havia colocado num corredor próximo. Ela parecia estar pronta para abrir os braços e abraçar o aquecedor com corações nas pupilas. Por que ela veio ao funeral?
Mas deixando isso de lado...
(Enlutado principal.)
Parando pra pensar, era estranho.
Mesmo que isso tudo parecesse chique, os pilares cruciais estavam faltando.
Tudo isso parecia vazio e artificial.
"Dito isso, não devemos manter o morto aqui pra sempre. Mesmo que seja doloroso, temos que continuar a cerimônia para tranquilizá-lo em sua jornada ao grande além."
Um som gentil cobriu o auditório.
Música clássica de título e compositor desconhecidos começou a tocar.
"...?"
Mikoto sabia como tocar piano e violino, mas ela franziu o cenho. Ela não reconhecia isso. Podia muito bem ser uma música de cura recentemente composta num computador. Seria apropriado da Cidade Acadêmica.
Um slide de fotos passou junto à música.
Era óbvio de onde essas eram.
"O Grande Campeonato do Festival Estelar, o Festival de Exposições – Kamijou Touma-san realmente sorriu muito nestes eventos."
Uh, uh...
Soluços molhados foram derramados aqui e ali.
Mas espera.
Espera aí.
O que é isso? Mesmo em sua escola, quantas pessoas conheciam Kamijou Touma? Ele não participava de nenhum clube e não tinha conexões fora de sua classe. Ele não era um jogador experiente de shogi e ele não teve notas brilhantes no exame prático nacional. Então por que todos aqueles alunos que pareciam ser do segundo ou terceiro ano estavam chorando?
Mikoto estava perplexa.
Talvez fosse uma resposta Pavloviana, como as pessoas que sempre choravam quando escutavam uma caixinha de música quando num clima triste.
"Eles são como os delinquentes que só chorariam na cerimônia de graduação."
Agora que ela havia se recuperado usando o calor do aquecedor halógeno, o sussurrode Shokuhou perfurou Mikoto.
Você sorri no Ano Novo, e você chora em funerais.
Era só isso.
Como ligar um interruptor ou discar um número.
Isso era o suficiente?
A vida de alguém poderia acabar com isso?
Claro, ela também se irritaria se alguém estivesse conversando ou usando o celular no meio da cerimônia, mas isso parecia diferente. Suas lágrimas pareciam baratas. Ela queria se levantar e gritar que isso não estava certo.
Mikoto estava triste.
Ela não sabia o que fazer agora que havia chegado a hora de dizer adeus.
Mas.
Ela sentiu seu coração se distanciar por causa dessa cena. A distância continuou crescendo. Seu coração perdeu a habilidade de captar seus sentimentos.
Por quê?
Já havia acabado. Ela sabia disso. E ainda assim ela sentiu algum tipo de impaciência poderosa crescendo dentro dela.
Isso era realmente o suficiente?
Isso realmente marcaria o fim da vida de alguém?
"Para representar a todos vocês, sua professora de sala, Tsukuyomi Komoe-sensei, vai agora apresentar as flores."
"Uhh."
Podia tudo parecer emotivo, mas isso não era nada além de seguir o passo-a-passo numa lista.
Era rotineiro.
Era uma cerimônia para separar alguém da sociedade, esquecê-lo, apagá-lo.
E.
Mikoto viu um ponto vermelho no canto de seu olho.
"?"
Curiosa, ela virou a cabeça e viu um vídeo sendo gravado.
Como ela não era acostumada com funerais, ela pensou que isso fosse uma maneira de deixar algumas memórias para trás, mas...
"(Isso é da companhia funerária. Eu aposto que eles vão fazer cortes e usar isso nos comerciais deles.)"
Shokuhou foi mais insensível.
Talvez ela estivesse mais acostumada com mortes do que Mikoto.
Mas de onde?
Não havia resposta para aquela pergunta. Enquanto olhava para frente, o perfil de Shokuhou era um tanto solitário.
O animador controlando o evento continuou.
"Agora vamos receber uma mensagem dos pais de Kamijou Touma-san."
O slide dos eventos escolares forma substituídos por outra coisa.
"Eu estou verdadeiramente grato que vocês tenham se reunido aqui pelo nosso filho hoje."
Eles estavam usando um aplicativo de reunião online?
A parede branca atrás do palco do auditório serviu como uma grande tela para projetar alguém que era presumivelmente seu pai.
Ele devia estar em casa. A sala atrás dele parecia habitada.
Talvez isso tivesse sido muito repentino para outro cenário.
Seu usuário estava exibido abaixo dele em um texto pequeno.
Kamijou Touya.
Suas palavras eram qualquer coisa menos insensíveis.
Mesmo através da tela, Mikoto pode sentir o quão forte aquele homem adulto estava cerrando seus dentes para passar por aquilo.
Aquele lugar distante carregava um clima muito mais apropriado do que o local do funeral.
Ou pelo menos foi o que pareceu para Mikoto.
Ela sentia algo autêntico ali.
"Eu tenho certeza que a vida do Touma na Cidade Acadêmica foi cheia de sorrisos e memórias com todos vocês. Ele nunca foi bom na escola e nunca desenvolveu qualquer tipo de habilidade, mas temos que agradecer a todos vocês por terem permitido que ele aproveitasse a vida o suficiente para se esquecer disso. Nosso filho parecia tão feliz nos e-mails e mensagens que enviou para nós. Ele também mandou muitas fotos e vídeos. Aqueles breves vislumbres de sua vida foram o suficiente para nos mostrar que sua estadia aí foi brilhante e feliz. E eu imagino que ele se divertiu muito mais do que nos contou. Eu gostaria de agradecer profundamente a todos vocês pelo nosso filho. Mesmo que sua vida aí tenha sido encurtada, ele realmente teve a sorte de estar cercado de tantos amigos mara- kh...não, eu não consigo fazer isso!!"
Sua voz trêmula ficou tensa no meio do caminho.
O rosto do homem de meia-idade preencheu a tela. Com lágrimas brotando em seus olhos.
"Ele era nossa família!! Nosso filho morreu!!! Mas eles não nos deixam entrar na cidade!! Eles nem mesmo nos disseram a causa da morte!! Não é tão seguro dentro desses muros quanto eles nos disseram!? Isso é loucura! O que diabos está acontecendo nessa cid- (voz silenciada)"
Sua boca se moveu silenciosamente por alguns segundos antes do vídeo também ser removido.
O animador colocou um sorriso falso no rosto e tentou encobrir o que havia acontecido.
"Minha nossa. Parece que o sinal está instável e já que ele não voltou ainda, vamos seguir em frente."
Como eles podiam seguir adiante com aquilo!?
Mikoto estava prestes a se levantar da cadeira dobrável, mas Shokuhou segurou sua mão.
Firmemente, para segurá-la em seu assento.
Mesmo a rebelião acalorada de seu pai não havia feito nada.
Aquilo era só mais uma parada no fluxograma.
Ao seguir com á próxima parada, eles podiam colocar a cerimônia de volta nos trilhos.
"Agora, se vocês puderem vir aqui para ascender o incenso. Sim, vai ajudar se vocês subirem pela escada na direita e descerem pela escada na esquerda. Podem começar."
Se todo o corpo estudantil queimasse o incenso, eles ficariam ali o dia inteiro. Ao invés disso, cada classe mandou um representante para o altar. Os funcionários seguravam cronômetros e mantinham tudo dentro do horário determinado no ensaio. Alguém havia morrido, mas eles não permitiam que nada quebrasse.
Era como as areias numa ampulheta.
Uma vez esgotado o estoque, tudo estaria acabado. O caixão seria fechado e colocado no carro fúnebre para ser levado ao crematório. Então, não restaria mais nada. Kamijou Touma seria queimado até as cinzas, não deixando nada até mesmo numa escala genética.
O monge animador continuou com um sorriso.
"Finalmente, eu gostaria de ler alguns telegramas que chegaram daqueles próximos ao falecido. Para começar, hm, temos uma Senhorita Leivinia Birdway da Inglaterra."
Estava acabando.
O funeral realmente acabaria.
"Você tá encarando isso da forma errada."
Ainda olhando para frente, Shokuhou falou de forma quieta, mas clara, em sua roupa de luto.
Mesmo que o Mental Out não devesse funcionar em Mikoto.
Sua voz estava um pouco dura, mas ela ainda conseguiu dizer.
"Temos que encerrar a vida dele nós mesmas. Então, Misaka-san, você precisa se preparar para dizer adeus de verdade."
3
Lá fora, na fria cidade de janeiro, Index e Othinus estavam na chuva.
Sem um guarda-chuva.
A hora do café da manhã havia passado, mas pela primeira vez Index não tinha apetite.
Em seu ombro, Othinus segurou a aba de seu chapéu e olhou para cima.
"Pelos Deuses. Até mesmo a previsão do tempo sentiu a necessidade de nos trair... Essa chuva anormal é mais do que eu esperaria do azar daquele humano."
"Isso seria típico do Touma."
"Junto com a falsa condição do céu."
"?"
Um veículo longo passou por elas. O automóvel estranho estava decorado em preto e dourado.
Era um carro fúnebre.
Dois ônibus o seguiram.
Quando eles passaram completamente, Othinus sussurrou uma pergunta.
"Tem certeza que não quer ir?"
"E você?"
"Eu sou o Deus da guerra, magia e enganação. Isso não é o julgamento de Baldr e eu não sou do tipo que chora em funerais. Mas você é uma freira, não é? Essa vai ser realmente a sua última chance. Você pode estar bem agora, mas o arrependimento de não se despedir dele vai pesar na sua consciência depois."
"Eu ainda estou em treinamento."
Index abaixou a cabeça.
Ela tinha que estar sentindo algo.
Othinus não falou sobre isso.
O Deus caolho com uma lança era raramente apresentado como bondoso.
"Agora, o que faremos? Somos a amostra viva de uma Deusa da Magia e uma biblioteca de grimórios. Se formos para o mundo sem a proteção da Cidade Acadêmica, as cabalás mágicas do mundo todo vão nos perseguir. Se você não está interessada em segui-lo para a morte, então você precisa continuar trabalhando sua sobrevivência."
A cidade era cercada de grossas muralhas e ondas eletromagnéticas e infravermelhas invisíveis eram usadas para cortar toda comunicação sem fio entre o exterior e o interior. Mesmo assim, o ar em ambos os lados era o mesmo e insetos e pássaros podiam voar sobre os muros com facilidade.
Então.
Index ergueu a cabeça e deu sua resposta.
"Vamos fazer o que o pombo correio mandou."
"Pelos Deuses. Esse método é tão antiquado que eles o ignoraram? Se bem que assim que a Cidade Acadêmica descobrir, eles provavelmente vão preencher essa lacuna com feromônios ou luz ou algo do tipo."
Se elas fossem pra sua escola agora, elas provavelmente chegariam a tempo.
Mas elas não foram.
Elas não podiam.
Index deu seu motivo.
"Se eu estivesse lá para dizer adeus, eu sei que eu arruinaria toda a cerimônia por chorar alto demais."
O gato não disse nada nos braços da garota.
Ele não deveria entender o que estava acontecendo, mas por algum motivo ele parecia compreender.
4
"Acabou," murmurou Azulão.
Toda a força deixou seu corpo.
Ele fez um som como se se time tivesse perdido um grande torneio.
"Esse é o fim do funeral do Kami-yan."
"Recomponha-se, a Komoe-sensei tá chamando a gente pra ir pro crematório."
Talvez Fukiyose achasse aquilo mais fácil se concentrasse sua mente numa tarefa. Ela parecia estar constantemente procurando por uma nova.
Azulão esfregou sua barriga.
"Eu tô morrendo de fome... Eu quero devorar meu almoço enquanto assisto um anime isekai de culinária pra dar um reforço psicológico ao bentou de loja de conveniência."
"Que tal você mastigar um lenço?"
Apenas seus colegas de classe iriam para o crematório. Por mais que tivessem chorado durante o funeral, os alunos de outros anos não esperaram muito antes de deixarem o auditório. Quase como um anúncio de cinema com pessoas fazendo comentários insinceros em uma exibição adiantada. O tipo de anúncio que faz parecer que o recorde de filme mais comovente do século vai ser quebrado a cada dois segundos.
Azulão viu uma veterana peituda de cabelo preto olhar para trás em direção ao palco mais uma vez na saída antes de ir.
"Será que eles apareceriam se fosse um de nós a morrer?"
"Isso é melhor do que nada. Você fica com vontade de chorar vendo a notícia na TV ou online?" Fukiyose perguntou secamente.
O fato de que ela parecia mais irritável do que o normal pode ter sido o maior elogio à Kamijou Touma, que havia desaparecido de sua escola.
5
Uma mulher em hábito bege estava de pé numa cidade de branco e preto.
Aquele era o Humano Aleister Crowley.
A chuva artificial ridícula continuava a cair.
O golden retriever continuou ao seu lado no frio sem reclamar uma única vez, mas ele perguntou uma coisa.
"Você não vai ver isso até o final?"
"Você sabe muito bem que eu não tenho a coragem. Por que eu teria lutado tanto se eu tivesse?"
"O arrependimento sempre vem depois."
"Eu sei disso. Melhor do que ninguém nesse mundo," Aleister cuspiu.
Ele não queria acreditar.
Ela havia prometido que ela quebraria qualquer regra necessária para salvar o garoto.
Ela havia quebrado sua promessa no fim?
Isso significava que tinha algo que mesmo Anna Kingsford não conseguia fazer.
Ele sabia que isso era tão absurdo quanto esperar que seus pais continuassem a ser seres infalíveis, mas ainda assim.
"Se ao menos eu pudesse ter salvado aquele," murmurou Aleister.
"?"
"Aquele ato teria significado tanto. Ele teria causado uma reação em cadeia para consertar tudo. Mas ele falhou no primeiro dominó. ...Aquele garoto continua morto."
Kihara Noukan era um gênio incomum até mesmo para um Kihara, mas até ele teve problemas em entender o que Aleister queria dizer.
E ele sabia que o humano não ia explicar.
O que quer que fosse era um sonho que havia acabado.
"E agora?" perguntou o cachorro.
"Eu não estaria vagando assim se eu pudesse responder isso."
A vida tinha algum sentido agora?
Suas perguntas atingiram esse nível.
À que, neste mundo enorme, ele deveria amarrar sua existência?
6
A chuva estava caindo.
O funeral no auditório havia acabado então a maioria dos alunos estavam usando a passarela para voltar ao prédio principal da escola.
Eles estavam pegando algo e polvilhando em suas cabeças. Era sal.
Mikoto suspirou suavemente enquanto andava.
"Então até mesmo os estudantes na escola dele tratam a morte dele como algo sujo."
"Eu duvido que muitas pessoas na Cidade Acadêmica entendam o simbolismo. Assim como muitas poucas pessoas se preocupam em aprender a etimologia de palavras como 'kon'nichiwa'[1] e 'sayounara'[2]. A maioria das pessoas não vê isso como algo além do que precisa ser feito, como curvar a cabeça ao entrar numa sala. E tem que estar tão frio!?"
O fôlego gritado de Shokuhou já estava visível.
E uma chuva fria estava caindo do lado de fora.
Shokuhou tinha começado a segurar seus próprios ombros, mas assim que viu Mikoto, se agarrou nela.
"Me larga, Shokuhou. Quimonos são difíceis de arrumar quando saem do lugar, então para de me agarrar."
"Ah, qual é... Ser uma garrafa de água quente é sua única serventia, Misaka-san."
"Ah, é? Mesmo que eu tenha um par de aquecedores de mão?
Shokuhou Misaki virou pedra.
Os cantos de seus lábios se mexeram.
Seu orgulho parecia estar em guerra sobre se ela deveria ou não colocar um sorriso educado.
"Se você não quer, tudo bem. Eu vou selá-los no fundo da minha bolsa. Numa zona onde eu não possa mais retirá-los."
"Espera, Misaka-saaan! Você venceu, eu admito! Então, por favor, mostre um pouco de compaixão por essa Pequena Vendedora de Fósforos congelando no frio do inveeeeeeeeerno!!"
"Você faz com que todas te chamem de rainha e agora tem a pachorra de agir como a pobre Pequena Vendedora de Fósforos?"
Mikoto brincou com a garota sedentária jogando os pacotes de aquecedores de mãos um atrás do outro como se fosse fazer malabarismo.
...Essa troca inteira pode ter sido uma forma de preservar seu equilíbrio mental. Para Mikoto, a animação forçada apenas fez sua vida inteira parecer uma atuação.
"Ahh...☆"
"Ei, onde diabos você tá enfiando esse aquecedor de mão, Shokuhou!? O que aconteceu com a nossa cultura de ter vergonha!?"
A garota estava fechando seus olhos, tremendo e suspirando como se estivesse entrando em fontes termais, mas seria melhor que os detalhes ficassem de fora.
Ela era capaz de priorizar o que realmente importava, o que significava que ela era do tipo que decidiria se aconchegar nua com ela se estivessem presas numa montanha nevada durante o inverno. Mikoto estava certa disso agora.
O oficial próximo ao carro fúnebre formou um megafone com as suas mãos e os guiou.
"Os ônibus estão aqui! Um, se você for da escola, use o ônibus 1. Se você for um visitante, use o ônibus 2."
Sim, ainda não tinha acabado.
Muitos guarda-chuvas desabrocharam como flores e se reuniram.
Carregado pelos adultos.
O caixão foi carregado para o carro fúnebre.
O veículo preto e dourado iria para o Distrito 10.
Especificamente, para o crematório.
O corpo estudantil inteiro não caberia lá, então o que parecia ser apenas a classe de Kamijou iria.
Um ônibus era o suficiente para levá-los.
E um segundo ônibus era o suficiente para os visitantes.
Outro limite de tempo havia aparecido.
Mikoto viu a distância até o crematório como uma contagem regressiva de uma bomba relógio.
Mas de que adiantava aquele limite de tempo agora?
A morte não podia ser revertida.
Já havia acabado.
"..."
"Ohh, habilidade de aquecimento abençoada. As conveniências modernas são realmente maravilhosas..."
Ao lado dela, a rainha estava dizendo algo que sugeria que um kotatsu era tudo que você precisava para ganhar seu coração.
Os dois ônibus deixaram a parte de trás da escola para seguir o carro fúnebre. Os repórteres na frente pareciam estar se agitando, mas os ônibus não tinham a obrigação de esperar por eles.
Ninguém no ônibus razoavelmente grande disse uma única palavra.
O sistema de navegação de GPS proveu algumas instruções numa voz feminina, mas o motorista parecia estar ignorando elas. Talvez tivesse algum tipo de norma, mas o carro fúnebre parecia estar evitando as rotas mais curtas e tomou o caminho mais longo até seu destino.
No assento ao lado, Shokuhou sussurrou brevemente enquanto olhava para fora da janela sendo surrada por gotas de chuva.
"Misaka-saaan."
"Ugh, que idiota mandou um drone atrás da gente?"
Com um som elétrico, o multicóptero perdeu o controle na chuva.
Mas quem aqueles repórteres insistentes queriam atacar com seus artigos? Certamente não era Alice Anotherbible ou os Transcendentes do lado oculto do mundo.
"Talvez seja certo dizer que nós mandamos ele pra sua morte também. Nós não entramos em seu caminho e o atacamos, mas nós demos um empurrão nas costas."
"Misaka-san. Difame a determinação dele mais uma vez e eu vou te dar um tapa."
Mas Shokuhou não chegou a negar.
Isso provavelmente a incomodava também.
Foi que nem quando elas tinham lutado contra Christian Rosenkreutz. Foi preciso muito poder pra repeli-lo e Kamijou teria sido morto se ele tivesse sido insuficiente até mesmo de leve.
Mesmo assim.
Se seus poderes não tivessem sido o suficiente, ele teria considerado fugir?
"Provavelmente não."
"Não mesmo. Eu não consigo o ver desistindo de uma luta que ele começou."
Ele não havia realmente começado aquela luta, mas não importa o quão injustamente ele tenha sido arrastado pra elas, ele sempre lutava até o fim. Para que ele pudesse gentilmente desemaranhar os fios bagunçados.
"..."
Não demorou muito.
Eles chegaram ao crematório.
Um largo telhado cobria a área na entrada.
Ele foi feito com climas ruins assim em mente?
Parecia que eles teriam que esperar que os trabalhadores lidassem com o caixão.
"Vai em frente, Misaka-san."
Com a sugestão de Shokuhou, Mikoto saiu do ônibus.
Ela não estava acostumada a descer as escadas de um ônibus em roupas de luto japonesas. A roupa era como um tubo, será que ela tinha sido desenhada com a subida e descida de escadas em mente?
"É claro que foram. Você esqueceu-se dos degraus de pedra levando até os templos xintoístas e budistas?"
"Ah, não. Agora a idiota tá me corrigindo."
"Oh? Misaka-san, você esqueceu que eu sou do tipo intelectual? Se importa de ver quem se sai melhor na nossa próxima habilidade de exame?"
Parando pra pensar, eles não tinham pagodes de cinco andares no período Edo? E aqueles prédios não tinham elevadores ou escadas rolantes.
Shokuhou Misaki continuou a esfregar o aquecedor de mão contra sua bochecha. Ele já devia ter ficado sem bateria, então ela tava usando o efeito placebo? Ou talvez o frio estivesse fazendo ela alucinar.
Um guia oficial os levou para dentro do prédio.
Havia salas numeradas com tatames e câmaras de cremação enfileiradas.
Talvez fosse uma regra, mas as câmaras de cremação sem uso estavam com as portas abertas. Uma porta quadrada de metal levava a um espaço fechado aparentemente feito de tijolos ou blocos. O formato era parecido com uma fornalha de padeiro modificada.
Mikoto espiou uma sala e ficou em silêncio.
"..."
Não era nem do tamanho de uma lavanderia.
E ainda assim, tudo parecia muito organizado e otimizado.
Ela suspirou suavemente.
(Eu só não tô acostumada com isso.)
Foi um pouco de alívio quando ela avistou algumas máquinas de vendas velhas amontoadas num canto do longo corredor. Ela queria ver algo que desequilibrasse a organização excessiva daquele lugar.
"É bem quentinho no prédio, pelo menos. Ugh, mas agora eu meio que tenho que ir ao banheiro."
"Eu fui tola em procurar por salvação numa idiota desleixada como ela..."
Elas podiam ouvir a conversa de oficiais numa sala ou outra.
Suas vocês vinham do chão como o frio.
"Um garoto do ensino médio saudável? Ele deve ter ossos grossos."
"Vamos ter que queimá-lo por quatro horas inteiras. É a única forma de não deixar nenhum traço do seu DNA ou dos químicos usados pra o desenvolvimento de habilidades."
Um som pesado de raspagem se seguiu.
Veio de algo parecido com um pedaço de cerâmica do tamanho de uma bola de vôlei. Algo o fez raspar contra a tampa.
"O que diz a tabela de altura? Esse tamanho tá bom?"
Era uma urna funerária.
Uma pessoa inteira realmente caberia numa coisa tão pequena?
Mikoto em roupas de luto franziu o cenho.
"Espera. Eu entendo cremar ele, mas quem fica com as cinzas?"
"A urna funerária pode ser transferida pra alguém depois de ser colocada no túmulo."
O dedo de Shokuhou pairou indeciso na frente da máquina de vendas, mas ela apenas se remexeu sem realmente comprar um café quente. Seu medo de aditivos artificiais parecia estar ressurgindo.
"Por hora, ele provavelmente vai ser enterrado num túmulo público temporariamente."
Eles podiam simplesmente fazer isso?
Mesmo como cinzas, ele oficialmente seria "restos".
Além disso. Seus pais aparentemente não estavam na cidade, então quem havia enviado a notificação de óbito ao órgão governamental? Mikoto achava que não se podia cremar alguém sem que a notificação fosse recebida.
(Por outro lado, essa é a cidade que enterrou mais de dez mil clones em segredo, então eles devem ter algum truque pra burlar isso.)
Eles entraram na sala de espera.
O espaço era de cerca de 45 metros quadrados.
Talvez todos quisesse ter seu próprio espaço.
Seus colegas de classe estavam aqui, mas Mikoto não os conhecia muito bem. Ela naturalmente manteve distância.
Era um sentimento estranho.
Por que ela estava ao lado de Shokuhou?
E enquanto Mikoto geralmente associava funerais com flores e incensos, o cheiro de velas acesas era mais forte. Talvez por que aquele cheiro era mais oleoso.
Uma grande TV LCD estava na sala com tatames. Em adição à TV aberta e à cabo, ela incluía um aplicativo de streaming online. Ali também tinha um tablet com um chip público. Talvez fosse para que comida quente pudesse ser pedida com um serviço de entrega. Mikoto reconheceu alguns aplicativos alinhados na tela.
Shokuhou apontou para uma tela deslizante na parede que parecia levar à um espaço de armazenamento.
"Parece que eles tem lençóis para cochilos ali."
"Eu não acho que dormir aqui traria bons sonhos."
Quatro horas.
Isso explicava o porquê deles terem tantas opções de entretenimento para passar o tempo.
"Shokuhou."
"Sim?"
"Você consegue aguentar quatro horas?"
"Perdão, dá licença que eu vou me refrescar."
Shokuhou em roupas de luto ocidentais desapareceu pra algum lugar com um olhar sério em seu rosto. Pelo visto ela tinha ido ao banheiro. Incapaz de relaxar sem nada para por sua atenção, Mikoto pegou o controle da TV e olhou para a tela gigante. A época dos especiais de Ano Novo havia acabado. Uma aluna do fundamental como ela não tinha ideia do que passava nas manhãs dos dias de semana.
(Mas talvez fosse mais autêntico se eu não me estressasse muito com isso?)
Você devia sorrir no Ano Novo e chorar em enterros.
Ela estava cansada de ver as pessoas trocando de modos como se fosse manual.
Ela passou pelos canais por um tempo.
Os talk shows eram mais do que ela podia lidar hoje, então ela continuou pulando de canais para escapar deles, mas o que isso deixava eram programas de vendas e dramas velhos.
Após parar num programa sobre animais via satélite, ela viu um urso polar enorme atacando uma família de focas sem piedade. Ela ficou chocada. Ela estava esperando imagens de gatinhos e cachorrinhos fofos. Ela não estava procurando pela realidade sangrenta e cruel da natureza agora!!
"O que você tá fazendo, Misaka-saaan? Por que você não escolheu um programa seguro sobre cruzeiros mundiais?"
Aquela garota havia retornado, parecendo exasperada.
Mas por que Shokuhou Misaki era tão familiar com programas das manhãs dos dias de semana?
"Você é realmente uma aluna do fundamental?"
"Se você está tentando dizer que eu sou uma velha, eu vou te bater."
Algo estava parado próximo à TV.
De início, Mikoto pensou que era um pedaço de arte no estilo japonês para ajudar a preparar o clima.
"Pera..." ela disse sem pensar.
Eles já tinham preparado uma placa memorial.
De início, Mikoto ficou confusa com o dono dela, pois o nome era um nome de dharma[3].
"Eu sempre achei que o nome era pra ser simbólico de algum jeito."
"Na Cidade Acadêmica, eles aparentemente tem um site que atribui um automaticamente. Sabe, ajustando numas habilidades de programa pra criar um apelido caso você não consiga inventar um sozinho."
Essa cidade não tinha a regra que dizia que isso apenas contava se viesse de um abade?
É claro, parece que os monges da Cidade Acadêmica era trabalhadores de meio-período que também trabalhavam como animadores.
7
Dentro da prisão do Distrito 10, uma tela mostrava a oficial da Anti-Skill, e professora do ensino médio, Yomikawa Aiho enquanto ela fazia seu relatório.
"O funeral acabou sem problemas."
"Entendo."
"O carro fúnebre saiu pro crematório. Aqui nós vamos fazer uma versão resumida da cerimônia de abertura. Você está mais próximo do crematório, na verdade."
O crematório era no mesmo distrito, mas esse simples fato estava muito longe da mente do novo Presidente do Conselho.
Não parecia real.
(Aceitar a morte dele? Por que sou eu que tô dizendo essa merda?)
Ele pensou que sentiria raiva ao estar à beira da morte. Mas agora que essa linha havia sido cruzada, ele deveria se livrar de toda aquela emoção? Accelerator não conseguia dizer nada. Ele estava encarando aquilo como deveria, ou seus sentidos estavam simplesmente anestesiados?
Ele não podia se dar o luxo de esquecer a sensação do calor humano.
Não importa quantos ele salvasse com métodos sem vida, ele apenas estaria trilhando o caminho dos antigos erros da Cidade Acadêmica.
Então o que ele deveria fazer?
Era mais humano deixar que suas emoções explodissem e destruíssem tudo em sua volta?
"..."
O monstro Nº 1 da Cidade Acadêmica olhou para cima.
Ele não podia ver o céu ali. Apenas o teto feito de uma espessa armadura especial.
A prisão tinha sofrido danos consideráveis do ataque de um daqueles Transcendentes. Esta sala era uma cela secundária para qual ele havia sido transferido. Ainda assim, o monstro branco não havia morrido. Mesmo que houvesse diversos motivos para ele ser morto. Era assim que a vida era?
"No que aquele merda tava pensando, morrendo antes do vilão," ele murmurou.
A morte era imparcial
Ela podia visitar qualquer um à qualquer hora, não importa o quão boa pessoa ela fosse, e ela perderia a vida.
"Aneri."
Um apito eletrônico.
De rejeição.
Aparentemente outra pessoa tinha os privilégios de administrador ali. O novo Presidente do Conselho não se importava muito.
"Qliphah Puzzle 545."
"Sim, sim. Kee hee hee."
Naquele sentido, a demônio artificial era muito menos problemática.
E ela também sabia muito sobre o mundo além da ciência.
O Nº 1 só tinha uma pergunta.
"Onde está a pessoa que fez isso?"
8
A chuva fria estava caindo.
A feia chuva não podia se tornar neve, mas ela rejeitava todo o calor humano enquanto naturalmente permeava a cidade de tecnologia científica de ponta.
A chuva roubando o calor da cidade inteira era imparcial.
Mesmo nos becos.
As incontáveis gotas caiam do céu encontravam a todos impiedosamente, mesmo uma garota silenciosa e instável, e os encharcavam.
Ela era alta. Ela vestia cintos de couro preto amarrados de maneira complexa em seu corpo nu, fazendo com que ela se destacasse até mesmo na Cidade Acadêmica, que era isolada do resto do mundo.
Seu longo cabelo loiro ondulado estava colado em sua pele branca.
Ela não parecia ter ao menos a força de vontade para afastá-los.
"..."
Alice Anotherbible.
Ela olhou para o pedaço de céu chuvoso visível entre os prédios.
E ela não se moveu.
Ela sabia que o garoto ia morrer mesmo antes de se conhecerem.
Ela mesma havia dito isso.
Mas ele havia deixado o caminho da sobrevivência para que pudesse salvar a vida de outros.
"Você vai morrer."
"Isso não muda minha resposta."
Ela viu o garoto correr em direção à morte.
Ela pensou que ele pediria ajuda em algum momento.
Mas ele não o fez.
"Então me enfrente!! Alice Anotherbible!!!"
Kamijou Touma havia a rejeitado uma vez.
Ela havia perdido a noção de si e ressuscitado Christian Rosenkreutz, como lhe foi dito.
"Espera. Você não quer dizer que...?"
Sim, ele havia sido abalado quando ficou sabendo que estava condenado a morrer.
Mas ele ainda escolheu as vidas dos outros.
O garoto condenado havia se mantido fiel aos seus princípios e finalmente trouxe Alice Anotherbible de volta a si.
"...Eu..."
"Eu não..."
"Eu não quero ver ninguém sofrendo de mais azar do que eu!! Algum problema com isso!?"
Ele não ia voltar.
Alice Anotherbible podia facilmente distorcer o mundo ao seu redor como quisesse, mas era exatamente por isso que a pessoa que ela tinha matado não podia retornar.
Este era o resultado.
Aradia, a Súcubo de Bolonha e o resto dos Transcendentes da Associação dos Construtores de Pontes não estavam mais aqui.
Isso significava que Alice Anotherbible não era mais uma temível líder.
Ela podia enganar as pessoas, fazendo-as enxergar uma forma de beleza ao levar a morte e a violência aos extremos, mas isso não tinha sentido sem esses extremos. Ser o segundo melhor ou pior só te fazia um encrenqueiro.
Uma voz rouca falou.
A garota que tinha perdido tudo sussurrou para o vazio.
"Sen...sei."
Notas de Tradução
- ↑ Em japonês, nos tempos antigos, as pessoas se cumprimentavam dizendo: 今日は天気が良いですね (kyou wa tenki ga ii desune/hoje, o clima está agradável) ou 今日は暑いですね (kyou wa atsui desune/hoje, está quente). Com o tempo, as pessoas foram encurtando a frase cada vez mais até que ela chegou à 今日は (kyou wa/hoje está), que então foi popularmente substituído por こんにちは (kon'nichiwa/olá)
- ↑ Em japonês, se escrito em kanji, temos: 左様なら (sayounara) que, no contexto em que passou a ser usado traduz soltamente pra alguma variação de "se é assim que tem que ser", e tem uma conotação de "se é assim que tem que ser, nunca mais nos veremos"... mas nem sempre foi assim; em tempos antigos, 左様なら acompanhava o cumprimento ごきげんよう (gokigenyou/espero que esteja bem), então nem sempre foi algo triste.
- ↑ Um nome de dharma é um nome dado ao morto que, supostamente, impede que sua alma volte ao seu corpo caso alguém diga seu nome anterior.